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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Repensando Jesus - Parte II


Por Maria Ribeiro

 Dar-se-á continuidade a respeito das ditas mensagens psicografadas que trazem revelações da vida de Jesus não contadas nos Evangelhos. Pois bem, estes textos caíram no gosto de grande número de adeptos e são utilizados inclusive para basearem os estudos realizados nos Centros quando o tema é a figura do Mestre.

Sem querer repetir o que grandes estudiosos do passado e do presente incansavelmente dizem, há nisto grande perigo, e o mais imediato é realmente a assimilação de tais ensinamentos pelos não estudiosos com sua consequente permanência na ignorância. Coisas que parecem inofensivas podem causar, como tem causado, grandes transtornos no ME.

Não se pode negar que trata-se de empreendimento por demais audacioso, e claro, temerário. Até certo ponto, também as tentativas de interpretações de passagens evangélicas caíram num terrível vício de floreações por demais exageradas, trocando as falas simbólicas do Cristo por outras simbologias, muitas vezes vagas e sem fundamento prático. Há inúmeras obras disseminadas no ME de conteúdo pretensamente "evangélico", para cujas interpretações deve ter havido um esforço enorme de imaginação.

Sobre isto, entretanto, é preciso que fique muito claro que tanto os escritores quanto suas obras são respeitados, mediante a fraternidade que deve unir todos os homens. Mas até certo grau, pois nenhuma literatura pode superar aquela trazida pelos Espíritos Superiores na Codificação. Quando a Codificação deixa de ser o parâmetro então se torna difícil que os confrades se dialoguem, pois que falarão de coisas diversas.

A Doutrina Espírita é como o cérebro e a medula espinal que comandam as funções do corpo e seus membros, de maneira que, se por alguma razão, os membros começam a ganhar vida própria e a agir por si mesmos, caminharão para rumos incertos.

Não se trata de querer impor o conhecimento trazido pela Doutrina como o único verdadeiro, trata-se de admitir que o conhecimento trazido pela Doutrina teve um mestre criterioso, sensato, racional. Aliás ele próprio garantiu que haveria complementos, já que a Doutrina Espírita é uma ciência e como tal não estará estagnada. O grave problema é que as falas consideradas "complemento da Doutrina" simplesmente a contradizem sem nenhum constrangimento, sendo aceitas sem critério algum por boa parte de adeptos deslumbrados com as "novidades".

Os textos da Codificação não foram poupados, pois também surgiram os que querem "interpretá-los!"

Com poucos minutos de conversa é possível reconhecer os que "se formam" fora da escola kardequiana: acham que sua literatura  agradável, floreada e poética lhes ensina tudo sobre Espiritismo; acreditam que a instituição que se intitula para o ME quase que como um vaticano para os católicos é simplesmente o máximo, visto que confiável, acima de qualquer suspeita. Geralmente são pessoas "nascidas na Doutrina" ou foram adotadas pelos "donos dos centros", de quem recebem orientações. A verdade é que muitos entraram na Doutrina, mas não percebem diferença entre ela e o Movimento Espírita.

Não se pode ter nada contra o romantismo e a poesia, isto alivia as tensões, as carências. O problema é fazer alguém encontrar lógica nas coisas mais absurdas, às vezes até ridículas.

Sobre as experiências de Jesus nos bastidores dos evangelhos, descritas nas psicografias, já se pôde constatar duas versões distintas para o mesmo fato. Fosse verdadeiro, o desfecho seria o mesmo, obedecendo ao estilo de cada médium-espírito, claro. O que ocorre, entretanto, é que muitos absorvem muito rápido o que ouvem e, como são orientadas a lerem estas obras, sedimentam o erro que cria raiz. Não adquirem o hábito de ler Kardec, e o que chamam livros de estudo, não passam de releituras infiéis de pontos doutrinários mal compreendidos.   

Não bastam os ensinos do Sermão da Montanha, verdadeiro código de ética descrito principalmente no livro de Mateus? Neste, Jesus fala claramente sobre como o homem deve se conduzir consigo mesmo, em sociedade e com Deus.

Jesus entra justamente neste ponto: consta que ele era um homem dócil, brando, meigo. Estas qualidades parecem tocar mais de perto as pessoas. E pensar que nele estas qualidades eram reflexo de sua grande sabedoria, exige um raciocínio que a Doutrina nos propõe quando fala da progressão dos Espíritos. No ME há os que enxergam em Jesus algo tão extraordinário que se esquecem de que ele é um Espírito que evoluiu obedecendo às mesmas leis impostas para todos. 

Mas Jesus era também um homem enérgico e esta nuance de sua personalidade parece não ser muito atraente. 

O homem doce e meigo afaga, compreende, oferece conselhos e um ombro para chorar, cura feridas. Mas o enérgico fala o que é preciso que se ouça, fala o que é preciso ser falado. E fala naturalmente, pois sabe que há uma realidade indesejável, prejudicial, que precisa ser contida. Ele só demonstra energia quando se refere aos teimosos, a pessoas que cometem erros por gosto de fazê-lo. É um homem maduro que ensina de forma que todos  compreendam, de acordo com a maturidade de cada um.

O "Conheça-te a ti mesmo" proposto pelo filósofo da antiguidade e relembrada pelos reveladores da espiritualidade, significa encarar aos próprios defeitos e não fugir deles, fingir que não existem. O que se faz é o que Freud chama de negação - processo mental usado para a recusa da percepção de realidades internas ou não, geralmente fatos ou eventos desagradáveis ou dolorosos. Deve ser por isso que vê-se pessoas insatisfeitas com a Verdade o tempo todo, se debatendo, se magoando por que estão diante de realidades que precisam mudar. Isto é Jesus falando e multidões se recusando a ouvir. 

O problema é que toda mudança requer trabalho e causa transtorno, por isto a inação parece mais cômoda. Então é preciso surgir o homem enérgico, o homem verdade: Jesus.

Metaforicamente, então é o momento de crucificar Jesus, posto que ele é a Verdade.

Para os espíritas a figura de Jesus não pode ser amesquinhada conforme o fizeram outrem. Espíritos Perfeitos sabem todas as coisas. Mas, repetidamente, ouve-se falar em "duas asas da evolução"- referência aos aspectos evolutivos moral e intelectual, pois que não se compreendeu até hoje que o progresso intelectual leva ao moral, infalivelmente; separações de conceitos como "Evangelho e Doutrina", quando os  próprios Espíritos em resposta a Kardec na conhecida questão 625 de O Livro dos Espíritos propagam ser Jesus - seus ensinamentos - o modelo e guia da Humanidade. A imaginação criou com isto uma religião espírita, cheia de dogmas, ritualismos e preceitos que se vê em combate com as contradições criadas por ela mesma ao longo do tempo.

Jesus não é o santo, o inocente que morreu na cruz conforme se ouve nas evangelizações. Jesus é um Espírito hierarquicamente elevado que se propôs a instruir um grupo de Espíritos ignorantes. Daí ele afirmar ser o mestre. Aquela figura de coitadinho não comunga com a real condição de um mestre, muito menos com a condição de Espírito Perfeito...  

Jesus é o símbolo da Moral, dos ricos valores que um homem deve haurir em sua trajetória, não para encontrar-se com Deus, aquele Deus majestoso, "cheio de glórias"... mas para encontrar-se a si mesmo, pois quando isso acontecer, Deus terá deixado de ser um mistério, suas leis magnânimas serão parceiras benquistas do Homem Moralizado.

Em algum momento da eternidade, o Espírito que surgiu a dois mil anos sob o nome de Jesus nada mais era do que alguém em condições parecidas com as que se conhecem: dificuldades, defeitos, falhas, erros, quedas. Num outro momento da eternidade, o Homem Moralizado será também um símbolo da Moral para outros homens ignorantes.

É a lei da vida - solidariedade.

  • Leia aqui a primeira parte deste texto.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Repensando Jesus


Por Maria Ribeiro

Poderia ser uma experiência interessante e até mesmo oportuna fazer uma reflexão (mais uma!) acerca da personalidade de Jesus.

Todo mundo sabe que a História não registrou sua existência, com raríssimas referências sobre sua pessoa, escritas pelo seu contemporâneo, o historiador Flávio Josefo. Tudo o que se sabe se deve às tradições orais, aos escritos dos evangelistas, e só.

