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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Identidade do Espiritismo no Século 21


Por Jaci Régis

Allan Kardec elaborou o Espiritismo dentro da cultura cristã.

Formatou a doutrina dentro de três parâmetros, compatíveis com o modelo cristão: 

1. O mundo é de provas e expiações;

2. Os habitantes são espíritos imperfeitos que expiam suas faltas no processo de vidas sucessivas;

3. Deus se manifestou em três grandes momentos para a salvação moral humanidade: nos dez mandamentos de Moisés, nas palavras de Jesus Cristo e, finalmente, pela manifestação dos espíritos. 

São as três revelações da Lei de Deus.

Dentro desses parâmetros, aceitou que Jesus Cristo trouxe a verdade possível e que o Espiritismo completaria a verdade atual. 

A trajetória de Kardec é sinuosa.

Queria que o Espiritismo fosse uma ciência. Mas criou uma religião, sem querer que fosse religião.

Na verdade, agiu como equilibrista da razão e da fé.

Todavia, aceitou que o motivo central do Espiritismo era restaurar o cristianismo e implantar no mundo o Reino de Deus, utopia evangélica que está na base das aspirações místicas e irreais da humanidade ocidental, cristã.

Isso levou à afirmação do Espiritismo como o Consolador Prometido, representava também tacitamente a certeza de que Jesus Cristo era a verdade e toda a verdade teria vertido pela sua boca. Esse Consolador simbolizaria a vinda do Senhor ao mundo, completaria todas as verdades e ficaria conosco para sempre. Era a expressão da ilusão de que, brevemente, por obra divina, haveria modificações espetaculares na face da Terra.

Surgiria um reino de paz, de alegria e de fraternidade.

Era a implantação do Reino de Deus no mundo. Que mundo?

Sem qualquer demérito para as lições inigualáveis do Nazareno, estamos num tempo em que as exclusividades e as verdades absolutas não têm lugar.

N’O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec afirmou que o Espiritismo não vinha destruir a lei cristã, como o Cristo não teria destruído a lei mosaica. Essa sequência teológica provinha do sentimento de uma intervenção direta de Deus ou Jesus no encaminhamento das soluções e no desenvolvimento moral das civilizações.

O céu comandando a Terra.

Jesus Cristo, o rei, governando o mundo.

Mas o tempo da era cristã, no seu aspecto institucional, político e religioso estava no fim.

Desenvolver a ideia espírita dentro do caldo de cultura cristã foi um paradoxo. Pois o Espiritismo na sua estrutura básica é a negação do cristianismo. Consequentemente, tornou o Espiritismo prisioneiro da promessa da vinda do reino. Kardec, então, elaborou seu pensamento tentando encontrar justificativas e argumentos para as afirmações teológicas dos profetas e messias.

Seria diminuir seu gênio reduzir sua obra a essa análise simples.

Pois sua obra é capaz de superar os entraves contextuais e projetar-se para o futuro, porque teve a sabedoria de abrir o caminho para o progresso, para a renovação. De tal forma que o Espiritismo seria capaz de reciclar-se, aceitando as novas ideias, e de mudar o que fosse necessário para não imobilizar-se o que seria — disse — o suicídio da Doutrina.

É baseado nessa extraordinária abertura para a evolução e progresso das ideias que creio ser válido propor uma definição dinâmica para o Espiritismo nos dias atuais.

A DEFINIÇÃO DO ESPIRITISMO

O século 21 desponta como uma incógnita sob a liderança inconteste das ciências duras, coadjuvadas pelas ciências humanas.

Como definir, compreender e projetar o Espiritismo neste século 21?

Neste século, o Espiritismo terá, pelo menos, duas expressões:

1. O Espiritismo Cristão

Com duas versões:

a. Religião Espírita
Atualmente, de modo geral e majoritariamente, o Espiritismo é uma religião cristã, cujos programas e o entendimento remetem-se aos textos evangélicos e aos enunciados do século 19, repetindo as palavras de Allan Kardec, sem atentar para o contexto em que foram ditas.
Os espíritas cristãos são, basicamente, católicos mediúnicos. 

b. Espiritismo Laico-Cristão
Substituiu-se o tríplice aspecto de Ciência Filosofia e Religião, por Ciência, Filosofia e Moral, isto é, a moral cristã. Ambos os movimentos não fazem ciência e não filosofam.

