terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ressurreição e Reencarnação: Católicos, Protestantes e Espíritas

Por Dalmo Duque dos Santos

O Cristianismo é uma filosofia moral que abrange os três momentos existenciais do ser humano, bem como as transformações deles decorrentes.

Na infância acontece o plantio da semente num terreno novo, de grandes possibilidades de germinação, porém sujeito a toda sorte de problemas e obstáculos contrário ao seu desenvolvimento. Mostra-se frágil e promissora.

Na adolescência a semente tornou-se uma planta que já sofreu as provas da exteriorização e busca firmar-se no ambientem hostil e perigoso. Mostra-se insegura ou agressiva, porém cheia de esperança no futuro.

Na fase adulta a semente já é uma árvore formada e consciente. Mostra-se adaptada ao ambiente e considera-se realizada dentro do seu plano existencial. Não busca mais nenhuma mudança.

Na perspectiva existencial a árvore é ponto ideal e a finalidade última da semente. A morte representa o fim.

Porém, na perspectiva consciencial, a árvore é o ponto ideal, mas não significa o ponto final. Além desse ponto abrem-se outras possibilidades de novos pontos ideais. A morte física e existencial pode ser seguida de uma segunda morte, uma crise ressurreicional na qual o ser desperta para novas e ilimitadas experiências mentais. Isso vai depender da sua maturidade e da sua vontade de transformação interior. Para ocorrer a ressurreição antes deve ocorrer um processo de amadurecimento e renovação através da reencarnação. A reencarnação é a porta de entrada das existências. A ressurreição é a porta de entrada da Vida. É por esse motivo que a transformação essencial do ser humano sempre ocorre na infância, que representa o reinício, um recomeço de outras existências que passaram e das quais se acumularam experiências mentais. A reencarnação seria a Porta Larga na qual ingressamos com muitas promessas de renovação e, todavia, nos acomodamos com as facilidades e ilusões do mundo carnal. Já a Ressurreição é a Porta Estreita diante da qual quase sempre recuamos, pois representam as provas e vicissitudes. As duas portas se apresentam constantemente em nosso caminho na forma de situações contraditórias e nas quais temos que fazer escolhas e usar corretamente o livre-arbítrio.

Na perspectiva histórica existencial o Catolicismo é a fase adulta do Cristianismo. O Protestantismo é a fase adolescente e o Espiritismo a sua infância, pois renasceu recentemente. No entanto, se analisarmos pela perspectiva histórica consciencial, essas posições se invertem e se nos revela a verdadeira face da transformação e da evolução espiritual do ser.

No catolicismo filosofia fossilizou-se na perspectiva existencial e bloqueia, pela tradição dogmática, qualquer possibilidade e interesse pela transformação. A morte vale mais que a Vida , pois é vista como um martírio que nos livra da culpa dos pecados.

No protestantismo a filosofia cristã persiste na ótica existencial e agoniza, não só pela tradição dogmática, mas também pelo medo terrificante do fracasso e da crença na eternidade do inferno. A morte é vista como uma punição que antecede o julgamento do Juízo Final. A transformação é superficial e enganosa, alimentada pela crença de que o arrependimento é suficiente para nos livrarmos dos pecados e da culpa. Nas duas situações anteriores, a mente humana faz o ser mentir para si mesmo, como fuga e defesa, negando a relação de causa e efeito entre o erro e o sofrimento. A religiosidade foi pervertida e tornou-se religião.

No Espiritismo a filosofia cristã reacende a religiosidade, porém rejeita a religião; aceita a ótica consciencial, reconhece a utilidade existencial, mas não se escraviza a ela e liberta-se dos dogmas. Ao fazer a necessária relação de causa e efeito entre o erro e o sofrimento, o ser passa a dar mais valor à necessidade de transformação interior. Isso não significa que ele consiga realizá-la de imediato, pois é apenas um entendimento racional e intelectual. A mudança efetiva só ocorre quando se processa uma compreensão integral da sua condição (razão, sentimento e ação). Ao aceitar a realidade consciencial, ou seja, que além do corpo e da morte existem outras experiências, se estabelece uma harmonia entre a visão existencial e a consciencial, que antes era conflituosa, dialética. Diminuem então as fugas, os medos irracionais e o caminho para as escolhas ficam mais abertos às decisões sensatas. As portas largas vão sendo trocadas pelas portas estreitas, de experiências mais valiosas e qualitativas. Mesmo estando na infância existencial o Espiritismo goza da maturidade consciencial, pois, através da compreensão da reencarnação (que não é uma crença, mas uma lei natural) penetra na essência espiritual do ser, que é a sua verdadeira ressurreição.

Dalmo Duque dos Santos é Bacharel em História, Mestre em Comunicação e licenciado em Pedagogia. É autor dos livros “A Inteligência Espiritual” e “Você em Busca de Você Mesmo”.

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