Mostrando postagens com marcador Pierre-Gaetan Leymarie. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Pierre-Gaetan Leymarie. Mostrar todas as postagens

domingo, 18 de agosto de 2013

Kardec e o catálogo racional de obras

Por Sergio Aleixo

Um argumento dos que advogam que quase tudo pode ser Espiritismo à revelia de Kardec, merecendo até lugar na doutrina espírita, é a lista de obras preparada pelo mestre para formação de bibliotecas espíritas, cuja primeira edição apareceu em fins de março de 1869, visando à inauguração de uma livraria no início do mês seguinte, evento adiado, infelizmente, por conta de seu repentino passamento aos 31 dias de março daquele ano fatídico. A segunda edição do Catálogo Racional de Obras que Podem Servir para Fundar uma Biblioteca Espírita apareceu em agosto do corrente, já depois da morte de Kardec e acrescido, imaginem, de mais um par de títulos, sob a responsabilidade de A. Desliens. Quatro anos mais tarde, em dezembro de 1873, veio a lume uma terceira edição, atualizada por P. G. Leymarie.[1] Desconheço as duas primeiras. Portanto, não sei que obras foram acrescidas após o decesso de Kardec. Como quer que tenha sido, basta uma leitura atenta da peça para constatar a falta de base para argumentos mais libertários.
Catálogo é composto de três partes e um Apêndice: I – Obras fundamentais da doutrina espírita; II – Obras diversas sobre o Espiritismo ou complementares da doutrina; III – Obras feitas fora do Espiritismo; e Apêndice: Obras contra o Espiritismo.
A primeira coisa a considerar é que as obras de Kardec não são por ele chamadas básicas, e sim fundamentaisO Que é o EspiritismoViagem Espírita em 1862 e toda a coleção da Revista Espírita, inclusive. A segunda, é que, no hall de obras diversas sobre o Espiritismo ou complementares da doutrina, encontram-se livros cujos dizeres mereceram de Kardec simples comentários, uns; e mesmo censuras, outros, ali diretamente expressas, bem como em remissões bibliográficas indicadas pelo mestre.
É o caso, por exemplo, de Os Quatro Evangelhos, de Roustaing. Kardec diz que se trata de obra que ensina a mesma doutrina dos docetistas e apolinaristas, a postular que o corpo de Jesus era fluídico, razão pela qual não teria ele sofrido senão em aparência. Recomenda, então, a leitura de seu livro A Gênese, cap. XV, n.ºs 64 a 68, onde, como se sabe, repele veementemente essa teoria, contra-argumentando que ela rebaixa moralmente a Jesus. Trata-se, portanto, de atitude preventiva, de clara censura por parte de Kardec.
Na mesma esteira está o livro A Chave da Vida, por V. de F. Michel, que o mestre informa coincidir com alguns pontos da doutrina espírita, estando, contudo, na sua maior parte, em contradição com a ciência e o ensino geral dos espíritos. Kardec remete o leitor novamente a seu livro A Gênese, cap. VIII, n.ºs 4 a 7.
Outro tanto sucede a Revelações do Mundo dos Espíritos, recebido pelo médium Sr. Roze, e cujo conteúdo Kardec afirma compor-se de teorias em franca contradição com a ciência e com o ensino geral dos espíritos, sublinhando, vejam, que a doutrina espírita não as pode admitir. E aqui, uma grave lição. Este médium foi membro titular da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Recebeu, dentre outras, mensagens de São Luís, Lamennais, São Vicente de Paulo, e do próprio Espírito da Verdade.[2] E a que ponto chegou? De publicar contradições com a ciência e até com a doutrina espírita, que não é senão o ensino geral dos espíritos a que se refere Kardec em sua crítica. De fato, há nos boletins da S.P.E.E. menção a um certo “sistema” ditado a esse médium pelo que chamou “escrita inconsciente”, e também à penosa impressão que causou a um dos membros da S.P.E.E. a simples exposição do tal “sistema”.[3]
Resta saber agora se obras em contradição com a doutrina espírita e abertamente censuradas pelo próprio Kardec poderiam ser suas complementares. Claro que há por aí um equívoco de compreensão da proposta do mestre no Catálogo. O título da segunda parte, aliado ao procedimento crítico de Kardec em alguns de seus dizeres, demonstra que, ali, todas são, sim, diversas obras sobre o Espiritismo, mas nem todas são complementares da doutrina. Há umas e outras. A partícula ou indica exclusão e não sinonímia. Existem duas categorias distintas. Faz sentido que, numa biblioteca espírita, obras equívocas sejam, ainda assim, sobre o Espiritismo, porque sobre História ou Geografia é que não seriam. Mas, absolutamente, não podem ser complementares da doutrina espírita, que sequer pode admitir-lhes os conteúdos em certos casos, como se viu.
Usar o Catálogo para justificar o erro de que seriam complementos da doutrina espírita mesmo livros em contradição com suas obras fundamentais é puro oportunismo de algumas raposas bem escoladas, estribado na inconstância de certos adeptos e na ignorância geral a respeito dos fundamentos históricos e conceituais do Espiritismo.
Por outro lado, nenhum espírita deve tramar, em seu centro ou associação, proibir a leitura de quaisquer obras que sejam. Index librorum prohibitorum é coisa execrável, contra a qual, repito: contra a qual se deve posicionar o kardecista, sempre amigo do livre-exame. Mas daí a incentivar inconsideradamente a leitura de obras que contradigam a doutrina espírita, em detrimento, por exemplo, das obras fundamentais de Kardec, sobretudo no que respeita a neófitos, vai longa e mal iluminada distância.
O estrago que determinadas publicações podem ensejar a adeptos inexperientes, ainda faltos de elementos necessários a um discernimento mais prevenido, deve ser escrupulosamente evitado. É preciso dar uma chance à verdade espírita. Estimulemos a todo custo o estudo perseverante e continuado das obras fundamentais: O Que é o EspiritismoO Livro dos EspíritosO Livro dos MédiunsO Evangelho Segundo o Espiritismo, etc., etc. Depois, sim, que venham todos os benditos catálogos com livros “de dentro”, “de fora”, “pró” e “contra” o Espiritismo, porque já não seremos presas tão fáceis.
Outro não foi o motivo pelo qual encabeçaram o Catálogo as próprias obras kardecianas. Fizeram-se presentes os elogios do mestre, mas também suas abstinências e censuras aos livros listados. E por quê? Justamente porque é pela Obra de Kardec que a crítica espírita se viabiliza.