2. Espiritismo Pós-Cristão
A única saída para que o Espiritismo alcance sua originalidade e ofereça uma contribuição genuína para a sociedade é escoimá-lo do enfoque teológico da Igreja. Isto é, ser um Espiritismo Pós-Cristão.
Esse Espiritismo Pós-Cristão não apenas abandonará a retórica e a teologia católica, como se organizará sugestivamente como uma ciência humana.

A CIÊNCIA DA ALMA

Como consequência, o Espiritismo Pós-Cristão se estruturará como a Ciência da Alma, à maneira de uma ciência humana, específica e “sui generis”.

Como Ciência da Alma, o Espiritismo abandona a ilusão de ser uma revelação divina, para ombrear-se, de forma muito especial, com o esforço das ciências humanas que surgiram para entender o ser humano, suas limitações, problemas e futuro, fora dos limites das ciências duras, físicas.

Isto é, uma ciência humana cujo objetivo é explicar o ser humano como uma alma, sua estrutura, sua atuação e sua evolução.

Com isso pode desenvolver um espírito crítico e explorar a realidade essencial do ser humano dentro da lei natural, da naturalidade dos processos evolutivos, através da reencarnação, como uma alma atemporal, imortal e em crescimento, seja no campo intimo seja no campo social.

Como Ciência da Alma, o Espiritismo abandona sua pretensão autárquica de abranger todos os problemas da humanidade, mas apoia-se nos esforços das demais ciências humanas que compõem o leque das realidades e comportamentos das pessoas.

O objetivo maior será introduzir na cultura o sentido sério, basicamente defensável aos postulados puros do Espiritismo. 

Terá que dispor de recursos e meios para provar, insofismavelmente, a imortalidade. O que implicará na renovação do exercício e objetivos da mediunidade, superando a fase meramente moralista e religiosa em que se situa atualmente.

Só a prova da imortalidade será a base de renovação social, humana e do pensamento humano e sustentará as teses da reencarnação e da evolução do Espírito. Numa estrutura compatível com a evolução do conhecimento humano. Como Ciência da Alma, introduzirá a noção de espiritualidade como uma busca natural, imprescindível para o equilíbrio pessoal e social, propondo positivamente o desenvolvimento ético na sociedade em mudança que vivemos.

Ou seja, a Ciência da Alma tentará, por todos os modos, oferecer um tipo de entendimento do ser humano que sempre foi o objeto do Espiritismo, de forma atualizada, dentro de um aspecto que integrará o rigor cientifico, expressão da sensibilidade e do sentimento na análise da realidade da alma humana.

Muitos podem questionar se um Espiritismo Pós-Cristão, a estruturação da Ciência da Alma, pode ser kardecista, dada a crítica e a reelaboração que se faz necessária do trabalho de Allan Kardec, conforme temos provado.

É kardecista na medida em que se apoiará nos alicerces básicos, puros, do pensamento doutrinário, desprezando os acessórios das interpretações e extensões contextualizadas no inicio e no tempo decorrente.

O caráter da Ciência da Alma, como qualquer ciência humana, será essencialmente progressivo, jamais se imobilizando no presente, apoiada somente no que for provado. Assimilará as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas. Pois não quer ser jamais ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias de credibilidade.

Fonte: Discurso proferido no II Encontro da Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA-Brasil), realizado de 3 a 6 de setembro de 2010 em Bento Gonçalves-RS.

Jaci Regis (1932-2010), psicólogo, jornalista, economista e escritor espírita, foi o fundador e presidente do Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS), idealizador do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita (SBPE), fundador e editor do jornal de cultura espírita “Abertura” e autor dos livros “Amor, Casamento & Família”, “Comportamento Espírita”, “Uma Nova Visão do Homem e do Mundo”, “A Delicada Questão do Sexo e do Amor”, “Novo Pensar - Deus, Homem e Mundo”, dentre outros.

