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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Discussão reflexiva sobre pena de talião, lei de ação e reação e causa e efeito

Por Maria Ribeiro

Propõe-se, desta feita, organizar pensamentos e as reflexões deles decorrentes, com a finalidade de acender discussões acerca de um exame mais maduro dos conceitos: pena de talião, ação e reação e causa e efeito que, com o passar do tempo, foram se tornando objeto de polêmica (mais uma) no seio doutrinário-Espírita.

É do saber geral que a missão de Moisés era educar e disciplinar um povo bruto, bárbaro; para isto estabeleceu leis de acordo com o caráter dos homens. Recebeu o Decálogo, síntese das Leis Divinas, mas o medo e o pavor de um Deus violento e vingativo foram como um freio para conter os instintos animalizados vigentes.

No primeiro capítulo de O Evangelho segundo o Espiritismo, Kardec assinala:

“Esta lei (o decálogo) é de todos os tempos e de todos os países, e tem, por isso mesmo, um caráter divino. Todas as outras são estabelecidas por Moisés, obrigado a manter, pelo temor, um povo naturalmente turbulento e indisciplinado, no qual tinha que combater os abusos enraizados e os preconceitos hauridos na servidão do Egito. Para dar autoridade a suas leis, ele deveu atribuir-lhes origem divina, assim como o fizeram todos os legisladores de povos primitivos; a autoridade do homem deveria se apoiar na autoridade de Deus;... as leis mosaicas, propriamente ditas, tinham, pois, um caráter essencialmente transitório.”

A pena de talião era um castigo imposto a todo aquele que infringisse as normas; era aplicada imediatamente ao infrator com idêntica proporcionalidade à infração cometida. Ao que parece, havia a permissão do Alto, devido às circunstâncias. Em Êxodo 4, v.12 lê-se: “Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar”, resposta de “deus” a Moisés num diálogo sobre a missão que lhe caberia no mundo.  As leis mosaicas eram transitórias devido ao fato de que, uma vez atingido o objetivo de educar minimamente o povo, não haveria necessidade de permanecer.

Mas é preciso que se penetre na essência mesma de tal pena: olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé. Para isso, analise-se a questão 764 de O Livro dos Espíritos, onde eles esclarecem:
 
“Jesus disse: quem matou pela espada, perecerá pela espada. Essas palavras não são a consagração da pena de talião? A morte infligida ao homicida não é a aplicação dessa pena?  - Tomai cuidado! Tendes vos enganado sobre essa palavra, como sobre muitas outras. A pena de talião é a justiça de Deus e é ele que a aplica. Todos vós suportais, a cada instante, essa pena, porque sois punidos pelo que pecastes, nesta vida ou em uma outra. Aquele que fez sofrer seus semelhantes, estará numa posição em que sofrerá, ele mesmo, o sofrimento que causou. É o sentido das palavras de Jesus; mas vos disse também: perdoai aos vossos inimigos e vos ensinou a pedir a Deus perdoar as vossas ofensas, como vós mesmos tiverdes perdoado; quer dizer, na mesma proporção que tiverdes perdoado: compreendei-o bem.” (n.m.)
Os Espíritos Superiores disseram que a pena de talião é a justiça de Deus e é ele que a aplica. Ou seja, não parece que esta pena tenha sido apenas mais uma lei disciplinar mosaica, mas sim de caráter divino, essencialmente falando. Daí a impropriedade de se querer fazer justiça pelas próprias mãos, o que caracteriza ódio e vingança, e que está contra a Lei Divina e nega o ensino do Cristo:

“amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.” (Mt 5, 44 e 45).


No livro “O céu e o inferno” no capítulo VIII - Expiações terrestres, há um relato intitulado por Kardec como “Enterrado vivo – A pena de talião”, onde o Espírito evocado dialoga com Kardec. Eis um trecho:

“-Dissestes: cruel punição de uma feroz existência; mas a vossa reputação, até este dia, não faria supor nada semelhante. Podeis explicar-nos isso? - R...Sabei, pois, uma vez que é necessário vo-lo dizer, que numa existência anterior eu murara uma mulher, a minha! Toda viva numa pequena adega! Foi a pena de talião que devia aplicar-me. Dente por dente, olho por olho.” “- É certo que fostes enterrado vivo por engano? – R. Isso deveria ser assim, porque a morte aparente teve todas as características de uma morte real; estava quase exangue (privado de sangue). Não se deve imputar a ninguém um fato previsto desde antes do meu nascimento.” (n.m.)


