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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Resposta a um biógrafo

Por Artur Felipe Azevedo


Em nosso último estudo, intitulado "Hercílio Maes, médium ou escritor?", analisamos algumas passagens da biografia do referido médium paranaense, que foi o primeiro a declarar receber mensagens de Ramatis. Em "Simplesmente Hercílio", escrito pelo próprio filho do biografado, o Sr. Mauro Maes, encontramos diversas menções a um outro espiritualista que militou por muitos anos no Movimento Espírita, muito conhecido até hoje por alguns dos seus livros, entre eles o polêmico e que mais sucesso alcançou "Os Exilados de Capela": Edgard Armond.


Militar de carreira, Armond ocupou posições de destaque no Movimento Espírita paulista, tendo colaborado na reorganização da FEESP, na criação da USE e na fundação da Aliança Espírita Evangélica. 



Em nossa primeira obra de análise dos ditados atribuídos ao espírito Ramatis, lançada em 1997 e intitulada "Ramatis, Sábio ou Pseudo-Sábio?" (Editora EME), chegamos a citar Edgard Armond como a única liderança de renome no Movimento Espírita cujas ideias se aproximavam das de Hercílio/Ramatis. Foi o suficiente para despertar a atenção e provocar grande incômodo em um dos biógrafos de Armond, Edelso da Silva Júnior, que em seu livro "No Tempo do Comandante" (Ed. Radhu - 2010), sai em defesa de Armond, Hercílio e Ramatis, ao mesmo tempo em que dispara pesada munição contra os críticos das obras de Ramatis, entre eles Herculano Pires, Jorge Rizzini e o menor deles todos, este que aqui escreve. 



Sem pretender nenhuma espécie de revide, não nos foi difícil elaborar uma réplica ao prezado Edelso, uma vez que seus argumentos são a mera repetição dos que encontramos sendo repetidos pelos seguidores de Hercílio/Ramatis. Caso o biógrafo de Armond tivesse se dado o trabalho de ler os 62 artigos que até o momento escrevemos e publicamos em nosso blog, transformados na obra "Espiritismo x Ramatisismo", da mesma forma que pacientemente lemos seu livro de 523 páginas, com certeza teria percebido que boa parte de sua argumentação desfavorável ao nosso trabalho já havia indiretamente tido a sua devida resposta.



Edelso Jr. se dedicou a escrever um capítulo inteiro sobre Ramatis. Logo de início, compara a campanha de esclarecimento e análise das obras de Hercílio/Ramatis à época em que foram publicadas com o "Auto de Fé de Barcelona", numa tentativa já conhecida de colocá-los na posição de vítimas. Alega o autor que tal "perseguição" teria servido para atrair ainda mais a atenção das pessoas e alavancado a vendagem das obras ramatisianas. Trata-se de um argumento comumente utilizado para desencorajar esse tipo de trabalho, que inclusive foi, desde sempre, estimulado por Kardec e pelos espíritos superiores. Vejamos:



"É preciso que se saiba que o Espiritismo sério se faz patrono, com alegria e presteza, de toda obra realizada com critério, qualquer que seja o país de onde provém, mas que, igualmente, repudia todas as publicações excêntricas. Todos os espíritas que, de coração, vigiam para que a doutrina não seja comprometida devem, pois, denunciá-las sem hesitação, tanto mais porque, se algumas delas são produtos de boa-fé, outras constituem trabalho dos próprios inimigos do Espiritismo, que visam desacreditá-lo e poder motivar acusações contra ele. Eis por que, repito, é necessário que saibamos distinguir aquilo que a Doutrina Espírita aceita daquilo que ela repudia. (Allan Kardec em "Viagem Espírita de 1862)



"(...) Todas precauções são poucas para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa". (Allan Kardec, Revista Espírita, 1863, maio)



"(...) Observai e estudai com cuidado as comunicações que recebeis; aceitai o que a razão não recusar, repeli o que a choca; pedi esclarecimentos sobre as que vos deixam na dúvida. Tendes aqui a marcha a seguir para transmitir às gerações futuras, sem medo de as ver desnaturadas, as verdades que separáveis sem esforço de seu cortejo inevitável de erros". (Santo Agostinho, Revista Espírita, 1863, julho.)



"Os maus Espíritos temem o exame; eles dizem: 'Aceitai nossas palavras e não as julgueis.' Se tivessem a consciência de estar com a verdade, não temeriam a luz. O hábito de escrutar as menores palavras dos Espíritos, de pesar-lhes o valor, distancia forçosamente os Espíritos mal intencionados, que não vêm, então, perder inutilmente seu tempo, uma vez que se rejeite tudo o que é mau ou de origem suspeita. Mas quando se aceita cegamente tudo o que dizem, que se coloca, por assim dizer, de joelhos diante de sua pretensa sabedoria, fazem o que fariam os homens - disso abusam". (Allan Kardec, Escolhos dos Médiuns, Revista Espírita, fevereiro de 1859)



"Se a perfeita identificação dos Espíritos é, em muitos casos, uma questão secundária, sem importância, não se dá o mesmo com a distinção entre os Espíritos bons e maus. Sua individualidade pode ser-nos indiferente, mas a sua qualidade jamais. Em todas as comunicações instrutivas é sobre esse ponto que devemos concentrar nossa atenção, pois só ele pode nos dar a medida da confiança que podemos ter no Espírito manifestante, seja qual for o nome com que se apresente. O Espírito que se manifesta é bom ou mau? A que grau da escala espírita pertence? Essa a questão capital". (O Livro dos Médiuns)



É justo lembrar que nenhum dos críticos das obras de Ramatis proibiu a leitura dos mesmos, como afirma Edelso Jr., que compara o trabalho de análise com a publicação do Index Librorum Prohibitorum, o índice de livros proibidos da Igreja Católica. O que ocorreu em certo momento na FEESP foi a decisão (com certeza, acertada e coerente com os próprios ditames do Espiritismo) de não mais vender as obras de Ramatis na livraria da instituição, cujas razões para tal foram devidamente fundamentadas pela Comissão de Doutrina daquela instituição. 



Pegando carona nos fatos ocorridos naquela época, Edelso dispara contra nosso atual trabalho de análise e de pesquisa em relação às obras de Ramatis, já que a maior parte dos críticos daquela época já estão desencarnados:



"(...)O trabalho mais recente, porém, com cheiro de cruzada religiosa e que contém falhas de informações tanto no campo espírita, quanto no setor científico, pois lhe faltou, também, estudar um pouco mais de ciência (teoria das supercordas por exemplo), que faz uma crítica aos textos de Ramatis, é o livro Ramatis - sábio ou pseudo-sábio?, de Artur Felipe de A. Ferreira, editado em 1997."



Iniciemos, portanto, nossa réplica aos comentários do biógrafo de Armond.



