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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Curta resposta aos detratores do Espiritismo


Por Allan Kardec

O direito de exame e de crítica é um direito imprescritível, ao qual o Espiritismo não tem a pretensão de se subtrair, como não tem a de satisfazer todo o mundo. Cada um, pois, está livre para aprová-lo ou rejeitá-lo; mas ainda seria necessário discuti-lo com conhecimento de causa; ora, a crítica não tem senão, muito freqüentemente, provado a sua ignorância de seus princípios mais elementares, fazendo-lhe dizer precisamente ao contrário do que ele diz, atribuindo-lhe o que nega, confundindo-o com as imitações grosseiras e burlescas do charlatanismo, dando, enfim, como a regra de todos, as excentricidades de alguns indivíduos. Muito freqüentemente, também, a malevolência quis torná-lo responsável por atos repreensíveis ou ridículos, onde seu nome foi misturado incidentemente, e disso faz uma arma contra ele.

Antes de imputar a uma doutrina a incitação a um ato repreensível qualquer, a razão e a eqüidade querem que se examine se essa doutrina contém as máximas próprias para justificarem esse ato.

Para conhecer a parte de responsabilidade que incumbe ao Espiritismo numa dada circunstância, há um meio muito simples, que é o de inquirir de boa fé, não entre os adversários, mas na própria fonte, o que ele aprova e o que ele condena. A coisa é tanto mais fácil que nada tem de secreto; seus ensinos são públicos, e cada um pode controlá-los.

Se, pois, os livros da Doutrina Espírita condenam de maneira explícita e formal um ato justamente reprovado; se não encerram, ao contrário, senão instruções de natureza a levar ao bem, é que o indivíduo culpado da má ação nele não hauriu suas inspirações, tivesse mesmo esses livros em seu poder.

O Espiritismo não é mais solidário com aqueles que se comprazem em dizer-se espíritas, do que a medicina não o é com os charlatães que a exploram, nem a sã religião com os abusos, ou mesmo crimes, cometidos em seu nome. Não reconhece por seus adeptos senão aqueles que colocam em prática os seus ensinos, quer dizer, que trabalham para o seu próprio adiantamento moral, esforçando-se por vencer as suas más inclinações, serem menos egoístas e menos orgulhosos, mais dóceis, mais humildes, mais pacientes, mais benevolentes, mais caridosos para com o próximo, mais moderados em todas as coisas, porque são os sinais característicos do verdadeiro espírita.

O objeto desta curta notícia não é o de refutar todas as falsas alegações dirigidas contra o Espiritismo, nem de desenvolvê-lo ou provar-lhe todos os princípios, e ainda menos procurar converter, às suas idéias, aqueles que professam opiniões contrárias, mas de dizer, em algumas palavras, o que é e o que não é, o que admite e o que reprova.

Suas crenças, suas tendências e seu objetivo se resumem nas proposições seguintes:

O elemento espiritual e o elemento material são os dois princípios, as duas forças vivas da Natureza se completando uma pela outra, e reagindo incessantemente uma sobre a outra, ambas indispensáveis ao funcionamento do mecanismo do Universo.

Da ação recíproca desses dois princípios nascem fenômenos que, cada um deles, isoladamente é incapaz de se explicar.

A ciência, propriamente dita, tem por missão especial o estudo das leis da matéria.

O Espiritismo tem por objeto o estudo do elemento espiritual em suas relações com o elemento material, e encontra, na união desses dois princípios, a razão de uma multidão de fatos até então inexplicados.

O Espiritismo caminha de acordo com a ciência no terreno da matéria: admite todas as verdades que ela constata; mas onde se detêm as investigações desta, prossegue as suas no terreno da espiritualidade.

Sendo o elemento espiritual um estado ativo da Natureza, os fenômenos que se ligam a ele estão submetido a leis, e, por isso mesmo, tão naturais quanto aqueles que têm sua fonte na matéria neutra.

Certos fenômenos foram reputados sobrenaturais pela ignorância das leis que os regem. Em conseqüência desse princípio, o Espiritismo não admite o caráter maravilhoso atribuído a certos fatos, de tudo constatando a realidade ou a possibilidade. Para ele não há milagre, enquanto derrogação das leis naturais; de onde se segue que os espíritas não fazem, milagres, e que a qualificação de taumaturgos, que alguns lhe dão, é imprópria.

