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sábado, 17 de setembro de 2011

A Pedagogia de Jesus

Por Dora Incontri

"(...) Ninguém melhor do que a figura de Jesus para mostrar o modelo máximo de estatura moral, aliada à confiança no ser humano e a uma prática educativa libertadora. Mas as polêmicas em torno da personalidade do Cristo têm sido tão acirradas em dois mil anos de história cristã, que não se pode deixá-las à parte, antes de aventar qualquer interpretação a seu respeito.

Não poderíamos assim ignorar a questão da divindade de Jesus, pois que é justamente a tomada de posição em relação a esse tema que vai nos colocar na via de demonstrar que a sua pedagogia é de fato a pedagogia pleiteada pelo paradigma do espírito. Nos primeiros três séculos de Cristianismo, andava longe uma unanimidade a respeito da divindade de Jesus." (Pág. 108 à 109)

"(...) Durante esses primeiros séculos, várias interpretações a respeito da natureza do Cristo lutaram pela preponderância, mas as mais significativas foram justamente a católica- vigente até hoje - e a ariana. A primeira considera o mistério da encarnação divina, e, portanto, a existência de um Deus uno e trino,como dogma fundamental da crença cristã. A segunda admitia que:

"O Pai apenas é eterno e merece em sentido próprio o nome de Deus. Tirado do nada, o filho é a primeira, mas a mais excelente das criaturas; ele foi instrumento do Pai para a criação do mundo. Ele se encarnou em Jesus Cristo."

Ora, a vitória da versão católica deu-se por obra de Atanásio e Constantino. Este último, o imperador cristão, patrocinou o Concílio de Nicéia, no qual foi arbitrariamente declarado o dogma da divindade de Jesus. "A existência de Atanásio se concentra numa luta gigantesca contra o arianismo. (...)"" (Pág. 109)

"(...) Ora, Jesus veio ao mundo como mediador para redimir o homem e oferecer-se em sacrifício diante de Deus (ou seja, diante de si mesmo!), para restaurar a integridade humana. Pela queda de um homem, perdemo-nos todos. Pelo sacrifício de um Deus, redimimo-nos todos. Esta doutrina, reconhecidamente, não é de Jesus, mas de Paulo." (Pág. 112)

"Não sendo o Ser Supremo do Universo (desde a época da formulação do dogma da Trindade, esse universo se expandiu infinitamente e se aceitamos a existência de Deus, e a sua presença, governo e poder entre bilhões e bilhões de galáxias e em meio a prováveis inúmeras humanidades, fica mais difícil aceitar a idéia de uma encarnação sua na Terra), Jesus Cristo não se vulgariza com isso,tornando-se apenas mais um homem entre outros tantos. Ele seria o Espírito que já atingiu a perfeição como todos nós atingiremos um dia, segundo a lei da evolução. Portanto ele é a realização daquilo de que somos ainda potência. É a meta a ser atingida, por um processo de educação do espírito, nas sucessivas existências." (Pág. 113 à 114)

“Revelando um otimismo intrínseco em sua pregação e em sua ação, Jesus consegue enxergar o fio de conexão com o outro ser humano, para chamá-lo à realização da vida moral”. Desencadeia processos de regeneração, sem qualquer imposição externa. Conquista Madalena para fora da vida de desregramento, desperta em Zaqueu a consciência de ser menos avarento, e, mesmo depois da morte, aproveita o ímpeto destrutivo de Saulo de Tarso, canalizando-o para a divulgação apostólica do Cristianismo.

Realiza, pois, de forma mais eficaz e elevada, a idéia de Sócrates, de restituir o homem a si mesmo, pela prática de um diálogo informal, que transcorre à beira dos lagos, no alto dos montes ou no meio das praças. E o faz estabelecendo um vínculo amoroso com os discípulos, ao mesmo tempo em que apela para a sua autonomia racional." (Pág. 115)

“Que pedagogia era essa que praticava Jesus”? Herculano Pires refere-se a uma Pedagogia da Esperança:

"A educação não era mais o ajustamento do ser aos moldes ditados pelos rabinos do Templo, a imposição de fora para dentro da moral farisaica, mas o despertar das criaturas para Deus através dos estímulos da palavra e do exemplo. A salvação pela graça não era um privilégio de alguns, mas o direito de todos. Jesus ensinava e exemplificava e seus discípulos faziam o mesmo. Chamava as crianças a si para abençoá-las e despertar-lhes, com palavras de amor, os sentimentos mais puros. Nem os apóstolos entenderam aquela atitude estranha: um rabi cheio da sabedoria da Torá a perder tempo com as crianças. (.) Cada criatura humana é para ele um educando, um aluno (...) Assim, a Terra não é mais o paraíso dos privilegiados e o inferno dos condenados. É a grande escola em que todos aprendemos, em que todos nos educamos. A Pedagogia da Esperança oferece a todos a oportunidade de salvação, porque a salvação está na educação."


