sexta-feira, 26 de junho de 2009

OLM - Das Evocações

KARDEC, ALLAN. O LIVRO DOS MÉDIUNS. TRADUÇÃO DE JOSÉ HERCULANO PIRES.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

269. Os Espíritos podem comunicar-se espontaneamente ou atender ao nosso apelo, isto é, ser evocados. Algumas pessoas acham que não devemos evocar nenhum Espírito, sendo preferível esperar o que quiser comunicar-se. Entendem que chamando determinado Espírito não temos a certeza de que é ele que se apresenta, enquanto o que vem espontaneamente, por sua própria iniciativa, prova melhor a sua identidade, pois revela assim o desejo de conversar conosco. Ao nosso ver, isso é um erro. Primeiramente porque estamos sempre rodeados de Espíritos, na maioria das vezes inferiores, que anseiam por se comunicar. Em segundo lugar, e ainda por essa mesma razão, não chamar nenhum em particular é abrir a porta a todos os que querem entrar. Não dar a palavra a ninguém numa assembléia é deixá-la livre a todos, e bem sabemos o que disso resulta. O apelo direto a determinado Espírito estabelece um laço entre ele e nós: o chamamos por nossa vontade e assim opomos uma espécie de barreira aos intrusos. Sem o apelo direto um Espírito muitas vezes não teria nenhum motivo para vir até nós, se não for um nosso Espírito familiar.

Essas duas maneiras de agir têm as suas vantagens e só haveria inconveniente na exclusão de uma delas. As comunicações espontâneas não têm nenhum inconveniente quando controlamos os Espíritos e temos a certeza de não deixar que os maus venham a dominar. Então é quase sempre conveniente aguardar a boa vontade dos que desejam manifestar-se, pois o pensamento deles não sofre, dessa maneira, nenhum constrangimento e podemos obter comunicações admiráveis, enquanto o Espírito evocado pode não estar disposto a falar ou não ser capaz de o fazer no sentido que desejamos. Aliás, o exame escrupuloso que aconselhamos é uma garantia contra as más comunicações.

Nas reuniões regulares, sobretudo quando se desenvolve um trabalho seqüente, há sempre Espíritos que as freqüentam sem que precisemos chamá-los, pela simples razão de já estarem prevenidos da regularidade das sessões. Manifestam-se quase sempre espontaneamente para tratar de algum assunto, desenvolver um tema ou dar uma orientação. Nesses casos é fácil reconhecê-los, seja pela linguagem que é sempre a mesma, seja pela escrita ou por certos hábitos peculiares.

270. Quando se quer comunicar com um Espírito determinado é absolutamente necessário evocá-lo (Ver nº 203). Se ele puder atender, obtém-se geralmente a resposta: Sim ou Aqui estou, ou ainda Que queres de mim? Às vezes ele entra diretamente no assunto respondendo por antecipação as perguntas que se pretende fazer.

Quando se evoca um Espírito pela primeira vez é conveniente designá-lo com alguma precisão. Deve-se evitar a perguntas formuladas de maneira dura e imperativa, que podem afastá-lo. As perguntas devem ser afetuosas ou respeitosas, conforme o Espírito, e em todos os casos revelar a benevolência do evocador.

271. Muitas vezes a gente se surpreende com a presteza com que um Espírito evocado se apresenta, mesmo na primeira vez. Dir-se-ia que estava prevenido. É realmente o que acontece quando a gente se preocupa de antemão com a sua evocação. Esse se preocupar é uma espécie de evocação antecipada, e como temos sempre os Espíritos familiares que se identificam com o nosso pensamento, eles preparam a vinda de tal maneira que, se não houver obstáculos, o Espírito já está presente ao ser evocado. Caso contrário é o Espírito familiar do médium ou do interrogante, ou um dos freqüentadores habituais que o vai buscar e para isso não precisa de muito tempo. Se o Espírito evocado não pode vir imediatamente, o mensageiro (os pagãos diriam Mercúrio) marca um prazo, às vezes de cinco minutos, um quarto de hora, uma hora e mesmo de muitos dias, e quando ele chega, diz: Está aqui. Então se pode começar a fazer as perguntas que se deseja.

O mensageiro nem sempre é um intermediário necessário, porque o apelo do evocador pode ser ouvido diretamente pelo Espírito, como está explicado no nº 282, pergunta 5, sobre o modo de transmissão do pensamento.

Quando dizemos que se faça a evocação em nome de Deus entendemos que essa recomendação deve ser tomada a sério e não levianamente. Os que pensarem que se trata de uma fórmula sem conseqüência farão melhor se desistirem de evocar.

272. As evocações oferecem, freqüentemente, mais dificuldades aos médiuns que os ditados espontâneos, sobretudo quando se trata de obter respostas precisas e perguntas circunstanciadas. Para tanto são necessários médiuns especiais, ao mesmo tempo flexíveis e positivos, e já vimos (nº 192) que eles são muito raros. Porque, como já dissemos, as relações fluídicas nem sempre se estabelecem instantaneamente com o primeiro Espírito que se apresenta. Convém, por isso, que os médiuns não se entreguem a evocações para perguntas detalhadas sem estarem seguros do desenvolvimento de suas faculdades e da natureza dos Espíritos que os assistem, pois com os que são mal assistidos as evocações não podem ter nenhum caráter de autenticidade.(1)

273. Os médiuns são geralmente muito mais procurados para as evocações de interesse privado do que para as evocações de interesse geral.Isso se explica pelo desejo muito natural de se conversar com os entes queridos. Cremos dever fazer, sobre este assunto, diversas recomendações importantes aos médiuns. Primeiro o de não acederem a esse desejo senão com reserva, no tocante a pessoas de cuja sinceridade não estejam suficientemente seguros, e de se manterem vigilantes contra as armadilhas que pessoas malfazejas lhes podem preparar. Segundo, de não se prestarem, sob nenhum pretexto, a essas evocações, se perceberem de curiosidade e de interesse e não uma intenção séria de parte do evocador, de se recusarem a servir para qualquer questão ociosa ou que não esteja no âmbito das que racionalmente se podem propor aos Espíritos. As perguntas devem ser feitas com clareza, nitidez e sem segundas intenções para se obterem respostas positivas.

É necessário repelir todas as que tiverem um caráter insidioso, pois os Espíritos não gostam das que têm por fim submetê-los à prova. Insistir em perguntas dessa natureza é o mesmo que querer ser enganado. O evocador deve dirigir-se franca e abertamente ao alvo, sem subterfúgios e rodeios inúteis. Se ele teme explicar-se é melhor que se abstenha.

É também conveniente só com muita prudência fazer evocações na ausência das pessoas que as pedem, e no mais das vezes é mesmo preferível não fazê-las. Porque somente essas pessoas estão aptas a controlar as respostas, a julgar a identidade do Espírito, a provocar os esclarecimentos que as respostas suscitarem e a fazer as perguntas ocasionais a que as circunstâncias podem levar. Além disso, sua presença é um motivo de atração para o Espírito, geralmente pouco disposto a se comunicar com estranhos pelos quais não tem nenhuma simpatia. Em suma: o médium deve evitar tudo o que possa transformá-lo em instrumento de consultas, o que, para muita gente equivale a ledor da sorte.


ESPÍRITOS QUE PODEM SER EVOCADOS

274. Podemos evocar todos os Espíritos, seja qual for o grau da escala a que pertençam: os bons e os maus, os que deixaram recentemente a vida e os que vieram nas épocas mais distantes, os homens ilustres e os mais obscuros, os nossos parentes, os nossos amigos e os que nos foram indiferentes. Mas isso não quer dizer que eles sempre queiram ou possam atender ao nosso apelo. Independente da sua própria vontade ou de não terem a permissão de um poder superior, eles podem estar impedidos por motivos que nem sempre podemos conhecer. O que desejamos dizer é que não há nenhum impedimento de ordem geral às comunicações, salvo o de que trataremos a seguir. Os obstáculos à manifestação são quase sempre de ordem individual e freqüentemente decorrem das circunstâncias.

