terça-feira, 12 de março de 2013

Em cima do muro tem um espaço de aprendizado


Por Riviane Damásio

O que me leva a esta reflexão? Tenho visto por aqui, ali e acolá, uma guerra ideológica que inflama os ânimos de paraquedistas, incautos e bem-intencionados de plantão. Ideológica porque se propõe a defesa de lados visivelmente antagônicos na forma de entender e viver a Doutrina dos Espíritos.

Um destes lados, vulgarmente é classificado como místico e outro de ortodoxo, sendo que o primeiro numa apressada e estereotipada leitura e entendimento “peca” ao não se fechar na compilação kardequiana acabando por vezes por abrir o leque para práticas e procedimentos que “ainda” não encontraram eco na codificação, e o outro lado, numa mesma leitura apressada e estereotipada peca ao se fechar na codificação de tal forma que cai num ostracismo intelectual cerceador do novo. 

Confesso sentir uma grande admiração por algumas pessoas que se encontram classificadas nos extremos que citei. Não todas, claro, pois algumas considero mesmo de uma permissividade que beira o descaso com a doutrina espírita e outras, de uma irredutibilidade que ultrapassa a intransigência. No meio destes dois extremos conheci gente maravilhosa! Amigos que juntos, na mesma sintonia de busca pela nossa própria “verdade”, nos conduziu inclusive a criar uma comunidade Espírita.

Particularidades à parte, me peguei no meio destes conflitos que vêm se reacendendo em ambientes que freqüento, com a seguinte reflexão: Acreditamos que a vida não acaba aqui, somos espíritos imortais que após a morte do corpo físico, teremos ainda incontáveis caminhos a trilhar. Com qual “verdade” iremos reencarnar nestes caminhos? No seio de que família? Espiritualista? Espírita? Islâmica? Budista? Judia? Católica? Protestante? Evangélica? Hinduísta? Teremos oportunidade de retomarmos o caminho da doutrina no ponto onde estamos hoje? 

Se não reencarnarmos logo, faremos um percurso errático de aprendizado de doutrinas ou de valores morais, ideológicos ou não? Quem nos receberá do outro lado? Vestido de que doutrina estará o espírito condutor no nosso novo caminho? Haverá mesmo doutrinas delimitadas neste espaço desconhecido ou nossas armaduras são risíveis aos nossos amigos espirituais?

Busco então, em meio à tantas dúvidas, um exercício de convivência diária. Tento viver a minha escolha, a forma como “eu” entendo e percebo a doutrina tentando não ferir as escolhas alheias. Não por pensar a minha como sendo a melhor ou a mais correta, mas por pensar que é a que me calça bem e confortável, a que me serve mais como espírito imperfeito que sou.

Sem demagogias agradeço aos que pensam diferente de mim e cruzam meu caminho, mesmo que em alguns momentos eu não resista a uma ironia ou a um olharzinho superior (sei que serei responsabilizada por isto também). É o diferente que me instiga nesta passagem. Que me faz viajar em busca do conhecimento e da validação das minhas idéias. Mas quero antes de tudo, tratar este diferente de mim com respeito, que deve ser a base da minha evolução, da minha reforma lenta mas ascendente. 

Sei que de nada me adiantará uma sabedoria intelectual estéril, se eu não aprender a sabedoria emocional e a partir daí exercitar o “conviver” com estes amigos que hoje reconheço como antagônicos, mas que talvez me aguardem do outro lado, para me acolher e me ensinar o que o meu olhar crítico e meu coração endurecido se recusaram a ver e sentir nesta encarnação!

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