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quarta-feira, 7 de março de 2012

Universalismo e Movimentos Cismáticos


Por Artur Felipe Azevedo

É muito natural que as pessoas possuam diferentes maneiras de pensar, algo que ocorre, entre outras fatores, devido ao fato de cada um estar num patamar diferente de compreensão sobre determinada questão ou assunto.

No entanto, quando um ou mais indivíduos que dizem pertencer a uma determinada religião, ou que dizem apoiar certo conjunto de ideias de cunho filosófico (como a Doutrina Espírita, por exemplo), passam a discordar de alguns de seus princípios ou ensinos, forma-se aquilo que se convencionou chamar de "cisma". O cisma caracteriza-se por uma dissidência (ou cisão), em que geralmente seus partidários mantêm certos princípios originais e passam, concomitantemente, a adotar outros que lhes pareçam melhores ou mais convenientes. De maneira geral, passam a isolar-se do movimento originário, adotando práticas e divulgando conceitos próprios.

Allan Kardec, o sistematizador da Doutrina Espírita, deixou comentários importantes e esclarecedores acerca dos cismas que já surgiam e viriam a surgir no movimento espírita, tendo deixado evidenciado sua preocupação perante os mesmos. Leiamos:

"Uma questão que se apresenta em primeiro lugar no pensamento é a dos Cismas que poderão nascer no seio da Doutrina; o Espiritismo deles será preservado?

Não, seguramente, porque terá, no começo sobretudo, que lutar contra as ideias pessoais, sempre absolutas, tenazes, lentas em se harmonizarem com as ideias de outrem, e contra a ambição daqueles que querem ligar, mesmo assim, o seu nome a uma inovação qualquer; que criam novidades unicamente para poderem dizer que não pensam e não fazem como os outros; ou porque o seu amor-próprio sofre por não ocupar senão uma posição secundária." (em Constituição do Espiritismo - Dos Cismas, Obras Póstumas)(grifos nossos)

Vemos claramente que Allan Kardec se refere a novidades oriundas de ideias pessoais através das quais adeptos ambiciosos e, por que não dizer?, vaidosos e sequiosos por destaque, de maneira persistente procuram fazer prevalecer, exatamente como temos observado nos últimos tempos.

Cabe frizar que o Espiritismo se deparou, inicialmente, com simpatizantes de praticamente todas as religiões e filosofias. Uns, logo reconhecendo que a Doutrina Espírita possuía ideias, conceitos e princípios que lhe eram próprios, perceberam que não seria possível conciliar o Espiritismo com doutrinas do passado, fossem elas do Ocidente ou do Oriente, apesar dos alguns (poucos) pontos aparentemente em comum. Já outros, afetivamente ligados às suas antigas religiões, acharam que o Espiritismo nada teria a perder aceitando o que chamavam de "contribuições" dessas correntes do espiritualismo em geral, fossem elas oriundas de religiões dogmáticas (como o Catolicismo), ou de religiões orientais e/ou orientalistas.

Como já estudamos anteriormente em outros artigos, especialmente em "Os Cavalos de Troia do Espiritismo" e em "Os Efeitos do Ecletismo e da Heterodoxia no Movimento Espírita Francês", J.-B. Roustaing foi o primeiro a liderar um movimento cismático com suas ideias neo-docetistas muito semelhantes ao ideário católico. Tempos depois, com o desencarne do Codificador, logo se apossaram da Sociedade Parisiente de Estudos Espíritas, espiritualistas de toda ordem, especialmente teosofistas, ocultistas e esotéricos, com a complacência de Pierre Gaëtan Leymarie, pouco afeito a manter a mesma postura austera do Codificador.

Anos depois, no Brasil, os adeptos do rustenismo adiantaram-se e fundaram a Federação Espírita Brasileira (FEB), dominando amplamente o movimento espírita com uma avalanche de obras que, pouco a pouco, foram minando a divulgação e o estudo das obras da Codificação, considerada pelos mesmos superadas pela obra "Os Quatro Evangelhos" de J.-B. Roustaing, apelidada de "a Revelação da Revelação". Já nos idos de 1950, surgem os livros de Hercílio Maes, com ideias em oposição ao rustenismo e com a proposta de acrescentar ao Espiritismo práticas, ensinos e conceitos do rosacrucianismo e da teosofia, como pudemos claramente apontar em Artigo investigativo: Ramatis pode nem existir. A proposta? Uma só: estabelecer o que Hercílio apelidou de "universalismo", como se o Espiritismo, por si só, não fosse uma doutrina eminentemente universalista. 

