Por José Herculano Pires
A teoria central do Roustainguismo é a do corpo fluídico de Jesus, que não possuiu corpo carnal como nós. Vejamos como se explica nos textos [de Os Quatro Evangelhos] a formação desse corpo:
“Jesus houvera podido, unicamente por ato exclusivo da sua vontade, atraindo a si os fluídos ambientes necessários, constituir o perispírito ou corpo fluídico tangível que vestiu para surgir no vosso mundo sob o aspecto de uma criancinha. Maria, porém, antes da sua encarnação, pedira, por devotamento e por amor, a graça de participar da obra de Jesus, atraindo, pela emanação de seus fluidos perispiríticos, os fluidos ambientes necessários à constituição daquele perispírito”.
“Dessa maneira se tinha que verificar a sua cooperação, mas de forma para ela inconsciente, porquanto o estado de encarnação humana lhe não permitia lembrar-se. Assim, ao aproximar-se o momento final da sua gravidez aos olhos dos homens, ela, inconscientemente, mas ardendo no desejo de cumprir a missão que o Senhor lhe revelara por intermédio do anjo ou espírito superior que lhe fora enviado, estabeleceu, pela emanação dos fluídos do seu perispírito, uma irradiação simpática que atraiu os fluídos necessários à formação do corpo fluídico de Jesus”.
“Nenhum efeito, entretanto, teria produzido a ação inconsciente de Maria, sem a intervenção da vontade daquele que ia descer ao vosso mundo. Jesus, pois, constituiu, ele próprio, pela ação da sua vontade, o perispírito tangível e quase material que se tornou, tendo-se em vista o planeta que habitais, um corpo relativamente semelhante ao vosso”.
(Tomo I – cap. I – Anunciação)
Este pequeno trecho revela uma ingenuidade assustadora. O que fez Maria nesse episódio? Encarnou-se na Terra para fingir de mãe, esqueceu-se do papel que ia desempenhar – pois era médium inconsciente... – mas agiu inconscientemente atraindo os fluídos na esperança de representá-lo. Entretanto, no momento decisivo, Jesus teve de intervir e constituir ele mesmo o seu corpo fluídico, pois só ele podia fazer tal coisa. Só restou a Maria, em todo o drama, uma “pontinha” à Hollywood para a entrada em cena da falsa gravidez.
No ponto culminante da revelação, o que nos é revelado é o papel de tola desempenhado pela falsa mãe do Messias. Tem-se a impressão de um artista piedoso admitindo uma jovem inexperi-ente ao seu lado para não desgostá-la. O artista não precisava da jovem, mas aceitou o seu pretenso concurso e acabou fazendo tudo por si mesmo. O público não percebeu nada. E a jovem muito menos. Mais adiante a veremos sendo lograda pelo nenezinho esperto que lhe suga o seio sem sugá-lo.
Poderíamos encerrar aqui a nossa análise. Não há mais o que analisar. A revelação da revelação abortou nesse episódio lírico-burlesco, ainda nas primeiras páginas do primeiro tomo da obra roustainguista de duas mil páginas. Mas acontece que o Roustainguismo é uma crença e os seus adeptos não aceitarão a nossa conclusão. Precisamos de paciência e coragem. Iremos além...
Por sinal que além desse ato lírico-burlesco só nos resta, no trecho acima, constatar o decalque da teoria do perispírito que Roustaing absorveu na leitura de O Livro dos Espíritos, de Kardec. Lemos acima que o perispírito é um corpo fluídico tangível. A expressão corpo fluídico é de Kardec. Mas Kardec mostra que esse corpo fluídico pode tornar-se tangível no fenô-meno das aparições tangíveis. Roustaing misturou as coisas e formou “aparentemente” essa nova expressão.
Outro aspecto curioso de utilização das teorias kardecianas é o do trecho médio da transcrição acima, quando Roustaing (ou seja, os espíritos que ditaram a obra) dizem que Maria produziu uma irradiação simpática do seu perispírito para atrair os fluidos necessários. É essa a teoria explicativa das manifestações medi-únicas. O espírito comunicante produz irradiações do seu perispírito que afetam o perispírito do médium, provocando o fenômeno semelhante em forma de reação. A mistura dos fluidos espirituais do espírito com os fluidos materializados do médium produz o elemento necessário, semimaterial, que permite a ação do espírito no plano material.