O guia do médium esclarece que o próprio Espírito solicitara tal fim com o propósito de evoluir mais depressa; sua vítima o perdoara e o esperava num mundo melhor. Kardec indaga e obtém resposta de Erasto:

”- Que proveito pode tirar a humanidade de semelhantes punições? – R. Os castigos não são feitos para desenvolver a Humanidade, mas para castigar o indivíduo culpado. Com efeito, a Humanidade não tem nenhum interesse em ver os seus sofrerem. Aqui a punição foi apropriada à falta. Por que os loucos? Por que os cretinos? Por que as pessoas paralíticas? Por que os que morrem no fogo? Por que aqueles que vivem anos nas torturas de uma longa agonia, não podendo nem viver nem morrer? Ah! Crede-me, respeitai a vontade soberana e não procureis sondar a razão dos decretos providenciais; sabei-o! Deus é justo e faz bem o que faz.” 

Na questão 621 de O Livro dos Espíritos, o nobre Codificador indaga as Entidades Excelsas onde está escrita a lei de Deus, ao que estas respondem: na consciência. Uma vez que as leis Divinas estão na consciência do homem, ele mesmo é que aplica a própria pena, a própria  condenação, com a permissão da Divindade que julga útil para o crescimento e amadurecimento de cada criatura. Se num tempo as expiações são impostas, noutro pode ser uma escolha do próprio Espírito, agora consciente de sua destinação.

Em Obras póstumas Kardec volta a repetir: “... Eis porque há famílias, povos e raças sobre os quais cai a pena de talião. “ Quem matou pela espada perecerá pela espada”, disse o Cristo; estas palavras podem ser traduzidas assim: Aquele que derramou sangue verá o seu derramado, aquele que passeou a tocha do incêndio em casa de outrem, verá a tocha do incêndio passear em sua casa; aquele que despojou, será despojado; aquele que subjugou e maltratou o fraco, será fraco, subjugado e maltratado, por sua vez, quer seja um indivíduo, uma nação ou uma raça, porque os membros de uma individualidade coletiva são solidários do bem como do mal que se faz em comum.” (Perguntas e problemas. As expiações coletivas)

O fato é que a pena de talião como Lei Divina foi confirmada pelo Cristo: “quem matou pela espada, perecerá ela espada”. Jesus ensinou e exemplificou o perdão, mas não que a culpa do agressor seria atenuada por causa disso. Quando disse “a cada um segundo as suas obras”, repetia com outras palavras a mesma lei.

A lei de ação e reação é uma lei física, material, que estabelece uma reação igual e proporcional à ação. Nada impede que, por comparação, seja referida às questões morais; afinal ações e reações não precisam ser, necessariamente, materiais. A não ser que se entenda por bem ou por mal somente ações (ou reações) perfeitamente materiais, palpáveis, perceptíveis. Um pensamento mau em relação ao semelhante é uma ação má, por exemplo, e uma prece é uma ação boa, sendo as sensações agradáveis que se sentem após uma prece, reações igualmente boas. O ato de perdoar, que não é palpável, é uma ação no bem.

Pena de talião vista nas circunstâncias da época de Moisés e esta lei de Newton, comparativamente, são muito semelhantes. Levadas para as questões morais-espirituais, não perdem a semelhança, se forem consideradas sob o aspecto essencial, as entrelinhas. O recado é: “faça aos homens o que desejaríeis que os homens vos fizessem.”

Causa e efeito não é, propriamente falando, uma lei, mas uma decorrência da lei de liberdade, (tratada no capítulo X da terceira parte de O Livro dos Espíritos); aliás, a causa é que decorre do livre arbítrio, pois o efeito está sob o controle das Leis Universais. 

É preciso que se ressalte que o livre arbítrio oferece ao homem total responsabilidade sobre seus atos,  portanto, a causa, a raiz, a origem dos males se encontra no homem, que tem a liberdade de escolher não fazê-los, mas os efeitos estão sob a guarda, ou melhor, sob o domínio da lei Divina; ou seja, a causa depende do homem e o efeito, que é dependente da causa, será aplicado segundo a vontade de Deus. (n.m.)