Alguns Espíritos resolveram se aventurar, mandando mensagens através das potencialidades mediúnicas, no mínimo, incautas, sobre a vida de Jesus, suas experiências nos “bastidores” com os apóstolos e outros personagens, sempre trazendo um ensinamento de fundo moral cujo teor até pode auxiliar alguns em algumas ocasiões, mas não parece vir de um Espírito conhecedor da humanidade na qual veio conviver. 

Os que acompanham o Movimento Espírita através das reportagens dos diversos blogs sabem que vive-se uma tensa discussão a respeito dos pontos fundamentais da Doutrina que se tornaram para alguns uma verdadeira “polêmica”: uma delas é justamente sobre o seu tríplice aspecto – científico, filosófico e moral.

O Movimento Espírita brasileiro se vê dividido entre os que querem um Espiritismo laico e os que o querem “religioso”. É preciso salientar que ambas as posturas estão equivocadas. Nas palavras do próprio Kardec o Espiritismo não é uma religião constituída, segundo a acepção que se dá ao termo religião, mas também o Espiritismo é cristão, pois o Cristo é o Ser que melhor nos instruiu, fazendo-o sob a égide da Verdade.  

Jesus era judeu e em diversos momentos agiu como tal, sem prejuízo para sua doutrina de Amor, e isto demonstra que não são as atitudes exteriores que tornam o homem mais ou menos digno, mas suas convicções no Amor, no Bem.

O termo cristão foi proposto, segundo a tradição, por Lucas, companheiro de Paulo em algumas viagens e autor do 4º evangelho e do livro dos Atos dos Apóstolos. Portanto pode-se afirmar que Jesus, sendo o Cristo (ungido), não era ele mesmo cristão. 

As mensagens que causaram e permanecem causando espanto levam o título de cristãs em referência à pessoa de Jesus em sua condição espiritual que ninguém duvida – elevadíssima, um Espírito Puro.

E porque causam espanto? Porque fala a Verdade sobre a intimidade de cada um. Quando Jesus diz: “Ninguém vem ao Pai senão por mim”, ele não fala de sua própria pessoa, mas do que sua pessoa representa. Muitos afirmam que o mundo deverá se tornar “cristão” para que a paz reine. Se esquecem das diferentes culturas onde a pessoa do Cristo jamais seria aceita, mas onde suas orientações revestidas da cultura local podem fazer muitos adeptos. 

Um exemplo clássico é do abnegado Mohandas Gandhi que, sem ser cristão segundo a acepção que a palavra tomou, agiu como um seguidor do Cristo, como um seguidor de Jesus. Sua vida foi marcada por diversas ações dignas de um verdadeiro homem de bem. 

Isto quer dizer que não há ninguém, nenhum Espírito, (nem mesmo Jesus), preocupado em disseminar o nome de Jesus por toda a Terra, mas disseminar sua mensagem, que vence as fronteiras do tempo, do espaço, do preconceito e da ignorância. Isto faz inferir que nenhum ser ficará ou algum dia ficou desprovido de orientações para se guiar no mundo, mesmo que por meio de outras personalidades enviadas pelo nobre Espírito a que chamam Jesus.

Não se pode conceber um Jesus pregando uma caridade impraticável, para não dizer indigesta. Jesus sabia disso muito bem, tanto que com a Doutrina Espírita, diz: amai-vos e instruí-vos. Conhece a ignorância de cada Entidade reencarnada na Terra. Sabe que é através da instrução em todos os campos que se conseguirá conhecer e acima de tudo compreender o Amor que ele propõe. E não em divagações floreadas, tão comuns hoje em dia.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Por que mataram Jesus?


Por Octávio Caúmo Serrano

Com base na Lei da Reencarnação, poderíamos perguntar: Por que matamos Jesus?

Quantas vezes criticamos um personagem da história, um carrasco equivocado, sem desconfiar que podemos estar falando de nós. Aquele soldado que teria dado violenta estocada no Cristo, segundo os Evangelhos, poderia ser um de nós, hoje escandalizados e penalizados com o ocorrido:
"Um soldado tomou uma lança e furou-lhe o lado, e saiu sangue e água. Novamente Jesus clamou com alta voz e entregou seu fôlego. E eis que a cortina do Santuário rasgou-se em dois, do alto a baixo, e a terra tremeu, e as rochas se fenderam" (Mateus - Cap. 27, Vs. 49/51)
O que nos falta ainda aprender é que ninguém é gênio para a sua própria geração. Os sábios fazem revelações que só podem ser compreendidas depois que a vida provar a sua verdade, o que geralmente só acontece depois de muito sofrimento. Isto ocorreu e continuará acontecendo em todas as épocas da humanidade. Além de Jesus, quantos líderes foram perseguidos, feridos ou mortos e mais tarde reverenciados pelos homens. Seja na religião, na política, na arte, na filosofia ou qualquer tipo de atividade onde atuaram.

Fôssemos nós viventes da época de Jesus e também não teríamos concordado com Ele em tudo o que dizia e fazia. Para Ele foi difícil semear o fruto do futuro porque o povo daquela época estava com os costumes mosaicos arraigados e dizer-lhes que tudo aquilo era grande tolice haveria de chocá-los. Como dizer que as oferendas não tinham nenhum poder para sensibilizar Deus! Ainda hoje, quando dizemos que promessas e penitências são tolices, somos combatidos. Para nós ainda é o caminho mais curto e cômodo para solucionar problemas.

Esta é a razão por que Jesus teve de fazer um ajuste nas suas palavras e sugerir que antes de fazer a oferenda nos reconciliássemos com os adversários, porque este, sim, era um sacrifício agradável a Deus (Mateus V, 23/24).

Se transferirmos a proposta de Jesus para os nossos tempos, veremos que, ainda hoje, poucos de nós estamos dispostos a aceitá-la com a simplicidade como nos foi deixada. Preferimos as facilidades das oferendas modernas, acendendo velas ou usando talismãs. “Velho adágio já nos adverte que se pé de coelho desse sorte o coelho não teria morrido.”

Jamais censuremos os que traíram Jesus porque poderá ser uma autocensura. Se vivemos por lá naquele tempo, mais fácil que estivéssemos entre os fariseus, saduceus, escribas, vendilhões do templo do que tivéssemos sido um dos Apóstolos de Jesus ou seguidores de seus principais divulgadores. Basta ver-nos hoje, egoístas e orgulhosos, para saber que nunca fomos melhores e que, continuamos traindo Jesus, negando-nos a seguir suas sábias lições.

Quando retratam o sofrimento de Jesus nas representações de teatro ou cinema, tenhamos a certeza de que por mais violentas que as cenas pareçam, seguramente, elas foram na vida real muito piores.  Afinal, Jesus mexeu com os poderosos da época, desmascarando – ainda que apenas por exemplos e atitudes – a mentira e a falsidade. E quando os poderosos se sentem acuados, reagem de maneira intempestiva e violenta, desrespeitando qualquer regra de respeito e hierarquia. Defende-se a qualquer preço porque se dar bem é só o que lhes importa. Certamente, Jesus não escapou à ira daqueles que tinham o privilégio do manejo da sociedade da época. A ponto de ter sido morto após julgamento ilegal. Nem os mais elementares direitos humanos de justiça foram respeitados.

Em vez de ter pena de Jesus, tenhamos pena de nós, por não termos ainda, depois de quase vinte séculos, entendido nada sobre as orientações do Meigo Rabi da Galileia que nos deixou as verdadeiras receitas de felicidade.

Jornal O Clarim - fevereiro de 2013

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Competições

Por Octávio Caúmo Serrano

O mal do mundo são as disputas. Para que alguém vença sempre há outro, ou muitos outros, que perdem. Isso significa que a alegria e o riso de alguém são sempre conquistados à custa da tristeza e do choro dos demais. Não somos educados para competir, mas para ganhar.

Embora as competições possam parecer um estímulo para que o homem vença e se supere cada vez mais, o ideal seria que ele lutasse contra si próprio, combatendo tenazmente os seus defeitos, principalmente no sentido de ser mais humano, mais fraterno, mais tolerante e olhasse o semelhante como alguém igual a ele mesmo, com os mesmos sentimentos, com as mesmas necessidades e com os mesmos desejos de ser feliz.

Além disso, geralmente, o vencedor tripudia sobre o perdedor, como se não lhe bastasse o fato de haver vencido. Vejam o que acontece num campo de futebol. Fora simplesmente um extravasar de alegria e até poderíamos compreender, mas estabelece-se uma rivalidade tal que chega à agressão física, muitas vezes, com graves conseqüências.

