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quinta-feira, 15 de março de 2012

El Espiritu del Fuego


Por Riviane Damásio

Otoño de 1961, día 09 del mes de Octubre, Barcelona España.

Era media mañana  de un día claro, los paisajes estaban verdosos y el clima ameno y aun mismo oscilando en los altos y bajos del día, no ultrapasaba los 27 grados  e invitaba a la gente del lugar  a un espectáculo más de la vida! el presagio era de la felicidad cotidiana…

En una plaza de la ciudad, Plaza de Quemadero, cerca de ocho hombres en sus diferentes papeles, cumplían, con sus emociones casi imperceptibles, ordenes de la autoridad religiosa local, que condenaba al fuego inquisidor, cerca de 300 libros que “renegaban” la fe vigente en el poder  y estaban intactos, diseminar sus ideas apócrifas por el país. Los libros hablaban de moral, de fe, de fenómenos espirituales, de ciencia, de mediúmnidad, de una nueva doctrina (que según algunos supuestamente podría virar la cabeza de los hombres) y hablaban de Dios.

El mirar del padre de la comitiva quemó por unos instantes los ojos de un hombre entre  los muchos que lo miraban de aquella multitud enfurecida que asistía al improbable espectáculo. El hombre desvió la mirada del religioso  y posó en la cruz que el cargaba en sus manos  y que sarcásticamente  simbolizaba otra quema de ideas cometida  hacia 1961 años antes y pensó: ¿Hasta cuándo nos repetiremos?

El escribiente de  las actas del caluroso espectáculo se colocó cautelosamente en una posición apartada del fuego, que era alimentado por tres sirvientes de la  aduana sudorosa por el calor y por la energía de indignación que venía del pueblo que gritaba sus pareceres a aquella arremetida de inquisición.

En breve el humo de los fuegos se iba esparciendo en el aire, recordando a todos que era la hora de volver. No sin antes, muchos revisar en los escombros de la violencia  y cargar consigo páginas amarillentas, más salvadas del espíritu del fuego.

Verano del 2012, día 11 del mes de Marzo, Río de Janeiro, Brasil.

Al final de la tarde de un domingo soleado de fin de verano, pocas nubes en el cielo, la temperatura  excedía los 31 grados y la gente del lugar ya caminaba en dirección a los bares, playas y otras direcciones. 
El preludio era de una noche estrellada.

En una casa espirita de la ciudad, cerca de tres mujeres, equipadas  de sus autoridades  de bibliotecarias del local, son sus facciones impasibles, colocaban en una estantería de hierro  muchos libros romanceados donados por un colaborador. En los lugares de destaque y más accesibles de las estanterías, ellos fueron colocados en orden cronológico y adhesivos blancos con letras rojas fueron colocados señalizando los autores.  En la última estantería, casi en el suelo, traducciones  de aquellos libros quemados en España, se agrupaban  en buen estado, sin embargo polvorientos  y prodigados  por las miradas  de los que pasaban por allá. Y era como si hiciesen eco  en el local  de la constatación de que el fuego no consigue destruir ideas, más si el espíritu destruidor de la ignorancia del hombre puede apagarlas.

El Espíritu del Fuego solo habita en el carácter del hombre encarnado, que hace de él, el hierro que forzosamente formula convicciones.

Puede nuestro fuego interior quemar apenas la inercia, incongruencias, paradigmas  y falacias…

Que nuestro fuego espiritual siga encendido para iluminar mentes  y su calor sea acogedor y seguro.


Clique aqui para a versão em português.
Tradução: Mercedes Cruz

segunda-feira, 12 de março de 2012

O Espírito do Fogo


Por Riviane Damásio


Outono de 1861, dia 09 do mês de outubro, Barcelona, Espanha.

Meio da manhã de um dia claro, as paisagens estavam verdejantes e o clima tão ameno que mesmo oscilando nos altos e baixos do dia, não ultrapassava 27 graus e convidava a gente do lugar a mais um espetáculo de vida! O prenúncio era de felicidade cotidiana...