Retirado do site PENSE - http://viasantos.com/pense/arquivo/1304.html

quarta-feira, 7 de abril de 2010

ESE - Mundos de Expiações e de Provas

O Evangelho Segundo o Espiritismo

(Continuação dos posts anteriores, Há Muitas Moradas na Casa de Meu Pai e Mundos Superiores e Inferiores)

SANTO AGOSTINHO

Paris, 1862

13 – Que vos direi, que já não conheçais, dos mundos de expiações, pois que basta considerar a Terra que habitais? A superioridade da inteligência, num grande número de seus habitantes, indica que ela não é um mundo primitivo, destinado à encarnação de Espíritos ainda mal saídos das mãos do Criador. Suas qualidades inatas são a prova de que já viveram e realizaram um certo progresso, mas também os numerosos vícios a que se inclinam são o indício de uma grande imperfeição moral. Eis porque Deus os colocou num mundo ingrato, para expiarem suas faltas através de um trabalho penoso e das misérias da vida, até que se façam merecedores de passar para um mundo mais feliz.

14 – Não obstante, não são todos os Espíritos encarnados na Terra que se encontram em expiação. As raças que chamais selvagens constituem-se de Espíritos apenas saídos da infância, e que estão, por assim dizer, educando-se e desenvolvendo-se ao contato de Espíritos mais avançados. Vem a seguir as raças semicivilizadas, formadas por esses mesmos Espíritos em progresso. Essas são, de algum modo, as raças indígenas da Terra, que se desenvolveram pouco a pouco, através de longos períodos seculares, conseguindo algumas atingir a perfeição intelectual dos povos mais esclarecidos

Os Espíritos em expiação aí estão, se assim nos podemos exprimir como estrangeiros. Já viveram em outros mundos, dos quais foram excluídos por sua obstinação do mal, que os tornava causa de perturbação para os bons. Foram relegados, por algum tempo, entre os Espíritos mais atrasados, tendo por missão fazê-los avançar, porque trazem uma inteligência desenvolvida e os germes dos conhecimentos adquiridos. È por isso que os Espíritos punidos se encontram entre as raças mais inteligentes, pois são estas também as que sofrem mais amargamente as misérias da vida, por possuírem mais sensibilidade e serem mais atingidas pelos atritos do que as raças primitivas, cujo senso moral é mais obtuso.

15 – A Terra nos oferece, pois, um dos tipos de mundos expiatórios, em que as variedades são infinitas, mas têm por caráter comum servirem de lugar de exílio para os Espíritos rebeldes à lei de Deus. Nesses mundos, os Espíritos exilados têm de lutar, ao mesmo tempo, contra a perversidade dos homens e a inclemência da natureza, trabalho duplamente penoso, que desenvolve a uma só vez as qualidades do coração e as da inteligência. È assim que Deus, na sua bondade, torna o próprio castigo proveitoso para o progresso do Espírito.

III – Mundos Regeneradores

SANTO AGOSTINHO

Paris, 1862

16 – Entre essas estrelas que cintilam na abóbada azulada, quantas delas são mundos, como o vosso, designados pelo Senhor para expiação e provas! Mas há também entre elas mundos mais infelizes e melhores, como há mundos transitórios, que podemos chamar de regeneradores. Cada turbilhão planetário, girando no espaço em torno de um centro comum, arrasta consigo mundos primitivos, de provas, de regeneração e de felicidade. Já ouvistes falar desses mundos em que a alma nascente é colocada, ainda ignorante do bem e do mal, para que possa marchar em direção a Deus, senhora de si mesma, na posse do seu livre-arbítrio. Já ouvistes falar das amplas faculdades de que a alma foi dotada, para praticar o bem. Mas ai!, existem as que sucumbem! Então Deus, que não quer aniquilá-las, permite-lhes ir a esses mundos em que, de encarnações em encarnações podem fazer-se novamente dignas da glória a que foram destinadas.