275. Entre as causas que podem opor-se à manifestação de um Espírito, umas estão nele mesmo e outras lhe são estranhas. Devemos colocar entre as primeiras as suas ocupações ou as missões que desempenha, das quais não pode se afastar para atender aos nossos desejos. Nesse caso a sua manifestação fica apenas adiada.

Mas há também a sua própria situação. Embora a encarnação não seja um obstáculo absoluto, pode constituir um impedimento em certas ocasiões, principalmente quando se passa em mundos inferiores e quando o próprio Espírito é pouco desmaterializado. Nos mundos superiores, naqueles em que os liames que prendem o Espírito à matéria são muito frágeis, a manifestação para o Espírito, é quase tão fácil quanto no estado de erraticidade, e em todos os casos mais fáceis do que nos mundos em que a matéria corpórea é mais compacta.(2)

As causas estranhas ligam-se principalmente à natureza do médium, à condição da pessoa que evoca ao meio em que faz a evocação e, por fim, ao fim que se propõe. Certos médiuns recebem mais facilmente as comunicações de seus Espíritos familiares, que podem ser mais ou menos elevados; outros são aptos a servir de intermediários a todos os Espíritos.

Isso depende da simpatia ou da antipatia, da atração ou da repulsão que o Espírito do médium exerce sobre o evocado, que pode tomá-lo por intérprete com satisfação ou com aversão. E depende ainda sem levarmos em conta as qualidades pessoais do médium, do desenvolvimento de sua mediunidade. Os Espíritos se apresentam com maior boa vontade e sobretudo são mais precisos com um médium que não lhes oferece obstáculos materiais. Quando há igualdade no tocante às condições morais, quanto mais apto seja o médium para escrever ou exprimir-se, mais se ampliam as suas relações com o mundo espírita.(3)

276. Devemos ainda considerar a facilidade que resulta do hábito da comunicação com determinado Espírito. Com o tempo, o Espírito comunicante se identifica com o do médium e com o do evocador. Independente da questão de simpatia, estabelece-se entre eles relações fluídicas que tornam mais fáceis as comunicações. É por isso que a primeira manifestação nem sempre satisfaz como se desejava, e também que os próprios Espíritos pedem sempre para serem evocados de novo. O Espírito que se manifesta habitualmente sente-se como em casa: familiariza-se com os ouvintes e os intérpretes, fala e age com mais liberdade.

277. Em resumo, do que acabamos de expor resulta: que a faculdade de evocar todo e qualquer Espírito não implica para o Espírito a obrigação de estar às nossas ordens; que ele pode atender-nos numa ocasião e noutra não, com um médium ou com um evocador que o agrade e não com outro; dizer o que quiser, sem poder ser constrangido a dizer o que não quer; retirar-se quando lhe convém; enfim, que em virtude de sua própria vontade ou não, após haver sido assíduo durante algum tempo, pode subitamente deixar de manifestar-se.

Por todos esses motivos, quando se quiser evocar um novo Espírito é necessário perguntar ao guia protetor dos trabalhos se a evocação é possível. No caso de não o ser, ele geralmente dá as razões do impedimento e então seria inútil insistir.

278. Importante questão se apresenta aqui, a de saber se é inconveniente ou não evocar Espíritos maus. Isso depende do fim que se propõe e da independência que se pode ter em relação a eles. Não há inconveniente quando se faz a evocação com um fim sério, instrutivo e tendo em vista melhorar-se. Pelo contrário, é muito grande o inconveniente quando se faz por mera curiosidade ou diversão, ou se a gente se coloca sob a sua dependência, pedindo-lhes algum serviço. Os Espíritos bons, nesse caso, podem muito bem lhes dar o poder de fazer o que lhes foi pedido, com a ressalva de punir severamente mais tarde o temerário que ousou invocar o seu auxílio, considerando-os mais poderosos que Deus . Será vã a intenção de aplicar no bem o pedido de despedir o servidor após o serviço prestado. Esse mesmo serviço solicitado, por menor que seja, representa um verdadeiro pacto firmado com os Espíritos maus, e estes não largam facilmente a presa. (Ver nº 212)(4)

279. Só pela superioridade moral se exerce ascendência sobre os Espíritos inferiores. Os Espíritos perversos reconhecem a superioridade dos homens de bem. Entretanto alguém que lhes oponha a vontade enérgica, espécie de força bruta, reagem e muitas vezes são os mais fortes. Alguém tentava dominar assim um Espírito rebelde, aplicando a vontade ,e este lhe respondeu: Deixa-me em paz com esses ares de mata-mouros, que não vales mais do que eu. Que se diria de um ladrão pregando moral a outro ladrão?

Estranha-se que o nome de Deus, invocado contra eles, quase sempre não produza efeito. São Luís explicou a razão na resposta seguinte:

“O nome de Deus só tem influência sobre os Espíritos imperfeitos na boca de quem pode usá-lo com a autoridade das suas próprias virtudes. Na boca de um homem que não tenha nenhuma superioridade moral sobre o Espírito é uma palavra como qualquer outra. Dá-se o mesmo com os objetos sagrados que lhes opõem. A arma terrível é inofensiva em mãos inábeis ou incapazes de usá-la”.(5)


LINGUAGEM A USAR COM OS ESPÍRITOS

280. O grau de superioridade ou de inferioridade dos Espíritos indica naturalmente o tom em que se lhes deve falar. É evidente que quanto mais elevados, mais merecem o nosso respeito, a nossa consideração e a nossa submissão. Não devemos tratá-los com menos deferência do que o faríamos se estivessem vivos, mas por outros motivos: na vida terrena consideraríamos o seu cargo e a sua posição social; no mundo dos Espíritos só temos de respeitar a sua superioridade moral. Essa própria elevação os coloca acima das puerilidades das nossas formas bajulatórias. Não é com palavras que podemos conquistar-lhes a benevolência, mas pela sinceridade dos sentimentos. Seria ridículo, portanto, dar-lhes os títulos que usamos na distinção das posições e que em vida poderiam agradar-lhes a vaidade. Se forem realmente superiores, não somente não ligam a isso mas até se desagradam. Um bom pensamento os agrada mais do que os títulos mais lisonjeiros. De outra maneira eles não estariam acima da Humanidade. O Espírito de um venerável sacerdote, que foi na Terra um príncipe da Igreja, homem de bem, praticante do ensino de Jesus, respondeu a quem o evocava pelo título de monsenhor. “Devias pelo menos dizer ex-monsenhor, pois aqui só há um Senhor que é Deus. É bom saber que vejo aqui os que se ajoelhavam diante de mim na Terra e diante deles me inclino”.(6)

No tocante aos Espíritos inferiores, seu próprio caráter determina a linguagem que devemos empregar. Há entre eles os que, embora inofensivos e até mesmo benévolos, são levianos, ignorantes, estouvados. Tratá-los igual aos Espíritos sérios, como o fazem algumas pessoas, seria o mesmo que nos inclinarmos diante de um escolar ou perante um asno com barrete de doutor. O tom familiar não lhes causa estranheza e nem os melindra; pelo contrário, é o que lhes agrada.

Entre os Espíritos inferiores há os que são infelizes. Sejam quais forem às faltas que expiam, seus sofrimentos merecem tanto mais a nossa piedade, quanto ninguém escapa a estas palavras do Cristo. “Aquele que está sem pecado atire a primeira pedra”. A benevolência com que os tratamos é um consolo para eles. Na falta de simpatia, que encontrem em nós a indulgência que desejaríamos para nós mesmos.(7)

Os Espíritos que demonstram a sua inferioridade pelo cinismo da linguagem, pelas mentiras, pelos sentimentos baixos e os conselhos pérfidos são certamente menos dignos do nosso interesse do que aqueles cujas palavras atestam o seu arrependimento, mas devemos tratá-los pelo menos com a piedade que nos inspiram os grandes criminosos. O meio de os reduzir ao silêncio é nos mostrarmos superiores a eles, pois só estabelecem intimidade com pessoas de que nada tenham a temer. Porque os Espíritos perversos reconhecem a superioridade dos homens de bem, como reconhecem a dos Espíritos superiores.(8)

Em resumo: seria irreverente tratarmos os Espíritos superiores de igual para igual, como seria ridículo dispensarmos a todos, sem exceção, a mesma deferência.