Numa praça da cidade, Praça de Quemadero, cerca de oito homens em seus diferentes papéis, cumpriam, com suas emoções quase imperceptíveis, ordens da autoridade religiosa local, que condenava ao fogo inquisidor, cerca de 300 livros que “renegavam” a fé vigente no poder e poderiam se intactos, disseminar suas idéias apócrifas pelo país. Os livros falavam de moral, de fé, de fenômenos espirituais, de ciência, de mediunidade, de uma nova doutrina (que segundo alguns, supostamente poderia virar a cabeça dos homens) e falavam de Deus.


O olhar do padre da comitiva queimou por alguns instantes os olhos de um homem dentre os muitos que o miravam daquela multidão enfurecida que assistia ao improvável espetáculo. O homem desviou o olhar do religioso e pousou na cruz que ele carregava em suas mãos e que sarcasticamente simbolizava outra queima de idéias cometida há 1861 anos antes e pensou: Até quando nos repetiremos?


O escrevente da ata do caloroso espetáculo se colocou cautelosamente numa posição afastada do fogo, que era alimentado por três serventes da alfândega suados pelo calor e pela energia de indignação que vinha do povo que gritava seus “abaixos” àquele arremedo de inquisição.


Aos poucos a fumaça dos fogões vai se espalhando no ar, lembrando a todos que já era hora de voltar. Não sem antes, muitos revirarem os escombros da violência e carregarem consigo páginas amarelecidas, mas salvas do espírito do fogo.


Verão de 2012, dia 11 do mês de Março, Rio de Janeiro, Brasil.


Final da tarde de um domingo ensolarado de fim de verão, poucas nuvens no céu, a temperatura não excedia os 31 graus e a gente do lugar já caminhava em direção aos bares, praias e outras direções. O prenúncio era de noite estrelada.


Numa casa espírita da cidade, cerca de três mulheres, munidas de suas autoridades de bibliotecárias do local, com suas feições impassíveis, arrumavam na estante de ferro muitos livros romanceados doados por um colaborador. Nos lugares de destaque e mais acessíveis das prateleiras, eles foram arrumados em ordem cronológica e adesivos brancos com letras vermelhas foram colados sinalizando os autores. Na última prateleira, quase no chão, traduções daqueles livros queimados na Espanha, se agrupavam em bom estado, mas empoeirados e poupados dos olhares dos que passavam por lá. E era como se ecoasse no local a constatação de que o fogo não consegue destruir idéias, mas o espírito destruidor da ignorância do homem pode abafá-las.


O Espírito do Fogo só habita no caráter do homem encarnado, que faz dele, o ferro que forçosamente formata convicções.


Possa nosso fogo interior queimar apenas a inércia, incongruências, paradigmas e falácias...


Que nosso fogo espiritual siga aceso para iluminar mentes e seu calor seja acolhedor e seguro.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Kardec - Defensor do Espiritismo

Ao longo de sua vida, Kardec teve de enfrentar inúmeros desafios, insultos e injúrias dirigidas tanto ao Espiritismo quanto à sua conduta pessoal como codificador da Doutrina. Os ataques, geralmente gratuitos ou movidos por interesses escusos, foram devidamente rebatidos por Kardec, principalmente nas páginas da Revista Espírita.

Por Eurípedes Kühl

Nosso objetivo aqui não é remoer o passado infeliz, mas sim pôr a descoberto para os espíritas de hoje como Kardec é para nós um modelo-defensor, a toda vez que o Espiritismo seja alvo de aleivosias que, infelizmente, ainda ocorrem com freqüência.

Será sempre útil conhecermos o amor puro que ele dedicou à Doutrina dos Espíritos e as lutas que teve que enfrentar em sua defesa.

Seu exemplo não pode, de maneira alguma, deixar de ser seguido sempre que idênticas ocasiões se apresentem para nós. Esse é um dever e mesmo um compromisso a que não deveremos jamais nos recusar ou omitir.

A data de nascimento do Espiritismo é a mesma da de Allan Kardec: 18 de abril de 1857. Certidão de ambos inexistem, em termos cartorários. Com efeito, ninguém jamais encontrará nos registros cíveis da França o nome de Allan Kardec, e entretanto esse personagem francês é bem conhecido pela história mundial.

