segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Meio Espírita ou o quê?

Por Maria Ribeiro

O orgulho ainda é um mal que carece cuidados muito especiais.   Encontrado em infinitas gradações, e sob as mais variadas formas, também ganhou um nome mais sofisticado – suscetibilidade.

Está invariavelmente acompanhado da vaidade, e esta dupla que sozinha já causa desgraças para inúmeras reencarnações, requer a terceira e mais cruel chaga humana – o egoísmo. Estas três características dominam a mente humana, que parece não ter pressa nem interesse em delas se livrar. Entre nós Espíritas, às chameias se encontram homens incautos que se tornam presas fáceis, no afã de também serem mestres e terem seus seguidores. Mas graças ao legado Kardequiano pode-se penetrar no mundo da verdade, já que cada um tem a sua verdade particular e um sonho imenso de se tornar referência, nem que seja na Casa Espírita em que atua.

Enumeram-se, não por ordem de importância, alguns ocorridos que se pode vivenciar no meio. Um deles diz respeito à afirmação, baseada em obras de evidente cunho personalista, de que o Passe deve ser aplicado somente na Casa Espírita, uma vez que esta possui o suporte espiritual necessário para tal. Ficaram esquecidas as palavras de Jesus “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles”.

Admitem a transgressão por até duas ou três vezes, após isso, o interessado tem que ir mesmo à Casa Espírita. Nos seus ensinos, Jesus nunca insinuou lugar apropriado para sua generosa “imposição das mãos”: na beira do caminho, nas ruas, perto dos montes, em casas; ou seja, onde houvesse um necessitado, Ele fazia sua tarefa. Mas Jesus era um anti-burocrata – ensinou como viver de maneira simples, sem complicações, sem convencionalismos. Resta saber por que os homens contemporâneos apresentam tanta resistência em seguir os mesmos passos, demonstrando imatura compreensão  à questão 625 de O Livro dos Espíritos.

Com esta postura, fica muito claro que o desejo é de se fazer adeptos à base de chantagens: “você só vai receber o passe, se for à casa Espírita.” Isto representa uma forma infantil, e porque não dizer barata de se fazer proselitismo, que nem é objetivo da Doutrina Espírita.

Mas, se o Cristo não estabeleceu lugar sagrado para isto ou para aquilo, o que a Doutrina Espírita recomenda? Nada. Não existe lugar melhor ou pior, pois os fluidos ambientes terão o teor dos pensamentos que ali estiverem. Onde o segredo? Onde o oculto? Onde a complicação? Que estranho poder é este que estão investidas as Casas Espíritas que nenhum outro lugar possui? Aos ignorantes não se pode duvidar, mas será que os Espíritos possuidores do mínimo entendimento que seja, fazem questão disso? Tarefeiros preparados estão aptos para servir em qualquer lugar.

E, que dizer dos tais “passe em equipe”? Segundo uns, o Passe se torna mais eficiente quando recebido por uma equipe de passistas encarnados. Isto vai de acordo com a condição da pessoa, ou conforme “indicação espiritual(?)”. Outro fator questionável deste procedimento se encontra no fato de toda a equipe atuante fazer um círculo ao redor do paciente, de mãos estendidas, numa autêntica postura católica, ou sabe-se lá o quê, recomendando-se que este também estenda as suas, geralmente sobre os joelhos, atos que denunciam o pouco ou nenhum conhecimento doutrinário.

Uma terceira observação concerne sobre a abstenção de alimento animal, tendo a carne se tornado uma ré. Quanto a isto defendem com unhas e dentes baseados em literatura anti espírita, às quais consideram como novas revelações que complementam o Espiritismo. Argumentam que os efeitos poderão ser comprometidos. Muito fácil perceber a insipiência destes, uma vez que nem seriam necessários os esclarecimentos de O Livro dos Espíritos* e de A Gênese*, já que o Tratado Universal de Mediunidade, a saber - O Livro dos Médiuns, sequer tocou no assunto. Desta forma, com seu poder persuasivo, homens mantêm reféns outros homens, que infelizmente, parecem se comprazer na condição de submissos ao falso saber; quando a Doutrina Espírita é a Verdade que liberta, preferem permanecer anestesiados na ignorância, sob a tutela orgulhosa de irmãos que se deixam seduzir mais por crenças absurdas do que pela lógica kardequiana.

Também tem seu lugar reservado nas cabines de Passe, a lúdica idéia da cromoterapia utilizada pelos orientais desde a antiguidade, desde algum tempo, novidade para alguns Espíritas ainda não convictos. Então é recomendado aos futuros passistas que não se assustem acaso vejam a “aura” dos pacientes, desta ou daquela cor, e prosseguem a ladainha(para usar um termo bem católico) fazendo as fantásticas adjetivações relacionadas às cores.