O conhecimento das leis que regem o princípio espiritual, se liga, de maneira direta, à questão do passado e do futuro do homem. Sua vida é limitada à existência atual? Entrando neste mundo, saiu do nada, e em que se torna deixando-o? Já viveu e viverá ainda? Como viverá e em que condições? Em uma palavra, de onde vem e para onde vai? Por que está sobre a Terra e por que nela sofre? Tais são as perguntas que cada um se coloca, porque são para todos de um interesse capital, e que nenhuma doutrina não lhe deu ainda solução racional. A que o Espiritismo lhe dá, se apóia sobre fatos, satisfazendo às exigências da lógica e da justiça mais rigorosa, é uma das principais causas da rapidez de sua propagação.

O Espiritismo não é nem uma concepção pessoal, nem o resultado de um sistema preconcebido. É a resultante de milhares de observações feitas em todos os pontos do globo, e que convergiram para o centro que as coligiu e coordenou. Todos esses princípios constituintes, sem exceção, são deduzidos da experiência. A experiência sempre precedeu a teoria.

O Espiritismo encontrou, assim, desde o início, raízes por toda a parte; a história não oferece nenhum exemplo de uma doutrina filosófica ou religiosa que haja, em dez anos, reunido um tão grande número de adeptos; entretanto não empregou, para se fazer conhecer, nenhum dos meios vulgarmente em uso; propaga-se por si mesmo, pelas simpatias que encontrou.

Um fato não menos constante é que, em nenhum país, a Doutrina não nasceu na camada baixa da sociedade; por toda a parte, ela se propagou de alto a baixo da escala social; é nas classes esclarecidas que está ainda quase exclusivamente difundida, e as pessoas iletradas nela estão em ínfima minoria.

Está ainda averiguado que a propagação do Espiritismo seguiu, desde a origem, uma marcha constantemente ascendente, apesar de tudo o que se fez para entravá-la e desnaturar-lhe o caráter, tendo em vista desacreditá-lo na opinião pública. Há mesmo a se anotar que, tudo o que se fez com esse objetivo, favoreceu-lhe a difusão; o ruído que se fez a seu propósito levou-o ao conhecimento de pessoas que dele jamais ouviram falar; quanto mais o difamaram ou ridicularizaram, mais as invectivas foram violentas, mais estimulou a curiosidade; e como não pode senão ganhar ao exame, disso resultou que os seus adversários dele se fizeram, sem o querer, os ardentes propagadores; se as diatribes não lhe trouxeram nenhum prejuízo, foi porque estudando-o em sua fonte verdadeira, o encontraram diferente do que havia sido representado.

Nas lutas que teve de sustentar, as pessoas imparciais se deram conta de sua moderação; jamais usou de represálias contra os seus adversários, nem restituiu injúria por injúria.

O Espiritismo é uma doutrina filosófica que tem conseqüências religiosas, como toda doutrina espiritualista; por isso mesmo toca forçosamente às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura; mas não é, uma religião constituída, tendo em vista que não tem nem culto, nem rito, nem templo, e que, entre os seus adeptos, nenhum tomou ou recebeu o título de sacerdote ou de sumo-sacerdote. Essas qualificações são pura invenção da crítica.

É-se espírita somente porque se simpatiza com os princípios da doutrina, e que com ela se conforma a sua conduta. É uma opinião como uma outra, que cada um deve ter o direito de professar, como se tem o de ser judeu, católico, protestante, fourieísta, sansimonista, voltairiano, cartesiano, deísta e mesmo materialista.

O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como um direito natural: reclama-a para os seus, como para todo o mundo. Respeita todas as convicções sinceras, e pede para si a reciprocidade.

Da liberdade de consciência decorre o direito de livre exame em matéria de fé. O Espiritismo combate o princípio da fé cega, como impondo ao homem a abdicação de seu próprio julgamento; diz que toda fé imposta é sem fundamento. Por isso inscreveu, entre as suas máximas: "Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade."

Conseqüente com os seus princípios, o Espiritismo não se impõe a ninguém; quer ser aceito livremente e por convicção. Expõe suas doutrinas e recebe aqueles que vêm a ele voluntariamente.

Não procura desviar ninguém de suas convicções religiosas; não se dirige àqueles que têm uma fé, e a quem essa fé basta, mas àqueles que, não estando satisfeitos com aquilo que se lhe deu, procuram alguma coisa melhor.

