Por Licinio Castro
- Eu sou o Demônio!
- Não és. Isso eu te digo com a mais absoluta certeza.
- Mas como ousas dizê-lo? Queres asseverar que eu não sou o que sou?
- Não és o que julgas ser.
- Que audácia! Como me explicarias esse absurdo? Porventura ignoras que eu sou protagonista na Bíblia e nas religiões?
- Insisto em assegurar-te que não és esse personagem fictício, ainda hoje capaz de apavorar tanta gente.
- Fictício? Enlouqueceste, por acaso? Não estás me vendo e me ouvindo, e ousas afirmar que não existo?
- Não só não existes, como também jamais poderias existir. Não és O, mas apenas UM demônio. Compreendes, agora?
- Não. Eu fui criado para fazer sempre o mal e tramar a queda de todas as almas. Eu consegui tentar até o Crucificado
- Enganas-te. Deus só cria para o bem: tu é que te imaginas predestinado à maldade. Lembra-te que também és criatura de Deus. Quanto às tentações sofridas pelo Mestre, trata-se de provável equívoco do texto bíblico. Admitirias a possibilidade de provação pecaminosa em alguém já aureolado pelas mais nobres conquistas da angelitude? Os anjos são inacessíveis a quaisquer influenciações da animalidade.
- Mas eu consegui induzir o Sinédrio a crucificar Jesus. Eu ainda o vejo vencido, humilhado e morto no Calvário.
- Não conseguiste coisa alguma. O Mestre desencarnou daquela forma porque quis. Na verdade, não foi vencido, venceu; não morreu como ser aniquilado, pois prossegue, triunfante, na realização de sua obra redentora da Terra e de sua humanidade.
(O Demônio senta-se na relva, em postura meditativa, enquanto o sol delineia, no horizonte, os primeiros acordes da sinfonia do poente.)
- Tu me confundes com essa dialética estranha. Então, não há um só mas vários demônios?
- Sim. São os próprios homens, quando empenhados na transgressão da Lei.
- E qual seria, na tua cosmovisão, o destino deles?
- Todos se tornarão anjos, depois de burilados pela dor e iluminados pelo Amor. Os santos de hoje são os pecadores de ontem, como os pecadores de hoje são os santos de amanhã. Mas escuta bem: isso não é "milagre" ou "graça", mas conquista individual, pela Lei do Mérito.
- Em que te baseias para ensinar isso?
- Na afirmação categórica do nosso Divino Mestre: "Nenhuma das ovelhas que o Pai me confiou se perderá".
- Oh, tiraram meus chifres, meu rabo e meu tridente! Sou também uma criatura humana, e com esperança de salvação?
- E como não? Também és ovelha do imenso rebanho do Galileu.
- Isso me confunde mais ainda!... quem és tu?
- Um ser humano qualquer, um irmão teu, que já foi muito demônio, porém agora disposto a sair do inferno.
- Do inferno, disseste?
- Claro. Do inferno que cada um cria dentro de si.
(Revista O Espírita – nº 100 – abr/ago-98.)
(Jornal Mundo Espírita de Novembro de 98)
- Eu sou o Demônio!
- Não és. Isso eu te digo com a mais absoluta certeza.
- Mas como ousas dizê-lo? Queres asseverar que eu não sou o que sou?
- Não és o que julgas ser.
- Que audácia! Como me explicarias esse absurdo? Porventura ignoras que eu sou protagonista na Bíblia e nas religiões?
- Insisto em assegurar-te que não és esse personagem fictício, ainda hoje capaz de apavorar tanta gente.
- Fictício? Enlouqueceste, por acaso? Não estás me vendo e me ouvindo, e ousas afirmar que não existo?
- Não só não existes, como também jamais poderias existir. Não és O, mas apenas UM demônio. Compreendes, agora?
- Não. Eu fui criado para fazer sempre o mal e tramar a queda de todas as almas. Eu consegui tentar até o Crucificado
- Enganas-te. Deus só cria para o bem: tu é que te imaginas predestinado à maldade. Lembra-te que também és criatura de Deus. Quanto às tentações sofridas pelo Mestre, trata-se de provável equívoco do texto bíblico. Admitirias a possibilidade de provação pecaminosa em alguém já aureolado pelas mais nobres conquistas da angelitude? Os anjos são inacessíveis a quaisquer influenciações da animalidade.
- Mas eu consegui induzir o Sinédrio a crucificar Jesus. Eu ainda o vejo vencido, humilhado e morto no Calvário.
- Não conseguiste coisa alguma. O Mestre desencarnou daquela forma porque quis. Na verdade, não foi vencido, venceu; não morreu como ser aniquilado, pois prossegue, triunfante, na realização de sua obra redentora da Terra e de sua humanidade.
(O Demônio senta-se na relva, em postura meditativa, enquanto o sol delineia, no horizonte, os primeiros acordes da sinfonia do poente.)
- Tu me confundes com essa dialética estranha. Então, não há um só mas vários demônios?
- Sim. São os próprios homens, quando empenhados na transgressão da Lei.
- E qual seria, na tua cosmovisão, o destino deles?
- Todos se tornarão anjos, depois de burilados pela dor e iluminados pelo Amor. Os santos de hoje são os pecadores de ontem, como os pecadores de hoje são os santos de amanhã. Mas escuta bem: isso não é "milagre" ou "graça", mas conquista individual, pela Lei do Mérito.
- Em que te baseias para ensinar isso?
- Na afirmação categórica do nosso Divino Mestre: "Nenhuma das ovelhas que o Pai me confiou se perderá".
- Oh, tiraram meus chifres, meu rabo e meu tridente! Sou também uma criatura humana, e com esperança de salvação?
- E como não? Também és ovelha do imenso rebanho do Galileu.
- Isso me confunde mais ainda!... quem és tu?
- Um ser humano qualquer, um irmão teu, que já foi muito demônio, porém agora disposto a sair do inferno.
- Do inferno, disseste?
- Claro. Do inferno que cada um cria dentro de si.
(Revista O Espírita – nº 100 – abr/ago-98.)
(Jornal Mundo Espírita de Novembro de 98)
Texto genial!
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