O autor não menciona quais seriam as falhas de informações, e cita a teoria das supercordas. Para que o leitor entenda melhor, o Sr. Edelso é um dos que acham que a total incoerência dos ditados ramatisianos em relação à Marte se deve ao fato de que, na realidade, os marcianos habitariam uma outra dimensão, inacessível aos humanos. A teoria das supercordas prediz o número de dimensões que o Universo deve possuir, cerca de 11. Já tratamos desta hipótese em nosso estudo intitulado "Ramatis e o planeta Marte", publicado em 21/10/2008. Dissemos, naquela oportunidade, que "alguns simpatizantes de Ramatis inadvertidamente passaram a divulgar, quando da constatação da realidade marciana pela ciência, que Ramatis estava a descrever a paisagem espiritual do planeta. Ora, em vários momentos ao longo da obra 'A Vida no Planeta Marte...', a citada entidade espiritual descreve vida material, tanto que chega a dizer (...): '...E os imensos cinturões que observais, da Terra...' Se ele, pois, fala em 'observação' da nossa parte, é claro que ele nos fala de matéria visível aos nossos olhos, isto está bem claro."



O interessante é que o autor se cala perante as inúmeras cincadas científicas de Hercílio/Ramatis, que erraram flagorosamente ao descreverem o relevo, as condições climáticas, a temperatura, a composição das calotas, assim como descrevem zonas de vegetação, rios, mares e oceanos em completa oposição àquilo que foi constatado pela Ciência através de sondas não-tripuladas enviadas àquele planeta recentemente. Tratamos do mesmo assunto em outro artigo, onde posicionamos o leitor em relação à verdadeira posição espírita perante tais informes, podendo o leitor se certificar e chegar às suas próprias conclusões:






Continua o Sr. Edelso:



"Esse autor faz um estudo sobre as obras de Ramatis e compara as informações dos livros de Kardec e outras obras espíritas. Pensamos que lhe faltou uma compreensão maior de toda a obra ramatiziana (sic), para que pudesse ter uma postura cristalinamente kardequiana, de aceitar aquilo que é bom e deixar para a posteridade o que ainda carecia de maiores comprovações.



Primeiramente, cabe informar que já lemos e pesquisamos com toda a atenção todas as obras atribuídas a Ramatis. Acreditamos até que conhecemos mais tais obras do que os que se auto-intitulam "ramatisianos", uma vez que muitos demonstram ter sobre elas uma muito vaga noção. 
O Sr. Adelso menciona a postura verdadeiramente kardequiana. Qual seria esta postura? Seria uma postura condencendente com o erro, com a impostura, com o exotismo das mensagens? De modo algum. Primeiramente, Kardec jamais teria aceitado aprioristica e precipidamente as mensagens atribuídas a Ramatis, baseado unicamente no seu conteúdo moral. Confiramos:



“Aplicando esses princípios de ecletismo às comunicações que nos enviaram, diremos que em 3.600 há mais de 3.000 que são de uma moralidade irreprochável, e excelentes como fundo; mas que desse número não há 300 para publicidade, e apenas 100 de um mérito inconteste. Essas comunicações vieram de muitos pontos diferentes".



Verificamos acima que Kardec lista 3.000 comunicações de moralidade irreprochável. Destas, apenas 100 teriam sido por ele publicadas. Concluímos, assim, que Kardec não avaliava as mensagens unicamente pelo conteúdo moral, porque ele sabia que os espíritos pseudossábios saberiam muito bem disfarçar-se por detrás de palavras bonitas e belas frases, inclusive citando Jesus, o Evangelho, o amor e a caridade.



"Ora, a experiência mostra que os maus se comunicam tanto quanto os bons. Os que são francamente maus, são facilmente reconhecíveis; mas há também os meio sábios,falsos sábios, presunçosos, sistemáticos e até hipócritas. Estes são os mais perigosos, porque afetam uma aparência séria, de ciência e de sabedoria, em favor do qual proclamam, em meio a algumas verdades e boas máximas, as mais absurdas coisas".



E cita claramente a necessidade e o dever de analisarmos tudo com rigor e que isso faz parte da Ciência Espírita:



"Separar o verdadeiro do falso, descobrir a trapaça oculta numa cascata de palavras bonitas, desmascarar os impostores, eis,sem contradita, umas das maiores dificuldades da Ciência Espírita". 



O ilustre biógrafo de Armond certamente tentou recordar Paulo de Tarso, quando este sugere: “Examinai tudo. Retende o que é bom” (I Tessalonicenses 5:21). Mas aí é que está. O exame geralmente não é feito, nenhuma pesquisa é realizada, tudo que vem dos Espíritos é logo publicado - daí, não é possível saber se há efetivamente algo de bom a ser retido.



As instruções contidas nas obras da Codificação não deixam dúvidas, principalmente as de Erasto. Leiamos com atenção quando este discorre sobre os falsos profetas da erraticidade:



"Mas há ainda muitos outros meios de os reconhecer. Os Espíritos da ordem a que eles dizem pertencer, devem ser não somente muito bons, mas também eminentemente racionais. Pois bem: passai os seus sistemas pelo crivo da razão e do bom-senso, e vereis o que restará. Então concordareis comigo em que, sempre que um Espírito indicar, como remédio para os males da Humanidade, ou como meios de realizar a sua transformação, medidas utópicas e impraticáveis, pueris e ridículas, ou quando formula um sistema contraditado pelas mais corriqueiras noções científicas, só pode ser um Espírito ignorante e mentiroso. (...) É incontestável que, submetendo-se ao cadinho da razão e da lógica toda a observação sobre os Espíritos e todas as suas comunicações, será fácil rejeitar o absurdo e o erro. Um médium pode ser fascinado e um grupo enganado; mas, o controle severo dos outros grupos, com o auxílio do conhecimento adquirido, e a elevada autoridade moral dos dirigentes de grupos, as comunicações dos principais médiuns, marcadas pelo cunho da lógica e da autenticidade dos Espíritos mais sérios, rapidamente farão desmascarar esses ditados mentirosos e astuciosos, procedentes de uma turba de Espíritos mistificadores ou malfazejos".



O espírito Erasto, por sua vez, alertou:



“(...) Desde que uma opinião nova se apresenta, por pouco que nos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica; o que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai ousadamente; vale mais repelir dez verdades do que admitir uma só mentira (...)”.



Prossegue Edelso em seus comentários:



"Apesar de alguns exageros, uma certa dose de ironia, o que caracteriza falta de caridade, o livro é bom e faz o leitor pensar em alguns pontos conflitantes, na obra de Ramatis, dependendo do ponto de vista que se vê, mas não negativos, pois são opiniões do Espírito".



Engana-se o Sr. Adelso quando fala que a ironia representa falta de caridade. Por definição, ironia é, meramente, uma figura por meio da qual se diz o contrário do que se quer dar a entender; uso de palavra ou frase de sentido diverso ou oposto ao que deveria ser empregado, para definir ou denominar algo." (Dicionário Houaiss).



