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domingo, 26 de março de 2017

[VÍDEO] - Ramatis em uma análise espírita

Apresentamos aqui uma série de apresentações do escritor e pesquisador espírita Artur Felipe Ferreira, autor de Ramatis: sábio ou pseudossábio?, a respeito das comunicações mediúnicas deste espírito que tantas controvérsias trouxe ao meio espírita.

O Blog dos Espíritas

 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Hercílio Maes, médium ou escritor?


Por Artur Felipe Azevedo

Em um dos nossos últimos artigos, intitulado "Artigo Investigativo: Ramatis pode nem existir", discorremos sobre as semelhanças entre alguns conceitos e textos teosóficos e os ditados do espírito Ramatis, e também acerca da consequente (e grande) possibilidade de Ramatis sequer ter existido ou existir. Desta feita, faremos um exame da biografia de Hercílio Maes, o primeiro médium a alegar ter recebido mensagens daquele espírito.

Em "Simplesmente Hercílio" (Editora do Conhecimento, 2010), o próprio filho de Hercílio, Mauro Maes, discorre sobre acontecimentos ocorridos durante a vida do pai, assim como alguns dos seus pensamentos e opiniões, sendo muitos deles bastante interessantes para a análise que estamos fazendo, em que buscamos, ao máximo, a isenção, para que cheguemos mais próximos da Verdade. 

Resumamos algumas das informações constantes do livro que consideramos como as mais relevantes para o objeto de nossa pesquisa. Citaremos as páginas do livro para que o leitor possa aferir com mais facilidade o que declaramos. 

1 - É informado que Hercílio Maes recebeu uma educação católica a contragosto, já que sua mãe era católica fervorosa. Para satisfazer o desejo da mãe, foi coroinha. Por conta disso, na juventude tornou-se ateu, opção que, segundo seu filho, conservou-se por muito tempo (pág. 12). Teria sido somente por ocasião de um atropelamento a um casal que Hercílio teria se aproximado do Espiritismo (pág. 15). No entanto, é dito alhures que ele teria tido contato com Ramatis já aos três anos de idade, o que faz com que haja aí um grande contrassenso no que concerne à sua posterior opção pelo ateísmo. É dito que Ramatis teria feito essa primeira aparição "completamente materializado", envergando um turbante com uma pedra verde e uma cruz dentro de um triângulo. Algo que, de tão impressionante, dificilmente teria sido deixado de lado por alguém.

2 - Aos 30 anos teria acontecido o segundo contato. Hercílio Maes alegava ser dotado de "mediunidade intuitiva" e teria usado dessa faculdade para escrever as obras atribuídas a Ramatis, embora fosse também médium psicógrafo (pág.18). Guardou as primeiras mensagens, todas escritas com utilização de uma máquina de escrever, até que um amigo militar chamado Levino Cornélio Wischral se interessou e, entusiasmado, o incentivou para que fossem publicadas, passando, então, a revisá-las. Percebe-se aí que não foi feito qualquer tipo de estudo analítico das obras antes de sua publicação, tendo as mensagens ficado restritas a um pequeno grupo de pessoas antes de irem direto para o prelo. Levino já havia incursionado por esse terreno movediço com a publicação de um folheto intitulado “O Sol”, onde um espírito chamado Henrique Voes teria descrito o Sol e seus habitantes (!) através de uma médium chamada Guilhermina Drischel. Parecia ter um gosto especial por obras de cunho duvidoso: foi ainda prefaciador do livro “Num Disco Voador Visitei Outro Planeta”. Trataremos mais detalhadamente sobre o opúsculo “O Sol” em outra oportunidade.

3 - Tempos depois, Hercílio passou a reunir pessoas em sua casa a fim de formular perguntas a Ramatis, sendo que o próprio espírito, segundo é relatado, sugeria algumas delas. Como isso acontecia não é esclarecido, já que Hercílio não recebia mensagens de Ramatis nem através da psicografia, nem pela psicofonia. Somente se pode contar com o relato do médium, e nenhuma prova cabal de contato mediúnico direto é demonstrada, uma vez que as supostas mensagens eram recebidas “intuitivamente”.

4 - Por conta disso, à página 20, é relatado que Hercílio sofreu críticas de grandes vultos do Movimento Espírita, tais como Herculano Pires, Jorge Rizzini e Henrique Rodrigues, logo após o surgimento da primeira obra, intitulada "A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores", lançada pela Editora da Boa Vontade, ligada à LBV de Alziro Zarur, que sempre defendera a tese do “de 1000 passará, mas a 2000 não chegará”, incessantemente repetida em seus programas de rádio. Acreditavam eles que as obras eram de origem anímica, algo que jamais ficou bem esclarecido para o público em geral. No entanto, com as pesquisas que recentemente envidamos, ficou evidenciado que tais ditados têm incrível semelhança com certos escritos anteriores de autores teosóficos, o que certamente foi verificado, à época, por Herculano Pires, estudioso da Teosofia antes de conhecer o Espiritismo. 

Incomodado com as críticas bem fundamentadas, Hercílio Maes alegou não ser importante a autoria das mensagens, mas seu conteúdo:
"Mesmo que Ramatis não existisse, mesmo supondo-se a tese de Herculano Pires, o que importa é o conteúdo das mensagens. (...) Que importa que fossem inspiração minha? Eu também sou um espírito.(...)"
É realmente impressionante como a atitude do analista é vista como condenável no meio espírita. Isso demonstra desconhecimento da obra kardeciana. “Os médiuns geralmente assumem a condição de ofendidos, e aparecem aos olhos da sociedade como infelizes e injustiçados”, conforme pontua Wilson Garcia, no ótimo “Uma Janela para Kardec” (Editora EME). O autor também enfatiza que analisar a identidade e o pensamento dos espíritos não é apenas necessidade, mas verdadeira obrigação. Foi um espírito quem nos instrui sobre isso na Codificação: “É isto que exige um muito grande estudo da parte de espíritas esclarecidos e dos médiuns; em distinguir o verdadeiro do falso é que devemos dirigir toda nossa atenção”.

No que diz respeito diretamente à declaração de Hercílio transcrita acima, Kardec reconhece que a “identidade dos Espíritos é uma das mais discutidas, mesmo entre os adeptos do Espiritismo”, não deixando de ressaltar que “em muitos casos, a identidade absoluta é uma questão secundária e sem importância real.” É preciso convir, no entanto, que a identificação é absolutamente desnecessária apenas quando “se trata de instruções gerais”, o que não se aplica a mensagens assinadas por espíritos que se posicionam como superiores, como é o caso de Ramatis, por exemplo. Tanto é que consta de “O Livro dos Médiuns” a análise de três mensagens cujo autor espiritual teria sido São Francisco de Paula. A apreciação dessas mensagens demonstra que é preciso, às vezes, certa argúcia para que se perceba o engodo que o espírito engendra, algo que, infelizmente, não ocorre porque grande parte do contingente espírita não estuda as obras da Codificação, não lhe conhece os princípios, o método e sua real proposta.

5 - Mais adiante no livro, o autor tece comentários sobre a vida cotidiana de Hercílio Maes e família. Afirma que o pai fazia questão que os filhos compreendessem as bases da Doutrina Espírita e que elas fizessem parte da educação desde tenra idade. Além disso, é contado que fenômenos mediúnicos ocorriam vez ou outra, tendo os filhos conhecimento do trabalho do pai como autor de livros de origem mediúnica. Estranhamente, é informado, alguns capítulos adiante, que seus filhos converteram-se a religiões protestantes. "Yara frequentava a igreja dos Mórmons, Zeila a igreja presbiteriana e eu a igreja evangélica" (pág. 26). Nem é preciso lembrar ao leitor deste artigo que todas essas religiões condenam veementemente o Espiritismo, a prática mediúnica e os próprios espíritas, além de seus ensinamentos colidirem frontalmente com a Doutrina. Mauro Maes, o autor do livro em questão, houvera sido, inclusive, incumbido pelo pai, aos 12 anos de idade, de passar a limpo as páginas do livro "A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores", sua primeira obra. A meu ver, é bastante improvável que alguém, no caso todos os filhos, tendo tido um contato tão de perto com o Espiritismo desde tenra idade através do próprio pai que tanto diziam seguir e admirar, pudesse vir a seguir movimentos religiosos tão antagônicos. De duas, uma: ou esse contato com o Espiritismo não foi tão intenso assim, de modo que acabou por não convencer ninguém, ou havia uma dúvida no ar sobre a veracidade e/ou origem dos fenômenos dos quais o pai dizia ser intermediário.