Estamos praticamente diante de um ato de apropriação indébita. Não há nada de novo em tudo isso, a não ser o falso emprego da teoria.
Mas vamos a outro trecho básico, relativo à gravidez de Maria. E juntemos a ele o trecho referente ao parto. Vejamo-los:
“A gravidez de Maria foi obra do Espírito Santo, porque foi obra dos Espíritos do Senhor, e, como tal, aparente e fluídica, de maneira a produzir ilusão, a fazer crer numa gravidez real”.
“Os espíritos prepostos à preparação do aparecimento do Messias na Terra reuniram em torno de Maria fluidos apropriados que lhe operaram a distensão do abdômen e o intumesceram. Ainda pela ação dos fluídos empregados o mênstruo parou durante o tempo preciso de uma gestação, contribuindo esse fato para a aparência da gravidez, pela intumescência e pelos incômodos causados. Maria, sob a inspiração do seu guia e diante desses resultados, que para ela eram o cumprimento da anunciação que lhe fizera o anjo ou espírito enviado, acreditou na realidade do seu estado”.
“Seu parto foi igualmente obra do Espírito Santo, porque também foi obra dos Espíritos do Senhor, e só se deu na apa-rência, tal como a gravidez, por isso mesmo que resultava desta, que fora simplesmente aparente. Tanto quanto da gravidez, Maria teve a ilusão do parto, na medida do que era necessário, a fim de que acreditasse, como devia acontecer, num nascimento real”.
Aqui a intenção do ridículo se torna clara. O episódio lírico-burlesco perde todo o lirismo. A análise emperra diante do absurdo, pois o absurdo não pode ser analisado. Temos de saltar por cima do abismo e encarar o texto por outro ângulo. Os espíritos reveladores empregam neste momento os ingredientes da magia para fascinar o leitor. Estamos no plano do irracional. Mas não nos enganemos. Por trás dos bastidores estão estirados e ativos os cordéis da mágica teatral. O embuste é evidente. Não se trata da magia natural, mas da artificial. Numa palavra: do ilusionismo mal intencionado. Não é à-toa que o texto inclui a expressão: “de maneira a produzir ilusão”. Os ilusionistas, seguros do efeito do seu truque, sentem-se à vontade para empregar as palavras certas.
Todos carregamos conosco os resíduos do animismo tribal, da magia primitiva que antecedeu a religião. A mágica de teatro excita em nós esses resíduos que sobem do inconsciente ao consciente e determinam a regressão psicológica. Voltamos à tribo, ao tabu, ao totemismo, ao animismo dos primórdios. Isso pode acontecer com o homem rude e simples ou com o homem ilustrado e ingênuo. E só essa regressão pode explicar a aceitação das teorias roustainguistas acima por criaturas que ostentam o verniz da civilização. É o mesmo caso dos resíduos mágicos das nossas religiões chamadas positivas. A fé ingênua da selva desperta no coração do homem atual e o leva a aceitar, emocionado, os dogmas do absurdo.
Apesar dessa explicação, podemos perguntar como admitir-se a utilização desses truques ou passes de mágica por Espíritos Superiores. Como aceitar-se o papel de Jesus, sob a permissão, pelo menos, de Deus, nesse processo de trapaça espiritual em nome da verdade? Se Descartes já não houvesse aniquilado o Gênio Maligno nas suas reflexões do Discurso do Método, ainda poderíamos recorrer a ele. Mas nesta altura dos tempos já não nos sobra mais essa possibilidade.
