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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Será que Kardec leu Darwin?

Por Ademir Xavier 

Sabe-se bem que a segunda metade do século 19 foi uma época extraordinária. Invenções que marcariam o progresso no século seguinte, descobertas científicas inigualáveis que modificariam a visão científica do mundo e conquistas humanas nunca imaginadas foram então realizadas. No palco de revelações em que se converteu a Europa da época, o surgimento do Espiritismo em 1857 com a publicação de "O Livro dos Espíritos" e a publicação de "Sobre a Origem das Espécies por meio de seleção natural" por Charles Darwin (1809-1882) em 1859 contam como "algumas" das realizações notáveis.

Em um artigo recente (1), Paulo Neto analisa o argumento corrente de que Kardec antecipou Darwin, o que é comum se ouvir nos meios espíritas. Essa questão dá origem a uma pequena 'querela' (2) entre os que sustentam que Kardec antecipou Darwin e os que acham o contrário, inclusive que Kardec teria feito uso dos trabalhos do emintente cientista inglês. Para o autor do artigo citado:

Ficamos boquiabertos, tamanha a nossa surpresa diante de tal infirmação, pois, para nós, foi Kardec quem se utilizou da teoria de Darwin, conforme iremos demonstrar.

E, na conclusão do artigo:

Para nós, foi Kardec que se aproveitou da teoria da evolução das espécies de Darwin para voltar com o assunto e, como já havia suporte científico, os Espíritos foram mais explícitos na questão, reformulando o que disseram anteriormente, para afirmarem sobre a evolução do espírito através do reino animal.

Em que consiste a demonstração proposta? Consistiu sumariamente em comparar trechos da 1a edição de 'O Livro dos Espíritos' (LE, a saber a questão #127) e a questão #607 que reproduzimos abaixo: 

607. Dissestes (190) que o estado da alma do homem, na sua origem, corresponde ao estado da infância na vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e se ensaia para a vida. Onde passa o Espírito essa primeira fase do seu desenvolvimento? 

“Numa série de existências que precedem o período a que chamais humanidade.”

Essa resposta é comparada à da questão #127 da primeira edição onde o estado da 'alma do homem' não é identificado como tendo migrado entre outras espécies. No que segue abaixo, tecemos alguns comentários para mostrar que a questão é muito mais complexa do que se pode imaginar tão só a partir da comparação dos textos propostos.

Alguns comentários relevantes

O significado do termo 'alma do homem' pode ter evoluído da primeira para a segunda edição. No primeiro caso, ela pode se referir à alma do homem como ser encarnado e dispondo de consciência plenamente desenvolvida para o estado da 'humanidade';

A sugestão de influência das ideias de Darwin na obra kardequiana não tem respaldo em evidência alguma. Pelo contrário, pode-se dizer de forma segura que a ideia de que as espécies se modificavam era amplamente conhecida na época da primeira edição do LE na forma de um conjunto de teorias de transformismo de espécie. O que não se conhecida era o mecanismo pelo qual isso ocorreria;

A época em que essas ideias se desenvolveram não dispunha de meios de comunicação como os que temos hoje. Segundo o prof. Silvio Chibeni (3), é bastante provável que Kardec não tenha tido acesso à obra de Darwin e que, portanto, sua opinião reflete o ponto de vista conhecido entre a elite intelectual francesa da segunda metade do século XIX;

Assim, o conhecimento de Kardec sobre a evolução pode totalmente ser compreendido no contexto do conhecimento da época, inclusive no momento da publicação da 1a edição.
Ainda segundo o prof. S. Chibeni (3): 

"Eu também suspeito, como você, que o Kardec não acompanhava a literatura especializada em biologia (ou história natural, como se chamava à época), especialmente de um país de língua inglesa. Além disso, o livro do Darwin que trata do homem é o 'The Descent of Man', de 1871. No 'The Origin of Species', ele evita falar no homem, ao propor a teoria da seleção natural (e note-se que essa teoria é que é a teoria importante e original de Darwin, não a evolução, que já era amplamente admitida)." (grifos meus)