6 - Consta do mesmo livro que Maes possuía uma compreensão integral e profunda da Doutrina Espírita. No entanto, são relatadas ocasiões onde fica evidenciada uma aproximação muito maior com a Umbanda que, embora respeitável, possui crenças, práticas e terminologia que lhe são próprias, nada tendo a ver com a Doutrina codificada por Kardec. Uma prova de que Maes passou a confundir as coisas, é que um homem chamado Júlio Simó Costa foi nomeado “cambono” nas reuniões mediúnicas realizadas no escritório de Hercílio Maes. É dito ainda que os móveis eram cobertos com panos brancos, algo que nada tem a ver com aquilo que é aprendido no Espiritismo. As entidades comunicantes eram, além de Ramatis, também ligadas àquele rito africanista.

7 - Como é muito comum no meio umbandista, Hercílio Maes fazia reclamações constantes em relação a não-aceitação de seu trabalho por parte da maioria do contingente espírita brasileiro. O tom da crítica que desferia contra os espíritas era ácido e de cunho pessoal, algo que jamais foi feito por aqueles que não aceitavam as obras de Ramatis, que focavam unicamente nas discrepâncias e exotismos presentes nos ditados daquele espírito, e nunca na figura de seu (suposto) médium. Maes costumava defender o conteúdo de seus livros dizendo que seus críticos não podiam compreendê-los, pois que estavam “na base do leite” (pág. 82), isto é, uma clara insinuação de que as obras elaboradas por Allan Kardec são uma espécie de be-a-bá infantil, amplamente superada pelas suas. Declarou ainda Hercílio Maes sobre os espíritas estudiosos contrários a Ramatis: “São limitados, com preconceitos e sempre achando que o Espiritismo é que irá salvar o mundo, quando antes de Buda o céu já era povoado de santos!” Um argumento fraco, evidentemente, já que nenhum deles jamais afirmou algo parecido.

8 - Defensor do “universalismo”, uma espécie de sincretismo disfarçado, Hercílio Maes se auto-proclamava, assim como os defensores desse sistema de ideias, como um espírito “consciente”, enquanto que quem não seguisse a mesma cartilha era “sectário” (pág.82). 

Em carta enviada ao Sr. Antonio Plínio da Silva Alvim, presidente de conhecido núcleo ramatisista no Rio de Janeiro, demonstrou um evidente deslumbramento com as mensagens que recebia, e proferiu comentários que possuíam enorme semelhança, tanto na forma, quanto no fundo, com as críticas proferidas pelo “espírito” Ramatis em seus livros:
“Sem dúvida, Antônio, comprovei que realmente existem duas hierarquias de espíritos na Terra: uma que foi exilada de três ou mais planetas, capaz de sentir e compreender a mensagem universalista de Ramatis, e outra que, desenvolvendo sua consciência exclusivamente no psiquismo global, ainda não está em condições de suportar conceitos que ultrapassem os limites de sua conscientização primária. Eles estão certos: a mensagem é demasiadamente além de sua capacidade receptiva intelecto-emotiva. (...) Mas, caro Antônio, apenas trocaram de etiqueta, pois sendo fanáticos, limitados, irônicos e reverendos do catolicismo, assim se mostram no protestantismo, e, finalmente, no espiritismo. São como raposas: trocam de pele, mas não mudam a manha... Antigos clérigos, desde o papado até o irmão leigo dos conventos, adquirem aquela postura secular e conventual de não entregarem o posto antes de morrer! Assim, eles grudam-se 20, 30 ou 40 anos na direção de um centro espírita ou federação, com unhas e dentes, jamais cedendo a vez a novos valores idealistas.”
Talvez ainda não soubesse Hercílio Maes que aquele seu amigo permaneceria no cargo de presidente de um Centro ramatisista em um bairro da zona norte do Rio, ininterruptamente, por 39 anos, de 1964 até 2003, só deixando o cargo após seu desencarne!... 

9 - Outras afirmações ousadas e errôneas estão presentes na biografia oficial do médium de Ramatis:

“A obra de Ramatis é complementar à codificação feita por Allan Kardec.” (pág. 93)

Discordamos, já que algo que é complementar jamais seria discordante. Listamos algumas das inúmeras discordâncias em "Breve Resumo de Algumas Diferenças".

“No livro ‘A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores’, Ramatis antecipou um detalhe, à época impensável: quando os marcianos se aproximam das portas de uma residência, elas se abrem e depois se fecham automaticamente.”

Na verdade, a porta automática já havia sido imaginada em 1899, no livro “When the Sleeper Wakes”, por H.G. Wells, e foi efetivamente inventada em 1954, um ano antes da publicação do livro escrito por Maes.
“Quanto ao livro Mensagens do Astral, o derretimento das calotas polares, a verticalização do eixo imaginário da Terra já são realidades.”
A ciência informa que o nível dos mares vem subindo há mais de 20.000 anos, desde o fim da última era glacial. De lá para cá, já ganharam 120 metros. A maior aceleração do derretimento das calotas polares começou a ser verificada entre o final do século XIX até 1940, quando houve a maior parte do aumento de 0,3 a 0,6 grau Celsius na temperatura da Terra. Tal vem se dando devido ao efeito estufa. Nada tem a ver com a teoria ramatisiana, que afirma que a causa seria a aproximação de um astro (o famoso “planeta chupão”), que teria começado a provocar tais mudanças somente a partir de 1950. Ramatis afirma que o ápice desse processo, com catástrofes globais, se daria até 1999, sendo que nada aconteceu. Quanto à verticalização do eixo da Terra, nada de anormal foi verificado até hoje. O movimento ramatisista tenta até hoje arrumar alguma explicação para as previsões que não se cumpriram.

10 - A biografia de Maes conta também com a colaboração de pessoas que lhe foram próximas em vida. A astróloga Mariléia Castro, revisora do livro, se mostrou a mais deslumbrada, e revoltada na mesma intensidade. Chama os espíritas que não aceitam Ramatis de “ex-clérigos da época inquisitorial”. Para justificar a necessidade de aceitação das ideias orientalistas de Maes/Ramatis, alega que Allan Kardec fora um sacerdote druida, embora os druidas tenham vivido na Gália, uma antiga província do Império Romano, hoje território francês, muito distante, pois, do Oriente.
Conta, também, uma história difícil de acreditar e própria de quem alcançou níveis altíssimos de credulidade irrefletida. Diz ter ouvido de Hercílio Maes que este teria sofrido um acidente automobilístico provocado por “forças trevosas” incomodadas com os livros de Ramatis. Não obstante, Hercílio teria se desmaterializado no momento do acidente e se rematerializado instantes depois, já fora do carro. Acredite, caro leitor, se puder...

Seu fascínio pelo médium de Ramatis não para por aí. A Sra. Mariléia de Castro acreditava que Maes podia ir em espírito a Marte e retornar, sendo que, quando voltava, corroborava o que teria ouvido de Ramatis: sim, havia uma civilização hiper mega desenvolvida naquele planeta. Para comprovar tal tese, mostra fotos tiradas do solo marciano onde aparecem uma suposta terraplenagem, um duto e um rosto.

Comecemos pelo rosto: trata-se somente de uma ilusão. Em nova foto tirada do mesmo local tempos depois, a NASA comprovou que é apenas uma colina no imenso deserto marciano. Em comunicado, a agência espacial explicou a ilusão de ótica, dizendo que “a enorme formação rochosa, que lembra uma cabeça humana, é formada por sombras que dão a ilusão de olhos, nariz e boca”. Tal fenômeno é conhecido como pareidolia. Já o suposto “duto” não passa de uma conformação do caótico terreno de Marte. Se houvesse a propalada hiper desenvolvida civilização marciana, dutos certamente teriam uma aparência bem melhor, já que o que lá aparece é fincado no solo e totalmente irregular. O caso da terraplenagem se enquadra no mesmo caso, e na verdade se deve às marcas deixadas no solo de Marte pela correnteza de água há 3,8 bilhões de anos.

Não satisfeita, Mariléia de Castro procura defender a revelação ramatisiana sobre Marte com a citação de autores que a teriam posteriormente referendado. Cita, daí, um artigo que teria sido escrito pelo teosofista Charles Leadbeater em 1955, em que há uma descrição da civilização marciana, segundo ela própria admite, “em termos incrivelmente análogos aos de Ramatis”. O que a Sra. Mariléia não sabe é que Leadbeater desencarnou em 1934. Assim sendo, como já pudemos ver em “Artigo Investigativo: Ramatis pode nem existir”, há uma evidente “inspiração” na obra do teosofista inglês, já que a obra de Ramatis é de 1955, mesmo ano em que a revista “O Teosofista” publicou o tal artigo.