Tenhamos veneração pelos que a merecem, reconhecimento pelos que nos protegem e assistem, e para todos os outros a benevolência de que talvez nós mesmos necessitemos um dia. Descobrindo o mundo incorpóreo aprendemos a conhecê-lo e esse conhecimento deve regular as nossas relações com os seus habitantes. Os Antigos, na sua ignorância, levantaram altares a eles. Para nós, não passam de criaturas mais ou menos perfeitas e só elevamos altares a Deus.(9)


UTILIDADE DAS EVOCAÇÕES VULGARES

281. As comunicações dos Espíritos superiores ou dos que animaram grandes personagens da Antiguidade são valiosas por seus elevados ensinamentos. Esses Espíritos atingiram um grau de perfeição que lhes permite abranger mais amplo círculo de idéias, desvendar mistérios que ultrapassam as possibilidades humanas e iniciar-nos assim, melhor do que outros, em certas questões. Mas isso não quer dizer que as comunicações dos Espíritos de ordem menos elevada sejam inúteis, pois o observador pode instruir-se com elas. Para conhecer os costumes de um povo é necessário estudá-lo em todas as suas camadas. Quem apenas o observar num dos seus aspectos o conhece mal. A história de um povo não é a dos seus reis ou dos seus expoentes sociais. Para julgá-lo é necessário pesquisar a sua vida íntima, os seus hábitos particulares. Ora, os Espíritos superiores são os expoentes do mundo espírita, sua própria elevação coloca-os de tal maneira acima de nós que nos assombramos com a distância que os separam de nós.

Os Espíritos mais burgueses (que nos revelem esta expressão) nos tornam mais palpáveis as condições de sua nova existência. A ligação entre a vida corpórea e a vida espírita é neles mais estreita e podemos compreendê-la melhor, porque nos toca mais de perto. Aprendendo por eles mesmos o processo de sua transformação, como pensam e o que experimentam os homens de todas as condições e de todos os caracteres, os homens de bem e os viciosos, os grandes e os pequenos, os felizes e os infelizes do nosso próprio século, numa palavra: os que viveram entre nós, que vimos e conhecemos, cuja vida real pudemos conhecer com suas virtudes e seus erros, compreendemos melhor suas alegrias e seus sofrimentos, partilhamos de umas e de outros e tiramos de ambos o ensino moral. Este ensino é tanto mais proveitoso quanto mais íntimas forem as ligações entre eles e nós. É mais fácil nos colocarmos no lugar daquele que foi nosso igual do que de outro que apenas vemos através da miragem de uma glória celestial. Os Espíritos vulgares nos mostram o resultado prático das grandes e sublimes verdades de que os Espíritos superiores nos dão a teoria. Aliás, no estudo de uma ciência nada é inútil. Newton descobriu a lei das forças universais no mais simples fenômeno.(10)

A evocação dos Espíritos vulgares tem ainda a vantagem de nos pôr em relação com os Espíritos sofredores, aos quais podemos aliviar e cujo adiantamento podemos facilitar com bons conselhos. Assim, podemos ser úteis ao mesmo tempo em que nos instruímos. Há egoísmo em só procurar a própria satisfação nas relações com os Espíritos. Aquele que deixa de estender a mão aos desgraçados dá prova de orgulho. De que lhe serve obter belas comunicações de Espíritos elevados, se isso não o torna melhor, mais caridoso e mais benevolente para os seus irmãos deste e do outro mundo? Que seria dos pobres doentes se os médicos se recusassem a lhes tocar as chagas?(11)

282. PERGUNTAS SOBRE AS EVOCAÇÕES:

1. Pode alguém evocar os Espíritos sem ser médium?

— Todos podem evocar os Espíritos. Se os evocados não puderem manifestar-se materialmente, nem por isso deixam de se aproximar e ouvir o evocador.

2. O Espírito evocado atende sempre ao chamado?

— Isso depende das suas condições, porque há circunstâncias em que não pode fazê-lo.

3. Quais as causas que podem impedi-lo?

— Primeiro, a sua própria vontade; depois, o seu estado corpóreo, se estiver encarnado; as missões de que estiver encarregado, ou ainda a falta de permissão para tanto, que lhe pode ser negada. Há também Espíritos que não podem jamais se comunicar. São os que ainda pertencem, por sua natureza, a mundos inferiores a Terra.

Os que se encontram em globos de punição também não podem comunicar-se, a menos que tenham permissão superior, só concedida em caso de utilidade geral. Para que um Espírito possa comunicar-se é necessário que tenha atingido o grau de evolução do mundo em que é chamado, pois do contrário será estranho à cultura desse mundo e não disporá de meios de comparação para exprimir-se. Não se dá o mesmo com os que são enviados em missão ou expiação aos mundos inferiores, pois esses possuem a cultura necessária para responder.

4. Por quais motivos pode ser negada a um Espírito a permissão de se comunicar?

— Pode ser uma prova ou uma punição para ele ou para quem o chama.

5. Como os Espíritos, dispersos no espaço ou em diversos mundos, podem ouvir as evocações que lhes são dirigidas de todos os pontos do Universo?

— Freqüentemente são prevenidos pelos Espíritos familiares que vos cercam e que vão procurá-los. Mas ocorre nesse caso um fenômeno que é difícil de vos explicar, porque ainda não podeis compreender o modo de transmissão do pensamento entre os Espíritos. O que posso dizer é que o Espírito evocado, por mais distante que esteja, recebe por assim dizer o impulso do pensamento como uma espécie de choque elétrico, que chama a sua atenção para o lado de aonde vem o pensamento a ele endereçado. Podemos dizer que ele entende o pensamento, como na Terra entendeis a voz.

— O fluido universal é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som?

— Sim, com a diferença de que o som só pode ser ouvido num raio muito limitado, enquanto o pensamento atinge o infinito. O Espírito no espaço é como o viajante que, no meio de vasta planície, ouvindo subitamente o seu nome se dirige para o lado de onde o chamam.(12)

6. Sabemos que as distâncias nada são para os Espíritos, mas nos admiramos de ver que respondem às vezes tão prontamente ao chamado como se estivessem bem próximos.

— É que às vezes realmente estão. Se a evocação foi premeditada, o Espírito recebeu o aviso com antecedência e freqüentemente se encontra no lugar antes que o chamem.

7. Conforme as circunstâncias, o pensamento do evocador será ouvido com maior ou menor facilidade?

— Sem qualquer dúvida. O Espírito chamado com um pensamento de simpatia e benevolência é mais vivamente tocado. É como se reconhecesse uma voz amiga. Sem isso, acontece muitas vezes que a evocação não avança. O pensamento desferido pela evocação toca o Espírito, mas se é mal dirigido se perde no vácuo. Isso acontece também com os homens: se quem os chama não interessa ou lhes é antipático, eles podem ouvi-lo, mas na maioria das vezes não o atendem.

8. O Espírito evocado se manifesta voluntariamente ou é constrangido a isso?

— Ele obedece à vontade de Deus, o que quer dizer à lei geral que rege o Universo. Não obstante, constrangido não é o termo certo, porque ele julga se é conveniente atender e ainda nisso dispõe do livre-arbítrio. O Espírito superior atende sempre que o chamam com uma finalidade útil.Só se recusa a responder a reuniões de pessoas pouco sérias e que tratam disso por divertimento.