As Letras Espíritas oferecem todo o ensino da Verdade que os homens hoje têm condições de compreender. Preconceitos, idéias e opiniões particulares só complicam o que Allan Kardec simplificou. Entende-se que por se tratar de coisas tão transcendentes, para muitos de nós, alguns temas ainda se façam obscuros, mas deve-se a todo custo evitar que interpretações equivocadas se disseminem em nome da Doutrina Espírita. Neste caso específico, muito se publicou a respeito, tentando-se estipular uma separação tão grande sobre estes três conceitos, quando, essencialmente, falam sobre a mesma coisa. A pena de talião, da forma que era feita, sim, é reprovável; mas entendido que foi que a ocasião evolutiva o exigia, não há razão para que seja rechaçada e desconsiderada como se representasse algo remoto para um povo específico; agora vê-se que trata-se de uma lei, em sua essência, toda Divina.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Lei de Ação e Reação não é o axioma de Causa e Efeito

Por Maria das Graças Cabral

É muito comum ouvirmos de espíritas, ou lermos em obras intituladas espíritas, quando tratam das razões que levam ao sofrimento humano, e muitas vezes ‘inexplicáveis’, a aplicação da chamada “Lei de Ação e Reação“, preconizada pelo Espírito André Luiz através da psicografia do médium Chico Xavier.

Primeiramente faz-se por oportuno termos a lucidez para observar que o Espírito André Luiz, quando na sua última encarnação, segundo sua própria narrativa no livro Nosso Lar, foi médico sanitarista no início do século XX, exercendo sua profissão no Rio de Janeiro, Brasil, e tendo passado "mais de oito anos" nas regiões umbralinas de sua consciência.
   
Enquanto encarnado, não foi um homem religioso, vivendo voltado exclusivamente para o seu trabalho de médico. Era temperamental, bebia e fumava, vindo a morrer de um câncer intestinal. Daí, a sua total incompreensão diante do fenômeno ‘morte‘, e de sua resistência em buscar Deus para socorrê-lo dos pesadelos vivenciados dentro do seu estado exacerbado de perturbação.

Ao lermos suas obras, devemos considerar que suas percepções sobre o mundo espiritual retratados nos seus romances, trazem o viés de um cientista leigo nas questões espirituais, em processo inicial de aprendizado, usando de um vocabulário técnico bem próprio da sua profissão. Inferindo-se que, o Espírito André Luiz não era um estudioso da Doutrina Espírita, não teve tempo suficiente enquanto ditava suas obras do plano espiritual para conhecê-la através de um estudo aprofundado, posto que, se tomarmos por analogia a nós mesmos enquanto encarnados, não chegamos durante uma encarnação relativamente profícua no estudo doutrinário, ao verdadeiro conhecimento de O Livro dos Espíritos, que é a primeira obra da Codificação.

Daí, o porquê quando no seu romance intitulado “Ação e Reação” - vai buscar nos seus conhecimentos de física a ‘Lei de Ação e Reação“ - Terceira Lei de Newton - que é uma restrita lei física, para adequá-la por analogia às causas dos sofrimentos humanos.

Define Newton, em sua obra Principia, o princípio da ação e reação asseverando que: A qualquer ação se opõe uma ação igual, ou ainda, as ações mútuas de dois corpos são sempre iguais e se exercem em sentidos opostos.

Se um corpo A, exerce uma força em um corpo B, o corpo B simultaneamente exerce uma força da mesma magnitude no corpo A - ambas as forças possuindo mesma direção, contudo sentidos contrários.
   
Aplicado ao pé da letra a lei de Newton, em todas as situações ocorreriam da mesma forma; p. ex., se uma pessoa te feriu, ela deverá ser, por você, ferida da mesma forma e com a mesma intensidade. Outra questão é que a lei de ação e reação atua em corpos diferentes e nunca se anulam. A reação sendo “positiva ou negativa” nunca poderia anular a ação.

No referido romance intitulado ‘Ação e Reação’, o Espírito André Luiz também se reporta a questão do ‘carma’ quando o Ministro Sânzio atendendo às suas interrogações ansiosas diante do que observa nas instituições visitadas, lhe explica o que seja a questão do ‘carma’, ou ‘choque do retorno’. Nota-se perfeitamente a confusão de informações que o Espírito André Luiz recebe e repassa, constatando-se claramente, que seus instrutores não seriam também espíritas conhecedores da Codificação Espírita, daí recorrerem a outras terminologias.

À esse respeito, vale pontuar que “carma” é uma palavra oriental que significa ação. No dicionário encontra-se a seguinte definição: do sânscrito karman; nas filosofias da Índia, o conjunto das ações dos homens e suas conseqüências - (bem semelhante à Lei de Ação e Reação).