Mais adiante, à página 122, é reproduzida uma entrevista realizada com Hercílio Maes pela revista Panorama em 1969. Ao longo da entrevista, várias imprecisões científicas e doutrinárias são cometidas. Entre elas, o suposto médium de Ramatis afirma que os satélites de Marte são artificiais e que foram lançados pelos habitantes de Marte. Nada mais incorreto e fantasioso. Ocorre é que, em 1959, Walter Scott Houston publicara uma “pegadinha” de 1º de abril (Dia da Mentira) na edição da revista “Great Plains Observer”, anunciando que “o Dr. Arthur Hayall, da Universidade de Sierras, constatou que as luas de Marte são na verdade satélites artificiais”. Só que não havia nem Dr. Hayall, nem Universidade de Sierras, meramente fictícios. A mentira ganhou fama quando o anúncio de Houston foi repetido, aparentemente de maneira séria, pelo cientista soviético Iossif Shklovsky, citado por Hercílio Maes na entrevista.

11 - Ao longo de todo o livro “Simplesmente Hercílio”, depara-se o leitor com inúmeras revelações feitas por Hercílio Maes sobre as vivências pregressas de inúmeras personagens da história. Alegava ele que tinha acesso a tais informações. O interessante, tal como ocorre com outro “médium” de Ramatis, o Sr. Roger Bottini, conforme demonstramos em estudos interiores, é que eles foram sempre criaturas de elevada condição social e/ou espiritual que habitaram planetas adiantados, continentes perdidos, foram faraós, reis, rainhas, parentes próximos de expoentes da Bíblia e do próprio Allan Kardec, conheceram Jesus, enfim, estiveram sempre presentes entre a nata da nata. Só que a mosca azul da vaidade não pica a todos. É contado no livro supracitado que, certa feita, Hercílio teria encontrado a médium Yvonne Pereira no ano de 1969 em um evento, e afirmou que ela teria sido George Sand (pseudônimo de Amandine Dupin), famosa escritora e musa inspiradora de Chopin. Yvonne educadamente negou a tese.

O espírito Vianna de Carvalho comenta essa postura:
“Pseudo-médiuns ou medianeiros em desequilíbrio, assessorados por espíritos levianos, que se comprazem em mantê-los no ridículo, amiúde apresentam-se como reveladores, e o são inconsequentes, ludibriando a boa-fé dos incautos ou incensando os orgulhosos com bombásticas informações em torno do seu passado, com promessas mirabolantes sobre o seu futuro, ou ainda, como emissários de Embaixadores Celestes para evitarem calamidades, assumindo posturas de semi-deuses, que deslumbram os fascinados e se tornam condutores de grupos humanos. 
Os Espíritos Nobres não têm qualquer interesse em revelações em torno de personalidades de ontem ou de hoje, evitando a abordagem em torno do que hajam sido, trabalhando em favor do presente, do qual se origina o futuro, que é a grande meta.
Não tem nenhum sentido a busca de informações em torno do passado espiritual, particularmente se se anela por haver sido rei ou príncipe, nobre ou burguês, sábio, guerreiro ilustre, papa ou outra qualquer personagem importante, que em algum momento esteve presente na história.”
Assim sendo, qualquer semelhança não é mera coincidência, querido leitor.

Conclusão 

Não há dúvida que Hercílio Maes era um homem de bem. Segundo seu filho e amigos, era dedicado à família e disposto a colaborar com todos. Era também um homem de certa cultura e tinha o dom para a escrita. Venceu concursos literários, foi ex-acadêmico de Medicina e formou-se em Direito e Ciências Contábeis. Ao contrário de Chico Xavier, tinha condições intelectivas para escrever de próprio punho. É muitíssimo provável que isso tenha acontecido, já que as ideias que defendia não encontravam eco na Doutrina Espírita, a qual dizia seguir, mas ao mesmo tempo apresentava similitudes com a Teosofia, o ocultismo e quase toda sorte de crença esotérica. Assim sendo, nada melhor que receber um “espírito de oriental” para fazer valer as verdades que acreditava fazerem falta ao corpo doutrinário espírita. 

Herculano Pires, ex-teosofista, foi o primeiro a corajosamente levantar essa tese através da coluna que possuía em um jornal, não se importando com a apressada aceitação dos ditados de Ramatis por parte de numerosos neófitos da Doutrina. Anos depois, com a não confirmação das principais teorias dos ditados atribuídos ao tal “espírito oriental”, tal como a não existência da avançada civilização marciana, até mesmo seus discípulos aventaram a hipótese da influência anímica. Wagner Borges, por exemplo, que afirma receber mensagens de Ramatis, em seu livro “Viagem Espiritual” (1994) cogita essa possibilidade e declara que Ramatis nunca lhe disse coisa alguma sobre marcianos e catástrofes provocadas por um suposto astro intruso. 

Hercílio não se apressou muito em publicar o que escrevia. Infelizmente, um amigo se empolgou mais do que deveria, e ignorando o cuidado que se deve ter antes de se publicar algo supostamente advindo do mundo espiritual, tratou de elevar aqueles ditados à conta de revelações indefectíveis, espécie de complemento do grandioso trabalho do Codificador Allan Kardec, embora as condições e qualidade de tais trabalhos em nada se assemelhassem. E como tais mensagens traziam novidades bem ao gosto das massas, repletas de previsões retumbantes, excursões interplanetárias e boa dose de misticismo oriental, as obras atribuídas a um espírito que ostentava um turbante logo começaram a vender como água. 

Homens mais experimentados e conhecedores da Doutrina Espírita não se deixaram entusiasmar, exatamente como agiu Kardec ao se deparar muitas vezes com ditados que contrariavam o consenso universal. Herculano Pires, Deolindo Amorim, Jorge Rizzini, Ary Lex, Carlos Imbassahy (o pai), entre outros expoentes, direta ou indiretamente se manifestaram, provocando a ira e o antagonismo dos que aceitavam aquelas mensagens como autênticas revelações de um espírito sábio. Os defensores de Ramatis alegavam que seu médium era homem sem ambições de cunho material, esquecendo-se que nem sempre esta é a única marca de confiabilidade que se espera em um médium para aquilatar o valor das mensagens que recebe. Um médium pode muito bem se enganar em relação às luzes do espírito comunicante, sem contar a hipótese de animismo – ideias que são do médium, mas que são confundidas com as de um espírito. 

Foi um eminente físico americano Richard Feynman quem disse: “Sou sábio o suficiente para saber que posso me enganar”. Os ramatisistas parecem não contar com esta possibilidade. Embora os carros-chefes da suposta entidade espiritual tenham se esboroado com o tempo em decorrência do avanço das ciências e da ampliação do conhecimento humano, insistem eles em defender o indefensável, com a criação incessante de teses esdrúxulas, geralmente de fundo conspiratório, como aquela que afirma que os marcianos utilizam hologramas para encobrir a real paisagem do planeta vermelho, já que ao invés dos mares, jardins floridos e marcianos alados descritos por Maes/Ramatis, as sondas não-tripuladas só encontraram um terreno desértico, caótico e desolador.

Assim sendo, é tempo do movimento espírita retomar o bom-senso kardeciano e definitivamente escoimar de seus círculos os movimentos cismáticos que se formaram ao seu redor, entre eles o ramatisismo, cujos adeptos bem poderiam formar seus próprios redutos e movimentos, sem se utilizarem da figura de Allan Kardec e da insígnia espírita para angariar a respeitabilidade que lhes falta. Seria bem mais honesto, coerente e sensato. 