9. O Espírito evocado pode negar-se a atender?

— Perfeitamente. Onde estaria, sem isso, o seu livre-arbítrio? Achais que todos os seres do Universo estão às vossas ordens? E vós mesmos, acaso vos considerais obrigados a responder a todos os que pronunciam o vosso nome? Mas quando assim o digo, refiro-me ao chamado do evocador. Porque um Espírito inferior pode ser constrangido, por um superior, a se manifestar.(13)

10. O evocador dispõe de algum meio para constranger o Espírito a atendê-lo?

— Nenhum, se o Espírito é igual ou superior a ele em moralidade, — digo em moralidade e não em inteligência, — porque então não tem nenhuma autoridade. Se for inferior, poderá fazê-lo para o seu próprio bem, porque então outros Espíritos o ajudarão. (Ver nº 270).

11. Será inconveniente evocar Espíritos inferiores e será de temer que eles dominem o evocador?

— Eles só dominam os que se deixam dominar. Quem for assistido por Espíritos bons nada tem a temer, porque se impõe aos Espíritos inferiores e não estes a ele. Os médiuns quando sós, principalmente quando iniciantes, devem evitar essa espécie de evocações.(Ver nº 278)

12. Há algumas disposições especiais para as evocações?

A disposição principal é a do recolhimento, quando se deseja a comunicação de Espíritos sérios. Com fé e o desejo do bem há maior capacidade para se evocar Espíritos superiores. Ao elevar a alma por alguns instantes de recolhimento, no momento da evocação, a gente se identifica com os Espíritos bons e os dispõe a se manifestarem.

13. A fé é necessária para as evocações?

— A fé em Deus, sim. Quanto ao mais, a fé se desenvolverá com o desejo do bem e a intenção de instruir-se.

14. Reunidos pela unidade de pensamentos e intenções os homens se tornam mais fortes para evocar os Espíritos?

— Quando todos se reúnem pela caridade e para o bem, consegue grandes coisas. Nada é mais nocivo para o êxito das evocações do que a divergência de pensamentos.

15. É útil o hábito de formar corrente, dando-se as mãos por alguns minutos no começo das reuniões?

— A corrente é um meio material que não produz a união entre vós se ela não existir nos pensamentos. Mais eficaz que essas coisas é a união num pensamento comum, apelando cada qual para os Espíritos bons. Não sabeis o que se poderia obter numa reunião séria, da qual se houvesse afastado sentimento de orgulho e de personalismo, reinando um perfeito sentimento de mútua cordialidade.

16. É preferível fazer as evocações em dias e horas determinados?

— Sim, e se possível no mesmo local. Os Espíritos então comparecem mais à vontade. A vossa constância ajuda os Espíritos a virem comunicar-se conosco. Eles têm as suas ocupações, que não podem deixar de repente para vossa satisfação pessoal. Quando digo no mesmo local não me refiro a uma obrigação absoluta, pois os Espíritos vão a toda parte. Quero dizer que é preferível um local consagrado às reuniões, porque o recolhimento se torna mais perfeito.

17. Certos objetos,como medalhas e talismãs, têm a propriedade de atrair ou repelir os Espíritos, como pretendem algumas pessoas?

— Pergunta inútil, pois sabeis que a matéria não exerce nenhuma ação sobre os Espíritos. Ficais certos de que jamais um Espírito bom aconselha semelhantes absurdos. A virtude dos talismãs, de qualquer natureza, só existe na imaginação das criaturas supersticiosas.

18. Que pensai dos Espíritos que marcam encontros em lugares lúgubres e horas inconvenientes?

— São Espíritos que se divertem com os que lhes dão ouvidos. É sempre inútil e freqüentemente perigoso ceder a essas sugestões. Inútil, porque nada absolutamente se ganha além de ser mistificado; perigoso, não pelo mal que os Espíritos possam fazer, mas pela influência que isso pode exercer nos cérebros fracos.

19. Há dias e horas mais propícias para as evocações?

— Para os Espíritos isso é completamente indiferente, como tudo o que é material, e seria supersticioso acreditar na influência dos dias e das horas. Os momentos mais propícios são aqueles em que o evocador esteja menos absorvido pelas suas preocupações habituais, em que o seu corpo e o seu espírito estejam mais calmos.

20. A evocação é agradável ou penosa para os Espíritos? Eles atendem de boa vontade quando os chamamos?

— Isso depende do seu caráter e do motivo porque o chamam. Quando o objetivo é louvável e o meio é simpático, a evocação se toma agradável e mesmo atrativa. Os Espíritos se sentem sempre felizes com os testemunhos de afeição. Há os que consideram uma grande felicidade poder comunicar-se com os homens e sofrem com o esquecimento destes. Mas, como já disse, isso também depende do seu caráter. Entre os Espíritos existem também os misantropos que não gostam de ser incomodados, cujas respostas se ressentem do seu mau humor, sobretudo quando chamados por criaturas que lhes são indiferentes, pelas quais não se interessam. Um Espírito não tem, muitas vezes, nenhum motivo para atender o apelo de um desconhecido que lhe é indiferente e que age quase sempre movido pela curiosidade. Nesse caso, se ele atende é geralmente em rápidas passagens, a menos que exista um objetivo sério e instrutivo na evocação.

Observação de Kardec: Vemos pessoas que só evocam seus parentes para fazer perguntas sobre as coisas mais vulgares da vida material. Por exemplo: um para saber se alugará ou venderá a sua casa: outro, para indagar do lucro que obterá com sua mercadoria, qual o lugar onde há dinheiro escondido, se tal negócio será ou não vantajoso. Nossos parentes de além túmulo só se interessam por nós em razão da afeição que lhes conservamos. Se todos os nossos pensamentos se limitam a julgá-los feiticeiros, se só pensamos neles pedindo informações, não podem ter grande simpatia por nós e não devemos nos admirar de que nos demonstrem pouca benevolência.

21. Há diferenças entre os Espíritos bons e maus no tocante à solicitude com que atendem ao nosso chamado?

— Há, e muito grande. Os Espíritos maus só atendem de boa vontade quando esperam dominar e enganar; sentem viva contrariedade quando são forçados a se manifestar para confessar as suas faltas e procuram escapar, como o colegial que se chama para repreender. Podem ser constrangidos a manifestar-se por Espíritos superiores, como castigo e para instrução dos encarnados. A evocação é penosa para os Espíritos bons quando chamados inutilmente, por motivos fúteis. Então não atendem ou logo se retiram.

Pode-se dizer que em geral os Espíritos, sejam quais forem, não gostam de servir, como vós, de distração para curiosos. Muitas vezes não tendes outro fim, ao evocar um Espírito, que o de ver o que ele vos dirá ou interrogá-lo sobre particularidades da sua vida que ele não se interessa por vos contar, pois não tem nenhum motivo para vos fazer de confidente. Pensais que vai se expor no banco dos réus para vos agradar? Desenganai-vos, pois o que ele não faria em vida, muito menos o fará como Espírito.

Observação de Kardec: A experiência comprova que a evocação é sempre agradável para os Espíritos quando feita com um objetivo sério e útil. Os bons têm prazer em nos instruir. Os sofredores são aliviados com a simpatia que lhes demonstramos; os nossos conhecidos ficam satisfeitos com a nossa lembrança. Os Espíritos levianos gostam de ser evocados por pessoas frívolas, porque têm a oportunidade de se divertirem à sua custa: não se sentem bem na companhia de pessoas sérias.

22. Os Espíritos necessitam da evocação para se manifestarem?

— Não. Manifestam-se muito freqüentemente sem ser chamado, o que prova que o fazem de boa vontade.

23. Quando um Espírito se manifesta por si mesmo podemos estar certos da sua identidade?

— De maneira alguma, pois os Espíritos mistificadores o fazem com freqüência para melhor enganar.