Porém, vamos ao que escrevemos para verificarmos o que foi considerado como sendo falta de caridade. No cap. VIII, "Ramatis e a Vida de Jesus", informamos ao leitor que, segundo Ramatis, Jesus teria sido uma espécie de aluno dos essênios. Rebatemos a informação, confrontando-a com o que é dito em outras obras, que afirmam não ter Jesus precisado aprender nada com ninguém devido à sua já elevada condição espiritual. Ramatis chega a afirmar que esse grupo de espíritos voltaria a Terra para fundar uma confraria esotérica para a "revivescência do Cristianismo em suas bases milenárias". E, ao fim, comentamos, demonstrando surpresa com tão absurdas considerações:



"Que interessante! Toda essa turma volverá e organizará uma "confraria esotérica" para reviver a mensagem cristã! Acredite se quiser, caro confrade espírita!..." 



Note o leitor que o biógrafo de Armond nos chama de anticaridosos porque nos utizamos de uma figura de linguagem, sendo que não há no livro qualquer palavra desairosa à figura de quem quer que seja. No entanto, nada é dito sobre os impropérios desferidos pelo médium de Ramatis em relação àqueles que discordavam do conteúdo das mensagens de Ramatis. Listemos alguns deles, todos verificáveis tanto no livro "No Tempo do Comandante", do próprio Sr. Edelso, quanto na obra "Simplesmente Hercílio", escrita pelo filho de Maes:



1)fanáticos; 2) limitados; 3)raposas; 4)mentes primárias; 5) ex-inquisidores reencarnados, etc.



Tal postura do Sr. Edelso nos faz lembrar do velho adágio:



"Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei". (...)



É lamentável que isso ocorra. Allan Kardec inclusive alerta em relação a essa reação por parte de certos médiuns:



"Por orgulho estão de tal forma persuadidos de que tudo quanto recebem é sublime e só pode vir dos Espíritos superiores, que se irritam com a menor observação crítica, a ponto de se malquistarem com seus amigos quando estes têm a inabilidade de não admirar o que lhes parece absurdo. Nisto reside a prova da má influência que os domina, pois, supondo-se que, por falta de capacidade de julgamento ou de conhecimento não fossem capazes de enxergar claro, este não constituiria um motivo para se porem de prevenção contra os que não se acham em idêntica posição. Todavia essa é a tarefa dos Espíritos obsessores que, para melhor manter o médium sob sua dependência, induzem-no ao afastamento, mesmo à aversão por quem quer que possa lhes abrir os olhos".



Voltando aos comentários do Sr. Edelso, este inicia sua defesa a Edgard Armond:



"O autor acima citado comete o equívoco ao dizer que o único pensamento dentro da Doutrina Espírita que se aproxima do de Ramatis é o de Edgard Armond. Isso não é verdade. Talvez ele precise de atualizar neste sentido, também."



Mais uma vez, o Sr. Edelso perde a oportunidade de passar ao leitor a informação que considera certa. Quais seriam essas outras pessoas de maior destaque no movimento espírita que teriam dado, àquela época, o apoio a Ramatis e ao seu (suposto) médium? Realmente até hoje desconheço desconheço quem teriam sido. Na própria biografia de Hercílio não consta nenhum outro indivíduo de projeção no Movimento Espírita que tenha dado seu aval de forma tão clara e direta a Hercílio/Ramatis quanto Edgard Armond.



Continua Edelso:



"Segundo o nosso confrade, só é reconhecível como boa obra o trabalho no campo da caridade que Edgard Armond executou."



No capítulo "Mensagens Atemorizantes", discorremos sobre a tese ramatisiana da aproximação de um "astro instruso" que provocaria uma destruição sem precedentes na face da Terra. Daí declaramos que "o único pensamento que se aproxima do de Ramatis nesta questão é o de Edgard Armond, encontrado no livro 'Os Exilados de Capela'". Para comprovar o que havíamos dito, reproduzimos os seguintes trechos do citado livro:



"... Como sua órbita é oblíqua (a do 'astro intruso')em relação ao eixo da Terra , quando se aproximar de mais perto e pela força magnética de sua capacidade de atração de massas, promoverá a verticalização do eixo com todas as terríveis consequências que este fenômeno produzirá".

"...Com a verticalização do eixo da Terra profundas mudanças ocorrerão: maremotos, terremotos, afundamento de terras, erupções vulcânicas, degelos e inundações de vastos territórios planetários, profundas alterações atmosféricas, fogo e cinzas, terror e morte de toda a parte". (9ª edição, Lake, pág. 194)



Ramatis afirma exatamente a mesma coisa no livro "Mensagens do Astral", sendo que a entidade espiritual é categórica ao precisar a data de tais apocalípticos acontecimentos:



“É óbvio que, ao se elevar o eixo terráqueo, o que há de acontecer até o fim deste século, também se modificarão, aparentemente, os quadros do céu astronômico com que estão acostumadas as nações, os povos e tribos, ...” (pg. 122)



“Com a elevação gradativa do eixo terráqueo, os atuais pólos deverão ficar completamente libertos dos gelos e, até o ano 2000, aquelas regiões estarão recebendo satisfatoriamente o calor solar. O degelo já principiou; vós é que não o tendes notado". ...



"A fase mais intensa da modificação física situar-se-á entre os anos de 1982 e 1992, e os efeitos se farão sentir até o ano de 1999, pois o advento do Terceiro Milênio será sob os escombros que, em todas as latitudes geográficas, revelarão o maior ou menor efeito dos eventos dos 'fins dos tempos'. Daqui a mais alguns anos, os vossos geofísicos anunciarão, apreensivos, a verdade insofismável: 'O eixo da Terra está se verticalizando'.!!!" (pag.37)



"Mais ou menos entre os anos 1960 e 1962, os cientistas da Terra notarão determinadas alterações em rotas siderais, as quais serão os primeiros sinais exteriores do fenômeno de aproximação do astro intruso e da proximidade do "fim dos tempos". Não será nenhuma certificação visível do aludido astro; apenas a percepção de sinais de ordem conjetural, pois essa manifestação dar-se-á mais para o final do século." (pág. 168)



Na segunda parte de Obras Póstumas, das previsões concernentes ao Espiritismo, Kardec apresenta mensagens dos Espíritos relativas ao "fim do mundo", que assim nos esclarecem:



“Certamente, não tendes a temer nem dilúvio, nem abrasamento de vosso planeta, nem outras coisas desse gênero, porque não se pode dar o nome de cataclismo a perturbações locais que não se produziriam em todas as épocas. Não haverá senão cataclismo moral, de que os homens serão os instrumentos” (Grifo nosso).



Mais adiante, escrevemos uma nota que dizia o seguinte: 



"Em relação a Armond, cabe-nos a referência ao grande serviço no campo da caridade desenvolvido por sua pessoa. No que concerne às suas posições doutrinárias, não concordamos com elas. Sua defesa da inserção da cromoterapia nas casas espíritas, a grande influência esotérica, e muito do que consta em sua obra 'Os Exilados de Capela', principalmente no que se refere aos 'fins dos tempos', colidem com as mais autênticas posições doutrinárias espíritas, o que acabo ocasionando algumas críticas ao seu trabalho de divulgador".