A visão da vida na Terra como processo educativo faz sentido à luz da reencarnação, em que as almas estão em permanente aprendizagem. Por isso mesmo o cristão, que admite essa idéia, vê em Jesus muito mais o pedagogo da humanidade que o salvador." (Pág. 116 à 117)

"A natureza humana não corrompida, o livre-arbítrio como apanágio de cada alma individual e uma propensão natural ao aperfeiçoamento e à ascensão emprestam à educação cristã, proposta por Jesus, um ar refrescante de liberdade e naturalidade. Jesus não se impõe, não usa de coerção, nem mesmo de persuasão. Convida, exemplifica, serve e ama." (Pág. 117)

"Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve" (Lc. 22, 27) - aí se resume seu método pedagógico. Quem mais serve, por amor, é quem mais é capaz de fazer brotar o impulso do bem na alma humana. Quem mais se sacrifica, por amor, é quem mais alcança a intimidade do outro, para fazê-lo melhor." (Pág. 118)

"As duas vertentes do Cristianismo têm coexistido no decorrer da história - de um lado, a visão do homem, herdeiro do Criador, como capaz de projetar-se para a transcendência, de fazer-se santo, perfeito, e, nesta linha, propostas libertárias, igualitárias de educação. Do outro, a visão do pecado, da tragédia da queda, da corrupção inata, da necessidade de disciplinar e reprimir. Evidentemente, em muitas doutrinas e práticas, ambas as visões se conjugam, em nuanças intrincadas. A tese aqui levantada, entretanto, é a de que Jesus, propondo um modelo de educação humana, é o fundador da primeira tendência, que combina perfeitamente com a de Sócrates." (Pág. 118)

"Recuperado como mensagem de fraternidade, liberto do dogmatismo sectário, encarando-se Jesus como um pedagogo divino, que veio propor um programa de educação do espírito, em parâmetros de liberdade e amor, o Cristianismo é revisto pelo paradigma do espírito. O Espiritismo assim se anuncia como mais um ensaio histórico de retorno à essência cristã, ofuscada pelas instituições humanas, de poder e de dominação. E na raiz desta revisão, renasce a pedagogia de Jesus, como pedagogia da esperança: quem já realizou em si a divindade intrínseca de todas as criaturas, trabalha para despertá-la em seus irmãos de humanidade, confiando em sua capacidade de aperfeiçoamento autônomo. E daqueles que já pisaram no mundo, certamente Jesus foi quem a realizou de maneira mais completa e por isso sua mensagem e seu exemplo exercem poderoso influxo de mudança e ascensão."(Pág. 120)

INCONTRI, Dora. Pedagogia Espírita - um projeto brasileiro e suas raízes. Bragança Paulista - SP. Editora Comenius, 2004.

segunda-feira, 21 de março de 2011

[VÍDEO] Allan Kardec: O Educador

Allan Kardec o Educador é um dos mais belos documentários sobre a vida e a obra de Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), mais conhecido como Allan Kardec. Veja imagens filmadas nos locais onde ele se instruiu e viveu: Lyon, Yverdon e Paris. E acompanhe os caminhos trilhados por um dos filósofos mais importantes da humanidade, que se tornou o principal estudioso das mensagens dos espíritos, tendo realizado a Codificação do Espiritismo.

O filme traz ainda uma elucidativa entrevista com Dora Incontri, pesquisadora e Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo. Desfrute de momentos de sabedoria e beleza audiovisual, assistindo a este documentário.


