Mostrando postagens com marcador Cairbar Schutel. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cairbar Schutel. Mostrar todas as postagens

sábado, 5 de março de 2011

Fenômenos espíritas e suas consequências filosóficas

Por Cairbar Schutel

Os fatos espíritas manifestam-se, hoje, em toda a parte; eles constituem uma voz que parte de todos os pontos do globo e repercute, de quebrada em quebrada, despertando o homem da letargia e animando-o a marchar, desassombradamente, pela estrada da espiritualidade que conduz à Vida Eterna. Pode-se dizer que não há uma só cidade do mundo, uma só aldeia, ainda nos mais longínquos recantos do planeta, em que manifestações extraordinárias não sejam verificadas, com a admiração de uns, e má vontade e repulsa de outros. Nos meios humildes, como na alta sociedade, nas zonas científicas, como entre os elementos clericais, os fenômenos espíritas de caráter ostensivo se constituíram a grande luz que vem iluminar aos homens o porto de salvamento. Não há uma só família que não conte um fato “extranormal” com ela ocorrido.

Isso vem nos provar que os fenômenos espíritas têm um caráter verdadeiramente providencial. E nem de outro modo pode-se ver esses fatos ostensivos, espontâneos, independentes de toda a vontade humana e de todos os poderes terrestres, fatos, digamos de passagem, que assinalam uma inteligência superior às inteligências da terra, cheia de previsão, de concisão e altamente científica.

Quem ler com atenção os relatos das sessões de materializações, de moldagens, de apports, de fotografias, testemunhadas por homens como William Crookes, Russel Wallace, Oliver Lodge, Paul Gibier, César Lombroso, Ernesto Bozzano e centenas de outros sábios de responsabilidade moral e científica, não pode negar o grande valor moral e científico dessas manifestações, fenômenos tão transcendentes que todos esses sábios unidos – físicos, químicos, fisiologistas, anatomistas, etc., são incapazes de os reproduzir em sua mínima parte.

Em vista disso, poderão esses fatos serem recebidos como ocorrências simplesmente anormais, sem uma causa-mestre que tem intuitos superiores, determinativos a um fim moral e de alta relevância espiritual?

Certamente não se pode concluir que um efeito inteligente deixe de ter, a seu turno, uma causa inteligente e um intuito qualquer, digno da nossa observação, do nosso estudo e da nossa meditação. Todos os fenômenos da vida intelectual, ainda os mais rudimentares, têm uma causa e um objetivo, como verificamos na vida dos seres que povoam o nosso mundo. Não se acende uma luz sem que um fator não se mova, um intermediário não apareça e não se veja o fim a que aquela luz se destina.

A fenomenologia espírita, verificada em todas as épocas e em todos os países, por todas as gerações que viveram neste mundo, tem sido, em todos os tempos, o princípio básico da fé que dignifica o ser humano.

Antigamente, devido à deficiência da inteligência para julgar as coisas espirituais, ela foi atirada para a classe das coisas sobrenaturais, e os “espertos” que tomaram a si a missão de guiar os homens guardaram-na na “urna dos milagres” para, mais comodamente, manterem o seu domínio sobre as massas.

Os filósofos e os sábios, adstritos a uma psicologia retardatária que havia cristalizado todos os seus métodos de ensino, não puderam compreender o alcance desses fatos que só eram recebidos, religiosamente, pelos filhos do povo.

Percorrendo a obra dos estudos fisiológicos, embora desde tempos idos os fenômenos psíquicos tivessem larga extensão, ficamos na obscuridade sobre a existência ou não existência da alma, o que prova que a antiga psicologia não fornecia aos sábios de então os elementos precisos para a resolução do maior de todos os problemas que deve resolver a sorte do destino humano.

Foi preciso que novas mentalidades viessem desbravar o campo do Animismo, forçando, depois, as barreiras do sobrenatural e do mistério, para que a luz raiasse nos horizontes, e um novo método de estudo desse criação à Psicologia Experimental, que estendeu a sua área às regiões inexploradas da alma humana, nesta fase da vida, alongando a sua ação ao mundo ultrassensível que nos rodeia e para onde teremos que ir.