Explica-se: em 3 de outubro de 1804, na cidade de Lyon (França), nasceu Hippolyte-Léon-Denizard Rivail, descendente de antiga família lionesa, católica, de nobres e dignas tradições. Ele se tornaria famoso por seus invulgares dotes morais e intelectuais, inteiramente voltados para a educação, como professor e tradutor, além de autor de inúmeras obras pedagógicas destinadas à instrução primária, secundária e até mesmo superior, algumas com aplicação até hoje na França.

Aos 50 anos de idade, o professor Hippolyte era membro efetivo de doze associações culturais francesas. Foi por essa época que teve a atenção voltada para os espetáculos públicos das chamadas “mesas girantes e dançantes” (mesas que se erguiam nos ares, desenhavam movimentos e respondiam, por pancadas, às perguntas dos circunstantes). Tais espetáculos eram então verdadeira epidemia no mundo.

Investigando o insólito fenômeno, seu cérebro privilegiado detectou que só por forças desconhecidas aquilo poderia acontecer: forças pensantes. Daí a atinar serem espíritos que, através de intermediação com encarnados, “davam vida e inteligência” à matéria, foi uma brilhante dedução, tão desapercebida à maioria das pessoas quanto simples, qual o “ovo de Colombo”.

DECIDIDO A “PÔR EM PRATOS LIMPOS” TAIS FENÔMENOS, valendo-se do invulgar tirocínio que abrilhantava sua mente e trilhando metodologia científica, não tardou a comprovar que os chamados “mortos” viviam além-túmulo. E mais, que esses tais, em circunstâncias naturais, com intermediação de encarnados (médiuns), podiam dialogar com aqueles que ainda não tinham ido para o reino “das sombras”.

A esse intercâmbio entre o plano material e o espiritual, denominou mediunidade. Descobriu logo que “do lado de lá” não existiam apenas “sombras”, bem ao contrário: de lá se originavam muitas luzes, permanentemente disponíveis àqueles que concedessem à razão uma chance de comprová-lo. Ele concedeu!

Num trabalho altamente didático, valendo-se de vários médiuns desconhecidos entre si, formulou centenas de perguntas “aos mortos” e deles obteve resposta para todas, paralelas no conteúdo, consentâneas com a lógica.

Com impecável pedagogia, garimpou esse farto material e catalogou-o em código, daí resultando as chamadas cinco “obras básicas”.

Não querendo comprometer a Doutrina dos Espíritos à sua já enaltecida carreira de homem público, houve por bem adotar o pseudônimo de Allan Kardec. Porém, ali se inaugurava um ciclo de grandes dificuldades para ele e esposa.

Em todos os campos da atividade humana, em todos os tempos, sempre ocorre de idéias novas não serem aceitas “a priori”, mas apenas após duros embates daqueles que as formulam, ou após a vida diplomá-las com o selo da verdade. O Espiritismo não ficou indene a tais investidas.

Mas, como não existe força no universo superior à “força da razão”, que será sempre vitoriosa nos embates contra aqueles que querem ter “razão à força”, também as multiplicadas críticas ao Espiritismo, eivadas de injúrias e controvérsias, não resistiram. Como jamais resistirão!

Allan Kardec codificou o Espiritismo e nele palmilhou por 12 anos. Foram anos difíceis, de permanentes ataques à nova ordem filosófica, bem como a ele próprio, “que não foi poupado, sequer, nos assuntos de sua vida pessoal, privada. Um escândalo que envolvesse dinheiro, riquezas, bem que serviria para ferir fundo os propósitos que o animavam, da implantação por tantos indesejada de uma Doutrina como a do Consolador prometido por Jesus. As acusações partiram de toda parte, de sacerdotes e de vários indivíduos e organizações (...) Houve até verdadeiros traidores, criaturas perturbadas e de intenções as mais sórdidas e torpes no movimento nascente, na própria Sociedade de Paris” (as notas foram extraídas da coleção Revista Espírita, 1858-69, e da obra Allan Kardec — Pesquisa Biobibliográfica e Ensaios de Interpretação, 11 Volume, de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen. Ed. FEB, 1973).

