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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Herculano Pires e Ramatis


Do blog "Pureza Doutrinária Espírita"

Postagem de Artur Felipe Azevedo

Começaremos com J. Herculano Pires(1914-1979), jornalista, filósofo, poeta, tradutor e pensador espírita paulista.

É considerado o maior pensador espírita do Brasil e um dos maiores intérpretes do pensamento kardeciano.

Chamado de “O Guarda Noturno do Espiritismo”, foi um dos grandes defensores do caráter cultural e filosófico do Espiritismo, tendo travado memoráveis polêmicas com detratores da Doutrina Espírita.

Fundador da União Social Espírita (atual USE), entusiasta da educação espírita, Herculano escreveu mais de 80 obras sobre inúmeros temas. Foi presidente do Sindicato Estadual dos Jornalistas de São Paulo.

Obras: O Reino; Espiritismo Dialético; O Mistério do Ser Ante a Dor e a Morte; O Espírito e o Tempo; Revisão do Cristianismo; Agonia das Religiões; O Centro Espírita; Curso Dinâmico de Espiritismo; Mediunidade; Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas; Pesquisa Sobre o Amor.

Vamos, agora, aos seus comentários críticos sobre Ramatis e quejandos:

“Faz-se, em geral, muita confusão a propósito de Espiritismo. Há confusões intencionais, promovidas por elementos interessados em combater a propagação inevitável da Doutrina, e há confusões inocentes, feitas por pessoas de reduzido conhecimento doutrinário. As primeiras, as intencionais, não seriam funestas, porque facilmente identificáveis quanto ao seu objetivo, se não houvesse confusões inocentes, que preparam o terreno para aquelas explorações.

Os Centros Espíritas têm um grande papel a desempenhar na luta pelo esclarecimento do povo, devendo promover constantes programas de combate a todas as formas de confusão doutrinária. Por isso mesmo, devem ser dirigidos por pessoas que conheçam a Doutrina, que a estudem incessantemente e que não se deixem levar por sugestões estranhas. Quando os dirigentes de Centro não se sentirem bastante informados dos princípios doutrinários, devem revestir-se, pelo menos, da humildade suficiente para recorrerem aos conselhos de pessoas mais esclarecidas e à leitura de textos orientadores.

Há um pequeno livro de Kardec que muitos dirigentes desprezam, limitando-se a aconselhar a sua leitura aos leigos e principiantes: exatamente “O Principiante Espírita”. Esse livrinho é precioso orientador doutrinário, que os dirigentes devem ler sempre. Outro pequeno volume aconselhável é “O Que É o Espiritismo”, também de Kardec. Principalmente agora, nesta época de confusões que estamos atravessando, os dirigentes de Centros, Grupos Familiares e demais organizações doutrinárias, deviam ter esses livros como leitura diária, obrigatória.

Além das confusões habituais entre Umbanda e Espiritismo, Esoterismo, Teosofia, Ocultismo e Espiritismo, há outras formas de confusão que vêm sendo amplamente espalhadas no meio espírita. São as confusões de origem mediúnica, oriundas de comunicações de espíritos que se apresentam como grandes instrutores, dando sempre respostas e informações sobre todas as questões que lhes forem propostas. Um exemplo marcante é o de Ramatis, cujas mensagens vêm sendo fartamente distribuídas.

Qualquer estudioso da Doutrina percebe logo que se trata de um espírito pseudo-sábio, segundo a “escala espírita” de Kardec. Não obstante, suas mensagens estão assumindo o papel de sucedâneos das obras doutrinárias, levando até mesmo oradores espíritas a fazerem afirmações ridículas em suas palestras, com evidente prejuízo para o bom conceito do movimento espírita.

Não é de hoje que existem mensagens dessa espécie. Desde todos os tempos, espíritos mistificadores, os falsos profetas da erraticidade, como dizia Kardec, e espíritos pseudo-sábios, que se julgam grandes missionários, trabalham, consciente ou inconscientemente, na ingrata tarefa de ridicularizar o Espiritismo. Mas a responsabilidade dos que aceitam e divulgam essas mensagens não é menor do que a dos espíritos que as transmitem.

Por isso mesmo, é necessário que os confrades esclarecidos não cruzem os braços diante dessas ondas de perturbação, procurando abrir os olhos dos que facilmente se deixam levar por elas.

O Espiritismo é uma doutrina de bom senso, de equilíbrio, de esclarecimento positivo dos problemas espirituais, e não de hipóteses sem base ou de suposições imaginosas. As linhas seguras da Doutrina estão na Codificação Kardeciana.

Não devemos nos esquecer de que a Codificação representa o cumprimento da promessa evangélica do Consolador, que veio na hora precisa.

Deixar de lado a Codificação, para aceitar novidades confusas, é simples temeridade. Tanto mais quando essas novidades, como no caso de Ramatis, são mais velhas do que a própria Codificação.”

Herculano e as bases para um pleno entendimento doutrinário

“O estudo e os debates devem cingir-se às obras da Codificação. Substituir as obras fundamentais por outras, psicografadas ou não, é um inconveniente que se deve evitar. Seria o mesmo que, num curso de especialização em Pedagogia, passar-se a ler e discutir assuntos de Mecânica, a pretexto de variar os temas. O aprendizado doutrinário requer unidade e seqüência, para que se possa alcançar uma visão global da Doutrina. Todas as obras de Kardec devem constar desses trabalhos, desde os livros iniciáticos, passando pela Codificação propriamente dita, até os volumes da Revista Espírita.

Precisamos nos convencer desta realidade que nem todos alcançam: Espiritismo é Kardec. Porque foi ele o estruturador da Doutrina, permanentemente assistido pelo Espírito da Verdade. Todos os demais livros espíritas, mediúnicos ou não, são subsidiários. Estudar, por exemplo uma obra de Emmanuel ou André Luiz sem relacioná-la com as obras de Kardec, a pretexto de que esses autores espirituais superam o Mestre (cujas obras ainda não conhecemos suficientemente) é demostrar falta de compreensão do sentido e da natureza da Doutrina. Esses e outros autores respeitáveis dão sua contribuição para a nossa maior compreensão de Kardec, não podem substituí-lo. É bom lembrar a regra do “consenso Universal”, segundo o qual nenhum espírito ou criatura humana dispõem, sozinhos, por si mesmos, de recursos e conhecimentos para nos fazerem revelações pessoais. Esse tipo de revelações individuais pertence ao passado, aos tempos anteriores ao advento da Doutrina. Um novo ensinamento, a revelação de uma “verdade nova” depende das exigência doutrinária de:

a) Concordância universal de manifestações a respeito;

b) Concordância da questão com os princípios básicos da Doutrina:

c) Concordância com os princípios culturais do estágio de conhecimento atingido pelo nosso mundo;

d) Concordância com os princípios racionais, lógicos e logísticos do nosso tempo.

Fora desse quadro de concordâncias necessárias, que constituem o “consenso Universal”, nada pode ser aceito como válido. Opiniões pessoais, sejam de sábios terrenos ou do mundo espiritual, nada valem para a Doutrina. O mesmo ocorre nas Ciências e em todos os ramos do Conhecimento na Terra. Porque o Conhecimento é uma estrutura orgânica, derivada da estrutura exterior da realidade e nunca sujeita a caprichos individuais.

Por isso é temeridade aceitar-se e propagar-se princípios deste espírito ou daquele homem como se fossem elementos doutrinários. Quem se arrisca a isso revela falta de senso e falta absoluta de critério lógico, além de falta de convicção doutrinária. O Espiritismo não é uma doutrina fechada ou estática, mas aberta ao futuro. Não obstante, essa abertura está necessariamente condicionada as regras de equilíbrio e de ordem que sustentam a verdade e a eficácia da sua estrutura doutrinária.

Como a Química, a Física, a Biologia e as demais Ciências, o Espiritismo não é imutável, está sujeito às mudanças que devem ocorrer com o avanço do conhecimento espírita. Mas como em todas as Ciências, esse avanço está naturalmente subordinado às exigências do critério racional, da comprovação objetiva por métodos científicos e do respeito ao que podemos chamar de “natureza da doutrina”.

Introduzir na doutrina práticas provenientes de correntes espiritualistas anteriores a ela seria o mesmo que introduzir na Química as superadas práticas da Alquimia. As Ciências são organismos conceptuais da cultura humana, caracterizados pela sua estrutura própria e pelas leis naturais do seu crescimento, como ocorre com os organismo biológicos.

Todos nós ainda trazemos a “herança empírica” do passado anterior ao desenvolvimento da cultura científica, e somos às vezes tentados a realizar façanhas cientificas para as quais não estamos aptos. E como todos somos naturalmente vaidosos, facilmente nos entusiasmamos com a suposta possibilidade de nos tornarmos renovadores doutrinários. Nascem daí as mistificações como a de Roustaing, tristemente ridícula, a que muitas pessoas se apegam emocionalmente, o que as torna fanáticas e incapazes de perceber os enormes absurdos nelas contidos. Até mesmo pessoas cultas, respeitáveis, deixam-se levar por essas mistificações, por falta de humildade intelectual e de critérios científicos. Espíritos opiniáticos ou sectários de religiões obscurantistas aproveitam-se disso para introduzir essas mistificações em organizações doutrinárias prestigiosas, com a finalidade de ridicularizar o Espiritismo e afastar dele as pessoas sensatas que sabem subordinar a emoção à razão e que muito poderiam contribuir para o verdadeiro desenvolvimento da doutrina.