Vídeo 01:


Vídeo 02:


Vídeo 03:


Vídeo 04:


Vídeo 05:


Vídeo 06:

domingo, 2 de maio de 2010

Eurípedes Barsanulfo - O Precursor da Pedagogia Espírita

Por Érika Silveira

Descrever, em poucas linhas, o papel desempenhado pelo médium Eurípedes Barsanulfo dentro da doutrina espírita não é uma tarefa simples, uma vez que, em seus 38 anos de vida terrena, realizou obras que muitos talvez não conseguiriam nem com o dobro de tempo. A trajetória de vida deste espírito missionário começou na pequena cidade de Sacramento (MG) em 01 de maio de 1880, data em que se comemora o Dia do Trabalho, nada mais justo para uma pessoa que ajudou ao próximo incansavelmente e inseriu um novo modelo de pedagogia no Brasil.

A vocação para o ensino se manifestou precocemente, ensinando seus próprios irmãos e colegas de escola. Participou da fundação do Liceu Sacramentano, um instituto de ensino primário e secundário, em 1902, bem como do jornal Gazeta de Sacramento, onde escreveu colunas semanais sobre política, direito público e métodos educacionais, entre outros temas, durante dois anos. Apesar de não possuir diploma de curso superior, Barsanulfo dominava diversos assuntos, como filosofia, direito e medicina. Aliás, cursar a faculdade e se formar médico era seu grande sonho, mas por causa dos problemas de saúde de sua mãe, preferiu permanecer ao seu lado em casa.

A RELAÇÃO COM O ESPIRITISMO

Eurípedes Barsanulfo sentiu uma certa resistência para aceitar de imediato o Espiritismo, em virtude da forte formação católica recebida de seus pais, Hermógenes Ernesto de Araújo e Jerônima Pereira de Almeida. Porém o primeiro contato com a doutrina foi através de seu tio, Sinhô Mariano, que fundou e dirigiu o Centro Espírita Fé e Amor, um dos mais antigos e conhecidos do povoado.

Em certa ocasião, o tio entregou para Barsanulfo um exemplar da obra de Leon Denis, rapidamente lido por ele. Impressionado, resolveu ir ate o centro e, lá chegando, encontrou o humilde médium de nome Aristides sentado à mesa. Colocando à prova a comunicação de espíritos com os encarnados, pediu, em pensamento, esclarecimentos a respeito do Sermão do Monte por meio do médium, já que não tinha sido totalmente instruído pelo padre da igreja que freqüentava. Barsanulfo prontamente recebeu uma detalhada explicação sobre o tema pedido e, a partir de então, converteu-se ao Espiritismo.

Em 27 de janeiro de 1905, fundou o Grupo Espírita Esperança e Caridade em sua residência, local em que já realizava o chamado “Culto Cristão” (a leitura de O Evangelho Segundo o Espiritismo a partir das 9h) desde o ano anterior. Foi ali que Eurípedes Barsanulfo promoveu encontros memoráveis e sua mediunidade sonambúlica e de efeitos físicos se manifestou claramente.

Porém, sua grande vocação era a educação, pois sabia que, através dela, poderia incutir os valores morais que julgava ser de extrema valia na consciência e nos corações das crianças. Assim, em 02 de abril de 1907, Barsanulfo inaugurou o Colégio Allan Kardec, primeiro colégio espírita do Brasil, que foi administrado por ele até seu desencarne. Nele, educou um grande número de pobres e órfãos, mas, principalmente, implantou uma nova metodologia educacional, oferecendo instrução intelectual e moral. Todas as quartas-feiras, ministrava aulas a respeito da doutrina espírita, incompreendida e desdenhada por muitos pais de alunos. Inclusive, alguns deles chegaram a retirar seus filhos da escola na época.

FENÔMENOS FÍSICOS E DE CURA

Outro ponto que marcou a vida de Eurípedes Barsanulfo foi o seu grande potencial mediúnico, desenvolvendo diversos tipos de mediunidade, como a de cura, audição, vidência, psicografia, intuição e bicorporeidade, ou seja, a faculdade de desdobramento, quando um médium surge em um determinado local enquanto seu corpo permanece em outro. Fatos do gênero aconteceram diversas vezes, como na ocasião em que entrou em transe e chegou a descrever detalhadamente, para seus alunos, o local, o horário e os participantes de uma reunião que havia acabado de assistir na cidade de Versalhes, na França, local em que foi assinado um histórico tratado.