Fonte: http://espiritismoxramatisismo.blogspot.com.br/2013/02/hercilio-maes-medium-ou-escritor.html

sábado, 10 de março de 2012

Médium "universalista" diz receber mensagens de deus grego

Por Artur Felipe Azevedo

"Muitas comunicações há, de tal modo absurdas, que, embora assinadas com os mais respeitáveis nomes, o senso comum basta para lhes tornar patente a falsidade. Outras, porém, há, em que o erro, dissimulado entre coisas aproveitáveis, chega a iludir, impedindo às vezes se possa apreendê-lo à primeira vista. Essas comunicações, no entanto, não resistem a um exame sério. (...) De fato, a facilidade com que algumas pessoas aceitam tudo o que vem do mundo invisível, sob o pálio de um grande nome, é que anima os Espíritos embusteiros. A lhes frustrar os embustes é que todos devem consagrar a máxima atenção; mas, a tanto ninguém pode chegar, senão com a ajuda da experiência adquirida por meio de um estudo sério. Daí o repetirmos incessantemente: Estudai, antes de praticardes, porquanto é esse o único meio de não adquirirdes experiência à vossa própria custa." (Allan Kardec, em "O Livro dos Médiuns")

Na Antiguidade, os povos não possuíam meios de explicar os fenômenos naturais e emprestaram a esses fenômenos nomes de deuses, considerando-os como tais. O trovão inspirava um deus, a chuva outro. O céu era um deus pai, e a terra uma deusa mãe, sendo os demais seres seus filhos. Originaram-se, a partir daí, histórias e aventuras que explicavam de forma poética o mundo que os rodeava. Esses núcleos arquetípicos mitológicos recebem o nome de "mitologemas". A um conjunto de mitologemas de mesma origem histórica dá-se o nome de "mitologia".

A Mitologia Grega, especificamente falando, "é o estudo dos conjuntos de narrativas relacionadas aos mitos dos gregos antigos, de seus significados e da relação entre eles e os povos" (Wikipedia), e advém de uma mistura entre a cultura dos indo-europeus, pré-gregos, e até mesmo dos asiáticos, egípcios e outros povos com as quais os gregos estabeleceram contato.

O estudo da genealogia e filiação das divindades cultuadas pelos gregos chama-se "teogonia", o mesmo nome da obra do poeta Hesíodo, escrita possivelmente no século VIII a.C.

Segundo a teogonia imaginada pelos gregos, toda a desordem universal teria sido posta em ordem por Zeus e se desenvolve por seis gerações sucessivas de deuses. Zeus, em determinado momento, casa-se com Maia, uma das setes filhas de Atlas e Pleione, filha de Oceano. Zeus, para que Maia e sua irmãs escapassem do gigante Órion, transformou-as no aglomerado estelar das Plêiades, integrante da constelação de Touro. Com Zeus, Maia teve Hermes, o belo mensageiro dos deuses. E é justamente sobre Hermes, essa figura mitológica que só existiu nas narrativas dos gregos antigos, que iremos tratar daqui por diante.

Segundo a Encyclopaedia Britannica – Volume XI, Hermes Trismegisto "é uma divindade complexa, com múltiplos atributos e funções. Hermes foi no início um deus agrário, protetor dos pastores e dos rebanhos. Um escrito de Pausânias deixa bem claro esta atribuição do filho de Maia: 'Não existe outro deus que demonstre tanta solicitude para com os rebanhos e para com o seu crescimento'. Mais tarde, os escritores e os poetas ampliaram o mito, como por exemplo, Homero, nos seus poemas épicos Ilíada e Odisseia. Na Odisseia, por exemplo, o deus intervém como mago e como condutor de almas (nas Rapsódias X e XXIV)."

Segundo ainda a farta literatura sobre o assunto, Hermes é também o deus das estradas. Nas encruzilhadas, para servir de orientação, os transeuntes amontoavam pedras e colocavam no topo do monte a imagem da cabeça do deus. A pedra lançada sobre um monte de outras pedras, simbolizava a união do crente com o deus ao qual elas estavam consagradas. Considerava-se que nas pedras do monte estavam a força e a presença do divino.

Para os gregos, Hermes regia as estradas porque andava com incrível velocidade, por usar as sandálias providas de asas. Deste modo, tornou-se o mensageiro dos deuses, principalmente de seu pai, Zeus. Conhecedor dos caminhos, não se perdendo nas trevas e podendo circular livremente nos três níveis (Hades ou infernos, Terra ou telúrico e Paraíso ou Olimpo), Hermes tornou-se um deus condutor de almas.

A astúcia, a inventividade, o poder de tornar-se invisível e de viajar por toda a parte, aliados ao caduceu com o qual conduzia as almas na luz e nas trevas, são os atributos que exaltam a sabedoria de Hermes, principalmente no domínio das ciências ocultas, que se tornarão, na época helenística, as principais qualidades do deus.

A partir deste ponto, Hermes se converteu no patrono das ciências ocultas e esotéricas. É ele quem sabe e quem transmite toda a ciência secreta. O feiticeiro Lúcio Apuléio declara em seu livro de bruxaria (de magia) que invocava Mercúrio – o Hermes dos romanos – como sendo aquele que possuía os segredos da magia e do ocultismo.

Hermes Trismegistos é o nome grego dado ao deus egípcio Thoth, considerado o inventor da escrita e de todas as ciências a ela ligadas, inclusive a medicina, a astronomia e a magia. Segundo o historiador Heródoto, já no séc. V a.C. Thoth era identificado e assimilado a Hermes Trismegisto, i.e., ao Três Vezes Poderoso Hermes.

No mundo greco-latino, sobretudo em Roma, com os gnósticos e neoplatônicos, Hermes Trismegisto se converteu num deus cujo poder varou os séculos. Na realidade, Hermes Trismegisto resultou de um sincretismo com o Mercúrio latino e com o deus egípcio Thoth, o escrivão no julgamento dos mortos no Paraíso de Osíris, e patrono de todas as ciências na Grécia Antiga.

Em Roma, a partir dos primeiros séculos da era cristã, surgiram muitos tratados e documentos de caráter religioso e esotérico que se diziam inspirar-se na religião egípcia, no neoplatonismo e no neopitagorismo. Esse vasto conjunto de escritos que se acham reunidos sob o nome de "Corpus Hermeticum", coleção relativa a Hermes Trismegisto, é uma fusão de filosofia, religião, alquimia, magia e astrologia, e tem muito pouco de egípcio.

Hermes Trismegisto foi, na Mitologia Grega, o deus que reuniu os atributos que todos os grandes pensadores e iniciados desejaram transmitir às futuras gerações.

O Hermetismo foi estudado durante séculos pelos árabes e, por seu intermédio, chegou ao Ocidente, onde influenciou homens como Albertus Magnus. Em toda a literatura Medieval e do Renascimento são frequentes as referências a Hermes Trismegistos e aos Escritos Herméticos, estudados e aprofundados, principalmente, pelos Alquimistas e pelos Rosacruzes. Para os Rosacruzes, Hermes Trismegistos foi um sábio. O Dr. H. Spencer Lewis, escritor e Grande Mestre da Ordem Rosacruz, se referia a Hermes como uma pessoa real.

É justamente baseado e confiante neste enorme engano que o médium ramatisista Roger Bottini afirma que, - pasmém os queridos leitores -, psicografa mensagens de Hermes Trismegisto (cujo sobrenome aparece erroneamente grafado em seus livros), o deus da mitologia grega! Segundo o referido médium, já citado aqui nos artigos "Saint Germain, Novo 'Governador do Planeta' ou apenas um Bon Vivant?", "Universalismo Crístico ou Misticismo anti-espirítico?" e "Insistindo nos mesmos erros", Hermes Trismegisto é seu espírito protetor e, certa feita, o levou, em desdobramento, a uma cidade astral chamada "O Império do Amor Universal" ("A História de um Anjo" - Editora do Conhecimento). Ali Roger Bottini teria conhecido um anjo chamado Gabriel, que o leva a uma visita ao "Templo da União Divina", onde assiste a espetáculos de música, teatro, e danças. Daí conhece Danúbio, espírito de suposta alta hierarquia que diz ser o protetor responsável por sua encarnação na Terra. Em uma reunião de confraternização, o médium relata, no mesmo livro já citado, ter visto Jesus e recebido do próprio uma benção pelo seu trabalho literário em benefício da humanidade.

Vemos aí, claramente, que o médium não se faz de rogado e, sem qualquer timidez e ao mesmo tempo fingindo modéstia, coloca-se sempre acompanhado de sumidades do além, entre eles o próprio Jesus Cristo, que ainda o elogia por sua elevada missão. Nada que nos surpreenda, já que o médium Roger Bottini declara ter sido, também, como já comentamos em artigos anteriores, filho de Allan Kardec em outras encarnações.