[1] BARRERA, F. Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec. USE/Madras, 2003, p. 144.
[2] Cf. Revista Espírita. Mar/1860. Perguntas sobre o Gênio das Flores (São Luís). Abr/1860. Ditados Espontâneos: “Conselhos” (O Espírito de Verdade); “Amor e Liberdade” (Abelardo); “Parábola” (São Vicente de Paulo). Nov/1860. Dissertações Espíritas: “Os Inimigos do Progresso” (Lamennais). Esta última comunicação é atribuída à recepção do “Sr. R...”. Trata-se, por certo, do Sr. Roze, mencionado no Boletim da S.P.E.E. de 10 de fevereiro de 1860 (cf. Revista de Mar/1860), no qual há expressa menção ao ditado espontâneo recebido pelo “Sr. Roze”, justamente de “Lamennais”. Há muitas referências a esse médium nas Revistas de 1859, nessa condição abreviada, talvez por ser antigo ministro-residente dos Estados Unidos junto ao rei de Nápoles, como informa Kardec na Revista de Maio/1859, no artigo “Ligação entre o Espírito e o Corpo”.
[3] Revista Espírita. Nov/1860. Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. 5 de outubro de 1860, sessão particular; 12 de outubro de 1860, sessão geral.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Los Efectos De Eclecticismo Y La Heterodoxia En El Movimiento Espírita Francés

Por Artur Felipe Azevedo

Clique aqui para a versão em português.

Como bien sabemos, el Espiritismo surgió en Francia en 1857, con la publicación de “El Libro de los Espíritus” por el profesor Hippolyte León Denizard Rivail, que utilizó el seudónimo de “Allan Kardec” para que quedase bien marcada la distinción del trabajo suyo con otros oriundos de su profesión como respetado pedagogo, discípulo de Pestalozzi.

Con el éxito alcanzado con la primera obra de la Codificación Espirita, base de todo el edificio doctrinario, Allan Kardec decidió fundar, en París, el 1 de abril de 1858, la “Sociedad Parisiense de Estudios Espiritas”, cuya existencia justificó de la siguiente manera:

“La extensión por así decir universal que toman diariamente las creencias espiritas hacían desear vivamente la creación de un centro regulador de observaciones. Esta brecha acaba de ser llena. La Sociedad cuya formación tenemos el placer de anunciar, compuesta exclusivamente por personas serias, exentas de prevenciones y animadas por el sincero esclarecimiento, con todo, desde el inicio, entre sus asociados, con hombres eminentes por su saber y por su posición social. Estamos convencidos de que ella está llamada a prestar incontestables servicios para la constatación de la verdad. Su ley orgánica le asegura una homogeneidad sin la cual no habrá vitalidad posible; está basada en la experiencia de los hombres y de las cosas y en el conocimiento de las condiciones necesarias para las observaciones que son objeto de investigación. Viniendo a París, los extraños que se interesan por la doctrina espirita tendrán un centro al cual podrán dirigirse y comunicar sus propias observaciones”.

Según el informe de abril de 1862, publicado en la Revista Espirita, la Sociedad experimentó considerable crecimiento en sus primeros años de funcionamiento, con 87 socios efectivos contribuyentes, contando entre los miembros: científicos, literatos, artistas, médicos, ingenieros, abogados, magistrados, miembros de la nobleza, oficiales del ejército y de la marina, funcionarios civiles, empresarios, profesores y artesanos. El número de visitantes llegaba hasta casi los 1500 personas al año, considerable para la época.

Kardec, que desempeñaba el cargo de presidente desde la creación de la entidad fatigado con el exceso de trabajo y angustiado con las querella administrativas, en varias ocasiones, exteriorizó el deseo de renunciar. Instado, sin embargo, por los Espíritus coordinadores del trabajo, continuó en el ejercicio hasta el día de su desencarnación.

Conforme se puede claramente notar en escritos, documentos y anotaciones de la época, el Codificador era riguroso en el cumplimiento de las disposiciones estatutarias y en la disciplina en la conducción de las actividades ahí realizadas. Exigia de todos los participantes extrema seriedad y eso contribuyó para dar mucha credibilidad a la institución y a los pronunciamientos acerca de los asuntos tratados. Era extremamente prudente y austero en los pareceres exagerados y nunca permitió que la Sociedad se tornase arena de controversias y debates estériles, generalmente fomentados por individuos interesados en desviar el Espiritismo de los rumbos establecidos en las obras de la Codificación.