E, desse estudo experimental, chegou-se à conclusão dos intuitos morais e científicos dos fenômenos psíquicos, base fundamental do Animismo e do Espiritismo, que se acham em íntima ligação com todas as ciências, dando-lhes um cunho superior de progresso, completando-as com as novas verdades que vêm tirá-las das dificuldades em que se acham, para resolverem certos problemas, cuja obscuridade veda a sua ação progressiva na perfeição das gentes, na evolução de todos os conhecimentos que devem constituir e proporcionar o bem-estar dos povos. Oferecendo a todos as insígnias inconfundíveis da alta Moral Cristã, com todos os Ensinos filosóficos do seu Instituidor, os fenômenos espíritas, parte integrante da Revelação sobre a qual Jesus disse haver fundado a sua Igreja, são, de fato, as demonstrações claras, legíveis e palpáveis da Imortalidade, única base verdadeira da Fé, do Amor e da Sabedoria.

Sem os fatos, não há religião, nem ciência que possa prevalecer. À química se pede reações; à matemática, números; à física, leis de equilíbrio. Para merecer o nome de ciência, é preciso que se demonstre esta ou aquela com provas positivas.

Os fenômenos psíquicos, não há, absolutamente, dúvida, trazem à destra a luz que ilumina e a verdade que salva. Só por eles, podemo-nos convencer da sobrevivência espiritual, ou seja, da sobrevivência individual e, consequentemente, dos nossos deveres para com os nossos semelhantes e para com Deus.

As consequências filosóficas dos fatos espíritas trazem-nos, como contribuição de progresso e bem-estar, leis olvidadas pelos homens e destinadas a estabelecerem na Terra o reinado da Fraternidade, sob a Paternidade de Deus.

Não queiram os nossos adversários transviar os objetivos da Fenomenologia Espírita, atribuindo-lhes teorias malsãs que não se coadunam com os seus fatos. Lembre-se bem de que todas as teorias aventadas para darem explicações dos fenômenos caíram por terra por insustentáveis.

“Os fatos são persistentes” – como disse o Prof. Lombroso e, em face dos fatos, o investigador perspicaz e inteligente há de verificá-los de natureza anímica e de natureza espírita, mas, sejam uns ou sejam outros, nenhuma explicação eles podem ter, sem a existência da alma e sua sobrevivência à morte do corpo carnal. Essa é a verdade que ninguém, com bons fundamentos, ousará contestar.

Publicado na RIE em julho de 1934

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O que é a morte – o que é o espírito

13:26 Posted by Anônimo , , , No comments
Por Cairbar Schutel

A expressão morte, em sua significação literal, não exprime a verdade do fenômeno, que nós, espíritas, com muito justa razão, denominamos desencarnação, porque o ser não se extingue. O Espiritismo demonstra, com a razão, a lógica e os fatos, que, não sendo a alma o produto das conjunções físico-químicas, mas, sim, o agente produtor desses fenômenos, e continua a existir, cessada a sua ação sobre o organismo.

A morte é o despimento do invólucro material, é o abandono do Espírito do seu envoltório carnal. Não sendo este estável, fixo, pois que a matéria corporal se acha sempre em transformação contínua, em mutações, devido ao fluxo e ao refluxo dos elementos que o compõem, não poderia esse agregado de substâncias que se substituem, a todos os momentos, gerar e manter um ser estável, dotado de memória e que se pronuncia com inteligência e virtudes crescentes, tal como observamos, absolutamente independentes dos alimentos que ingerimos, da água que bebemos, do ar que aspiramos.

O Espírito é o tudo dessa máquina humana, é o seu construtor, é o seu mantenedor (mens agitat molem).

O Espírito não é uma entidade abstrata e mitológica, um ser vago, indefinido que, semelhante a uma chama, se extingue quando acaba a vela. É um ser concreto, substancial, também constituído de matéria, quanto à sua parte exterior, mas de matéria ultrarradiante, em cujo corpo se caracterizam sentidos muito mais aperfeiçoados do que os que temos na terra.

O Espírito é um ente limitado pelo seu organismo etéreo, assim como, quando encarnado, (o homem) é limitado pelo seu organismo corpóreo-material.

A constituição do ser humano não é só biológica, física, mas, sim, meta-biológica, metafísica.