SENTINDO QUE O ALTO O CREDENCIARA para tão glorioso cometimento, Kardec manteve-se destemido, atento, “o capitão e o alferes”, como ele próprio o diria, uma vez, num desabafo.

Kardec rebateu às inúmeras ofensas ao Espiritismo (e a ele próprio), a todas, apelando sempre para o bom senso e para a lógica, clareando as mentes agressoras com o ensino dos Espíritos. Aqui, vamos apresentar de forma sintética apenas alguns desagravos, mostrando como a inteligência e a evolução espiritual do Codificador o tornaram inigualável defensor do Espiritismo.

Na Revista Espírita de dezembro de 1859, responde a um articulista que lançara o ridículo sobre a ação dos espíritos que giravam mesas, sobre a “nova doutrina” (o Espiritismo), bem como aos seus partidários dizendo-lhe:

“(..) parece que não amais as doutrinas; cada um com seu gosto; todo o mundo não gosta da mesma coisa: somente direi que não sei muito a qual papel intelectual o homem seria reduzido se, desde que está sobre a Terra, não tivesse doutrinas que, fazendo-o refletir, o tirasse do estado passivo da brutalidade”.

Ainda na mesma revista, Kardec assim respondeu a um sacerdote que, discorrendo sobre o Espiritismo por volta de 1859, dissera que há os que em nada crêem: “(..) é prudente não nos pronunciarmos com muita leviandade a respeito de coisas que não conhecemos”. Na Revista Espírita de 1860, Kardec se expressou: “(...) deixando aos nossos contraditores o triste privilégio das injúrias e das alusões ofensivas, não os seguiremos no terreno de uma controvérsia sem objetivo (...) Estudai primeiro e veremos em seguida. Temos outras coisas a fazer do que falar àqueles que não querem ouvir”.

Na Revista Espírita de dezembro de 1861, há a narração do tenebroso “Auto-de-fé de Barcelona” (Espanha), pelo qual, em 9 de outubro de 1861, justamente no local onde eram executados os criminosos condenados à pena de morte, a Inquisição espanhola, representada por um padre revestido dos trajes sacerdotais próprios para o ato, tendo numa das mãos uma cruz, e na outra uma tocha, queimou em praça pública centenas de livros espíritas, dentre os quais O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O que é o Espiritismo, todos de Allan Kardec; coleções da Revue Spiritualiste, redigida por Piérat; Fragmento de Sonata, ditado pelo espírito de Mozart ao médium Sr. Bryon-Dorgeval; Carta de um Católico Sobre o Espiritismo, pelo Dr. Grand, antigo vice-cônsul de França; História de Joana D’Arc, ditada por ela mesma a Srta. Ermance Dufaux, de 14 anos de idade; e por fim A Realidade dos Espíritos Demonstrada pela Escrita Direta, do barão de Guldenstubbé.

O século não mais comportava aquela cena tão bizarra quanto ridícula, mas a praça estava atravancada por uma multidão que a tudo assistia, espantada.

Para não nos alongarmos, apenas uma frase de Kardec sobre o assunto: “Se examinarmos este processo sob o ponto de vista de suas conseqüências, desde logo vemos que todos são unânimes em dizer que nada podia ter sido mais útil para o Espiritismo”.

E como foi! No mundo todo, mentes se agitaram e buscaram avidamente conhecer o conteúdo de tão “pernicioso material” destruído naquelas “chamas salvadoras”.

Na Revista Espírita de 1862, nas páginas 179/183, num artigo intitulado Eis Como Escrevem a História!, e sub intitulado Os Milhões de Allan Kardec, o mestre responde a um eclesiástico de grande cidade comercial (Lyon, provavelmente), o qual propalava existir uma fabulosa fortuna amealhada por Allan Kardec, mediante o Espiritismo. Chegava o padre V...ao disparate de dizer que Kardec pisava, em sua casa, os mais belos tapetes de Aubusson, tinha carruagem puxada por quatro cavalos e gastava principescamente em Paris. O padre dizia que toda a fortuna de Kardec vinha da Inglaterra (?), e que ele vendia caro os manuscritos de suas obras, cobrando ainda, sobre elas, uma percentagem. E outras coisas mais, absurdas, verdadeiras sandices.

