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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Alguns pontos sobre a visão espírita do suicídio assistido

Por Ademir Xavier

"Sua alma, embora separada do corpo, ainda está completamente mergulhada no que se poderia chamar o turbilhão da matéria corpórea; as ideias terrestres ainda são vivazes; ele não acredita que está morto." (A. Kardec, "O Céu e o Inferno", Segunda Parte, Exemplos, Capítulo 5, Suicidas: O suicida de Samaritaine)

O suicídio assistido (eutanásia ativa, 1) é a liberdade dada a pacientes considerados terminais, sem cura, de planejarem  e executarem a própria morte. Vimos um caso  recente, o da americana Brittany Maynard de 29 anos (2) que, diante de um tumor de cérebro incurável, decidiu se suicidar. Nesse caso, cremos não haver diferença com qualquer outro ato de suicídio conscientemente decidido, já que a impossibilidade de cura não é justificativa para o ato como discutimos abaixo.

A questão da decisão pelo suicídio assistido ou eutanásia é considerada um tabu na sociedade pelas incertezas sobre a vida futura ("medo da morte"). Com a onda de liberalismos crescentes, grupos se fortalecerão propondo sua aplicação de forma sistemática. Há uma clara fronteira entre a vida e a morte em uma sociedade que tem muita dificuldade em lidar com a morte.

Discutimos aqui alguns pontos que devem ser considerados no esboço da visão espírita do suicídio assistido. Eles não pretendem ser definitivos, mas devem ser lembrados no contexto do avanço do conhecimento trazido pela Doutrina Espírita. Esses pontos também se aplicam ao suicídio de forma geral.

O "Livro dos Espíritos", questão 953.

Quando uma pessoa vê diante de si um fim inevitável e horrível, será culpada se abreviar de alguns instantes os seus sofrimentos, por uma morte voluntária?

“É sempre culpado aquele que não aguarda o termo que Deus lhe marcou para a existência. E quem poderá estar certo de que, malgrado as aparências, esse termo tenha chegado; de que um socorro inesperado não venha no último momento?” 

a) – Concebe-se que, nas circunstâncias ordinárias, o suicídio seja repreensível; mas estamos figurando o caso em que a morte é inevitável, e em que a vida só é encurtada de alguns instantes. 

“É sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do Criador.”

Antes que o leitor cético conclua que a proibição do suicídio para o Espiritismo - mesmo no caso assistido - se baseia em um critério de autoridade, é preciso lembrar o suporte empírico que a Doutrina Espírita apresenta ao problema. De fato, seria um critério exclusivamente de autoridade, não dispusesse o Espiritismo de métodos e processos de demonstração com os quais ele ilustra seus princípios. Isso diferencia bastante o conhecimento espírita de outras tradições religiosas ou culturais. Basta ver o Capítulo 5 de "O Céu e o Inferno" de A. Kardec para colher informes sobre o estado futuro daqueles que cometem suicídio. Além do sofrimento, suas maior consequência, para quem o pratica, é uma profunda desilusão por se perceber vivo, por reconhecer a inutilidade do ato. 

Não há dúvidas de que o suicídio é uma opção. É a aplicação da "lei de liberdade" (Questão 843 em "O Livro dos Espíritos), não há razão para se duvidar desse direito. Mas, a decisão sobre a conveniência ou não de um ato obviamente não pode se basear exclusivamente na existência do direito de praticá-lo. Proponentes do suicídio assistido, eutanásia ou do aborto justamente reduzem a questão à discussão de direitos porque confundem progresso com liberdade irrestrita.

É fora de dúvida que temos o direito de praticar muitos atos dentro da liberdade que dispomos. Mas, nem todos esses atos são convenientes. Certamente, a liberdade de se atirar do vigésimo andar de um prédio deve ser ponderada pelos sofrimentos que colheremos como consequência da queda. Inúmeros outros exemplos são frequentemente adiantados por médicos e especialistas em saúde quanto ao sofrimento material do uso de drogas, de práticas ilícitas etc.

Ainda assim, vemos céticos que acusam os espíritas de usar o medo como arma de convencimento. Ora, se evidências de sofrimento certo não servem para convencer alguém da inconveniência de um ato, nenhum outro argumento será suficiente.  É claramente irracional desprezar evidências, quaisquer que sejam elas, o que se aplica também às resultantes da mediunidade, que sinalizam que o suicídio leva ao sofrimento. Contra essas, o recurso final é "negar sistematicamente", por isso nos posicionamos tanto aqui contra o ceticismo.

16. A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as idéias materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral. Quando homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por provar aos que os ouvem ou leem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão de fato levando-os a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor não lhes resta senão se matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa conseqüência? Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada. Daí se deve concluir que, se o nada é o único remédio heroico, a única perspectiva, mais vale buscá-lo imediatamente e não mais tarde, para sofrer por menos tempo. 

A propagação das ideias materialistas é, pois, o veneno que inocula a ideia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes doutrinas assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada impossível a dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em suma, a coragem moral. ("O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo 5, O Suicídio e a Loucura).

Ao invés de se fixar no sofrimento, a crença na vida futura antevê o estado de felicidade em que se encontrará o ser depois de passar pelas dificuldades da existência Uma verdadeira revolução opera naquele que adquire a certeza da continuidade da vida. Ele sabe que o sofrimento é transitório e que, mesmo se sua vida material terminar, continuará a existir em outro estado, livre da matéria e das vicissitudes por ela impostas. Essa é a verdadeira visão espírita, aquela que deverá assinalar uma mudança completa na maneira como encaramos o sofrimento e a morte.

Conclusões

A dúvida sobre a vida futura é dissipada pelo conhecimento espírita, que traz informações, declaradas pelo próprio ser depois da morte, sobre seu estado. E as informações da via mediúnica mostram que a prática do suicídio leva ao sofrimento do Espírito no curto prazo, à ponderação quanto a sua inutilidade e à necessidade futura de reparação (3).   Se há sofrimento "do lado de cá", também há "do lado de lá", resultado do continuísmo da vida. Mas, os que confundem progresso com liberdade irrestrita, pensam o contrário e desprezam os relatórios mediúnicos como novas versões do inferno cristão. 