Portanto, o que Darwin escreveu em 1859 na  "Origem das Espécies" apenas por inferência se aplicaria ao homem no contexto histórico da época. Que a ideia da evolução não era novidade então (inclusive no tempo da 1a edição) pode ser compreendido por inúmeros trabalhos posteriores sobre a história da evolução natural, trabalhos que, inclusive, sugerem fortemente que Darwin se escorou em outros (4). O próprio mecanismo da evolução foi co-descoberto pelo grande espiritualista inglês Alfred R. Wallace. O trabalho de Robert Chambers (1802-1871) , Fig. 1, por exemplo, causou um grande furor antes de Darwin. 


Fig. 1 Esta figura foi extraída do livro "Vestígios da História Natural da Criação" de Robert Chambers e mostra o modelo de desenvolvimento dos peixes (F), répteis (R), pássaros (B) dando origem aos mamíferos (M). O livro de Chambers foi publicado em 1844, demonstrando que a ideia da descendência entre espécies já era conhecida bem antes de 'O Livro dos Espíritos' e da 'Origem das Espécies'. Segundo o artigo 'Transmutation of species'. 

O que diz "A Gênese"

Em um texto posterior em "A Gênese" , de 1868, (Capítulo XI) podemos ler, no parágrafo 15:

Da semelhança, que há, de formas exteriores entre o corpo do homem e o do macaco, concluíram alguns fisiologistas que o primeiro é apenas uma transformação do segundo. Nada aí há de impossível, nem o que, se assim for, afete a dignidade do homem. Bem pode dar-se que corpos de macaco tenham servido de vestidura aos primeiros Espíritos humanos, forçosamente pouco adiantados, que viessem encarnar na Terra, sendo essa vestidura mais apropriada às suas necessidades e mais adequadas ao exercício de suas faculdades, do que o corpo de qualquer outro animal. Em vez de se fazer para o Espírito um invólucro especial, ele teria achado um já pronto. Vestiu-se então da pele do macaco, sem deixar de ser Espírito humano, como o homem não raro se reveste da pele de certos animais, sem deixar de ser homem.

Fique bem entendido que aqui unicamente se trata de uma hipótese, de modo algum posta como princípio, mas apresentada apenas para mostrar que a origem do corpo em nada prejudica o Espírito, que é o ser principal, e que a semelhança do corpo do homem com o do macaco não implica paridade entre o seu Espírito e o do macaco." (grifo meu)

Veja que, em 1868, Kardec considerava a possibilidade de transformação das espécies ainda como uma hipótese. E, mais para frente, no parágrafo 16:

"Admitida essa hipótese, pode dizer-se que, sob a influência e por efeito da atividade intelectual do seu novo habitante, o envoltório se modificou, embelezou-se nas particularidades, conservando a forma geral do conjunto (nº 11). Melhorados, os corpos, pela procriação, se reproduziram nas mesmas condições, como sucede com as árvores de enxerto. Deram origem a uma espécie nova, que pouco a pouco se afastou do tipo primitivo, à proporção que o Espírito progrediu. O Espírito macaco, que não foi aniquilado, continuou a procriar, para seu uso, corpos de macaco, do mesmo modo que o fruto da árvore silvestre reproduz árvores dessa espécie, e o Espírito humano procriou corpos de homem, variantes do primeiro molde em que ele se meteu. O tronco se bifurcou: produziu um ramo, que por sua vez se tornou tronco.  

Como em a Natureza não há transições bruscas, é provável que os primeiros homens aparecidos na Terra pouco diferissem do macaco pela forma exterior e não muito também pela inteligência. Em nossos dias ainda há selvagens que, pelo comprimento dos braços e dos pés e pela conformação da cabeça, têm tanta parecença com o macaco, que só lhes falta ser peludos, para se tornar completa a semelhante." (grifos meus)

Ora, em nenhum desses trechos transparece a ideia da seleção natural, mas, os conceitos estão de acordo com o que era conhecido antes de Darwin, ainda no campo das hipóteses. Portanto, é bastante claro que Kardec não leu nada de Darwin, mesmo em 1868. Também é de estranhar que esses trechos não tenham sido citados no trabalho (1). O assunto é, portanto, bem mais complexo do que a simples comparação de trechos limitados pode permitir.