A constante produção de fenômenos mediúnicos atraiu uma multidão para a pequena cidade de Sacramento, na qual Barsanulfo promoveu diversas curas sem jamais cobrar por isso, recuperando doentes desenganados pela medicina com o auxílio constante da equipe espiritual comandada pelo dr. Bezerra de Menezes. Inclusive, por orientação do chamado “médico dos pobres”, criou a Farmácia Espírita Esperança e Caridade, que funcionava ao lado de seu quarto. Impregnada por um suave perfume de jasmim, a farmácia servia de base para as atuações do dr. Bezerra por meio da mediunidade de Eurípedes, atendendo os necessitados com orientações, receitas médicas e cirurgias espirituais.

CORAGEM E AMOR PELA DOUTRINA

Entretanto, como não poderia deixar de acontecer, tendo em vista a época e o porte da cidade de Sacramento, Eurípedes Barsanulfo sofreu muitas perseguições e acusações, passando firme por momentos bastante difíceis. Um desses casos ocorreu em 1913, quando um padre de Campinas, Feliciano Lague, atendeu o chamado de religiosos da cidade mineira e tentou anular a influência do médium, bem como o prestígio do Colégio Allan Kardec. Depois de algumas investidas, Barsanulfo propôs um debate público com o padre. “No dia marcado, a praça da matriz estava repleta de sacramentanos e espíritas das cidades vizinhas, desejosos de assistir ao confronto que prometia ser memorável. E foi. Todos os argumentos do padre Iague objetivavam desmoralizar Eurípedes e o Espiritismo. Caíram por terra, um a um, graças ao raciocínio lógico, tranqüilo, consistente e pleno das palavras de Jesus por parte de Eurípedes. Ele foi vitorioso e precisou conter os entusiasmados espíritas, que desejavam carregá-lo em triunfo”, descreve Lauret Godoy em seu livro Maravilhosos Encontros com Eurípedes Barsanulfo. O fato só serviu para reforçar ainda mais a posição da doutrina espírita e o trabalho educacional promovido pelo médium.

Eurípedes Barsanulfo passou muitos e muitos anos se dedicando ao próximo e ao bem comum, tarefa que só se encerrou com seu desencarne, ocorrido em 01 de novembro de 1918, vítima de uma epidemia de gripe que assolou o Brasil naquele ano. Mesmo depois de 85 anos de sua partida para o plano espiritual, ele é lembrado com imenso carinho por todo o movimento espírita, sobretudo na cidade de Sacramento, local que, ainda hoje, recebe constantes visitas de caravanas formadas por pessoas que desejam ver de perto a obra de amor deixada por ele e continuada por sua sobrinha, Heigorina da Cunha. Entre os pontos mais visitados por elas, estão a gruta na qual ele realizou boa parte das curas, o busto que foi feito em sua homenagem, o Colégio Allan Kardec, entre outros. Não se pode deixar também de citar a referência feita pelos visitantes de que a cidade mineira possui uma atmosfera bastante especial, o que não poderia ser diferente, tendo em vista a grandeza espiritual desse missionário que se tornou o precursor da pedagogia espírita no Brasil.

PALAVRAS DE UMA EDUCADORA ESPÍRITA SOBRE EURÍPEDES BARSANULFO

A educadora Dora Incontri descobriu sua vocação para a pedagogia quando ainda cursava jornalismo na Fundação Cásper Líbero, época em que lançou seu primeiro livr. Educação na Nova Era, ponto de partida para sua carreira. A partir de então, passou a se dedicar integralmente ao tema, escrevendo para diversos jornais, fazendo mestrado, doutorado e pós-doutorado em educação.

Nascida em berço espírita, Dora Incontri afirma ter recebido uma grande influencia para a pedagogia tanta da família como o prof. J. Herculano Pires, amigo de seus pais durante muitos anos. Outro grande modelo que inspirou a educadora foi Eurípedes Barsanulfo, tanto que o escolheu para ser um dos focos de sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Nesta entrevista, ela fala um pouco mais sobre essa escolha, a personalidade de Barsanulfo e a idéia de uma escola espírita.

Por que a escolha de Eurípedes Barsanulfo para ser um dos focos de sua tese de doutorado?