Con la desencarnación de Allan Kardec en 1869, víctima de un aneurisma, uno de sus colaboradores más directos, Pierre Gaetan Leymarie, pasó a ejercer las funciones de redactor jefe y director de la “Revista Spirite” (1870 a 1901) y gerente de la “Librería Spirite” (1870 a 1897). Sin embargo, sin las mismas credenciales del Codificador y por su excesivo espíritu de tolerancia, no fue capaz de obstruir la acción de (pseudo) adeptos que desvirtuaron la finalidad de la Revista, abriendo sus páginas a la propaganda de filosofías espiritualistas, inclusive a la de Roustaig, que diverge del Espiritismo. Hubo, al mismo tiempo, el des virtuamiento de las finalidades de la Revista Espirita, en la que fue ofrecido “libre territorio a luchadores de todas las corrientes con la condición de que defendiesen causas espiritualistas o de orden esencialmente humanitario y moral, exponiéndose así a ardientes criticas de unos, a las acusaciones o descontento de otros… conforme se cuenta en la obra “Proceso de los Espiritas” (ed. FEB, 1977, pags.22/23 de la 2ª edición). En esos “Luchadores de todas las corrientes” se incluían adeptos del Orientalismo, como teosofistas, budistas, ocultistas, esotéricos, etc., como consta en la obra “Allan Kardec” (FEB, vol.III) de Zeus Wantuil y Francisco Thiensen.

Esta es, por tanto, la causa de la desaparición del Espiritismo en Francia. El sincretismo, la mezcla del Espiritismo con otras corrientes espiritualistas, desfigurando por completo la practica espirita, que hasta hoy es confundida, en Francia y en prácticamente en toda Europa, con toda suerte de supersticiones como la astrología, quiromancia, feticheria, brujería, etc.

En Brasil, en la actualidad, lo que podemos claramente verificar es que la historia se repite, siendo que la táctica de los enemigos velados del Espiritismo continua lo mismo: la de proponer y forzar la subrepticia entrada de cuestionables practicas e ideas en el seno del movimiento espirita brasileño.

Por un lado, tuvimos la adopción de las obras de Roustaig por la Federación Espirita Brasileña, habiendo sus miembros apellidándolas de “Curso Superior de Espiritismo”, “Cuarta Revelación” y “Revelación de la Revelación”. Gracias a eso, hasta hoy sentimos el reflejo de esa política febeana, en la medida en que en el movimiento se instauro una mentalidad cursi, serviles y iglejeira erróneamente confundido con la actitud de caridad y tolerancia, debido a una serie de obras, mediúmnicos o no, que, aunque no mencionasen Roustaig o sus obras, consiguieron inculcar, subrepticiamente, el ideal, neo-decretista en el seno del Movimiento.

Por otro lado, y adoptando ideas diferentes de las rustenismo, los simpatizantes del orientalismo insisten, principalmente en los dictados dl espíritu Ramatis al médium espiritualista Hercilio Maes, en dar al Espiritismo una faceta mística calcada en las religiones orientalistas del pasado y en la Teosofía, juzgadas capaces de enriquecer el Espiritismo. Para tal cosa, no eluden llamar a Kardec (y, consecuentemente, a las Obras de la Codificación Espirita) de ultrapasado, y a la Doctrina carente de remedios , considerando como principal artífice de esa “misión” al propio espíritu Ramatis y sus confusos dictados, bajo la fachada de “universalismo”, termino generalmente utilizado para encubrir ideas sincretistas y practicas fetichistas. La lista de “innovaciones” propugnada por esos reductos seitistas es extensa: la adopción de la astrología, de la apometrias, de rituales, de terminologías extrañas al Espiritismo, creencias en profecías de destrucción del planeta, creencia en extra terrestres con la misión de salvar el planeta, y toda suerte de divagaciones místicas sin el menor contenido lógico o factual, generalmente induciendo a una alineación místico-religiosa que en nada se debe a las religiones dogmaticas tradicionales, solo que con una faceta diferente, de cuño esencialmente esotérico.

Por tanto, mientras encaremos todo eso con los brazos cruzados, victimas por la falsa idea de que estaremos siendo intolerantes y anti fraternos al esclarecernos y al no compactar con esa tentativa de des virtuamiento del entendimiento y de la practica espirita dentro y fuera de los centros espiritas y federaciones, todo quedará como está, con tendencia a empeorar, tal como aconteció con el propio Cristianismo, hoy una autentica colcha de relatos debido a los mismos factores que hoy amenazan al Espiritismo.

La articulista Vanda Simoes, atenta a esa realidad, escribió cierto día un interesante artículo titulado “Nuestros Espiritas Imperfectos”· que nosotros aquí transcribimos y utilizamos para concluir nuestras consideraciones:

“Allan Kardec afirmó cierta vez, que los peores enemigos del Espiritismo estrían entre sus pares. Puede parecer declaración demasiadamente dura y radical, más vino de si mismo y el sabia de lo que estaba hablando. Hoy, en este mundo de tanta confusión, el Movimiento Espirita se ve envuelto en un maremágnum de estupideces que dejan a los espiritas serios preocupados con el destino de la doctrina en el mundo. Cuesta acreditar que una filosofía tan racional y desbravadora pueda haber generado personas con una visión tan estrecha y enyesada de la vida.