Quando levamos a competição para o campo religioso, aí fica incompreensível. A pretensão de certas igrejas de terem o monopólio da salvação é algo que não podemos aceitar em se tratando de analisar Deus, o Pai de extrema misericórdia, que julga seus filhos apenas pelos atos e não pelos rótulos religiosos de seitas criadas por homens para seus próprios interesses.

Por isso é que o Evangelho do Cristo, que nada mais é do que a orientação e explicação da Lei Maior, é alvo de tantas interpretações. Já se diz popularmente que cada um lê o Evangelho  no versículo que lhe convém, dando interpretação  conforme suas conveniências.

Fora tão simples chegar ao chamado Reino dos Céus pela simples adesão a uma doutrina, seja qual for, e o problema das dores na Terra estariam resolvidos. Todos nós nos converteríamos à tal igreja milagrosa e seríamos salvos. Ainda que fosse necessário dar o dízimo. Afinal a salvação tem seu preço. Pena que o valor da salvação não seja pago com dinheiro, mas com obras. Em favor do próximo e em favor de nós mesmos. Caridade com todos sem desprezar a auto-caridade. Quem não se ama não pode amar o próximo.

Isto tudo acontece porque somos espíritos atrasados, habitantes de um planeta de provas e expiações. Enquanto perdurar esse estado de coisas, inútil esperar pela paz na Terra. A paz só existirá quando pensarmos mais nos outros do que em nós. Utopia? Fantasia? Não. Alternativa única para conquistarmos a felicidade.

Se quisermos entender porque isso acontece é fácil. Porque esse tipo de ação nos deixa de consciência tranqüila. Enquanto magoarmos alguém, não seremos plenamente felizes; enquanto nos omitirmos diante da dor do semelhante não curaremos nossas próprias dores.

Jesus já nos ensinou esse mecanismo com tanta clareza. Entretanto, continuamos incapazes de entender. Que pena!... O prejuízo é somente nosso e a Terra continuará sendo esse vale de lágrimas!

Estes tempos de festas são um belo período para meditação e análise de nossas vidas e o que devemos mudar em nós para apressar a nossa evolução na direção da espiritualidade e assim voltar para casa em melhores condições do que aqui chegamos.

Dia-a-Dia do Jornal O Clarim de dezembro de 2011

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

El Óbolo de la Viuda

Por Octavio Caúmo Serrano

Clique aqui para a versão em português.

Dice el Evangelio, que estando Jesús en el templo, ante el gazofilacio, hizo observación a los discípulos mostrando que losque depositaban grandes sumas, daban menos que la viuda que daba la única moneda que poseía.

Esa advertencia es bastante importante, porque es común que nodemos nada porque no podemos dar mucho. ¿De qué sirve un simple pan que yoofrezca, ante el la enorme hambruna del mundo, decimos muchas veces?

Para entenderla importancia de ese pan, recordemos a la Madre Teresa la benefactora de Calcuta, que afirmó ciertavez que su trabajo no pasaba de unasimple gota en el océano. Completo, noen tanto, que sin esa gota el océanoseria menor, la Madre Teresa jamás fuevanidosa de su trabajo, pero tambiénaprovechaba para enseñar siempre que tenía oportunidad.

Lo mismodecimos del pequeño pan. No acabará con la miseria del mundo, más, por lo menosen ese día, una criatura pasará menos hambre.

Cuando observamos el movimiento espirita percibimos que pocas personas dan el óbolo dela viuda. Se sienten incompetentes para los grandes trabajos, con miedo de laresponsabilidad y sin disposición para el estudio y preparación de la tarea, y, por eso quedan de brazos cruzados. Sinpoder ejecutar trabajos que juzganrelevantes no se disponen a realizar losservicios modestos.

El óbolo de laviuda no precisa ser necesariamente ofrenda material. El abrazo cariñoso, lapalabra de estimulo, facilitar el hombro para alivio del otro, la oraciónsilenciosa a favor del que sufre, el auxilio al anciano que va a cruzar lacalle, la educación en el transito y eluso rutinario de por favor, agradecido, pido permiso, disculpe.

Lo que dificulta el entendimiento del Evangelio traído por Jesús es nuestro exageradoapego al mundo material, hasta el punto de olvidarnos del significadoespiritual de las orientaciones.

Cuando hacemos una compra, si falta un real no conseguimos pagarla. Esa miseria que falta seda sin la convicción de su utilidad es la migaja que falta para completar unconjunto mayor. Cuando tomamos un remedio, si en vez de diez gotas tomáramosnueve, ocho u siete, el remedio no haría efecto. Una máquina para por la quiebra de un minúsculo tornillo o deun componente electrónico imperceptible.

Tenemos que convencernos que no hay inutilidad y quenadie está sin valor. Todos tenemos nuestra parte en la sociedad y, por pequeñoque parezca, siempre es algo relevante. El soldado no tiene importanciajerárquica del capitán más el es en que enfrenta al delincuente y corre riesgo de muerte endefensa de la población.

Sea cual seanuestra posición en la vida podemos practicar algún tipo de caridad: material oespiritual. No perdamos la oportunidad porque la recompensa es siempre grande,a mil por uno.

¡Que Dios nosayude!

Publicado no jornal O Clarim de julio de 2011
TRADUCIDO POR: M. C. R.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Natal - Festa Real de Jesus

Por Suely Caldas Schubert / Carlos Augusto Abranches

Feliz Natal! Natal se aproxima. Bem antes do tempo as vitrines enfeitadas convidam as pessoas a se lembrarem da época dos presentes.

Nesta fase aguda de crise é preciso recordar mais vivamente que o tempo do Natal esta chegando e é necessário provar aos parentes e amigos que pensamos neles.

Feliz Natal! Para muitos, esta pequena frase não se realiza tão facilmente quanto é pronunciada.

Cercado de presentes, diante de iguarias, o ser humano não está feliz.

Nele, vai uma emoção tocada de incompletude, como se algo ou alguém estivesse faltando.

Lá fora, na noite, noutras casas onde a luz escasseia e a mesa é pobre também se ouve: Feliz Natal! Lá e aqui a Noite Feliz parece não significar quase nada, a não ser o estranho paradoxo de se ter que aparentar felicidade porque assim é estabelecido. Afinal, o que se está comemorando? Um repórter, em movimentada avenida, perguntando aos transeuntes, que saem das lojas com embrulhos e sacolas, o que se comemora no dia 25 de dezembro, possivelmente obtivesse respostas variadas entre estas alguém se lembrasse de dizer que é a data do nascimento de Jesus.

Mas, por mais que se procure o aniversariante, Ele não é encontrado.

Não há qualquer sinal nas ruas e lojas.

A exata compreensão do Natal sugere uma averiguação histórica quanto a data do nascimento de Jesus. Os pesquisadores não são unânimes em afirmar que ocorreu em dezembro, porque, na história do Cristianismo primitivo, os primeiros cristãos não tinham o hábito de celebrar o Natal, por considerarem a comemoração um costume pagão.

As primeiras observações acerca do nascimento aparecem por volta do ano 200. 0 dia 25 de dezembro foi mencionado em 336, o que não impedia que em outras datas também ocorressem os festejos, como, por exemplo, no dia 06 de janeiro, ate hoje é mantido pelas igrejas ortodoxas Orientais.

Com o passar dos séculos, o Natal foi deixando de ser uma festa de cunho religioso e passou a ganhar novos contornos, originários de culturas anteriores ao Cristianismo. Na Inglaterra, durante a Idade Media, o Natal transformou-se no dia mais alegre do ano, mas como esse estado de alma não era muito compatível com o "espírito sombrio" da época, os puritanos que encaravam a festa como pagã proibiram-na no país.

No ocidente, a celebração do Natal, anteriormente ligada ao nascimento de Jesus, aos poucos foi sendo modificada. A figura do Papai Noel, o bom velhinho, tornou-se um atrativo maior para as crianças, logo também para os adultos. As festas natalinas assumiram um caráter notadamente comercial, onde se estimula o consumismo desenfreado sob o pretexto de que esta é a época de se presentear os amigos e parentes.

Com tudo isso, Jesus foi sendo gradualmente substituído, de motivo central da festividade a elemento secundário na preferência popular, que resolveu homenagear outros ídolos.

Ele porém, dissera com convicção - "Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos o lugar". Ao fazer tal afirmação, o Cristo garantiu que há lugar para todos, que a Ele cabe preparar.