Por tudo isso, as manifestações mediúnicas em sessões doutrinárias devem ser recebidas sempre com espírito crítico. Aceitá-las como verdades reveladas é abrir as portas à mistificação, à destruição da própria finalidade dessas sessões. Também por isso, o dirigente dessas sessões deve ser uma pessoa de espírito arejado, racional, objetivo, capaz de conduzir os trabalhos com segurança. Kardec é sempre a pedra de toque para verificação das supostas revelações que ocorrem. O pensamento espírita é sempre racional, avesso ao misticismo. Os espíritos comunicantes, em geral, são de nível cultural mais ou menos semelhantes ao das pessoas presentes. Não devem ser encarados como seres sobrenaturais pois não passam de criaturas humanas desencarnadas, na maioria apegadas aos seus preconceitos terrenos, a morte não promove ninguém a sábio nem confere aos espíritos autoridade alguma em matéria de doutrina. Por outro lado, os espíritos realmente superiores só se manifestam dentro das condições culturais do grupo, não tendo nenhum interesse em destacar-se como geniais antecipadores de descobertas cientificas que cabe aos encarnados e não a eles fazerem. A idéia do sobrenatural, nas relações mediúnicas, é a fonte principal das mistificações.

Homens e espíritos vaidosos se conjugam nas tentativas pretensiosas de superação doutrinária. Se não temos ainda, no mundo inteiro, instituições espíritas à altura da doutrina, isso se deve principalmente à vaidade e à invigilância dos homens e espíritos que se julgam mais do que são. Nesta hora de muitas novidades, é bom verificarmos que as maiores delas já foram antecipadas pelo Espiritismo. É ele, o Espiritismo, a maior novidade dos novos tempos. Se tomarmos consciência disso, evitaremos os absurdos que hoje infestam o meio doutrinário e facilitaremos o desenvolvimento real da doutrina em bases racionais.”

domingo, 22 de abril de 2012

O Suposto Kardec de Denis

Por Sérgio Aleixo

A despeito das naturais dificuldades no ato de um espírito comunicar-se, mais ainda pela possessão do corpo de um médium, nunca poderá isso justificar que o mais exótico misticismo venha a ser elevado ao patamar de Doutrina Espírita. Infelizmente, tal foi o erro em que Léon Denis incidiu mais de uma vez. A tendência mística de que era portador jamais foi suficientemente superada por sua formação kardeciana. A isso é que se deve, em suas obras, a presença de ensinos heterodoxos ao Espiritismo, como a doutrina das almas irmãs, ou gêmeas; da evolução do espírito sempre num único sexo, salvo em trocas expiatórias; os informes duvidosos de que o Cristo fora Crisna e Napoleão, César, entre outras exorbitâncias aos escritos kardecianos (Cf. O Problema do Ser e do Destino, XIII e XVII).

Há na Revista Espírita (dez/1859), aliás, uma mensagem de Júlio César esclarecendo que, por várias existências miseráveis e obscuras, teve de expiar suas faltas, “tendo vivido pela última vez na Terra sob o nome de Luís IX”. Trata-se, portanto, de São Luís, presidente espiritual da Sociedade fundada por Kardec na Cidade-Luz, em 1858. O espírito Júlio César, a título de exemplo de abuso dos sucessos obtidos na vida terrena, refere-se a si mesmo e àquele que chamou “César moderno”, numa alusão evidente a Bonaparte, cujo Império ruíra não havia muito. Logo, Napoleão e César não eram o mesmo espírito em vidas diferentes. Em nome de que, então, Denis divergiu da publicação kardeciana?

Não surpreende, portanto, que haja publicado como autênticas algumas mensagens muito evidentemente apócrifas, atribuídas ao espírito de Kardec, em O gênio céltico e o mundo invisível, cap. XIII; obra, por sinal, eivada de um ufanismo pátrio nada simpático à filosofia universalista do Espiritismo. O período de decadência então vivido pela França (1926) pode explicá-lo, mas de modo nenhum justificá-lo à luz da Doutrina.

Esse Kardec do grupo de estudos de Denis, em Tours, era dono de um estilo marcadamente ocultista e, por isso mesmo, nada espírita. Assaz delumbrado pelo “misticismo”, pela “sensibilidade” e “crença mística”, reportava-se a “raios fluídicos” de várias cores, que seriam responsáveis pelo progresso dos povos e capazes de explicar o apego de alguns deles ao solo do país, por força de supostas “centelhas vitais” abrigadas no seu “subconsciente”. E assim, as raças seriam “nutridas” por tais “núcleos vibratórios”, que impregnariam até a “matéria carnal”, diferenciando-as umas das outras.

O exotismo desse Kardec atinge culminâncias na estranha concepção de que existiriam “condensadores e refletores dos fluidos destinados a fazer vibrar os cérebros e os corações dos povos”. Sob o foco de tais “espelhos”, três regiões foram especialmente “iluminadas”: Índia, Palestina e Europa. Assim, “Buda, Cristo e os espíritos dos druidas representam as forças superiores ligadas ao foco divino”, mas um “quarto ciclo” virá: o da aceitação da realidade da vida superior. Por outro lado, diz que “aquilo que o Cristo recebia diretamente dos seres superiores”, portanto, não mais do foco divino em si, “o druida obtinha por meio de correntes transmissoras do pensamento dos desencarnados”.

Oras! Kardec admitiu em A Gênese, XV, 2, que qualquer influxo estranho só de Deus poderia vir ao Mestre Jesus; assim como notabilizou o esquema profético das três grandes revelações da lei divina: moisaica, cristã e espírita. Será que Kardec foi ao grupo de Denis modificar a Doutrina? Esse Kardec insuportavelmente bairrista chega a dizer que “se impregnou dessa mística trazida de modo palpitante do espaço”, e que “a ideia céltica, essência emanada do foco divino, representa o espírito da pureza da raça, e deve iluminar pelos séculos a alma nacional”, isto é, da França.

Patente que a tática dos impostores não se altera muito: inflar o ego dos que querem enganar. O tal Kardec já se apresentou dizendo aos integrantes do grupo de Denis que se sentia bem adaptado, porque tinham “radiações sensivelmente idênticas” às do perispírito dele. Todos eram ali, portanto, verdadeiros kardeques reencarnados.

Nada supera, contudo, suas recomendações para a revelação dos mistérios da criação. Aconselha o grupo de Tours a reunir-se a portas fechadas, a anotar suas instruções ao clarão de lâmpada abrigada por quebra-luz e, antes da reunião, a banhar de água fresca, embebida num pano, a testa do médium, a fim de que a camada líquida, magnetizada pelo espírito, se torne um “fluido amortecedor” das vibrações recebidas do espaço pela entidade, nesse ingente esforço revelador... Promete, então, transferir a Denis sua personalidade fluídica, para que obtenha a chave do problema misterioso, embora explique depois ser isto impossível na Terra, mesmo por via mediúnica...

Tudo muito deprimente. Como acudiu ao grande Léon Denis pudessem esses modos intragáveis pertencer ao Espírito Superior de Denizard Rivail? Sinal evidente de que o Espiritismo só pode de fato ser encontrado na Obra de Allan Kardec.

Fonte:
Ensaios da Hora Extrema - http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com.br/2011_10_09_archive.html

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Primeiros Passos de um Ingênuo


Por Nazareno Tourinho

A obra de J. B. Roustaing, que unicamente a Federação Espírita Brasileira continua editando, começa para nós com um breve escrito do tradutor Guillon Ribeiro na qual é situada na categoria de "obra incomparável, única até hoje no mundo".

Assevera o referido confrade no arroubo do seu entusiasmo:
"Nela se encerra toda uma revelação de verdades divinas que ainda em nenhuma outra fora dado ao homem entrever."

Fica, assim, os espíritas cientes de que os livros de Allan Kardec não chegam aos pés das brochuras de Jean Baptiste Roustaing – nelas estão as verdades divinas que os tomos do emérito codificador do Espiritismo não conseguem entrever...

O conceituado tradutor faz referência ainda a “"certas inovações" a que se balançou quando verteu para a nossa língua o texto original, como, por exemplo, a iniciativa de separá-lo em quatro volumes e não em três, conforme preferiu o autor; julgou-se no direito de agir de tal modo por ser “"de melhor aviso", esquecendo de informar quem deu o aviso...Mas deixemos de lado este pormenor ético, em homenagem à biografia do ilustre tradutor.

Passemos para o Prefácio contendo a assinatura de J. B. Roustaing.

Ele principia dando a si mesmo um atestado de ingênuo ou mentiroso. Esta observação é tão grave que vamos comprová-la através de suas próprias palavras. Preste o leitor muita atenção, sobretudo para as datas.

Na página 57 escreve:
“No mês de janeiro de 1858 fui acometido de uma enfermidade tão prolongada quão dolorosa...".

Na p.58 prossegue o ilustre advogado, que se tornou proeminente na Corte Imperial de Bordeaux:

“Em janeiro de 1861, completamente restabelecido, cuidei de voltar ao exercício dessa amada profissão para com a qual era devedor de uma posição independente, adquirida mediante trinta anos de trabalho no gabinete e nos tribunais. Mas, 'o homem propõe e Deus dispõe', diz a sabedoria das nações.

Um distinto clínico daquela cidade me falou da possibilidade de comunicações do mundo corpóreo com o mundo espiritual, da doutrina e da ciência espíritas, como fruto dessa comunicação, objetivando uma revelação geral. Minha primeira impressão foi a de incredulidade devida à ignorância...".

Na p.59 confessa:
“Li O Livro dos Espíritos."

Na p.60 acrescenta:
“Li em seguida O Livro dos Médiuns...
Depois desse estudo e desse exame, consultei a História, desde a origem das eras conhecidas até nossos dias...".

Na p.61 aduz:
“Compulsei os livros da filosofia profana e religiosa, antiga e recente, os prosadores e os poetas que refletem as crenças, bem como os costumes dos tempos."

Na p.64 arremata:
“Na véspera do dia 24 de junho de 1861, eu rogara a Deus, no sigilo de uma prece fervorosa, que permitisse ao Espírito de João Batista manifestar-se por um médium, que se achava então em minha companhia e com o qual diariamente me consagrava a trabalhos assíduos. Pedira também a graça da manifestação do Espírito de meu pai e do meu guia protetor."