Quantas, realmente, não são as pessoas que executam trabalhos magníficos nos mais diversos campos da assistência humanitária e que não foram e nem são espíritas? Madre Teresa de Calcutá, Gandhi, Irmã Dulce, Martin Luther King, por exemplo, eram espíritas? Não. Foram pessoas admiráveis, mas se algum deles fosse discorrer contraalgum ponto doutrinário espírita, como a reencarnação, por exemplo, não haveríamos de discordar deles? Ora, o fato de alguém ser bom não o faz conhecedor e absolutamente certo acerca de todas as coisas. Por isso que ressaltamos a boa índole de Armond, porém, não teríamos como concordar, na condição de espírita, com algumas de suas opiniões. O que comentamos, ao final, sobre as críticas que ele recebeu à sua época é, inclusive, mencionado no próprio livro do Sr. Edelso, corroborando assim tudo o que dissemos. 



O Sr. Edelso faz, depois, algumas considerações, dizendo que somos "um crítico por tradição", que o assunto só gera desgaste, e que pegamos carona no trabalho de Herculano Pires. Ora, não sabíamos que havia alguma proibição de tratarmos de um mesmo assunto abordado por outro confrade espírita, ainda mais quando, em 1997, já haviam se passado 18 anos desde o desencarne de Herculano Pires. Nossa obra "Ramatis, sábio ou pseudo-sábio?" realmente contou com a magnânima contribuição dos escritos do prof. Herculano, e disso muito nos orgulhamos, mas, ao mesmo tempo, trouxemos informações e enfoques inteiramente inéditos, desconhecidos pela grande maioria do contingente espírita. Desgaste, na verdade, quem trouxe foram as mensagens de Hercílio/Ramatis, exatamente como Erasto já advertira aos espíritas:



"Os falsos profetas não existem apenas entre os encarnados, mas também, e muito mais numerosos, entre os Espíritos orgulhosos que, fingindo amor e caridade, semeiam a desunião e retardam o trabalho de emancipação da Humanidade, impingindo-lhe os seus sistemas absurdos, através dos médiuns que os servem. (...)São eles que semeiam os germes das discórdias entre os grupos que os levam isolar-se uns dos outros e a se olharem com prevenções. Bastaria isso para os desmascarar. Porque, assim agindo, eles mesmos oferecem o mais completo desmentido ao que dizem ser. Cegos, portanto, são os homens que se deixam enganar de maneira tão grosseira".



Conclui o Sr. Edelso:



"O caro confrade se utiliza também de mensagens de nomes conhecidos do Movimento Espírita para endossar sua tese contra Ramatis. Um deles é Vianna de Carvalho, que escreve por meio do médium baiano Divaldo Franco. Porém é do conhecimento de muitos que Divaldo deu uma declaração em 2004 na cidade do Rio de Janeiro, enaltecendo as qualidades morais do Espírito Ramatis e sua obra e que aguardemos para futuras confirmações algumas de suas mensagens. O que se vê na internet agora é Artur Felipe dizendo que, se Divaldo disse isso, então está indo contra Kardec. Em pesquisa que seu blog na internet executa sobre a questão de Ramatis ser um Espírito 'sábio ou pseudo-sábio', Artur presta um enorme serviço à divulgação das obras de Ramatis, ou seja, sua crítica só colabora com a adoção cada vez maior das obras psicografadas por Hercílio Maes".



O biógrafo de Armond diz a verdade. Citamos várias mensagens de Vianna de Carvalho (espírito) cujo conteúdo está em inteira contraposição ao que é dito por Ramatis e pregado pelos ramatisistas. Vianna se posiciona contra a introdução de práticas orientalistas nos centros espíritas, a divulgação de informes fantásticos sobre vida em outros planetas (uma vez que tais estudos pertencem à Ciência); posiciona-se contrariamente às previsões de 'fins dos tempos", às informações atemorizantes, e às profecias de terror e destruição. Ora, o que podemos fazer se Divaldo Franco tem opiniões discordantes dos espíritos que psicografa? Se ele prefere ignorá-los e dar apoio a quem pensa exatamente o contrário, isso é problema que só compete a ele. No artigo que publicamos em 24/12/2009, intitulado "Divaldo apoia Ramatis... Mas e daí?, citamos outras opiniões do médium baiano que não encontram respaldo nem na Doutrina, nem na ciência, como a tese das crianças índigo, por exemplo. Da mesma forma, mostramos que Divaldo discorda de boa parte daquilo que é referendado por Ramatis e seus simpatizantes, como a apometria, as teses de deslocamento do eixo da Terra e suas consequências, etc. Deixamos da mesma forma evidenciado que Divaldo pode se enganar em relação à índole de pessoas e espíritos, já que considerava Sai Baba um iluminado, e este, tempos depois, veio a ser pego diversas vezes recorrendo à mágicas, fraudes e prestigitações, tendo também sido alvo de graves denúncias de todo tipo, acusado de assassinato e pedofilia por vários de seus discípulos.



Quanto a estarmos indiretamente colaborando com a vendagem dos livros de Ramatis, isso, para mim, pouco importa. Tenho a convicção que se alguém ler integralmente e com atenção as nossas duas obras sobre o tema, assim como o conteúdo do nosso blog, muito dificilmente vai desejar despender seu tempo com livros cujos principais postulados foram categoricamente desmentidos, não por nós, mas pela lógica dos fatos. E quem estiver, porventura, lucrando com isso, terá o julgamento da sua própria consciência e da inexorável Lei Divina, que é de amor, mas também é de Justiça. O que jamais farei é recuar perante minha convicção espírita e deixar de lado a contribuição que damos à causa da Verdade, pois se uma só pessoa vier a abdicar desta "hipnose" (e as conheço várias), conforme Jorge Rizzini bem qualificou as convicções ramatisistas, já ficarei bastante feliz por saber que o esforço não foi em vão. Aos que desejarem ler as obras de Ramatis, fiquem à vontade. Não temos a menor pretensão de proibir ninguém de ler coisa alguma, e nem temos poder para isso. Sabemos que estamos em grande desvantagem nessa empreitada, já que o movimento espírita em geral padece de uma inércia completa em relação a esse tipo de trabalho de análise de mensagens, chamada por Herculano de "paz de pantanal", e, por sua vez, o movimento ramatisista conta com grande poderio econômico e logístico: uma editora, uma revista e programas de TV e de rádio. Se há ainda quem se deixa levar por mensagens de cunho fantasioso, só lamentamos, sendo que o Codificador já comentava:



"Os Espíritos só enganam os que se deixam enganar. Mas é preciso ter os olhos de joalheiro para distinguir a pedra verdadeira da falsa, e quem não sabe distingui-la procura um lapidário". (O Livro dos Médiuns)


Fonte: http://espiritismoxramatisismo.blogspot.com.br/2013/02/resposta-um-biografo.html

quarta-feira, 7 de março de 2012

Universalismo e Movimentos Cismáticos


Por Artur Felipe Azevedo

É muito natural que as pessoas possuam diferentes maneiras de pensar, algo que ocorre, entre outras fatores, devido ao fato de cada um estar num patamar diferente de compreensão sobre determinada questão ou assunto.