O suicídio é, acima de tudo, consequência do materialismo, da incredulidade, da ignorância total da vida futura e da transitoriedade dos sofrimentos, da falta de resignação do indivíduo cujo orgulho o faz crer ser indigno da situação a ser vencida. Somente uma crença forte, escorada em evidências e em um método, é capaz de vencer esse estado de coisas. As milhares de mensagens e comunicações daqueles que partiram pedem que tenhamos mais paciência com nossas provas. Elas são passageiras e um futuro grandioso aguarda os que souberem suportá-las com coragem e resignação.

Referências

(1) http://pt.wikipedia.org/wiki/Eutan%C3%A1sia

(2) http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/podemos-decretar-a-propria-morte

(3) O suicídio leva não só ao aumento do sofrimento, mas exige o retorno as mesmas conjunturas que  resultaram ao ato. O Espírito praticamente se força a nova existência quando terá que vencer a prova onde falhou. Isso acontecerá tantas vezes quanto ele capitular na prova. 

Publicado originalmente em http://eradoespirito.blogspot.com.br/2014/11/alguns-pontos-sobre-visao-espirita-do.html e reproduzido com a autorização do autor.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

[Revista Época] - Os avanços da ciência da alma


Uma pesquisa inédita usa equipamentos de última geração para investigar o cérebro dos médiuns durante o transe. As conclusões surpreendem: ele funciona de modo diferente

DENISE PARANÁ, DA FILADÉLFIA, ESTADOS UNIDOS
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MEDIUNIDADE SOB INVESTIGAÇÃO Uma médium brasileira psicografa no laboratório do Hospital da Universidade da Pensilvânia (Foto: Denise Paraná/ÉPOCA)
Estávamos no mês de julho de 2008. Na Rua 34 da cidade da Filadélfia, nos Estados Unidos, num quarto do Hotel Penn Tower, um grupo seleto de pesquisadores e médiuns preparava-se para algo inédito. Durante dez dias, dez médiuns brasileiros se colocariam à disposição de uma equipe de cientistas do Brasil e dos EUA, que usaria as mais modernas técnicas científicas para investigar a controversa experiência de comunicação com os mortos. Eram médiuns psicógrafos, pessoas que se identificavam como capazes de receber mensagens escritas ditadas por espíritos, seres situados além da palpável matéria que a ciência tão bem reconhece. O cérebro dos médiuns seria vasculhado por equipamentos de alta tecnologia durante o transe mediúnico e fora dele. Os resultados seriam comparados. Como jornalista, fui convidada a acompanhar o experimento. Estava ali, cercada de um grupo de pessoas que acreditam ser capazes de construir pontes com o mundo invisível. Seriam eles, de fato, capazes de tal engenharia?
A produção de exames de neuroimagem (conhecidos como tomografia por emissão de pósitrons) com médiuns psicógrafos em transe é uma experiência pioneira no mundo. Os cientistas Julio Peres, Alexander Moreira-Almeida, Leonardo Caixeta, Frederico Leão e Andrew Newberg, responsáveis pela pesquisa, garantiam o uso de critérios rigorosamente científicos. Punham em jogo o peso e o aval de suas instituições. Eles pertencem às faculdades de medicina da Universidade de São Paulo, da Universidade Federal de Juiz de Fora, da Universidade Federal de Goiás e da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia. Principal autor do estudo, o psicólogo clínico e neurocientista Julio Peres, pesquisador do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (Proser), do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, acalentava a ideia de que a experiência espiritual pudesse ser estudada por meio da neuroimagem.
Pela primeira vez, o cérebro dos médiuns foi investigado com os recursos modernos da neurociência 
Em frente ao Q.G. dos médiuns no Hotel Penn Tower, o laboratório de pesquisas do Hospital da Universidade da Pensilvânia estava pronto. Lá, o cientista Andrew Newberg e sua equipe aguardavam ansiosos. Médico, diretor de Pesquisa do Jefferson-Myrna Brind Centro de Medicina Integrativa e especialista em neuroimagem de experiências religiosas, Newberg é autor de vários livros, com títulos como Biologia da crença e Princípios de neuroteologia. Suas pesquisas são consideradas uma referência mundial na área. Ele acabou por se tornar figura recorrente nos documentários que tratam de ciência e religião. Meses antes, Newberg escrevera da Universidade da Pensilvânia ao consulado dos EUA, em São Paulo, pedindo que facilitasse a entrada dos médiuns em terras americanas. O consulado foi prestativo e organizou um arquivo especial com os nomes dos médiuns, classificando-o como “Protocolo Paranormal”.