Aí está:
Em janeiro de 1861 Roustaing era analfabeto em matéria de Espiritismo, nem sequer ouvira falar de comunicação mediúnica, e seis meses depois, em junho do mesmo ano, 1861, já se punha diariamente em “trabalhos assíduos” buscando mensagens do Além, e não apenas do seu genitor, e do seu guia, mas também de um grande vulto evangélico, nada menos do que o precursor do Cristo...Só podia acabar sendo vítima de mistificação!

Abstraindo-se o aspecto espiritual e doutrinário do problema, pergunta-se:

- Como foi possível a Roustaing, no curto período de seis meses, em que andou ocupado analisando O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, ter tido tempo para consultar a História, desde a origem das eras conhecidas até os nossos dias (os dias dele, é claro), e afora esse empreendimento fenomenal, como lhe foi possível ainda ter tido tempo para compulsar os livros da filosofia profana e religiosa, antiga e recente, não dispensando nem os prosadores e os poetas que refletem as crenças, bem como os costumes dos tempos???

Responda a essa pergunta, sem rodeios, quem pretender nos acusar de ser injusto levantando suspeita sobre a competência ou a honestidade intelectual do indigitado autor.

Antes de irmos adiante tem mais um detalhe de natureza moral digno de não passar em branco.

Os trechos da lavra de Roustaing que reproduzimos são do Volume 1 da 6ª edição da FEB, de 1983, de Os Quatro Evangelhos, de sua autoria.

Os espíritas brasileiros das novas gerações, porém, precisam saber deste fato pitoresco: em 1920 o anjo Ismael, dado como sempre em rigoroso plantão para orientar a FEB, cochilou desastradamente e a deixou publicar uma edição da obra de Roustaing onde se lê críticas acerbas, diretas e ferinas, a Allan Kardec.

Tal edição, que alguns companheiros veteranos guardam, constitui hoje uma espinha na garganta da FEB porque documenta a insanável divergência entre os seguidores de Roustaing e de Kardec. Provaremos também isso no próximo texto.

Fonte:

TOURINHO, Nazareno.  As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.

Início de Conversa


Por Nazareno Tourinho

Os dislates e disparates da obra de Jean Baptiste Roustaing são tantos, e tão agressivos ao pensamento lógico, que até hoje, segundo nos parece, nenhum escritor espírita lúcido e coerente, fiel aos ensinos enfeixados na codificação de Allan Kardec julgou valer a pena se ocupar da maioria deles em termos minuciosos, detalhando-os e exibindo o lado ridículo de cada um.

Autores respeitáveis, que combateram as teses docetistas através de livros e textos veiculados na imprensa, preferiram sempre abordar apenas os pontos da obra semi-católica de Roustaing flagrantemente contrários aos princípios fundamentais da nossa doutrina: a esdrúxula  ideia do corpo fluídico de Jesus e outras ideias à mesma agregadas por via de consequência, de maior peso filosófico negativo, como a evolução em linha reta do Cristo sem passar por qualquer incômodo encarnatório.

Esses autores, conquanto tenham feito às vezes estudo profundo dos escritos copiosos do célebre advogado francês que aprendeu Espiritismo com Kardec e depois o traiu, acharam por bem não se envolver com as miudezas deploráveis de tais escritos, deixando de executar uma varredura neles com o fim de queimar detritos doutrinários, aparentemente insignificantes. Procederam de modo correto, nas circunstâncias que enfrentaram. Nós, porém, em face das últimas discórdias vicejantes no seio do movimento espírita nacional, que a FEB, por capricho e orgulhoso apego ao passado, não está sabendo conduzir, decidimos pinçar e expor, para os companheiros de crença, uma ponderável parcela de tolices e pieguices espalhadas ao longo da massuda e indigesta obra de Roustaing.

Vamos, portanto, nesta série de escritos, reproduzindo as palavras do próprio Roustaing mostrar de maneira irrefutável as invencionices e sandices de Os Quatro Evangelhos tidos e havidos como “Revelação da Revelação”, isto é, uma revelação superior e mais avançada do que a contida nos livros de Allan Kardec.

Os leitores decerto vão ficar surpresos verificando os absurdos doutrinários saídos da pena de Roustaing, um tanto mais porque a Federação Espírita Brasileira os apoia expressamente por dispositivo estatutário e por habilidosa propaganda em sua tribuna oficial, a revista Reformador.

Como pode uma Entidade que pretende liderar o processo de unificação de nosso movimento ideológico patrocinar os referidos absurdos doutrinários?

Esta pergunta não nos compete responder. O que se nos impõe, na atual conjuntura, quando começa a amadurecer a consciência doutrinária do movimento espírita, é simplesmente pôr a verdade diante dos olhos de quem quiser vê-la para assumi-la. Do resto se encarregará a Providência Divina.

Os rustenistas de tradição, portadores de carteira de identidade expedida pela Secretaria de Segurança do GRUPO DOS OITO, atuante no Rio de Janeiro com alto poder de fogo para atingir os kardecistas também de tradição, costumam alardear que criticamos Os Quatro Evangelhos do antigo bastonário de Bordéus porque ignoramos grande parte de seus conceitos essenciais. Dizem, fiados em que espírita possuidor de elementar bom senso não perderá tempo com a leitura, terrivelmente enfadonha, de mais de duas mil páginas repetitivas de evidentes bobagens teológicas:

- Combatem a obra de J. B. Roustaing sem nunca a terem lido integralmente!

Pois bem, nós resolvemos ler. E o resultado de tão desconfortável esforço intelectual os rustenistas roxos agora vão ter que engolir, depois de nos haverem intoxicado o estômago durante décadas com os seus refinados sofismas.

A partir do próximo escrito provaremos que nos entregamos à penosa tarefa de estudar toda a obra de Roustaing desnudando suas tolices e pieguices sem deixar de fornecer a indicação dos números das páginas onde elas se encontram.

Podem os leitores aguardar essa despretensiosa novidade em matéria de crítica à mistificação roustainguista. Ela se torna necessária para que neste país, haja um pouco mais de respeito pela obra de Allan Kardec.

Fonte:

TOURINHO, Nazareno.  As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Insistindo nos mesmos Erros

Por Artur Felipe de Azevedo

Como já pudemos tratar em dezenas de estudos presentes em dois livros, “Ramatis, Sábio ou Pseudo-Sábio?” (1997) e “Espiritismo x Ramatisismo”(2010), o primeiro médium a afirmar receber comunicações advindas de um espírito chamado “Ramatis” foi Hercílio Maes nos anos de 1950, pegando carona em teses presentes em obras teosóficas e apresentando-as como novidades que deveriam os espíritas aceitar sem pestanejar, conforme expusemos em "Artigo Investigativo:Ramatis pode nem existir". Afinal, repetia-se ferozmente, já naquela época: “Kardec está ultrapassado”, “a Doutrina é progressista”, e algumas outras frases "chavões" sem qualquer consistência.

Depois do desencarne do médium paranaense, alguns outros médiuns, embalados pelo sucesso de vendas dos livros de Maes e, principalmente, pela aceitação do ramatisismo por parte de um considerável contingente de simpatizantes, em sua maioria constituída de neófitos no estudo da Doutrina Espírita, passaram a atribuir a Ramatis a autoria de ditados que, em muitos pontos importantes, contradisseram algumas das suas principais teses, principalmente aquelas já tidas como ultrapassadas e desmentidas pelos fatos e pelas Ciências, tais como as retumbantes previsões de catástrofes globais para o fim do século XX e as descrições equivocadas acerca da topografia do planeta Marte e do cotidiano de seus supostos habitantes. De modo a amenizar tais discrepâncias e escaparem de críticas e suspeições, alguns desses médiuns atribuíram tais inconsistências a uma suposta interferência anímica de Hercílio Maes.

Não obstante a avalanche de equívocos, contraditados pela Doutrina Espírita e pela Ciência, há quem insista ainda, nos dias atuais, em reviver e reeditar tais teorias sob uma fachada nova, intentando encontrar nas fileiras espíritas apoio e suporte à divulgação das mesmas.

O primeiro esforço articulado pelas lideranças do movimento ramatisista de modo atingir um maior número de leitores e angariar mais simpatizantes foi o de reeditar as obras de Ramatis através de uma editora com fins puramente comerciais, retirando da pequena "Livraria Freitas Bastos", do Rio de Janeiro, os direitos de exclusividade sob as obras de Hercílio Maes. A partir daí, coincidentemente ou não, surgiram de várias partes do Brasil novos autores apresentando-se como médiuns de Ramatis, cada qual apresentando a citada entidade espiritual com uma roupagem diferente e ainda mais exótica de modo a agradar aos mais variados gostos e tendências religiosas, tudo sob a fachada de um certo “universalismo” – na verdade, uma inglória tentativa de sincretizar o Espiritismo e, concomitantemente, facilitar a obtenção dos elevados lucros oriundos da vendagem de livros que de espíritas nada têm, apesar de assim se intitularem em suas respectivas fichas catalográficas.


Insistindo nos velhos argumentos

Em nosso artigo “Universalismo Crístico ou Misticismo Anti-Espirítico", alertamos para o exotismo das obras do médium Roger Bottini, do Rio Grande do Sul. Ao lermos e analisarmos um dos seus livros, intitulado "A Nova Era" (Editora do Conhecimento), deparamo-nos com textos atribuídos ao espírito Hermes, que se diz pertencente à falange de Ramatis. É o que parece ser, pois as teses anti-doutrinárias e as cincadas científicas estão lá, presentes. Citemos algumas delas:

1- Afirma o espírito Hermes: "A extinta Atlântida possuía conhecimentos superiores aos da atual humanidade"

Nosso comentário: Até hoje não há nenhuma prova concreta da existência dessa mitológica civilização. Caso tenha realmente existido, não faz sentido algum acreditar que ela tenha alcançado, 9.600 anos antes de Cristo, uma evolução intelecto-moral superior a de hoje. Caso isso fosse verdade, poderíamos perguntar onde estariam os aviões supersônicos, as naves espaciais, os computadores atlantes e o sem número de aparatos tecnológicos que temos hoje, advindos da evolução gradativa da inteligência humana ao longo dos séculos.