Mas, e Ele? Que lugar ocupa no mundo atual? Será um lugar específico? Numa escala de valores, está em primeiro lugar? A civilização ocidental rotulada como cristã, todavia, é muito difícil encontrarmos o Cristo no Cristianismo presente. Parece que os homens o baniram, substituindo-o por outros modelos de heróis, que na verdade, não expressam nenhum dos valores cristãos.

Cultuam-se ídolos que se sobressaem pela força de seus músculos, pela facilidade de manter grande número de pessoas, pelas conquistas amorosas, pela adoção deliberada de extravagantes atitudes eróticas para a venda milionária de discos e livros.

Longe está o modelo do herói cristão, que traz à memória as figuras de Gandhi, Albert Schweitzerer, Madre Tereza de Calcutá e alguns poucos mais.

Por isso o Natal se distancia cada vez mais do seu real significado. O aniversariante, por certo, não se importaria de ser presenteado. Um dia uma mulher pecadora rendeu-lhe homenagens perfumando os Seus pés com essência de nardo, diante dos fariseus estupefatos e dos apóstolos um tanto constrangidos. 0 Mestre aceitou a oferenda porque sabia da atitude que a impulsionava. Todavia, quão distante esse gesto de humildade, respeito e amor da comercialização desenfreada que ocorre em nossos dias! Onde está Jesus neste Natal? Ele nos prepara o lugar. E que lugar lhe damos em nossa vida? No momento em que nossa cultura comemora esta data, vale a pena guardar na memória e no sentimento uma certeza: essa região, que o Mestre prepara para nós, começa no território do coração, e só com muito trabalho e comprometimento com o amor genuíno é que ampliamos horizontes seguros de nossa paz.

Isto equivale dizer que o homem reconheceria, então, o lugar do Cristo como o legítimo Governador Espiritual da Terra.

Na verdade, o Natal não significa somente o nascimento de Jesus, em um dia específico, diante das datas do mundo, mas também o nascimento do Cristo na consciência renovada do Homem Integral, em qualquer dia, a qualquer hora.

É com essa visão que Carmem Cinira traduz, em poesia, a festa real de Jesus:

"Natal!... 0 mundo é todo um lar festivo...
Claros guizos no ar vibram em bando...
E Jesus continua procurando
A humilde manjedoura do amor vivo.
Natal! Eis a Divina Redenção!...
Regozija-te e canta, renovado,
Mas não negues ao Mestre desprezado
A estalagem do proprio coração".

Revista O Reformador Ano 110, Dezembro, 1992, Nº 1965.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Jesus viu muito à frente!

Por Francisco Rebouças

Ainda hoje, muitos dos nossos irmãos cristãos de variadas correntes religiosas na Terra, vivem a discutir as palavras de Jesus quando nos afirmou: “Não vim trazer a paz, mas, a divisão.”

Não conseguem entender o porquê dessa atitude do Mestre de Nazaré, quando sua missão, é em todas as épocas, de paz e amor, visto que, não dispõem da bênção das claras explicações que temos na doutrina espírita que graças a Deus já abraçamos, para entender a verdadeira fé sob a ótica da razão.

Foi a partir do lançamento de O Livro dos Espíritos em 1857, que as passagens de Jesus narradas nos evangelhos puderam ter uma assimilação muito mais fácil e de forma bem mais ampliada, para que finalmente pudéssemos compreender suas sábias intenções em tudo que nos ensinou e exemplificou enquanto esteve por aqui.

A Doutrina Espírita embora ainda muito combatida e desrespeitada por muitos desses irmãos ditos “cristãos”, nos assevera que para se alcançar os objetivos da mensagem consoladora do evangelho na nossa sociedade, precisamos seguir firmes e destemidos, na certeza de que o discípulo de Jesus encontrará NELE e em seus prepostos a sustentação necessária para fincar a bandeira da paz, da fé e da caridade nos horizontes turvos dos dias que vivenciamos na atualidade.

Em o Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos estas sábias orientações dos Nobres Emissários Celestes, que abaixo transcrevemos.

“O Espiritismo vem realizar, na época prevista, as promessas do Cristo. Entretanto, não o pode fazer sem destruir os abusos. Como Jesus, ele topa com o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, os quais, levados às suas últimas trincheiras, tentam barrar-lhe o caminho e lhe suscitam entraves e perseguições.

Também ele, portanto, tem de combater; mas, o tempo das lutas e das perseguições sanguinolentas passou; são todas de ordem moral as que terá de sofrer e próximo lhes está o termo. As primeiras duraram séculos; estas durarão apenas alguns anos, porque a luz, em vez de partir de um único foco, irrompe de todos os pontos do Globo e abrirá mais de pronto os olhos aos cegos”.

“Essas palavras de Jesus devem, pois, entender-se com referência às cóleras que a sua doutrina provocaria, aos conflitos momentâneos a que ia dar causa, às lutas que teria de sustentar antes de se firmar, como aconteceu aos hebreus antes de entrarem na Terra Prometida, e não como decorrentes de um desígnio premeditado de sua parte de semear a desordem e a confusão. O mal viria dos homens e não dele, que era como o médico que se apresenta para curar, mas cujos remédios provocam uma crise salutar, atacando os maus humores do doente”. ¹

Portanto queridos irmãos de ideal espírita, não desanimemos ante as dificuldades do caminho, trabalhemos árdua e corajosamente, como Jesus nos exemplificou há dois mil anos atrás, na absoluta certeza de que mais cedo ou mais tarde, contra os interesses escusos dos poderosos de agora, estaremos saboreando a vitória da harmonia que a compreensão da mensagem contida em seu nos propiciará.

Fonte:

1) E.S.E. CAP. XXIII – Estranha Moral, itens 17 e 18.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Jesus, o mestre esquecido

Por Carlos Alexandre Fett

É final de ano. As famílias já começam os preparativos para as festas natalinas. Presentes são comprados, viagens marcadas, descanso na certa. É o chamado "espírito natalino" envolvendo a todos.

Mas, quase sempre não nos importamos com o verdadeiro sentido deste feriado, que é a comemoração do nascimento de Jesus.

Nossas crianças, bombardeadas pela mídia, acreditam que o Natal é refletido na figura do Papai Noel, o bom velhinho que presenteia a todos.

Prestemos atenção, mas praticamente inexiste a idéia de Jesus nestes dias. Poucos conversam com seus filhos sobre o que o Mestre tem a ver com as comemorações. O comércio explora a ansiedade de compra dos consumidores, mostrando que o que mais importa é correr atrás das melhores ofertas.

Isso tudo não é errado. Afinal, a tradição dos homens recomenda a troca de presentes neste período. Chegam até a dizer que isso é um simbologismo do que fizeram os reis magos quando do nascimento de Jesus, quando lhe ofertaram ouro, incenso e mirra.

Se fizermos tudo isso com o objetivo de agradar a quem gostamos, não há problema algum. Devemos fazê-lo com muita satisfação.

Mas acontece que para nós o Natal passa a ser só isso, e pronto.

Na noite natalina, comemos e bebemos muito. Nos divertimos, contamos histórias. Até que começamos a exagerar.

Passamos de uma noite de confraternização para um momento de angústia e libertinagem.

Muitos de nós, embebedados, acabamos por fazer atos impensados. Alguns colocam seus traumas para fora, levantam velhas discussões de família, aproveitam para denegrir a imagem de quem não está presente.

Corremos com nossos carros pelas estradas, cometemos desatinos, não pensamos nas conseqüências.

Tudo em nome da "festa do dia". Na verdade, agimos como se fosse apenas mais um feriado para desforrarmos nossa vontade de "agitar".

Em meio a tudo isso, Jesus continua como o Mestre esquecido.

Coisa de beato, de fanático, dirão alguns. Ficar pensando em religião em dia de festa!

Porém, acabamos por esquecer que a festa deveria, além da confraternização, da alimentação farta, ser um momento de reflexão sobre nossas vidas.

Será que esse homem, que dois mil anos depois de sua crucificação tem sua data de nascimento simbolizada neste dia, que fez com que seus ensinamentos fossem a base para as leis do ocidente, não tem razão no que pregava?

Um homem que apenas com três anos de vida pública, dos 30 aos 33 anos de idade, fez o mundo ser dividido em dois: antes e depois dele, não mereceria ser seguido com mais afinco por todos nós?

Se o que ele dizia não fosse verdade sobreviveria por tanto tempo?