As fotografias dos duplos, as moldagens e impressões digitais demonstram, positivamente, a existência, em nós, dos duplos-etéreos, que constituem os nossos corpos espirituais, que não são atingidos nem pelo ferro, nem pelo fogo, nem pela morte.

Por isso é que dizemos: não há morte, mas, sim, separação do Espírito do corpo ou desencarnação. “O que é espírito é espírito, o que é corpo é corpo; há muita diferença entre um e outro”.

Uma é glória do corpo terrestre (glória efêmera); outra é a glória do corpo celestial (glória perene).

Deus não é “deus dos mortos”, mas, sim, dos vivos e, assim como Deus vive e viverá sempre, nós, que somos seus filhos, vivemos e também viveremos sempre.

Tal é a verdade experimental, estudada e que pode ser comprovada a qualquer hora.

O Clarim - Publicado em 26 de setembro de 1936

terça-feira, 8 de junho de 2010

Estranha contradição

Por Cairbar Schutel

Parece paradoxal que o Espiritismo conte dentre os seus maiores adversários os sacerdotes da Igreja de Roma e os mais entusiastas prosélitos da Religião Católica. Se a nossa Doutrina não faz outra coisa senão proclamar a existência de Um Deus bom, amoroso, indulgente e sábio; se ela apresenta esse Deus cheio de carícias para com seus filhos, e nos recomenda que O adoremos, em espírito e verdade, e em toda parte, com todas as forças do nosso entendimento, do nosso coração, da nossa alma, por que motivo a Igreja nos apoda e assaca injúrias, quando deveria unir-se a nós para extinguir a incredulidade que lavra pelo mundo, ainda mesmo entre aqueles que se intitulam católicos porque os pais o foram?

Se o Espiritismo preceitua, como o Cristo, o amor ao próximo, sem exclusão de católicos, de judeus e de gentios, se ele ordena a caridade para com todos, como meio de salvação, por que razão o sacerdotalismo o impugna, taxando-o de herético e pagão?

Se a Doutrina Espírita, sancionando a Comunicação dos Espíritos, vem nos demostrar a imortalidade da alma, o prosseguimento da vida, portanto, dos que indevidamente chamamos de “mortos”, os nossos parentes e amigos, conhecidos e desconhecidos, sendo esses fatos a base fundamental da Religião, a rocha inamovível da Fé, por que repele a Igreja esta Verdade, preferindo substituí-la por manifestações diabólicas, que nada edificam e vão de encontro com a bondade e justiça de Deus, vão de encontro com a Doutrina da imortalidade e da Esperança do futuro dos nossos entes caros e do nosso próprio futuro além do túmulo?

Se o Espiritismo tem como base dos seus estudos o Novo Testamento, a Palavra de Jesus Cristo e reproduz a mesma Doutrina do Mestre num maravilhoso fac-símile, a ponto de proclamar como Jesus fazia, a excelsa recomendação: “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos perseguem e caluniam; orai pelos que vos maltratam”, qual é a razão da Igreja execrar o Espiritismo e excomungar aos que dão obediência às suas recomendações?

Se nós, com o Espiritismo, fazemos muita questão de recomendar aos estudiosos o cumprimento dos preceitos de Jesus, exarados nas parábolas do Bom Samaritano (S. Lucas, X, 25-37); do Juízo Final (Mateus, XXV, 31-46); das Dez Virgens (Mateus, XXV, 1-13); Dos Talentos (Mateus, XXV, 14-30); e todas as mais: do Joio e do Trigo, da rede, do grão de mostarda, do fermento, da pérola, do tesouro escondido, do cego que guia cegos; se, enfim, a nossa recomendação é o estudo do Evangelho, em espírito e verdade, por que o sacerdotalismo, que se diz representante de Deus, nos renega e afirma que não temos parte com Jesus?

Se, com conclusão, recomendamos a oração como um preceito de submissão ao Senhor do Céu e da Terra, e a “Prece Dominical”, que foi a que Jesus ensinou aos seus discípulos como a regra áurea para nos dirigirmos a Deus e obtermos perdão das nossas faltas, como ousa o clero afirmar que somos irreligiosos, descrentes e partícipes das instruções do Satanás?