Fonte: Obras Póstumas

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O Corpo Fluídico de Jesus

Por Maria das Graças Cabral

Interessante a palestra de Sérgio Aleixo, que fala sobre o corpo físico de Jesus e o seu desaparecimento do túmulo, segundo relatam os evangelhos cristãos - e como Kardec trata racionalmente do tema. Importante a abordagem do assunto, pois Roustaing na condição de grande opositor do Codificador da Doutrina Espírita, defende a tese de que Jesus teria um corpo fluídico diferenciado dos humanos encarnados no planeta Terra. Tese esta, defendida e acatada por inúmeros espíritas.

No que concerne ao confronto de Roustaing aos preceitos espíritas codificados pelo Mestre Lionês, faz-se por oportuno ressaltar, que todo o trabalho de sistematização dos Ensinamentos Espíritas, feito por Kardec, foi de forma efetiva supervisionado  e aprovado pelo Espírito da Verdade, que não deixava passar nada que não estivesse de pleno acordo com os propósitos e objetivos da Espiritualidade Superior.

Entretanto, o que mais nos espanta e preocupa, é que a Federação Espírita Brasileira, que se auto intitula "A Casa Mater" do Espiritismo, acolhe e defende as obras de Roustaing, reconhecidamente um dos grandes opositores de Kardec, desde de que este ainda estava encarnado!

Daí vem a indagação: - Como esta Federação pode ser considerada "Casa Mater" do Espiritismo? De que Espiritismo ela se considera representante?!

Na realidade, precisamos na condição de Espíritas, estar cada vez mais atentos às obras "validadas" pela FEB, pois são inúmeras as que deturpam e corrompem os preceitos doutrinários positivados nas Obras Fundamentais da  Doutrina dos Espíritos, além de ser a maior "exportadora" de tais obras para o mundo afora!

Observemos que, como assevera Sérgio Aleixo, até mesmo as traduções das obras fundamentais, apresentam deturpações preocupantes, valendo conferir o texto publicado neste Blog, intitulado "Tradutor, Traidor", de autoria do referido palestrante, e que assim mesmo vêm sendo publicadas sem nenhum critério de avaliação e/ou esclarecimento por parte da FEB.

Portanto, precisamos urgentemente mais e mais estudar Kardec, preocupados com a "fonte", e com o "tradutor", para que possamos identificar e denunciar as deturpações que destroem os princípios Espíritas, para que assim, as próximas gerações possam conhecer com fidelidade os ensinamentos libertadores e consoladores trazidos pelos Espíritos Superiores da Codificação Espírita!  

Assista ao vídeo de Sérgio Aleixo sobre o corpo fluídico de Jesus:

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Kardec - Defensor do Espiritismo

Ao longo de sua vida, Kardec teve de enfrentar inúmeros desafios, insultos e injúrias dirigidas tanto ao Espiritismo quanto à sua conduta pessoal como codificador da Doutrina. Os ataques, geralmente gratuitos ou movidos por interesses escusos, foram devidamente rebatidos por Kardec, principalmente nas páginas da Revista Espírita.

Por Eurípedes Kühl

Nosso objetivo aqui não é remoer o passado infeliz, mas sim pôr a descoberto para os espíritas de hoje como Kardec é para nós um modelo-defensor, a toda vez que o Espiritismo seja alvo de aleivosias que, infelizmente, ainda ocorrem com freqüência.

Será sempre útil conhecermos o amor puro que ele dedicou à Doutrina dos Espíritos e as lutas que teve que enfrentar em sua defesa.

Seu exemplo não pode, de maneira alguma, deixar de ser seguido sempre que idênticas ocasiões se apresentem para nós. Esse é um dever e mesmo um compromisso a que não deveremos jamais nos recusar ou omitir.

A data de nascimento do Espiritismo é a mesma da de Allan Kardec: 18 de abril de 1857. Certidão de ambos inexistem, em termos cartorários. Com efeito, ninguém jamais encontrará nos registros cíveis da França o nome de Allan Kardec, e entretanto esse personagem francês é bem conhecido pela história mundial.

Explica-se: em 3 de outubro de 1804, na cidade de Lyon (França), nasceu Hippolyte-Léon-Denizard Rivail, descendente de antiga família lionesa, católica, de nobres e dignas tradições. Ele se tornaria famoso por seus invulgares dotes morais e intelectuais, inteiramente voltados para a educação, como professor e tradutor, além de autor de inúmeras obras pedagógicas destinadas à instrução primária, secundária e até mesmo superior, algumas com aplicação até hoje na França.