“É conhecido o fato de experiências religiosas afetarem a atividade cerebral. Mas a resposta cerebral à mediunidade, a prática de supostamente estar em comunicação com ou sob o controle do espírito de uma pessoa morta, até então nunca tinha sido investigada”, diz Newberg. Os cientistas queriam investigar se havia alterações específicas na atividade cerebral durante a psicografia. Se houvesse, quais seriam? Os dez médiuns, quatro homens e seis mulheres, participavam do experimento voluntariamente. Foram selecionados no Brasil por meio de uma longa triagem. Entre os pré-requisitos, tinham de ser destros, saudáveis, não ter nenhum tipo de transtorno mental e não usar medicações psiquiátricas. Metade dos voluntários dizia carregar décadas de experiência no “intercâmbio espiritual”. Outros, menos experientes, apenas alguns anos.
Na Filadélfia, antes de a experiência começar, os médiuns passaram por uma fase de familiarização com os procedimentos e o ambiente do hospital onde seriam feitos os exames. O experimento só daria certo se os médiuns estivessem plenamente à vontade. Todos se perguntavam se o transe seria possível tão longe de casa, num hospital em que se podia perguntar se Dr. Gregory House, o personagem de ficção interpretado pelo ator inglês Hugh Laurie, não apareceria ali a qualquer momento.
Numa sala com aviso de perigo, alta radiação, começaram os exames. Por meio do método conhecido pela sigla Spect (Single Photon Emission Computed Tomography, ou Tomografia Computadorizada de Emissão de Fóton Único), mapeou-se a atividade do cérebro por meio do fluxo sanguíneo de cada um dos médiuns durante o transe da psicografia. Como tarefa de controle, o mesmo mapeamento foi realizado novamente, desta vez durante a escrita de um texto original de própria autoria do médium, uma redação sem transe e sem a “cola espiritual”. Os autores do estudo partiam da seguinte hipótese: uma vez que tanto a psicografia como as outras escritas dos médiuns são textos planejados e inteligíveis, as áreas do cérebro associadas à criatividade e ao planejamento seriam recrutadas igualmente nas duas condições. Mas não foi o que aconteceu. Quando o mapeamento cerebral das duas atividades foi comparado, os resultados causaram espanto.
Segundo a pesquisa, a mediunidade pode ser considerada uma manifestação saudável 
Surpreendentemente, durante a psicografia os cérebros ativaram menos as áreas relacionadas ao planejamento e à criatividade, embora tenham sido produzidos textos mais complexos do que aqueles escritos sem “interferência espiritual”. Para os cientistas, isso seria compatível com a hipótese que os médiuns defendem: a autoria das psicografias não seria deles, mas dos espíritos comunicantes. Os médiuns mais experientes tiveram menor atividade cerebral durante a psicografia, quando comparada à escrita dos outros textos. Isso ocorreu apesar de a estrutura narrativa ser mais complexa nas psicografias que nos outros textos, no que diz respeito a questões gramaticais, como o uso de sujeito, verbo, predicado, capacidade de produzir texto legível, compreensível etc.
Apesar de haver várias semelhanças entre a ativação cerebral dos médiuns estudados e pacientes esquizofrênicos, os resultados deixaram claro também que aqueles voluntários não tinham esquizofrenia ou qualquer outra doença mental. Os cientistas afirmam que a descoberta de ativação da mesma área cerebral sublinha a importância de mais pesquisas para distinguir entre a dissociação (processo em que as ações e os comportamentos fogem da consciência) patológica e não patológica. Entre o que é e o que não é doença, quando alguém se diz tocado por outra entidade. Os médiuns estudados relataram ilusões aparentes, alucinações auditivas, alterações de personalidade e, ainda assim, foram capazes de usar suas experiências mediúnicas para tentar ajudar os outros. Pode haver, portanto, formas saudáveis de dissociação. Uma das conclusões a que os cientistas chegaram é que a mediunidade envolve um tipo de dissociação não patológica, ou não doentia. A mediunidade pode ser uma expressão comum à natureza humana. Essas conclusões, que ÉPOCA antecipa na edição que chegou às bancas na sexta-feira (16), foram divulgadas na revista científica americana Plos One. O estudo Neuroimagem durante o estado de transe: uma contribuição ao estudo da dissociação tem acesso gratuito desde sexta-feira, dia 16, no endereço eletrônico: dx.plos.org/10.1371/journal.pone.0049360.
EXPERIÊNCIA 1. Q.G. dos médiuns em quarto do Hotel Penn Tower, na Pensilvânia 2. Médium recebe marcador radioativo para captar a atividade cerebral durante o transe 3. Escaneamento cerebral por meio da técnica de tomografia computadorizada com emissão de  (Foto: Denise Paraná/ÉPOCA)


O maior de todos os psicógrafos
Naquele verão, na Filadélfia, os dez médiuns produziram psicografias espelhadas – escritas de trás para a frente –, redigiram em línguas que não dominavam bem, descreveram corretamente ancestrais dos cientistas que os próprios pesquisadores diziam desconhecer, entre outras tantas histórias. Convivendo com eles naquele experimento, colhendo suas histórias, ouvindo os dramas e prazeres de viver entre dois mundos, encontrei diferentes biografias. Todos eles compartilham, porém, a crença de que aquilo que veem e ouvem é, de fato, algo real. Outro ponto em comum: todos nutriam enorme respeito por Chico Xavier, considerado o modelo de excelência da prática psicográfica.

Mineiro de família pobre, fala mansa e sorriso tímido, Chico Xavier recebeu apenas o ensino básico. Isso não o impediu de publicar mais de 400 livros, alguns em dez idiomas diferentes, cobrindo variados gêneros literários e amplas áreas do conhecimento. Ao final da vida, vendera cerca de 40 milhões de exemplares, cujos direitos autorais foram doados. Psicografou por sete décadas. Nenhum tipo de fraude foi comprovada. Isso não significa que seus feitos mediúnicos sejam absoluta unanimidade. Há controvérsias. O pesquisador Alexandre Caroli Rocha, doutor em teoria e história literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), chegou a conclusões que parecem favorecer a hipótese de que Chico fosse mesmo uma grande e sintonizada antena. Em seu mestrado, ele analisou o primeiro livro publicado pelo médium,Parnaso de além-túmulo, que trazia 259 poemas atribuídos a 83 autores já mortos.
Seu estudo considerou os aspectos estilísticos, formais e interpretativos dos poemas e concluiu que a antologia não era um produto de imitação literária simples. Rocha descobriu, por exemplo, que Guerra Junqueiro (1850-1923), um dos autores mortos, assinava a continuação de um poema inacabado em vida. Não havia indício de que Chico tivesse tido acesso ao poema antes de psicografar sua continuação. No doutorado, Rocha concluiu que Chico reproduzia perfeitamente o estilo do popular escritor Humberto de Campos (1886-1934). Nos textos que saíam da ponta de seu lápis havia, segundo Rocha, um estilo intrincado e sofisticado, detectável apenas por aqueles que conhecem bem como Humberto de Campos funciona. Muitos dos textos atribuídos a Campos continham informações que estavam fora do domínio público. Encerradas num diário secreto, tais informações só foram reveladas 20 anos depois da morte de Campos e do início da produção mediúnica de Chico.
Cérebro mediúnico (Foto: Reprodução/Revista ÉPOCA)
A ciência pode desvendar a natureza da alma? 
“Se eu pudesse recomeçar minha vida, deixaria de lado tudo o que fiz, para estudar a paranormalidade.” Essa confissão de Sigmund Freud a seu biógrafo oficial, Ernest Jones, marca um dos capítulos pouco conhecidos da história do pensamento humano. Pouca gente sabe também que muitas das teorias reconhecidas hoje pela ciência sobre o inconsciente e a histeria baseiam-se em trabalhos de pesquisadores que se dedicaram ao estudo da mediunidade. Talvez menos gente saiba que Marie Curie, a primeira cientista a ganhar dois prêmios Nobel, e seu marido, Pierre Curie, também Nobel, dedicaram espaço em suas atribuladas agendas ao estudo de médiuns. No Instituto de Metapsíquica em Paris, no início do século passado, Madame Curie inquiriu com seus assombrados olhos azuis a médium de efeitos físicos Eusapia Palladino. O casal Curie supôs que os segredos da radioatividade poderiam ser revelados por meio de uma fonte de energia espiritual. Quem seria capaz de imaginar isso hoje?

