sábado, 20 de agosto de 2011

"Sou Espírita, ignoro as ciências"... É possível?

Por Randolfo

Quando aprendemos pelo Livro dos Espíritos que a evolução moral decorre da evolução intelectual ficamos assustados com duas posturas encontradas no MEB (Movimento Espírita Brasileiro):

1) Pessoas que discordam veementemente disso, mas sem fundamentação doutrinária;

2) Pessoas que ignoram isso.

O primeiro caso não é o tema deste artigo. Se uma pessoa discorda de uma proposição lógica tem por obrigação demonstrar cientificamente outro sistema lógico que derrogue o anterior. E ainda não vimos isso.

De fato, sem conhecimento intelectual não há capacidade de julgamento de valores que favoreçam as melhores decisões morais. Uns poucos ainda teimam em confundir evolução intelectual com aquisição cultural, o que seria uma base de argumentação pueril.

Mas... E o segundo caso?... O sujeito vem a esse planeta no século XXI com acesso por meios diversos, em todos os níveis sociais a livros, jornais, revistas, internet, televisão, rádio e etc... São meios de aquisição cultural? Sim, são. Mas, aquisição cultural é modo catalisador de evolução intelectual, um instrumento útil para que o espírito cresça em sabedoria e discernimento.

Daí o sujeito tem acesso a tudo isso e... Assiste aos “reality shows”, novelas, lê as fofocas de Caras, limita sua internet a chats, e quando compra livros são os de auto-ajuda ou do Harry Potter.

A aquisição cultural ele limitou aos bancos escolares e de uma forma utilitária: aprende o que é suficiente para passar de ano, ou em concursos. Ou na verdade, não aprendeu, mas condicionou lembranças de informações estratégicas para fins específicos. Passada a fase, foi-se embora a aquisição cultural.

Eis, portanto, um bom exemplo onde a aquisição não se transforma em evolução intelectual.

Tudo bem, esse é o sujeito comum, aquele que compõe 98,6% de nossa população.

Só que sobraram 1,4% de espíritas. E como o sujeito é espírita e SABE que precisa evoluir intelectualmente, o que se espera dele? Que avidamente busque aquisição cultural em todas as áreas ou ao menos onde se afinize e que transforme isso em instrumento de cognição filosófica para elevar sua capacidade de discernimento.

Pergunta: é o que vemos?

Onde está o amor pela beleza magnânima da Astronomia? Sua aplicação está contida no Livro dos Espíritos e no livro A Gênese.

Onde o apreço pela Biologia e suas inumeráveis informações presentes e perspectivas futuras? Sua aplicação está contida no Livro dos Espíritos, no Livro dos Médiuns e no livro A Gênese, na compreensão das ligações perispirituais, no processo de reencarnação.

Cadê o amor pela Física, esta nobre ciência que pode conter a chave final do elo entre plano material e espiritual?

Por que não nos enveredamos pelos caminhos da Sociologia, Psicologia, Antropologia, para compreendermos melhor quem somos e o que podemos coletivamente e individualmente?

Por que ignorar a História, enfim, para aprender onde erramos, por que erramos e como podemos continuar errando?

São tantas as ciências e tantas suas aplicações práticas perante a Doutrina Espírita que nem é possível enumerá-las com suas subdivisões.

O que importa é que a maioria de nós as ignora.

Passamos ao largo, desligamos a TV, pulamos aquela Home Page, ignoramos aquela revista e nossas conversas em reuniões sociais acabam sendo sobre novela, futebol, programas ao vivo e... Como é legal combater o misticismo - ou na versão mística - como é legal combater a ortodoxia. Mas, evitamos programas de ciência, documentários, revistas cientificas e conversas cientificas.

Entendemos que as pessoas possuem níveis diferentes de compreensão científica.

Entendemos que algumas expressões, conceitos e teorias tornam-se difíceis para serem assimilados.

Mas, em que custa o sujeito buscar lá atrás a base que perdeu? Não entendeu o que é a importância do Obama? Vamos lá às Cruzadas... Vamos buscar informações que estão aqui mesmo, na internet, em linguagem de fácil compreensão.

Temos SKY, TV a cabo?... legal... vamos nos limitar ao Sport TV e nem tomar conhecimento do Discovery e History Channel?

Ah, não temos TV a cabo... Bom!... Vamos, então, evitar o Globo Repórter? Vamos deixar de assistir a um telejornal? Quando o Fantástico fala em ciência vamos ao banheiro, por não estarmos interessados nessa programação?

Ou então somos pobres e não temos acesso a TV. Mas, temos o rádio... Que tal evitarmos um pouco as niilistas FM e ouvir um pouco de noticiário?

Não temos dinheiro para comprar jornal? Que bom que pelo menos lamentamos isso, pois demonstra que queremos ler jornal. Que se pare nas bancas, que se leiam as manchetes e as chamadas, ou que se peça emprestado o jornal do chefe, mas não para saber que o Vasco dançou no campeonato e sim que foi descoberta água em Marte..., oras!

No entanto, que desculpa tem o espírita com acesso à internet?... Vamos verificar nossos perfis? Vamos conferir nossas comunidades?... Ah, temos comunidades de nossos ídolos, de nossos times de futebol, temos nossa série "eu odeio alguma coisa"?... Ok... Mas, por que não acessar a comunidade de Filosofia? Que tal a de Astronomia? E a de Medicina? Por que não a de Engenharia Genética? Qual o grande problema em apenas passar os olhos, ver as perguntas, ler as respostas e até arriscar um questionamento ou outro?

É até possível que nós não tenhamos acesso a tudo e que nem gostemos de tudo. Mas, é uma prova de falta de evolução intelectual, de fato, sequer procurar saber se há algo mais que possa nos interessar além do cotidiano maçante e mecanizado.

"Ah, eu não curto esse papo de Biologia"... Ok... Mas, se o Livro dos Espíritos fala em abiogênese, como você fica?... Que diabos - que não existem - de espírita é você que lê uma coisa no Livro dos Espíritos, não compreende e não procura compreender? Que diabos - que ainda continuam não existindo - de espírita é você que, com isso, não consegue compreender a Doutrina que você "alega" seguir?

O comportamento tipificado acima é uma das chaves letais para a disseminação do misticismo no meio espírita.

Ao estimularmos a alfabetização damos um instrumento para o indivíduo se aproximar do Espiritismo. Mas, ao estimular a busca pelo conhecimento científico é que estaremos, de verdade, formando espíritas, pois é inconcebível seguir algo que não se compreende.

E é impossível conhecer a Doutrina Espírita sem um mínimo de base de conhecimento científico. E ouso dizer, é vergonhoso fingir o contrário.

No entanto, o fingimento é a regra vigente.

Fonte: NEFCA - Núcleo Espírita de Filosofia e Ciências Aplicadas

Um comentário:

  1. Realmente, não dá pra continuar assim! As pessoas gostam de se radicalizar para o lado religioso do espiritismo, é terrível! Temos que equilibrar as partes, adianta só crer no lado religioso e ignorar a ciência a sua volta e a filosofia BÁSICA de Kardec... é lamentável.

    Adoro suas matérias!!! Continue assim :D

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