Uma das duas: ou a Igreja de Roma não conhece a Doutrina de Jesus, ou então ela constitui-se sua legítima inimiga.

Estranha contradição!

Fonte: O Clarim - Publicado em 01 de agosto de 1936Justificar

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A preexistência e o subconsciente

Por Cairbar Schutel

A doutrina da preexistência do espírito está em íntima relação com a da sobrevivência ao corpo.

A lei das vidas sucessivas vem em apoio a esta verdade consoladora e luminosa.

A vida não começa no berço e não termina no túmulo.

É nas vidas múltiplas na Terra e em outros mundos que adquirimos, conhecimentos e vamos nos libertando da ignorância que nos prende à infância do espírito.

É no perispírito que se gravam todas as imagens fornecidas à mente pelo mundo exterior, ele é o repositório de todas as aquisições, de todos os conhecimentos adquiridos, de tudo o que aprendemos, vimos, ouvimos e sentimos através das existências que percorremos...

Está, portanto, no perispírito a sede exclusiva da subconsciência.

A aceitação da subconsciência, em determinadas condições, implica, portanto, a aceitação da preexistência e da sobrevivência espiritual, bem como a reencarnação dos espíritos.

Quer isto dizer que os materialistas e os espiritualistas que não aceitam a reencarnação, não podem invocar a teoria do subconsciente para explicar fenômenos que estão na esfera do animismo; assim não explicam, porque não aceitam a doutrina das vidas múltiplas, a razão de ser da precocidade ou os “meninos prodígios”, que tanto os maravilha.

De fato, como dar provas de conhecimentos que se não se adquiriu na Terra, se a alma começa e termina com o corpo ou se a alma, como dizem o Catolicismo e o Protestantismo foi criada com o corpo?

Como proclamar a “teoria do inconsciente” - com “aquisições anteriores” se se tem certeza que o indivíduo, com quem ou em quem se observa os fenômenos, nenhuma aquisição tem de tudo a que disse e dos altos conhecimentos que manifestou?

Um indivíduo, por exemplo, em estado de transe, de sonambulismo, fala do que não estudou, trata de assuntos altamente científicos ou filosóficos que não estão ao seu alcance em estado normal, quando não há aí interferência de um Espírito, uma outra personalidade, não há dúvida que a “teoria do subconsciente” aí é manifesta, mas sem dúvida alguma, também essa teoria não é um derivativo materialista e sim está intimamente ligada aos princípios espíritas da preexistência e vidas sucessivas.

O corpo humano nada pode; o espírito sim, quando mais ou menos livre dum organismo denso e grosseiro que constitui o seu invólucro na Terra, pode dominar esse invólucro, e ler, remontando à corrente do passado, uma a uma, as páginas da sua existência integral, cujas ações e ideias desfilam ao longo do trajeto de suas encarnações.

Fonte: livro “Os Fatos Espíritas e as Forças X” - 1926, de Cairbar Schutel
Retirado do blog "Espírita na Net"

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A autoridade dos fatos espíritas

Por Cairbar Schutel

A Verdade não se impõe arbitrariamente.

Ela só se apresenta com os fatos, que constituem os princípios básicos das ideias sãs.

Pelo mesmo motivo não se pode transviar a natureza dos fatos com uma explicação bastarda que, à guisa de teoria, desorienta as inteligências em vez de prepará-las para uma orientação racional da causa por que se produzem esses fatos.

Em todos os ramos do conhecimento humano são os fatos que têm conduzido os pesquisadores à descoberta da verdade.

Haja vista o movimento da Terra, cujas consequências científicas ninguém desconhece o valor. Ela não surgiu de um princípio dogmático, mas sim do fato observado meticulosamente por Galileu.

O novo continente não se fez por uma ideia visionária de Colombo, mas só depois de grande luta e acerbas provações o grande genovês pôde descobrir a existência das duas Américas.

O sangue, desde que o mundo existe, circula nos organismos humanos e animais, entretanto foram necessários os longos e pacientes trabalhos de Harvey para que a ciência ficasse de posse da “circulação do sangue”.

Leblanc não pôs a soda no sal marinho, entretanto seu nome figura no panteão dos descobridores por haver encontrado a soda no sal e descoberto o processo da extração daquela, deste.