Una de dos: o la Doctrina Espirita es defectuosa o los espiritas no comprendieron su alcance moral. Sabiéndose de lo incierto de la primera hipótesis, nos resta curvar a la realidad la segunda. La prueba de eso está en la forma como la Doctrina es practicada en los centros espiritas del país entero, con replicas perfectas al exterior (principalmente en Portugal y en los Estados Unidos), “formando” adeptos que de espiritas solo tienen el nombre. Son espíritas imperfectos, de los que está lleno el movimiento, como por ejemplo, los que afirman en público que Kardec está ultrapasado y que precisa ser reinterpretado, cuando aun ni se conoce a fondo el diez por ciento de su pensamiento. Se consideran doctos en el Espiritismo por haber leído las obras básicas, y toda la literatura accesoria, psicografiado o no. Y leer es una cosa. Estudiar, entender y comprender es otra bien diferente. (…)

(…) Los espiritas “modernos” parecen desconocer tal cosa. Y, si lo conocen, no le dan la menor importancia, pues defienden ideas esdrújulas y contrarias a los fundamentos Kardecianos, basados en escritos dictados por Espíritus engañadores o pseudo-sabios. Esas ideas se infiltran con facilidad en nuestro medio, porque encuentran el terreno fértil de la ingenuidad y de la falta de estudio que hace que todo se acepte sin examen, sin criterio. Es tiempo de cambios. El milenio termina y se inicia una nueva fase para el planeta. Los centros espiritas precisan prepararse para amparar al hombre dentro de una filosofía de vida mejor, más justa y más plena de comprensión de las cosas divinas.

Para eso, necesita de espíritus serios, que comprendan el verdadero sentido del Espiritismo, que puedan traer para dentro de las casas espiritas una nueva orden de prácticas y metas, formando verdaderamente hombres de bien. Que puedan retirar de los centros todo lo que no sirve para la edificación del ser. En fin, mostrar a los fariseos modernos la verdadera cara de la Doctrina Espirita como agente modificador de la humanidad y no como instrumento de glorias, de mera promoción personal y fabrica de fantasías”.

Retirado del blog “Ramatis, Sabio o Seudosabios?” Traducido por Mercedes Cruz Reyes

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os Efeitos do Ecletismo e da Heterodoxia no Movimento Espírita Francês

Por Artur Felipe Azevedo

Como bem sabemos, o Espiritismo surgiu na França em 1857, com a publicação de "O Livro dos Espíritos" pelo professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, que utilizou-se do pseudônimo "Allan Kardec" para que ficasse bem marcada a distinção daquele seu trabalho com outros oriundos de sua profissão como respeitado pedagogo, discípulo de Pestalozzi.

Com o sucesso alcançado pela primeira obra da Codificação Espírita, base de todo o edifício doutrinário, Allan Kardec decidiu fundar, em Paris, a 1 de abril de 1858, a "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas", cuja existência justificou da seguinte maneira:

"A extensão por assim dizer universal que tomam diariamente as crenças espíritas faziam desejar vivamente a criação de um centro regular de observações. Esta lacuna acaba de ser preenchida. A Sociedade cuja formação temos o prazer de anunciar, composta exclusivamente de pessoas sérias, isentas de prevenções e animadas do sincero desejo de esclarecimento, contou, desde o início, entre os seus associados, com homens eminentes por seu saber e por sua posição social. Estamos convictos de que ela está chamada a prestar incontestáveis serviços à constatação da verdade. Sua lei orgânica lhe assegura uma homogeneidade sem a qual não haverá vitalidade possível; está baseada na experiência dos homens e das coisas e no conhecimento das condições necessárias às observações que são o objeto de suas pesquisas. Vindo a Paris, os estranhos que se interessam pela doutrina espírita terão um centro ao qual poderão dirigir-se e comunicar suas próprias observações".

De acordo com o relatório de abril de 1862, publicado na Revista Espírita, a Sociedade experimentou considerável crescimento em seus primeiros anos de funcionamento, com 87 sócios efetivos pagantes, contando entre os membros: cientistas, literatos, artistas, médicos, engenheiros, advogados, magistrados, membros da nobreza, oficiais do exército e da marinha, funcionários civis, empresários, professores e artesãos. O número de visitantes chegava a quase 1500 pessoas por ano, considerável para a época.

Kardec, que desempenhava o cargo de presidente desde a criação da entidade, fatigado com o excesso de trabalho e aborrecido com as querelas administrativas, por várias vezes, externou o desejo de renunciar. Instado, porém, pelos Espíritos coordenadores do trabalho, continuou no exercício da presidência até a data de sua desencarnação.

Conforme se pode claramente notar em escritos, documentos e depoimentos da época, o Codificador era rigoroso no cumprimento das disposições estatutárias e na disciplina na condução das atividades aí realizadas. Exigia de todos os participantes extrema seriedade e isso contribuiu para dar muita credibilidade à instituição e aos seus pronunciamentos acerca dos assuntos tratados. Era extremamente prudente e austero nos pareceres exarados e nunca permitiu que a Sociedade se tornasse arena de controvérsias e debates estéreis, geralmente fomentados por indivíduos interessados em desviarem o Espiritismo dos rumos estabelecidos nas obras da Codificação.

