quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A Síntese Kardequiana


Allan Kardec

Por Maurice Herbert Jones

Segundo o filósofo e pacifista britânico Bertrand Russel, a Filosofia é algo que se situa entre a Teologia e a Ciência. Todo o conhecimento definido pertence à Ciência e todo dogma, pertence à Teologia. Mas, entre a Teologia e a Ciência existe um território de ninguém, onde as nossas reflexões, as nossas idéias, os nossos mais simples pensamentos, transitam sem dificuldades, sem formalismos – esta terra de ninguém é uma terra de todos: é o chão da Filosofia.

O mundo, indaga ele, está dividido em espírito e matéria?  Se assim é, o que é o espírito e o que é a matéria? Quem está sujeito a quem? Será o espírito dotado de alguma independência?  Possui o universo alguma unidade ou propósito e se possui estará ele evoluindo a caminho da sua finalidade? Será que existem mesmo leis da natureza ou só acreditamos nelas devido ao nosso amor pela ordem? Existe alguma maneira de viver que seja mais nobre ou menos nobre? Em que consistiria o modo de vida nobre e como realizá-lo?

Evidentemente não encontraremos respostas a estas questões nos laboratórios. Responder a elas é empenho da Filosofia pois, se nem  todas as nossas especulações podem ser respondidas pela Ciência, é também verdade que  as respostas confiantes dos teólogos, aceitas no passado, já não nos convencem mais,  conclui o pensador na sua “História da Filosofia Ocidental”.

Seria o Espiritismo numa resposta inteligente a estas profundas questões de ordem filosófica? Vários elementos que estruturam o pensamento espírita respondem positivamente a esta indagação e o credenciam como um modo moderno, ventilado e revolucionário de percepção do homem e do mundo, bem como precioso instrumento pedagógico para o autoconhecimento e controle racional da própria evolução. 

O grande problema da ética como estudo racional da moralidade se resume em saber se é desejável ser bom e, em caso afirmativo, como pode ser o homem persuadido a ser bom. A esta intrigante questão o Espiritismo responde com a idéia da evolução e, sobretudo, com os princípios da reencarnação e da causalidade que oferecem substrato racional riquíssimo para a adoção consciente de um modelo comportamental fundamentado na tolerância racial e social, configurando assim a ética natural, sonhada por Sócrates, capaz de construir um sistema de moralidade independente de credos teológicos.

Na visão do filósofo J.Herculano Pires, O Livro dos Espíritos, veículo privilegiado destas idéias inovadoras, mesmo não tendo sido elaborado em linguagem técnica e nem observe as minúcias da exposição filosófica, revela todo um complexo e amplo sistema de filosofia. É, portanto,  o arcabouço filosófico do Espiritismo.

Como se vê, Kardec não foi um filósofo na acepção mais usual do termo, nem exatamente um cientista. Foi, isto sim, e acima de tudo, um extraordinário pedagogo, qualificação essencial para a compreensão e propagação do Espiritismo até os dias atuais.

A precoce percepção de que somente a educação e o amor poderiam encaminhar solução para os problemas sociais e morais do seu tempo fez de Kardec herdeiro natural de uma magnífica linhagem de educadores que começa, no século XVII, com Comenius, o pai da didática moderna, passa, no séc. XVIII, pelo filósofo J.J. Rousseau e seu “Emílio”, terminando  no grande e sábio mestre da educação como ato de amor, J.H. Pestalozzi.  

Como um estuário das correntes de idéias mais generosas e libertárias que irrigaram a cultura da Europa desde a renascença, Kardec chegou à maturidade equipado, moral e intelectualmente, para a grande tarefa de sua vida: a construção de uma síntese conceptual do mundo moderno, a Codificação Espírita, centrada na idéia da evolução e na realidade e primado da vida espiritual.