Em meio a narrativas onde comparecem faraós egípcios e habitantes da mitológica Atlântida, surgem "dragões" e "magos negros", "ditadores do abismo" e "senhores da escuridão", onde fica evidenciado que o autor, em linhas gerais, pega carona nos textos da sofrível obra de R.A. Ranieri conhecida como “O Abismo”, no livro “Erg, O Décimo Planeta” de Roger Feraudy (que aponta o auge dos eventos catastróficos na Terra para o ano 2036), além dos não menos fantasiosos livros “Legião”, “Senhores da Escuridão” e “A Marca da Besta”, de Robson Pinheiro. Todos esses autores, por sua vez, parecem ter se inspirado no livro "Os Exilados de Capela", de Edgard Armond, que até hoje é confundido como sendo autenticamente espírita. Para completar, as obras de Hercílio Maes/Ramatis servem para dar o cunho sincrético e místico, assim como corroboram as profecias de destruição do planeta por conta da aproximação de um suposto "astro intruso".

Nesse conjunto de tolices e absurdos, que bem poderiam ser apresentados como meros frutos de uma imaginação hiperexcitada, o que mais causa tristeza e indignação é o de atribuírem tais ludíbrios ao Espiritismo, fazendo-se passar seus autores como "espíritas", e seus conceitos como inteiramente de acordo com a magna Doutrina Espírita. Além disso, fica evidente a faceta mercantilista, onde editoras sem o menor compromisso ético e doutrinário logo se assanham em patrocinar tais empreitadas devido ao grande número de leitores ávidos por consumirem fantasias espirituais, mas pouco interessados em realmente se esclarecerem.

Por conta disso tudo, acaba caindo o Espiritismo na total falta de credibilidade perante boa parte da opinião pública, sendo que a Doutrina se coloca clara e frontalmente contrária a essa postura caricata, sensacionalista e mercantilista.

São mais do que atuais os ensinamentos espíritas, inclusive as próprias instruções de Allan Kardec e dos Espíritos Superiores acerca das mistificações:

“Se é desagradável ser enganado, mais desagradável ainda é ser mistificado; esse é, aliás, um dos inconvenientes de que mais facilmente nos podemos preservar.
“Consultando os Espíritos sobre esse tema (“mistificações), eis as respostas que nos deram:

Pergunta de AK: “As mistificações constituem um dos escolhos mais desagradáveis do Espiritismo prático; haverá um meio de nos preservarmos deles?

Resposta: “Parece-me que podeis achar a resposta em tudo quanto vos tem sido ensinado. Sim, certamente, há um meio simples: o de não pedirdes ao espiritismo senão aquilo que ele vos pode e deve dar-vos; sua finalidade é o melhoramento moral da humanidade; tanto assim que, se não vos afastardes desse objetivo, jamais sereis enganados, porquanto não há duas maneiras de se compreender a verdadeira moral, ou seja, a moral que todo homem de bom-senso pode admitir.

“O papel dos Espíritos não é o de vos informar sobre as coisas deste mundo,
mas o de vos guiar seguramente no que vos possa ser útil para o outro mundo. Quando vos falam do que a este (mundo dos homens) diz respeito, é que o julgam necessário, mas não para dar resposta a uma solicitação vossa. Se vedes nos Espíritos os substitutos dos adivinhos e dos feiticeiros, então, sim, é certo que sereis enganados.

Pergunta de AK: - "Mas, há pessoas que nada perguntam e que são indignamente enganadas por Espíritos que vêm espontaneamente, sem serem chamados".

Resposta: – "Se elas não perguntam nada, é porque se comprazem em ouvir o que eles dizem, o que dá no mesmo. Se acolhessem com reserva e desconfiança tudo o que se afasta do objetivo essencial do espiritismo, os Espíritos levianos não as tomariam tão facilmente por enganados".

Pergunta de AK: - "Por que permite Deus que pessoas sinceras e que aceitam o Espiritismo de boa-fé, sejam mistificadas? Não poderia isto ter o inconveniente de lhes abalar a crença?"

Resposta: – "Se isto lhes abalar a crença, é porque a fé que demonstram ter não é muito sólida; as que renunciassem ao espiritismo, por um simples desapontamento, provariam não o terem compreendido e não se apegaram à parte séria. Deus permite as mistificações, para experimentar a perseverança dos verdadeiros adeptos e punir os que do Espiritismo fazem objeto de divertimento”. (Espírito da Verdade em "O Livro dos Médiuns", cap. XXVII da Segunda Parte, nº 303).

Cabe aos espíritas sinceros darem um basta nessas ardilosas imposturas, através do esclarecimento constante e da denúncia bem fundamentada. Caso contrário, em breve teremos um Movimento Espírita completamente dominado por esses autênticos falsos profetas, sejam eles encarnados ou da erraticidade. Tal chamamento nos foi trazido por Erasto, com o qual concluímos o presente estudo:

"É incontestável que, submetendo ao crivo da razão e da lógica todos os dados e todas as comunicações dos Espíritos, fácil se torna rejeitar a absurdidade e o erro. Pode um médium ser fascinado, e iludido um grupo; mas, a verificação severa a que procedam os outros grupos, a ciência adquirida, a alta autoridade moral dos diretores de grupos, as comunicações que os principais médiuns recebam, com um cunho de lógica e de autenticidade dos melhores Espíritos, justiçarão rapidamente esses ditados mentirosos e astuciosos, emanados de uma turba de Espíritos mistificadores ou maus". - Erasto, discípulo de São Paulo. (Paris, 1862)

***

Bibliografia consultada sobre Hermes Trismegisto:
Hermes Trismegisto - Ensinamentos Herméticos AMORC Grande Loja do Brasil - Dr. H. Spencer Lewis; Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia – Nicola Aslan; La Franc-Maçonnerie Rendue Intelligible à Ses Adeptes – Oswald Wirth; Encyclopaedia Britannica – Volume XI; O Vale dos Reis – O Mistério das Tumbas Reais do Antigo Egito; – John Romer; A Doutrina Secreta – Volume V – H.P.Blavatsky; Odisseia - Homero

Comentários adicionais:


(1)Hercílio Maes/Ramatis, como era também ligado ao Rosacrucianismo, incluiu no livro "O Sublime Peregrino" (cap. I) o seguinte comentário: "Assim, em épocas adequadas, baixaram à Terra instrutores espirituais como Antúlio, Numu, Orfeu, Hermes, Crisna, Fo-Hi, Lao Tsé, Confúcio, Buda, Ma-harshi, Ramacrisna, Kardec e Ghandi, atendendo particularmente às características e aos imperativos morais e sociais do seu povo." Vemos aí, mais uma vez, que Hercílio Maes "importa" do rosacrucianismo diversas concepções, possivelmente colocando-as na boca de um espírito, como já vimos no artigo investigativo "Ramatis pode nem existir". Confiram.

(2) No trecho acima mencionado, Orfeu também é mencionado como figura real, enquanto, na verdade, também não passa de uma personagem da mitologia grega, filho de Apolo e da Musa Calíope.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Insistindo nos mesmos Erros

Por Artur Felipe de Azevedo

Como já pudemos tratar em dezenas de estudos presentes em dois livros, “Ramatis, Sábio ou Pseudo-Sábio?” (1997) e “Espiritismo x Ramatisismo”(2010), o primeiro médium a afirmar receber comunicações advindas de um espírito chamado “Ramatis” foi Hercílio Maes nos anos de 1950, pegando carona em teses presentes em obras teosóficas e apresentando-as como novidades que deveriam os espíritas aceitar sem pestanejar, conforme expusemos em "Artigo Investigativo:Ramatis pode nem existir". Afinal, repetia-se ferozmente, já naquela época: “Kardec está ultrapassado”, “a Doutrina é progressista”, e algumas outras frases "chavões" sem qualquer consistência.

Depois do desencarne do médium paranaense, alguns outros médiuns, embalados pelo sucesso de vendas dos livros de Maes e, principalmente, pela aceitação do ramatisismo por parte de um considerável contingente de simpatizantes, em sua maioria constituída de neófitos no estudo da Doutrina Espírita, passaram a atribuir a Ramatis a autoria de ditados que, em muitos pontos importantes, contradisseram algumas das suas principais teses, principalmente aquelas já tidas como ultrapassadas e desmentidas pelos fatos e pelas Ciências, tais como as retumbantes previsões de catástrofes globais para o fim do século XX e as descrições equivocadas acerca da topografia do planeta Marte e do cotidiano de seus supostos habitantes. De modo a amenizar tais discrepâncias e escaparem de críticas e suspeições, alguns desses médiuns atribuíram tais inconsistências a uma suposta interferência anímica de Hercílio Maes.

Não obstante a avalanche de equívocos, contraditados pela Doutrina Espírita e pela Ciência, há quem insista ainda, nos dias atuais, em reviver e reeditar tais teorias sob uma fachada nova, intentando encontrar nas fileiras espíritas apoio e suporte à divulgação das mesmas.

