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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Não pedi para nascer

Por Valentim Lorenzetti

Num gesto de rebeldia contra os pais, é muito comum o jovem desabafar: "eu não pedi para nascer; eles que me puseram no mundo, que me agüentem assim como eu sou".

Vamos analisar este ponto de vista, isto é, a cômoda posição passiva que leva o indivíduo a isentar-se da própria responsabilidade atribuindo seus fracassos e insucessos sempre a outras pessoas. "Eu não pedi para nascer" é o mesmo que dizer: "não tenho culpa de agir errado, meus pais é que quiseram que eu nascesse". É um gesto de desleixo, pouco condizente muitas vezes com a atitude exterior daqueles que o adotam; geralmente, homens que procuram aparentar masculinidade ou mulheres que se dizem adeptas da liberdade total. Liberdade total para os desmandos; dependência total quanto às responsabilidades.

Pela lei da reencarnação, também não é certo dizermos que não pedimos para nascer. Que não pedimos para reencarnar. Dizem-nos, os Espíritos que no Plano Espiritual existem verdadeiras filas de espíritos esperando oportunidade de reencarnar, oportunidade de progredir. Progresso esse só possível ao Espírito lutando em novo corpo carnal. Ora, quem fica na fila é porque quer, porque acha que deve chegar ao seu objetivo. Logo, quem está na fila da reencarnação quer reencarnar, tem consciência de seu desejo e sabe, em termos gerais quais são as provas e expiações a que terá de se submeter visando à autopurificação.

Todos pedem para nascer. Mesmo aqueles Espíritos inconscientes devido a seu estado de ignorância, fazem apelos inconscientementes para reencarnar. Apelos estes que são atendidos pelos Espíritos Superiores que trabalham pela felicidade de todos. É falsa a afirmação de que não pedimos para nascer, para reencarnar. É uma fuga das responsabilidades assumidas.

Acreditemos ou não na reencarnação, todos estamos a ela sujeitos. Uma só existência corporal é insuficiente para o Espírito galgar do primeiro ao último degrau da evolução. Aliás, qual será o último degrau da evolução, considerando-se o infinito que é o Universo? Logo, quando terminará a longa escalada evolutiva do Espírito? É uma pergunta ainda difícil de ser respondida; difícil, justamente porque estamos bastante distantes dos graus mais adiantados na escala evolutiva. Não chegamos a compreender a Eterna Perfeição, por isso ela nos parece impossível. Mas, no íntimo de nosso ser, algo nos impulsiona a procurá-la; esse algo somos nós mesmos, o Espírito imortal que somos - filhos de Deus, que, no fundo de nosso ser aspiramos retornar ao Pai. Esse retorno se fará lenta ou rapidamente, dependendo de nosso esforço, de nossa vontade de nos identificarmos com a vontade do Criador, que é, principalmente, aquela que nos concita a amar todas as demais criaturas.

Dizer que não pedimos para nascer não é um gesto que nos identifica com a vontade do Criador. Ele sabe que pedimos para reencarnar, ou melhor, que sentimos uma enorme necessidade de reencarnar. Do contrário, ficaremos estacionados na ignorância. A reencarnação é uma necessidade da qual ninguém escapa. E para reencarnar é preciso encontrarmos pai e mãe que estejam dispostos a nos doar novo corpo: a nos dar uma nova morada para nosso Espírito. Enfim, pai e mãe que concordem em nos fornecer novo instrumento de trabalho para o nosso progresso espiritual. É claro que na maioria das vezes os pais estão comprometidos - por débitos ou amizades do passado - com os Espíritos que concordam em receber como filhos. A responsabilidade de progresso é mútua, mas não exclui - em hipótese alguma - a responsabilidade dos filhos.

Na sua revolta devida muitas vezes à sua acomodação ou à não-conformação às Leis de Deus, o homem se volta contra os pais, dizendo-os responsáveis pela sua própria existência. É que, não podendo atingir a Deus, ele fere aqueles que identifica com o Criador: seus próprios pais. No entanto, deve o homem saber que pai e mãe são meios por ele mesmo utilizados para voltar à arena da luta na Terra, visando o seu próprio progresso.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A Encarnação dos Espíritos

O Espiritismo ensina de que maneira se opera a união do Espírito com o corpo, na encarnação.

O Perispírito

Pela sua essência espiritual, o Espírito é um ser indefinido, abstrato, que não pode ter ação direta sobre a matéria, sendo-lhe indispensável um intermediário, que é o envoltório fluídico, o qual, de certo modo, faz parte integrante dele. É semimaterial esse envoltório, isto é, pertence à matéria, pela sua origem, e à espiritualidade, pela sua natureza etérea. Como toda matéria, ele é extraído do fluido cósmico universal, que, nessa circunstância, sofre uma modificação especial. Esse envoltório, denominado perispírito, faz de um ser abstrato, o Espírito, um ser concreto, definido, apreensível pelo pensamento. Torna-o apto a atuar sobre a matéria tangível, conforme se dá com todos os fluidos imponderáveis, que são, como se sabe, os mais poderosos motores.