Esta extraordinária façanha, resultado do trabalho de homens encarnados, assessorados por homens desencarnados, tornou-se possível, no tempo e no espaço, pela feliz conjugação de fatores políticos, sociais, econômicos e culturais aliados à sensibilidade, lucidez e coragem do mestre educador Hippolyte Léon Denizard Rivail cujo bicentenário de nascimento estamos comemorando neste 3 de outubro de 2004.

Segundo muitos historiadores, o Renascimento  e a Reforma Luterana são as duas mais importantes nascentes da história moderna. Uma libertou o espírito e embelezou a vida, oferecendo ao homem o direito à felicidade aqui na terra; a outra estimulou a crença e o senso moral. As idéias contidas no bojo destes movimentos, propagadas pelas facilidades oferecidas pela descoberta de Gutenberg e dinamizadas pela revolução conceptual produzida pela descoberta da América e pela revelação de Copérnico, varreram a Europa a partir do final do Séc. XV e início do Séc. XVI, desencadeando uma  irresistível avalanche de mudanças, crises  e conflitos ideológicos num mundo cansado do repouso medieval e ansioso pela descoberta de novos mundos, novos caminhos, novas idéias.

No Século XVIII o Renascimento cede espaço para o Iluminismo que, tendo razão e liberdade como estandarte, enfrenta a superstição e a opressão, produzindo significativa redução de importância da Igreja e influindo por seus princípios na independência dos Estados Unidos e na Revolução Francesa, fatos que, entre outros, assinalam o colapso da França feudal, uma importante ampliação das liberdades civis e a transição da Idade Moderna para a Contemporânea.

Se acrescentarmos a este sintético painel o crescimento exponencial da população a partir de 1750 em função de avanços na produção agrícola, higiene e medicina e mais a revolução industrial iniciada na Inglaterra provocando intenso deslocamento das populações rurais para as cidades com todo o conjunto de conseqüências sociais, políticas e econômicas, encerraremos o século das luzes já experimentando um certo cansaço da arrogância racionalista e criando espaço para o surgimento do Romantismo que valorizando o sentimento caracteriza o século XIX, o século de Kardec.

O nascimento em 1804 e a formação intelecto-moral  do futuro Codificador do Espiritismo ocorre em plena era de Napoleão que, no mesmo ano é coroado Imperador  e promulga o Código Civil dos Franceses ou “Código de Napoleão”, de importância decisiva no direito ocidental e, conforme o próprio Imperador, sua maior obra.

Kardec era um homem da sua época, cosmopolita, sensível, arguto e naturalmente aberto às influências mais nobres que a história e a experiência lhe ofereciam. Enquanto aprimorava sua formação no Instituto de Pestalozzi em Yverdon e, depois, na vida profissional, como educador, outros acontecimentos ocorriam, com enorme significado e presença na sua futura e máxima obra.

Além dos importantes desdobramentos geopolíticos do período napoleônico, podemos identificar as revolucionárias teorias evolucionistas de Lamark e Darwin de enorme repercussão,  a Filosofia Positivista de Auguste Comte e, até, o Manifesto Comunista de Marx e Engels, produto da agitação social da nova classe operária.

Neste cenário imponente e desafiador, buscava-se afanosamente um novo modelo conceptual para o tempo novo que surgia, pois os paradigmas vigentes haviam esgotado a capacidade de oferecer segurança e identidade.  É então que, já maduro e sensível às inquietações do seu mundo e à convocação do mundo espiritual, Kardec aceita a responsabilidade de liderar o grande esforço para construção de uma nova visão de homem e de mundo, humanista e dinâmica, na qual razão e sentimento pudessem, harmonicamente, buscar a verdade.

E assim, como uma flor tardia da primavera iluminista, nascida no solo adubado pelo romantismo de Rousseau e Pestalozzi, surgiu o Espiritismo que, com seu “humanismo espiritocêntrico”, busca superar, dialeticamente, o conflito entre o pensamento medieval centrado em Deus e o humanismo organocêntrico da renascença e iluminismo. A cosmovisão inovadora e sintética oferecida por Kardec ao mundo nascia, robusta e perturbadora, desafiando os paradigmas senis e anunciando, no dizer do físico inglês Oliver Lodge, “uma nova revolução copérnica”.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Hercílio Maes, médium ou escritor?