Com o desencarne de Allan Kardec em 1869, vitimado por um aneurisma, um de seus colaboradores mais diretos, Pierre Gaëtan Leymarie, passou a exercer as funções de redator-chefe e diretor da "Revue Spirite" (1870 a 1901) e gerente da "Librairie Spirite" (1870 a 1897). No entanto, sem as mesmas credenciais do Codificador e por seu excessivo espírito de tolerância, não foi capaz de obstruir a ação de (pseudo)adeptos que desvirtuaram a finalidade da Revista, abrindo suas páginas à propaganda de filosofias espiritualistas, inclusive à de Roustaing, que diverge do Espiritismo. Houve, ao mesmo tempo, o desvirtuamento das finalidades da Revista Espírita, em que foi oferecido "terreno livre a lutadores de todas as correntes com a condição de que defendessem causas espiritualistas ou de ordem essencialmente humanitária e moral, expondo-se assim às críticas acirradas de uns, às acusações ou descontentamento de outros... ", conforme conta na obra "Processo dos Espíritas" (ed. FEB, 1977, págs. 22/23 da 2ª edição). Nesses "lutadores de todas as correntes" incluíam-se adeptos do Orientalismo, como teosofistas, budistas, ocultistas, esotéricos, etc., como consta da obra "Allan Kardec" (FEB, vol. III) de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen.

Esta é, portanto, a causa do desaparecimento do Espiritismo na França. O sincretismo, a miscelânea do Espiritismo com outras correntes espiritualistas, desfigurando por completo a prática espírita, que até hoje é confundida, na França e em praticamente toda a Europa, com toda a sorte de superstições, como a astrologia, quiromancia, feitiçaria, bruxaria, etc.

No Brasil, na atualidade, o que podemos claramente verificar é que a história se repete, sendo que a tática dos inimigos velados do Espiritismo continua a mesma: a de propor e forçar a sorrateira entrada de questionáveis práticas e ideias no seio do movimento espírita brasileiro.

Por um lado, tivemos a adoção das obras de Roustaing pela Federação Espírita Brasileira, tendo seus membros apelidado-as de "Curso Superior de Espiritismo", "Quarta Revelação" e "Revelação da Revelação". Graças a isso, até hoje sentimos o reflexo dessa política febeana, na medida em que no movimento instaurou-se uma mentalidade piegas, subserviente e igrejeira, erroneamente confundida com postura caritativa e tolerante, devido a toda uma série de obras, mediúnicas ou não, que, embora não mencionassem Roustaing ou suas obras, conseguiram incutir, subrepticiamente, o ideário neo-docetista no seio do Movimento.

Por outro lado, e adotando ideias diferentes das do rustenismo, os simpatizantes do orientalismo insistem, com base principalmente nos ditados do espírito Ramatis ao médium espiritualista Hercílio Maes, em dar ao Espiritismo uma faceta mística calcada nas religiões orientalistas do passado e na Teosofia, julgadas capazes de enriquecer o Espiritismo. Para tanto, não se furtam em chamar Kardec (e, consequentemente, as obras da Codificação Espírita) de ultrapassado, e a Doutrina de carente de remendos, considerando como principal artífice dessa "missão" o próprio espírito Ramatis e seus confusos ditados, sob a fachada de "universalismo", termo geralmente utilizado para encobrir ideias sincretistas e práticas fetichistas. A lista de "inovações" propugnada por esses redutos seitistas é extensa: adoção da astrologia, da apometria, de rituais, de terminologias estranhas ao Espiritismo, crença em profecias de destruição do planeta, crença em extra e intraterrenos com missão de salvar o planeta, e toda sorte de divagações místicas sem o menor embasamento lógico ou factual, geralmente induzindo a uma alienação místico-religiosa que em nada fica a dever às religiões dogmáticas tradicionais, só que com um faceta diferente, de cunho essencialmente esotérico.

Portanto, enquanto encararmos tudo isso de braços cruzados, vitimados pela falsa ideia de que estaremos sendo intolerantes e antifraternos ao (nos) esclarecermos e não compactuarmos com essa tentativa de desvirtuamento do entendimento e da prática espírita dentro e fora dos centros espíritas e federações, tudo ficará como está, com tendência a piorar, tal qual aconteceu com o próprio Cristianismo, hoje uma autêntica colcha de retalhos devido aos mesmos fatores que hoje ameaçam o Espiritismo.

A articulista Vanda Simões, atenta à essa realidade, escreveu certa feita um interessante artigo intitulado "Nossos Espíritas Imperfeitos" que nós aqui transcrevemos e utilizamos para concluir nossas considerações:

"Allan Kardec afirmou certa vez, que os piores inimigos do Espiritismo estariam entre seus pares. Pode parecer declaração demasiadamente dura e radical, mas veio dele mesmo e ele sabia do que estava falando. Hoje, nesse mundo de tanta confusão, o Movimento Espírita se vê envolto em um emaranhado de parvoíces que deixam os espíritas sérios preocupados com o destino da doutrina no mundo. Custa-se a acreditar que uma filosofia tão racional e desbravadora possa ter gerado pessoas com visão tão estreita e engessada da vida.