Imaginemos, por exemplo, o paciente desencarnado sentar-se numa cadeira espiritual. Outra: numa pessoa que nunca tomou passe, deve-se concentrar bastante energias no “chacra” coronário, para limpar bem, afim de que os fluidos penetrem melhor.(?)

Declarações como estas mereceriam ser compiladas, com todo o respeito, num livro de piadas. Alguém que use os termos “chacras”, “Karma”, “aura”, deveria freqüentar, no mínimo, os encontros do ESDE. Há um esforço  para “não ferir suscetibilidades”, esta é a nova ordem. É por isso que as vagas para coordenadores de cursos, de tarefas de modo geral, já têm os nomes determinados. E assim, são sempre as mesmas pessoas investidas dos mesmos discursos errôneos, confusos, onde querem fazê-los descer goela abaixo, muitas vezes, com atrevidas referências supostamente kardequianas.

E por falar em livros, que se encontra nas bibliotecas? Onde deveriam ter destaque as obras da Codificação, e dos continuadores na área científica, filosófica etc, há obras de pessoas que nunca foram espíritas, mas de outras correntes espiritualistas, desprovidas do ensinamento Kardequiano que é ímpar. 

Nos eventos de uma suposta divulgação doutrinária pode-se dizer o mesmo. As amostras nas prateleiras são de causar vexame. Sem menosprezar o trabalho e a dedicação de tantos companheiros, mas é necessário que se estabeleçam parâmetros para que a Doutrina Espírita seja divulgada da maneira mais pura possível.

Cabe perguntar a razão de se manterem perpetuamente as mesmas pessoas em ocupações de vulto numa instituição Espírita, inclusive dirigentes, contrariando as normas de seus próprios estatutos.

Curioso, chocante ou talvez inusitado, seja o fato de se reservarem lugares da primeira fila para, quem sabe, parentes e amigos, ou para a “nata” do meio espírita, especialmente quando se trata de palestrantes ilustres. Recentemente num famoso espaço cultural, aqui em BH, pôde-se constatar que existe este “apartheid”, algo que deve ser objeto de nossas reflexões. Não se pode afirmar que isto ocorra freqüentemente, ou se trata-se de um caso isolado, mas que gera um certo desconforto, não se tenha dúvida.

Estabeleceu-se uma confusão de sentimentos. De repente, a omissão e a conivência passam por respeito e caridade. Permitir que o erro germine é tão grave quanto jogar a semente que dá origem aos erros. Em nada está-se a exercer qualquer auxilio a alguém.

O que ocorre é muito simples: para alguns irmãos falta a convicção, para outros, excede o orgulho e a vaidade, e para ambos, a ignorância está exagerada.

Para os que mais freqüentemente se valem da razão, jamais aceitarão a Doutrina Espírita como terceira revelação, uma vez que vêem práticas estranhas nesta incorporadas; e, se não puderam se convencer em outras seitas ou religiões que adotam as mesmas, porque se convenceriam melhor no Espiritismo?

Está aí uma boa maneira não só de não fazer adeptos, como criar novos opositores. O poder de derrotar o Espiritismo se acha nas mãos destes companheiros que querem adequá-lo ao gosto de uma maioria que se diverte ainda com os contos fabulosos, sem querer encarar a realidade de fatos aos quais o Espiritismo pode solucionar, pois que neste se encontram as diretrizes eficazes para os problemas humanos, de caráter inclusive social.

Tudo isto demonstra que há uma preferência da parte de alguns em continuar com o velho sistema instituído pelo catolicismo, onde há uma autoridade maior na figura ou nas figuras de pessoas “antigas na Doutrina”, argumento que tem oferecido credenciais para que este  fale o que bem entenda, divulgue suas idéias à vontade, independentemente do que diga o Espiritismo.

O efeito do orgulho está aí: o pensar-se que todo o conhecimento já “está no papo”, e se investir da incumbência de tentar transmiti-lo aos outros.

Estude-se Kardec verdadeiramente, sem espírito de preconceito. É hora de esquecer “as revelações” que confrontam a Doutrina, para que esta, sim, resplandeça sua luz diante dos homens.

Referências bibliográficas:
*O Livro dos Espíritos – questão 723
*A Gênese – cap. III

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Ótimo texto e reflexão Maria.

    Interessante que justamente para os Espíritas está faltando "incorporar" aquele ensinamento que pode ser considerado um alicerce da Doutrina:

    "Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade".

    Abç

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  3. Muito bem dito!

    Fé verdadeira não se limita a burocracia!

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