Respondendo à história ultra-leviana dos “milhões” registrou Kardec: “(...) carruagem de quatro cavalos: minhas viagens, faço-as por trem; vida principesca: (...) minhas refeições são bem mais magras que a magra de certos dignitários da Igreja; venda de seus manuscritos: isto entra no domínio privado, onde não reconheço a quem quer que seja o direito de se imiscuir (...) se tivesse vendido meus manuscritos nada mais faria que usar do direito que todo trabalhador tem de vender o produto do seu trabalho: mas, não vendi nenhum: há mesmo os que dei pura e simplesmente no interesse da causa, e que vendem como querem sem que me caiba um soldo”.

Revela, ainda: “A primeira edição de O Livro dos Espíritos foi feita por minha conta e risco total, pois não encontrei editor que dela quisesse encarregar-se”. Na Revista Espírita de junho de 1863 encontramos dois ataques. O primeiro de um padre considerando que “nada mais é abjeto, mais degradante, mais vazias de fundo e de atrativo na forma do que essas publicações (espíritas)”, logo bradando o padre: “destruí-os, pois, com isso não perdereis nada. Com o dinheiro que se dispensa em Lyon por essas inépcias, ter-se-iam facilmente fundado alguns lugares a mais nos hospícios de alienados, atravancados depois da invasão do Espiritismo”. Em magistral resposta, eis Kardec, enérgico, mas pacificador: “Lede, e se isto vos convém, retomais a nós; fazemos mais, dizemos: lede o pró e o contra e comparai. Respondemos aos vossos ataques sem fel, sem animosidade, sem amargor, porque não temos cóleras”.

O SEGUNDO FOI UM TEXTO DE ANTIGO OFICIAL REFORMADO, ex-representante do povo na Assembléia Constituinte de 1848, que publicou em Argel uma brochura de calúnias, injúrias, invenções e ofensas pessoais, dirigidas ao Espiritismo e ao mestre lionês. Sobre a Revista Espírita, assacou: “Existe uma revista mensal espírita, publicada pelo Sr. Allan Kardec, coletânea indigesta que ultrapassa de longe as lendas maravilhosas da antiguidade e da Idade Média”.

Procurava o difamador provar que a finalidade do Espiritismo era uma gigantesca especulação. Para tanto, alinhavou uma série de cálculos absurdos de que resultaram, para Kardec, rendimentos fabulosos que “deixavam bem para trás os “milhões” com que certo padre de Lyon (item acima) generosamente o gratificara”.

Arrematou o indigitado oficial, expondo quantias absurdas coletadas por Kardec: “Se a Europa se deixar infestar, não será mais por milhões que a renda (do proprietário da Reme e soberano pontífice) se avaliará, mas sim por bilhões”.

Sem se abalar, Kardec demonstra que do balanço anual da Sociedade de Paris, apenas restaram 429 francos e 40 centavos, sendo que de tudo ali jamais fora cobrado algo a quem quer que fosse. E que, ao invés dos 3.000 membros, o número não chegava a 100, dos quais apenas alguns eram pagantes (voluntários); que o que ali se arrecadava era gerido por uma comissão de despesas, sem jamais qualquer valor passar pelas mãos do presidente (ele, Kardec).

Na Revista Espírita de junho de 1864, há a notícia de que a Sagrada Congregação do Index, da corte de Roma, voltara suas vistas às obras de Kardec sobre Espiritismo. Assinalou Kardec: “Se uma coisa surpreendeu os espíritas, é que tal decisão não tenha sido tomada mais cedo, sendo que essa medida da Igreja, uma das que já esperava, só traria bons efeitos, e, segundo notícias por ele recebidas, a maioria das livrarias se apressou em dar maior evidência às obras proibidas”.

Na Revista Espírita de 1869, lendo num jornal a frase “Na França o ridículo sempre mata”, faz várias considerações a respeito e arremata: “Na França, ridículo sempre mata o que é ridículo. Isto explica porque o ridículo, derramado em profusão sobre o Espiritismo, não matou”.