2- Em nota de rodapé, consta a antiga previsão de Ramatis sobre um suposto Presidente da República que se elegeria passando por cima de partidos e instituições e que "salvaria" o Brasil. Já tratamos deste assunto no artigo "Ramatis e o Presidente do Brasil". Primeiramente, segundo a nossa Carta Magna, a Constituição, só podem concorrer e eleger-se para cargos do Poder Executivo pessoas filiadas a partidos políticos. Em segundo, Ramatis "profetizou" a ascensão dessa figura ao poder em 1970, sendo que o espírito afirmou, à época, que o mesmo já teria percorrido mais da metade do caminho até a Presidência. No entanto, mais de 40 anos se passaram, e nada aconteceu.

3- Utilizando-se de um expediente surrado e vazio, o espírito Hermes ousadamente afirma que os "universalistas" são vítimas de perseguição e que aqueles que não concordam com suas propostas são obsidiados governados por "espíritos da Trevas" ou "magos negros": "Outra forma de atuação é fascinando os líderes religiosos para crerem-se os únicos detentores da verdade e, assim, lutarem contra seus irmãos no campo das ideias. Vemos claramente essa posição entre alguns encarnados que respondem pela própria Doutrina Espírita. Eles trabalham ferrenhamente contra o processo de união religiosa até mesmo com relação aos espíritas universalistas, seus irmãos de crença.Esses pobres fascinados rechaçam livros espíritas que contestam as suas posições dogmáticas, acreditando serem os donos exclusivos da verdade. Os espíritos das Trevas então realizam um trabalho de indução mental para que eles acreditem que seus irmãos, que pensam de forma mais abrangente e menos sectária, estão fascinados ou envolvidos por entidades maléficas, em uma total inversão do que realmente ocorre. O objetivo dos magos negros é sempre prejudicar os trabalhadores da Espiritualidade, os quais consideram seus "inimigos mortais". Logo, atividades que visem a prejudicar o trabalho de união das crenças religiosas, de conscientização para o período de transição planetária e do trabalho de esclare¬cimento para a Nova Era, são a meta principal desses irmãos ainda dominados pelas forças do mal".

Realmente já tratamos do tema no artigo "Nos Descaminhos da Fascinação". O leitor poderá ver quais são alguns dos sintomas desse tipo de obsessão, e certamente notará que indivíduos que creem na existência de crianças índigo, planeta chupão, apometria, poder curador de cristais e objetos materiais, profecias mirabolantes e aterrorizantes, intraterrestres, ETs que implantam chips em seres humanos, terapias exóticas e milagreiras, entre outras teorias esdrúxulas e sem qualquer respaldo, realmente só podem abrir brechas a espíritos galhofeiros e mistificadores que se esforçam em afastar o indivíduo da realidade, alienando-o e expondo-o a uma posição ridícula, levando de roldão a própria Doutrina Espírita perante a opinião pública.

Acredito que, ao invés de alegarem perseguição gratuita, deveriam os "universalistas" aceitar o debate e análise dessas teorias, pois só quem realmente considera-se "dono da verdade" se fecha ao debate e enfeza-se quando questionado. Ademais, jamais um espírito superior agiria de tal forma, pois, segundo nos ensina a Doutrina Espírita, "Os maus Espíritos temem o exame; eles dizem: 'Aceitai nossas palavras e não as julgueis.' Se tivessem a consciência de estar com a verdade, não temeriam a luz. O hábito de escrutar as menores palavras dos Espíritos, de pesar-lhes o valor, distancia forçosamente os Espíritos mal intencionados, que não vêm, então, perder inutilmente seu tempo, uma vez que se rejeite tudo o que é mau ou de origem suspeita. Mas quando se aceita cegamente tudo o que dizem, que se coloca, por assim dizer, de joelhos diante de sua pretensa sabedoria, fazem o que fariam os homens - disso abusam." (Allan Kardec, Escolhos dos Médiuns, Revista Espírita, fevereiro de 1859)

4- Insistindo na divulgação de mensagens atemorizantes sobre hecatombes causadas pela suposta aproximação de um astro intruso, o espírito Hermes corrige a data do "fim dos tempos". Enquanto Ramatis, nos anos de 1950, asseverou que o mundo não passaria do ano 2000 sem que dois terços da humanidade perecesse e a Terra fosse destruída por uma série de eventos catastróficos, o espírito Hermes, através de Roger Bottini, afirmou em 2002: "Esses períodos de transição abrangem em torno de cem anos do calendário terreno, sendo que o atual iniciou-se na segunda metade do século passado e deverá ser concluído até o final deste século". Vemos, daí, que como as previsões não se cumpriram, tratou-se logo de mudar as datas, empurrando-as para frente - bem típico das seitas apocalípticas.

5- Não satisfeito em demonizar os espíritas que não concordam com as ideias excêntricas que divulga, o espírito "universalista" Hermes não perdoa sequer uma grande personagem: Maria Madalena. Segundo ele, a discípula de Jesus, também conhecida como Maria de Magdala, teria sido usada pelo que os "universalistas" chamam de "Astral Inferior" e por "magos negros" - termos não aceitos e não constantes da Doutrina Espírita - para tentar seduzir e desvirtuar Jesus, com a intenção de "prejudicar os sagrados projetos do Alto".

Essa teoria não encontra respaldo nem nos textos bíblicos, nem em estudos sobre o Jesus histórico. Consta dos Evangelhos que Maria Madalena acreditava que Jesus Cristo realmente era o Messias. (Lucas 8:2; 11:26; Marcos 16:9). Madalena esteve presente na crucificação e no funeral de Cristo, juntamente com Maria de Nazaré e outras mulheres. (Mateus 27:56; Marcos 15:40; Lucas 23:49; João 19.25) (Mateus 27:61; Marcos 15.47; Lucas 23:55). No sábado após a crucificação, teria saído do Calvário rumo a Jerusalém com outros crentes para poder comprar certos perfumes, a fim de preparar o corpo de Cristo da forma como era de costume funerário. Teria permanecido na cidade durante todo o sábado, e no dia seguinte, de manhã muito cedo, "quando ainda estava escuro", foi ao sepulcro, achou-o vazio, e recebeu de um anjo a notícia de que Cristo havia ressuscitado e foi-lhe dito que devia informar tal fato aos apóstolos. (Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-5,10,11; Lucas 24:1-10; João 20:1,2; compare com João 20:11-18). Em Lucas 8:2, faz-se menção, pela primeira vez, de "Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios". No entanto, não há qualquer fundamento bíblico para considerá-la como a prostituta arrependida dos pecados que pediu perdão a Cristo; também não há nenhuma menção de que tenha sido prostituta.Este episódio é frequentemente identificado com o relato de Lucas 7:36-50, ainda que não seja referido o nome da mulher em causa. Há, inclusive, "O Evangelho de Maria Madalena", que traz uma nova interpretação de quem teria sido Maria de Magdala. Segundo este evangelho, ela teria sido uma discípula de suma importância à qual Jesus teria confidenciado informações que não teria passado aos outros discípulos, sendo por isso questionada por Pedro e André. Ela surge ali como confidente de Jesus, alguém, portanto, mais próximo de Jesus do que os demais. Em trechos do citado evangelho, consta o que é um claro desmentido à tese dos "universalistas": "O apego à matéria gera uma paixão contra a natureza. É então que nasce a perturbação em todo o corpo; é por isso que eu vos digo: Estejais em harmonia… Se sois desregrados, inspirai-vos em representações de vossa verdadeira natureza. Que aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça. Após ter dito aquilo, o Bem-aventurado saudou-os a todos dizendo: Paz a vós – que minha Paz seja gerada e se complete em vós! Velai para que ninguém vos engane dizendo: Ei-lo aqui. Ei-lo lá. Porque é em vosso interior que está o Filho do Homem; ide a Ele: aqueles que o procuram o encontram. Em marcha! Anunciai o Evangelho do Reino."

"Pedro disse: "O Salvador realmente falou com uma mulher sem nosso conhecimento? Devemos nos voltar e escutar essa mulher? Ele a preferiu a nós?". E Levi respondeu: "Pedro, você sempre foi precipitado. Agora te vejo lutando contra a mulher como a um adversário. Se o Salvador a tornou digna, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece muito bem. Foi por isso a amou mais que ama a nós"."

6- Ainda incorrendo nos caminhos tortuosos das pseudorrevelações na tentativa de passar uma pretensa superioridade espiritual, o espírito Hermes, discípulo de Ramatis, afirma que "a velocidade da luz é entendida pelos cientistas humanos como o meio mais rápido de se viajar no espaço sideral. E eles estão corretos, dentro dos limites físicos". Em setembro de 2011, no entanto, foi descoberta a existência de partículas sub-atômicas (neutrinos) mais rápidas do que a luz.

7- Quando são citados trechos dos livros da Codificação Espírita, o desconhecimento parece ser ainda maior. O espírito Hermes, no capítulo XII, afirma que o espírito é criado "puro e ignorante", e não "simples e ignorante", o que é totalmente diferente. Mais adiante, diz que foi Kardec o criador da definição de "perispírito", enquanto que, na verdade, foram os Espíritos que a transmitiram a Kardec no item 93 de "O Livro dos Espíritos". Aliás, esse é um erro comum por parte dos "universalistas", que para reforçarem a tese de que o Espiritismo estaria ultrapassado, geralmente imputam ao Codificador a autoria dos ensinamentos, e não aos Espíritos Superiores que, de fato, responderam aos questionamentos elaborados pelo professor francês.

Prosseguiremos, em novos artigos, a analisar as proposições "universalistas" à luz do Espiritismo. Aguardem.

Fonte: Blog Espiritismo x Ramatisismo

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

¿Las obras básicas de la Doctrina Espirita están ya ultrapasadas?

Por Maria das Graças Cabral

Clique aqui para ler a versão em português.