Assim são todas as descobertas de que se ufana o nosso mundo, e cujos estudos sondando a natureza dos fenômenos levaram os pesquisadores ao conhecimento das causas.

Não é a nossa vontade, nem a nossa ciência, nem a nossa arte que criam os fatos. Eles existem de toda a eternidade. As vibrações existiam antes da descoberta de Young, assim como a eletricidade antes de Galvani e Franklin, Edison etc.

O magnetismo sempre existiu antes de Charcot e Mesmer, assim como o vapor antes de Arago. As descobertas destes e sua aplicação é que lhes dá o valor.

Os fatos, em todos os ramos da ciência, são insistentes, produzem-se sempre, porque eles são oriundos da Sabedoria Universal e Eterna, cuja fonte não cessa de jorrar para instruir os homens na verdade. Daí a grande autoridade dos fatos que aparecem mesmo contra as vontades mais potentes do mundo.

As ciências têm sempre se originado dos fatos e a sua estabilização consiste em haverem adaptado aos fatos as teorias que deles decorrem. Se o contrário tivesse sucedido, por exemplo se aplicado as teorias da eletricidade ao magnetismo, ou do magnetismo à eletricidade, as atividades se consumiriam no estudo e nas pesquisas, as convicções tornar-se-iam incompreendidas, e as ciências andariam numa confusão impossível de se manterem.

Este critério foi que levou Allan Kardec a descobrir o Mundo dos Espíritos e as relações que os seus habitantes podem manter conosco.

Cientificado pelo magnetizador Forstier que o magnetismo, segundo experiência que esse magnetizador fizera, tinha ação sobre as mesas, fazendo-as mover, julgou muito natural esse fato “porque o fluido magnético podia muito bem atuar sobre corpos inertes”.

Mas não achou natural que o “fluido magnético fizesse as mesas falarem”, visto como este não pode senão exercer efeitos mecânicos, sendo que os efeitos intelectuais exigem uma natureza inteligente para produzi-los.

Foi então que tomando a sério o estudo desses fatos, que chamamos espíritas, entreviu neles, além das futilidades aparentes e dos fenômenos que se procurava por passatempo, a revelação de uma nova lei, que descobriu, aplicando à nova ciência que fundou, o método experimental, não aceitando teorias preconcebidas, e dos efeitos remontando às causas.

Diversos outros investigadores seguiram o critério do Mestre.

Varley, o antigo Diretor da Companhia de Cabos Submarinos, que lançou o primeiro cabo transatlântico, ao ouvir falar dos fenômenos psíquicos não escondeu o seu cepticismo, mas, premido pelos fatos, depois de inteligentes experiências feitas em sua própria casa e com sua esposa, afirmou categoricamente a realidade dos fatos e, ainda mais, não terem esses fenômenos parte alguma com a eletricidade.

O depoimento de Varley é um documento importante, pois o seu testemunho foi dado perante o comitê da Sociedade Dialética de Londres.

Assim como todos os fatos que fundamentam as ciências, os fatos espíritas são evidentes e ninguém poderá negá-los sem fazer jus do diploma de presumido e ignorante.

William Crooks, que estudou o espírito de Katie King, por espaço de três anos, em companhia de cientistas do mais alto valor, como o Dr. Gregory, Sergeant Cox, o Prof. Challis, de Cambridge, Adolfo Tropelle, Augusto Mongau e outros, chegando a medir e pesar a “entidade espírita” para comparar com os pesos e medidas do médium; ele examina a aparição, exerce o controle da fotografia, conversa com ela, obtém dela um escrito do próprio punho, e, em seu relatório de sábio, conclui a respeito dos fatos: “Não digo que sejam possíveis, mas sim que são reais”.

Lombroso, o genial psiquiatra, que também se eternizou pelos trabalhos clínicos sobre a patogênesis da pelagra, deixou na sua obra “Il Fenomeni Ipnotici e Spiritici” a bela profissão de fé que conscientemente pode fazer um espírita de sua estatura.