24. Quando evocamos um Espírito pelo pensamento ele nos atende, mesmo que não haja manifestação pela escrita ou de outra maneira?

— A escrita é o meio material pelo qual o Espírito atesta a sua presença, mas é o pensamento que o atrai e não o ato de escrever.

25. Quando um Espírito inferior se manifesta podemos obrigá-lo a se retirar?

— Sim, não lhe dando ouvidos. Mas como quereis que se retire se vos divertis com as suas asneiras? Os Espíritos inferiores, como os tolos entre vós, se apegam aos que gostam de ouvi-los.

26. A evocação em nome de Deus é uma garantia contra a intromissão dos Espíritos maus?

— O nome de Deus não é um freio para todos os Espíritos perversos, mas segura muitos deles. Por esse meio sempre afastais alguns, e muitos mais afastareis se o pronunciardes do fundo do coração e não como fórmula banal.(14)

27. Poderíamos evocar nominalmente muitos Espíritos ao mesmo tempo?

— Não há para isso nenhuma dificuldade. Havendo três ou quatro mãos para escrever, três ou quatro Espíritos responderiam ao mesmo tempo. É o que acontece quando dispomos de muitos médiuns.

28. Quando muitos Espíritos são evocados de uma vez, com um médium só, qual o que responde?

— Um deles responde por todos e exprime o pensamento coletivo.

29. O mesmo Espírito poderia comunicar-se ao mesmo tempo, na mesma sessão, por dois médiuns diferentes?

— Tão facilmente como, entre vós, certos homens ditam muitas cartas de uma vez.

Observação de Kardec: Vimos um Espírito responder ao mesmo tempo, por dois médiuns, às perguntas que lhe faziam, por um em francês e por outro em inglês, sendo idênticas às respostas quanto ao sentido, e algumas mesmo verdadeiras traduções literais.

Dois Espíritos evocados simultaneamente por dois médiuns podem travar uma conversação. Não necessitando dessa forma de comunicação,desde que lêem reciprocamente seus pensamentos, assim o fazem para a nossa instrução. Se forem Espíritos inferiores, estando ainda imbuídos das paixões terrenas e das idéias que tiveram na vida corpórea, pode acontecer que briguem e troquem palavrões, que se acusem mutuamente e até mesmo que atirem os lápis,as cestas, as pranchetas, etc. um no outro.(15)

30. O Espírito que é evocado ao mesmo tempo em muitos lugares pode responder simultaneamente às perguntas que lhe fazem?

— Sim, se for um Espírito elevado.

Nesse caso o Espírito se divide ou possui o dom da ubiqüidade?

— O Sol é um só e no entanto irradia a sua luz por todos os lados, projetando os seus raios à distância sem se subdividir. Dá-se o mesmo com os Espíritos. O pensamento do Espírito é como uma estrela que irradia a sua claridade no horizonte e pode ser vista de todos os pontos. Quanto mais puro é o Espírito mais o seu pensamento irradia e se difunde como a luz. Os Espíritos inferiores são mais materiais, não podem responder a mais de uma pessoa de cada vez e não podem atender à nossa evocação se já foram chamados em outro lugar.

Um Espírito superior, chamado ao mesmo tempo em dois lugares, atenderá às duas evocações se elas forem igualmente sérias e fervorosas. Em caso contrário, dará preferência a mais séria.(16)

Observação de Kardec: Dá-se o mesmo com o homem que, de um mesmo lugar, pode transmitir seu pensamento por meio de sinais que são visíveis de várias direções. Numa sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em que a questão da ubiqüidade estava em discussão,um Espírito ditou espontaneamente a comunicação seguinte:

“Discutíeis sobre a hierarquia dos Espíritos quanto à ubiqüidade. Comprai-nos a um aeróstato que se eleva pouco a pouco no ar. Enquanto ainda rasteja na terra, só um pequeno círculo de pessoas pode vê-lo; à medida que se eleva o círculo se alarga e quando atinge certa altura é visto por uma infinidade de pessoas. O mesmo acontece conosco. Um Espírito mau, ainda apegado a terra, fica num círculo restrito de pessoas que o vêem. Eleve-se na graça, melhore-se e poderá conversar com muitas pessoas. Quando se tornar Espírito superior poderá irradiar como a luz solar, mostrar-se a muitas pessoas e em muitos lugares ao mesmo tempo. – CHANNING”.

31. Os Espíritos puros,que já terminaram a série de suas encarnações, podem ser evocados?

— Sim, mas muito raramente, pois só se comunicam aos corações puros e sinceros, não aos orgulhosos e egoístas. Assim, é necessário desconfiar dos Espíritos inferiores que se arrogam essa qualidade para se fazerem mais importantes aos vossos olhos.

32. Como se explica que os Espíritos de homens mais eminentes atendam tão facilmente, e de maneira tão familiar, ao chamado dos homens mais obscuros?

— Os homens julgam os Espíritos por si mesmos, o que é errado. Após a morte corporal as posições terrenas desaparecem. A única distinção entre os Espíritos é a da bondade, e os que são bons vão a todos os lugares onde possam fazer o bem.

33. Quanto tempo depois da morte se pode evocar um Espírito?

— Pode-se evocá-lo no próprio instante da morte, mas como então ele ainda se encontra em perturbação,só imperfeitamente pode responder.

Observação de Kardec: Sendo muito variável a duração da perturbação, não se pode fixar um prazo para a evocação. Não obstante, é raro que o Espírito, depois de oito dias, não esteja suficientemente cônscio do seu estado para poder responder. Às vezes pode fazê-lo muito bem, dois ou três dias após a morte. É possível, em todos os casos, experimentar de maneira prudente.(17)

34. A evocação no instante da morte é mais penosa para o Espírito do que mais tarde?

— Algumas vezes. É como se vos fizessem levantar em meio do sono, sem estar completamente acordado. Não obstante há os que não se mostram de maneira alguma contrariados e aos quais a evocação até mesmo ajuda a saírem da perturbação.(18)

35. Como pode o Espírito de uma criança, morta em tenra idade, responder conscientemente, se quando em vida corpórea ainda não tinha consciência de si mesma?

A alma da criança é um Espírito ainda envolto nas faixas da matéria. Mas liberto da matéria goza das suas faculdades de Espírito, porque os Espíritos não têm idade. Isso prova que o Espírito da criança já viveu. Não obstante, até que esteja completamente liberto pode conservar na linguagem alguns traços do caráter da criança.(19)

36. Pode-se evocar o Espírito de um animal?

— O princípio inteligente que animava o animal fica em estado latente após sua morte. Os Espíritos encarregados desse trabalho imediatamente o utilizam para animar outros seres, através dos quais continuará o processo da sua elaboração. Assim, no mundo dos Espíritos não há Espíritos errantes de animais, mas somente Espíritos humanos. Isto responde a vossa pergunta.(20)

37. Como se explica então que certas pessoas tenham evocado animais e recebido respostas?

— Evoque um rochedo e ele responderá. Há sempre uma multidão de Espíritos prontos a falar sobre tudo.

Observação de Kardec: É por essa mesma razão que se evocarmos um mito ou um personagem alegórico ele responderá.Isso quer dizer que responderão por ele. O Espírito que se apresentar em seu lugar tomará o seu aspecto e as suas maneiras. Alguém teve um dia à idéia de evocar Tartufo e ele logo se manifestou. E ainda mais, falou de Orgon,de Elmira, de Damis e Valéria, dando suas notícias. Quanto a si mesmo, imitou Tartufo com tanta arte como se ele fosse um personagem real. Disse mais tarde ser um artista que havia desempenhado o papel. Os Espíritos levianos se aproveitam sempre da inexperiência dos interrogantes, mas evitam manifestar-se aos que sabem que podem descobrir as suas imposturas e não dariam crédito às suas estórias.É o mesmo que acontece entre os homens.