No entanto, quando um ou mais indivíduos que dizem pertencer a uma determinada religião, ou que dizem apoiar certo conjunto de ideias de cunho filosófico (como a Doutrina Espírita, por exemplo), passam a discordar de alguns de seus princípios ou ensinos, forma-se aquilo que se convencionou chamar de "cisma". O cisma caracteriza-se por uma dissidência (ou cisão), em que geralmente seus partidários mantêm certos princípios originais e passam, concomitantemente, a adotar outros que lhes pareçam melhores ou mais convenientes. De maneira geral, passam a isolar-se do movimento originário, adotando práticas e divulgando conceitos próprios.

Allan Kardec, o sistematizador da Doutrina Espírita, deixou comentários importantes e esclarecedores acerca dos cismas que já surgiam e viriam a surgir no movimento espírita, tendo deixado evidenciado sua preocupação perante os mesmos. Leiamos:

"Uma questão que se apresenta em primeiro lugar no pensamento é a dos Cismas que poderão nascer no seio da Doutrina; o Espiritismo deles será preservado?

Não, seguramente, porque terá, no começo sobretudo, que lutar contra as ideias pessoais, sempre absolutas, tenazes, lentas em se harmonizarem com as ideias de outrem, e contra a ambição daqueles que querem ligar, mesmo assim, o seu nome a uma inovação qualquer; que criam novidades unicamente para poderem dizer que não pensam e não fazem como os outros; ou porque o seu amor-próprio sofre por não ocupar senão uma posição secundária." (em Constituição do Espiritismo - Dos Cismas, Obras Póstumas)(grifos nossos)

Vemos claramente que Allan Kardec se refere a novidades oriundas de ideias pessoais através das quais adeptos ambiciosos e, por que não dizer?, vaidosos e sequiosos por destaque, de maneira persistente procuram fazer prevalecer, exatamente como temos observado nos últimos tempos.

Cabe frizar que o Espiritismo se deparou, inicialmente, com simpatizantes de praticamente todas as religiões e filosofias. Uns, logo reconhecendo que a Doutrina Espírita possuía ideias, conceitos e princípios que lhe eram próprios, perceberam que não seria possível conciliar o Espiritismo com doutrinas do passado, fossem elas do Ocidente ou do Oriente, apesar dos alguns (poucos) pontos aparentemente em comum. Já outros, afetivamente ligados às suas antigas religiões, acharam que o Espiritismo nada teria a perder aceitando o que chamavam de "contribuições" dessas correntes do espiritualismo em geral, fossem elas oriundas de religiões dogmáticas (como o Catolicismo), ou de religiões orientais e/ou orientalistas.

Como já estudamos anteriormente em outros artigos, especialmente em "Os Cavalos de Troia do Espiritismo" e em "Os Efeitos do Ecletismo e da Heterodoxia no Movimento Espírita Francês", J.-B. Roustaing foi o primeiro a liderar um movimento cismático com suas ideias neo-docetistas muito semelhantes ao ideário católico. Tempos depois, com o desencarne do Codificador, logo se apossaram da Sociedade Parisiente de Estudos Espíritas, espiritualistas de toda ordem, especialmente teosofistas, ocultistas e esotéricos, com a complacência de Pierre Gaëtan Leymarie, pouco afeito a manter a mesma postura austera do Codificador.

Anos depois, no Brasil, os adeptos do rustenismo adiantaram-se e fundaram a Federação Espírita Brasileira (FEB), dominando amplamente o movimento espírita com uma avalanche de obras que, pouco a pouco, foram minando a divulgação e o estudo das obras da Codificação, considerada pelos mesmos superadas pela obra "Os Quatro Evangelhos" de J.-B. Roustaing, apelidada de "a Revelação da Revelação". Já nos idos de 1950, surgem os livros de Hercílio Maes, com ideias em oposição ao rustenismo e com a proposta de acrescentar ao Espiritismo práticas, ensinos e conceitos do rosacrucianismo e da teosofia, como pudemos claramente apontar em Artigo investigativo: Ramatis pode nem existir. A proposta? Uma só: estabelecer o que Hercílio apelidou de "universalismo", como se o Espiritismo, por si só, não fosse uma doutrina eminentemente universalista. 

Vejamos, uma a uma, as definições de "universalismo" contidas no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, e verificaremos que a Doutrina espírita, mais do que qualquer outro conjunto de ideias (doutrina), é essencialmente universalista:

Universalismo - substantivo masculino;

1 Rubrica: religião.
"doutrina ou crença que afirma que todos os homens estão destinados à salvação eterna, em virtude da bondade de Deus"

Comentário: É exatamente isso o que ensina o Espiritismo. Acresce ainda que alcançamos o mais alto estágio evolutivo através da reencarnação (ou vidas sucessivas), onde nos são dadas as oportunidades de aprendizado e aperfeiçoamento intelecto-moral.

2 caráter do que é universal ou universalista; universalidade

Comentário: Allan Kardec, servindo-se de médiuns de praticamente todos os pontos do planeta e desconhecidos uns dos outros, atestou que os ensinos espíritas são de origem universal. Tal fato pode ser verificado no artigo Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE), o eficaz método espírita de aferição da Verdade. Além disso, o Espiritismo assenta-se sob fatos naturais e não admite nada do que se afaste dessas mesmas leis, imutáveis como o próprio Criador. Utilizando-se do critério de concordância universal, o codificador pôde chegar a um eficaz meio de aferição das mensagens que lhe chegavam.

3 tendência de tornar universal uma religião, uma ideia, um sistema etc., fazendo com que se dirija ou abranja a totalidade e não um grupo particular

Comentário: O Espiritismo se destina a todos, porque todos estamos submetidos às mesmas leis universais. Não se dirije somente aos espíritas, e nem defende qualquer beneplácito divino ou superioridade dos espíritas sobre os demais.

4 opinião dos que só reconhecem como autoridade o assentimento universal

Comentário: Como já foi dito e demonstrado, Allan Kardec utilizou-se de comunicações oriundas dos quatro cantos do planeta, tendo sido o único a sistematizar uma doutrina desta maneira. Portante, é errôneo afirmar que o Espiritismo tenha um viés unicamente ocidental, ou que tenha privilegiado o pensamento predominante no Ocidente. 

Assim sendo, não há razão para fundar qualquer movimento pretensamente ligado ao Espiritismo que se auto-intitule "universalista", já que a própria Doutrina Espírita é, por si só, universalista. 