17 – Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os felizes. A alma que se arrepende, neles encontra a paz e o descanso, acabando por se purificar. Sem dúvida, mesmo nesses mundos, o homem ainda está sujeito às leis que regem a matéria. A humanidade experimenta as vossas sensações e os vossos desejos, mas está isenta das paixões desordenadas que vos escravizam. Neles, não há mais o orgulho que emudece o coração, a inveja que o tortura e o ódio que os asfixia. A palavra amor está escrita em todas as frontes; uma perfeita equidade regula as relações sociais; todos manifestam a Deus e procuram elevar-se a Ele, seguindo as suas leis.

Nesses mundos, contudo, ainda não existe a perfeita felicidade, mas a aurora da felicidade. O homem ainda é carnal, e por isso mesmo sujeito às vicissitudes de que só estão isentos os seres completamente desmaterializados. Ainda tem provas a sofrer, mas estas não se revestem das pungentes angústias da expiação. Comparados à Terra, esses mundos são mais felizes, e muito de vós gostariam de habitá-los, porque representa a calma após a tempestade, a convalescença após uma doença cruel. Menos absorvido pelas coisas materiais, o homem entrevê melhor o futuro do que vós, compreende que são outras as alegrias prometidas pelo Senhor aos que tornam dignos, quando a morte ceifar novamente os seus corpos, para lhes dar a verdadeira vida. É então que a alma liberta poderá pairar sobre os horizontes. Não mais os sentidos materiais e grosseiros, mas os sentidos de um perispírito puro e celeste, aspirando às emanações de Deus, sob os aromas do amor e da caridade, que se expandem do seu seio.

18 – Mas, ah!, nesses mundos o homem ainda é falível, e o Espírito do mal ainda não perdeu completamente o seu domínio sobre ele. Não avançar é recuar, e se ele não estiver firme no caminho do bem, pode cair novamente em mundos de expiação, onde o esperam novas e mais terríveis provas. Contemplai, pois, durante a noite, na hora do repouso e da prece, essa abóbada azulada, e entre as inumeráveis esferas que brilham sobre as vossas cabeças, procurai as que levam a Deus, e pedi que um mundo regenerador vos abrisse o seu seio, após a expiação na Terra.

IV – Progressão dos Mundos

SANTO AGOSTINHO

Paris, 1862

19 – O progresso é uma das leis da natureza. Todos os seres da Criação, animados e inanimados, estão submetidos a ela, pela bondade de Deus, que deseja que tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que parece, para os homens, o fim das coisas, é apenas um meio de levá-las, pela transformação, a um estado mais perfeito, pois tudo morre para renascer, e nada volta para o nada.

Ao mesmo tempo em que os seres vivos progridem moralmente, os mundos que eles habitam progridem materialmente. Quem pudesse seguir um mundo em suas diversas fases, desde o instante em que se aglomeraram os primeiros átomos da sua constituição, o veria percorrer uma escala incessantemente progressiva, mas em graus insensíveis para cada geração, e oferecer aos seus habitantes uma morada mais agradável, à medida que eles também avançam na senda do progresso. Assim marcham paralelamente os progressos do homem, o dos animais seus auxiliares, o dos vegetais e o das formas de habitação, porque nada fica estacionário na natureza.

Quanto esta idéia é grandiosa e digna da majestade do Criador! E como, ao contrário, é pequena e indigna do seu poder aquela que concentra a sua solicitude e a sua providência no imperceptível grão de areia da Terra, e restringe a humanidade a algumas criaturas que o habitam!

A Terra, seguindo essa lei, esteve material e moralmente num estado inferior ao de hoje, e atingirá, sob esses dois aspectos, um grau mais avançado. Ela chegou a um de seus períodos de transformação, e vai passar de mundo expiatório a mundo regenerador. Então os homens encontrarão nela a felicidade, porque a lei de Deus a governará.