Por Artur Felipe Azevedo

Em um dos nossos últimos artigos, intitulado "Artigo Investigativo: Ramatis pode nem existir", discorremos sobre as semelhanças entre alguns conceitos e textos teosóficos e os ditados do espírito Ramatis, e também acerca da consequente (e grande) possibilidade de Ramatis sequer ter existido ou existir. Desta feita, faremos um exame da biografia de Hercílio Maes, o primeiro médium a alegar ter recebido mensagens daquele espírito.

Em "Simplesmente Hercílio" (Editora do Conhecimento, 2010), o próprio filho de Hercílio, Mauro Maes, discorre sobre acontecimentos ocorridos durante a vida do pai, assim como alguns dos seus pensamentos e opiniões, sendo muitos deles bastante interessantes para a análise que estamos fazendo, em que buscamos, ao máximo, a isenção, para que cheguemos mais próximos da Verdade. 

Resumamos algumas das informações constantes do livro que consideramos como as mais relevantes para o objeto de nossa pesquisa. Citaremos as páginas do livro para que o leitor possa aferir com mais facilidade o que declaramos. 

1 - É informado que Hercílio Maes recebeu uma educação católica a contragosto, já que sua mãe era católica fervorosa. Para satisfazer o desejo da mãe, foi coroinha. Por conta disso, na juventude tornou-se ateu, opção que, segundo seu filho, conservou-se por muito tempo (pág. 12). Teria sido somente por ocasião de um atropelamento a um casal que Hercílio teria se aproximado do Espiritismo (pág. 15). No entanto, é dito alhures que ele teria tido contato com Ramatis já aos três anos de idade, o que faz com que haja aí um grande contrassenso no que concerne à sua posterior opção pelo ateísmo. É dito que Ramatis teria feito essa primeira aparição "completamente materializado", envergando um turbante com uma pedra verde e uma cruz dentro de um triângulo. Algo que, de tão impressionante, dificilmente teria sido deixado de lado por alguém.

2 - Aos 30 anos teria acontecido o segundo contato. Hercílio Maes alegava ser dotado de "mediunidade intuitiva" e teria usado dessa faculdade para escrever as obras atribuídas a Ramatis, embora fosse também médium psicógrafo (pág.18). Guardou as primeiras mensagens, todas escritas com utilização de uma máquina de escrever, até que um amigo militar chamado Levino Cornélio Wischral se interessou e, entusiasmado, o incentivou para que fossem publicadas, passando, então, a revisá-las. Percebe-se aí que não foi feito qualquer tipo de estudo analítico das obras antes de sua publicação, tendo as mensagens ficado restritas a um pequeno grupo de pessoas antes de irem direto para o prelo. Levino já havia incursionado por esse terreno movediço com a publicação de um folheto intitulado “O Sol”, onde um espírito chamado Henrique Voes teria descrito o Sol e seus habitantes (!) através de uma médium chamada Guilhermina Drischel. Parecia ter um gosto especial por obras de cunho duvidoso: foi ainda prefaciador do livro “Num Disco Voador Visitei Outro Planeta”. Trataremos mais detalhadamente sobre o opúsculo “O Sol” em outra oportunidade.

3 - Tempos depois, Hercílio passou a reunir pessoas em sua casa a fim de formular perguntas a Ramatis, sendo que o próprio espírito, segundo é relatado, sugeria algumas delas. Como isso acontecia não é esclarecido, já que Hercílio não recebia mensagens de Ramatis nem através da psicografia, nem pela psicofonia. Somente se pode contar com o relato do médium, e nenhuma prova cabal de contato mediúnico direto é demonstrada, uma vez que as supostas mensagens eram recebidas “intuitivamente”.