Vejamos, uma a uma, as definições de "universalismo" contidas no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, e verificaremos que a Doutrina espírita, mais do que qualquer outro conjunto de ideias (doutrina), é essencialmente universalista:

Universalismo - substantivo masculino;

1 Rubrica: religião.
"doutrina ou crença que afirma que todos os homens estão destinados à salvação eterna, em virtude da bondade de Deus"

Comentário: É exatamente isso o que ensina o Espiritismo. Acresce ainda que alcançamos o mais alto estágio evolutivo através da reencarnação (ou vidas sucessivas), onde nos são dadas as oportunidades de aprendizado e aperfeiçoamento intelecto-moral.

2 caráter do que é universal ou universalista; universalidade

Comentário: Allan Kardec, servindo-se de médiuns de praticamente todos os pontos do planeta e desconhecidos uns dos outros, atestou que os ensinos espíritas são de origem universal. Tal fato pode ser verificado no artigo Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE), o eficaz método espírita de aferição da Verdade. Além disso, o Espiritismo assenta-se sob fatos naturais e não admite nada do que se afaste dessas mesmas leis, imutáveis como o próprio Criador. Utilizando-se do critério de concordância universal, o codificador pôde chegar a um eficaz meio de aferição das mensagens que lhe chegavam.

3 tendência de tornar universal uma religião, uma ideia, um sistema etc., fazendo com que se dirija ou abranja a totalidade e não um grupo particular

Comentário: O Espiritismo se destina a todos, porque todos estamos submetidos às mesmas leis universais. Não se dirije somente aos espíritas, e nem defende qualquer beneplácito divino ou superioridade dos espíritas sobre os demais.

4 opinião dos que só reconhecem como autoridade o assentimento universal

Comentário: Como já foi dito e demonstrado, Allan Kardec utilizou-se de comunicações oriundas dos quatro cantos do planeta, tendo sido o único a sistematizar uma doutrina desta maneira. Portante, é errôneo afirmar que o Espiritismo tenha um viés unicamente ocidental, ou que tenha privilegiado o pensamento predominante no Ocidente. 

Assim sendo, não há razão para fundar qualquer movimento pretensamente ligado ao Espiritismo que se auto-intitule "universalista", já que a própria Doutrina Espírita é, por si só, universalista. 

Em nossas pesquisas, pudemos observar que os idealizadores do movimento universalista, os contemporâneos Edgard Armond e Hercílio Maes, ambos ramatisistas e adeptos de correntes espiritualistas orientais, intentaram, conscientemente ou não, na verdade, promover um sincretismo dessas filosofias com o Espiritismo. O primeiro, escrevendo livros de próprio punho, tendo sido o livro "Exilados de Capela" o que mais sucesso alcançou; o segundo, atribuindo tais ideias a um espírito "oriental" chamado Ramatis. 

Edgard Armond foi inclusive chamado por Ramatis de "discípulo querido", sendo que boa parte do projeto de implantação da Aliança Espírita Evangélica, assim como os trabalhos mediúnicos em si e programação de estudos, foram inspirados nos ditados constantes das obras de Hercílio/Ramatis. Tais informações, para que fique claro que não estamos tirando de nossa cabeça, constam do livro "No Tempo do Comandante", de Edelson da Silva Jr., uma biografia de Armond.

Preocupado com a situação, em que eram propagados Brasil afora uma série de práticas e informações que colidiam com o Espiritismo e afrontavam o método kardeciano, Deolindo Amorim lançou a preciosíssima obra "O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas" (1958). Sem combater nenhuma corrente ou filosofia espiritualista, como a Teosofia, a Rosacruz, e as diversas seitas de origem asiática e africana, embora ressaltando eventuais coincidências de pontos filosóficos, Deolindo define, separa e identifica o que é o Espiritismo, mostrando a sua independência.