Um senhor tinha em seu jardim um ninho de pintassilgos, pelos quais se interessava muito. Certo dia o ninho desapareceu. Seguro de que ninguém de sua casa cometera o delito, e sendo médium, teve a idéia de evocar a mãe dos passarinhos. Ela se comunicou e lhe disse em excelente francês: “Não acuses a ninguém e tranqüiliza-te quanto à sorte dos meus filhinhos. Foi o gato que saltou e derrubou o ninho. Poderás encontrá-lo sob a relva, juntamente com os filhotes que não foram comidos”. Indo verificar, encontrou tudo certo. Devemos concluir que foi a ave quem respondeu? Claro que não, mas simplesmente que um Espírito conhecia a história. Isso mostra quanto devemos desconfiar das aparências: evoca um rochedo e ele te responderá. (Ver o capítulo sobre Mediunidade nos animais, nº 234).(21)

284. EVOCAÇÃO DE PESSOAS VIVAS:

38. A encarnação do Espírito impede de maneira absoluta a sua evocação?

— Não, mas é necessário que a condição corpórea facilite o seu desprendimento nesse momento. O Espírito encarnado atende mais facilmente quando o mundo em que se encontra é mais elevado, porque então os corpos são menos materiais.

39. Podemos evocar o Espírito de uma pessoa viva?

— Sim, desde que se pode evocar um Espírito encarnado.O Espírito de um vivo pode, também, nos seus momentos de liberdade, manifestar-se sem ser evocado. Isso depende da simpatia que tiver pelas pessoas em causa. (Ver nº 116, História do homem da tabaqueira).

40. Como se acha o corpo da pessoa cujo Espírito da pessoa é evocado?

— Dorme ou cochila; é quando o Espírito está livre.

41. Poderia despertar na ausência do Espírito?

Não; para isso, o Espírito é forçado a voltar ao corpo. Se nesse momento estiver se comunicado,ele vos deixa e freqüentemente diz o motivo.

42. Como o Espírito é avisado da necessidade de voltar ao corpo?

— O Espírito de um vivo nunca está completamente separado do corpo. Por mais que se distancie, continua ligado por um laço fluídico que serve para chamá-lo quando necessário. Só com a morte se rompe esse laço.(22)

43. Que aconteceria se o corpo fosse mortalmente ferido durante o sono e na ausência do Espírito?

— O Espírito seria advertido e voltaria antes que a morte se consumasse.

44. Não poderia então ocorrer à morte do corpo na ausência do Espírito, e que este, ao voltar, não mais pudesse retomá-lo?

— Não, isso seria contrário à lei que rege a união da alma com o corpo.

45. Mas se fosse desferido um golpe súbito?

— O Espírito seria prevenido antes do golpe.

Observação de Kardec: Interrogado a respeito, o Espírito de um vivo respondeu: “Se o corpo pudesse morrer na ausência do Espírito, seria esse meio muito cômodo de se praticarem suicídios hipócritas”.(23)

46. O Espírito de uma pessoa evocada durante o sono comunica-se tão livremente como o de um morto?

— Não. A matéria sempre o influencia em maior ou menor grau.

Observação de Kardec: Uma pessoa interrogada nesse estado respondeu: “Estou sempre ligado à bola de ferro que arrasto comigo”.

47. Nesse estado de sono o Espírito poderia ser impedido de atender por estar em outro lugar?

— Sim, pode acontecer que o Espírito se encontre num lugar em que deseja permanecer. Então não atende à evocação, sobretudo quando feita por alguém que não lhe interessa.

48. É absolutamente impossível evocar o Espírito de uma pessoa acordada?

— Embora difícil, não há impossibilidade absoluta porque, se a evocação a atingir, a pessoa pode adormecer. Mas o Espírito só pode comunicar-se, como Espírito, nos momentos em que a sua presença não for necessária à atividade inteligente do corpo.

Observação de Kardec: Prova a experiência que a evocação durante o estado de vigília pode provocar o sono ou pelo menos uma abstração aproximada ao sono. Mas esse efeito só se produz por uma vontade bastante enérgica e se houver laços de simpatia entre as duas pessoas. De outra maneira a evocação não dá resultado. Mesmo quando a evocação puder provocar sono, se o momento for inoportuno e a pessoa não quiser dormir, resistirá. Caso sucumba, seu Espírito estará perturbado com isso e dificilmente responderá. Conclui-se que o momento mais favorável à evocação de uma pessoa viva é o do sono natural, porque o Espírito estando livre pode atender ao chamado, da mesma maneira que pode ir a outro lugar. Quando a evocação é feita com o consentimento da pessoa, tentando esta dormir sob o seu efeito, pode acontecer que essa preocupação retarde o sono e perturbe o Espírito. Eis porque o sono natural é ainda o preferível.

49. A pessoa viva evocada tem consciência disso ao acordar?

— Não. Tu mesmo és evocado bem mais freqüentemente do que pensas. Só o Espírito o sabe e às vezes pode dar ao homem uma vaga impressão do que houve, como a de um sonho.(24)

50. Quem nos pode evocar, se somos obscuros?

— Noutras existências poderias ter sido pessoa conhecida nesse mundo ou em outros, e há também os teus parentes e amigos desse e de outros mundos. Suponhamos que o teu Espírito haja animado o corpo do pai de outra pessoa. Pois bem: quando essa pessoa evocar o seu pai, é o teu Espírito que está sendo evocado e que responderá.

51. O Espírito da pessoa viva responde como Espírito ou com as idéias do seu estado de vigília?

— Isso depende de sua elevação, mas considera as coisas com mais lucidez e menos preconceitos, exatamente como os sonâmbulos. É um estado quase semelhante.

52. Se o Espírito de um sonâmbulo fosse evocado durante o sono magnético seria mais lúcido que o de qualquer outra pessoa?

— Responderia mais facilmente, sem dúvida, porque estaria mais desprendido. Tudo depende do grau de independência do Espírito em relação ao corpo.

53. O Espírito de um sonâmbulo poderia responder a quem o evocasse a distância, ao mesmo tempo em que respondi verbalmente a outra pessoa?

— A faculdade de se comunicar simultaneamente em dois lugares diferentes só pertence aos Espíritos completamente libertos da matéria.

54. Poderíamos modificar as idéias de uma pessoa em estado de vigília, agindo sobre o seu Espírito durante o sono?

— Sim, às vezes. Não estando o Espírito, no sono, ligado tão estreitamento à matéria, torna-se mais acessível às sugestões morais e estas podem influir sobre a sua maneira de ver no estado ordinário. Infelizmente acontece, quase sempre, que ao acordar a natureza corpórea o domina e o faz esquecer as boas resoluções que tenha podido tomar.

55. O Espírito de pessoa viva é livre de dizer ou não o que desejar?

— Ele está na posse de suas faculdades de Espírito, portanto do seu livre arbítrio. Como dispõe de mais perspicácia, é mesmo mais cauteloso do que no seu estado de vigília.

56. Poderíamos obrigar uma pessoa evocada a dizer o que deseja calar?

— O Espírito tem o seu livre arbítrio, como eu disse. Mas pode acontecer que, como Espírito, dê menos importância a certas coisas do que no seu estado ordinário. Sua consciência pode revelar-se mais livremente. Aliás,se não falar, pode sempre escapar às importunações indo embora, pois não se pode reter o Espírito como se retém o corpo.

57. O Espírito de pessoa viva não poderia ser constrangido por outro Espírito a se manifestar e falar, como acontece com Espíritos errantes?

— Entre os Espíritos de mortos ou de vivos só há uma supremacia, que é a da superioridade moral. Deves compreender que um Espírito superior jamais apoiaria uma indiscrição covarde.