O que temos feito baseados no que ele ensinou?

Temos vivido só para comer, beber, dormir, fazermos sexo, trabalhar e se divertir? Ou temos aproveitado a inteligência que o Pai altíssimo nos deu, e de quem Jesus tanto falava, para buscarmos ser mais úteis e sábios em nossas decisões?

O Natal deveria ter também esta conotação. Dizemos também, porque pedir que só reflitamos sobre a vida neste dia é pedir muito para homens tão apegados ao consumo como ainda somos. Mas, precisamos dar a devida consideração a Jesus neste dia festivo, colocando-o lado a lado com nossas expectativas.

Tomemos cuidado com os exageros nas festas. Sejamos alegres, não imprudentes. Aproveitemos a oportunidade para reatar amizades perdidas por orgulho, perdoar a falha alheia, entender a necessidade do próximo.

Enfim, sejamos cristãos neste dia maravilhoso, que comemora a passagem entre nós daquele que dizia que quem quisesse ser o maior, deveria servir, e não ser servido. Lembremos de sua mensagem e fiquemos felizes.

Com certeza, como dizia o próprio Jesus, onde estiverem dois ou mais reunidos em seu nome, ali estará ele. E a felicidade reinará, absoluta.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Aqui é um Centro Espírita?

Por David Bianchini

Aqui é um Centro Espírita?

Paulo silenciou por alguns instantes. A pergunta, que sempre tivera uma resposta automática, agora o levava a profundas reflexões. Aquelas paredes, as reuniões e todas aquelas pessoas que vinham em busca de auxílio...

Lembrou-se de como tudo começara. Fora a vontade de ajudar uma senhora, carinhosamente chamada de Naná por todos que a conheciam, já idosa e de cabelos brancos, portadora de interessantes dons mediúnicos, que o levou a reunir um grupo de amigos, alugar uma casa e iniciar um trabalho mais organizado de ajuda aos que vinham buscar, naqueles dons, lenitivo para suas dores.

E eram muitos os que chegavam e que ajudados partiam, voltando outras vezes com outros pedidos ou com amigos também desesperados. Muitos, multidões. Esses mesmos é que chamaram o lugar de Centro Espírita. Talvez, porque acontecesse o aconselhamento aos desesperados, por Espíritos que falavam com os recursos de Dona Naná, ou por causa da água que depois da prece parecia curar as dores de alguns, ou mesmo da paz que todos levavam de volta a seus lares quando partiam...

Mas, cismava Paulo, seria ali um Centro Espírita?

De início, ele sempre sorria e afirmava confiante que ali era o Centro Espírita da Dona Naná. Aceitara sem questionar a afirmação, até que lhe perguntaram o que significava a palavra "espírita"? Percebendo sua ignorância, e como era um dos responsáveis pelo lugar, saiu à procura do conhecimento. Então descobriu Kardec, a Codificação e se pôs a estudar e a refletir... Percebeu que os fenômenos mediúnicos aconteciam desde há muito tempo e em diversas escolas religiosas.

Exemplos claros de mediunismo se percebem nos cultos afro-brasileiros, na manifestação do "espírito santo" que cura nos cultos evangélicos, assim como estiveram presentes nas pitonisas e adivinhos nas religiões do passado.

O fato de ser uma casa onde se manifestam os Espíritos, portanto, não bastaria para que o local fosse denominado ou credenciado como "Centro Espírita". Outros locais também prestavam socorro aos necessitados. Sem conotações religiosas, muitos homens de boa vontade se organizam na prática da solidariedade, objetivando minimizar o sofrimento humano.

São tantas outras "casas e centros" não religiosos que reequilibram socialmente as pessoas que batem às suas portas, em busca de apoio e orientação, e que trabalham para uma vida social mais justa e harmoniosa. Tão só ministrar essa ajuda solidária não caracteriza uma casa como Centro Espírita, mesmo que um "bom Espírito" esteja na orientação dessas atividades caridosas.

Paulo compreendeu que nem mesmo a junção das duas características acima seriam suficientes para caracterizar corretamente o Centro Espírita. Recordou que as palavras Espiritismo e espírita (ou ainda espiritista) só passaram a figurar dos dicionários a partir do instante em que Allan Kardec criou esses termos para designar a Doutrina que codificara e os seus seguidores.

O senso comum, presente no povo, a tudo dava uma feição generalizada e simplória. Mas os dirigentes e semeadores da Terceira Revelação - percebeu Paulo - não podem equivocar-se quanto aos princípios e os postulados básicos dessa Doutrina, pois serão cegos a conduzir outros cegos!

O papel do Centro Espírita transcende o auxílio material e o serviço solidário. Em primeiro lugar, é escola da alma. No Centro Espírita compreendemos o significado da existência, o porquê das vicissitudes que enfrentamos em nossa jornada terrena. Nele, bebemos as lições que o Espírito de Verdade veio trazer à Terra, revelando-nos uma nova visão de Deus e ensejando-nos o entendimento ampliado das leis que regem a vida em todos os cantos do universo.

Antes do conforto material dispensado ao carente, antes da cura de uma enfermidade, o Centro Espírita é caminho para o entendimento do Evangelho de Jesus. É o ponto de luz, o farol a clarear a senda escura de quem procura a Verdade. Aí reside sua maior finalidade: educar o ser humano, no sentido mais profundo do termo, para ultrapassar os limites temporais da existência corpórea e enxergar-se como Espírito imortal, viajante no tempo, herdeiro de suas ações e construtor do seu amanhã.

Tem o Centro Espírita, por missão, libertar a criatura dos condicionamentos psicológicos a que foi acorrentada, durante séculos, pelas igrejas dogmáticas, que tanto medo infundiram nas massas com um Deus impiedoso ameaçando as consciências culpadas com as labaredas do fogo eterno...

O Centro Espírita, que educa o ser, constrói a consciência, fortalece a vontade para o bom combate. Falamos da luta travada contra as próprias imperfeições, a luta contra o orgulho e o egoísmo.

Para que um Centro possa ser verdadeiramente Espírita, será preciso, portanto, que assuma primeiramente esse papel de condutor de almas. Do contrário, poderá reduzir-se a um posto distribuidor de víveres ou fornecedor de passes, água energizada, aconselhamentos e paparicos, correndo assim mesmo o risco de ouvir as queixas da ingratidão.

Ensinemos, por isso, aos que mendigam a luz, o caminho do autoconhecimento e da transformação moral. Ao pão do corpo, acrescentemos o alimento para a alma, que está no Evangelho de Jesus, desdobrado no conhecimento espírita. E, em vez do passe compulsório, apontemos o serviço da caridade, em favor de si mesmo e do semelhante.

Agindo assim, poderá o dirigente responder com segurança à indagação, dizendo: Sim, aqui é um Centro Espírita.

Extraído do jornal Alavanca - jan/98

"Para que um Centro possa ser verdadeiramente Espírita, será preciso, portanto, que assuma primeiramente esse papel de condutor de almas..."

(Jornal Mundo Espírita de Março de 1998)

sábado, 10 de outubro de 2009

Diálogo com o demônio

Por Licinio Castro

- Eu sou o Demônio!

- Não és. Isso eu te digo com a mais absoluta certeza.

- Mas como ousas dizê-lo? Queres asseverar que eu não sou o que sou?

- Não és o que julgas ser.

- Que audácia! Como me explicarias esse absurdo? Porventura ignoras que eu sou protagonista na Bíblia e nas religiões?

- Insisto em assegurar-te que não és esse personagem fictício, ainda hoje capaz de apavorar tanta gente.

- Fictício? Enlouqueceste, por acaso? Não estás me vendo e me ouvindo, e ousas afirmar que não existo?

- Não só não existes, como também jamais poderias existir. Não és O, mas apenas UM demônio. Compreendes, agora?

- Não. Eu fui criado para fazer sempre o mal e tramar a queda de todas as almas. Eu consegui tentar até o Crucificado

- Enganas-te. Deus só cria para o bem: tu é que te imaginas predestinado à maldade. Lembra-te que também és criatura de Deus. Quanto às tentações sofridas pelo Mestre, trata-se de provável equívoco do texto bíblico. Admitirias a possibilidade de provação pecaminosa em alguém já aureolado pelas mais nobres conquistas da angelitude? Os anjos são inacessíveis a quaisquer influenciações da animalidade.

- Mas eu consegui induzir o Sinédrio a crucificar Jesus. Eu ainda o vejo vencido, humilhado e morto no Calvário.