"(...) Todas as doutrinas organizadas têm o seu corpo de princípios, seus postulados, sua orientação. O Espiritualismo, em sua amplitude, é a matriz de muitas escolas, religiões e correntes filosóficas, mas a própria disciplina da inteligência exige que se dê a cada religião ou doutrina o seu lugar inconfundível: ESPIRITISMO é Espiritismo; TEOSOFIA é teosofia; ECLETISMO é ecletismo. É melhor discernir do que confundir, pois é discernindo que se põe ordem nas ideias para procurar a Verdade. 

"O Espiritismo é uma doutrina universalista, e tanto quanto as doutrinas que mais o sejam; mas é indispensável não levar a noção de universalismo ao arbítrio de acomodações inconvenientes senão prejudiciais à clareza do espírito crítico. Repetimos que o Espiritismo é universalista, os seus problemas têm o sentido da universalidade, mas também é oportuno acentuar que o Espiritismo não é uma forma de sincretismo doutrinário ou religioso, sem unidade nem consistência. Não, absolutamente! Já se falseou muito a ideia de universalismo. Ser universalista é ter visão global do conhecimento, é estimar a universalidade dos valores espirituais acima e além de todas as configurações geográficas ou históricas. Universalismo é uma convicção, é uma posição consciente em face da cultura humana e espiritual; não é, portanto, a junção pura e simples de crenças, doutrinas e práticas diversas." (cap. I - A Reencarnação e as Escolas Orientais)

A última linha do brilhante comentário de Deolindo Amorim é uma descrição fiel do que acontece em núcleos espíritas (ou pretensamente espíritas) que adotam esse comportamento sincrético dito "universalista". Adoção de práticas mediúnicas exóticas (apometria, passes padronizados, etc.), utilização de terapias alternativas muitas vezes inócuas (cromoterapia, radiestesia, cristalterapia, etc.), venda de objetos tidos como concentradores ou debeladores de "energia" (cristais, incensos, defumadores, etc.), uso de uniformes e roupas especiais (jalecos brancos, imitando profissionais da saúde), e por aí vai. 

Até mesmo o espírito André Luiz, entidade incensada por boa parte do contingente espírita, mostrou-se claramente contrário a essa postura agregacionista e oportunista:

"Muitos, companheiros, sob a alegação de que todas as religiões são boas e respeitáveis, julgam que as tarefas espíritas nada perdem por aceitar a enxertia da práticas estranhas à simplicidade que lhes vige na base, lisonjeando indebitamente situações e personalidades humanas, supostas capazes de beneficiar as construções doutrinárias do Espiritismo. 

No entanto, examinemos, sem parcialidade, a expressão contraditória de semelhante
atitude, analisando-a, na lógica da vida.

Criaturas de todas as plagas dos Universos são filhas do Criador e chegarão, um dia, à perfeição integral. Mas, no passo evolutivo em que nos achamos, não nos é lícito estar com todas, conquanto respeitemos a todas, de vez que inúmeras se encontram em experiências diametralmente opostas aos objetivos que nos propomos alcançar.

Não existem caminhos que não sejam viáveis e todos podem conduzir a determinado
ponto do mundo. Contudo, somente os viajores irresponsáveis escolherão perlustrar
atalhos perigosos e desfiladeiros obscuros, espinheiros e charcos, no Dédalo de aventuras marginais, ao longo da estrada justa.

Indiscriminadamente, os produtos expostos num mercado são úteis. Mas sob a desculpa do acatamento que se deve a todos, não nos cabe comer de tudo, sem a mínima noção de higiene e sem qualquer consideração para com a própria saúde.

Águas de qualquer procedência liquidam a sede. No entanto, com a desculpa de que todas são valiosas, não é aconselhável se beba qualquer uma, sem qualquer preocupação de limpeza, a menos que a pessoa esteja nas vascas da sofreguidão, ameaçada de morte pelo deserto.