De duas uma: ou a Doutrina Espírita é defeituosa ou os espíritas não compreenderam seu alcance moral. Sabendo-se da inverdade da primeira hipótese, resta-nos curvar à realidade da segunda. A prova disso está na forma como a Doutrina é praticada nos centros espíritas do país inteiro, com réplicas perfeitas no exterior (principalmente em Portugal e nos Estados Unidos), "formando" adeptos que de espíritas só têm o nome. São os espíritas imperfeitos, de que está cheio o movimento, como por exemplo, os que vêm a público afirmar que Kardec está ultrapassado e que precisa ser reinterpretado, quando ainda nem se conhece a fundo dez por cento do seu pensamento. Consideram-se doutos em Espiritismo por terem lido as obras básicas, e toda a literatura acessória, psicografada ou não. E ler é uma coisa. Estudar, entender e compreender é outra bem diferente. (...)

(...) Os espíritas "modernos" parecem desconhecer tal coisa. E, se conhecem, não dão a menor importância, pois defendem idéias esdrúxulas e contrárias aos fundamentos kardequianos, baseados em escritos ditados por Espíritos enganadores e pseudo-sábios. Essas idéias infiltram-se com facilidade em nosso meio, porque encontram o terreno fértil da ingenuidade e da falta do estudo que faz com que tudo se aceite sem exame, sem critério. É tempo de mudanças. O milênio termina e se inicia uma nova fase para o planeta. Os centros espíritas precisam se preparar para amparar o homem dentro de uma filosofia de vida melhor, mais justa e mais plena de compreensão das coisas divinas.

Para isso, necessita de espíritas sérios, que compreendam o verdadeiro sentido do Espiritismo, que possam trazer para dentro das casas espíritas uma nova ordem de práticas e metas, formando verdadeiramente homens de bem. Que possam retirar dos centros tudo o que não serve para a edificação do ser. Enfim, mostrar aos fariseus modernos a verdadeira face da Doutrina Espírita como agente modificador da humanidade e não como instrumento de gloríolas, de mera promoção pessoal e fábrica de fantasias".

Retirado do blog "Ramatis, Sábio ou Pseudosábio?"

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

BIOGRAFIA - Pierre-Gaetan Leymarie

Por Paulo Toledo Machado

Pierre-Gaetan Leymarie - 12 de Maio de 1827 - 10 de Abril de 1901

LEYMARIE reencarnou em Tulle, França, em 2 de Maio de 1827, e desencarnou, em Paris, em 10 de Abril de 1901.

Leymarie foi, juntamente com Camille Flammarion e Victorien Sardou, um dos mais ardentes discípulos de Kardec e se tornou uma das mais relevantes figuras do Espiritismo.

Leymarie foi Diretor da "Revue Spirite", de Páris, de 1870 a 1901, e gerente da "Librairie Spirite" (*), de 1870 a 1897.

Descendia de distinta família. Cedo, porém, para não sobrecarregar as despesas, já numerosas, da família, interrompeu seus estudos e procurou uma colocação em Paris, contando com seu próprio trabalho e seus esforços.

Apaixonado por todas as idéias generosas, fez-se ardente republicano, e foi, à época do golpe de Estado de 1851, arrolado entre os adversários irredutíveis do Cesarismo e constrangido ao exílio.

Ele teve, porém, nesse exílio, a sorte em contatar-se com a elite do partido proscrito, o que, de certa forma, contribuiu para desenvolver seu espírito de combatividade e ao mesmo tempo o de proselitismo.

Proclamada a anistia, retornou à França, casou-se e assumiu a direção de uma casa comercial, até 1871. E uma autoridade, referindo-se a ele, disse que, se seus negócios não alcançaram prosperidade, sua probidade foi escrupulosa e que nenhuma reprovação jamais lhe foi feita.

Ele tinha paixão dos livros, e, quer eles tratassem de questões políticas, sociais, científicas, religiosas ou literárias, todos aqueles que lhe caíssem às mãos, ele os lia e se esforçava em assimilá-los.
Os fenômenos espíritas e a doutrina

Espiritista, não poderiam encontrá-lo indiferente. Foi um dos primeiros a se interessar, vivamente, por essas inquietantes questões; e, quando Allan Kardec começou a publicação da "Revue Spirite" e de suas obras, e quando inicia as suas sessões de estudos e de experimentações, ele não tardou em contar com Leymarie no número de seus mais ardentes discípulos.

Sob a direção do Mestre os médiuns se desenvolvem e, em dada ocasião, da qual a história do Espiritismo registrará e conservará fielmente a lembrança, três jovens, ainda obscuros e desconhecidos, três médiuns sentados à mesma mesa e voltados - fato estranho e novo que dera causa a zombarias - para essas experiências, contudo tão antigas, da telegrafia misteriosa entre dois mundos, o mundo dos Espíritos e o nosso. Estes três experimentadores, cujos destinos seriam diversos, mas iguais no devotamento, na fidelidade e nos serviços prestados à Doutrinas, eram Camille Plammarion, Victorien Sardou e Pierre-Gaetan Leymarie.

Antes de desencarnar, Allan Kardec, para assegurar o desenvolvimento regular e continuo do Espiritismo havia fundado uma sociedade anônima e de capital variável à qual destinou os seus bens; Monsieur Leymarie tornou-se um dos primeiros membros, e dois anos após a morte do Mestre, foi nomeado administrador ao mesmo tempo em que passou a redator-chefe e diretor da "Revue Spirite".