Fonte: O Verbo e a Carne
A teoria central do Roustainguismo é a do corpo fluídico de Jesus, que não possuiu corpo carnal como nós. Vejamos como se explica nos textos [de Os Quatro Evangelhos] a formação desse corpo:
“Jesus houvera podido, unicamente por ato exclusivo da sua vontade, atraindo a si os fluídos ambientes necessários, constituir o perispírito ou corpo fluídico tangível que vestiu para surgir no vosso mundo sob o aspecto de uma criancinha. Maria, porém, antes da sua encarnação, pedira, por devotamento e por amor, a graça de participar da obra de Jesus, atraindo, pela emanação de seus fluidos perispiríticos, os fluidos ambientes necessários à constituição daquele perispírito”.
“Dessa maneira se tinha que verificar a sua cooperação, mas de forma para ela inconsciente, porquanto o estado de encarnação humana lhe não permitia lembrar-se. Assim, ao aproximar-se o momento final da sua gravidez aos olhos dos homens, ela, inconscientemente, mas ardendo no desejo de cumprir a missão que o Senhor lhe revelara por intermédio do anjo ou espírito superior que lhe fora enviado, estabeleceu, pela emanação dos fluídos do seu perispírito, uma irradiação simpática que atraiu os fluídos necessários à formação do corpo fluídico de Jesus”.
“Nenhum efeito, entretanto, teria produzido a ação inconsciente de Maria, sem a intervenção da vontade daquele que ia descer ao vosso mundo. Jesus, pois, constituiu, ele próprio, pela ação da sua vontade, o perispírito tangível e quase material que se tornou, tendo-se em vista o planeta que habitais, um corpo relativamente semelhante ao vosso”.
(Tomo I – cap. I – Anunciação)
Este pequeno trecho revela uma ingenuidade assustadora. O que fez Maria nesse episódio? Encarnou-se na Terra para fingir de mãe, esqueceu-se do papel que ia desempenhar – pois era médium inconsciente... – mas agiu inconscientemente atraindo os fluídos na esperança de representá-lo. Entretanto, no momento decisivo, Jesus teve de intervir e constituir ele mesmo o seu corpo fluídico, pois só ele podia fazer tal coisa. Só restou a Maria, em todo o drama, uma “pontinha” à Hollywood para a entrada em cena da falsa gravidez.
No ponto culminante da revelação, o que nos é revelado é o papel de tola desempenhado pela falsa mãe do Messias. Tem-se a impressão de um artista piedoso admitindo uma jovem inexperi-ente ao seu lado para não desgostá-la. O artista não precisava da jovem, mas aceitou o seu pretenso concurso e acabou fazendo tudo por si mesmo. O público não percebeu nada. E a jovem muito menos. Mais adiante a veremos sendo lograda pelo nenezinho esperto que lhe suga o seio sem sugá-lo.
Poderíamos encerrar aqui a nossa análise. Não há mais o que analisar. A revelação da revelação abortou nesse episódio lírico-burlesco, ainda nas primeiras páginas do primeiro tomo da obra roustainguista de duas mil páginas. Mas acontece que o Roustainguismo é uma crença e os seus adeptos não aceitarão a nossa conclusão. Precisamos de paciência e coragem. Iremos além...
Por sinal que além desse ato lírico-burlesco só nos resta, no trecho acima, constatar o decalque da teoria do perispírito que Roustaing absorveu na leitura de O Livro dos Espíritos, de Kardec. Lemos acima que o perispírito é um corpo fluídico tangível. A expressão corpo fluídico é de Kardec. Mas Kardec mostra que esse corpo fluídico pode tornar-se tangível no fenô-meno das aparições tangíveis. Roustaing misturou as coisas e formou “aparentemente” essa nova expressão.
Outro aspecto curioso de utilização das teorias kardecianas é o do trecho médio da transcrição acima, quando Roustaing (ou seja, os espíritos que ditaram a obra) dizem que Maria produziu uma irradiação simpática do seu perispírito para atrair os fluidos necessários. É essa a teoria explicativa das manifestações medi-únicas. O espírito comunicante produz irradiações do seu perispírito que afetam o perispírito do médium, provocando o fenômeno semelhante em forma de reação. A mistura dos fluidos espirituais do espírito com os fluidos materializados do médium produz o elemento necessário, semimaterial, que permite a ação do espírito no plano material.