Em nossas pesquisas, pudemos observar que os idealizadores do movimento universalista, os contemporâneos Edgard Armond e Hercílio Maes, ambos ramatisistas e adeptos de correntes espiritualistas orientais, intentaram, conscientemente ou não, na verdade, promover um sincretismo dessas filosofias com o Espiritismo. O primeiro, escrevendo livros de próprio punho, tendo sido o livro "Exilados de Capela" o que mais sucesso alcançou; o segundo, atribuindo tais ideias a um espírito "oriental" chamado Ramatis. 

Edgard Armond foi inclusive chamado por Ramatis de "discípulo querido", sendo que boa parte do projeto de implantação da Aliança Espírita Evangélica, assim como os trabalhos mediúnicos em si e programação de estudos, foram inspirados nos ditados constantes das obras de Hercílio/Ramatis. Tais informações, para que fique claro que não estamos tirando de nossa cabeça, constam do livro "No Tempo do Comandante", de Edelson da Silva Jr., uma biografia de Armond.

Preocupado com a situação, em que eram propagados Brasil afora uma série de práticas e informações que colidiam com o Espiritismo e afrontavam o método kardeciano, Deolindo Amorim lançou a preciosíssima obra "O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas" (1958). Sem combater nenhuma corrente ou filosofia espiritualista, como a Teosofia, a Rosacruz, e as diversas seitas de origem asiática e africana, embora ressaltando eventuais coincidências de pontos filosóficos, Deolindo define, separa e identifica o que é o Espiritismo, mostrando a sua independência.

"(...) Todas as doutrinas organizadas têm o seu corpo de princípios, seus postulados, sua orientação. O Espiritualismo, em sua amplitude, é a matriz de muitas escolas, religiões e correntes filosóficas, mas a própria disciplina da inteligência exige que se dê a cada religião ou doutrina o seu lugar inconfundível: ESPIRITISMO é Espiritismo; TEOSOFIA é teosofia; ECLETISMO é ecletismo. É melhor discernir do que confundir, pois é discernindo que se põe ordem nas ideias para procurar a Verdade. 

"O Espiritismo é uma doutrina universalista, e tanto quanto as doutrinas que mais o sejam; mas é indispensável não levar a noção de universalismo ao arbítrio de acomodações inconvenientes senão prejudiciais à clareza do espírito crítico. Repetimos que o Espiritismo é universalista, os seus problemas têm o sentido da universalidade, mas também é oportuno acentuar que o Espiritismo não é uma forma de sincretismo doutrinário ou religioso, sem unidade nem consistência. Não, absolutamente! Já se falseou muito a ideia de universalismo. Ser universalista é ter visão global do conhecimento, é estimar a universalidade dos valores espirituais acima e além de todas as configurações geográficas ou históricas. Universalismo é uma convicção, é uma posição consciente em face da cultura humana e espiritual; não é, portanto, a junção pura e simples de crenças, doutrinas e práticas diversas." (cap. I - A Reencarnação e as Escolas Orientais)

A última linha do brilhante comentário de Deolindo Amorim é uma descrição fiel do que acontece em núcleos espíritas (ou pretensamente espíritas) que adotam esse comportamento sincrético dito "universalista". Adoção de práticas mediúnicas exóticas (apometria, passes padronizados, etc.), utilização de terapias alternativas muitas vezes inócuas (cromoterapia, radiestesia, cristalterapia, etc.), venda de objetos tidos como concentradores ou debeladores de "energia" (cristais, incensos, defumadores, etc.), uso de uniformes e roupas especiais (jalecos brancos, imitando profissionais da saúde), e por aí vai. 

Até mesmo o espírito André Luiz, entidade incensada por boa parte do contingente espírita, mostrou-se claramente contrário a essa postura agregacionista e oportunista:

"Muitos, companheiros, sob a alegação de que todas as religiões são boas e respeitáveis, julgam que as tarefas espíritas nada perdem por aceitar a enxertia da práticas estranhas à simplicidade que lhes vige na base, lisonjeando indebitamente situações e personalidades humanas, supostas capazes de beneficiar as construções doutrinárias do Espiritismo. 

No entanto, examinemos, sem parcialidade, a expressão contraditória de semelhante
atitude, analisando-a, na lógica da vida.

Criaturas de todas as plagas dos Universos são filhas do Criador e chegarão, um dia, à perfeição integral. Mas, no passo evolutivo em que nos achamos, não nos é lícito estar com todas, conquanto respeitemos a todas, de vez que inúmeras se encontram em experiências diametralmente opostas aos objetivos que nos propomos alcançar.

Não existem caminhos que não sejam viáveis e todos podem conduzir a determinado
ponto do mundo. Contudo, somente os viajores irresponsáveis escolherão perlustrar
atalhos perigosos e desfiladeiros obscuros, espinheiros e charcos, no Dédalo de aventuras marginais, ao longo da estrada justa.

Indiscriminadamente, os produtos expostos num mercado são úteis. Mas sob a desculpa do acatamento que se deve a todos, não nos cabe comer de tudo, sem a mínima noção de higiene e sem qualquer consideração para com a própria saúde.

Águas de qualquer procedência liquidam a sede. No entanto, com a desculpa de que todas são valiosas, não é aconselhável se beba qualquer uma, sem qualquer preocupação de limpeza, a menos que a pessoa esteja nas vascas da sofreguidão, ameaçada de morte pelo deserto.

Sabemos que a legislação humana obtida à custa de sofrimento estabelece a segregação dos irmãos delinquentes para o trabalho reeducativo; sustenta a polícia rodoviária para garantir a ordem da passagem correta; mantém fiscalização adequada para o devido asseio nos recursos destinados à alimentação pública e cria agentes de filtragem para que as fontes não se façam veículos de endemias e outras calamidades que arrasariam populações indefesas.

Reflitamos nisso e compreenderemos que assegurar a simplicidade dos princípios espíritas, nas casas doutrinárias, para que as sua atividades atinjam a meta da libertação espiritual da Humanidade não é fanatismo e nem rigorismo de espécie alguma, porquanto, agir de outro modo seria o mesmo que devolver um mapa luminoso ao labirinto das sombras, após séculos de esforço e sacrifício para obtê-lo, como se também, a pretexto de fraternidade, fôssemos obrigados a desertar do lar para residir nas penitenciárias; a deixar o caminho certo para seguir pelo cipoal; a largar o prato saudável para ingerir a refeição deteriorada e desprezar a água potável por líquidos de salubridade suspeita." ("Práticas Estranhas", livro "Opinião Espírita" (1963) - F.C. Xavier)

Assim sendo, o alerta está dado. 