Há muito mais, porém o espaço e a própria valia não o aconselham. E também, apresentar outras diatribes... para quê?

Contudo, se algum pesquisador quiser se inteirar das incontáveis atribulações por que passou Allan Kardec, sendo ferozmente atacado por todo tipo de calúnia, há mais notas na obra já citada Allan Kardec - Pesquisa Biobibliográfica e Ensaios de Interpretação, ainda que a obra também não se alongue em tais disparates.

QUEM TIVER O CUIDADO DE PERCORRER A COLEÇÃO DA REVISTA ESPÍRITA se espantará diante de outros tantos absurdos e cruéis ataques desferidos contra Kardec, que a todos ripostou valente e doutrinariamente, esgrimindo sabedoria e amor, sobretudo.

A certa altura da sua vida, ele disse, na Revista Espírita de 1865, na página 163: “(...) jamais pedi nada a ninguém, ninguém jamais me deu algo para mim pessoalmente; nenhuma coleta de um ‘ceitil sequer’ veio prover minhas necessidades; numa palavra, não vivo a expensas de ninguém, pois, quanto às quantias que voluntariamente me foram confiadas no interesse do Espiritismo, nenhuma parcela foi desviada em meu proveito. (...) O Espiritismo foi a obra de minha vida. Dei-lhe todo o meu tempo, sacrifiquei-lhe meu repouso, minha saúde, porque diante de mim o futuro estava escrito em caracteres irrecusáveis. Eu o fiz de motu próprio, e minha mulher, que não é nem mais ambiciosa nem mais interessada do que eu, aderiu plenamente aos meus intentos e me secundou na minha laboriosa tarefa”.

Amélie Gabrielle Boudet (1795-1883), esposa de Kardec, nos 40 anos em que esteve com Kardec e mesmo após a morte do marido, nos 14 anos em que esteve encarnada prosseguiu corajosamente sustentando “a obra Espiritismo”, em todas as frentes de trabalho, particularmente na publicação da Revue Spirite.

Nós, os espíritas do mundo todo, muito devemos a ela! E apenas como breve registro, vejam a barbaridade perpetrada contra a viúva de Allan Kardec, já bem idosa: teve de enfrentar a tempestade de um processo contra a Revista Espírita, devido Pierre-Gaëtan Leymarie (editor das obras de Kardec) ter acolhido o trabalho de um fotógrafo, que dizia produzir fotografias transcendentais, ou seja, ao fotografar uma pessoa, parentes e amigos desencarnados do fotografado apareciam na foto.

O fotógrafo fez um acordo com o juiz, assinou uma confissão de fraude, escapando assim da prisão. Contudo, Leymarie foi condenado e cumpriu um ano de prisão na Penitenciária de Paris.

Intimada como testemunha, a velha senhora foi desrespeitada pelo juiz, aviltando a memória de Allan Kardec, o que provocou viva reação da viúva do Codificador, exigindo respeito à memória de seu esposo.

Sendo o Espiritismo verdadeira bússola para nossas rotas e farol a dissipar as brumas dos nossos limites, relembrando das lutas íntimas e das defesas intransigentes daquele que o codificou, certamente nosso coração, de par com a mente, estará murmurando: Kardec, Kardec, Deus lhe pague!

Notas: (Extraído da revista Espiritismo e Ciência número 20, páginas 14-20)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Auto de Fé em Barcelona


A Espanha foi praticamente o último foco de resistência da Inquisição Católica. Quando já na segunda metade do século XIX, os tribunais do Santo Ofício não mais podiam condenar as pessoas ao suplício das fogueiras, buscou-se ao menos utilizá-las para que consumissem as idéias libertadoras surgidas naqueles tempos.

Em 1861, o livreiro francês Maurício Lachâtre que a essa época residia em Barcelona, solicitou a seu compatriota Allan Kardec - o codificador do Espiritismo -, o envio de certo número de obras espíritas para venda e divulgação naquela cidade. Kardec lhe enviara cerca de 300 volumes, entre livros e brochuras de conteúdo espírita ou mediúnico.