O primeiro esforço articulado pelas lideranças do movimento ramatisista de modo atingir um maior número de leitores e angariar mais simpatizantes foi o de reeditar as obras de Ramatis através de uma editora com fins puramente comerciais, retirando da pequena "Livraria Freitas Bastos", do Rio de Janeiro, os direitos de exclusividade sob as obras de Hercílio Maes. A partir daí, coincidentemente ou não, surgiram de várias partes do Brasil novos autores apresentando-se como médiuns de Ramatis, cada qual apresentando a citada entidade espiritual com uma roupagem diferente e ainda mais exótica de modo a agradar aos mais variados gostos e tendências religiosas, tudo sob a fachada de um certo “universalismo” – na verdade, uma inglória tentativa de sincretizar o Espiritismo e, concomitantemente, facilitar a obtenção dos elevados lucros oriundos da vendagem de livros que de espíritas nada têm, apesar de assim se intitularem em suas respectivas fichas catalográficas.


Insistindo nos velhos argumentos

Em nosso artigo “Universalismo Crístico ou Misticismo Anti-Espirítico", alertamos para o exotismo das obras do médium Roger Bottini, do Rio Grande do Sul. Ao lermos e analisarmos um dos seus livros, intitulado "A Nova Era" (Editora do Conhecimento), deparamo-nos com textos atribuídos ao espírito Hermes, que se diz pertencente à falange de Ramatis. É o que parece ser, pois as teses anti-doutrinárias e as cincadas científicas estão lá, presentes. Citemos algumas delas:

1- Afirma o espírito Hermes: "A extinta Atlântida possuía conhecimentos superiores aos da atual humanidade"

Nosso comentário: Até hoje não há nenhuma prova concreta da existência dessa mitológica civilização. Caso tenha realmente existido, não faz sentido algum acreditar que ela tenha alcançado, 9.600 anos antes de Cristo, uma evolução intelecto-moral superior a de hoje. Caso isso fosse verdade, poderíamos perguntar onde estariam os aviões supersônicos, as naves espaciais, os computadores atlantes e o sem número de aparatos tecnológicos que temos hoje, advindos da evolução gradativa da inteligência humana ao longo dos séculos.

2- Em nota de rodapé, consta a antiga previsão de Ramatis sobre um suposto Presidente da República que se elegeria passando por cima de partidos e instituições e que "salvaria" o Brasil. Já tratamos deste assunto no artigo "Ramatis e o Presidente do Brasil". Primeiramente, segundo a nossa Carta Magna, a Constituição, só podem concorrer e eleger-se para cargos do Poder Executivo pessoas filiadas a partidos políticos. Em segundo, Ramatis "profetizou" a ascensão dessa figura ao poder em 1970, sendo que o espírito afirmou, à época, que o mesmo já teria percorrido mais da metade do caminho até a Presidência. No entanto, mais de 40 anos se passaram, e nada aconteceu.

3- Utilizando-se de um expediente surrado e vazio, o espírito Hermes ousadamente afirma que os "universalistas" são vítimas de perseguição e que aqueles que não concordam com suas propostas são obsidiados governados por "espíritos da Trevas" ou "magos negros": "Outra forma de atuação é fascinando os líderes religiosos para crerem-se os únicos detentores da verdade e, assim, lutarem contra seus irmãos no campo das ideias. Vemos claramente essa posição entre alguns encarnados que respondem pela própria Doutrina Espírita. Eles trabalham ferrenhamente contra o processo de união religiosa até mesmo com relação aos espíritas universalistas, seus irmãos de crença.Esses pobres fascinados rechaçam livros espíritas que contestam as suas posições dogmáticas, acreditando serem os donos exclusivos da verdade. Os espíritos das Trevas então realizam um trabalho de indução mental para que eles acreditem que seus irmãos, que pensam de forma mais abrangente e menos sectária, estão fascinados ou envolvidos por entidades maléficas, em uma total inversão do que realmente ocorre. O objetivo dos magos negros é sempre prejudicar os trabalhadores da Espiritualidade, os quais consideram seus "inimigos mortais". Logo, atividades que visem a prejudicar o trabalho de união das crenças religiosas, de conscientização para o período de transição planetária e do trabalho de esclare¬cimento para a Nova Era, são a meta principal desses irmãos ainda dominados pelas forças do mal".

Realmente já tratamos do tema no artigo "Nos Descaminhos da Fascinação". O leitor poderá ver quais são alguns dos sintomas desse tipo de obsessão, e certamente notará que indivíduos que creem na existência de crianças índigo, planeta chupão, apometria, poder curador de cristais e objetos materiais, profecias mirabolantes e aterrorizantes, intraterrestres, ETs que implantam chips em seres humanos, terapias exóticas e milagreiras, entre outras teorias esdrúxulas e sem qualquer respaldo, realmente só podem abrir brechas a espíritos galhofeiros e mistificadores que se esforçam em afastar o indivíduo da realidade, alienando-o e expondo-o a uma posição ridícula, levando de roldão a própria Doutrina Espírita perante a opinião pública.

Acredito que, ao invés de alegarem perseguição gratuita, deveriam os "universalistas" aceitar o debate e análise dessas teorias, pois só quem realmente considera-se "dono da verdade" se fecha ao debate e enfeza-se quando questionado. Ademais, jamais um espírito superior agiria de tal forma, pois, segundo nos ensina a Doutrina Espírita, "Os maus Espíritos temem o exame; eles dizem: 'Aceitai nossas palavras e não as julgueis.' Se tivessem a consciência de estar com a verdade, não temeriam a luz. O hábito de escrutar as menores palavras dos Espíritos, de pesar-lhes o valor, distancia forçosamente os Espíritos mal intencionados, que não vêm, então, perder inutilmente seu tempo, uma vez que se rejeite tudo o que é mau ou de origem suspeita. Mas quando se aceita cegamente tudo o que dizem, que se coloca, por assim dizer, de joelhos diante de sua pretensa sabedoria, fazem o que fariam os homens - disso abusam." (Allan Kardec, Escolhos dos Médiuns, Revista Espírita, fevereiro de 1859)

4- Insistindo na divulgação de mensagens atemorizantes sobre hecatombes causadas pela suposta aproximação de um astro intruso, o espírito Hermes corrige a data do "fim dos tempos". Enquanto Ramatis, nos anos de 1950, asseverou que o mundo não passaria do ano 2000 sem que dois terços da humanidade perecesse e a Terra fosse destruída por uma série de eventos catastróficos, o espírito Hermes, através de Roger Bottini, afirmou em 2002: "Esses períodos de transição abrangem em torno de cem anos do calendário terreno, sendo que o atual iniciou-se na segunda metade do século passado e deverá ser concluído até o final deste século". Vemos, daí, que como as previsões não se cumpriram, tratou-se logo de mudar as datas, empurrando-as para frente - bem típico das seitas apocalípticas.

5- Não satisfeito em demonizar os espíritas que não concordam com as ideias excêntricas que divulga, o espírito "universalista" Hermes não perdoa sequer uma grande personagem: Maria Madalena. Segundo ele, a discípula de Jesus, também conhecida como Maria de Magdala, teria sido usada pelo que os "universalistas" chamam de "Astral Inferior" e por "magos negros" - termos não aceitos e não constantes da Doutrina Espírita - para tentar seduzir e desvirtuar Jesus, com a intenção de "prejudicar os sagrados projetos do Alto".