O fluido perispirítico constitui, pois, o traço de união entre o Espírito e a matéria. Enquanto aquele se acha unido ao corpo, serve-lhe ele de veículo ao pensamento, para transmitir o movimento às diversas partes do organismo, as quais atuam sob a impulsão da sua vontade e para fazer que repercutam no Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam. Servem-lhe de fios condutores os nervos como, no telégrafo, ao fluido elétrico serve de condutor o fio metálico.

O Nascimento

Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o gérmen se desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio vital-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior.

Um fenômeno particular, que a observação igualmente assinala, acompanha sempre a encarnação do Espírito. Desde que este é apanhado no laço fluídico que o prende ao gérmen, entra em estado de perturbação, que aumenta, à medida que o laço se aperta, perdendo o Espírito, nos últimos momentos, toda a consciência de si próprio, de sorte que jamais presencia o seu nascimento. Quando a criança respira, começa o Espírito a recobrar as faculdades, que se desenvolvem à proporção que se formam e consolidam os órgãos que lhes hão de servir às manifestações.

Mas, ao mesmo tempo em que o Espírito recobra a consciência de si mesmo, perde a lembrança do seu passado, sem perder as faculdades, as qualidades e as aptidões anteriormente adquiridas, que haviam ficado temporariamente em estado de latência e que, voltando à atividade, vão ajudá-lo a fazer mais e melhor do que antes. Ele renasce qual se fizera pelo seu trabalho anterior; o seu renascimento lhe é um novo ponto de partida, um novo degrau a subir. Ainda aí a bondade do Criador se manifesta, porquanto, adicionada aos amargores de uma nova existência, a lembrança, muitas vezes aflitiva e humilhante, do passado, poderia turbá-lo e lhe criar embaraços. Ele apenas se lembra do que aprendeu, por lhe ser isso útil. Se às vezes lhe é dado ter uma intuição dos acontecimentos passados, essa intuição é como a lembrança de um sonho fugitivo. Ei-lo, pois, novo homem, por mais antigo que seja como Espírito. Adota novos processos, auxiliado pelas suas aquisições precedentes. Quando retorna à vida espiritual, seu passado se lhe desdobra diante dos olhos e ele julga como empregou o tempo, se bem ou mal.

Não há, portanto, solução de continuidade na vida espiritual, sem embargo do esquecimento do passado. Cada Espírito é sempre o mesmo eu, antes, durante e depois da encarnação, sendo esta, apenas, uma fase da sua existência. O próprio esquecimento se dá tão-só no curso da vida exterior de relação. Durante o sono, desprendido, em parte, dos liames carnais, restituído à liberdade e à vida espiritual, o Espírito se lembra, pois que, então, já não tem a visão tão obscurecida pela matéria.

A Morte

Por um efeito contrário, a união do perispírito e da matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do gérmen, cessa, desde que esse princípio deixa de atuar, em conseqüência da desorganização do corpo. Mantida que era por uma força atuante, tal união se desfaz, logo que essa força deixa de atuar. Então, o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira, e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito.

O Espiritismo, pelos fatos cuja observação ele faculta, dá a conhecer os fenômenos que acompanham essa separação, que, às vezes, é rápida, fácil, suave e insensível, ao passo que doutras é lenta, laboriosa, horrivelmente penosa, conforme o estado moral do Espírito, e pode durar meses inteiros.

Considerações Gerais

Normalmente, a encarnação não é uma punição para o Espírito, conforme pensam alguns, mas uma condição inerente à inferioridade do Espírito e um meio de ele progredir. A obrigação que tem o Espírito encarnado de prover o alimento ao corpo, à sua segurança, ao seu bem-estar, o força a empregar suas faculdades em investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Útil, portanto, ao seu adiantamento é a sua união com a matéria. Daí o constituir uma necessidade a encarnação. Além disso, pelo trabalho inteligente que ele executa em seu proveito, sobre a matéria, auxilia a transformação e o progresso material do globo que lhe serve de habitação. É assim que, progredindo, colabora na obra do Criador, da qual se torna fator inconsciente.

Todavia, a encarnação do Espírito não é constante, nem perpétua: é transitória. Deixando um corpo, ele não retoma imediatamente outro. Durante mais ou menos considerável lapso de tempo, vive da vida espiritual, que é a sua vida normal, de tal sorte que insignificante vem a ser o tempo que lhe duram as encarnações, se comparado ao que passa no estado de Espírito livre.

No intervalo de suas encarnações, o Espírito progride igualmente, no sentido de que aplica ao seu adiantamento os conhecimentos e a experiência que alcançou no decorrer da vida corporal; examina o que fez enquanto habitou a Terra, passa em revista o que aprendeu, reconhece suas faltas, traça planos e toma resoluções pelas quais conta guiar-se em nova existência, com a idéia de melhor se conduzir. Desse jeito, cada existência representa um passo para frente no caminho do progresso, uma espécie de escola de aplicação.

Fonte: “A Gênese” – Allan Kardec