Aos 50 anos de idade, o professor Hippolyte era membro efetivo de doze associações culturais francesas. Foi por essa época que teve a atenção voltada para os espetáculos públicos das chamadas “mesas girantes e dançantes” (mesas que se erguiam nos ares, desenhavam movimentos e respondiam, por pancadas, às perguntas dos circunstantes). Tais espetáculos eram então verdadeira epidemia no mundo.

Investigando o insólito fenômeno, seu cérebro privilegiado detectou que só por forças desconhecidas aquilo poderia acontecer: forças pensantes. Daí a atinar serem espíritos que, através de intermediação com encarnados, “davam vida e inteligência” à matéria, foi uma brilhante dedução, tão desapercebida à maioria das pessoas quanto simples, qual o “ovo de Colombo”.

DECIDIDO A “PÔR EM PRATOS LIMPOS” TAIS FENÔMENOS, valendo-se do invulgar tirocínio que abrilhantava sua mente e trilhando metodologia científica, não tardou a comprovar que os chamados “mortos” viviam além-túmulo. E mais, que esses tais, em circunstâncias naturais, com intermediação de encarnados (médiuns), podiam dialogar com aqueles que ainda não tinham ido para o reino “das sombras”.

A esse intercâmbio entre o plano material e o espiritual, denominou mediunidade. Descobriu logo que “do lado de lá” não existiam apenas “sombras”, bem ao contrário: de lá se originavam muitas luzes, permanentemente disponíveis àqueles que concedessem à razão uma chance de comprová-lo. Ele concedeu!

Num trabalho altamente didático, valendo-se de vários médiuns desconhecidos entre si, formulou centenas de perguntas “aos mortos” e deles obteve resposta para todas, paralelas no conteúdo, consentâneas com a lógica.

Com impecável pedagogia, garimpou esse farto material e catalogou-o em código, daí resultando as chamadas cinco “obras básicas”.

Não querendo comprometer a Doutrina dos Espíritos à sua já enaltecida carreira de homem público, houve por bem adotar o pseudônimo de Allan Kardec. Porém, ali se inaugurava um ciclo de grandes dificuldades para ele e esposa.

Em todos os campos da atividade humana, em todos os tempos, sempre ocorre de idéias novas não serem aceitas “a priori”, mas apenas após duros embates daqueles que as formulam, ou após a vida diplomá-las com o selo da verdade. O Espiritismo não ficou indene a tais investidas.

Mas, como não existe força no universo superior à “força da razão”, que será sempre vitoriosa nos embates contra aqueles que querem ter “razão à força”, também as multiplicadas críticas ao Espiritismo, eivadas de injúrias e controvérsias, não resistiram. Como jamais resistirão!

Allan Kardec codificou o Espiritismo e nele palmilhou por 12 anos. Foram anos difíceis, de permanentes ataques à nova ordem filosófica, bem como a ele próprio, “que não foi poupado, sequer, nos assuntos de sua vida pessoal, privada. Um escândalo que envolvesse dinheiro, riquezas, bem que serviria para ferir fundo os propósitos que o animavam, da implantação por tantos indesejada de uma Doutrina como a do Consolador prometido por Jesus. As acusações partiram de toda parte, de sacerdotes e de vários indivíduos e organizações (...) Houve até verdadeiros traidores, criaturas perturbadas e de intenções as mais sórdidas e torpes no movimento nascente, na própria Sociedade de Paris” (as notas foram extraídas da coleção Revista Espírita, 1858-69, e da obra Allan Kardec — Pesquisa Biobibliográfica e Ensaios de Interpretação, 11 Volume, de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen. Ed. FEB, 1973).

SENTINDO QUE O ALTO O CREDENCIARA para tão glorioso cometimento, Kardec manteve-se destemido, atento, “o capitão e o alferes”, como ele próprio o diria, uma vez, num desabafo.

Kardec rebateu às inúmeras ofensas ao Espiritismo (e a ele próprio), a todas, apelando sempre para o bom senso e para a lógica, clareando as mentes agressoras com o ensino dos Espíritos. Aqui, vamos apresentar de forma sintética apenas alguns desagravos, mostrando como a inteligência e a evolução espiritual do Codificador o tornaram inigualável defensor do Espiritismo.