Durante trinta anos, o que quer dizer durante o longo e difícil período em que o Espiritismo foi quase continuamente alvo de todas zombarias, e de todos ataques, Leymarie esteve presente, batalhando sem cessar através da palavra e da pena, oferecendo na "Revue" um terreno livre aos batalhadores de todas as nuanças, para que defendessem uma causa espiritualista ou de ordem essencialmente humanitária e moral, expondo-se, assim, às críticas acirradas de uns, às reprovações ou ao descontentamento de outros. Todavia, Leymarie, jamais perdeu de vista a divisa do mestre: "Hors la charité pas de salut" (Fora da caridade não ha salvação), e baniu de todas as discussões as ofensas pessoais e todas as questões irritantes.

No começo, Leymarie considera que, para a difusão desta luz que é o Espiritismo, é necessário preparar os espíritas, instruí-los e esclarecê-los.

E quando seu amigo, Jean Macé, expõe o projeto de fundar a liga de ensino, Leymarie se oferece, com entusiasmo, secundá-lo, e, com Mme. Marina Duclos Leymarie, sua devotada esposa, companheira e colaboradora, contribui, para essa criação, não somente com o seu concurso ativo e pessoal mas também com a sua casa da rua Vivienne, de sorte que se pode, justamente, dizer que a casa de Monsieur Leymarie foi o berço da "Liga de Ensino", da qual o espírita Emmanuel Vauchez seria, no futuro, o Secretário Geral.

As questões de ensino se sucedem, nas preocupações de Leymarie, às questões sociais.

Assim, nas páginas da "Revue", como nas numerosas e eloqüentes conferências, ele se aplica em revelar a existência e o funcionamento deste estabelecimento, conhecido no estrangeiro, mas quase ignorado em França - le Familistére de Guise, no qual são praticados, por seu ilustre fundador, J. B. Godin, de uma maneira feliz e larga, os princípios da associação do Capital e do Trabalho. Leymarie se associa com o Sr. Godin, e, enquanto lhe propaga os escritos, não negligencia os interesses propriamente ditos da doutrina.

Divulga as experiências de William Crookes e assiná-la os primeiros ensaios da fotografia espírita. Ele mesmo faz experiências com um médium-fotógrafo e obtém uma série de manifestações reais as quais pública na "Revue". Mas chega um momento em que foi iludido na sua boa-fé.

O fotógrafo Édouard Buguet, fazendo uso de meios fraudulentos na obtenção de fotografias de Espíritos, é processado pelo Ministério Público.

Os inimigos do Espiritismo, à espreita de tudo que pudesse entravar o movimento ascendente da Doutrina, aproveitam-se, com empenho, da ocasião de um processo, para dar, ao Espiritismo, um grande golpe e acabá-lo com a possante arma do ridículo. E de fato, foi menos um processo contra as fotografias que mesmo contra os espíritas.

A 16 de Junho de 1875, Leymarie e Alfred E. Firman foram também envolvidos no processo, em virtude dos laços de amizade que mantinham com Édouard Buguet, e, assim, julgados coniventes na fraude.

Depoimentos falsos, inclusive do próprio Édouard Buguet, originaram a condenação dos três. Recorrendo-se, então, para instâncias superiores, Édouard Buguet e Alfred E. Firman conseguiram a liberdade. O primeiro passando para a Bélgica, e o segundo graças a influências de altas autoridades. Leymarie, por sua vez, preparou notável "Memória" à Corte Suprema, protestando, perante sua consciência e seus filhos, sua inocência e mostrando-se confiante nas decisões daquele alto tribunal.

Édouard Buguet traído pelo remorso escreve ao Ministro da justiça que Leymarie é inteiramente inocente. Que, embora muitas das fotografias fossem reais, devido ao desconhecimento que tinha da Doutrina Espírita, praticava a fraude quando não as conseguia com a sua mediunidade. Na carta ele assevera: "Lastimo, pois, haver dito, na minha fraqueza, o contrário da pura verdade, renunciando eu a minha mediunidade, peço perdão a Deus por este ato que deploro, pois que ele serviu para incriminar um homem estimável, cuja boa fé se tornou suspeita com minhas afirmações".

Apesar das cartas de solidariedade vindas das mais diferentes partes do mundo, inclusive do Brasil, Leymarie foi condenado a um ano de prisão celular.

Um pouco mais tarde, anulada a sentença condenatória, o incansável discípulo de Kardec retomava a administração e direção da "Société" e da "Revue Spirite"
Leymarie retorna à luta.

Em 1878, Leymarie organiza também a "Sociedade Científica de Estudos Psicológicos", congregando, em torno dela, homens respeitáveis, para o estudo e experimentações . em torno da mediunidade e do magnetismo animal, e análise das obras de Cahagnet, de Roustaing, da doutrina de Swedenborg e outras pertinentes a outras idéias.

As obras de Kardec são traduzidas, por iniciativa de Leymarie, para todas as línguas do mundo civilizado; conferências são programadas; Leymarie visita outros países, e percorre cidades da Bélgica, da Itália e da Espanha, propagando os postulados doutrinários do Espiritismo.