Es muy común oír en estos nuevos tiempos por parte de una legión de espiritas, que las Obras Básicas están ultrapasadas, por no haber acompañado a los avances de la humanidad.

En contrapartida, las denominadas “obras complementarias”  se tornan dignas de toda  la credibilidad, merecedoras de todo el respeto, formando una verdadera legión de seguidores, en detrimento de las “ultrapasadas” Obras Básicas.

Vale recordar que las referidas obras “complementarias”, son comunicaciones de origen mediúmnico, advenidas de un único Espíritu, bajo la supervisión de otro Espíritu (mentor del médium), a  través de un único médium. Tal análisis se extiende  a todas las otras millares de obras literarias que abarrotan las carteleras de las librerías de Brasil y del mundo, y que se titulan espiritas.

Ya la Obra considerada por los compañeros como “ultrapasada”, al contrario de las “complementarias”, fue dictada por una pleya de Espíritus de alta evolución moral e intelectual, del porte de San Juan Evangelista, San Agustín, San Vicente de Paul, San Luis, Sócrates, Platón, Fenelon, Franklin, Swedenborg, entre otros, bajo el comando nada más y nada menos de  El Espíritu de Verdad.

Es oportuno resaltar, que las comunicaciones de los Espíritu superiores que dieron origen a la Codificación Espirita, acontecieron a través de millares de médiums, en los más diversos grupos espiritas esparcidos por el mundo, sometidas todas al Control  Universal de las Comunicaciones Espiritas, conforme palabras de Allan Kardec , el Codificador, en la Introducción del Evangelio Según el Espiritismo.

Se debe también tomar en cuenta,  en lo que concierne a las “ultrapasadas” Obras Básicas, que el referido Codificador (Allan Kardec), se trataba de un hombre de elevada intelectualidad y moralidad, que no teniendo el don  mediúmnico, se  serbia  de todo su intelecto, conocimiento, racionalidad y buen sentido, para analizar, evaluar y organizar las comunicaciones recibidas a través de los médiums, bajo la fiscalización de los Espíritus  Superiores, las cuales vinieron  a componer  el “Cuerpo doctrinario” de la Codificación Espirita. 

Más volvamos a la cuestión  de las emblemáticas “obras complementarias”. Se percibe  la confusión que se hace entre, avance tecnológico del mundo contemporáneo, y evolución moral del espíritu humano.

¿En lo que concierne a las ya “ultrapasadas” Obras Básicas, podemos preguntar a los que así la consideran, en cuales de sus aspectos  las mismas ya fueron ultrapasadas o están incompletas?

¿Será en su aspecto Filosófico, debidamente organizado en “El Libro de los Espíritus?

Según Allan Kardec “El libro de los Espíritus es el compendio de las enseñanzas de los Espíritus  Superiores. Fue escrito por orden  y bajo el distado de los Espíritus Superiores para establecer los fundamentos de una filosofía racional, libre  de los prejuicios del espíritu de sistema. Nada contiene que no sea la expresión de su pensamiento, y no haya sufrido el control de los mismos. El orden y la distribución metódica de las materias así como las notas y la forma de algunas partes de la redacción constituyen la única obra de aquel que recibió la misión de publicar, o sea, de Allan Kardec. (L.E, p.52)

Se pregunta: ¿Qué áreas del conocimiento tratadas en el Libro de los Espíritus, que ya está ultrapasado, precisando  de complementación? -  ¿Cuáles  de los más variados y vastos asuntos tratados en la referida obra, que va de la “Teología Espirita” a las  de “Esperanzas y Consuelos”,  ya  no atienden a los “avances” del Espíritu humano?

En lo que concierne a la importancia de la obra, oportunamente  trascribimos  a Herculano Pires, cuando así se expresa: - “El Libro de los Espíritus no es, apenas, la piedra fundamental  o el marco inicial de la nueva codificación. Porque es el propio delineamiento, su núcleo central y al mismo tiempo el marco general de la doctrina. Examinándolo, en relación a las demás obras de Kardec, que complementan la codificación, verificamos que todas esas obras parten de su contenido”. (L.E, p. 12)

En una nota al pie de El Libro de los Espíritus, asevera el referido autor: “Los Espíritus aluden  a la eternidad espiritual de la doctrina, de su permanente proyección en la Tierra. Más debemos distinguir entre  sus manifestaciones falseadas, en el pasado, y la manifestación pura  que se encuentra en este libro. Los trazos de la Doctrina  espirita marcan el  camino de la evolución humana en la Tierra, más solo con este libro ella se presentó  definida y completa. Por eso, el Espiritismo es, una doctrina moderna”. (L. E. p. 116)

En realidad, se puede constatar que a cada momento, cuando retomamos el estudio de El Libro de los Espíritus, nos deparamos con nuevas enseñanzas y cuestiones que nos pasaron desapercibidos en lecturas anteriores. Se entiende por tanto  improbable  e inadmisible, que en una única encarnación, consigamos alcanzar  y aprender con profundidad, toda la grandiosidad de las enseñanzas de los Espíritus Superiores, aplicándolos por consiguiente en nuestras vidas. Más allá, tal constatación y hecha por varios y respetados estudiosos de la Doctrina Espirita, tales  como J. Herculano Pires, Divaldo Pereira Franco, Raúl Texeira, entre otros.

¿Bien, entonces sería la Ciencia  la que demostró la superación de la Doctrina Espirita? Ósea, consiguió probar la inexistencia de los Espíritus o de los fenómenos Espiritas? A ese respecto nadie mejor que Kardec cuando así se expresa:

“Las ciencias comunes se apoyan en las propiedades de la materia, que pueden ser experimentadas y manipuladas a  voluntad; los fenómenos espiritas se apoyan en la acción de   inteligencias que tienen voluntad propia y nos prueban a todo instante  no estar sometidas a nuestro capricho.

Las observaciones, por tanto, no pueden ser hechas de la misma manera, en uno u otro caso”. (L. E. p. 36)
Más adelante asevera el codificador: “La ciencia propiamente dicha,  como ciencia incompetente, para pronunciarse sobre la cuestión del espiritismo: no le cabe ocuparse del asunto y su pronunciamiento, al respecto, cualquiera que sea, favorable o no, no tiene ningún peso” (L. E. p, 36) 

¿Si la ciencia  tradicional no tiene “competencia” para considerar “ultrapasada” la Doctrina Espirita – seria entonces su  aspecto religioso el que estaría ultrapasado, precisando de “obras complementarias”?
¿Más el aspecto religioso de la Doctrina  Espirita está amparada en la moral de Cristo! ¿Entonces esta moral  está ultrapasada? A ese respecto, vale resaltar, que aunque  transcurridos dos milenios del paso de Jesús por el planeta Tierra, sus enseñanzas  basadas en la Ley de Amor, aun están por acontecer.

¿Entonces,  cual es  el gran problema que viene causando la  cizaña en el Movimiento Espirita? Por un lado, aquellos que defienden el “rescate” del estudio de las Obras Básicas de la Codificación, siendo considerados por parte de los defensores de las “obras complementarias” de “ortodoxos” o “puristas”.

De otro lado, los que consideran “avanzados”, o “evolucionistas” los cuales entienden que realmente la Doctrina espirita está “ultrapasada” y precisa de “obras complementarias” con más informaciones “avanzadas” que acompañan  la evolución científica (¿) , y la evolución del pensamiento humano (¿)

Estos compañeros que se consideran “libres” y “avanzados” entienden que la humanidad ahora ya está preparada para recibir las nuevas “revelaciones” traídas en las “obras complementarias”.

Entretanto es sabido que una obra filosófica o científica o religiosa, solo podría ser considerada “ultrapasada” , cuando sus conceptos y principios estuviesen en total desacuerdo con las pruebas científicas, o que ultrapasasen los límites de la razón y del buen sentido. Fue lo que ocurrió por ejemplo, con ciertas creencias del catolicismo que fueron  contestados y comprobados  por la ciencia tradicional, y se tornaron para sus seguidores dogmas de fe, (por tanto incuestionable).

En lo que concierne a  la Doctrina Espirita esto no acontece, por ser una doctrina evolucionista, racional y no dogmatica. Por otro lado, debemos poner en pauta que las nuevas revelaciones traídas por compañeros del plano espiritual, objetivando “complementar” las “ya ultrapasadas” Obras Básicas, no podrían en hipótesis alguna  estar en desacuerdo con cualquiera de los principios doctrinarios de las obras las cuales se proponen “complementar”!

Entretanto, en lo que concierne a lo por encima expuesto, basta que  nosotros propongamos  con la mente  y el corazón abiertos a un estudio serio y efectivo de las Obras Básicas, para que fácilmente identifiquemos en las dichas “obras complementarias”, varios aspectos contradictorios a los principios  doctrinarios espiritas. Por tanto, tales novedades no podrían ser consideradas “enseñanzas complementarias”.

Para una mejor comprensión, hagamos una analogía con la Constitución Federal que es la Ley Mayor de un país. Esta Ley  Mayor establece los principios fundamentales sobre los cuales se erguirá  todo el ordenamiento jurídico de una nación. Las leyes “complementarias” advenidas, deberán obligatoriamente para efectos de validez  estar plenamente de acorde con los principios constitucionales.
¡De la misma forma, las Obras Básicas como el propio nombre sugiere, trazan los principios fundamentales, o sea, la base de la Doctrina de los Espíritus, debiendo por tanto ser respetados por cualquier obra posterior que se quiera considerar espirita!

Expuesto esto, nos gustaría dejar claro que no defendemos una ortodoxia reaccionaria, objetivando la creación de un INDEX de obras a ser quemadas por no ser las Obras Básicas, o por estar en desacuerdo con estas.

Defendemos si, el estudio serio de las Obras de la Codificación, objetivando el conocimiento y discernimiento, para una segura evaluación e identificación de lo que no puede y no debe ser considerado obra espirita. Y lo más temerario que es la atribución  y titulación de “obra complementaria” de la Doctrina Espirita.