Na Revista Espírita de dezembro de 1859, responde a um articulista que lançara o ridículo sobre a ação dos espíritos que giravam mesas, sobre a “nova doutrina” (o Espiritismo), bem como aos seus partidários dizendo-lhe:

“(..) parece que não amais as doutrinas; cada um com seu gosto; todo o mundo não gosta da mesma coisa: somente direi que não sei muito a qual papel intelectual o homem seria reduzido se, desde que está sobre a Terra, não tivesse doutrinas que, fazendo-o refletir, o tirasse do estado passivo da brutalidade”.

Ainda na mesma revista, Kardec assim respondeu a um sacerdote que, discorrendo sobre o Espiritismo por volta de 1859, dissera que há os que em nada crêem: “(..) é prudente não nos pronunciarmos com muita leviandade a respeito de coisas que não conhecemos”. Na Revista Espírita de 1860, Kardec se expressou: “(...) deixando aos nossos contraditores o triste privilégio das injúrias e das alusões ofensivas, não os seguiremos no terreno de uma controvérsia sem objetivo (...) Estudai primeiro e veremos em seguida. Temos outras coisas a fazer do que falar àqueles que não querem ouvir”.

Na Revista Espírita de dezembro de 1861, há a narração do tenebroso “Auto-de-fé de Barcelona” (Espanha), pelo qual, em 9 de outubro de 1861, justamente no local onde eram executados os criminosos condenados à pena de morte, a Inquisição espanhola, representada por um padre revestido dos trajes sacerdotais próprios para o ato, tendo numa das mãos uma cruz, e na outra uma tocha, queimou em praça pública centenas de livros espíritas, dentre os quais O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O que é o Espiritismo, todos de Allan Kardec; coleções da Revue Spiritualiste, redigida por Piérat; Fragmento de Sonata, ditado pelo espírito de Mozart ao médium Sr. Bryon-Dorgeval; Carta de um Católico Sobre o Espiritismo, pelo Dr. Grand, antigo vice-cônsul de França; História de Joana D’Arc, ditada por ela mesma a Srta. Ermance Dufaux, de 14 anos de idade; e por fim A Realidade dos Espíritos Demonstrada pela Escrita Direta, do barão de Guldenstubbé.

O século não mais comportava aquela cena tão bizarra quanto ridícula, mas a praça estava atravancada por uma multidão que a tudo assistia, espantada.

Para não nos alongarmos, apenas uma frase de Kardec sobre o assunto: “Se examinarmos este processo sob o ponto de vista de suas conseqüências, desde logo vemos que todos são unânimes em dizer que nada podia ter sido mais útil para o Espiritismo”.

E como foi! No mundo todo, mentes se agitaram e buscaram avidamente conhecer o conteúdo de tão “pernicioso material” destruído naquelas “chamas salvadoras”.

Na Revista Espírita de 1862, nas páginas 179/183, num artigo intitulado Eis Como Escrevem a História!, e sub intitulado Os Milhões de Allan Kardec, o mestre responde a um eclesiástico de grande cidade comercial (Lyon, provavelmente), o qual propalava existir uma fabulosa fortuna amealhada por Allan Kardec, mediante o Espiritismo. Chegava o padre V...ao disparate de dizer que Kardec pisava, em sua casa, os mais belos tapetes de Aubusson, tinha carruagem puxada por quatro cavalos e gastava principescamente em Paris. O padre dizia que toda a fortuna de Kardec vinha da Inglaterra (?), e que ele vendia caro os manuscritos de suas obras, cobrando ainda, sobre elas, uma percentagem. E outras coisas mais, absurdas, verdadeiras sandices.

Respondendo à história ultra-leviana dos “milhões” registrou Kardec: “(...) carruagem de quatro cavalos: minhas viagens, faço-as por trem; vida principesca: (...) minhas refeições são bem mais magras que a magra de certos dignitários da Igreja; venda de seus manuscritos: isto entra no domínio privado, onde não reconheço a quem quer que seja o direito de se imiscuir (...) se tivesse vendido meus manuscritos nada mais faria que usar do direito que todo trabalhador tem de vender o produto do seu trabalho: mas, não vendi nenhum: há mesmo os que dei pura e simplesmente no interesse da causa, e que vendem como querem sem que me caiba um soldo”.