Essa teoria não encontra respaldo nem nos textos bíblicos, nem em estudos sobre o Jesus histórico. Consta dos Evangelhos que Maria Madalena acreditava que Jesus Cristo realmente era o Messias. (Lucas 8:2; 11:26; Marcos 16:9). Madalena esteve presente na crucificação e no funeral de Cristo, juntamente com Maria de Nazaré e outras mulheres. (Mateus 27:56; Marcos 15:40; Lucas 23:49; João 19.25) (Mateus 27:61; Marcos 15.47; Lucas 23:55). No sábado após a crucificação, teria saído do Calvário rumo a Jerusalém com outros crentes para poder comprar certos perfumes, a fim de preparar o corpo de Cristo da forma como era de costume funerário. Teria permanecido na cidade durante todo o sábado, e no dia seguinte, de manhã muito cedo, "quando ainda estava escuro", foi ao sepulcro, achou-o vazio, e recebeu de um anjo a notícia de que Cristo havia ressuscitado e foi-lhe dito que devia informar tal fato aos apóstolos. (Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-5,10,11; Lucas 24:1-10; João 20:1,2; compare com João 20:11-18). Em Lucas 8:2, faz-se menção, pela primeira vez, de "Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios". No entanto, não há qualquer fundamento bíblico para considerá-la como a prostituta arrependida dos pecados que pediu perdão a Cristo; também não há nenhuma menção de que tenha sido prostituta.Este episódio é frequentemente identificado com o relato de Lucas 7:36-50, ainda que não seja referido o nome da mulher em causa. Há, inclusive, "O Evangelho de Maria Madalena", que traz uma nova interpretação de quem teria sido Maria de Magdala. Segundo este evangelho, ela teria sido uma discípula de suma importância à qual Jesus teria confidenciado informações que não teria passado aos outros discípulos, sendo por isso questionada por Pedro e André. Ela surge ali como confidente de Jesus, alguém, portanto, mais próximo de Jesus do que os demais. Em trechos do citado evangelho, consta o que é um claro desmentido à tese dos "universalistas": "O apego à matéria gera uma paixão contra a natureza. É então que nasce a perturbação em todo o corpo; é por isso que eu vos digo: Estejais em harmonia… Se sois desregrados, inspirai-vos em representações de vossa verdadeira natureza. Que aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça. Após ter dito aquilo, o Bem-aventurado saudou-os a todos dizendo: Paz a vós – que minha Paz seja gerada e se complete em vós! Velai para que ninguém vos engane dizendo: Ei-lo aqui. Ei-lo lá. Porque é em vosso interior que está o Filho do Homem; ide a Ele: aqueles que o procuram o encontram. Em marcha! Anunciai o Evangelho do Reino."

"Pedro disse: "O Salvador realmente falou com uma mulher sem nosso conhecimento? Devemos nos voltar e escutar essa mulher? Ele a preferiu a nós?". E Levi respondeu: "Pedro, você sempre foi precipitado. Agora te vejo lutando contra a mulher como a um adversário. Se o Salvador a tornou digna, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece muito bem. Foi por isso a amou mais que ama a nós"."

6- Ainda incorrendo nos caminhos tortuosos das pseudorrevelações na tentativa de passar uma pretensa superioridade espiritual, o espírito Hermes, discípulo de Ramatis, afirma que "a velocidade da luz é entendida pelos cientistas humanos como o meio mais rápido de se viajar no espaço sideral. E eles estão corretos, dentro dos limites físicos". Em setembro de 2011, no entanto, foi descoberta a existência de partículas sub-atômicas (neutrinos) mais rápidas do que a luz.

7- Quando são citados trechos dos livros da Codificação Espírita, o desconhecimento parece ser ainda maior. O espírito Hermes, no capítulo XII, afirma que o espírito é criado "puro e ignorante", e não "simples e ignorante", o que é totalmente diferente. Mais adiante, diz que foi Kardec o criador da definição de "perispírito", enquanto que, na verdade, foram os Espíritos que a transmitiram a Kardec no item 93 de "O Livro dos Espíritos". Aliás, esse é um erro comum por parte dos "universalistas", que para reforçarem a tese de que o Espiritismo estaria ultrapassado, geralmente imputam ao Codificador a autoria dos ensinamentos, e não aos Espíritos Superiores que, de fato, responderam aos questionamentos elaborados pelo professor francês.

Prosseguiremos, em novos artigos, a analisar as proposições "universalistas" à luz do Espiritismo. Aguardem.

Fonte: Blog Espiritismo x Ramatisismo

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Artigo investigativo: Ramatis pode nem existir

Por Artur Azevedo
Não é de hoje que muitos que acompanharam e ainda acompanham os ditados atribuídos a um espírito conhecido como "Ramatis" cogitam da hipótese do mesmo sequer ter existido. Tal possibilidade, inicialmente, não nos pareceu digna de análise, mas como temos a obrigação de investigar em constante busca pela verdade, fomos atrás dos possíveis sinais que indicassem ser esta uma hipótese provável.

Surpreendentemente, na medida que fomos avançando em nossa pesquisa, verificamos que há muitas evidências que indicam ser Ramatis e seus ditados, especialmente aqueles constantes das obras do "médium" Hercílio Maes, um reflexo, uma cópia das ideias abraçadas pelo citado médium.

Vejamos alguns pontos importantes a serem analisados:

1 - Hercílio Maes, o primeiro indivíduo a afirmar receber mensagens desse "espírito oriental"(?), veio a se dizer "espírita" somente após a publicação dos livros atribuídos a Ramatis, em cujas fichas catalográficas constam como sendo "espíritas". Antes disso, o mesmo afirmava que era adepto da Teosofia, doutrina que, mais adiante, verificaremos que possuirá todos os seus principais postulados defendidos nas obras atribuídas ao espírito Ramatis.

2 - Hercílio Maes adotou, enquanto esteve encarnado, uma postura perante as religiões e doutrinas idêntica àquela propugnada por Ramatis: além de Teosofista, como dissemos, também era Rosacruciano, depois tornando-se "espírita", promovendo uma miscelânea idêntica a que Ramatis incentiva em seus livros a título de "universalismo".

3 - Hercílio Maes era um vegetariano radical, daqueles que considerava grave delito espiritual o consumo de carne. Tal noção foi igualmente repetida à exaustão em seus livros "psicodatilografados", o que não verificamos nas obras de outros médiuns que afirmam ser intermediários de Ramatis. Leadbeater, um dos autores teosóficos mais mencionados por ele nos rodapés de seus livros, era igualmente radical defensor do vegetarianismo.

4 - Tal qual informamos acima, Hercílio Maes dizia receber as mensagens de Ramatis através da inspiração, sendo que não se utilizava de lápis e papel, e sim de uma máquina datilográfica, para transcrever tais mensagens advindas, segundo ele, de sua mediunidade inspirativa.

No entanto, segundo "O Livro dos Médiuns" (cap. XV, item 182), "médium inspirado é toda pessoa que recebe, seja no estado normal, seja no estado de êxtase, pelo pensamento, comunicações estranhas a suas ideias pré-concebidas. Ora, assim sendo, falta em Hercílio Maes justamente esta característica fundamental da mediunidade inspirada, modalidade de mediunidade intuitiva, que é a desconexão entre as ideias do médium e as do espírito comunicante. Não é possível distinguir, como verificaremos mais adiante, o pensamento de um e de outro, porque o segundo repete ipsis literis as opiniões e ideologias do primeiro, o médium. Os ditados atribuídos a Ramatis, ao contrário do que se prevê e espera na mediunidade inspirada, não estavam fora dos limites dos conhecimentos e capacidades do médium. (Ver LM, Cap. XV, item 180)

5 - Outro fator digno de estranheza é o histórico atribuído às pregressas encarnações de Ramatis. Afirmava Hercílio Maes que Ramatis teria sido um instrutor em um santuário iniciático na Indochina do século X d.C, falecendo ainda cedo. Em vida no século IV teria participado dos acontecimentos narrados no poema hindu Ramaiana, o que não parece fazer sentido uma vez que esses contos épicos hindus são puramente alegóricos, não se ocupando nem de fatos, nem de personagens reais. Além disso, não há qualquer registro histórico ou tradição que sequer mencione a existência do suposto grupo iniciático fundado por um instrutor chamado Rama-tys. Este, portanto, ao que parece, nada mais seria do que o alterego (do latim alter=outro, egus= eu) de Hercílio Maes, que para dar credibilidade e anonimato à autoria de seus escritos, em dado momento, propositalmente ou não, "cria" uma entidade espiritual ao qual delega sua representação.

Notemos, agora, as notáveis semelhanças entre o que afirma Ramatis e os conceitos da Teosofia, doutrina abraçada pelo médium Hercilio Maes.

1 - A tese da elevação do eixo da Terra

Um dos carros-chefe dos livros de Hercílio Maes/Ramatis, que praticamente nem é abordado em livros de outros médiuns daquele espírito, é a tese de que a Terra sofreria uma elevação de seu eixo, causando uma série de calamidades e transformações nas condições de vida na Terra. Tal teoria não é nova. A obra intitulada "A Doutrina Secreta" (1888), de Helena Blavatsky, co-fundadora da Sociedade Teosófica, já a defendia e atribuía sua origem a "ensinamentos antigos". Tal qual Ramatis reproduziria em seus livros, Blavatsky relata que acontecimentos igualmente assombrosos no passado teriam dado fim às mitológicas Atlântida e Lemúria, berços de sociedades hiper evoluídas.