Outros cientistas laureados com o Nobel consagraram parte de sua vida buscando respostas para os mistérios da alma e a possibilidade de comunicação com os mortos. Pesquisas que hoje seriam consideradas assombrosas, como materialização de espíritos, movimentação de objetos à distância, levitação etc., foram realizadas na passagem entre os séculos XIX e XX. Houve forte oposição materialista. Experimentos frustrados e a comprovação de fraude de alguns médiuns lançaram um manto de ceticismo e silêncio sobre o tema. Essa linha de pesquisa entrou em crise. Experimentos com mediunidade aos poucos se tornaram uma mácula nos currículos oficiais dos eminentes cientistas. E a ciência moderna acabou por condenar ao esquecimento inúmeras pesquisas científicas sobre o assunto, algumas rigorosas. Enquanto o cinema, a TV e a literatura cada vez se apropriam mais das questões do espírito, a ciência dominante tem torcido o nariz e deixado essas reflexões fora de seu campo.
A questão tem sido esquecida, mas não totalmente. Apesar de ainda tímidas, pesquisas científicas sobre comunicações mediúnicas, como a da Filadélfia, têm sido realizadas recentemente. Basicamente, encontraram que, além de fenômenos que revelam fraude proposital ou inconsciente do médium, há muito a explicar. Muita coisa não cabe dentro do discurso que prevalece hoje na ciência. Pesquisadores da área acreditam que a telepatia do médium com o consciente ou o inconsciente daquele que deseja uma comunicação espiritual não explica psicografias nas quais se revelam informações desconhecidas das pessoas que o procuram.
A mensagem
Para os céticosA ciência precisa investigar a sério a hipótese da comunicação entre médiuns e mortos
Para os crentes
Essa hipótese ainda precisa passar por mais investigações para ser comprovada  
 Muitas informações fornecidas por médiuns, dizem eles, se confirmaram verdadeiras só mais tarde, após pesquisa sobre o morto. Como pensar então em telepatia se só o morto detinha as informações? Seria possível a ideia de comunicação direta com os mortos? Alguns cientistas que estudam as percepções mediúnicas discordam dessa hipótese. Acreditam que é possível não haver limite de espaço e tempo para percepções mediúnicas. O médium poderia andar para a frente e para trás no tempo e no espaço, coletando as informações que desejasse, quando e onde elas estivessem. Num fenômeno em que comprovadamente não houvesse fraude ou sugestão inconsciente, sobrariam apenas duas hipóteses: ou haveria a capacidade do médium de captar informações em outro espaço e tempo; ou existiria mesmo a capacidade de comunicação entre o médium e o espírito de um morto.
Atuais referências no estudo científico de fenômenos tidos como espirituais, cientistas como Robert Cloninger, Mario Beauregard, Erlendur Haraldsson, Stuart Hameroff e Peter Fenwick aplaudem a iniciativa de Julio Peres em seu estudo. Esse neurocientista brasileiro, que tem colhido apoio em seus pares, afirma que seus achados “compõem um conjunto de dados interessantes para a compreensão da mente e merecem futuras investigações, tanto em termos de replicação como de hipóteses explicativas”. Outro coautor do estudo, o psiquiatra Frederico Camelo Leão, coordenador do Proser, defende mais estudos acerca das experiências tidas como espirituais. “O impacto das pesquisas despertará a comunidade científica para como esse desafio tem sido negligenciado”, diz.
O QUE É MATÉRIA E O QUE NÃO É? Da esquerda para a direita, os cientistas Alexander Moreira-Almeida, Júlio Peres e Andrew Newberg discutem os exames em 2008. O artigo final com todos os achados só foi publicado quatro anos depois (Foto: Denise Paraná/ÉPOCA)
O pesquisador Alexander Moreira-Almeida, coautor do estudo e diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes), da Universidade Federal de Juiz de Fora, é o principal responsável por colocar o Brasil em destaque nessa área no cenário internacional. Moreira-Almeida recebeu o Prêmio Top Ten Cited, como o primeiro autor do artigo mais citado na Revista Brasileira de Psiquiatria, com Francisco Lotufo Neto e Harold G Koenig. É editor do livro Exploring frontiers of the mind-brain relantionship (Explorando as fronteiras da relação mente-cérebro, em tradução livre), pela reputada editora científica Springer.
Ele afirma que a alma, ou como prefere dizer, a personalidade ou a mente, está intimamente ligada ao cérebro, mas pode ser algo além dele. Para esse psiquiatra fluminense, pesquisas sobre experiências espirituais, como a mediunidade, são importantes para entendermos a mente e testarmos a hipótese materialista de que a personalidade seja um simples produto do cérebro. Moreira-Almeida lembra que Galileu e Darwin só puderam revolucionar a ciência porque passaram a analisar fenômenos que antes não eram considerados. “O materialismo é uma hipótese, não é ainda um fato cientificamente comprovado, como muitos acreditam”, diz Moreira-Almeida.
Apesar de todos os avanços da ciência materialista, a humanidade continua aceitando as dimensões espirituais. Dados do World Values Survey revelam que a maioria da população mundial acredita na vida após a morte. Em todo o planeta, um número expressivo de pessoas declara ter se sentido em contato com mortos: são 24% dos franceses, 34% dos italianos, 26% dos britânicos, 30% dos americanos e 28% dos alemães. Não há dúvida de que o materialismo científico foi instrumento de enorme progresso para a humanidade. A dúvida é se ele, sozinho, seria capaz de explicar toda a experiência humana. Para a maioria da população, a visão materialista parece deixar um vazio atrás de si. Na busca de respostas para nossas principais questões, muitos assinariam embaixo da frase de Albert Einstein: o homem que não tem os olhos abertos para o mistério passará pela vida sem ver nada.

* Denise Paraná é jornalista, doutora em ciências humanas pela Universidade de São Paulo e pós-doutora, como visiting scholar, pela Universidade de Cambridge, Inglaterra 
Revista Época - 19 de Novembro de 2012 - Número 757

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Evidências científicas atuais sobre a existência da vida após a morte


Mado Martínez e Elaine Vieira[1]

Já faz muitos anos que os seres humanos se perguntam se há algo além da vida. Muitas culturas, religiões e doutrinas têm sido baseadas na crença de que os mortos vão viver em outros mundos, vão ao paraíso ou reencarnam... Mas o que aconteceria se ciência nos desse evidências de que há vida depois da morte? Nas ultimas décadas, vários cientistas e médicos pesquisadores de várias universidades do mundo estão revolucionando o paradigma do século XXI mostrando evidências de que a consciência de fato sobrevive à morte física.