Sabemos que a legislação humana obtida à custa de sofrimento estabelece a segregação dos irmãos delinquentes para o trabalho reeducativo; sustenta a polícia rodoviária para garantir a ordem da passagem correta; mantém fiscalização adequada para o devido asseio nos recursos destinados à alimentação pública e cria agentes de filtragem para que as fontes não se façam veículos de endemias e outras calamidades que arrasariam populações indefesas.

Reflitamos nisso e compreenderemos que assegurar a simplicidade dos princípios espíritas, nas casas doutrinárias, para que as sua atividades atinjam a meta da libertação espiritual da Humanidade não é fanatismo e nem rigorismo de espécie alguma, porquanto, agir de outro modo seria o mesmo que devolver um mapa luminoso ao labirinto das sombras, após séculos de esforço e sacrifício para obtê-lo, como se também, a pretexto de fraternidade, fôssemos obrigados a desertar do lar para residir nas penitenciárias; a deixar o caminho certo para seguir pelo cipoal; a largar o prato saudável para ingerir a refeição deteriorada e desprezar a água potável por líquidos de salubridade suspeita." ("Práticas Estranhas", livro "Opinião Espírita" (1963) - F.C. Xavier)

Assim sendo, o alerta está dado. 

Infelizmente, os interessados em tornar o movimento espírita um celeiro de fantasias muito se aborrecem com esses comentários, mas é preciso que não nos deixemos enganar. Há muitos interesses envolvidos nisso, tanto materiais, quanto espirituais. De um lado, espíritos pseudossábios, autênticos falsos profetas da erraticidade, charlatões da espiritualidade, que revestem suas mensagens das palavras de amor, caridade, etc. apenas com o intuito de melhor enganarem acerca de suas luzes. Ditam o que lhes vêm à cabeça com o intuito de promover a confusão. Do outro, indivíduos encarnados que pouco se aprofundaram no estudo sério da Doutrina Espírita, desejosos por terem sobre si os holofotes e o dinheiro que esse grande mercado da literatura "trash" pseudo-espírita tem proporcionado.

Cabe aos dirigentes espíritas discernir que "tolerar" não significa o mesmo que "transigir". Toleramos a todos, amamos a todos, mas a título de amar não nos é lícito conspurcar aquilo que nos é mais caro: o Espiritismo e sua missão de libertação das consciências das faixas da ignorância, causa primária de tudo aquilo que causa sofrimento e impede as almas de voarem mais celeremente rumo à perfeição.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Insistindo nos mesmos Erros

Por Artur Felipe de Azevedo

Como já pudemos tratar em dezenas de estudos presentes em dois livros, “Ramatis, Sábio ou Pseudo-Sábio?” (1997) e “Espiritismo x Ramatisismo”(2010), o primeiro médium a afirmar receber comunicações advindas de um espírito chamado “Ramatis” foi Hercílio Maes nos anos de 1950, pegando carona em teses presentes em obras teosóficas e apresentando-as como novidades que deveriam os espíritas aceitar sem pestanejar, conforme expusemos em "Artigo Investigativo:Ramatis pode nem existir". Afinal, repetia-se ferozmente, já naquela época: “Kardec está ultrapassado”, “a Doutrina é progressista”, e algumas outras frases "chavões" sem qualquer consistência.

Depois do desencarne do médium paranaense, alguns outros médiuns, embalados pelo sucesso de vendas dos livros de Maes e, principalmente, pela aceitação do ramatisismo por parte de um considerável contingente de simpatizantes, em sua maioria constituída de neófitos no estudo da Doutrina Espírita, passaram a atribuir a Ramatis a autoria de ditados que, em muitos pontos importantes, contradisseram algumas das suas principais teses, principalmente aquelas já tidas como ultrapassadas e desmentidas pelos fatos e pelas Ciências, tais como as retumbantes previsões de catástrofes globais para o fim do século XX e as descrições equivocadas acerca da topografia do planeta Marte e do cotidiano de seus supostos habitantes. De modo a amenizar tais discrepâncias e escaparem de críticas e suspeições, alguns desses médiuns atribuíram tais inconsistências a uma suposta interferência anímica de Hercílio Maes.