2 - Jesus e Cristo como entidades distintas

A afirmação de Ramatis, inteiramente contrária ao que ensina a Doutrina Espírita, de que Jesus fora um médium de Cristo, não é nova. Novamente verificamos que é no Teosofismo que originalmente encontramos a defesa dessa tese. O Teosofismo afirma que Jesus e Cristo são pessoas distintas e que Cristo usou o corpo de Jesus quando este abandonou o seu corpo. Infelizmente, como boa parte dos "espíritas" não conhece a Codificação, a "revelação" de Ramatis pareceu, nos idos dos anos 50, inteiramente crível e doutrinariamente correta.

3 - Vocábulos utilizados na Teosofia

Todos os termos consagrados pela Teosofia estão presentes nas obras de Ramatis, em detrimento dos termos espíritas, comprovando aí a intrínseca relação do médium com a Teosofia, e não com o Espiritismo. Alguns desses termos são: "chakra", "karma", "corpo astral", "plano astral", "miasmas astralinos", etc. O mesmo ocorre com relação a algumas concepções relativas à Criação, como o "Manvantara" (período de tempo do ciclo de existência dos planetas em que ocorre atividade que dura, segundo o cômputo dos Brâmanes, 4.320.000.000 de anos), e o "Ciclo de Brahma", mencionados e descritos no livro "Mensagens do Astral" e em outras obras atribuídas a Ramatis escritas por Hercílio Maes. Uma repetição sistemática daquilo que se estuda na Teosofia.

4 - Bibliografia indicada

É comum verificarmos nos rodapés dos livros de Hercílio Maes/Ramatis menções e estímulo à leitura de livros teosóficos, como os de C.W. Leadbeater e Annie Besant. Vemos daí, mais uma vez confirmada, a ligação entre o médium e as ideias teosóficas, reproduzidas em suas obras e atribuídas a um espírito de nome Ramatis.

5 - Superioridade Oriental

Também está presente nas obras de Hercílio/Ramatis uma constante alusão à uma pretensa superioridade das doutrinas orientais e de seus adeptos e representantes, tal qual nas obras teosóficas. Ramatis, da mesma maneira, chega a afirmar que o Espiritismo desaparecerá caso não sorva os inesgotáveis ensinamentos dos movimentos orientalistas.

6 - A Vida no Planeta Marte

Mais um carro-chefe das obras de Ramatis em que verificamos enorme semelhança com obras teosóficas. Mais uma vez, a suposta dupla Hercílio-Ramatis expõe uma posição teosófica e a apresenta como uma verdade espírita e/ou científica. Hercílio-Ramatis mais uma vez retira das obras do teósofo Leadbeater o conteúdo para seus escritos psicodatilografados, e, o que é pior, apresentando-as como suas e confundindo o meio espírita, principalmente os que não aprofundaram conhecimentos na Codificação. A descrição de Marte feita por Hercílio/Ramatis é idêntica àquela dada anos antes por Leadbeater no livro "Vida em Marte segundo a Teosofia". Confiramos:

1 - Marte não seria um planeta inóspito; tão pouco seria desabitado. Menor que a Terra, Marte seria mais avançado em termos "astrofísicos" (vemos que até a terminologia utilizada é a mesma);

2 - Seu solo seria fértil e teria exuberante vegetação. A população atual, pouco numerosa, ocuparia as regiões equatoriais, onde a temperatura seria mais elevada e ainda existem reservas de água. O grande sistema de canais que pode ser observado pelos astrônomos da Terra seriam muito antigos, estaria desativado e teria sido construído, por gerações passadas, a fim de aproveitar o degelo anual das camadas de gelo que ocorria na antiguidade marciana. Os canais ativos, segundo Leadbeater e Hercílio-Ramatis, atualmente, não são visíveis para os telescópios terrenos. Eventualmente, um cinturão verde poderia ser visto ao longo da área habitada, na estação em que a água flui pelos dutos. A vida em Marte dependeria dessa estação tal como o Egito dependeu, no passado e ainda hoje, das enchentes do Nilo. Esta parte do planeta possuiria florestas e campos cultivados que somente podem ser debilmente visualizados pelos terráqueos quando a posição de Marte se torna relativamente mais próxima da Terra. Leadbeater afirma, ainda, que em Marte o Sol parece ter a metade do tamanho que tem quando visto da Terra. Apesar disso, na porção habitada do planeta o clima seria agradável com temperaturas diurnas em torno de 70 graus Fahrenheit (33º Centígrados) e noites frias. Nos céus de Marte, quase nunca há nuvens. Também seriam raríssimas as chuvas ou precipitação de neve. As variações climáticas praticamente não existiriam. Tudo isso é repetido quase que ipsis literis na obra de Hercílio Maes;

3 - Hercílio-Ramatis simplesmente repetem as "informações" de Leadbeater na obra "A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores", e afirmam que a aparência dos marcianos não seria muito diferente da nossa a não ser pela estatura. Os mais altos chegariam a 1,65m de altura e teriam a caixa torácica muito desenvolvida. Toda a população marciana seria constituída de uma só raça sem grandes diferenças aparentes exceto, como entre nós, o fato de alguns serem louros e outros morenos. Alguns possuem a pele amarelada e os cabelos negros; a maioria, porém, tem cabelos louros e olhos de tonalidade azul ou violeta. Suas roupas seriam coloridas e brilhantes e ambos os sexos trajam vestimentas semelhantes, túnicas longas feitas de material leve. Geralmente, andam descalços mas, ocasionalmente, usam sandálias metálicas fixadas por tiras na altura dos tornozelos.

Tal qual lemos na obra de Leadbeater, Hercílio-Ramatis afirma que os marcianos apreciam as flores que existiriam em grande variedade no planeta; as cidades seriam planejadas nos moldes de um jardim. Suas casas, estruturadas em módulos padronizados, seriam cercadas de canteiros floridos e possuiriam paredes transparentes e coloridas, feitas de material semelhante ao vidro que permitiriam a visão das flores no exterior embora, do lado de fora não se possa ver o que acontece dentro das residências. As portas seriam feitas de metal. Uma única língua seria falada em todo o planeta.

Assim como Hercílio-Ramatis afirmam na obra "A Vida no Planeta Marte...", Leadbeater disse ter obtido suas informações com visitas ao local, feitas "espiritualmente". Em nosso ponto-de-vista, uma afirmação feita com o fito de passar credibilidade.

Conclusão

O prezado leitor tirará suas conclusões, sendo que apresentamos esse tese tendo em vista as enormes e evidentes semelhanças entre as ideias teosóficas, particularmente as contidas nas obras de Leadbeater, e os conceitos e informações contidas nas obras cuja autoria é atribuída ao espírito Ramatis. Cabe notar, também, que boa parte de tais ideias não são repetidas em livros psicografados por outros médiuns de Ramatis, que inclusive já fizeram análises atribuindo tais discrepâncias a uma suposta interferência anímica de Hercílio Maes.

Portanto, ao que parece, não é possível saber, ao certo, a quem pertence a autoria dos livros de Hercílio Maes: se ao médium, que teria passado para o papel, coincientemente ou não, opiniões suas advindas da leitura de obras teosóficas, ou se ao Espírito, que, de qualquer forma, teria feito o mesmo, atribuindo a si toda a autoria. Poderíamos, inclusive, chegar ao ponto de duvidar que realmente exista um espírito chamado Ramatis, já que não há qualquer traço indicativo ou registro histórico que aponte que o mesmo tenha alguma vez passado pela Terra.

Creio estar na hora de não perdermos mais tempo com suposições e teorias que em nada acrescentam ao Espiritismo. Pelo contrário, tais teorias meramente individuais e personalistas, advindas de certos espíritos e médiuns, que contrariam a Codificação Espírita e que não respeitam o princípio da concordância, só promovem a confusão e lançam o Espiritismo ao ridículo, tornando-o alvo fácil das investidas de seus inimigos ocultos e declarados.

Não fosse pelo esforço de alguns verdadeiros apóstolos do Espiritismo no passado a alertar para os perigos de se aceitar tudo que venha do mundo espiritual, com certeza teríamos um Movimento Espírita ainda mais afastado das suas bases e envolto em um emaranhado de distorções e desvios.

Trabalhemos, pois, para que o Espiritismo passe a ser melhor compreendido, começando de nós mesmos com a tarefa que temos de sermos divulgadores fiéis e responsáveis.

Fonte: Blog Ramatis, Sábio ou Pseudosábio