Leymarie esteve presente no I Congresso Espírita de Bruxelas; em 1888 participou do Congresso Espírita de Barcelona, tendo sido escolhido para uma das presidências. No decurso deste Congresso foi lida uma belíssima moção de gratidão enviada da prisão de Tarragona, por um grupo de condenados a trabalhos forçados, convertidos à fé espírita.

Em 1889, Leymarie organizou o I Congresso Espírita na França, esquivando-se de cargos, mas, por insistência, acaba aceitando o de uma das vice-presidências.

A administração da Sociedade se torna mais exigente, com a liberalidade de um dos seus membros, o Sr. Guérin. Ele, tal como procedera Allan Kardec, antes do seu desencarne, tomou todas as providências para assegurar o benefício de seus bens à Sociedade, o que vem suscitar, logo a seguir, uma disputa com os herdeiros. Os processos passam a se suceder e, quando acreditava ter chegado ao fim, os herdeiros de Allan Kardec, apoiados no processo dos herdeiros de Guérin, fazem sua reivindicação, e a desenvolvem, até que, apesar de uma resistência vigorosa, a sociedade, representada e administrada por Leymarie, sucumbe.

Librairie Leymarie

Em 1897, Leymarie funda a "Librairie Leymarie Édite-URS" (**)., estabelecida no 42, rue Saint-Jacques, Paris, e a dirigiu até 1903, e, com o seu desencarne, por sua esposa Madame Marina Duclos Leymarie, e, posteriormente, por seu filho, Paul Leymarie.

Com a liquidação da "Librairie Spirite", continuou a editoração das obras de Allan Kardec, fazendo do prédio da "Librairie Leymarie" sede da redação da "Revue Spirite", até a fundação da "Maison des Spirites", por Jean Meyer, inaugurada em 25 de Novembro de 1923.

Uma das suas primeiras publicações foi "Au pays de l'ombre", de Madame D'Esperance.

Não obstante tantas provas, Leymarie não se abate. Ele prossegue a sua luta, em meio dos maiores aborrecimentos, e torna conhecidos os trabalhos e as obras principais de escritores espíritas, com os quais, em sua maior parte, ele se acha em constante contato, tais como, na França, com Eugene Nus, Léon Denis, Ernesto Bosc, Encause (Papus), Gibier, Baraduc, Comandante Cournes, Sras. Noeggerath e Annie Besant, Gabriel Delanne, Strada e outros; na Inglaterra, com Wallace; na Rússia, com Aksacoff; na América, com Van der Nailen; na Itália, com Chiaia e Falcomer.
São de sua autoria:

* "Histoire du Spiritisme et biographie d'Allan Kardec". Trabalho apresentado nos Congressos Espíritas de 1888 e 1889.
* "Oeuvres Posthumes d'Allan Kardec". Paris, 1890, Librairie Spirite. Obra por ele compilada, com documentos inéditos deixados por Allan Kardec.
* "L'Évoiution et ia Révélation". Trabalho por ele compilado e enviado, em 1898, ao Congresso Internacional Espiritualista, em Londres.

A "Librairie Spirite" tornou-se conhecida sob diversos nomes, como sejam:

* "Société de Librairie Spirite" (1869);
* "Librairie de ia Revue Spirite" (1875);
* "Librairie Spirite des Sciences Psychoiogiques et Spirites" (1880); entre outros, devendo-se admitir, ainda, como antecedente, o ativo serviço de livraria que se desenvolveu a partir de 1868, como "bureau de ia Revue Spirite"

Nas nossas referências, porém, as citaremos sempn como "Librairie Spirite". Foram suas publicações:

* "Catalogue Raisonné des ouvrages pouvant servir à fonder une Bibiiotheque Spirite":
* 1a. ed. Paris, s.d. (1869), "in" 12. 30 pp.;
* 2a. ed. Paris, s.d. (1869, Setembro), "in" 12, 30 pp.; outra ed. Paris, s.d. (1873), "in" 12, 24 pp.

(*) "Librairie Spirite" (Livraria Espírita). Kardec, que tinha projetado a publicação de um catálogo minucioso das obras, hoje raro, que interessavam ao Espiritismo, o "Catalogue raisonné des ouvrages pouvant servir à fonder une bibliotheque spirite" (2éme. édition: Paris, s.d. 1869, Librairie Spirite des Science Psychologique, "in" 12, 30 pp.; 3e. édition. Paris. s.d. 1873, Librairie de Ia Revue Spirite ou Librairie Spirite e des Sciences Psychologiques, in, 12, 24 pp.), recebeu, no intervalo, a sugestão de um projeto para criar um casa especial para as obras desse gênero, concebida e executada por uma sociedade espírita, o que admitiu fundando, assim, a "Librairie Spirite" (1869), desti nada, conforme projetada, para atender à promoção do livro espírita e ramos da cultura que se relacionam com o Espiritismo. Pierre Gaetan Leymarie foi seu diretor de 1870 a 1897.

(**) A "Librairie Leymarie" continua aberta até os dias de hoje, onde aliás estivemos numa das nossas visitas a Paris, e onde adquirimos um exemplar de "Les Pionniers du Spiritisme", por J. Malgras, Paris, Librairie des Sciences Psychologiques, 1906, 478 pp.

(Texto que fará parte da Enciclopédia Espírita, a ser publicada pelo ICESP e publicado originalmente através da Revista do ICESP nº 06, 2º trimestre 2003)

(Retirado do Boletim GEAE Número 478 de 15 de julho de 2004)