Não obstante a avalanche de equívocos, contraditados pela Doutrina Espírita e pela Ciência, há quem insista ainda, nos dias atuais, em reviver e reeditar tais teorias sob uma fachada nova, intentando encontrar nas fileiras espíritas apoio e suporte à divulgação das mesmas.

O primeiro esforço articulado pelas lideranças do movimento ramatisista de modo atingir um maior número de leitores e angariar mais simpatizantes foi o de reeditar as obras de Ramatis através de uma editora com fins puramente comerciais, retirando da pequena "Livraria Freitas Bastos", do Rio de Janeiro, os direitos de exclusividade sob as obras de Hercílio Maes. A partir daí, coincidentemente ou não, surgiram de várias partes do Brasil novos autores apresentando-se como médiuns de Ramatis, cada qual apresentando a citada entidade espiritual com uma roupagem diferente e ainda mais exótica de modo a agradar aos mais variados gostos e tendências religiosas, tudo sob a fachada de um certo “universalismo” – na verdade, uma inglória tentativa de sincretizar o Espiritismo e, concomitantemente, facilitar a obtenção dos elevados lucros oriundos da vendagem de livros que de espíritas nada têm, apesar de assim se intitularem em suas respectivas fichas catalográficas.


Insistindo nos velhos argumentos

Em nosso artigo “Universalismo Crístico ou Misticismo Anti-Espirítico", alertamos para o exotismo das obras do médium Roger Bottini, do Rio Grande do Sul. Ao lermos e analisarmos um dos seus livros, intitulado "A Nova Era" (Editora do Conhecimento), deparamo-nos com textos atribuídos ao espírito Hermes, que se diz pertencente à falange de Ramatis. É o que parece ser, pois as teses anti-doutrinárias e as cincadas científicas estão lá, presentes. Citemos algumas delas:

1- Afirma o espírito Hermes: "A extinta Atlântida possuía conhecimentos superiores aos da atual humanidade"

Nosso comentário: Até hoje não há nenhuma prova concreta da existência dessa mitológica civilização. Caso tenha realmente existido, não faz sentido algum acreditar que ela tenha alcançado, 9.600 anos antes de Cristo, uma evolução intelecto-moral superior a de hoje. Caso isso fosse verdade, poderíamos perguntar onde estariam os aviões supersônicos, as naves espaciais, os computadores atlantes e o sem número de aparatos tecnológicos que temos hoje, advindos da evolução gradativa da inteligência humana ao longo dos séculos.

2- Em nota de rodapé, consta a antiga previsão de Ramatis sobre um suposto Presidente da República que se elegeria passando por cima de partidos e instituições e que "salvaria" o Brasil. Já tratamos deste assunto no artigo "Ramatis e o Presidente do Brasil". Primeiramente, segundo a nossa Carta Magna, a Constituição, só podem concorrer e eleger-se para cargos do Poder Executivo pessoas filiadas a partidos políticos. Em segundo, Ramatis "profetizou" a ascensão dessa figura ao poder em 1970, sendo que o espírito afirmou, à época, que o mesmo já teria percorrido mais da metade do caminho até a Presidência. No entanto, mais de 40 anos se passaram, e nada aconteceu.

3- Utilizando-se de um expediente surrado e vazio, o espírito Hermes ousadamente afirma que os "universalistas" são vítimas de perseguição e que aqueles que não concordam com suas propostas são obsidiados governados por "espíritos da Trevas" ou "magos negros": "Outra forma de atuação é fascinando os líderes religiosos para crerem-se os únicos detentores da verdade e, assim, lutarem contra seus irmãos no campo das ideias. Vemos claramente essa posição entre alguns encarnados que respondem pela própria Doutrina Espírita. Eles trabalham ferrenhamente contra o processo de união religiosa até mesmo com relação aos espíritas universalistas, seus irmãos de crença.Esses pobres fascinados rechaçam livros espíritas que contestam as suas posições dogmáticas, acreditando serem os donos exclusivos da verdade. Os espíritos das Trevas então realizam um trabalho de indução mental para que eles acreditem que seus irmãos, que pensam de forma mais abrangente e menos sectária, estão fascinados ou envolvidos por entidades maléficas, em uma total inversão do que realmente ocorre. O objetivo dos magos negros é sempre prejudicar os trabalhadores da Espiritualidade, os quais consideram seus "inimigos mortais". Logo, atividades que visem a prejudicar o trabalho de união das crenças religiosas, de conscientização para o período de transição planetária e do trabalho de esclare¬cimento para a Nova Era, são a meta principal desses irmãos ainda dominados pelas forças do mal".