Infelizmente, os interessados em tornar o movimento espírita um celeiro de fantasias muito se aborrecem com esses comentários, mas é preciso que não nos deixemos enganar. Há muitos interesses envolvidos nisso, tanto materiais, quanto espirituais. De um lado, espíritos pseudossábios, autênticos falsos profetas da erraticidade, charlatões da espiritualidade, que revestem suas mensagens das palavras de amor, caridade, etc. apenas com o intuito de melhor enganarem acerca de suas luzes. Ditam o que lhes vêm à cabeça com o intuito de promover a confusão. Do outro, indivíduos encarnados que pouco se aprofundaram no estudo sério da Doutrina Espírita, desejosos por terem sobre si os holofotes e o dinheiro que esse grande mercado da literatura "trash" pseudo-espírita tem proporcionado.

Cabe aos dirigentes espíritas discernir que "tolerar" não significa o mesmo que "transigir". Toleramos a todos, amamos a todos, mas a título de amar não nos é lícito conspurcar aquilo que nos é mais caro: o Espiritismo e sua missão de libertação das consciências das faixas da ignorância, causa primária de tudo aquilo que causa sofrimento e impede as almas de voarem mais celeremente rumo à perfeição.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ramatis, Pietro Ubaldi, Roustaing e Edgard Armond

Por Cirso Santiago

Obras sobre o apocalipse geram uma apreensão desmedida nas pessoas, amendrontado-as.

"Ramatis, Pietro Ubaldi, Roustaing e Edgard Armond há muito tempo estão na berlinda e seus críticos já dissecaram suas obras de cabo a rabo. Considerei que o que já foi dito bastasse para o público compreender os equívocos que esses escritores cometeram em relação à Doutrina Espírita.

Todavia numa roda de amigos, em que falávamos sobre Espiritismo, veio à baila esses personagens e fiz rápida explanação sobre as trajetórias deles pelo movimento espírita brasileiro. E qual não foi a minha surpresa quando um companheiro, com boa bagagem de conhecimento doutrinário me disse: "Agora, sim, estou entendendo certas críticas referentes a essas figuras. Creio que o grosso do movimento espírita fica um tanto confuso diante das críticas que se fazem a eles porque não os conhecem de uma maneira mais global. Por que você não escreve sobre esse assunto?".

- Não escrevo, porque não me acho capaz de fazer um trabalho melhor do que aquilo que já está na praça! Foi o que eu disse ao meu interlocutor, procurando eximir- me de tão difícil tarefa. E ele me deu o cheque-mate:

- 'Escreva o que você acabou de nos dizer que basta!'

Prometi-lhe refletir melhor sobre a sugestão. Dias após, concluí que a sugestão tinha sua razão de ser e me propus a passar para o papel o seguinte:

RAMATIS

É um Espírito que há muito se infiltrou no movimento espírita brasileiro com a cumplicidade do médium paranaense Hercílio Maes. Juntos, Espírito e médium escreveram várias obras, que deixam muito a desejar quanto a pureza doutrinária. Eis algumas delas: "Fisiologia da Alma", "O Evangelho à luz do Cosmo", "Elucidações do Além", "Magia de Redenção", "Mediunismo", "Mediunidade de Cura", "Missão do Espiritismo" e outras.

Não se pode negar que Ramatis é bastante inteligente e muito sagaz e, portanto, sabe disfarçar seu desconhecimento doutrinário, ou incoerência consciente doutrinária. Logo ganhou adeptos fervorosos e seus livros invadiram o nosso meio. Suas obras não só apresentam senões doutrinários, mas também fortes pitadas de orientalismo, verdadeiros enxertos inconvenientes à Doutrina Espírita. Mas sendo sagaz como é, não deixa de expressar aqui e ali pensamentos razoáveis, com pretensão estudada de confundir o público leigo. Desde sua estréia no movimento espírita nacional a crítica o tem sob sua mira, mas a coisa ficou feia mesmo foi quando veio à lume "Vida no Planeta Marte", em que ele foi longe demais e desvelou suas fantasias. A crítica especializada desceu-lhe o porrete, mas nessa altura esse Espírito já tinha feito escola por aqui e até hoje há espíritas (ou melhor, pretensos espíritas) que se arrepiam ante qualquer análise desfavorável à obra ramatisiana. No meu conceito Ramatis é espiritualista, mas não espírita.

PIETRO UBALDI

Nasceu na Itália e acabou, graças a alguns mecenas, radicando- se no Brasil. Desenvolveu sua mediunidade à margem dos ditames espíritas. Não sei se ele chegou a estudar as obras kardequianas, se chegou não deve tê-las aceitado integralmente. Kardec nunca lhe foi um paradigma. Ele sempre quis voar mais alto. Tinha idéias próprias e não iria submeter-se à Codificação Espírita. Mas como o brasileiro é um eterno louvador do que vem de fora, Ubaldi em pouco tempo fez aqui grandes amigos espíritas, alguns destes até muito importantes dentro do nosso meio, o que lhe facilitou o seu percurso no Brasil. Certa vez, em Pedro Leopoldo-MG, chegou mesmo a sentar-se ao lado de Chico Xavier para psicografar uma mensagem. Sua linguagem mediúnica, porém, nunca teve a simplicidade e a claridade que vemos na linguagem xaveriana. Ficou por aí apresentando seus ensaios filosóficos que nada tinham com o Espiritismo autêntico. Sua preocupação, na verdade, sempre foi a de criar um movimento próprio: o ubaldismo.

Teve ímpeto de explicar a essência de Deus. Veja só até onde pode chegar um homem incensado. Seu livro de maior alcance foi "A Grande Síntese". O movimento espírita brasileiro se deslumbrou diante dessa obra. Mas muitos que a leram não a entenderam, apenas louvaram, pois é muito mais fácil louvar do que confessar ignorância. Depois disso, que eu saiba, não saiu mais nada de fôlego de seu lápis que ganhasse a mesma notoriedade de "A Grande Síntese". Mas ele só caiu mesmo na malha dos críticos mais exigentes quando se revelou adepto do monismo (o que é isso? O Aurélio é quem explica: monismo é Doutrina Filosófica, segundo a qual o conjunto das coisas pode ser reduzido à unidade, quer do ponto de vista de sua substância, quer do ponto de vista das leis lógicas ou físicas, pelas quais o universo se ordena. (O monismo poderá ser materialista ou espiritualista, lógico e físico). Escorando-se nessa tendência Ubaldi criou uma teoria própria que corre paralela ao Espiritismo que nada tem a ver com este. Ao meu ver Pietro Ubaldi foi um espiritualista, mas não espírita.

J. B. ROUSTAING

Foi destacado advogado da Corte Imperial de Bordeaux, na França. A vaidade doentia estava à flor de sua pele. Após ler "O Livro dos Espíritos" e "O Livro dos Médiuns", ambos de Allan Kardec, meteu em sua cabeça que com o auxílio dos Espíritos Superiores poderia fazer uma obra superior àquelas duas. Note-se que em matéria espírita ele era calouro. Mesmo assim, não demorara a evocar entidades espirituais para efetivar seu sonho: superar Allan Kardec. Ele procurou a médium Emilie Collignon, também uma novata na lide da mediunidade e com sua cumplicidade evocou o Espírito João Batista. Imagine! Logo o precursor de Jesus.