Uma razão importante para considerar a falta de consideração de Kardec por essas teorias modernas em sua época era, provavelmente, a sua falta de tempo e a quantidade de trabalhos acumulados com a codificação (3).

Ressaltamos ainda que o Espiritismo é uma das poucas doutrinas religiosas que aceitam abertamente a noção de evolução e o mecanismo de sua operação, sustentando a proposta de que esse mecanismo serviria de base ao desenvolvimento do espírito.

Referências e notas

(1) Revista Espiritismo & Ciência nº 108. São Paulo: Mythos Editora, nov/2013, p. 18-22. Uma versão em PDF deste trabalho pode ser baixada aqui.

(2) No caso, esse ainda é um debate de reduzida importância frente a outros temas centrais do Espiritismo.

(3) Comunicação particular com Silvo Chibeni.

(4) Personalidades como: J. B. Lamarck (1744-1829), T. Malthus (1766-1834), Comte de Buffon (1707-1788), A. R. Wallace (1823-1913, praticamente um "co-descobridor" da seleção natural), E. Darwin (1731-1802), C. Lyell (1797-1875), J. Hutton (1726-1797) e mesmo G. Curvier (1769-1831) exerceram influência considerável sobre C. Darwin, assim como Robert Chambers.

Fonte: Blog "A Era do Espírito" - http://eradoespirito.blogspot.com.br/2013/11/sera-que-kardec-leu-darwin.html

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Kardec Y Darwin

Por José Reis Chaves*

Clique aqui para a versão em português.

Kardec y Darwin fueron dos grandes científicos que vinieron al mundo en el arborecer del Siglo 19. El primero, un médico francés y alumno de Pestalozzi, fue Codificador del espiritismo el segundo era un naturalista y fisiólogo ingles. Kardec pesquisó la evolución de los Espíritus. Darwin la de los cuerpos biológicos.

Nosotros somos espíritus inmortales. Y el Nazareno dijo que nosotros debemos buscar la perfección de Dios. Nosotros somos hoy los espíritus de los hombres de entonces inclusive los de las cavernas. Y después de innumerables reencarnaciones, llegamos a la evolución y perfección en la que nos encontramos actualmente. ¡Si no hubiese evolución y las reencarnaciones que la posibilitan, seriamos forzados a pensar que Dios fue muy injusto con aquellos espíritus de otrora de los hombres de las cavernas, que solo habrían vivido más como bichos que como seres humanos propiamente dicho! La evolución es, pues, una ley natural tan real como lo es la de la Gravedad, y es hasta sagrada.

La Iglesia, como afirma el sabio francés padre Francisco Brune, cree en la vida después de la muerte, o la llamada vida eterna, más en la práctica a actuado como si ella no existiese, pues no la estudia, y es hasta contraria a su estudio. La misma cosa se puede decir de nuestros hermanos protestantes. Eso nos hace recordar de que el Maestro afirmo, al referirse a los sacerdotes judíos de su época: “No entran en el reino de los Cielos, y no dejan a otros entrar!”. Es necesario, pues, que los católicos y protestantes despierten también para el estudio del espíritu, y no solo del cuerpo. “La carne para nada aprovecha, lo que importa es el espíritu que da vida” (Juan 6,63).