E quantos homens de ciência que examinaram os fenômenos de Eusapia Paladino afirmaram a veracidade dos fatos! O Prof. Felipe Bottazi, Diretor do Instituto de Fisiologia da Universidade de Nápoles; Dr. Galeoti, Prof. de Patologia geral; Tomas de Amicis, encarregado da cátedra de Dermatologia e Sifilografia; Oscar Scarpa, físico, professor de Eletroquímica da Escola Superior Politécnica de Nápoles; Senador Cardarelli, prof. de clínica médica e outros muitos que seria fastidioso enumerar. Estes escolheram o local das experiências, para afastarem todas as dúvidas, fizeram-se acompanhar de um arsernal de aparelhos, manômetros, tímpanos registradores de Marey, metrônomos, e apesar de todas as precauções e exigências experimentais viram mãos diáfanas vagando no ar, cabeças nitidamente formadas; os móveis se moviam sem contato, e fenômenos transcendentais foram verificados e testemunhados.

O que dizer do livro do Professor Morselli onde abundam relatos de fatos que esse professor verificou! Sua convicção na existência dos fatos é tão grande que ele diz: “Os fenômenos psíquicos devem ser observados como o são os fenômenos celestes”.

O Dr. Lapponi, médico de Leão XIII, examina, por ordem deste e com intuito de combate, os fatos espíritas, e publica, com a sanção do Vaticano, um livro em apoio dos fatos, embora desnaturando suas causas.

Os verdadeiros homens de ciência não podem negar os fatos, porque, como dizia o Professor Chiaia a Lombroso, citando Dante: “A verdade é obrigada pela lei da honra a se opor sempre contra a falsidade”.

A crença nos fatos espíritas, chamada antigamente “aparição dos fantasmas dos mortos”, perde-se na noite dos tempos, porque os fatos sempre existiram como sempre existiu o movimento da Terra, a circulação do sangue, a soda no sal marinho.

Nas páginas das Escrituras e dos Livros Sagrados ela figura até como artigo de fé, chegando até a se apresentar como atributos de entidades bem-aventuradas.

D. José Ramon Savedra, o sábio e virtuoso autor da “Demonstração da Divindade da Religião”, e que é insuspeito por ser católico, como insuspeita é a sua obra que mereceu a aprovação eclesiástica, inseriu em seu livro os belos trechos que se vai ler e que confirmam peremptoriamente os fatos espíritas.

— “A respeito da imortalidade da alma, pode-se dar uma PROVA NATURAL DO FATO: as relações com os mortos, ou a evocação e aparição das almas dos mortos.

— É um fato que a alma dos mortos entra em relação com a alma dos vivos e se dá a conhecer a estes. Judeus, gentios e cristãos têm acreditado nesses fatos. Sucessos tão gerais não se podem fingir, tanto mais que são atestados por pessoas ilustradas e respeitáveis. No livro 1º dos Reis, encontra-se a evocação da alma de Samuel pela pitonisa do Endor. Santo Agostinho relata uma aparição de almas que teve S. Cirillo de Jerusalém, e as vidas dos santos apresentam inumeráveis casos deste gênero. Há também uma multidão de fatos recentes que confirmam esta verdade. A alma de Benjamin Franklin pronunciou um pequeno discurso em 20 de fevereiro de 1850, que se acha registrado. Consta de um documento firmado por todos os assistentes (Table parl. Jun., 1854). Nessa mesma época fazia muito ruído nos Estados Unidos o que dizia o espírito de Calhoun. Na presença dos generais Hamilton, Waddi Thompson, Robert Campbell, M. Tallamadge e outros, íntimos amigos de Calhoun, e na presença também de um dos seus filhos, pediu-se ao espírito de Calhoun que escrevesse de modo que se conhecesse a letra, e escreveu I’m with you still (todavia estou convosco). Todos reconheceram sua própria letra, e Hamilton observou que Calhoun costumava escrever I’m, em vez de I am.

“Em 1853 o espírito de Calhoun disse em Washington, a M. Tallamadge, que o fim das manifestações espíritas era o de reconciliar os homens, convencendo-os da imortalidade da alma. M. Tallamadge disse que o espírito de Channing deu, em Bridge Port, igual resposta em 1850. Por estes e outros muitos fatos análogos, M. Tallamadge julga que se encontra nesses fatos a prova irrefragável da imortalidade da alma.