Realmente já tratamos do tema no artigo "Nos Descaminhos da Fascinação". O leitor poderá ver quais são alguns dos sintomas desse tipo de obsessão, e certamente notará que indivíduos que creem na existência de crianças índigo, planeta chupão, apometria, poder curador de cristais e objetos materiais, profecias mirabolantes e aterrorizantes, intraterrestres, ETs que implantam chips em seres humanos, terapias exóticas e milagreiras, entre outras teorias esdrúxulas e sem qualquer respaldo, realmente só podem abrir brechas a espíritos galhofeiros e mistificadores que se esforçam em afastar o indivíduo da realidade, alienando-o e expondo-o a uma posição ridícula, levando de roldão a própria Doutrina Espírita perante a opinião pública.

Acredito que, ao invés de alegarem perseguição gratuita, deveriam os "universalistas" aceitar o debate e análise dessas teorias, pois só quem realmente considera-se "dono da verdade" se fecha ao debate e enfeza-se quando questionado. Ademais, jamais um espírito superior agiria de tal forma, pois, segundo nos ensina a Doutrina Espírita, "Os maus Espíritos temem o exame; eles dizem: 'Aceitai nossas palavras e não as julgueis.' Se tivessem a consciência de estar com a verdade, não temeriam a luz. O hábito de escrutar as menores palavras dos Espíritos, de pesar-lhes o valor, distancia forçosamente os Espíritos mal intencionados, que não vêm, então, perder inutilmente seu tempo, uma vez que se rejeite tudo o que é mau ou de origem suspeita. Mas quando se aceita cegamente tudo o que dizem, que se coloca, por assim dizer, de joelhos diante de sua pretensa sabedoria, fazem o que fariam os homens - disso abusam." (Allan Kardec, Escolhos dos Médiuns, Revista Espírita, fevereiro de 1859)

4- Insistindo na divulgação de mensagens atemorizantes sobre hecatombes causadas pela suposta aproximação de um astro intruso, o espírito Hermes corrige a data do "fim dos tempos". Enquanto Ramatis, nos anos de 1950, asseverou que o mundo não passaria do ano 2000 sem que dois terços da humanidade perecesse e a Terra fosse destruída por uma série de eventos catastróficos, o espírito Hermes, através de Roger Bottini, afirmou em 2002: "Esses períodos de transição abrangem em torno de cem anos do calendário terreno, sendo que o atual iniciou-se na segunda metade do século passado e deverá ser concluído até o final deste século". Vemos, daí, que como as previsões não se cumpriram, tratou-se logo de mudar as datas, empurrando-as para frente - bem típico das seitas apocalípticas.

5- Não satisfeito em demonizar os espíritas que não concordam com as ideias excêntricas que divulga, o espírito "universalista" Hermes não perdoa sequer uma grande personagem: Maria Madalena. Segundo ele, a discípula de Jesus, também conhecida como Maria de Magdala, teria sido usada pelo que os "universalistas" chamam de "Astral Inferior" e por "magos negros" - termos não aceitos e não constantes da Doutrina Espírita - para tentar seduzir e desvirtuar Jesus, com a intenção de "prejudicar os sagrados projetos do Alto".