Fue revolucionario el libro de Darwin: “Del Origen de las Especies” (1859), principalmente porque el entro en choque con las ideas de la interpretación literal de la Biblia, cuando la exégesis y hermenéutica aun eran muy elementales y tímidas. La Iglesia estaba pues, sin fuerza moral para enfrentar aquel poderoso materialismo efervescente, después de la Revolución Francesa, la que se agravaba más aun por el hecho de ella estar, justamente en aquella época, dejando la Inquisición. Fue cuando surgieron también los no menos revolucionarios libros científicos y espiritualistas de Kardec, entre ellos el “Libro de los Espíritus” (1857), los cuales dieron un verdadero “chega-para-lá” en las ideas materialistas y anti-religiosas de Darwin y de sus contemporáneos Marx y Comte. Por eso decimos con el escritor y pastor presbiterano de Rio de Janeiro, Noemias Marien”: “El mayor reformador del Cristianismo no es Lutero, más si Allan Kardec. “De Hecho, hasta Kardec, no se había hecho aun un estudio racional y científico de la Biblia.

Darwin fue unos de los grandes científicos de la evolución de la vida material, y Kardec lo fue de la evolución de la vida del espíritu en la materia y fuera de la materia!

*Autor del libro “La Cara Oculta de las Religiones” (Ed. Martin Claret)

Traducido por M. C. R.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Kardec e Darwin

Por José Reis Chaves*

Kardec e Darwin foram dois grandes cientistas que vieram ao mundo no alvorecer do Século 19. O primeiro, um médico francês e aluno de Pestalozzi, foi o Codificador do Espiritismo, o segundo era um naturalista e fisiologista inglês. Kardec pesquisou a evolução dos espíritos, Darwin, a dos corpos biológicos.

Nós somos espíritos imortais. E o Nazareno disse que nós devemos buscar a perfeição de Deus, o Pai. Nós somos hoje os espíritos dos homens de ontem, inclusive os dos homens das cavernas. E depois de inúmeras reencarnações, chegamos à evolução e perfeição em que nos encontramos atualmente. Se não houvesse evolução e as reencarnações que a possibilitam, seríamos forçados a pensar que Deus foi muito injusto com aqueles espíritos de outrora dos homens da caverna, que só teriam vivido mais como bichos do que como seres humanos propriamente ditos! A evolução é, pois, uma lei natural tão real como o é a da Gravidade, e é até sagrada.

A Igreja, como afirma o sábio francês padre François Brune, acredita na vida após a morte, ou a chamada vida eterna, mas na prática, tem agido como se ela não existisse, pois não a estuda, e é até contrária ao seu estudo. A mesma coisa se pode dizer dos nossos irmãos protestantes. Isso nos faz lembrar do que o Mestre afirmou, ao referir-se aos sacerdotes judeus de sua época: "Não entram no reino dos céus, e não deixam outros entrarem!". É necessário, pois, que os católicos e protestantes despertem também para o estudo do espírito, e não só do corpo, como vêm fazendo há séculos, pois o espírito é mais importante do que o corpo. "A carne para nada aproveita, o que importa é o espírito que dá vida" (João 6, 63).

Foi revolucionário o livro de Darwin: "Da Origem das Espécies" (1859), principalmente porque ele entrou em choque com as idéias da interpretação literal da Bíblia, quando a exegese e a hermenêutica ainda eram muito elementares e tímidas. A Igreja estava, pois, sem força moral para enfrentar aquele poderoso materialismo efervescente, após a Revolução Francesa, o que se agravava mais ainda pelo fato de ela estar, justamente naquela época, deixando a Inquisição. Foi quando surgiram também os não menos revolucionários livros científicos e espiritualistas de Kardec, entre eles o "O Livro dos Espíritos" (1857), os quais deram um verdadeiro "chega-pra-lá" nas idéias materialistas e anti-religiosas de Darwin e de seus contemporâneos Marx e Compte. Por isso dizemos com o escritor e pastor presbiteriano do Rio de Janeiro, Neemias Marien": "O maior reformador do Cristianismo não é Lutero, mas Allan Kardec." De fato, até Kardec, não se tinha feito ainda um estudo racional e científico da Bíblia.

Darwin foi um dos grandes cientistas da evolução da vida material, e Kardec o foi da evolução da vida do espírito na matéria e fora da matéria!

*Autor do livro "A Face Oculta das Religiões" (Ed.Martin Claret)