O material solicitado chegara à Espanha dentro da mais completa legalidade, e seu destinatário pagara à alfândega todos os direitos de entrada para que lhe entregassem sua encomenda, porém, antes que o Sr. Lachâtre pudesse recebê-la, fora entregue uma relação das obras ao bispo de Barcelona porque na Espanha a autoridade eclesiástica ainda mantinha o poder de policiar e censurar as obras escritas que entravam no país.

Ao retornar de Madri e tomando conhecimento da relação dos livros, o bispo ordenou que os mesmos fossem apreendidos e queimados em praça pública pela mão do carrasco. A execução da sentença foi marcada para 9 de outubro de 1861. “A Igreja Católica é universal, e sendo esses livros contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles passem a perverter a moral e a religião de outros países”. Essas foram as justificativas do bispo para manter sua arbitrária decisão, uma vez que por intermédio do cônsul francês em Barcelona Kardec havia reclamado que as obras lhe fossem devolvidas já que não eram bem-vindas na Espanha.

Em consulta a seu guia espiritual Kardec obteve as seguintes respostas:

Pergunta (à Verdade) _ Não ignorais, sem dúvida, o que acaba de passar-se em Barcelona, com algumas obras espíritas. Quererás ter a bondade de dizer-me se convirá prosseguir na reclamação para restituição delas?

Resposta – Por direito, pode reclamá-las e conseguirias que te fossem restituídas, se te dirigisses ao Ministro de Estrangeiros da França. Mas, ao meu parecer, desse auto-de-fé resultará maior bem do que o que adviria da leitura de alguns volumes. A perda material nada é, a par da repercussão que semelhante fato produzirá em favor da Doutrina.

As considerações do Espírito Verdade prosseguem, contudo passemos à segunda indagação do codificador tendo em vista não nos alongarmos em demasia nesse artigo.

P. _ Convirá que eu escreva a respeito um artigo para o próximo número da Revista? (a Revista Espírita)
R. _Espera o auto-de-fé.

O Registro da História

“Aos nove dias de outubro de mil oitocentos e sessenta e um, às dez horas e meia da manhã, na esplanada da cidade de Barcelona, no lugar em que são executados os criminosos condenados à pena última, por ordem do bispo dessa cidade foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber:

A Revista Espírita, diretor Allan Kardec, A Revista Espiritualista, diretor, Piérart, O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec, O Livro dos Médiuns pelo mesmo, O que é o Espiritismo pelo mesmo, Fragmento de Sonata, ditado pelo Espírito de Mozart, carta de um católico sobre o Espiritismo, pelo Doutor Grand, A História de Joana d’ Arc por ela mesma, ditada a Mile. Ermance Dufaux, e A Realidade dos Espíritos Demonstrada pela Escrita Direta, pelo Barão de Guidenstubbé."

“Uma multidão incalculável aglomerava-se nos passeios, e cobria a esplanada em que ardia a fogueira. Quando o fogo consumiu os trezentos volumes e brochuras espíritas, o padre e os seus ajudantes se retiraram cobertos pelos apupos e as maldições dos numerosos assistentes, que gritavam: Abaixo a Inquisição! Em seguida muitas pessoas se acercaram da fogueira e apanharam cinzas”.

O registro histórico mostra que de fato as idéias espíritas foram bastante propagadas na Espanha após o auto-de-fé em Barcelona.

É evidente que nos dias de hoje a Igreja Católica tem uma posição menos radical com relação a outras religiões. Os homens muitas vezes por seus interesses escusos, ignorância, ou mesmo por simples má vontade, conseguem retardar o progresso da humanidade, todavia, jamais poderão tolher-lhe a marcha, porque Jesus permanece firme no comando da Terra.

Nos tempos de maior atividade da Inquisição, o auto-de-fé era na verdade a cerimônia no qual os acusados pelo Santo Ofício tinham a derradeira oportunidade de se arrependerem. Os que tinham a condenação confirmada saiam da jurisdição eclesiástica e passavam à justiça comum, que promovia as execuções. Nota do autor.

Fonte: Recanto das Letras