- Não conseguiste coisa alguma. O Mestre desencarnou daquela forma porque quis. Na verdade, não foi vencido, venceu; não morreu como ser aniquilado, pois prossegue, triunfante, na realização de sua obra redentora da Terra e de sua humanidade.

(O Demônio senta-se na relva, em postura meditativa, enquanto o sol delineia, no horizonte, os primeiros acordes da sinfonia do poente.)

- Tu me confundes com essa dialética estranha. Então, não há um só mas vários demônios?

- Sim. São os próprios homens, quando empenhados na transgressão da Lei.

- E qual seria, na tua cosmovisão, o destino deles?

- Todos se tornarão anjos, depois de burilados pela dor e iluminados pelo Amor. Os santos de hoje são os pecadores de ontem, como os pecadores de hoje são os santos de amanhã. Mas escuta bem: isso não é "milagre" ou "graça", mas conquista individual, pela Lei do Mérito.

- Em que te baseias para ensinar isso?

- Na afirmação categórica do nosso Divino Mestre: "Nenhuma das ovelhas que o Pai me confiou se perderá".

- Oh, tiraram meus chifres, meu rabo e meu tridente! Sou também uma criatura humana, e com esperança de salvação?

- E como não? Também és ovelha do imenso rebanho do Galileu.

- Isso me confunde mais ainda!... quem és tu?

- Um ser humano qualquer, um irmão teu, que já foi muito demônio, porém agora disposto a sair do inferno.

- Do inferno, disseste?

- Claro. Do inferno que cada um cria dentro de si.

(Revista O Espírita – nº 100 – abr/ago-98.)

(Jornal Mundo Espírita de Novembro de 98)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Espiritismo e Educação

Por Dora Incontri / Pós-doutoranda FEUSP

O espiritismo, segundo Allan Kardec, pretende ser ao mesmo tempo uma ciência, que demonstra através do estudo empírico dos fenômenos mediúnicos a existência dos espíritos e sua atuação sobre o mundo; uma filosofia, que propõe uma cosmovisão evolucionista e reencarnacionista; e uma religião, sem dogmas, rituais e sacerdócio organizado, que faz uma releitura do cristianismo e prega uma prática religiosa centrada na moral e na ligação direta do homem com Deus.

Para além dessas três dimensões, porém, ou como resultante de todas elas, o espiritismo tem um caráter eminentemente pedagógico. [1] Não só porque seu fundador, Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), depois Allan Kardec, tenha sido um grande educador francês, seguidor da proposta de Pestalozzi, seu mestre. Mas porque o cerne da filosofia espírita é uma proposta de educação do espírito.

O espiritismo não entende o devir humano, como uma história de salvação, segundo o conceito do cristianismo tradicional, mas como uma história de evolução. O homem foi criado simples e ignorante e está destinado a conquistar a perfeição, através do aprendizado de múltiplas vidas sucessivas. Não houve uma tragédia inicial de queda e nem a necessidade de uma intervenção divina, para a redenção das criaturas. Tudo corre conforme previsto pelo Criador. A humanidade está em processo educativo, aprendendo, através da ação livre no mundo, a crescer espiritualmente, a fazer desabrochar as virtudes e a sabedoria que serão suas, quando atingir o alvo evolutivo a que Deus nos destinou. Todo mal e todo desvio de rota estão por nossa conta, mas são males e desvios passageiros, porque a imanência de Deus em nós garante mais dia, menos dia, a volta ao caminho da perfeição. Perde-se a tragicidade do drama do pecado, da queda; ganha-se em autonomia para o ser, pois que de nós depende quando e como vamos aderir a esse projeto de perfeição e felicidade, para o qual fomos criados.

Um dos pontos mais polêmicos em torno dessa cosmovisão é que ela se pretende cristã e ao mesmo tempo universal. Em que sentido uma coisa e outra? Cristã, porque as idéias de redenção universal (que ninguém estaria eternamente condenado ao mal, nem mesmo o demônio), de reencarnação, da possibilidade de aperfeiçoamento autônomo do indivíduo, estavam presentes nos primeiros três séculos de cristianismo. As duas primeiras foram aceitas por Orígenes, a última, por Pelágio. Ambos, depois condenados pela ortodoxia, tiveram suas interpretações do cristianismo banidas da Igreja Católica. [2]

Outro aspecto que inviabiliza, segundo católicos e protestantes, chamar-se o espiritismo de cristão é a negação da Trindade. Dogma essencial da ortodoxia, considera-se como indispensável para a identidade do cristianismo. Entretanto, também esse dogma, segundo a posição espírita, foi construído historicamente. Arius, o padre que defendia que Jesus não era Deus, mas um seu enviado, foi combatido por Atanásio e quando o Imperador Constantino tornou o cristianismo a religião oficial do Estado romano, a doutrina na Trindade foi assumida como a ortodoxia e a ariana, como herética. Comenta Kardec:

“Se o símbolo de Nicéia, que se tornou o fundamento da fé católica, fosse conforme o espírito do Cristo, para que o anátema final? Não é isto prova de que é obra da paixão dos homens? A que se deve a sua adoção? À pressão do Imperador Constantino, que fez dele uma questão mais política do que religiosa. Sem sua ordem não se teria realizado o Concílio e sem a sua intimidação é mais do que provável que o arianismo tivesse triunfado. Dependeu, pois, da autoridade soberana de um homem, que não pertencia à Igreja, que reconheceu mais tarde o erro que cometera e que procurou inutilmente voltar atrás conciliando os partidos, não sermos hoje arianos em vez de católicos, e não ser hoje o arianismo a ortodoxia e o catolicismo a heresia.” (KARDEC, 1971:118)

Essa questão da divindade de Jesus está intimamente ligada às outras, levantadas por Pelágio e Orígenes: entendendo-se Cristo como um modelo de perfeição (e não como o próprio Deus), entendendo-se que podemos atingir esse modelo, segundo o nosso esforço pessoal, através de múltiplas vidas, tira-se a tragicidade da queda, do pecado, que corrompeu o homem, que precisa da graça e do sangue de Deus encarnado para reconciliar-se com a divindade. [3]

“Do ponto de vista dos arianos, era essencial que Jesus não fosse Deus, pois Deus, sendo perfeito por natureza, era inimitável. Em compensação, a virtude transcendente de Cristo, que era fruto de atos repetidos de sua vontade, era ao menos potencialmente acessível ao resto dos mortais.” (RUBENSTEIN, 2001:26)

Embora as correntes ortodoxas do cristianismo também acreditem na herança divina na criatura, como uma presença imanente, há, segundo elas, algo que turva o ser do homem e precisa de uma reparação. Ocorre que esta reparação, intermediada por Cristo, é intermediada pelas instituições que o representam (e essa idéia é mais forte no catolicismo), tornando o homem de dependente de uma graça, que é de alguma forma materializada por mãos humanas.

O espiritismo entende que toda essa doutrina foi instrumentalizada para a dominação das consciências e por isso vê em Jesus um modelo de perfeição moral, que qualquer ser humano é convidado a seguir, porque o nosso destino de espíritos, criados por Deus, é o da perfeição. Ao mesmo tempo, o mal perde seu caráter trágico, para tornar-se, apesar de todas as barbáries humanas, uma espécie de aprendizado da liberdade. Deus nos deixa inclusive experimentar os caminhos mais escabrosos, para aprendermos o valor do bem. (Assemelha-se essa idéia ao construtivismo na pedagogia: a criança erra para aprender ou o erro é uma experimentação necessária).

Dizia acima também que o espiritismo se pretende universal, além de cristão, porque, embora reconheça em Cristo o Espírito mais puro que já veio à terra e se insira dentro da tradição judaico-cristã, Kardec dizia que a verdade da revelação divina está presente em todas as religiões. Em todas as épocas, em todas as culturas, entre todos os povos, houve enviados de Deus, para ensinar aos homens as leis da vida. (Além, é claro, dessas leis estarem impressas na própria consciência humana).

Uma proposta pedagógica espírita

Se lemos o espiritismo com olhos pedagógicos, como foi escrito por Kardec e teorizado e praticado por iniciadores da pedagogia espírita no Brasil (tais como Eurípedes Barsanulfo, Anália Franco, Herculano Pires, Ney Lobo e outros) veremos que se podem deduzir alguns princípios fundamentais, que aqui, didaticamente, resumo em três. Esses princípios podem ser extraídos da cosmovisão espírita, mas não por acaso, aparecem em três clássicos da Educação, de que Kardec foi herdeiro: Comenius, Rousseau e Pestalozzi.