Essa teoria não encontra respaldo nem nos textos bíblicos, nem em estudos sobre o Jesus histórico. Consta dos Evangelhos que Maria Madalena acreditava que Jesus Cristo realmente era o Messias. (Lucas 8:2; 11:26; Marcos 16:9). Madalena esteve presente na crucificação e no funeral de Cristo, juntamente com Maria de Nazaré e outras mulheres. (Mateus 27:56; Marcos 15:40; Lucas 23:49; João 19.25) (Mateus 27:61; Marcos 15.47; Lucas 23:55). No sábado após a crucificação, teria saído do Calvário rumo a Jerusalém com outros crentes para poder comprar certos perfumes, a fim de preparar o corpo de Cristo da forma como era de costume funerário. Teria permanecido na cidade durante todo o sábado, e no dia seguinte, de manhã muito cedo, "quando ainda estava escuro", foi ao sepulcro, achou-o vazio, e recebeu de um anjo a notícia de que Cristo havia ressuscitado e foi-lhe dito que devia informar tal fato aos apóstolos. (Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-5,10,11; Lucas 24:1-10; João 20:1,2; compare com João 20:11-18). Em Lucas 8:2, faz-se menção, pela primeira vez, de "Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios". No entanto, não há qualquer fundamento bíblico para considerá-la como a prostituta arrependida dos pecados que pediu perdão a Cristo; também não há nenhuma menção de que tenha sido prostituta.Este episódio é frequentemente identificado com o relato de Lucas 7:36-50, ainda que não seja referido o nome da mulher em causa. Há, inclusive, "O Evangelho de Maria Madalena", que traz uma nova interpretação de quem teria sido Maria de Magdala. Segundo este evangelho, ela teria sido uma discípula de suma importância à qual Jesus teria confidenciado informações que não teria passado aos outros discípulos, sendo por isso questionada por Pedro e André. Ela surge ali como confidente de Jesus, alguém, portanto, mais próximo de Jesus do que os demais. Em trechos do citado evangelho, consta o que é um claro desmentido à tese dos "universalistas": "O apego à matéria gera uma paixão contra a natureza. É então que nasce a perturbação em todo o corpo; é por isso que eu vos digo: Estejais em harmonia… Se sois desregrados, inspirai-vos em representações de vossa verdadeira natureza. Que aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça. Após ter dito aquilo, o Bem-aventurado saudou-os a todos dizendo: Paz a vós – que minha Paz seja gerada e se complete em vós! Velai para que ninguém vos engane dizendo: Ei-lo aqui. Ei-lo lá. Porque é em vosso interior que está o Filho do Homem; ide a Ele: aqueles que o procuram o encontram. Em marcha! Anunciai o Evangelho do Reino."

"Pedro disse: "O Salvador realmente falou com uma mulher sem nosso conhecimento? Devemos nos voltar e escutar essa mulher? Ele a preferiu a nós?". E Levi respondeu: "Pedro, você sempre foi precipitado. Agora te vejo lutando contra a mulher como a um adversário. Se o Salvador a tornou digna, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece muito bem. Foi por isso a amou mais que ama a nós"."

6- Ainda incorrendo nos caminhos tortuosos das pseudorrevelações na tentativa de passar uma pretensa superioridade espiritual, o espírito Hermes, discípulo de Ramatis, afirma que "a velocidade da luz é entendida pelos cientistas humanos como o meio mais rápido de se viajar no espaço sideral. E eles estão corretos, dentro dos limites físicos". Em setembro de 2011, no entanto, foi descoberta a existência de partículas sub-atômicas (neutrinos) mais rápidas do que a luz.

7- Quando são citados trechos dos livros da Codificação Espírita, o desconhecimento parece ser ainda maior. O espírito Hermes, no capítulo XII, afirma que o espírito é criado "puro e ignorante", e não "simples e ignorante", o que é totalmente diferente. Mais adiante, diz que foi Kardec o criador da definição de "perispírito", enquanto que, na verdade, foram os Espíritos que a transmitiram a Kardec no item 93 de "O Livro dos Espíritos". Aliás, esse é um erro comum por parte dos "universalistas", que para reforçarem a tese de que o Espiritismo estaria ultrapassado, geralmente imputam ao Codificador a autoria dos ensinamentos, e não aos Espíritos Superiores que, de fato, responderam aos questionamentos elaborados pelo professor francês.

Prosseguiremos, em novos artigos, a analisar as proposições "universalistas" à luz do Espiritismo. Aguardem.

Fonte: Blog Espiritismo x Ramatisismo