Estamos praticamente diante de um ato de apropriação indébita. Não há nada de novo em tudo isso, a não ser o falso emprego da teoria.
Mas vamos a outro trecho básico, relativo à gravidez de Maria. E juntemos a ele o trecho referente ao parto. Vejamo-los:
“A gravidez de Maria foi obra do Espírito Santo, porque foi obra dos Espíritos do Senhor, e, como tal, aparente e fluídica, de maneira a produzir ilusão, a fazer crer numa gravidez real”.
“Os espíritos prepostos à preparação do aparecimento do Messias na Terra reuniram em torno de Maria fluidos apropriados que lhe operaram a distensão do abdômen e o intumesceram. Ainda pela ação dos fluídos empregados o mênstruo parou durante o tempo preciso de uma gestação, contribuindo esse fato para a aparência da gravidez, pela intumescência e pelos incômodos causados. Maria, sob a inspiração do seu guia e diante desses resultados, que para ela eram o cumprimento da anunciação que lhe fizera o anjo ou espírito enviado, acreditou na realidade do seu estado”.
“Seu parto foi igualmente obra do Espírito Santo, porque também foi obra dos Espíritos do Senhor, e só se deu na apa-rência, tal como a gravidez, por isso mesmo que resultava desta, que fora simplesmente aparente. Tanto quanto da gravidez, Maria teve a ilusão do parto, na medida do que era necessário, a fim de que acreditasse, como devia acontecer, num nascimento real”.
Aqui a intenção do ridículo se torna clara. O episódio lírico-burlesco perde todo o lirismo. A análise emperra diante do absurdo, pois o absurdo não pode ser analisado. Temos de saltar por cima do abismo e encarar o texto por outro ângulo. Os espíritos reveladores empregam neste momento os ingredientes da magia para fascinar o leitor. Estamos no plano do irracional. Mas não nos enganemos. Por trás dos bastidores estão estirados e ativos os cordéis da mágica teatral. O embuste é evidente. Não se trata da magia natural, mas da artificial. Numa palavra: do ilusionismo mal intencionado. Não é à-toa que o texto inclui a expressão: “de maneira a produzir ilusão”. Os ilusionistas, seguros do efeito do seu truque, sentem-se à vontade para empregar as palavras certas.
Todos carregamos conosco os resíduos do animismo tribal, da magia primitiva que antecedeu a religião. A mágica de teatro excita em nós esses resíduos que sobem do inconsciente ao consciente e determinam a regressão psicológica. Voltamos à tribo, ao tabu, ao totemismo, ao animismo dos primórdios. Isso pode acontecer com o homem rude e simples ou com o homem ilustrado e ingênuo. E só essa regressão pode explicar a aceitação das teorias roustainguistas acima por criaturas que ostentam o verniz da civilização. É o mesmo caso dos resíduos mágicos das nossas religiões chamadas positivas. A fé ingênua da selva desperta no coração do homem atual e o leva a aceitar, emocionado, os dogmas do absurdo.
Apesar dessa explicação, podemos perguntar como admitir-se a utilização desses truques ou passes de mágica por Espíritos Superiores. Como aceitar-se o papel de Jesus, sob a permissão, pelo menos, de Deus, nesse processo de trapaça espiritual em nome da verdade? Se Descartes já não houvesse aniquilado o Gênio Maligno nas suas reflexões do Discurso do Método, ainda poderíamos recorrer a ele. Mas nesta altura dos tempos já não nos sobra mais essa possibilidade.
Fonte: O Verbo e a Carne
ALEM DE TUDO ISSO A VIDA DE JESUS SERIA UMA ENCENAÇÃO REFERINDO-NOS PRINCIPALMENTE
ResponderExcluirAO SOFRIMENTO QUE TERIA APARENTADO NOS QUARENTA DIAS JEJUANDO NO DESERTO E TENDO
FOME COMO QUALQUER UM,SENDO "TENTADO" E SOFRENDO "HORRIVELMENTE" NA CRUXIFICAÇÃO.