Na concepção hindu, carma quer dizer “destino” (canga) determinado ou fixo, ou seja, aqueles cujos atos foram corretos, depois de mortos renascerão através de uma mulher brâmane (virtuosa), ao passo que aqueles cujos os atos foram maus,   renascerão de uma mulher  pária  (castas  inferiores) e sofrerão muitas desgraças, acabando como simples escravos. (J. Herculano Pires)

No que concerne à Codificação Espírita, se formos pesquisar em todas as Obras Básicas incluindo a Revista Espírita, não encontraremos em nenhuma delas, em momento algum, os Espíritos Superiores, ou mesmo Kardec tratando ou estabelecendo uma Lei de Ação e Reação, ou Lei de Causa e Efeito. Nem muito menos usando do termo ‘carma’.
 
Isto porque Kardec logo na Introdução da gigantesca obra sobre o qual se ergue a Doutrina Espírita - que é O Livro dos Espíritos - assevera que: “Para as coisas novas necessitamos de palavras novas, pois assim o exige a clareza de linguagem, para evitarmos a confusão inerente aos múltiplos sentidos dos próprios vocábulos”. (Introdução de O Livro dos Espíritos) (grifei)

Portanto, não existe formalmente na Codificação ou na Revista Espírita a definição de Lei de Causa e Efeito - mas a menção de um axioma utilizado pelos Espíritos Superiores, quando esclarecem a origem das dores dizendo que para todo o efeito existe uma causa e não há causa sem efeito.

Mais precisamente em “O Evangelho Segundo o Espiritismo“, este axioma é aplicado quando trata da “Justiça das Aflições” e os Espíritos Superiores discorrem sobre as Causas Atuais e Anteriores das Aflições.
 
No que concerne às causas atuais das aflições nos é dito que: “Remontando à fonte dos males terrenos, reconhece-se que muitos são a conseqüência natural do caráter e da conduta daqueles que os sofrem. Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição! Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por mau comportamento ou por não terem limitado os seus desejos”. (ESE, Cap. V, 4)

No item seguinte quando são tratadas as causas anteriores das aflições, assim se expressam: “Mas se há males, nesta vida, de que o homem é a própria causa, há também outros que, pelo menos em aparência, são estranhos à sua vontade e parecem golpeá-lo por fatalidade. Assim, por exemplo, a perda de entes queridos e dos que sustentam a família. Assim também os acidentes que nenhuma previdência pode evitar; os revezes da fortuna; os flagelos naturais; doenças de nascença; deformidades, a idiotia, a imbecilidade, etc. (ESE. Cap. V, 6)

Adiante, esclarecem a problemática utilizando-se do axioma anteriormente mencionado asseverando: “Entretanto, em virtude do axioma de que todo efeito tem uma causa, essas misérias são efeitos que devem ter a sua causa, e desde que se admita a existência de um Deus justo, essa causa deve ser justa. Ora, a causa sendo sempre anterior ao efeito, e desde que não se encontra na vida atual, é que pertence a uma existência precedente”. (ESE. Cap. V, 6)

Diante do exposto infere-se que em razão de uma justiça divina rigorosa precisamos ‘aprender’ para evoluir. Mas não aplicando-se uma Lei de Ação e Reação que seria uma versão modernosa da Lei de Talião, ou seja, do ‘olho por olho e dente por dente’. Na realidade a Lei que transmudará as dores num estado interior de felicidade e paz, é a preconizada por Jesus quando nos asseverou que “o Amor cobre a multidão de pecados”.

Oportuno ressaltar, como nos asseveram os Espíritos Superiores que nem todo o sofrimento que se passa nesse mundo é advindo necessariamente de uma determinada falta, pois pode tratar-se muito “freqüentemente” de simples provas escolhidas pelo próprio Espírito, para acelerar seu processo evolutivo. (ESE. Cap. V, 9)
 
Portanto, na condição de espíritas, estejamos atentos para não cairmos nas malhas da anfibologia, que tanto Kardec combateu em relação à Doutrina Espírita, evitando a utilização de palavras que já têm um sentido próprio, e usadas analogicamente geram interpretações equivocadas no que concerne ao corpo doutrinário.

domingo, 12 de julho de 2009

Ação e Reação


Autor: Orson Peter Carrara

O Código penal da vida futura, apresentado por Allan Kardec na obra O Céu e o Inferno* (capítulo VII da primeira parte), é fonte de interessantes reflexões em torno da lei de ação e reação que rege os caminhos humanos.

