Por Nazareno Tourinho
Depois de mostrar as tolices e as pieguices da obra de Roustaing (apenas as maiores, é claro, as mais evidentes, porque diante delas as outras perdem significação), parece-nos interessante discorrer sobre o relacionamento desse malfadado autor, e sua médium, Emile Collignon, com Allan Kardec.
Um breve ensaio a tal respeito será extremamente útil para premunir o leitor contra o discurso dos docetistas da atualidade, que tentam, de todos os modos, fazer acreditar em uma parceria do tristemente célebre advogado de Bordéus com o codificador do Espiritismo*.
Executemos um atencioso passeio pelas páginas da Coleção da Revista Espírita, lançada no Brasil a partir de 1964 pela Editora EDICEL (tradução de Júlio Abreu Filho). Ela abrange sem lacunas o tempo que o mestre de Lyon permaneceu no corpo físico após o surgimento do primeiro livro da nossa doutrina: são doze volumes anuais correspondentes ao período de 1858 a 1869, cobrindo os fatos importantes da vida de Kardec e espelhando suas ideias.
Antes de darmos a partida a essa viagem pela história do Espiritismo nascente é bom situarmos Roustaing e sua única médium, já nominada, no universo existencial do codificador do Espiritismo. Com isso facilitaremos ao leitor a compreensão dos eventos.
Nossos três personagens tiveram a mesma nacionalidade, foram contemporâneos, porém não amigos ou vizinhos. Não há sequer notícias de que hajam um dia se encontrado pessoalmente. Kardec morava na Capital francesa, onde dirigia a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, por ele fundada, e os outros dois residiam na cidade de Bordeaux.
Roustaing era quase da mesma idade de Kardec (dois anos mais novo). Emilie Collignon não se sabe ao certo, mas é fora de dúvida que já havia casado com um capitalista quando psicografou Os Quatro Evangelhos (assinou publicamente com o esposo um documento publicado na Revista Espírita de março de 1862).
Roustaing sobreviveu a Kardec, desencarnando somente em janeiro de 1879, com 73 anos, mas não produziu outras obras supostamente espíritas.
Emilie Collignon, que apenas em dezembro de 1902 deixou este mundo, deu a lume mais alguns livros, desconhecidos entre nós.
Fonte:
TOURINHO, Nazareno. As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.
*O autor se refere a uma passagem do livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, onde o Espírito de Humberto de Campos, autor espiritual da obra, designa Jean Baptiste Roustaing como integrante de “uma plêiade de auxiliares” que cooperaram com a obra kardequiana, sendo responsável pela organização do “trabalho da fé”. A obra em questão, psicografia de Chico Xavier, faz parte do processo de legitimação espiritual do programa Kardec-Roustaing implantado por Bezerra de Menezes em sua gestão de presidente da FEB. (Nota de O Blog dos Espíritas).