Dora Incontri – Porque, com a criação do Colégio Allan Kardec, ele inseriu um novo modelo de educação. Em minha tese, analisei as heranças de Sócrates e Platão, passando por educadores como Comenius e Pestalozzi até chegar em Kardec, mostrando, depois, como a pedagogia espírita foi se desenvolvendo no Brasil através de seu primeiro grande educador espírita, que foi Eurípedes Barsanulfo. Considero-o realmente o fundador da pedagogia espírita no país, o primeiro a fazer uma escola espírita revolucionária, que nada tinha a ver com o sistema tradicional da época. Ele implantou uma metodologia sem notas, castigos ou recompensas, era uma educação ativa, com a participação dos alunos, algo totalmente diferenciado.

Quais foram suas fontes de pesquisa?

Dora Incontri – Além da literatura existente, entrevistei Thomaz Novelino, falecido em 2000, aos 99 anos de idade. Ele foi aluno de Eurípedes, conviveu com ele e fundou o Educandário Pestalozzi, na cidade de Franca (SP), inspirado em seu trabalho.

Como ele descreveu a personalidade de Eurípedes?

Dora Incontri – De acordo com seu testemunho e de outras pessoas com quem conversei em Sacramento, Eurípedes era uma pessoa muito séria, bondosa, amorosa, serena, uma criatura bastante equilibrada. Enquanto outras escolas utilizavam castigos como forma de punição dos alunos, ele nem sequer alterava a voz. Atualmente, não há, dentro ou fora do movimento espírita, qualquer proposta de escola que se assemelhe com a que ele fez, com originalidade, liberdade, amor e participação dos alunos.

Há um projeto para criar uma escola nesses moldes?

Dora Incontri – Meu projeto de vida é fazer mais do que uma escola, é construir uma colônia educacional. Por enquanto, está no papel, mas tudo foi planejado. Primeiro, queria defender uma tese para solidificar a idéia da pedagogia espírita na universidade e, depois, criar uma massa crítica que se ligasse com a proposta, pois uma das grandes dificuldades em todas as experiências, inclusive na de Eurípedes, é a falta de pessoas que as entendam. Falar em escola espírita não significa um lugar de doutrinação, mas que tem uma visão diferente da educação, baseada em três princípios: a pedagogia do amor, da liberdade e da ação.

TESE DE MESTRADO

Formado em pedagogia, Alessandro César Bighito escolheu Eurípedes Barsanulfo, para ser tema principal de sua tese de mestrado na Universidade de Campinas (Unicamp). Segundo ele, o motivo foi a originalidade e a brilhante proposta de educação dentro do Espiritismo sugeridas pelo médium. Nesta entrevista, Bighito fala mais sobre esse trabalho de pesquisa.

Quais foram os principais pontos abordados?

Alessandro César Bighito - Na história da educação brasileira, temos uma forte influência católica, principalmente em Minas Gerais, e o interessante na proposta de Eurípedes foi ter aberto uma escola completamente oposta aos padrões da época, abolindo castigos, fortalecendo a relação de amizade entre professores e alunos e desenvolvendo um processo de educação ativa. Também ao contrário das escolas extremamente elitistas, o Colégio Allan Kardec era gratuito, formado por classes mistas, tudo muito original para aquele tempo.

Quais foram suas fontes para realizar essa pesquisa?

Alessandro César Bighito - Os dados históricos da primeira república, época na qual Eurípedes está contextualizado, eu pesquisei em documentos, fotos e jornais, além de uma entrevista realizada pela Dora Incontri com Thomaz Novelino e alguns depoimentos de outros alunos, inclusive com um que está atualmente com 110 anos de idade e mora em Uberlândia (MG). Tive acesso também às atas do período em que Eurípedes foi vereador em Sacramento.

Quando visitou Sacramento, o que você sentiu em relação a Eurípedes Barsanulfo?

Alessandro César Bighito - Embora tenha desencarnado há muito tempo, sua presença ainda é muito viva no local. Por sua bondade e afeto, ele fez uma ação muito poderosa no lugar. Agora, o referencial pedagógico implantado por Eurípedes não existe mais no atual Colégio Allan Kardec, perdeu-se com a nova direção. Porém, entendo que a presença de um espírito evoluído como Eurípedes Barsanulfo deixou sementes pedagógicas que germinarão algum dia.

Notas: (Extraído da revista Cristã de Espiritismo 20, páginas 36-39) Fonte: Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas