sábado, 20 de fevereiro de 2010

Allan Kardec x Roustaing: A hora da verdade

Por Wilton Porto*

“É dever dos espíritas sinceros combater a mistificação roustainguista neste alvorecer da Era Espírita no Brasil. Ou arrancamos o joio da seara ou seremos coniventes na deturpação doutrinária que continua maliciosamente a ser feita. O Cristo agênere é a ridicularização do Espiritismo, que se transforma num processo de deturpação mitológica do Cristianismo. A doutrina do futuro nega-se a si mesma e mergulha nas trevas mentais do passado. O homem-espírita, vanguardeiro e esclarecido, converte-se no homem da era ante-cristã, no crente simplório das velhas mitologias” (José Herculano Pires).

No livro “Conscientização Espírita”, o espírita Gélio Lacerda da Silva faz implacáveis críticas aos “Quatro Evangelhos” ou “Revelação da Revelação” de autoria do francês J. B. Roustaing, obra publicada quase à mesma época dos livros codificados por Allan Kardec. A obra de Kardec é considerada o “Consolador” prometido por Cristo. Roustaing diz que os livros publicados por ele traz informações mais coerentes e estes é que formam os ensinamentos que traduzem o “Consolador”. O papel deste artigo é mostrar opiniões a respeito do assunto, a fim de que o leitor – principalmente o espírita – tire suas conclusões após outras leituras e profunda análise.

Em “O Verbo e a Carne” de José Herculano Pires e Júlio Abreu Filho, na parte “O Roustainguismo à Luz dos Textos”, José Herculano Pires contempla o leitor com uma inteligente análise da obra de Roustaing, a partir do prefácio desta, e como Gelásio, ele demonstra que “Os Quatro Evangelhos” é obra ditada por espíritos “das trevas” e não por espíritos de luz, com o acompanhamento de Lucas, João, Marcos e Mateus, além de Moisés, como afirmou Roustaing.

Como se não bastasse, o roustainguismo conta com o apoio irrestrito da Federação Espírita Brasileira (FEB), que edita e divulga a publicação de J. B. Roustaing, embora os seguidores deste não passem de 1% (um por cento) dos espíritas existentes.

Gélio disse no livro citado, que “Chico Xavier se relacionou com a FEB do jeito que ela gosta: deixou a critério da FEB selecionar os escritos mediúnicos. Chico e Emmanuel ficaram à mercê do ‘criterium’ da FEB roustainguista”.

O próprio Gélio explica o motivo de Chico e Emmanuel se deixarem envolver pela FEB: esta tem interesse em patrocinar o roustainguismo e aqueles, contam com a comodidade da publicação e divulgação das obras psicografadas por Chico Xavier. Isso também se vê com outros espíritas de renome, como Humberto de Campos-Espirito e Bezerra de Menezes. O último, hoje, já no mundo espiritual, voltou-se de tal forma para o kardecismo que criou a frase “é hora de kardequizar”, além de ter escrito páginas belíssimas e contundentes defendendo a obra de Allan Kardec.

A publicação de “O ROUSTAINGUISMO À LUZ DOS TEXTOS”, de José Herculano Pires, e CONSCIENTIZAÇÃO ESPÍRITA, de Gélio Lacerda da Silva, foram taxativas para se entender a publicação de Roustaing e por que os espiritistas devem seguir o exemplo de Bezerra de Menezes-Espírito, que hoje segue e defende com unhas e dentes a obra codificada por Allan Kardec, obra esta que afirma o cristo humano e não que este veio ao mundo com um corpo fluídico como diz Roustaing.

O Corpo Fluídico de Jesus

Um dos principais motivos da publicação de OS QUATRO EVANGELHOS é mostrar que Jesus possuía – na terra – um corpo fluídico e não com a matéria igual a nossa. Revela que Maria – mãe de Jesus – teve uma gravidez aparente como também o parto. Ou seja: gravidez, parto, amamentação não passaram de “ilusão”. “Tanto quanto na gravidez, Maria teve a ilusão no parto, na medida do que era necessário, a fim de que acreditasse, como devia acontecer, num nascimento real”. Meu Deus! Os Espíritos Superiores eram inocentes ou aqueles que ditaram a obra de Roustaing viram uma baita inocência em Roustaing? No tocante à amamentação não fora diferente – José Herculano Pires prova as aberrações, porque Roustaing diz ter sido também um ato ilusório, modificando-se o sangue, etc. e tal.

José Herculano Pires trata a mensagem de Roustaing de “ridícula”, “episódio lírico-burlesco”. Considera na mensagem desse contestador de Kardec “truques e passes de mágicos”. E pergunta: Como aceitar-se o papel de Jesus, sob a permissão, pelo menos, de Deus, nesse processo de trapaça espiritual em nome da verdade

Reencarnação

No tocante à reencarnação, Roustaing escreveu que os seres que decaíram podem renascer como “criptógamos carnudos”, que são “criaturas estranhas, em forma de larva e lesma”, conforme estudo.

J. Herculano Pires assim se expressa: “São encarnações de espíritos humanos que haviam atingido alta evolução sem passar pela encarnação humana. Depois de desenvolverem a razão em alto grau e de haverem colaborado com Deus nos processos de criação, chegando mesmo a orientar criaturas humanas, voltam à condição de criptógamos carnudos”. E atira o escritor: “Invenção absurda e tola. E tanta gente a defender essas bobagens dentro do Espiritismo”!

Quem conhece o mínimo de espiritismo é cônscio de que a evolução espiritual é “irreversível”, que o espírito humanizado não pode regredir ao plano animal(irracional). Roustaing, com a assinatura da FEB, quer “ridicularizar” o Espiritismo para deste afastar as pessoas de bom senso, com revela J. Herculano Pires.

Mensagens Falsas

Gelásio aponta trechos de mensagens atribuídas a Allan Kardec, que ele considera “insegura”, com “indícios de mistificação ou animismo”. Não se esquecendo de lembrar que muitos dos médiuns que receberam rezam pela cartinha de Roustaing.

“Lamento haver ensinado a Doutrina Espírita”. Essa frase atribuída a Allan Kardec, recebida pelo médium Daniel Douglas Hume, traz suspeita, porque Douglas não tinha apreço por Kardec, por isso não merece “credibilidade”, no dizer de Gelásio.

“Sendo assim, a esse pedaço de terra, a que chamais Brasil, foi dada também a Revelação da Revelação”. (médium Francisco Pereira da Silva Júnior). A expressão remete o leitor ao roustainguismo.

Há uma poesia contida no “O ROUSTAINGUISMO À LUZ DOS TEXTOS” que foi atribuída ao poeta Guerra Junqueiro: O CORPO DE JESUS. Junqueiro, em soneto, “Funerais da Santa Sé” (Uma explicação), após anos calado sobre o assunto, em respeito à médium que recebeu a poesia, diz no soneto:

Essa obra prima, porém, traiu o figurino;/mostra-me às vezes mudo e o verso alexandrino/não contém elisão ou traz quebrado o pé.../ O filtro era imperfeito. E até meu pensamento/sofreu deformações ou carregou-o o vento.../Perdoa-me leitor, “Os Funerais da Sé”!

O poeta português publicou, também, “OS QUATRO EVANGELHOS”, através do médium da confiança dele: Jorge Rizzini, com crítica à obra de Roustaing, em que o poeta demonstra que Roustaing foi vítima de espíritos do Umbral. Vejamos uma estrofe:

Esse livro indigno – excremento do Umbral,/Encontrou no Brasil ferozes defensores!/Eu explico a razão, dessa obra afinal,/Eles foram no Além os vis expedidores!...

Roustainguismo no Brasil

Resumirei o máximo – darei tópicos sobre o assunto. Acredito, no entanto, que será suficiente para se entender.

Formação religiosa é o ponto de partida, tendo a formação racial e o período medieval influenciado no desenvolvimento brasileiro. O roustainguismo chegou ao Brasil num momento crítico da nossa cultura, com infiltrações européias. Nesse período, nos chega o espiritismo, vindo da França. O roustainguismo, que se apresentava como integrado ao Espiritismo, tocou de perto a sensibilidade mística de alguns ex-católicos. A França era o centro da Civilização e Paris o cérebro do mundo. Roustaing, como advogado, era respeitado e a médium que lhe ajudava, Madame Collignon, pertencia a prestigiosa família de juristas. “Trazia um grande alívio aos espíritas místicos, quebrava a frieza racional da obra de Kardec e restituía ao Cristo a sua condição sobrenatural. Homens profundamente religiosos como Chico Xavier, Bezerra de Menezes, Antônio Luiz Sayão, Bitencouart Sampaio e outros, surgia como tábua de salvação, livrando-os do “racionalismo “ kardeciano. Roustaing era a volta ao maravilhoso, ao Cristo místico, divino no espírito e no corpo.

Mas o pensamento da grande maioria hoje é esse: “Em Roustaing impera, absoluto, sobre todos os seus ensinos, o sentimento religioso da antiguidade. – Em os Quatro Evangelhos as verdades são sempre contrariadas pelas mentiras, o natural é prejudicado pelo absurdo e o belo é sempre desfigurado pelo horrível. Jesus é fluidificado, purificado e até endeusado; mas também é ironizado, ridicularizado, deturpado e estupidificado”! “Roustaing é o anti-Kardec. Se Kardec é o bom senso, Roustaing é a falta de bom senso”. (José Herculano Pires).

*Wilton Porto é Professor, jornalista, terapeuta, escritor e membro da Academia Parnaibana de Letras - APAL

19 comentários:

  1. Meus Amigos e Meus Irmão Boa Noite.
    O que dizer de um homem que apoiando - se na fama e sucesso crítico e literário de não só uma obra más de várias atribui para si mesmo o autor da "OBRA" "A REVELAÇÃO DA REVELAÇÃO" "OS QUATRO EVANGEHOS" - João Batista Rousteing. e vem o Sr. Rousteing e ainda tem a petulancia de afirmar que os Espíritos encarregados da "OBRA" eram nimguém menos que: Mateus,Marcos,lucas e joão Apóstolos de Jeus. e ainda para o carnaval ser maior acresenta descaradamente o nome de Moisés o legislador do povo hebreu e (essa é demais) Maria de Nazare a mãe de Jesus. ( só faltou DEUS em pessoa ) para conduzir a "OBRA".
    Esses livros "os Quatro Evangelhos" podem ser considerados livros saídos direto do UMBRAL e graças a nossa falta de cultura encontrou infelizmente aqui no Brasil solo fértil para se desenvolver.....
    Más lembremo -nos das palavras de Jesus " é preciso que o joio e o trigo nascam juntos " no momento certo os Tutores Divinos a quem estão confiados os destinos da humanidade tendo a frente o próprio Cristo se encarregaram de separar o Joio do Bom Trigo....
    Lembremo - nos do Codificador do Espiritismo:
    O Sr. Allan Kardec:
    Fé Inabalável só é Aquela que Pode Encarar á Razão Façe à Façe em Todas as Épocas da Humanidade.
    Á "OBRA" de J.B.ROUSTEING não tem apoio nem nos Evangelhos e nem na Ciêmcia e na Fenomenologia Espírita; fiquemos em Paz e que o Senhor Jesus nos Abençoêm hoje e sempre!

    ROBSON SANTANA - ORADOR ESPÍRITA
    KARDEQUINHO@YAHOO.COM.BR /081 - 8657.3953

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  2. Bem,
    Estou apenas no começo de meus estudos espíritas,e vejo muitas discordâncias,mal-entendidos e críticas dentro dos centros.Eu vejo,de maneira construtiva,que o direcionamento intelectual dos membros também deve abranger o interesse de forma básica a respeito do significado ds palavras em qualquer idioma.Se isto não for feito,corremos o risco de sermos injustos com outras organizações sérias que usam termos como por exemplo,misticismo,com outra conotação qua não a usada vulgarmente.A respeito dos rituais dispensados nas reuniões nas casas espíritas de maneira corretissima,pois são reuniões de intrução,e não necessitam de artifícios de cunho espiritualista,no que concordo plenamente,porém lembro que a palavra ritual abrange um leque enorme de situações às quais nos remetem desde o momento que acordamos até o momento que dormimos.Isso remete claramente à idéia de constância.Não obstante tudo isso,acho saudável o contraditório,pois é assim que crescemos e aprendemos.Se houvesse 100% de concordância em tudo o plano de Deus estaria fadada ao fracasso.

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  3. http://www.casarecupbenbm.org.br/images/roustaing/museu18.html

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  4. Adorei, Herculano Pires disse: Rousteng teve a finalidade de confundir os espíritas irracionais e o objetivo maior era ridicularizar o Espiritismo para afastar as pessoas de bom senso.

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  5. Belo texto. Gostaria muito que os roustanguistas de plantão tivessem a coragem de publicar no Brasil o escrito de seu mestre publicado em 1882 na França, na integra sem adulterações: Les quatre Évangiles - Réponse a ses critiques et a ses adversaires de J. B. Roustaing. Editado na França por seus seguidores seguindo seu desejo de publicação póstuma. É a prova suprema do desequilíbrio desse cidadão.A FEB em 1920 (tradução do Guillon Ribeiro) traduziu somente a parte final. Traduzam e publiquem tudo. Inclusive o ataque calunioso contra Kardec.

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  6. Prezado Conde:
    Esse bateboca em torno de Os Quatro Evangelhos me parece algo insosso. Grande parte dos críticos dessa obra sequer a leram. Isso me faz lembrar o auto de fé de Barcelona, em que as obras de Kardec foram queimadas em praça pública por ordem de um bispo, que sequer as havia lido.
    A polêmica em torno da obra coordenada por Roustaing se restringe a uma única questão: o corpo de Jesus. Não se considera a explicação das parábolas, a descrição dos fenômenos que deram origem aos chamados milagres nem as inúmeras revelações feitas pelos Espíritos que ditaram a obra. A questão central considerada é a natureza do corpo de Jesus.
    A propósito, até hoje discute-se porque Jesus disse ao Pai que não o abandonasse. Teria sido um momento de fraqueza? Lendo Roustaing, você se inteira do que se passou no Calvário.
    Jossiane, você cita Herculano Pires como um baluarte do Espiritismo. Você sabia que ele sequer ia a centros espíritas, pois, para ele, os centros espíritas brasileiros não passam de mini-igrejas?
    Finalizando, gostaria de lançar um assunto para debate. O Dr. Demeure, que foi médico de Kardec e, após seu desencarne, se juntou à equipe dos Espíritos que o assistiam, sugeriu-lhe fazer uma revisão em A Gênese e lhe recomendou pressa. Kardec desencarnou sem fazer a revisão.
    Que teria sugerido o Dr. Demeure que fosse revisado? Fiz uma lista de possíveis enganos do Codificador, tais quais a geração espontânea e o cálculo da precessão dos equinócios. Comparei alguns textos publicados em livros anteriores com os publicados em A Gênese e vi que houve algumas falhas. Mas, para não nos afastarmos do assunto que norteia este debate, gostaria de lembrar a questão do desaparecimento do corpo de Jesus. Para isso, Kardec indica três hipóteses, sem se definir por nenhuma das três: um fato milagroso, o furto do corpo ou Jesus jamais ter tido um corpo de carne.
    Qual das três deve ser considerada?

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  7. PauloAfonso... Sobre Herculano Pires, ele não estava equivocado. Até hoje, muitos centros espíritas no Brasil são mini-igrejas tomadas pelo religiosismo e misticismo. Nesses centros, se fala de André Luiz, Emmanuel, Ramatis, menos de Kardec!Com razão Herculano não frequentava esses centros.
    Sobre a questão do corpo fluídico de Jesus, em "A Gênese", Kardec desmonta a tese central do roustainguismo ao deixar claro que tal tese é "inadimissível" e conclui que Jesus em vida teve um corpo carnal (o que vai de encontro ao fantasioso Roustaing) e, após a sua morte, um corpo fluídico. Ponto final.

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  8. Caro administrador. Não tenho lado na questão, embora me interesse por elucidar ainda mais o que seria a verdade sobre esse caso do corpo fluídico.
    Na questão apresentada pelo sr Paulo Afonso vejo que você não deu a devida resposta, nem tanto fez menções diretas aos textos onde Kardec desmonta a tese de Roustang.
    Nesse caso, se possível poderia nos apresentar esses textos aonde você tenha se baseado?
    E o que dizer sobre o desaparecimento do corpo?