“Um sábio belga, M. Jobard, a quem a ciência e a indústria devem notáveis descobertas, convencido das comunicações dos espíritos, disse: “É um fato atualmente tão difundido que ainda que seja dotado de uma lógica não vulgar é impossível contestá-lo, salvo se se pretender que todo o mundo é louco e só o que nega é que é sábio e se acha isento da epidemia geral, a maior que a humanidade tem visto: a comunicação direta com os mortos, a realidade das suas aparições. (La table parlante, abril 1854)

“Vários autores franceses dizem que são puramente diabólicas as evocações dos espíritos humanos, e por conseguinte nada provam a favor da imortalidade da alma. Mas esta opinião me parece inaceitável por estas razões: 1ª) Todo o contexto da aparição de Samuel demonstra que não foi obra do demônio: aquele espírito inspirou a Saul o temor ao poder de Deus e predisse sua morte e de seus filhos para o dia seguinte, e a vitória dos filisteus sobre Israel; 2ª) Se as evocações modernas fossem obra do espírito do mal, este trabalharia para a glória de Deus e salvação das almas? A negação da ordem sobrenatural foi vitoriosamente confundida por estes fatos, pois há, evidentemente, sempre neles um agente sobrenatural.

“É provável que satanás se ufane por inocular nos homens a crença na ordem sobrenatural e prepará-los assim para o céu?”

Finalmente, a autoridade dos fatos não pode ser sonegada, nem ceder o seu lugar a princípios arbitrários que contradizem a lógica e o raciocínio.

A verdade não se impõe abruptamente, mas exige estudo e livre-exame, favorecendo os investigadores com os fatos que dela se originam. Ela não representa um expoente de princípios imperiosos, de juízos preconcebidos, mas o resultado de estudos feitos por suas manifestações positivas; daí a autoridade dos fatos espíritas, cuja única doutrina regenerará a humanidade, impondo a todos os deveres de fraternidade e progresso.

Fonte: Publicado na RIE em novembro de 1928

[BIOGRAFIA] - Caírbar Schutel

Por Eliseu F. da Mota Júnior

No dia 22 de setembro de 1868, filho do casal Anthero de Souza Schutel e Rita Tavares Schutel, nasceu Caírbar de Souza Schutel, no Rio de Janeiro, então sede da Corte Imperial do Brasil, onde praticou em diversas farmácias e aos 17 anos de idade foi para o Estado de São Paulo, trabalhando como farmacêutico em Piracicaba, Araraquara e depois em Matão, cidade em que viveu durante 42 anos.

Possuidor de brilhante cultura, de grande prestígio social e sobretudo de notória autoridade moral, acabou sendo escolhido para o honroso e histórico cargo de primeiro Prefeito da cidade de Matão, cargo que ocupou por duas vezes, a primeira de 28 de março a 07 de outubro de 1899, voltando a exercê-lo de 18 de agosto a 15 de outubro de 1900, conforme consta das atas e dos registros históricos da municipalidade matonense.

Nascido em família católica, batizado aos 7 anos de idade, Caírbar Schutel cumpria suas obrigações perante a Igreja de Roma. Entretanto, já adulto e vivendo em Matão, passou a receber, em sonhos, a visita constante de seus falecidos pais, porque ele ficara órfão de ambos com menos de 10 anos de idade. Insatisfeito com as explicações de um padre para o fenômeno, Schutel procurou Quintiliano José Alves e Calixto Prado, que realizavam reuniões de práticas espíritas domésticas, logrando então entender a realidade do mundo extrafísico.

Convertido ao Espiritismo, cuidou logo de legalizar o Grupo (hoje Centro) Espírita Amantes da Pobreza, cuja ata de instalação foi lavrada no dia 15 de julho de 1905. Resolvido a difundir a Doutrina Espírita pelos quatro cantos do mundo - e mesmo vivendo em uma pequena e modesta cidade no interior do Brasil -, o "Bandeirante do Espiritismo", como ficou conhecido Caírbar Schutel, fundou o jornal "O Clarim" no dia 15 de agosto de 1905, e a RIE - Revista Internacional de Espiritismo no dia 15 de fevereiro de 1925, ambos circulando até hoje.