Mediunidade no laboratório

No instituto Windbridge no Arizona, EUA, a Dra. Julie Beischel está conduzindo uma pesquisa importante para demonstrar que há vida após a morte. Basicamente, utiliza três métodos para estudar o fenômeno da mediunidade: proof-focused: são testes para verificar se os médiuns estão dando a informação correta; process-foused: estuda a experiência dos médiuns durante as comunicações espirituais;applied-research: examina como a informação dos médiuns pode beneficiar a sociedade em geral.

Os resultados da Dra. Beischel confirmam a hipótese de que o espírito sobrevive à morte. Entramos em contato com a Dra. Julie Beischel para perguntar sobre o método científico que aplica em suas pesquisas. Ela disse que utiliza controles muito estritos para pesquisar o fenômeno de mediunidade através de um programa científico que contém uma quantidade grande de dados'No instituto Windbridge, estamos interessados principalmente no estudo da mediunidade. Utilizamos o método científico e controles estritos para pesquisar estes fenômenos e o programa de pesquisa da mediunidade abrange uma quantidade enorme de dados. Através de nosso método quintuplo-cego[2] com médiuns certificados pelo instituto Windbridge, podemos demonstrar que as informações dos médiuns sobre familiares já mortos são exatas, e além do mais, os médiuns não têm nenhum conhecimento prévio sobre a família ou o desencarnado'. Além disso, Beischel disse: 'Este paradigma de pesquisa é ideal porque o fenômeno da mediunidade é facilmente replicável e podemos trazer o fenômeno da mediunidade ao laboratório.' A Pesquisa da Dra. Beischel certamente demostra que o fenômeno da mediunidade é de fato autentico. 

No Brasil, a mediunidade de Chico Xavier foi estudada pelo Dr. Paulo Rossi em 1991. Chico Xavier ficou conhecido pelo seu trabalho gratuito, onde publicou mais de 400 livros através de mais de 600 autores espirituais, e também escrevia cartas de pessoas já falecidas. O estudo do Dr. Paulo Rossi confirmou que 93, 3% das pessoas que visitavam Chico Xavier não o conheciam; 62,2% das mensagens mostraram mais de seis fatos reais cada; e 71,1% continham informações detalhadas sobre pessoas falecidas, que foram posteriormente confirmadas como verdadeiras por seus familiares. Rossi conclui que a informação revelada por Chico Xavier de fato provém de espíritos de pessoas mortas e não é o resultado de qualquer classe de fraude.

Em 2004, Alexander Moreira de Almeida concluiu sua tese de doutorado pela USP, na área de experiências mediúnicas. Almeida estudou 115 médiuns espíritas que seguem a doutrina codificada por Allan Kardec, com o objetivo de construir seu perfil sociodemográfico e para comprovar sua saúde mental. Os pesquisadores concluíram que a maioria dos médiuns desenvolveu sua mediunidade durante a infância e mostraram altos índices socioeducativos. Além disso, os resultados mostraram um nível muito baixo de desordens psiquiátricas.Esse estudo mostra que os médiuns que com freqüência são taxados de “loucos” são na verdade pessoas sem quaisquer problemas psicológicos e apresentam um nível muito alto de escolaridade.

O Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, da USP de São Paulo, usa técnicas de difração de raios X, tomografia computadorizada e ressonância magnética para explicar a relação entre a glândula pineal e a mediunidade. Dr. Sérgio demonstrou que médiuns de incorporação possuem mais cristais de apatia na glândula pineal, e que durante o momento da comunicação espiritual os médiuns possuem alta atividade cerebral e aumento de fluxo sanguíneo na região da glândula pineal. A hipótese do Dr. Oliveira é que a glândula pineal é o órgão sensorial da mediunidade.

Pesquisas sobre experiências de quase-morte

No King’s College de Londres está acontecendo uma revolução no mundo da tanatologia, o estudo científico sobre a morte. O pesquisador e médico, Peter Fenwick, está fazendo experimentos detalhados sobre um fenômeno que acontece entre as 24 e 48 horas antes e depois da morte e também no momento da morte. As experiências de quase-morte se referem ao conjunto de visões ou sensações frequentemente associadas a situações de morte iminente. Essas sensações incluem: experiência fora do corpo; levitação; medo extremo; serenidade total, segurança, calor e a presença de uma luz. Esses fenômenos são normalmente informados após uma pessoa ter sido considerada clinicamente morta e que depois volta à vida. Dr. Fenwick estuda as visões de pessoas que estão internadas e que falam com parentes já mortos. Também pesquisa coincidências de desencarnados que contactaram alguém somente para dizer que ela/ele havia morrido. “Esses acontecimentos ocorrem com muita frequência e em grande porcentagem dos casos e afirma que a consciência é diferente do cérebro”, conclui Dr. Fenwick.

O Dr. Kenneth Ring, da Universidade de Connecticut e Sharon Cooper, da Universidade de Nova York, fizeram um estudo de dois anos sobre as experiências de quase-morte em deficientes visuais, com resultados espantosos. Os resultados foram publicados no livro Mindsight (1999), o qual comprovou que 31 pessoas cegas que passaram pela experiência de quase-morte descreveram a experiência de terem podido ver pela primeira vez em suas vidas, dando detalhes de procedimentos médicos na mesa cirúrgica. 

O médico oncologista Jeffrey Long, que dirige a fundação de pesquisa sobre experiência de quase-morte (http://www.nderf.org), tem recolhido mais de 2.500 estudos de casos em todo o mundo de pessoas que tiveram esse tipo de experiência. Por usar o método científico em sua pesquisa, decidimos contatar Dr. Long para descobrir mais sobre seu trabalho. Em nossa entrevista por e-mail com ele, declarou: “Minha área profissional está baseada em pesquisas sobre experiências de quase-morte. Em minha opinião, as experiências de quase-morte proporcionam uma das maiores evidências científicas da vida após a morte.” Em seu livro Evidence of the Afterlife (Evidencias da vida após a morte), Dr. Long faz um resumo das linhas de evidência que apontam a veracidade das experiências quase-morte: os pacientes clinicamente mortos experienciam: 1) consciência clara; 2) experiências reais fora do corpo; 3) sentidos aguçados; 4) consciência durante a anestesia; 5) lembranças claras, reencontros com familiares falecidos. Além disso, Dr. Long confirma que as experiências de quase-morte em crianças são as mesmas que em adultos, que experiências de quase-morte ocorrem no mundo todo, e que as pessoas que passam por experiências de quase-morte geralmente promovem uma mudança de vida significativa.