Observação de Kardec: Esse abuso de confiança seria de fato uma ação má, que entretanto não daria resultado, pois não se pode arrancar um segredo do Espírito que o deseja guardar. A menos que, dominado por um sentimento de justiça, confessasse o que em outras circunstâncias calaria. Uma pessoa quis saber por esse meio se um de seus parentes a beneficiava em seu testamento. O Espírito respondeu: “Sim, minha querida sobrinha, e logo terás a prova”. Realmente era assim, mas poucos dias depois o parente desfez o seu testamento e teve a malícia de dar ciência disso à sobrinha, sem entretanto saber que havia sido evocado. Um sentimento instintivo o levou sem dúvida a executar a resolução que o seu Espírito tomara após a pergunta que lhe fora feita. Há covardia em se perguntar ao Espírito de um morto ou de um vivo o que não se ousaria perguntar à sua pessoa, e essa covardia não tem sequer a compensação do resultado que se espera.

58 – Pode-se evocar um Espírito cujo corpo ainda se encontra no seio materno?

— Não. Sabes muito bem que nessa fase o Espírito se acha em completa perturbação.

Observação de Kardec: A encarnação somente se efetiva no momento em que a criança respira. Mas desde a concepção o Espírito designado é envolvido por uma perturbação que aumenta com a aproximação do nascimento e lhe tira a consciência de si mesmo. Por conseguinte ele não pode responder. (Ver O Livro dos Espíritos: Volta à vida corpórea e União da alma com o corpo, nº 344).

59. Um Espírito mistificador poderia responder pelo de uma pessoa viva que se evocasse?

— Não há dúvida e isso acontece com muita freqüência, sobretudo quando a intenção do evocador não é pura. Aliás, a evocação de pessoas vivas só tem interesse como estudo psicológico. Convém não fazê-la quando não se visa a um resultado instrutivo.

Observação de Kardec: Se à evocação dos Espíritos errantes nem sempre os atinge, para usarmos a sua própria expressão, isso ainda é mais freqüente no tocante aos encarnados.É então, sobretudo, que os Espíritos mistificadores tomam o seu lugar.

61. Quando a evocação de um vivo pode ser mais inconveniente?

— Não devem ser evocadas as crianças de tenra idade, as pessoas gravemente doentes, os velhos enfermos. Numa palavra: ela pode ter inconveniente sempre que o corpo esteja muito debilitado.

Observação de Kardec: A brusca suspensão das faculdades intelectuais durante o estado de vigília, também poderia oferecer perigo, se a pessoa, no momento, necessitasse de toda a sua agilidade mental.

62. Durante a evocação de uma pessoa viva seu corpo se cansa por causa do trabalho do Espírito, embora ausente?

Uma pessoa evocada, afirmando que o seu corpo se cansava, respondeu assim a essa pergunta:

— Meu Espírito é como um balão amarrado a um poste; meu corpo é o poste que estremece com as sacudidelas do balão.

63. Desde que a evocação dos vivos pode ter inconveniente, quando feita sem precaução, não há perigo também ao se evocar um Espírito que não se sabe se está encarnado e poderia não se encontrar em condições favoráveis?

— Não, as circunstâncias não são as mesmas. Ele só atenderá se estiver em condições. Aliás, eu já não disse que antes de fazer a evocação deve-se perguntar se ela é possível?

64. Quando sentimos, nos momentos mais impróprios, um sono irresistível, será por que estamos sendo evocados em algum lugar?

— Isso pode ser, sem dúvida,mas o mais freqüente é tratar-se de uma exigência física, seja pela necessidade de repouso do corpo ou porque o Espírito precisa da sua liberdade.

Observação de Kardec: Uma senhora nossa conhecida, médium, teve um dia à idéia de evocar o Espírito do seu neto, que dormia no mesmo quarto. Constatou-se a identidade pela linguagem, pelas expressões familiares da criança e pelo relato bastante exato de muitas coisas que lhe haviam acontecido no internato. Mas uma circunstância ainda a confirmou. Súbito a mão da médium parou em meio de uma frase, sem que fosse possível escrever mais. Nesse momento, meio acordado, o menino agitou-se no leito. Logo mais , voltando a dormir, a mão se pôs a escrever, continuando a conversa interrompida. A evocação de vivos, feita nas condições convenientes, prova de maneira incontestável a atividade distinta do Espírito e do corpo, e por conseguinte a existência de um princípio inteligente independente da matéria. (Ver na Revista Espírita de 1860, páginas 11 e 85 da edição brasileira, vários exemplos notáveis de evocação de pessoas vivas).(25)

285. TELEGRAFIA HUMANA

65. Duas pessoas, evocando-se reciprocamente, poderiam transmitir-se os seus pensamentos e corresponder-se?

— Sim, e essa telegrafia humana será um dia um meio universal de correspondência.

66. Por que não seria praticada desde agora?

— Já é por algumas pessoas, mas não por todos. É necessário que os homens se depurem para que o seu Espírito se liberte da matéria, e eis ainda uma razão para que se faça a evocação em nome de Deus. Até lá, ela estará circunscrita às almas de eleição e desmaterializadas, que raramente se encontram no estado atual dos habitantes da Terra.(26)


(1) Este é um dos problemas que os adversários do Espiritismo fazem por ignorar e que os cientistas, em geral, subestimam. Os chamados fracassos de médiuns em investigações científicas são antes fracassos dos investigadores que não consideram as exigências naturais do processo mediúnico, o que vale dizer que agem de maneira anticientífica, tentando submeter às leis naturais às suas exigências descabias. Os Espíritos, como Kardec afirmou, são uma das forças da Natureza, mas uma força dotada de inteligência e livre arbítrio, como o próprio homem, que é um Espírito encarnado agindo na Natureza visível. (N. do T.)

(2) Há vários graus de mundos superiores à Terra. Nos mais adiantados a “prisão” corporal do Espírito é mais frágil, permitindo-lhe maior facilidade de libertação para atender os chamados dos entes queridos que deixou em nosso planeta. Mas em todos esses mundos o desprendimento do Espírito é mais fácil do que na Terra e em outros mundos inferiores. (N. do T.)

(3) Kardec usava a expressão “mundo espírita” para designar o mundo dos Espíritos. Evidentemente para estabelecer uma diferença de conceituação, pois o mundo espiritual revelado pelo Espiritismo é muito mais preciso que o das religiões e ordens oculistas da época, oferecendo ainda a diferença fundamental de ser natural e não sobrenatural. (N. do T.)

(4) Essa razão porque o Espiritismo é contrário às relações interesseiras com os Espíritos. Só os inferiores atendem às nossas ambições e paixões, mas com isso nos submetemos a eles. Foi por isso também que Moisés condenou essas relações, no cap. XVIII do Deuteronômio, injustamente citado contra o Espiritismo pelos que não conhecem a doutrina. (N. do T.)

(5) Palavras, amuletos, medalhas, imagens e outros instrumentos do culto religioso ou de práticas mágicas nada influem sobre os Espíritos perversos, se aquele que os emprega não possuir virtudes morais e não agir com amor, humildade e compreensão. Agindo assim, todos os instrumentos e artifícios são dispensáveis. (N. do T.)

(6) Os títulos usados em alguns casos, como nas comunicações de São Luis, do apóstolo Paulo e outros, tem apenas função de identificação do Espírito comunicante. É preciso distinguir uma coisa de outra. (N. do T.)

(7) Há criminosos e pecadores que algumas pessoas encaram, nas sessões, como desprezíveis, em conseqüência dos preconceitos humanos. O Espiritismo nos ensina que todas as criaturas humanas são falíveis, mas também são moralmente recuperáveis, e que nós mesmos temos falhas mais graves do que às vezes supomos. Quanto aos Espíritos sofredores, são criaturas que buscam a nossa compreensão, o nosso amparo, e tratá-lo com arrogância nas sessões é faltar à caridade. (N. do T.)

(8) Tratar esses Espíritos em pé de igualdade é o mesmo que disputar com loucos. Mas “nos mostrarmos superiores” não é sermos arrogante e sim tratá-los com amor, com superioridade moral, não nos igualando aos seus modos nem os agredindo. (N. do T.)

(9) Elevar altares, neste caso, é expressão figurada, estabelecendo a diferença entre duas épocas. Os espíritas não elevam altares. (N. do T.)

(10) Este tópico deixa bem clara a posição científica do Espiritismo e revela também a sua posição existencial no tratamento do problema do Ser. A atualidade científica e filosófica da Doutrina nele se comprova. A busca do objetivo, do que se pode tocar e portanto provar, daquilo que está ao nosso alcance e por isso mesmo nos instrui como nessa observação da nova existência dos Espíritos burgueses, é o que mais interessa ao pesquisador espírita verdadeiro, menos interessado em fórmula: teorias do que em descobrir leis. Essa uma das diferenças fundamentais entre o Espiritismo e as demais correntes espiritualistas. (N. do T.)

(11) O humanismo espírita se evidencia nesta passagem em que a pesquisa se transforma em meio de ajuda mútua. Os Espíritos não são apenas objetos de curiosidade ou de estudo, mas irmãos em humanidade aos quais podemos ajudar, ao mesmo tempo em que nos ajudamos com as lições do seu exemplo. Espíritos e encarnados se conjugam na batalha consciente do aperfeiçoamento humano. (N. do T.)

(12) A comunicação do pensamento à distância está hoje provada pelos próprios métodos das chamadas ciências positivas (ou materiais) graças às pesquisas e experiências parapsicológicas. Bastou um século de progresso científico para que este problema se tornasse mais acessível à compreensão dos homens. O pensamento não conhece limites no espaço e no tempo, o que dá plena validade científica a esse princípio espírita. (N. do T.)

(13) O poder do Espírito superior se exerce em benefício do inferior, obrigando-o a se manifestar para o seu próprio bem. O livre-arbítrio é condicionado pela evolução. Quanto mais elevado o Espírito, maior a sua liberdade. É o mesmo que vemos na Terra: os criminosos estão sujeitos a restrições da liberdade que não devem atingir os homens de bem. Nas sessões de desobsessão os Espíritos inferiores são freqüentemente obrigados a se manifestarem, para o seu próprio bem e em favor de suas vítimas. (N. do T.)

(14) A palavra Deus, em si, não tem nenhum poder. A palavra é apenas um signo e sua carga emotiva está no conceito, na idéia que ela exprime e portanto no pensamento. Dizê-la sem sentir o que ela representa é como articular sons sem sentido. Dizê-la com plena consciência do seu significado e sentindo-a fundamente é ligar-nos a Deus. No plano espiritual o que vale é a vibração psíquica e não a forma verbal, ou segundo Kardec, o fundo e não a forma. (N. do T.)

(15) A leitura recíproca do pensamento refere-se aos Espíritos mais adiantados. Os Espíritos inferiores, que brigam e se xingam, estão ainda em condições humanas. É o que se esclarece na resposta à pergunta 30. Kardec e os Espíritos que lhe revelaram a doutrina tomam sempre o Espírito de tipo médio, já liberto da materialidade grosseira, para base de suas respostas sobre a vida espírita. (.N. do T.)

(16) A informação dos Espíritos sobre a irradiação do pensamento está hoje cientificamente provada pelas pesquisas parapsicológicas. No tocante `a graduação do poder de irradiação, segundo a evolução espiritual, é problema referente ao mundo espírita. Não obstante, podemos verificá-lo na Terra através do alcance intelectual das criaturas, que varia de acordo com o grau evolutivo dos indivíduos na própria escala social. Assim, a imagem feita por Channing na sua comunicação corresponde a uma realidade espiritual que podemos constatar na existência terrena. (N. do T.)

(17) Nunca se faz a evocação no momento da morte. A pergunta colocou apenas uma possibilidade, que os Espíritos confirmaram. Aliás, o Espírito recém-desencarnado não atenderia se não estivesse em condições e não recebesse permissão dos Espíritos superiores. No caso de atender é porque isso lhe seria benéfico, segundo vemos na resposta à pergunta 34: ajudá-lo-ia a vencer a perturbação. (N. do T.)

(18) As evocações se processam, desde os tempos primitivos, entre todos os povos. Dessa maneira os Espíritos podem citar experiências muitas vezes ocorridas antes da prática espírita moderna. Os casos propriamente espíritas se limitaram a algumas experiências de pesquisa científica. (N. do T.)

(19) A expressão “faixas da matéria” é comparativa, lembrando a criança enfaixada após o nascimento. O Espírito entra no mundo espírita envolvido pelas ligações materiais que o restringiam na condição infantil terrena. O Espírito se refere, nessa resposta, especialmente aos “traços de linguagem” porque trata nesse momento das comunicações orais e escritas. (N. do T.)

(20) Espíritos errantes são os que aguardam nova encarnação terrena (humana) mesmo que já estejam bastante elevados. São errantes porque estão na erraticidade, não se tendo ainda fixado em plano superior. Os espíritos de animais, mesmo dos animais superiores, não têm essa condição. Ler na Revista Espírita, nº 7 de julho de 1860, as comunicações do Espírito de Charlet e a crítica de Kardec a respeito. Na edição brasileira, página 218 do volume terceiro, título “Dos Animais”. (N. do T.)

(21) Muitas críticas foram e ainda são feitas a Kardec por haver citado exemplos como este. Mas é necessário compreender que ele se dirigia ao povo em geral e não apenas a determinada classe de pessoas. Fatos dessa natureza ocorrem com freqüência entre pessoas ingênuas, mesmo as pertencentes à classe ilustradas. Uma das principais dificuldades da prática espírita está precisamente nessa ingenuidade de certas pessoas, mais numerosas do que se pensa, e a melhor maneira de adverti-las é através de exemplos concretos. (N. do T.)

(22) A ligação fluídica é de natureza vibratória e portanto enérgica. A expressão laço costuma sugerir um cordão material. Devemos lembrar que o perispírito é semimaterial. (O Livro dos Espíritos, nº 95) e compreenderemos melhor a natureza desse laço, que se pode comparar a uma freqüência de ondas nas ligações de aparelhos teleguiados. (N. do T.)

(23) As pesquisas parapsicológicas provam, atualmente, que o pensamento se transmite à distância com rapidez instantânea. Se uma pessoa pensar em ferir outra que dorme, esse pensamento a atinge por antecipação. Nos casos de acidente a percepção do próprio Espírito da vítima se verifica às vezes com grande antecedência. São os chamados fenômenos de precognição. Por outro lado, sendo a morte um desligamento vital do Espírito, o seu desprendimento total do corpo, é necessário que ele retorne à unidade psicossomática para que se processe o fenômeno biológico da morte. (N. do T.)

(24) O Espírito é a essência do homem, mas em cada encarnação se limita às condições existenciais necessárias a essa fase de sua evolução. Sua manifestação é condicionada pelas exigências da existência que está enfrentando. Daí os enigmas do psiquismo, o mistério do inconsciente, os problemas do animismo. As respostas a estas perguntas, fazendo a distinção entre o Espírito e o homem, levantam todos esses problemas que as nossas escolas psicológicas e psiquiátricas desconhecem, razão por que muitas vezes se perdem em hipóteses e teorias confusas. (N. do T.)

(25) Na coleção da Revista Espírita, já publicada em português pela Edicel, encontra-se toda a documentação das experiências de evocações de vivos feitas por Kardec na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Uma investigação científica rigorosa, que nada fica a dever às pesquisas atuais. (N. do T.)

(26) As modernas experiências parapsicológicas de telepatia à distância confirmam essa previsão. A tese de Rhine (Duke University) de que o pensamento não é físico, apóia a teoria espírita. E esta teoria, como se vê, considerando a telepatia como forma de comunicação mediúnica, só plenamente acessível aos Espíritos purificados, explica a razão das dificuldades atuais para obter-se segurança e regularidade nas comunicações telepáticas. (N. do T.)