    Vale ressaltar que o próprio Kardec já tenha assumido próprio erro em suas obras. Como no caso do Livro dos Médiuns, onde houveram duas publicações distintas, e o próprio considerava que a primeira não era adequada ou demasiada incompleta.

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  9. Víctor Hugo: Os textos citados por mim e que você procura estão no livro "A Gênese", de Allan Kardec. Lá, ele desmonta a tese central roustainguista do corpo fluídico de Jesus. Não estou com a minha edição aqui neste momento para lhe indicar corretamente o capítulo e as páginas, mas, se você tiver a referida obra em casa, vai achar fácil. Aqui no blog também há artigos que aludem a essas passagens de Kardec, assim como a obra "Breve História do Espiritismo".

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  10. MUITO BOM O SEU ARTIGO ...É SUSTENTADO POR ESTUDO E REFLEXÃOE TEM TODA COERENCIA NECESSÁRIA ...

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  11. Administrador, estou elaborando um estudo comparativo entre a obra de Kardec e "Os Quatro Evangelhos" e tenho os dados a que você se refere em sua mensagem de 13 de fevereiro.
    Roustaing presenteou Kardec com um exemplar de "Os Quatro Evangelhos". Kardec fez os seguintes comentários na Revista Espírita":
    Esta obra compreende a explicação e a interpretação dos Evangelhos, artigo por artigo, com ajuda de comunicações ditadas pelos Espíritos. É um trabalho considerável, e que tem, para os Espíritas, o mérito de não estar, em nenhum ponto, em contradição com a doutrina ensinada por “O Livro dos Espíritos” e do dos médiuns. As partes correspondentes àquelas que tratamos em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” o são num sentido análogo. Aliás, como nos limitamos às máximas morais que, quase sem exceção, são geralmente claras, elas não poderiam ser interpretadas de diversas maneiras; assim, jamais foram assunto para controvérsias religiosas. Foi por esta razão que começamos por ali, a fim de ser aceito sem contestação, esperando para o resto que a opinião geral estivesse mais familiarizada com a ideia espírita.