Es un hecho que el Espiritismo viene vivenciando una ortodoxia y un gran dogmatismo. Más no por parte de una minoría que busca rescatar el estudio de los principios doctrinarios postulados en las Obras Básicas, puesto que, estas están relegadas al total descaso  por la gran mayoría de los espiritas, bajo la alegación de estar  las mismas ultrapasadas; o por ser consideradas de lectura difícil, cansativa y aburrida.

Entiendo que la gran ortodoxia y dogmatismo que despierta las más exacerbadas reacciones, vienen siendo practicada por parte de una verdadera legión de espiritas de comportamiento intolerante y agresivo, que de forma enceguecida defienden ferozmente  no solo a las llamadas “obras complementarias”, más principalmente las figuras que las representan, en detrimento de los espíritus Superiores que nos trajeron los Principios Espiritas  y del propio Codificador, Allan Kardec.

Más allá, en lo que dice al respecto a Kardec, ya oí por  parte de espiritas defensores de las “obras complementarias”  referencias de profundo desprecio, como -¿Quién es Kardec? Por acaso es el “dueño” del Espiritismo? ¿No es “apenas” el Codificador?

Bien para finalizar, es un hecho que realmente ocurrió una “división” en el Movimiento Espirita, donde los seguidores de las “obras complementarias”, infelizmente formaron una verdadera “secta” salida de las huestes espiritas, adoptando como verdades incuestionables y absolutas todo lo que preconiza las referidas obras. ¡Es una pena!

Más, como todos acreditamos que el Espiritismo es inmortal, sabemos que todo es una cuestión de tiempo… Desencarnaremos y estaremos ante  nosotros mismos, bajo las Leyes inmutables de Dios. Vamos entonces a confirmar por nosotros mismos todo lo que nos dicen las Obras Básicas de la Doctrina espirita.

Al final, nos dicen los Espíritus que una encarnación es menos que un minuto ante la eternidad. ¡Paz!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Considerações acerca da Veracidade e da Historicidade da Assim Denominada “Carta de Públio Lêntulo”

Artigo escrito pelo pesquisador Sr. José Carlos Ferreira Fernandes, demonstra que o livro “Há Dois Mil Anos”, psicografado por Chico Xavier, não passa de uma completa ficção, apresentando problemas desde a completa ignorância da construção dos nomes romanos, passando pela aceitação de documentos comprovadamente falsos e culminando na completa inexistência da entidade que teria ditado o livro, no caso, Emmanuel/ Públio Lêntulo.

Eis algumas palavras do Sr. José Carlos sobre seu trabalho:

Meu trabalho nada tem a ver com a existência, ou a não existência, da mediunidade. Também não tem nada a ver com a existência, ou a não existência, duma entidade que se autodenomina “Emanuel”. Meu trabalho procura simplesmente responder à seguinte indagação: esse tal “Emanuel” (seja uma “entidade”, seja um ET, seja o inconsciente do sr. Francisco Cândido Xavier, seja o que for), pelas coisas que narra em “Há Dois Mil Anos”, se encaixa no perfil que ele próprio apresenta de si – o do senador romano Públio Lêntulo, contemporâneo de Cristo, testemunha ocular de fatos importantes ligados à vida de Jesus, fatos esses que registrou a partir do médium Francisco Cândido Xavier? Sim ou não? Eu, por mim, estou firmemente convencido de que NÃO. Esse “Emanuel” pode ter sido tudo, mas não foi um senador romano Públio Lêntulo, contemporâneo de Cristo, testemunha ocular de fatos importantes de sua vida, etc. Se se trata de uma “entidade”, é uma entidade mentirosa, ou galhofeira, ou absurdamente esquecida – ou seja, em qualquer hipótese, não confiável. Que pôde se impor ao “maior médium do mundo”, e passar as suas “mensagens” a toda uma comunidade sem que nenhum intelectual espírita exercitasse o lado “científico” do Espiritismo e as analisasse “cientificamente”; e sem que nenhum espírito “superior” sequer se desse ao trabalho de avisar Xavier, ou o próprio meio espírita, que “Emanuel” era uma fonte, no mínimo, duvidosa.

Porque (infelizmente) não é só a mensagem que importa. Joio se mistura facilmente com trigo, madeiras de terceira com madeiras de lei, e o conjunto nem sempre é facilmente separável. Se a “entidade” (se é que se trata de uma entidade) pôde se enganar, ou mentir, acerca de sua identidade – onde mais se enganou, onde mais mentiu? Não poderia passar mensagens falsas, agasalhando-as no meio de mensagens verdadeiras? Quem é capaz de se enganar, ou mentir, acerca de sua própria identidade, do que mais é capaz?


Adaptado do blog "Obras Psicografadas".

O artigo está disponível para download no formato PDF e possui 52 páginas. Clique aqui para baixá-lo.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

As obras básicas da Doutrina Espírita já estão ultrapassadas?

Por Maria das Graças Cabral

É muito comum ouvirmos nestes novos tempos por parte de uma legião de espíritas, que as Obras Básicas estão ultrapassadas, por não haverem acompanhado aos avanços da humanidade.

Em contrapartida, as denominadas '"obras complementares", tornaram-se dignas de toda a credibilidade, merecedoras de todo o respeito, formando uma verdadeira legião de seguidores, em detrimento das 'ultrapassadas' Obras Básicas.

Vale lembrar que as referidas obras 'complementares', são comunicações de origem mediúnica, advindas de um único Espírito, sob a supervisão de um outro Espírito (mentor do médium), através de um único médium. Tal análise se estende a todas as outras milhares de obras literárias que abarrotam as prateleiras das livrarias do Brasil e do mundo, e que se auto intitulam espíritas.

Já a Obra considerada pelos companheiros como "ultrapassada", ao contrário das "complementares", foi ditada por uma plêiade de Espíritos de alta evolução moral e intelectual, do porte de São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, dentre outros, sob o comando nada mais nada menos de O Espírito da Verdade.

Oportuno ressaltar, que as comunicações dos Espíritos Superiores que deram origem à Codificação Espírita, aconteceram através de milhares de médiuns, nos mais diversos grupos espíritas espalhados pelo mundo, submetidas todas ao Controle Universal das Comunicações Espíritas, conforme palavras de Allan  Kardec, o Codificador, na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Deve-se também levar em conta, no que concerne às 'ultrapassadas' Obras  Básicas, que o referido Codificador (Allan Kardec), tratava-se de um homem de elevada intelectualidade e moralidade, que não tendo o dom mediúnico, utilizava-se de todo o seu intelecto, conhecimento, racionalidade e bom senso, para analisar, avaliar e organizar as comunicações recebidas através dos médiuns, sob a fiscalização dos Espíritos Superiores, as quais vieram compor o "corpo doutrinário" da Codificação Espírita.

Mas voltemos à questão das emblemáticas 'obras complementares'. Percebe-se a confusão que se faz entre, avanço tecnológico do mundo contemporâneo, e evolução moral do espírito humano.

No que concerne às já "ultrapassadas" Obras Básicas, podemos indagar aos que assim a consideram, em quais dos seus aspectos as mesmas já foram ultrapassadas ou estão incompletas?

Seria em seu aspecto Filosófico, devidamente organizado em "O Livro dos  Espíritos"?

Segundo Allan Kardec "O Livro dos Espíritos é o compêndio dos ensinamentos dos Espíritos Superiores. Foi escrito por ordem e sob ditado dos Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos prejuízos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão do seu pensamento, e não tenha sofrido o controle dos mesmos. A ordem e a distribuição metódica das matérias assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem a única obra daquele que recebeu a missão de o publicar" , ou seja, de Allan Kardec. (L.E, p. 52) 

Pergunta-se: - Quais as áreas do conhecimento tratadas em O Livro dos Espíritos, que já está ultrapassada, precisando de complementação? - Quais dos mais variados e vastos assuntos tratados na referida obra, que vai da "Teologia Espírita" às "Esperanças e Consolações", já não atendem aos "avanços" do Espírito humano?

No que concerne à importância da obra, oportuno transcrevermos Herculano Pires, quando assim se expressa: - "O Livro dos Espíritos não é, apenas, a pedra  fundamental ou o marco inicial da nova codificação. Porque é o próprio delineamento, o seu núcleo central e ao mesmo tempo o arcabouço geral da doutrina. Examinando-o, em relação às demais obras de Kardec, que completam a codificação, verificamos que todas essas obras partem do seu conteúdo". (L.E, p. 12)

Em nota de rodapé de O Livro dos Espíritos, assevera o referido autor: "Os Espíritos aludem à eternidade espiritual da doutrina, de sua permanente projeção na Terra. Mas devemos distinguir entre as suas manifestações falseadas, no passado, e a manifestação pura que se encontra neste livro. Os traços da doutrina espírita marcam o roteiro da evolução humana na Terra, mas só com este livro ela se apresentou definida e completa. Por isso, o Espiritismo é, na Terra, uma doutrina moderna". (L.E, p. 116) 

Na realidade, pode-se constatar que a cada momento, quando retomamos o estudo de O Livro dos Espíritos, nos deparamos com novos ensinamentos e questionamentos que nos passaram despercebidos em leituras anteriores. Entende-se portanto improvável e inadmissível, que em uma única encarnação, consigamos alcançar e apreender em profundidade, toda a grandiosidade dos ensinamentos dos Espíritos Superiores, aplicando-os por conseguinte em nossas vidas.  Aliás, tal constatação é feita por vários e respeitados estudiosos da Doutrina Espírita, tais como J. Herculano Pires, Divaldo Pereira Franco, Raul Teixeira, dentre outros. 