Além disso, o incansável arauto da Boa Nova, com todas as dificuldades da época e da região, viajava semanalmente até a cidade de Araraquara para proferir, aos domingos, as suas famosas 15 "Conferências Radiofônicas", pela Rádio Cultura de Araraquara (PRD - 4), no período de 19 de agosto de 1936 a 02 de maio de 1937.

Escritor fértil, entre 1911 e 1937 escreveu os livros O batismo, Cartas a esmo, Conferências radiofônicas, Histeria e fenômenos psíquicos, O diabo e a igreja, Espiritismo e protestantismo, O espírito do cristianismo, Os fatos espíritas e as forças X..., Gênese da alma, Interpretação sintética do apocalipse, Médiuns e mediunidades, Espiritismo e materialismo, Parábolas e ensinos de Jesus, Preces espíritas, Vida e atos dos apóstolos, A questão religiosa, Liberdade e progresso, Pureza doutrinária, A vida no outro mundo e Espiritismo para crianças.

Para publicá-los, Schutel não mediu esforços: adquiriu máquinas, papel, tinta, cola e outros insumos para impressão, procurando escolher sempre material de primeira categoria. Desse esforço surgiu a Casa Editora O Clarim, que hoje emprega inúmeros funcionários em Matão, tendo publicado mais de cem títulos de obras de renomados autores, encarnados e desencarnados.

Consciente de sua responsabilidade como cidadão, cuidou de regularizar a sua união com Dª. Maria Elvira da Silva e Lima, com ela se casando no dia 31 de agosto de 1905; o casal Schutel não teve filhos carnais, porém sua dedicação aos semelhantes ficou indelevelmente marcada na história de Matão, uma vez que ambos jamais deixaram de atender aqueles que os procuravam.

Depois de curta enfermidade, Caírbar Schutel faleceu em Matão, no dia 30 de janeiro de 1938. Durante e após suas exéquias, inúmeras pessoas de Matão, das cercanias, do Estado de São Paulo e de diversas regiões do Brasil prestaram-lhe comovente tributo de gratidão e reconhecimento pelo trabalho desenvolvido, tendo certamente cumprido a sua missão.

Aliás, o prestigioso jornal 'A Comarca', de Matão, em sua edição de 6 de fevereiro de 1938, consignou o seguinte: "É absolutamente impossível em Matão falar-se quer da nossa história passada, quer da nossa história hodierna sem mencionar Caírbar Schutel. Caírbar Schutel foi, para Matão, um dínamo propulsor do seu progresso, um arauto dedicado e eloqüente das suas aspirações de cidade nascente. Mais do que isso foi o homem que, como farmacêutico, acorria com o seu saber e com a sua caridade à cabeceira dos doentes, naqueles tempos em que o médico era ainda nos sertões que beiravam o 'Rumo', uma autêntica 'avis rara'.

"Militando na política por algum tempo, a sua atuação pode ser traduzida no curto parágrafo que abaixo transcrevemos, fragmento de um discurso pronunciado em 1923, na Câmara Estadual, pelo Deputado Dr. Hilário Freire, quando aquele ilustre parlamentar apresentou o projeto da criação da Comarca de Matão. Ei-lo: 'Em 1898, o operoso, humanitário e patriótico cidadão Sr. Caírbar de Souza Schutel, empregando todo o largo prestígio político de que gozava, e comprando com os seus próprios recursos o prédio para instalação da Câmara, conseguiu, por intermédio de um projeto apresentado e defendido pelo Dr. Francisco de Toledo Malta, de saudosa memória, a criação do município de Matão'.

Dizem algumas comunicações mediúnicas que o Espírito Caírbar Schutel está, no mundo espiritual, encarregado pela divulgação do Espiritismo na Terra; sendo confirmada tal informação, essa nobre tarefa está muito dirigida, porque o movimento espírita deve muito ao querido "Bandeirante do Espiritismo", assim como à sua digníssima esposa Dª. Maria Elvira da Silva Schutel, pois, como diz a sabedoria popular, ao lado de um grande homem há sempre uma grande mulher!

Eliseu da Motta Júnior é escritor, orador e diretor da Revista Internacional de Espiritismo - RIE, de Matão-SP.