Se o espiritismo entende o percurso da alma humana através do tempo, como um processo educativo, deflagrado por Deus, compreendido como Pai, então deve haver uma pedagogia divina. Esta pedagogia tem três parâmetros:

1) A liberdade: fomos lançados livres no universo, com o direito e o dever de construirmos a nós mesmos e cultivarmos as sementes de divindade que trazemos em nós;

2) A ação: somos livres, para agir no mundo e é através da ação, que promovemos o nosso aprendizado, experimentando situações e vivências, em diversas vidas, até adquirirmos sabedoria e virtude;

3) O amor: embora Deus tenha nos criado livres para agir, não nos deixou ao abandono, cerca-nos com seu amor incessante, enviando seus mensageiros, para ensinar ao homem a verdade e o bem, colocando ao nosso lado Espíritos que nos amam e orientam e intervindo junto a nós como Providência, que nos acompanha.

São esses três princípios, pois, que podemos erigir como fundadores de uma proposta pedagógica espírita: respeitar a liberdade e a individualidade da criança, que deve agir para aprender (e isso vai desde a aplicação prática de fórmulas matemáticas até o exercício das virtudes), mas essa ação livre deve ser acompanhada pelo amor dos educadores, empenhados em incentivar e cultivar o lado bom dos educandos, com atenção, diálogo, observação e autoridade moral.

Dentro dessa filosofia educacional, como se apresenta o ensino da religião?

O espiritismo reconhece que a dimensão espiritual do ser humano é essencial para o seu desenvolvimento integral. Ao mesmo tempo, Kardec não queria que a doutrina espírita tivesse um caráter proselitista (embora isso nem sempre seja seguido por seus adeptos), pois o respeito à liberdade de consciência é quesito absoluto da ética por ele proposta. Herculano Pires (que lutou na década de 60, pela escola laica, gratuita e obrigatória), diante da necessidade de se recuperar o aspecto espiritual na educação, propõe que:

“…não podemos ter Educação sem Religião, o sonho da Educação Laica não passou de resposta aos grandes equívocos do passado (…). O laicismo foi apenas um elemento histórico, inegavelmente necessário, mas que agora tem de ser substituído por um novo elemento. E qual seria essa novidade? Não, certamente, o restabelecimento das formas arcaicas e anacrônicas do ensino religioso sectário nas escolas. Isso seria um retrocesso e portanto uma negação de todas as grandes conquistas (…). Reconhecendo que a Religião corresponde a uma exigência natural da condição humana e a uma exigência da consciência humana, e que pertence de maneira irrevogável ao campo do Conhecimento, devemos reconduzi-la à escola, mas desprovida da roupagem imprópria do sectarismo. Temos de introduzir nos currículos escolares, em todos os graus de ensino, a disciplina Religião ao lado da Ciência e da Filosofia. Sua necessidade é inegável, pois sem atender aos reclamos do transcendente no homem não atingiremos os objetivos da paidéia grega: a educação completa do ser para o desenvolvimento integral e harmonioso de todas as suas possibilidades.” (PIRES, 1985:40)

Bibliografia:

* AUGUSTIN. A Work on the Proceedings of Pelagius. 415. http://www.ccel.org/fathers/NPNF1-05/c5.1.htm
* JOHNSON Paul. História do Cristianismo. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
* KARDEC, Allan. Obras póstumas. São Paulo, Edicel, 1971.
* ORIGÈNE. Traité des principes. Paris, Études Augustiniennes, 1976.
* PIRES, J. Herculano. Pedagogia Espírita. São Paulo, Edicel, 1985.
* RIVAIL, H.-L.-D. Textos pedagógicos. Tradução Dora Incontri. São Paulo, Comenius, 1997.
* RUBENSTEIN, Richard E. Le jour où Jésus devint Dieu. Paris, Éditions la Découverte, 2001.
* WILLIAMS, Kevin. Christian reincarnation, the long forgotten doctrine. 2002. http://www.near-death.com/origen.html

[1] Essa era a tese de José Herculano Pires, um dos grandes intérpretes do espiritismo no Brasil e defensores da pedagogia espírita. Essa foi a tese que pretendi demonstrar em meu doutoramento: INCONTRI, Dora. Pegadogia espírita, um projeto brasileiro e suas raízes histórico-filosóficas. Tese de doutorado. São Paulo, FEUSP, 2001.

[2] Há polêmica em torno na posição de Orígenes, mas lendo suas obras, fica clara a sua defesa, tanto da reencarnação, quanto da salvação universal: “Deus, pai do universo, tudo organizou, segundo o reino inefável de seu Verbo e Sabedoria, em vista da salvação de todas as suas criaturas… (ORIGÈNE, 1976:81) ou ainda “Detivemo-nos sempre a demonstrar que a providência de Deus, que dirige todas as coisas segundo a justiça, conduz também as almas imortais pelas leis mais justas, adaptadas aos méritos e às responsabilidades de cada um; pois o plano de Deus para o homem não está fechado nos limites da vida deste século, mas um estado anterior de méritos fornece sempre a causa do estado que se segue; assim, graças à lei imortal e eterna de eqüidade e graça no governo da divina providência, a alma imortal é levada à perfeição suprema.” (ORIGÈNE 1976:167)

[3] Expliquei a posição de Jesus no espiritismo da seguinte maneira: “Não sendo o Ser Supremo do Universo (aliás, desde a época da formulação do dogma da Trindade, esse universo se expandiu infinitamente e se aceitamos a existência de Deus, e a sua presença, governo e poder entre bilhões e bilhões de galáxias e em meio a prováveis inúmeras humanidades, fica mais difícil aceitar a idéia de uma encarnação sua na Terra), Jesus Cristo não se vulgariza com isso, tornando-se apenas mais um homem entre outros tantos. Ele seria o Espírito que já atingiu a perfeição como todos nós atingiremos um dia, segundo a lei da evolução. Portanto ele é a realização daquilo de que somos ainda potência. É a meta a ser atingida, por um processo de educação do espírito, nas sucessivas existências.” (INCONTRI, 2001)

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Dogma da Santíssima Trindade

Por Francinaldo Rafael

O termo dogma diz respeito ao conjunto de princípios fundamentais e indiscutíveis de uma doutrina religiosa. Analisando as inovações e dogmas romanos, o Espírito Emmanuel (que em uma de suas reencarnações fora o padre Manoel de Nóbrega) afirma que a doutrina de Jesus, permanecendo encarcerada na cidade dos Césares pelo poder humano e passando por diversas reformas, perdeu a simplicidade encantadora das suas origens, transformando-se num edifício de pomposas superficialidades. Após a instituição do culto dos santos, surgiram imediatamente as primeiras experiências de altares e paramentos para as cerimônias eclesiásticas. Depois vieram os pontífices, o latim nos rituais, o culto das imagens, a adoração da hóstia, o celibato sacerdotal. Atualmente, grande parte das instituições são de origem humana, fora de quaisquer características divinas. Dentre os dogmas impostos, está o da trindade.

Apesar de alguns mais fanáticos afirmarem, a trindade não é bíblica. Não existe nos conceitos originais da Bíblia, Pai, Filho e Espírito Santo, em passagem nenhuma. O conceito sobre Jesus-Deus foi apresentado na ocasião do primeiro Concílio de Nicéia, quando os cristãos da época determinaram que Jesus era igual a Deus. No segundo Concílio, no ano de 381, confirmou-se a formulação definitiva do dogma da Santíssima Trindade, uma adaptação da Trimúrti da antiguidade oriental, que reunia nas doutrinas do bramanismo três deuses: Brama, Shiva e Vishnu. Para os cristãos católicos ficou a conceituação Deus-pai, Deus-filho e Deus-Espírito Santo.

Uma análise mais detalhada nas informações de Jesus citadas nos evangelhos, esse dogma cai por terra. O Mestre sempre afirmava que não era Deus. “Eu sou o filho do Homem“; “Eu venho em nome dAquele que me enviou“; “Eu sou o caminho da verdade e da vida“; “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, credes em mim também“. Antes da desencarnação exclamou em voz alta: “Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito“. Quando ressurgiu para Maria de Magdala, que tentou abraçá-lo, falou: “Não me toques, mulher, porque ainda não estive com o meu Pai.” Preparando sua partida da Terra: “… E em seguida vou para Aquele que me enviou“. Algumas pessoas confundem seu enunciado “Eu e o Pai somos um” como sendo a mesma pessoa. A realidade é a Sua identificação com Deus e que Seus atos eram confirmados pelo Pai Divino.

Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, questionando aos Espíritos Superiores qual o ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir de modelo e guia, obteve a resposta clara: Jesus. Mergulhando-se nos fatos, percebe-se claramente que Deus é o Pai, o Criador, a Causa primária de todas as coisas. Jesus é um de seus filhos, um entre os Espíritos Superiores do Universo. Com isso, Sua grandeza não diminui. Conquistou todos os degraus na escala da evolução e atingiu a condição de Espírito Puro.

Fonte: Jornal O Mossoroense

sábado, 5 de setembro de 2009

Jesus e a Humanidade

Por Joanna de Ângelis / Psicografia de Divaldo Franco.

Jesus-Homem é a lição de vida que haurimos no Evangelho como convite ao homem que se deve edificar.

Não havendo criado qualquer doutrina ou sistema, Jesus tornou a Sua vida o modelo para que o homem se pudesse humanizar, adquirindo a expressão superior.

No Seu tempo, e ainda agora, o homem tem sido símbolo de violência, prepotência e presunção, dominador exterior, estorcegando-se, porém, na sua fragilidade, nos seus conflitos e perecibilidade.

Após os Seus exemplos surgiu um diferente homem: humilde, simples, submisso e forte na sua perenidade espiritual.

Enquanto os grandes pensadores de todos os tempos estabeleceram métodos e sistemas de doutrinas, Ele sustentou, no amor, os pilotis da ética humanizada para a felicidade. Não se utilizou de sofismas, nem de silogismos, jamais aplicando comportamentos excêntricos ou fórmulas complexas que exigissem altos níveis de inteligência ou de astúcia.

Tudo aquilo a que se referiu é conhecido, embora as roupagens novas que o revestem. Utilizou-se de um insignificante grão de mostarda, para lecionar sobre a fé; recorreu a redes de pesca e a peixes, para deixar imperecíveis exemplos de trabalho; a semente caindo em diferentes tipos de solos, para demonstrar a diversidade de sentimentos humanos ante o pólen de luz da Sua palavra. O "Sermão da montanha" inverteu o convencional e aceito sem discussão, exaltando a vítima inocente ao invés do triunfador arbitrário; o esfaimado de justiça, de amor e de verdade, em desconsideração pelo farto e ocioso, dilapidador dos dons da vida. Jesus é a personagem histórica mais identificada com o homem e com a humanidade.

Todo o Seu ministério é feito de humanização, erguendo o ser do instinto para a razão e daí para a angelitude. Igualmente, é o Homem que mais se identifica com Deus. Nunca se Lhe refere como se estivesse distante, ou fosse desconhecido, ou temível. Apresenta-O em forma de Amor, amável e conhecido, próximo das necessidades humanas, compassivo e amigo. Reformula o conceito mosaico e atualiza- o em termos de conquista possível, aproximando os homens d’Ele pela razão simples de Ele estar sempre próximo dos indivíduos que se recusam a doar-se-Lhe em amor. Referindo-se ao "reino", não o adorna de quimeras nem o torna pavoroso; antes, desperta nos corações o anelo de consegui-lo na realidade da transcendência de que se reveste. Nega o mundo, sem o maldizer, abençoando-o nas maravilhosas paisagens nas quais atende a dor, e deixa-se mergulhar em meditações profundas sob o faiscar das estrelas luminosas do Infinito.

Jesus, na humanidade, significa a luz que a aquece e a clareia. Se te deixaste fossilizar por doutrinas ortodoxas que pretendem n’Ele ter o seu fundador, renasce e busca-O, na multidão ou no silêncio da reflexão, fazendo uma nova leitura das Suas palavras, despidas das interpretações forjadas.

Se te decepcionaste com aqueles que se dizem seguidores d’Ele, mas não Lhe vivem os exemplos, olvida-os, seguindo- O na simplicidade dos convites que Ele te endereça até agora e estão no conteúdo das Suas mensagens, ainda avivas quão ignoradas.

Se não Lhe sentiste o calor, rompe o frio da tua indiferença e faze-te um pouco imparcial, sem reações adrede estabelecidas, facultando-Lhe penetrar-te o coração e a mente. Na tua condição humana necessitas d’ Ele, a fim de cresceres, saindo dos teus limites para o infinito do Seu amor. Jesus veio ao homem para humanizá-lo, sem dúvida. Cabe-te, agora, esquecer por momentos das tuas pequenezes e recebê-Lo, assim cristificando-te, no logro da tua realização plena e total.

sábado, 22 de agosto de 2009

Simplicidade e Grandeza do Espiritismo

Por Orson Peter Carrara

A Doutrina Espírita, por seus fundamentos e desdobramentos próprios de seu conteúdo doutrinário, é grandiosa por várias razões. Entre elas, destacam-se os benefícios diretos do esclarecimento à mente humana, embasados na mais perfeita lógica e bom senso, além do conforto ao coração pelo consolo próprio da mensagem totalmente estruturada no Evangelho de Jesus.

Suas respostas aos extensos questionamentos humanos, todas construídas nas bases da ciência, da filosofia e da religião, aliás tríplice aspecto de seus fundamentos, atendem a todos os estágios do intelecto humano, desde que a pessoa se liberte de preconceitos e aceite estudar para conhecer ao menos, ainda que a título cultural, pois que a Doutrina Espírita deseja apenas ser conhecida, nunca imposta.

Suas bases inspiram o amor ao próximo, no amplo sentido da caridade, dispensam quaisquer formalismos ou rituais, convidam à fé racional e estimulam o auto-aprimoramento e o trabalho no bem como ferramentas de conquista do mérito da felicidade acessível a qualquer pessoa.

Por isso, estão distantes da prática espírita as manifestações de vaidade, da autopromoção, da imposição de idéias, dos abusos de qualquer espécie, da exploração da fé e mesmo a obtenção de quaisquer vantagens. E como agora a idéia espírita já encontra ampla aceitação no meio popular, surgem os perigos da infiltração de idéias e posicionamentos estranhos à simplicidade e grandeza da mensagem espírita.

É onde surge o exibicionismo ou a publicação de obras estranhas, com ideologias conflitantes com a pureza dos princípios espíritas, comprometendo a lógica e o bom senso tão bem expressos na genuína literatura espírita. É onde surgem o uso de termos exóticos, de difícil compreensão para o grande público, complicando a simplicidade dos ensinos. Eventos ou promoções inacessíveis à grande massa popular, distanciando o pensamento confortador de Jesus das angústias do povo... E mais os festivais de vaidades que humilham ou exigências descabidas, totalmente incoerentes com a simplicidade dos ensinos do amor trazidos pelo Mestre da Humanidade.

Mas é na literatura e na tribuna, talvez, sem contar as alfinetadas próprias do difícil relacionamento humano, que estamos nos comprometendo mais. É quando não simplificamos os ensinos e desejamos dar demonstrações intelectuais ao invés de nos preocuparmos com a clareza própria do Espiritismo. Temos que “mastigar” os ensinos para a mente popular, temos que fazer chegar a grandeza do Espiritismo no cotidiano das dificuldades que a pessoa está enfrentando para que possa superar seus dramas e angústias.

Ninguém nega, todavia, que há eventos, estudos e literatura específica que exigem mais qualificação e direcionamento específico.

Mas complicar algo tão simples e ao mesmo tempo grandioso, inventar teorias, preocupar-se com opiniões pessoais, desejar projetar-se através de teorias esdrúxulas, estranhas e incoerentes, já é outra coisa que situa-se muito distante da proposta de renovação e aprimoramento trazida pelo Espiritismo.

Que possamos despertar dessa letargia de uma concorrência que tenta sobrepor-se ao próprio Espiritismo para voltarmos a atenção devida e merecida à tarefa que mutuamente assumimos de honrar o conhecimento libertador da extraordinária Doutrina Espírita.

Livros ou teorias estranhas ao Espiritismo, que tentam impor idéias esdrúxulas?

Basta seguir o conselho de Erasto em O Livro dos Médiuns*: “(...) Desde que uma opinião nova se apresenta, por pouco que nos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica; o que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai ousadamente; vale mais repelir dez verdades do que admitir uma só mentira (...)”.

*capítulo XX, item 230