Bem, então seria a Ciência que demonstrou a superação da Doutrina Espírita? Ou seja, conseguiu provar a inexistência dos Espíritos ou dos fenômenos Espíritas?  A esse respeito ninguém melhor que Kardec quando assim se expressa:

"As ciências comuns se apóiam nas propriedades da matéria, que podem ser experimentadas e manipuladas à vontade; os fenômenos espíritas se apóiam na ação de inteligências que têm vontade própria e nos provam a todo instante não estarem submetidas ao nosso capricho. As observações, portanto, não podem ser feitas da mesma maneira, num e noutro caso". (L.E, p. 36)

Adiante assevera o codificador: "A ciência propriamente dita, como ciência é incompetente, para se pronunciar sobre a questão do Espiritismo: não lhe cabe ocupar-se do assunto e seu pronunciamento a respeito, qualquer que seja, favorável ou não, nenhum peso teria". (L.E, p. 36)

Se a ciência tradicional não tem "competência" para considerar "ultrapassada" a Doutrina Espírita - seria então o seu aspecto religioso que estaria ultrapassado, precisando de "obras complementares"?

Mas o aspecto religioso da Doutrina Espírita está amparada na moral do Cristo! Então esta moral está ultrapassada? A esse respeito, vale ressaltar, que embora transcorridos dois milênios da passagem de Jesus pelo planeta Terra, seus ensinamentos embasados na Lei de Amor, ainda estão por acontecer.

Então, qual o grande problema que vem causando a cizânia no Movimento Espírita? De um lado, aqueles que defendem o "resgate" do estudo das Obras Básicas da Codificação, sendo considerados por parte dos defensores das "obras complementares" de "ortodoxos" ou "puristas".

De outro lado, os que se consideram "avançados", ou "evolucionistas" os quais entendem que realmente a Doutrina Espírita está "ultrapassada" e precisa de "obras complementares" com informações mais "avançadas" que acompanham a evolução científica (?), e a evolução do pensamento humano (?).

Estes companheiros que se consideram "livres" e "avançados', não sujeitos ao "dogmatismo" dos "ortodoxos" entendem que a humanidade agora já está preparada para receber as novas "revelações" trazidas nas "obras complementares"!

Entretanto é sabido que uma obra filosófica e/ou científica e/ou religiosa, só poderia ser considerada "ultrapassada", quando seus conceitos e princípios estivessem em total desacordo com as provas científicas, ou que ultrapassassem os limites da razão e do bom senso. Foi o que ocorreu por exemplo, com certas crenças do catolicismo que foram contestados e comprovados pela ciência tradicional, e tornaram-se para os seus seguidores dogmas de fé, (portanto inquestionáveis).

No que concerne à Doutrina Espírita isto não acontece, por ser uma doutrina evolucionista, racional e não dogmática. Por outro lado, devemos por em pauta que as novas revelações trazidas por companheiros do plano espiritual, objetivando "complementar" as " já ultrapassadas" Obras Básicas, não poderiam em hipótese alguma estar em desacordo com qualquer dos princípios doutrinários das obras às quais se propõem  "complementar"!

Entretanto, no que concerne ao acima exposto, basta que nos proponhamos com a mente e o coração abertos a um estudo sério e efetivo das Obras Básicas, para que facilmente identifiquemos nas ditas "obras complementares", vários aspectos contraditórios aos princípios doutrinários espíritas. Portanto, tais novidades não poderiam ser considerados "ensinos complementares".

Para uma melhor compreensão, façamos uma analogia com a Constituição Federal que é a Lei Maior de um país. Esta Lei Maior estabelece os princípios fundamentais sobre os quais se erguerá todo o ordenamento jurídico de uma nação. As leis "complementares" advindas, deverão obrigatoriamente para efeitos de validade estarem plenamente acordes com os princípios constitucionais.

Da mesma forma, as Obras Básicas como o próprio nome sugere, trazem os princípios fundamentais, ou seja, a base da Doutrina dos Espíritos, devendo portanto serem respeitados por qualquer obra posterior que se queira considerar espírita!

Isto posto, gostaria de deixar claro que não defendemos uma ortodoxia reacionária, objetivando a criação de um INDEX de obras a serem queimadas por não serem as Obras Básicas, ou por estarem em desacordo com estas.

Defendemos sim, o estudo sério das Obras da Codificação, objetivando o conhecimento e discernimento, para uma segura avaliação e identificação do que não pode e nem deve ser considerado obra espírita. E o mais temerário - que é a atribuição e titulação de "obra complementar" da Doutrina Espírita!

É fato que o Espiritismo vem vivenciando uma ortodoxia e um grande dogmatismo. Mas não por parte de uma minoria que busca resgatar o estudo dos princípios doutrinários postulados nas Obras Básicas, posto que, estas estão relegadas ao total descaso pela grande maioria dos espíritas, sob alegativa de estarem as mesmas ultrapassadas; ou por serem consideradas de leitura difícil, cansativa e chata.

Entendo que a grande ortodoxia e dogmatismo que desperta as mais exacerbadas reações, vem sendo praticada por parte de uma verdadeira legião de espíritas de comportamento intolerante e agressivo, que de forma enceguecida defendem ferozmente não só as chamadas "obras complementares", mas principalmente as figuras que as representam, em detrimento dos Espíritos Superiores que nos trouxeram os Princípios Espíritas, e do próprio Codificador, Allan Kardec.

Aliás, no que diz respeito a Kardec, já ouvi por parte de espíritas defensores das "obras complementares", referências de profundo desprezo, como - Quem é Kardec? Por acaso é o "dono" do Espiritismo? Não é "apenas" o Codificador?

Bem, para finalizar, é fato que realmente ocorreu um "racha" no Movimento Espírita, onde os seguidores das "obras complementares", infelizmente formaram uma verdadeira "seita" saída das hostes espíritas, adotando como verdades inquestionáveis e absolutas tudo o que preconiza as referidas obras. É uma pena!

Mas, como todos acreditamos que o Espírito é imortal, sabemos que tudo é uma questão de tempo... Desencarnaremos e estaremos diante de nós mesmos, sob as Lei imutáveis de Deus. Vamos então confirmar por nós mesmos tudo o que nos dizem as Obras Básicas da Doutrina Espírita!

Afinal, nos dizem os Espíritos que uma encarnação é menos que um minuto diante da eternidade. Paz!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Umbral e Nosso Lar - Uma realidade não existente face a Doutrina dos Espíritos

Por Maria das Graças Cabral

Desde a publicação do livro Nosso Lar pelo espírito André Luiz, psicografado pelo médium Chico Xavier, que o inferno católico transvestiu-se em ‘umbral’, alimentado pelo imaginário dos ‘espíritas’ ainda arraigados à dogmática católica. Por outro lado, a “cidade espiritual” denominada de “Nosso Lar“, tornou-se o céu, cujo destino é almejado por todos aqueles que sonham com a felicidade quando do retorno ao plano espiritual.

Logo no início da obra em comento, nos deparamos com o ‘umbral’, por ser neste lugar de tormentos que se encontrava André Luiz em estado de profunda perturbação.

Diante de seu relato, identifica-se de pronto a incontestável semelhança com o ‘inferno’ católico, ao ser aquele descrito, como uma região tenebrosa, com seres diabólicos, e sofrimentos acerbos.

O autor espiritual assevera que é informado por Lísias (seu orientador) que a localização do ‘umbral’ começa na crosta terrestre, sendo uma zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados” (...). (Nosso Lar, p. 79)

Esclarece o companheiro de André Luiz, que o Umbral funciona, como região destinada a esgotamento de resíduos mentais: uma espécie de zona purgatorial, onde se queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena“. (...) “Concentra-se aí, tudo o que não tem finalidade para a vida superior, ressaltando que a Providência Divina agiu sabiamente, permitindo se criasse tal departamento em torno do planeta”. (grifei) (Nosso Lar, p. 79/81)

Ao ser ‘retirado’ do umbral por Clarêncio, depois de oito anos de sofrimento e loucura, relata André Luiz ter sido conduzido a uma cidade espiritual, denominada Nosso Lar. A referida cidade tinha sua organização política efetivada através de um Governador e de seus Ministros.

Reportando-se ao atual Governador da cidade, André Luiz é informado por Lísias, que o mesmo havia conseguido colocar ordem nos distúrbios e cisões que turbavam a cidade, em razão de questões que envolviam a “distribuição de alimentos” entre os Espíritos moradores de Nosso Lar.

Segundo sua narrativa, a cidade era de uma beleza impressionante, com “vastas avenidas, enfeitadas de árvores frondosas. Ar puro, atmosfera de profunda tranqüilidade espiritual”. (Nosso Lar, p. 58)

O autor espiritual não se furta em descrever as belezas de Nosso Lar, desde a arquitetura de seus prédios, seus imensos bosques e jardins com flores exóticas e fontes de águas cristalinas, a beleza das obras de arte e a elegância do mobiliário que guarneciam seus Ministérios e casas, até as melodias sublimes ouvidas por todos os moradores no final da tarde, ou quando das reuniões e preces.

Diante de tal cenário, a referida cidade tornou-se um paradigma de céu para os “espíritas“, posto que, lá chegando, além dos cuidados ministrados em seus excelentes hospitais, posteriormente tem-se a possibilidade de morar em belas e confortáveis casas, juntamente com os entes queridos, todos devidamente protegidos pelas altas e seguras muralhas defensivas desta maravilhosa cidade, que tem o sugestivo nome de ‘Nosso Lar‘.

Entretanto, na condição de espíritas, somos sabedores da necessidade de um estudo constante e sistemático das Obras Básicas, para que possamos de forma justa e lúcida avaliar as informações que nos chegam do plano espiritual, através de mensagens mediúnicas, como é o caso da obra em comento.

Para este intento, precisamos avaliar as informações recebidas tendo como paradigma as Obras Básicas, posto que estas, passaram pelo Controle Universal das Comunicações Espíritas, como bem nos esclarece Allan Kardec, o insigne Codificador da Doutrina dos Espíritos, na parte introdutória de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Inicialmente, faremos uma breve análise do que nos dizem os Espíritos Superiores em O Livro dos Espíritos, quando em seu Capítulo VI, trata da “Vida Espírita“. Faremos a transposição literal de algumas perguntas feitas por Kardec aos Espíritos Superiores, com suas respectivas respostas, e em seguida teceremos comentários e conclusões pertinentes ao assunto proposto.