Revela, ainda: “A primeira edição de O Livro dos Espíritos foi feita por minha conta e risco total, pois não encontrei editor que dela quisesse encarregar-se”. Na Revista Espírita de junho de 1863 encontramos dois ataques. O primeiro de um padre considerando que “nada mais é abjeto, mais degradante, mais vazias de fundo e de atrativo na forma do que essas publicações (espíritas)”, logo bradando o padre: “destruí-os, pois, com isso não perdereis nada. Com o dinheiro que se dispensa em Lyon por essas inépcias, ter-se-iam facilmente fundado alguns lugares a mais nos hospícios de alienados, atravancados depois da invasão do Espiritismo”. Em magistral resposta, eis Kardec, enérgico, mas pacificador: “Lede, e se isto vos convém, retomais a nós; fazemos mais, dizemos: lede o pró e o contra e comparai. Respondemos aos vossos ataques sem fel, sem animosidade, sem amargor, porque não temos cóleras”.

O SEGUNDO FOI UM TEXTO DE ANTIGO OFICIAL REFORMADO, ex-representante do povo na Assembléia Constituinte de 1848, que publicou em Argel uma brochura de calúnias, injúrias, invenções e ofensas pessoais, dirigidas ao Espiritismo e ao mestre lionês. Sobre a Revista Espírita, assacou: “Existe uma revista mensal espírita, publicada pelo Sr. Allan Kardec, coletânea indigesta que ultrapassa de longe as lendas maravilhosas da antiguidade e da Idade Média”.

Procurava o difamador provar que a finalidade do Espiritismo era uma gigantesca especulação. Para tanto, alinhavou uma série de cálculos absurdos de que resultaram, para Kardec, rendimentos fabulosos que “deixavam bem para trás os “milhões” com que certo padre de Lyon (item acima) generosamente o gratificara”.

Arrematou o indigitado oficial, expondo quantias absurdas coletadas por Kardec: “Se a Europa se deixar infestar, não será mais por milhões que a renda (do proprietário da Reme e soberano pontífice) se avaliará, mas sim por bilhões”.

Sem se abalar, Kardec demonstra que do balanço anual da Sociedade de Paris, apenas restaram 429 francos e 40 centavos, sendo que de tudo ali jamais fora cobrado algo a quem quer que fosse. E que, ao invés dos 3.000 membros, o número não chegava a 100, dos quais apenas alguns eram pagantes (voluntários); que o que ali se arrecadava era gerido por uma comissão de despesas, sem jamais qualquer valor passar pelas mãos do presidente (ele, Kardec).

Na Revista Espírita de junho de 1864, há a notícia de que a Sagrada Congregação do Index, da corte de Roma, voltara suas vistas às obras de Kardec sobre Espiritismo. Assinalou Kardec: “Se uma coisa surpreendeu os espíritas, é que tal decisão não tenha sido tomada mais cedo, sendo que essa medida da Igreja, uma das que já esperava, só traria bons efeitos, e, segundo notícias por ele recebidas, a maioria das livrarias se apressou em dar maior evidência às obras proibidas”.

Na Revista Espírita de 1869, lendo num jornal a frase “Na França o ridículo sempre mata”, faz várias considerações a respeito e arremata: “Na França, ridículo sempre mata o que é ridículo. Isto explica porque o ridículo, derramado em profusão sobre o Espiritismo, não matou”.

Há muito mais, porém o espaço e a própria valia não o aconselham. E também, apresentar outras diatribes... para quê?

Contudo, se algum pesquisador quiser se inteirar das incontáveis atribulações por que passou Allan Kardec, sendo ferozmente atacado por todo tipo de calúnia, há mais notas na obra já citada Allan Kardec - Pesquisa Biobibliográfica e Ensaios de Interpretação, ainda que a obra também não se alongue em tais disparates.

QUEM TIVER O CUIDADO DE PERCORRER A COLEÇÃO DA REVISTA ESPÍRITA se espantará diante de outros tantos absurdos e cruéis ataques desferidos contra Kardec, que a todos ripostou valente e doutrinariamente, esgrimindo sabedoria e amor, sobretudo.

A certa altura da sua vida, ele disse, na Revista Espírita de 1865, na página 163: “(...) jamais pedi nada a ninguém, ninguém jamais me deu algo para mim pessoalmente; nenhuma coleta de um ‘ceitil sequer’ veio prover minhas necessidades; numa palavra, não vivo a expensas de ninguém, pois, quanto às quantias que voluntariamente me foram confiadas no interesse do Espiritismo, nenhuma parcela foi desviada em meu proveito. (...) O Espiritismo foi a obra de minha vida. Dei-lhe todo o meu tempo, sacrifiquei-lhe meu repouso, minha saúde, porque diante de mim o futuro estava escrito em caracteres irrecusáveis. Eu o fiz de motu próprio, e minha mulher, que não é nem mais ambiciosa nem mais interessada do que eu, aderiu plenamente aos meus intentos e me secundou na minha laboriosa tarefa”.