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  12. Continuando o comentário de Kardec:
    O autor dessa nova obra acreditou dever seguir outro caminho; em lugar de proceder por graduação, quis alcançar o objetivo de um golpe. Tratou certas questões que não tínhamos julgado oportuno abordar ainda, e das quais, consequentemente lhe deixamos a responsabilidade, assim como aos Espíritos que os comentaram. Consequente com o nosso princípio, que consiste em regular a nossa caminhada sobre o desenvolvimento da opinião, não daremos, até nova ordem, às suas teorias, nem aprovação, nem desaprovação, deixando ao tempo o cuidado de sancioná-las ou de contradizê-las. Convém, pois, considerar essas explicações como opiniões pessoais dos Espíritos que as formularam, opiniões que podem ser justas ou falsas, e que, em todos os casos, têm necessidade da sanção do controle universal, e até mais ampla confirmação, não poderiam ser consideradas como partes integrantes da Doutrina Espírita.
    Quando tratarmos dessas questões, fá-lo-emos decididamente; mas é que, então, teremos recolhido documentos bastante numerosos nos ensinos dados de todos os lados pelos Espíritos, para poder falar afirmativamente e ter a certeza de estar de acordo com a maioria; é assim que fazemos todas as vezes que se trata de formular um princípio capital. Nós os dissemos cem vezes, para nós a opinião de um Espírito, qualquer que seja o nome que traga, não tem senão o valor de uma opinião individual; nosso critério está na concordância universal, corroborada por uma rigorosa lógica, para as coisas que não podemos controlar por nossos próprios olhos. De que nos serviria dar prematuramente uma doutrina como uma verdade absoluta, se, mais tarde, ela devesse ser combatida pela generalidade dos Espíritos?
    Dissemos que o livro do Sr. Roustaing não se afasta dos princípios de “O Livro dos Espíritos” e do dos médiuns; nossas observações são feitas sobre a aplicação desses mesmos princípios à interpretação de certos fatos. É assim, por exemplo, que dá ao Cristo, em lugar de um corpo carnal, um corpo fluídico concretizado, tendo todas as aparências da materialidade, e dele faz um agênere. Aos olhos dos homens que não teriam podido compreender, então, sua natureza espiritual, deve ter passado em aparência, expressão incessantemente repetida em todo o curso da obra, para todas as vicissitudes da Humanidade. Assim se explicaria o mistério de seu nascimento: Maria não teria tido senão as aparências da gravidez. Este ponto, colocado por premissa e pedra angular, é a base sobre a qual se apoia para explicação de todos os fatos extraordinários ou miraculosos da vida de Jesus.
    Nisso nada há de materialmente impossível para quem quer que conheça as propriedades do envoltório perispiritual; sem nos pronunciar pró ou contra essa teoria, diremos que ela é, pelo menos, hipotética, e que, se um dia ela fosse reconhecida errada, a base sendo falsa, o edifício desmoronaria. Esperamos, pois, os numerosos comentários que ela não deixará de provocar da parte dos Espíritos, e que contribuirão para elucidar a questão. Sem prejulgá-la, diremos que já foram feitas objeções sérias a essa teoria, e que, em nossa opinião, os fatos podem perfeitamente se explicar sem sair das condições da humanidade corporal.
    Estas observações, subordinadas à sanção do futuro, em nada diminuem a importância dessa obra que, ao lado de coisas duvidosas em nosso ponto de vista, em nosso ponto de vista, encerra outras incontestavelmente boas e verdadeiras e será consultada com proveito pelos Espíritas sérios (Allan Kardec, Notas bibliográficas, Os Evangelhos explicados pelo Sr. Roustaing, Revista Espírita de junho de 1866).
    Em "A Gênese", ele volta ao assunto no capítulo intitulado "Desaparecimento do Corpo de Jesus".

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  13. Achei interessante todo o texto e os comentários, mas também acho desproporcional a forma impositiva de todos que querem provar isso ao aquilo, como se fosse mais um dogma, não importa se da visão de Roustaing ou Kardec.
    Parecem as discussões da igreja católica medieval, que discursavam sobre a santidade das relíquias, e por quanto poderiam vende-las. Adoro estudar espiritismos, e todos os seus livro de referência, mas para mim o mais importante ainda é a mensagem de Jesus de "amai uns aos outros como a ti mesmo", é isso implica em respeito, amor, paciência, tolerância...e tudo mais que cristo deu seu próprio testemunho, tendo ele corpo de carne e osso ou fluídico.
    Acho que nessa vida não teremos todas as respostas certas...apenas temos que seguir o caminho do amor e da luz.

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  14. "Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea." Espírito Erazo em o Livro dos Médiuns.

    "Se algum dia, eu disser algo diferente do que disse Jesus e Kardec, fique com Eles e abandone-me" disse Emamanuel a Chico Xavier.

    "Estudar Kardec, conhecer Kardec, para viver Jesus" Bezerra de Menezes.

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  15. Os erros metodológicos de Roustaing
    http://www.oconsolador.com.br/6/especial.html

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  16. Para uma visão não tão simplista, argumentos muito bons que analisam a possibilidade de não haver contrariedade na obra coordenada de Roustaing (como no tocante ao significado de "criptógamo" e origem inicial do termo "revelação da revelação") se encontram nesse livro que é uma pesquisa histórica: http://www.crbbm.org/_media/JBR%202016%20-%20VERS%C3%83O%20FINAL.pdf
    O "roustainguismo" fez parte da história do Espiritismo sim, não basta descartá-lo com preconceitos a partir de referências cautelosas (não desmerecendo por exemplo o "metro que melhor mediu Kardec"), mas é exigido o nosso conhecimento a respeito porque é primordial; os Quatro Evangelhos fizeram parte do movimento desenvolvido em Bordeaux e na criação de toda FEB, então existiu ao menos uma finalidade. Além do mais, é arriscado pensar que o barco está abandonado e descartar as obras de Chico Xavier como se os espíritos nos permitiram uma mistificação universal.

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