sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Inteligência Cósmica

Por Ricardo Malta

Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. (L.E, Q.1)

Não podemos conceber, em pleno século XXI, a imagem de um Deus antropomórfico, personificado na imagem de um velhinho sisudo, de barbas longas e com um cajado nas mãos. As religiões ancestrais limitaram a Divindade a ponto de transformá-la neste ser humanóide. Ainda existem aqueles que afirmam, ingenuamente, que Deus habita nas igrejas. Esquecem que o “Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens.” (Atos 17:24) 

O ateísmo se faz justo com essa imagem primitiva do Criador. Não podemos negar que essa teologia medieval colaborou muito para a proliferação da descrença. Voltaire, o filósofo iluminista, afirmou que não acreditava no Deus que os homens criaram, mas no Deus que criou os homens. Com razão ele fez tal afirmativa, da qual o Espiritismo apóia, pois a causa primária de todas as coisas não poderia ser essa figura limitada e pintada pelos teólogos.

A visão espírita, descrita na primeira questão de O Livro dos Espíritos, é, talvez, a melhor concepção que podemos ter do Criador. Falta-nos a percepção necessária para defini-Lo com maior exatidão, sendo toda tentativa neste sentido infrutífera. Ora, como poderá o limitado definir aquilo que é ilimitado? Inconcebível. “Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair.” (L.E, Q.14)

“Deus não é uma forma humana, não é uma figura mitológica, não é um símbolo. Deus é a realidade fundamental, a Inteligência suprema, a fonte de que surgem todas as coisas, assim como da inteligência finita do homem surgem as coisas que constituem o seu mundo finito. Não é possível dar forma a Deus, limitá-lo, restringi-lo, dominá-lo pela nossa razão, como não é possível dar forma à nossa própria inteligência.” (J. Herculano Pires. O Espírito e o Tempo.)


Entretanto, observando suas obras, que se encontram escritas no universo cósmico, conseguimos ter uma idéia de seus atributos. Por isso, a doutrina espírita nos ensina que só podemos conceber Deus: eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom. (L.E, Q.13)

Com razão afirmou J. Herculano Pires que o espiritualismo simplório e o materialismo atrevido são os dois pólos da estupidez humana. Claro, negar o Deus criado pelos teólogos é aceitável, mas negar a existência de uma inteligência cósmica que preside todo o universo é, no mínimo, faltar com o bom senso.

Extraímos a certeza da existência de Deus num axioma lógico: Não há efeito inteligente sem uma causa inteligente, e a grandeza do efeito corresponde à grandeza da causa.

Não conseguimos, por questão de lógica e bom senso, imaginar que o universo seja obra do acaso. “Viu-se alguma vez o arremesso ao acaso das letras do alfabeto produzir um poema? E que poema o da vida universal! [...] Inconscientes e cegos, os átomos não poderiam tender a um fim. Só se explica a harmonia do mundo pela intervenção de uma vontade.” (Leon Denis. Depois da morte.)

Com sabedoria, utilizando-se de uma analogia brilhante, nos diz Allan Kardec: “A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro; a engenhosidade do mecanismo lhe atesta a inteligência e o saber. Quando um relógio vos dá, no momento preciso, a indicação de que necessitais, já vos terá vindo à mente dizer: aí está um relógio bem inteligente? Outro tanto ocorre com o mecanismo do Universo: Deus não se mostra, mas se revela pelas suas obras.” (GE, Cap.2, Item 6)

Ora, ao lançar o olhar para o universo, torna-se impossível aceitar que a dança cega dos átomos seja capaz de compor esse poema cósmico de que nos fala o ilustre filósofo Leon Denis. Alias, nas palavras de Herculano Pires, "as coisas evidentes se impõem pela própria evidência. Não podemos negar a existência de Deus, porque como dizia Descartes, isso equivale a negar a existência do sol em nosso sistema planetário." (J. Herculano Pires. O Espírito e o Tempo.)

Ante o exposto, conclui-se, por racionalidade e não por crendice, que “Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial” (L.E, Q.14). Assim, da mesma forma que Voltaire, declaramos: Morro adorando a Deus!

Um comentário:

  1. Texto de importante reflexão. É fato que a Doutrina dos Espíritos nos leva à racionalidade, e nos mostra claramente os nosso limites de compreensão. Ou seja, os Espíritos Superiores são claros quando nos dizem que nos faltam "sentidos" para compreendermos certas questões referentes à Divindade. Quando nos falam de Deus como a Inteligência Suprema, causa primeira de todas as coisas,trazem um novo paradigma de Deus, nos fazendo aceitá-lo dentro de uma coerência pertinente ao nosso grau evolutivo. Parabéns ao autor pela beleza do texto.

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