Comecemos pela pergunta 224 do LE, quando Kardec indaga aos Espíritos Superiores, o que é a alma nos intervalos das encarnações. A reposta dada é a seguinte: - Espírito errante, que aspira a um novo destino e o espera.

Portanto, André Luiz, estava na condição de Espírito errante, aguardando uma nova encarnação segundo a resposta dos Espíritos.

Em seguida, vejamos a pergunta 227 formulada pelo Codificador: - De que maneira se instruem os Espíritos errantes; pois certamente não o fazem da mesma maneira que nós? Resposta: - Estudam o seu passado e procuram o meio de se elevarem. Vêem, observam o que se passa nos lugares que percorrem; escutam os discursos dos homens esclarecidos e os conselhos dos Espíritos mais elevados que eles, e isso lhes proporciona idéias que não possuíam”. (grifei e coloquei negrito)

Observa-se portanto, que a proposta para o Espírito na erraticidade não é o trabalho braçal de lavar chão, limpar enfermarias, etc., mas de trabalhar sua mente e esclarecer o seu ‘eu‘, objetivando uma melhor preparação intelectual e moral, para enfrentar os embates de sua próxima encarnação.

Analisemos ainda o que propõe a pergunta 230 de o LE: - O Espírito progride no estado errante? Resposta: Pode melhorar-se bastante, sempre de acordo com a sua vontade e o seu desejo; mas é na existência corpórea que ele põe em prática as novas idéias adquiridas. (grifei)

Diante do exposto, é fato que:

1º) A vida espiritual não é igual à vida material, posto que a condição consciencial e emocional do indivíduo é outra, o meio é outro, a realidade é outra, a dimensão tempo/espaço é outra, as percepções e sensações são outras.

2º) A Instrução dos Espíritos errantes não se faz da mesma maneira que a dos encarnados;

3º) O progresso efetivo do Espírito só se dá através da existência corpórea, que é quando ele põe em prática as novas idéias adquiridas no Espaço.

No entanto, no que se depreende de Nosso Lar, os Espíritos errantes vivem na espiritualidade uma vida semelhante à vida dos encarnados, posto que:

a) os Espíritos moram em casas com suas famílias;
b) trabalham e são remunerados (bônus-hora);
c) têm relacionamentos amorosos, noivado e casamento;
d) comem, bebem, tomam banho e dormem;
e) viajam de aerobus, vão a festas, cinemas, concertos e reuniões;
f) obedecem a um regime político sob as ordens de um Governador que administra a cidade através de seus Ministérios.

Ou seja, têm uma verdadeira vida social, com todas as implicações geradas pelas relações humanas que envolvem família, amigos, inimigos, trabalho e política.

Pergunta-se: - Prá que reencarnar, se o Espírito já vive todas as possibilidades oriundas da vida em sociedade, considerada por Kardec, como a “pedra de toque” para a evolução humana?!

Mas prossigamos nosso estudo agora analisando a questão 234 de O Livro dos Espíritos, que trata dos Mundos Transitórios, e Kardec faz o seguinte questionamento aos Espíritos Superiores: - Existem, como foi dito, mundos que servem de estações ou de lugares de repouso aos Espíritos errantes? Resposta: - Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que eles podem habitar temporariamente, espécie de acampamentos, de lugares em que possam repousar de erraticidades muito longas, que são sempre um pouco penosas. São posições intermediárias entre os outros mundos, graduados de acordo com a natureza dos Espíritos que podem atingi-los, e que gozam de maior ou menor bem-estar. (grifei)

E a pergunta 236 - Os mundos transitórios são, por sua natureza especial, perpetuamente destinados aos Espíritos errantes? Resposta: - Não, sua superfície é apenas temporária.

Oportuno ressaltar o desdobramento da pergunta 236, na 236-a: - São eles ao mesmo tempo habitados por seres corpóreos? Resposta: - Não, sua superfície é estéril. Os que o habitam não precisam de nada. (grifei, e coloquei negrito)

Diante de tão importantes informações, infere-se que:

1º) há possibilidade dos Espíritos errantes se acomodarem em “Mundos Transitórios”;

2º) tais mundos são de superfícies estéreis, ou seja, sem prédios, bosques, fontes etc.;

3º) o Espírito não precisa de nada disso na erraticidade.

Passemos agora à análise do item III, de o LE, que trata das Percepções, Sensações e Sofrimentos dos Espíritos. Kardec lança o seguinte questionamento na pergunta 253: - Os Espíritos experimentam as nossas necessidades e os nossos sofrimentos físicos? Resposta: - Eles o conhecem, porque os sofreram, mas não os experimentam como vós, porque são Espíritos. (grifei)

Pergunta 254: Os Espíritos sentem fadiga e necessidade de repouso? Resposta: Não podem sentir a fadiga como a entendeis, e portanto não necessitam do repouso corporal, pois não possuem órgãos em que as forças tenham de ser restauradas. Mas o Espírito repousa, no sentido de não permanecer numa atividade constante. Ele não age de maneira material, porque a sua ação é toda intelectual e o seu repouso é todo moral. Há momentos em que o seu pensamento diminui de atividade e não se dirige a um objetivo determinado; este é um verdadeiro repouso, mas não se pode compará-lo ao do corpo. A espécie de fadiga que os Espíritos podem provar está na razão da sua inferioridade, pois quanto mais se elevam, de menos repouso necessitam. (grifei)

Pergunta 255: Quando um Espírito diz que sofre, de que natureza é o seu sofrimento? Resposta: - Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente que os sofrimentos físicos. (grifei)

Diante do exposto constatamos que:

1º) As necessidades físicas de que se queixam os Espíritos são apenas “impressões”;

2º) Os Espíritos não precisam de repouso, nem obviamente de alimento, posto que não possuem órgãos em que as forças tenham de ser restauradas, nem muito menos aparelho digestivo, sistema circulatório, nervoso ou genésico;

3º) O sofrimento do Espírito é totalmente moral, e não físico.

Para finalizar o presente estudo no que concerne à vida espiritual, ninguém melhor que Kardec, que com muita propriedade assim se expressa: “Existem, portanto, dois mundos: o corporal, composto dos Espíritos encarnados; e o espiritual, formado dos Espíritos desencarnados. Os seres do mundo corporal, devido mesmo à materialidade do seu envoltório, estão ligados à Terra ou a qualquer globo; o mundo espiritual ostenta-se por toda parte, em redor de nós como no Espaço, sem limite algum designado. Em razão mesmo da natureza fluídica do seu envoltório, os seres que o compõem, em lugar de se locomoverem penosamente sobre o solo, transpõem as distâncias com a rapidez do pensamento. A morte do corpo é a ruptura dos laços que o retinham cativos”. (Revista Espírita. Março de 1865, p. 99) (grifei)

Adiante acrescenta o Codificador: “A felicidade está na razão direta do progresso realizado, de sorte que, de dois Espíritos, um pode não ser tão feliz quanto o outro, unicamente por não possuir o mesmo adiantamento intelectual e moral, sem que por isso precisem estar, cada qual, em lugar distinto. Ainda que juntos, pode um estar em trevas, enquanto que tudo resplandece para o outro, tal como um cego e um vidente que se dão as mãos: este percebe a luz da qual aquele não recebe a mínima impressão. Sendo a felicidade dos Espíritos inerente às suas qualidades, haurem-na eles em toda parte em que se encontram, seja à superfície da Terra, no meio dos encarnados, seja no Espaço”.(Revista Espírita. Março de 1865, p. 100) (grifei)

Diante das palavras esclarecedoras de Allan Kardec, podemos asseverar da inexistência de lugares determinados no plano espiritual, destinados à purgação de penas, como o ‘umbral‘, ou lugares semelhantes às cidades materiais terrenas, com belezas naturais e construções, para abrigar Espíritos errantes aos moldes de Nosso Lar.

Como muito bem preceitua Kardec, a dor ou a felicidade é vivenciada pelos Espíritos, seja na superfície da Terra no meio dos encarnados, seja no Espaço. Como também dois Espíritos, um feliz e outro infeliz não precisam estar em regiões diferentes para vivenciarem suas realidades espirituais distintas, podendo estar lado a lado.

Vale ressaltar, que o assunto não se exaure nesta simples abordagem, mas que nos desperte a rever certos conceitos através de um estudo sério e efetivo das Obras Básicas, para que nos emancipemos da ignorância que nos aflige, e nos faz escravos das informações mais absurdas, que tomamos como verdade pelo simples fato de virem do plano espiritual através de um determinado Espírito, às vezes utilizando-se de nome respeitável, ou pela consideração devida ao médium através do qual se deu a comunicação.

Seria interessante diante das considerações propostas uma releitura da Escala Espírita - questão 100 de O Livro dos Espíritos, como também um estudo mais aprofundado dos processos de obsessão, mistificação e fascinação, brilhantemente tratados pelos Espíritos Superiores em O Livro dos Médiuns.

Finalizando, precisamos introjetar que na condição de Espíritos errantes estaremos trabalhando questões intrínsecas à nossa individualidade, no que concerne ao nosso intelecto e à nossa moralidade, posto que, como nos disseram muito significativamente os Espíritos Superiores, o repouso do Espírito é totalmente mental.

Tomemos consciência, que o retorno à verdadeira vida nos levará a conhecer a obra inenarrável do nosso Criador. Nossa casa somos nós mesmos, livres, viajando pela força do pensamento através de todo esse imenso cosmos, conhecendo mundos, assistindo a formação de galáxias, e admirando a perfeição dessa obra, que nem o maior de todos os artistas da Terra poderá reproduzir!

Fonte: Blog Um Olhar Espírita - http://umolharespirita1.blogspot.com/2011/10/nosso-lar-e-umbral-uma-realidade-nao.html