Amélie Gabrielle Boudet (1795-1883), esposa de Kardec, nos 40 anos em que esteve com Kardec e mesmo após a morte do marido, nos 14 anos em que esteve encarnada prosseguiu corajosamente sustentando “a obra Espiritismo”, em todas as frentes de trabalho, particularmente na publicação da Revue Spirite.

Nós, os espíritas do mundo todo, muito devemos a ela! E apenas como breve registro, vejam a barbaridade perpetrada contra a viúva de Allan Kardec, já bem idosa: teve de enfrentar a tempestade de um processo contra a Revista Espírita, devido Pierre-Gaëtan Leymarie (editor das obras de Kardec) ter acolhido o trabalho de um fotógrafo, que dizia produzir fotografias transcendentais, ou seja, ao fotografar uma pessoa, parentes e amigos desencarnados do fotografado apareciam na foto.

O fotógrafo fez um acordo com o juiz, assinou uma confissão de fraude, escapando assim da prisão. Contudo, Leymarie foi condenado e cumpriu um ano de prisão na Penitenciária de Paris.

Intimada como testemunha, a velha senhora foi desrespeitada pelo juiz, aviltando a memória de Allan Kardec, o que provocou viva reação da viúva do Codificador, exigindo respeito à memória de seu esposo.

Sendo o Espiritismo verdadeira bússola para nossas rotas e farol a dissipar as brumas dos nossos limites, relembrando das lutas íntimas e das defesas intransigentes daquele que o codificou, certamente nosso coração, de par com a mente, estará murmurando: Kardec, Kardec, Deus lhe pague!

Notas: (Extraído da revista Espiritismo e Ciência número 20, páginas 14-20)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Espiritismo Segue Crescendo, Vencendo Os Desafios!

Por José Francisco Costa Rebouças

O verdadeiro seguidor do Espiritismo não tem que se preocupar com os ataques dos pseudo-religiosos, que espalham a todo o vapor as inverdades, difamações, e falsas teorias das quais o espiritismo jamais se utilizou, isto porque, a cada dia as verdades que compõem os princípios doutrinários ensinados pelos Nobres Guias da Espiritualidade Superior, estão sendo ratificados pela ciência, isso mesmo, a ciência que nada mais é que a descoberta das Leis Naturais pelos homens, através dos estudos, e das pesquisas, levados a efeito por homens cientistas dedicados e adredemente preparados no mundo espiritual para tal desafio.

Assim sendo, cabe a cada um de nós espíritas seguir com a seriedade o que a nossa doutrina exige de todos os seus adeptos, ou seja: estudar e levar adiante seus conceitos de paz e fraternidade, atendendo ao clamor do seu ensino maior a todos nós espíritas, para a observância de que: “Fora da caridade não há salvação”.

Sabemos que nós seguidores da doutrina espírita, precisamos continuar a amar e instruir-nos, conforme o ensinamento do Espírito de Verdade, para que possamos entender sem qualquer dificuldade que “fé inabalável, só o é a que pode encarar frente a frente a razão em todas as épocas da humanidade”, isto é, que uma fé sem ouvir os argumentos da razão, não pode ser seguida por quem estuda e usa da bênção da inteligência.

Allan Kardec, respondendo aos seus inquiridores, foi preciso em suas explicações, conforme se pode constatar nos argumentos que seguem, onde soube com respeito e consideração, fazer resplandecer ao mundo a solidez e a beleza da doutrina espírita.

Que também nós, possamos ter disposição e competência para esclarecer e divulgar de forma correta os verdadeiros princípios contidos na codificação do espiritismo que dizemos seguir, sem esmorecimentos e sem omissão, fazendo a parte que os espíritos superiores dedicaram à nossa responsabilidade, na implantação da moral contida no Evangelho de Jesus, nos corações de todos os homens na Terra.

Impotência dos detratores

Visitante -– Eu concordo que entre os detratores do Espiritismo há pessoas inconseqüentes, como esta de que acabais de falar; mas, ao lado destas, não há homens de um valor real e cuja opinião é de um certo peso?