Claro, Roustaing não poderia deixar por menos. Se Kardec se relacionava com o Espírito da Verdade, ele pelo menos tinha que ter à disposição um João Batista. Mas como Espírito não carrega carteira de identidade, o vaidoso advogado foi ludibriado, conforme atesta sua obra "Os Quatro Evangelhos". Atrás do falso João Batista vieram Moisés e os evangelistas João, Lucas, Marcos e Mateus. Supostamente foram essas figuras do cristianismo nascente que passaram no século XVIII a citada obra a Roustaing, via Collignon.

A obra, além de mistificadora, traz um subtítulo que é verdadeira afronta à Doutrina Espírita: "Revelação da Revelação". É muita pretensão, pois essa obra não suporta uma simples análise à luz do Espiritismo e não é espírita, pois nem Roustaing, nem a médium, muito menos os espíritos que a escreveram eram espíritas, quando muito eram espiritualistas. Se a primeira condição de uma obra espírita é ter o "imprimatum" da universalidade, "Os Quatro Evangelhos" é refutado aí, pois foi recebido apenas por uma médium. Quando essa obra chegou às mãos de Allan Kardec, ele elegantemente a refutou, insinuando que era uma obra prolixa, pois disse que em vez de três volumes, o que ali está escrito poderia ter sido enfeixado em dois e até mesmo num volume e o leitor ganharia com este enxugamento. Mais tarde, Kardec ainda lembrou-se dela dizendo que houve precipitação em trazer a lume certos assuntos como o corpo fluídico de Jesus e prometeu desenvolver esse tema com maior profundidade. O que de fato o fez em “A Gênese”. E disse que o tempo se encarregaria de aprovar ou não a obra de Roustaing. Na França, ela não teve qualquer sucesso. Vindo para o Brasil, porém, encontrou aqui os diretores da FEB, da época, receptivos e generosos. Logo a FEB, que se intitula representante mor do Espiritismo no Brasil, introduziu no movimento espírita brasileiro essa obra que representa por razões óbvias o 1º Cisma do Movimento Espírita. Não só a introduziu, como ao longo dos anos vem lhe dando guarida em detrimento à Codificação Espírita. A obra em questão é espiritualista e a FEB se diz espírita. Não é um contra-senso? E ainda para a nossa reflexão, faço aqui uma pergunta que já fiz alhures. Se essa obra foi publicada quando ainda o Espiritismo estava para ser concluído, pois Allan Kardec ainda não havia publicado "A Gênese", com que fechou a Codificação da Doutrina Espírita, por que os espíritos que a ditaram à médium Collignon não a ditaram para o Codificador? Será que esses espíritos já haviam pulado da barca de Jesus? Isto, no mínimo, é muito suspeito! É bom que se diga que no passado muitos espíritas de renome se diziam roustainguistas. Mas assim que leram a obra de Roustaing calaram-se ou tornaram-se os seus maiores críticos. E alguns até mesmo depois de desencarnados jamais falaram um "o" a favor dela, a não ser dentro da FEB. Será que isso não diz nada?

EDGARD ARMOND

(O Comandante Edgard Armond, como era chamado). Oficial da Força Pública do Estado de São Paulo, hoje denominada Polícia Militar, chegou à Federação Espírita do Estado de São Paulo em 1939. Nessa época, a FEESP dava seus primeiros passos, já que foi fundada em 1936. Homem inteligente e de palavra fácil, o Comandante Edgar Armond foi pouco a pouco conquistando o seu espaço dentro da Instituição Federativa. Lembremos que naquele tempo a literatura espírita era escassa. Existiam os livros da Codificação e além deles um ou outro livrinho de produção independente. A promissora obra de Francisco Cândido Xavier, o nosso Chico Xavier, estava ainda nos seus primeiros degraus. Armond logo constatou isso e começou a escrever uns livrinhos mais simples, próprios para os iniciantes à Doutrina Espírita. Eu diria que a inspiração dos cursos de Espiritismo que até hoje estão em pleno vigor na FEESP nasceu das páginas desses livrinhos do Armond. Cursos esses que estão em todos os quadrantes do movimento espírita brasileiro e quiçá do exterior. O Comandante Armond chegou, então, à Diretoria da FEESP. E como Secretário Geral organizou a "Escola de Médiuns" e a "Escola de Aprendizes do Evangelho". Hoje estas escolas acolhem mais de cinco mil alunos. E criou também o passe padronizado que tem causado muita polêmica, porque é um ritual muito distante da prática espontânea, intuitiva que fora exemplificada por Jesus.

Sua bibliografia compõe-se de 25 obras. As que fizeram mais sucesso foram "Passes e Irradiações" e "Os Exilados de Capela". Foi ele também que trouxe para o nosso meio a "Cromoterapia", que nada tem a ver com a Doutrina Espírita, mas que hoje está espalhada graças um opúsculo escrito por ele e publicado pela Editora Aliança. Devemos a ele também essa enxertia.

Em maio de 1944, o Comandante Armond fundou o jornal "O Semeador", órgão doutrinário da FEESP. Apoiado por um grupo de amigos fundou ainda a Instituição Espírita "O Lar do Amor Cristão", em São Paulo e foi um dos signatários da Ata de Fundação da USE - União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo. Além da Cromoterapia e do passe padronizado que ainda hoje causam discussões no meio espírita e certamente serão questionados pelas gerações espíritas do futuro, devo ainda mencionar que suas obras estão carregadas de conceitos orientalistas, pois ele foi um grande estudioso das principais religiões orientais. Termos como "chacras" e "carma" e outros de origem oriental foram enxertados por ele no movimento espírita brasileiro. Há ainda em suas obras um legado místico muito forte que tomou o movimento espírita brasileiro de assalto. Não bastasse o bolor igrejeiro do roustainguismo, o misticismo e o orientalismo do Comandante Armond também trouxeram prejuízos sérios ao movimento espírita brasileiro.

Alegando problemas de saúde, Edgard Armond deixou a FEESP em 1966. E o estrago armondista no movimento espírita brasileiro iria se completar com a criação, por ele próprio, da Aliança Espírita Evangélica que nasceu com vocação um tanto velada, a princípio, federacionista e tornou-se em pouco tempo, em nosso Estado de São Paulo, concorrente da USE e da FEESP.

A Aliança Espírita Evangélica é fortemente mística e orientalista e os centros "espíritas" capitaneados por ela são todos místicos e orientalistas, o que traz ao Espiritismo um dano imensurável. Tudo isso é uma pena, pois a herança do Comandante Armond poderia ter sido bem melhor. Essa minha análise, ainda que superficial, me autoriza a considerá-lo também, espiritualista, mas não espírita."

(Publicado no Correio Fraterno do ABC Nº 365 de Junho de 2001)

Fonte original: espirito.org
Retirado do Blog "Ramatis, Sábio ou Pseudosábio?"