Pesquisas em Terapia de Regressão de Vidas Passadas e Reencarnação 


As pesquisas em regressão de vidas passadas constam de práticas baseadas em evidências. Os resultados provêm de questionários que são preenchidos antes e depois da terapia com um número grande de participantes com um tipo específico de problema e inclui um grupo de controle para demonstrar sua efetividade (o duplo método científico cego). Entre 1985 e 1992, Hazel Denning, fundador da Associação Internacional para Pesquisa de Regressão e Terapias (http://www.iarrt.org), estudou os resultados de oito terapeutas de regressão com aproximadamente 1.000 pacientes. Os resultados foram medidos imediatamente após a terapia, com seguimentos de seis meses, um ano, dois anos e cinco anos após a terapia. Dos 450 pacientes que poderiam ser localizados após cinco anos, 24% informaram que seus sintomas tinham desaparecido completamente, 23% confirmaram uma grande melhora, 17% confirmaram uma melhora, e 36% não obtiveram nenhuma melhora. Em geral, isto faz um saldo positivo de 64%. 


O psicoterapeuta Dr. Brian Weiss do Centro Mount Sinai em Miami, EUA, que se declarava pessoa cética, mudou de opinião e decidiu pesquisar o fenômeno da reencarnação e espiritualidade ao constatar que uma de suas pacientes, após recordar sua vida passada, podia dar detalhes impressionantes sobre seu filho já morto. Ele também constatou que durante a sessão de hipnose, seus pacientes diziam ver professores (espíritos). Dr. Weiss teve a oportunidade de conversar com tais professores que lhe deram informações detalhadas sobre assuntos que a paciente desconhecia. Depois de muita investigação, Dr. Weiss escreveu vários livros, entre eles: Many Lives, Many Masters (Muitas vidas, muitos mestres), Messages from the Masters (Mensagens dos mestres), Only love is real, (Somente o amor é real) entre outros, onde explica a realidade da reencarnação e do mundo espiritual desde a perspectiva psiquiátrica. 

Dr. Ian Stevenson, falecido em 2007, era um dos pesquisadores mais conhecidos na área da reencarnação na Universidade da Virginia. Ele não utilizava o método de hipnose para verificar se uma pessoa teve uma lembrança de uma vida anterior; ao contrário, ele estudou milhares de casos em crianças nos EUA, Inglaterra, Tailândia, Birmania, Turquia, Líbano, Canadá, Índia, etc. Primeiro, ele verificava toda a informação sobre a vida anterior da criança. Depois, identificava o desencarnado que a criança dizia ter sido na vida anterior. Mais tarde, confirmava os fatos da vida passada do desencarnado que coincidiam com as lembranças das crianças. Ele também comparava marcas no corpo e defeitos de nascimento das crianças com feridas e cicatrizes que os desencarnados possuíam quando vivos, tudo isso confirmados por registros médicos. O Dr. Jim Tucker, diretor médico da Clínica Psiquiátrica Child and Family, da Universidade da Virginia, é o atual sucessor do Dr. Stevenson. Nós entramos em contato com Dr. Tucker para saber um pouco mais sobre as provas da vida após a morte. Ele respondeu: "As provas mais importantes da vida após a morte, além das experiências quase-morte, são as pesquisas com médiuns, relatórios detalhadamente estudados de aparições e lembranças de vidas passadas em crianças. Ian Stevenson passou 40 anos estudando tais casos, onde a maioria deles vinha de culturas com uma crença em reencarnação. Eu agora estudo os casos ocidentais, e os resultados são praticamente os mesmos”.  

A ciência da vida após a morte

A Ciência do pós morte foi investigada do ponto de vista judicial pelo advogado australiano e escritor Victor Zammit. Ele afirma que todas as provas que ele reuniu sobre a vida após a morte são bastante fortes para serem aceitas em qualquer tribunal (http://www.victorzammit.com). Em seu livro: A Lawyer Presents the Case for the Afterlife (2006, 4a ed.), Zammit mostrou 23 áreas diferentes que demonstra a existência de vida após a morte. Ele colocou como desafio para os cientistas, onde ele pagaria U$ 1.000.000 para que alguém provasse que não há vida após a morte! 


Atualmente, há numerosos estudos sendo conduzidos na área de espiritualidade e vida após a morte, onde os cientistas estão utilizando tecnologias de ponta e métodos científicos. A pesquisa pioneira de Raymond Moody e Elisabeth Kübler-Ross tem contribuído ao desenvolvimento desta área. Podemos citar vários outros exemplos como: Erlendur Haraldsson da Universidade de Islândia, Morris Netherton terapeuta de vida passada, o psicólogo Peter Ramster, o psicoterapeuta Andy Tomlinson, o cardiólogo Pim Van Lommel, e muitos outros. Embora vários pesquisadores estejam encontrando evidências impressionantes que sugerem que há vida após a morte, ou pelo menos a sobrevivência da consciência, eles ainda não sabem bem como explicar como tudo funciona... É, às vezes a ciência funciona desta maneira; um exemplo clássico são os astrônomos e os astrofísicos que podem identificar uma relação entre os ciclos de atividade do Sol e o clima na Terra, assumindo que esta relação existe apesar de não saberem como funciona. Como o Professor Sami Solanki, do Instituto Max Planck do Departamento de Pesquisa do Sistema Solar na Alemanha, declarou (http://tinyurl.com/77taz9c): “A correlação entre os ciclos solares e o clima terrestre não tem sido demonstrada.” Então, por que estudam esta correlação se ainda não sabem que isto realmente existe? A resposta é simples: é porque eles têm observado evidências que sugerem que isso pode ser desta maneira… Pois bem, parece que estamos em uma situação muito similar com os estudos sobre a vida após a morte. Os pesquisadores têm observado evidências que sugerem que a consciência sobrevive à morte física, mas ainda não conseguem entender bem como isso funciona. Se nos dois casos a ciência ainda não foi capaz de demonstrá-los, então nós ainda não podemos rechaçar a possibilidade de uma possível existência da vida após a morte! 
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Obs.: O artigo original consta de 10 páginas e foi publicado na revista Año Cero na Espanha (tema de capa de revista no mês de dezembro de 2011) e na revista Nexus na Australia (Abril de 2012).