“A.K. – Eu não o contesto de modo algum. A isso respondo que o Espiritismo conta também em suas fileiras com um bom número de homens de um valor não menos real. Eu digo mais: que a imensa maioria dos espíritas se compõem de homens inteligentes e estudiosos. Só a má fé poder dizer que eles são recrutados entre os incautos e os ignorantes. (KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo.)

Um fato peremptório responde, aliás, a esta objeção: é que malgrado seu saber ou sua posição oficial, ninguém conseguiu deter a marcha do Espiritismo. Todavia, não há entre eles um só, desde o mais medíocre folhetinista, que não esteja se vangloriando de lhe vibrar o golpe mortal. Todos, sem exceção, ajudaram, sem o querer, a vulgarizá-lo. Uma idéia que resiste a tantos esforços, que avança sem tropeço através da fúria dos golpes que lhe dão, não prova sua força e a profundidade de suas raízes? Esse fenômeno não merece atenção dos pensadores sérios? Outros também se dizem hoje que ele deve ter alguma coisa, que pode ser um desses grandes e irresistíveis movimentos, que, de tempos em tempos, comovem as sociedades para transformá-las.

Assim o foi sempre com todas as idéias novas chamadas a revolucionarem o mundo. Elas encontram obstáculos, porque têm que lutar contra os interesses, os preconceitos, os abusos que elas vêm derrubar. Mas como estão nos desígnios de Deus, para cumprir a lei do progresso da Humanidade, quando a hora é chegada, nada saberia detê-las. É a prova de que elas são a expressão da verdade.

Essa impotência dos adversários do Espiritismo prova, primeiro, como eu o disse, a ausência de boas razões, uma vez que aqueles que se lhe opõem não convencem; ela, porém, se prende a uma outra causa que frustra todas as suas combinações. Espantam-se com o seu progresso, malgrado tudo o que fazem para detê-lo; ninguém lhe encontra a causa, porque a procuram onde ela não está. Uns a vêem na força do diabo, que se mostraria assim mais forte que eles, e mesmo que Deus, outros, no desenvolvimento da loucura humana. O erro de todos é crer que a fonte do Espiritismo é única, e que repousa sobre a opinião de um homem; daí a idéia de que arruinando a opinião desse homem, arruinarão o Espiritismo. Eles procuram essa fonte sobre a Terra, enquanto ela está no espaço; ela não está num lugar determinado, está por toda parte, porque os Espíritos se manifestam por toda parte, em todos os países, no palácio como na choupana. A verdadeira causa está, pois, na própria natureza do Espiritismo que não recebe seu impulso de uma pessoa só, mas que permite a cada um receber diretamente comunicações dos Espíritos e se assegurar assim da realidade dos fatos. Como persuadir a milhões de indivíduos que tudo isso não é senão malabarismo, charlatanismo, destreza, quando são eles mesmos que obtêm esses resultados sem o concurso de ninguém? Se lhes fará crer que são seus próprios companheiros que fazem charlatanismo e escamoteação só para eles?

Essa universalidade das manifestações dos Espíritos que vêm a todos os pontos do globo, vem dar um desmentido aos detratores e confirmar os princípios da doutrina; é uma força que não pode ser compreendida por aqueles que não conhecem o mundo invisível, da mesma forma que aqueles que não conhecem a lei da eletricidade não podem compreender a rapidez da transmissão de um telegrama. É contra essa força que vêm se quebrar todas as negações, porque é como se se dissesse às pessoas que recebem os raios do sol, que o sol não existe.

Abstração feita das qualidades da doutrina, que satisfaz mais do que aquelas que se lhe opõem, aí está a causa dos fracassos daqueles que tentam deter-lhe a marcha. Para terem sucesso seria preciso que encontrassem um meio de impedir os Espíritos de se manifestarem. Eis porque os espíritas tomam tão pouco cuidado com as suas manobras; eles têm a experiência e a autoridade dos fatos”. 1

Que Jesus possa nos dar força e inspiração, para continuarmos nesse processo de transformação da humanidade através de nossos exemplos de reais discípulos do Mestre de Nazaré.

Fonte:
1) Livro: O que é o Espiritismo. – FEB. 40ª edição.

Sigla:
A.K. = Allan Kardec

José Francisco Costa Rebouças é Pós-graduado em Recursos Humanos, Funcionário aposentado do Banco Central do Brasil, Espírita convícto desde a década de oitenta, Diretor do Departamento de doutrina da União da Mocidade Espírita de Niterói, e do Portal do Espiritismo.