Como pondera o próprio Codificador, no mesmo capítulo e com o subtítulo Princípios da Doutrina Espírita sobre as penas futuras, “(...) no que respeita às penas futuras, não se baseia num teoria preconcebida; não é um sistema substituindo outro sistema: em tudo ele se apóia nas observações, e são estas que lhe dão plena autoridade. Ninguém jamais imaginou que as almas, depois da morte, se encontrariam em tais ou quais condições; são elas, essas mesmas almas, partidas da Terra, que nos vêm hoje iniciar nos mistérios da vida futura, descrever-nos sua situação feliz ou desgraçada, as impressões, a transformação pela morte do corpo, completando, assim, em uma palavra, os ensinamentos do Cristo sobre este ponto. Preciso é afirmar que se não trata neste caso das revelações de um só Espírito, o qual poderia ver as coisas do seu ponto de vista, sob um só aspecto, ainda dominado por terrenos prejuízos, Tampouco se trata de uma revelação feita exclusivamente a um indivíduo que pudesse deixar-se levar pelas aparências, ou de uma visão extática suscetível de ilusões, e não passando muitas vezes de reflexo de uma imaginação exaltada. Trata-se, sim, de inúmeros exemplos fornecidos por Espíritos de todas as categorias, desde os mais elevados aos mais inferiores da escala, por intermédio de outros tantos auxiliares (médiuns) disseminados pelo mundo, de sorte que a revelação deixa de ser privilégio de alguém, pois todos podem prová-la, observando-a, sem obrigar-se à crença pela crença de outrem.”.

Esta transcrição inicial é importante para nos situarmos no universo de observações que se colocou o Codificador para elaboração da teoria espírita, advinda toda das revelações que os próprios espíritos fizeram.

O próprio O Livro dos Espíritos, obra lançada em 18 de abril de 1857 com os fundamentos doutrinários do Espiritismo e organizado em forma de perguntas e respostas, teve sua parte Quarta, com dois capítulos e exatas cem perguntas com suas respectivas respostas, totalmente dedicado ao tema das penas e gozos, terrenos e futuros.

No citado Código, que citamos no primeiro parágrafo acima, utilizaremos o 3º dos 33 itens, para orientar o desenvolvimento do tema. O texto original apresenta-se nos seguintes termos: Não há uma única imperfeição da alma que não importe funestas e inevitáveis conseqüências, como não há uma só qualidade que não seja fonte de um gozo.

Ora, são as imperfeições ou as qualidades da alma humana que geram suas ações felizes ou equivocadas. E essas ações estão caracterizadas com o selo moral do estágio em que se situa o ser. Portanto, os pensamentos, os sentimentos, e as próprias ações executadas no transcorrer de uma existência geram reflexos na própria existência, na vida espiritual ou até mesmo na próxima ou futuras existências, a depender é claro da extensão ou gravidade da ação promovida.

A lei de ação e reação, ou o a cada um segundo suas próprias obras, baseia-se num perfeito mecanismo de justiça e igualdade absoluta para todos. Não há qualquer favoritismo para quem quer que seja. Agindo bem, teremos o mérito do bem. Agindo mal, teremos as consequencias. Não se trata de castigo, em absoluto, mas de consequencias.

Qualquer prejuízo que causarmos a nós mesmos ou a terceiros, ocasionarão consequencias inevitáveis em nossa própria vida. Isto é da Lei Divina. E qualquer benefício que distribuamos gerará méritos e benefícios correspondentes em nosso próprio caminho, ainda que haja ingratidão dos beneficiados.

Passamos a entender, portanto, que fazer o mal a quem quer que seja nunca será compensador, pois sempre responderemos pelo mal que causemos, inclusive a nós próprios. E, do mesmo modo, toda felicidade ou tranqüilidade que proporcionarmos ao próximo redundará, inevitavelmente, em bem para nós mesmos.

Não é por outra razão que Jesus ensinou a perdoar. O ódio alimentado, a vingança executada ou a perseguição contumaz a qualquer pessoa redundarão em estágios de sofrimento e dor a seu próprio autor. Perdoando, libertamo-nos.

Também é pela mesma razão que a recomendação sempre constante é para que promovamos o bem, ainda que este não nos seja espontâneo (estamos aprendendo a incorporá-lo em nós mesmos), pois todo bem gera o bem. O mal sempre gerará consequencias desagradáveis.