Revista Internacional de Espiritismo (RIE), ano LXXXVII - Nº 06.

Agradecemos ao colaborador Ricardo Malta pelo envio do artigo. (O Blog dos Espíritas).



[1] Mado Martínez é filóloga que atualmente está estudando e trabalhando no campo antropológico na Universidade Nacional de Educação de Distância (UNED), Espanha. É autora de oito livros e muitos artigos para revistas em todo o mundo. Elaine Vieira é fisiologista e pesquisadora PhD na área de doenças metabólicas em Barcelona, Espanha. 

[2] Quintuplo-cego: protocolo científico realizado para evitar resultados tendenciosos, onde nem o examinado (objeto de estudo) nem o examinador (pesquisador) sabem as variáveis do estudo, no caso do quintuplo-cego são usados 5 pessoas diferentes para ajudar na análise dos dados sem que nenhuma delas saiba do que se trata o estudo.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A Criogenia ante o Espiritismo


Por Fabiano Vidal

Não tem sido raro lermos notícias a respeito da criogenia, técnica que consiste no congelamento de cadáveres com o objetivo de ressuscitá-los no futuro. O termo ficou conhecido mundialmente após Robert Ettinger, considerado o "pai da criogenia", publicar, em 1964, o livro The Prospect of Immortality (Uma Perspectiva de Imortalidade), inédito no Brasil. Na obra, seu autor defendia a tese segundo a qual "era possível conservar o corpo indefinidamente", de modo que um dia "a ciência médica pudesse reparar os problemas causados pela doença e a própria criogenia".

A técnica consiste em guardar o corpo num tanque de nitrogênio líquido, a 196ºC abaixo de zero, temperatura em que não há decomposição das células. Com esse objetivo, o corpo é envolto em uma manta térmica especial, que ajuda a mantê-lo frio, enquanto é transportado para uma clínica em temperaturas baixas, que tem por objetivo fazer com que o cérebro exija menos oxigênio e mantenha os tecidos vivos por mais tempo.

Essa técnica, feita sob medida para aqueles que não creem na vida após a morte do corpo físico, não é barata. De acordo com o site Mundo Estranho, existem nos Estados Unidos, as duas únicas empresas do mundo que realizam o procedimento: a Alcor (Arizona), que cobra 150 mil dólares pela preservação do corpo todo e 80 mil para preservar apenas o cérebro; e a Cryonics Institute, que não faz preservação do cérebro, apenas do corpo todo, por 100 mil dólares.

Embora a teoria criogênica seja de 1964, até hoje não foi possível reanimar corpo algum. Para tal fim, seria necessário vencer dificuldades como a falta de oxigênio durante os primeiros minutos da morte, que pode acarretar em danos irreparáveis aos tecidos, que permanecerão nesse estado, mesmo estando congelados; o líquido criopreservante utilizado com a finalidade de preservar o organismo seria tóxico e ainda não existe, até o momento, alternativa para substituí-lo; e, por último, a necessidade de reverter o processo que causou a morte daquele corpo.

Mas como a Doutrina Espírita vê a possibilidade da criogenia um dia se tornar real? De acordo com a codificação, tal procedimento jamais poderá se tornar realidade. Em O Livro dos Espíritos, capítulo III, Retorno da vida corpórea à vida espiritual, questão 149, podemos ler, de forma taxativa:

P – Em que se transforma a alma no instante da morte?

R – Volta a ser Espírito, ou seja, retorna ao mundo dos Espíritos que ela havia deixado temporariamente. (Grifo nosso)

Allan Kardec, em A Gênese, afirma: "A atividade do princípio vital é mantida, durante a vida, pela ação do desempenho dos órgãos, como o calor pelo movimento de rotação de uma roda; que essa ação cesse pela morte, o princípio vital se extingue como o calor, quando a roda cessa de girar."

Concluindo: uma vez findo o princípio vital e a ocorrência do desligamento dos laços que prendem a alma ao seu corpo físico, não há a possibilidade de revivê-lo, em que pesem os esforços da Ciência para esse fim.

Para saber mais: 

quarta-feira, 1 de junho de 2011

As Irmãs Fox

Por Arthur Conan Doyle

No mês de março de 1848, aconteceram, no pequeno povoado de Hydesville, nos Estados Unidos da América do Norte, os primeiros fenômenos espíritas dos tempos modernos, o que representou o prelúdio do advento da Doutrina Espírita, consumado com a Codificação Kardequiana.

Hydesville é um pequeno povoado típico do Estado de New York e, quando da ocorrência desses fenômenos, contava com um pequeno número de casas de madeira, do tipo mais simples. Numa dessas cabanas, habitava a família de John D. Fox, composta dos pais e vários filhos, dentre outros Margareth, de quatorze anos, Kate de onze anos, além de Leah, que residia noutra cidade.

A família Fox havia passado a morar nessa casa no dia 11 de dezembro de 1847. Algum tempo após essa mudança, seus ocupantes passaram a ouvir arranhões, ruídos insólitos e pancadas, vibradas no forro da sala, no assoalho, nas paredes e nos móveis, os quais passaram a constituir verdadeira preocupação para aquela humilde família.

Todos ficaram abalados com os acontecimentos. Numa semana a senhora Fox ficou grisalha. E, como tudo sugeria que os fenômenos estivessem ligados às duas meninas, Margareth e Kate, estas foram afastadas de casa. Mas, em casa do seu irmão, David Fox, para sonde foi Margareth, e na casa de sua Irmã Leah, cujo nome de casada era Sra. Fish, em Rochester, onde Kate ficou hospedada, os mesmos ruídos se fizeram ouvir. Esforços inauditos foram dispendidos para que o público ignorasse essas manifestações; logo, porém, elas se tornaram conhecidas. Leah, a irmã mais velha, teve que interromper as aulas de música, pois, passando também a ser intermediária dos fenômenos, embora em menor escala, foi levada a não continuar com as lições.

Os fenômenos se produziam com tal intensidade que, da casa das irmãs Fox, passaram a ser ouvidos na residência do Rev. A.H. Jervis, ministro metodista residente em Rochester. Logo, após, eles também se fizeram sentir na residência do Diácono Hale, de Greece, cidade vizinha de Rochester.

Na noite de 31 de março de 1848, descobriu-se um meio de entrar em contato com a entidade espiritual que produzia os fenômenos. A filha menor do casal, Kate, disse, batendo palmas: Sr. Pé Rachado, faça o que eu faço. De forma imediata, repetiram-se as palmadas. Quando ela parou, o som também parou em seguida. Em face daquela resposta, Margareth, então, disse, brincando: "Agora faça exatamente como eu. Conte um, dois, três, quatro, e bateu palmas." O que ela havia solicitado foi repetido com incrível exatidão. Kate, adiantando-se, disse, na sua simplicidade infantil: "Oh! mamãe! eu já sei o que é. Amanhã é primeiro de abril e alguém quer nos pregar uma mentira."

A senhora Fox lembrou-se, então, de fazer uma tentativa concludente: solicitou à entidade que desse as idades de todos os seus filhos, o que foi feito com notável precisão.

Havia-se estabelecido, desta forma, um sistema de comunicação com o mundo espiritual. Criou-se um alfabeto convencional, por meio de pancadas e, por intermédio desse sistema bastante rudimentar, descobriu-se que o Espírito comunicante era um antigo vendedor ambulante de nome Charles Rosna, que, daquele modo, procurava revelar a sua presença e entrar em contato com as pessoas da casa. O indivíduo portador desse nome fora, anos antes, assassinado na casa de Hydesville, na qual, sem o saber, viera posteriormente residir a família Fox. O assassinado revelou que havia sido morto com uma faca de açougueiro, cinco anos antes; que o corpo tinha sido levado para a adega; que só na noite seguinte é que havia sido sepultado; tinha passado pela despensa, descido a escada, e enterrado a três metros aproximadamente do solo. Adiantou, também, que o móvel do crime fora o dinheiro que possuía, cerca de quinhentos dólares.

Na noite de 1.° de abril, começaram a escavar o solo na adega, atingindo um lençol de água. Procedendo-se a nova pesquisa no verão do mesmo ano, foram descobertos uma tábua, carvão e cal, cabelos e ossos humanos, entretanto, somente no dia 22 de novembro de 1904, com a queda de uma parede, descobriu-se o esqueleto. Também foi achado um baú que pertenceu ao mascate.

Após estabelecer esse sistema de intercâmbio com o mundo espiritual, de que os fatos narrados foram apenas o prelúdio, outras entidades espirituais entraram a manifestar-se, fazendo entre outras a revelação de que as duas filhas de John Fox — Margareth e Kate — eram médiuns, por cuja inconsciente e involuntária intervenção se produziram os fenômenos. A elas estava reservada a missão de cooperar no importante movimento de idéias o qual, por semelhante forma, não tardaria a atrair a atenção do mundo.

Os acontecimentos tiveram inusitada repercussão em Hydesville, em Rochester, e em outras cidades circunvizinhas.

Ao transferir a sua residência para Rochester, a família de John Fox deparou com o primeiro óbice: o pastor da igreja, a que pertenciam, intimou as meninas, sob pena de expulsão, a abjurarem tais práticas. Essa imposição foi repelida pelas irmãs Fox e, por isso, elas foram expulsas daquela comunidade religiosa.

Surgiram, posteriormente, as comissões nomeadas para averiguarem a veracidade dos fenômenos e se pronunciarem acerca da sua natureza. A primeira, depois de longa e minuciosa pesquisa, concluiu por reconhecer a veracidade da intervenção espiritual, na produção dos fatos que o público se obstinava em atribuir a artifício daquelas humildes meninas sem considerar que nisso não havia para elas interesse algum. A segunda comissão foi nomeada, chegando ao mesmo resultado, com desapontamento para todos.

Nomearam por fim uma terceira comissão, composta de pessoas notáveis e insuspeitas e, quando terminou ela o seu rigoroso inquérito, grande parte da população de Rochester se reuniu no maior salão da cidade, conhecido por Corinthian Hall, com o fito de ouvir o resultado.

Deu-se, então, um fato incrível: como a conclusão a que haviam chegado os membros da comissão, confirmava, definitivamente, as pesquisas anteriores, o público, indignado pelo que teimava em ser uma burla por parte das jovens médiuns, que, ao lado de seus pais, aguardavam serenamente o veredicto, levantou-se em atitude hostil e, numa onda ululante, pretendeu invadir o recinto, com o intuito de massacrá-las. Foi necessária a pronta intervenção do venerando quaker George Willets, para evitar aquele linchamento. Willets chegou ao extremo de dizer que, se quisessem matar as meninas, os fanáticos teriam que passar sobre o seu cadáver.

As meninas sofreram nas mãos dos investigadores. No decurso das pesquisas, das comissões, que também tinham algumas senhoras entre os seus membros, estas despiram as meninas, submetendo-as a investigações brutais e aflitivas. Seus vestidos foram amarrados, apertados nos corpos, e elas colocadas sobre vidros e outros isolantes. A comissão se viu obrigada a referir que, Quando elas se achavam de pé sobre as almofadas, com um lenço amarrado à borda dos seus vestidos, amarradas pelas cadeiras, todos nós ouvimos as batidas distintas nas paredes, no assoalho e em outros objetos". Por fim, essa comissão declarou, enfaticamente, que as suas perguntas, das quais algumas feitas mentalmente, tinham sido respondidas corretamente.

As perseguições sofridas pelas irmãs Fox foram inenarráveis. Um jornal denominado Rochester Democrat havia tirado uma edição com a manchete "Exposição Completa da Mistificação das Batidas". O resultado das pesquisas obrigou o seu editor a sustar a distribuição do jornal.

Um dos pesquisadores afirmou que, senão se descobrisse qualquer fraude, ia atirar-se nas Cataratas do Genesse. Ele teve que mudar de opinião em sua afirmação.

Em 1850, foram recebidas em duas salas separadas, em Rochester, duas mensagens simultâneas, do Espírito de Benjamim Franklin, cujo teor era o seguinte:

"Haverá grandes mudanças no século dezenove. Coisas que, atualmente, parecem obscuras e misteriosas, para vós, tornar-se-ão claras aos vossos olhos. Os mistérios vão ser revelados. O mundo será esclarecido."

Fonte: A História do Espiritismo