Fácil perceber, portanto, que muitos sofrimentos existentes hoje na vida individual, social e coletiva, inclusive a nível de planeta, poderiam ser evitados se houvesse o conhecimento dessa realidade das consequencias geradas por nossos atos. Quantos equívocos pelo desconhecimento dessa lei que simplesmente usa a justiça e a igualdade como parâmetros...

Não temos o direito de ferir, de denegrir, de caluniar, de espoliar... Não temos igualmente o direito de matar, de roubar (bens, dignidade, oportunidades, paz, etc), de interferir na vida alheia, de impor idéias ou padrões que julgamos corretos. Entendamos que as criaturas são livres, desejam ser respeitadas, assim como queremos ser...

Este é o detalhe: as tentativas de dominação, imposição, de cerceamento da liberdade individual, sempre ocasionarão sofrimentos, pois todos somos seres pensantes, com vontade própria, responsáveis pelo próprio caminho. Poderemos, é claro, sugerir, aconselhar (se formos solicitados), auxiliar no que for possível, mas jamais violentar as consciências. Todas merecem respeito.

O tema suscita muitos debates, abre perspectivas imensas de estudo. Observa-se que as próprias leis humanas, refletindo as imperfeições do estágio evolutivo do planeta, muitas vezes são equivocadas, gerando também consequencias para o futuro. O que se observa atualmente é fruto de toda essa inconsciência coletiva dos mecanismos que nos dirigem a vida.

Há que se pensar no que estamos fazendo. Já não somos mais seres tão ingênuos que desconhecem as Leis Morais. Estamos todos num caminho evolutivo, onde os direitos são iguais. Tais direitos, abrangentes, devem ser respeitados pela igualdade e pela justiça.

E é justamente pelo desrespeito a tais princípios de igualdade e justiça que se observam os efeitos na vida material e na vida espiritual, com os depoimentos que os próprios espíritos trazem do estado em que se encontram, em virtude do padrão moral que adotaram no relacionamento uns com os outros ou consigo mesmos.

O próprio O Céu e o Inferno traz depoimentos, em sua segunda parte, de diferentes espíritos que descrevem a situação em que se encontraram após a morte. Mas a questão não é apenas para depois da morte. Há que se considerar a própria existência física, atual ou futura (s), onde os mesmos reflexos se fazem sentir.

Será de muita utilidade que possamos estudar e debater os itens do Código Penal da Vida Futura, constante do livro em referência, para espalhar tais esclarecimentos. Mesmo os depoimentos constantes da mesma obra, são de grande utilidade para estudos e reflexões.

São princípios desconhecidos da maioria dos espíritos encarnados no planeta, embora a consciência, onde está escrita a Lei de Deus (1), os avise de seus equívocos. Sufocados pelas imperfeições morais do orgulho, do egoísmo, da vaidade, ainda nos permitimos sufocar a própria consciência e agimos em detrimento uns dos outros. Daí as conseqüências inevitáveis e os sofrimentos...

Em tudo, porém, é preciso sempre considerar a misericórdia de Deus, que nunca abandona seus filhos e lhes abre sem cessar novas oportunidades de progresso. O tema é extenso, pois poderemos adentrar os domínios do arrependimento, expiação e reparação, mas desejamos mesmo é sugerir ao leitor a leitura atenta do Código constante em O Céu e o Inferno. Os itens enumerados, todos eles, abrem perspectivas imensas de entendimento e esclarecimento, o que seria impossível num artigo de poucas linhas. Melhor mesmo é buscar na fonte original a lucidez e clareza da própria Doutrina.

Para concluir, gostaríamos de oferecer à reflexão do leitor a frase de Joanna de Ângelis, na psicografia de Divaldo Pereira Franco, constante do capítulo 38 – A glória do trabalho –, do livro Lampadário Espírita (2): No lugar em que te encontras, sempre poderás semear a luz da esperança e do amor. Eis um programação de ação para modificar os panoramas da vida humana. Basta nos situarmos no esforço do bem, para gerar efeitos salutares de felicidade e saúde.

Se usarmos este roteiro nas atitudes de cada dia, pronto! Estaremos sintonizados com o bem, gerando efeitos de amor e alegria. Simples conseqüência da lei de ação e reação.

*Utilizamo-nos da 32ª edição da FEB, de 09/84, com tradução de Manuel Quintão.

(1) questão 621 de O Livro dos Espíritos, edição FEB.

(2) 3ª edição da Federação Espírita Brasileira, maio de 1978.

Matéria publicada originariamente na revista REFORMADOR, edição de novembro/04.