4 - Por conta disso, à página 20, é relatado que Hercílio sofreu críticas de grandes vultos do Movimento Espírita, tais como Herculano Pires, Jorge Rizzini e Henrique Rodrigues, logo após o surgimento da primeira obra, intitulada "A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores", lançada pela Editora da Boa Vontade, ligada à LBV de Alziro Zarur, que sempre defendera a tese do “de 1000 passará, mas a 2000 não chegará”, incessantemente repetida em seus programas de rádio. Acreditavam eles que as obras eram de origem anímica, algo que jamais ficou bem esclarecido para o público em geral. No entanto, com as pesquisas que recentemente envidamos, ficou evidenciado que tais ditados têm incrível semelhança com certos escritos anteriores de autores teosóficos, o que certamente foi verificado, à época, por Herculano Pires, estudioso da Teosofia antes de conhecer o Espiritismo. 

Incomodado com as críticas bem fundamentadas, Hercílio Maes alegou não ser importante a autoria das mensagens, mas seu conteúdo:
"Mesmo que Ramatis não existisse, mesmo supondo-se a tese de Herculano Pires, o que importa é o conteúdo das mensagens. (...) Que importa que fossem inspiração minha? Eu também sou um espírito.(...)"
É realmente impressionante como a atitude do analista é vista como condenável no meio espírita. Isso demonstra desconhecimento da obra kardeciana. “Os médiuns geralmente assumem a condição de ofendidos, e aparecem aos olhos da sociedade como infelizes e injustiçados”, conforme pontua Wilson Garcia, no ótimo “Uma Janela para Kardec” (Editora EME). O autor também enfatiza que analisar a identidade e o pensamento dos espíritos não é apenas necessidade, mas verdadeira obrigação. Foi um espírito quem nos instrui sobre isso na Codificação: “É isto que exige um muito grande estudo da parte de espíritas esclarecidos e dos médiuns; em distinguir o verdadeiro do falso é que devemos dirigir toda nossa atenção”.

No que diz respeito diretamente à declaração de Hercílio transcrita acima, Kardec reconhece que a “identidade dos Espíritos é uma das mais discutidas, mesmo entre os adeptos do Espiritismo”, não deixando de ressaltar que “em muitos casos, a identidade absoluta é uma questão secundária e sem importância real.” É preciso convir, no entanto, que a identificação é absolutamente desnecessária apenas quando “se trata de instruções gerais”, o que não se aplica a mensagens assinadas por espíritos que se posicionam como superiores, como é o caso de Ramatis, por exemplo. Tanto é que consta de “O Livro dos Médiuns” a análise de três mensagens cujo autor espiritual teria sido São Francisco de Paula. A apreciação dessas mensagens demonstra que é preciso, às vezes, certa argúcia para que se perceba o engodo que o espírito engendra, algo que, infelizmente, não ocorre porque grande parte do contingente espírita não estuda as obras da Codificação, não lhe conhece os princípios, o método e sua real proposta.

5 - Mais adiante no livro, o autor tece comentários sobre a vida cotidiana de Hercílio Maes e família. Afirma que o pai fazia questão que os filhos compreendessem as bases da Doutrina Espírita e que elas fizessem parte da educação desde tenra idade. Além disso, é contado que fenômenos mediúnicos ocorriam vez ou outra, tendo os filhos conhecimento do trabalho do pai como autor de livros de origem mediúnica. Estranhamente, é informado, alguns capítulos adiante, que seus filhos converteram-se a religiões protestantes. "Yara frequentava a igreja dos Mórmons, Zeila a igreja presbiteriana e eu a igreja evangélica" (pág. 26). Nem é preciso lembrar ao leitor deste artigo que todas essas religiões condenam veementemente o Espiritismo, a prática mediúnica e os próprios espíritas, além de seus ensinamentos colidirem frontalmente com a Doutrina. Mauro Maes, o autor do livro em questão, houvera sido, inclusive, incumbido pelo pai, aos 12 anos de idade, de passar a limpo as páginas do livro "A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores", sua primeira obra. A meu ver, é bastante improvável que alguém, no caso todos os filhos, tendo tido um contato tão de perto com o Espiritismo desde tenra idade através do próprio pai que tanto diziam seguir e admirar, pudesse vir a seguir movimentos religiosos tão antagônicos. De duas, uma: ou esse contato com o Espiritismo não foi tão intenso assim, de modo que acabou por não convencer ninguém, ou havia uma dúvida no ar sobre a veracidade e/ou origem dos fenômenos dos quais o pai dizia ser intermediário.

6 - Consta do mesmo livro que Maes possuía uma compreensão integral e profunda da Doutrina Espírita. No entanto, são relatadas ocasiões onde fica evidenciada uma aproximação muito maior com a Umbanda que, embora respeitável, possui crenças, práticas e terminologia que lhe são próprias, nada tendo a ver com a Doutrina codificada por Kardec. Uma prova de que Maes passou a confundir as coisas, é que um homem chamado Júlio Simó Costa foi nomeado “cambono” nas reuniões mediúnicas realizadas no escritório de Hercílio Maes. É dito ainda que os móveis eram cobertos com panos brancos, algo que nada tem a ver com aquilo que é aprendido no Espiritismo. As entidades comunicantes eram, além de Ramatis, também ligadas àquele rito africanista.

7 - Como é muito comum no meio umbandista, Hercílio Maes fazia reclamações constantes em relação a não-aceitação de seu trabalho por parte da maioria do contingente espírita brasileiro. O tom da crítica que desferia contra os espíritas era ácido e de cunho pessoal, algo que jamais foi feito por aqueles que não aceitavam as obras de Ramatis, que focavam unicamente nas discrepâncias e exotismos presentes nos ditados daquele espírito, e nunca na figura de seu (suposto) médium. Maes costumava defender o conteúdo de seus livros dizendo que seus críticos não podiam compreendê-los, pois que estavam “na base do leite” (pág. 82), isto é, uma clara insinuação de que as obras elaboradas por Allan Kardec são uma espécie de be-a-bá infantil, amplamente superada pelas suas. Declarou ainda Hercílio Maes sobre os espíritas estudiosos contrários a Ramatis: “São limitados, com preconceitos e sempre achando que o Espiritismo é que irá salvar o mundo, quando antes de Buda o céu já era povoado de santos!” Um argumento fraco, evidentemente, já que nenhum deles jamais afirmou algo parecido.

8 - Defensor do “universalismo”, uma espécie de sincretismo disfarçado, Hercílio Maes se auto-proclamava, assim como os defensores desse sistema de ideias, como um espírito “consciente”, enquanto que quem não seguisse a mesma cartilha era “sectário” (pág.82). 

Em carta enviada ao Sr. Antonio Plínio da Silva Alvim, presidente de conhecido núcleo ramatisista no Rio de Janeiro, demonstrou um evidente deslumbramento com as mensagens que recebia, e proferiu comentários que possuíam enorme semelhança, tanto na forma, quanto no fundo, com as críticas proferidas pelo “espírito” Ramatis em seus livros:
“Sem dúvida, Antônio, comprovei que realmente existem duas hierarquias de espíritos na Terra: uma que foi exilada de três ou mais planetas, capaz de sentir e compreender a mensagem universalista de Ramatis, e outra que, desenvolvendo sua consciência exclusivamente no psiquismo global, ainda não está em condições de suportar conceitos que ultrapassem os limites de sua conscientização primária. Eles estão certos: a mensagem é demasiadamente além de sua capacidade receptiva intelecto-emotiva. (...) Mas, caro Antônio, apenas trocaram de etiqueta, pois sendo fanáticos, limitados, irônicos e reverendos do catolicismo, assim se mostram no protestantismo, e, finalmente, no espiritismo. São como raposas: trocam de pele, mas não mudam a manha... Antigos clérigos, desde o papado até o irmão leigo dos conventos, adquirem aquela postura secular e conventual de não entregarem o posto antes de morrer! Assim, eles grudam-se 20, 30 ou 40 anos na direção de um centro espírita ou federação, com unhas e dentes, jamais cedendo a vez a novos valores idealistas.”
Talvez ainda não soubesse Hercílio Maes que aquele seu amigo permaneceria no cargo de presidente de um Centro ramatisista em um bairro da zona norte do Rio, ininterruptamente, por 39 anos, de 1964 até 2003, só deixando o cargo após seu desencarne!... 

9 - Outras afirmações ousadas e errôneas estão presentes na biografia oficial do médium de Ramatis:

“A obra de Ramatis é complementar à codificação feita por Allan Kardec.” (pág. 93)

Discordamos, já que algo que é complementar jamais seria discordante. Listamos algumas das inúmeras discordâncias em "Breve Resumo de Algumas Diferenças".

“No livro ‘A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores’, Ramatis antecipou um detalhe, à época impensável: quando os marcianos se aproximam das portas de uma residência, elas se abrem e depois se fecham automaticamente.”

Na verdade, a porta automática já havia sido imaginada em 1899, no livro “When the Sleeper Wakes”, por H.G. Wells, e foi efetivamente inventada em 1954, um ano antes da publicação do livro escrito por Maes.
“Quanto ao livro Mensagens do Astral, o derretimento das calotas polares, a verticalização do eixo imaginário da Terra já são realidades.”
A ciência informa que o nível dos mares vem subindo há mais de 20.000 anos, desde o fim da última era glacial. De lá para cá, já ganharam 120 metros. A maior aceleração do derretimento das calotas polares começou a ser verificada entre o final do século XIX até 1940, quando houve a maior parte do aumento de 0,3 a 0,6 grau Celsius na temperatura da Terra. Tal vem se dando devido ao efeito estufa. Nada tem a ver com a teoria ramatisiana, que afirma que a causa seria a aproximação de um astro (o famoso “planeta chupão”), que teria começado a provocar tais mudanças somente a partir de 1950. Ramatis afirma que o ápice desse processo, com catástrofes globais, se daria até 1999, sendo que nada aconteceu. Quanto à verticalização do eixo da Terra, nada de anormal foi verificado até hoje. O movimento ramatisista tenta até hoje arrumar alguma explicação para as previsões que não se cumpriram.

10 - A biografia de Maes conta também com a colaboração de pessoas que lhe foram próximas em vida. A astróloga Mariléia Castro, revisora do livro, se mostrou a mais deslumbrada, e revoltada na mesma intensidade. Chama os espíritas que não aceitam Ramatis de “ex-clérigos da época inquisitorial”. Para justificar a necessidade de aceitação das ideias orientalistas de Maes/Ramatis, alega que Allan Kardec fora um sacerdote druida, embora os druidas tenham vivido na Gália, uma antiga província do Império Romano, hoje território francês, muito distante, pois, do Oriente.
Conta, também, uma história difícil de acreditar e própria de quem alcançou níveis altíssimos de credulidade irrefletida. Diz ter ouvido de Hercílio Maes que este teria sofrido um acidente automobilístico provocado por “forças trevosas” incomodadas com os livros de Ramatis. Não obstante, Hercílio teria se desmaterializado no momento do acidente e se rematerializado instantes depois, já fora do carro. Acredite, caro leitor, se puder...

Seu fascínio pelo médium de Ramatis não para por aí. A Sra. Mariléia de Castro acreditava que Maes podia ir em espírito a Marte e retornar, sendo que, quando voltava, corroborava o que teria ouvido de Ramatis: sim, havia uma civilização hiper mega desenvolvida naquele planeta. Para comprovar tal tese, mostra fotos tiradas do solo marciano onde aparecem uma suposta terraplenagem, um duto e um rosto.

Comecemos pelo rosto: trata-se somente de uma ilusão. Em nova foto tirada do mesmo local tempos depois, a NASA comprovou que é apenas uma colina no imenso deserto marciano. Em comunicado, a agência espacial explicou a ilusão de ótica, dizendo que “a enorme formação rochosa, que lembra uma cabeça humana, é formada por sombras que dão a ilusão de olhos, nariz e boca”. Tal fenômeno é conhecido como pareidolia. Já o suposto “duto” não passa de uma conformação do caótico terreno de Marte. Se houvesse a propalada hiper desenvolvida civilização marciana, dutos certamente teriam uma aparência bem melhor, já que o que lá aparece é fincado no solo e totalmente irregular. O caso da terraplenagem se enquadra no mesmo caso, e na verdade se deve às marcas deixadas no solo de Marte pela correnteza de água há 3,8 bilhões de anos.

Não satisfeita, Mariléia de Castro procura defender a revelação ramatisiana sobre Marte com a citação de autores que a teriam posteriormente referendado. Cita, daí, um artigo que teria sido escrito pelo teosofista Charles Leadbeater em 1955, em que há uma descrição da civilização marciana, segundo ela própria admite, “em termos incrivelmente análogos aos de Ramatis”. O que a Sra. Mariléia não sabe é que Leadbeater desencarnou em 1934. Assim sendo, como já pudemos ver em “Artigo Investigativo: Ramatis pode nem existir”, há uma evidente “inspiração” na obra do teosofista inglês, já que a obra de Ramatis é de 1955, mesmo ano em que a revista “O Teosofista” publicou o tal artigo.

Mais adiante, à página 122, é reproduzida uma entrevista realizada com Hercílio Maes pela revista Panorama em 1969. Ao longo da entrevista, várias imprecisões científicas e doutrinárias são cometidas. Entre elas, o suposto médium de Ramatis afirma que os satélites de Marte são artificiais e que foram lançados pelos habitantes de Marte. Nada mais incorreto e fantasioso. Ocorre é que, em 1959, Walter Scott Houston publicara uma “pegadinha” de 1º de abril (Dia da Mentira) na edição da revista “Great Plains Observer”, anunciando que “o Dr. Arthur Hayall, da Universidade de Sierras, constatou que as luas de Marte são na verdade satélites artificiais”. Só que não havia nem Dr. Hayall, nem Universidade de Sierras, meramente fictícios. A mentira ganhou fama quando o anúncio de Houston foi repetido, aparentemente de maneira séria, pelo cientista soviético Iossif Shklovsky, citado por Hercílio Maes na entrevista.

11 - Ao longo de todo o livro “Simplesmente Hercílio”, depara-se o leitor com inúmeras revelações feitas por Hercílio Maes sobre as vivências pregressas de inúmeras personagens da história. Alegava ele que tinha acesso a tais informações. O interessante, tal como ocorre com outro “médium” de Ramatis, o Sr. Roger Bottini, conforme demonstramos em estudos interiores, é que eles foram sempre criaturas de elevada condição social e/ou espiritual que habitaram planetas adiantados, continentes perdidos, foram faraós, reis, rainhas, parentes próximos de expoentes da Bíblia e do próprio Allan Kardec, conheceram Jesus, enfim, estiveram sempre presentes entre a nata da nata. Só que a mosca azul da vaidade não pica a todos. É contado no livro supracitado que, certa feita, Hercílio teria encontrado a médium Yvonne Pereira no ano de 1969 em um evento, e afirmou que ela teria sido George Sand (pseudônimo de Amandine Dupin), famosa escritora e musa inspiradora de Chopin. Yvonne educadamente negou a tese.

O espírito Vianna de Carvalho comenta essa postura:
“Pseudo-médiuns ou medianeiros em desequilíbrio, assessorados por espíritos levianos, que se comprazem em mantê-los no ridículo, amiúde apresentam-se como reveladores, e o são inconsequentes, ludibriando a boa-fé dos incautos ou incensando os orgulhosos com bombásticas informações em torno do seu passado, com promessas mirabolantes sobre o seu futuro, ou ainda, como emissários de Embaixadores Celestes para evitarem calamidades, assumindo posturas de semi-deuses, que deslumbram os fascinados e se tornam condutores de grupos humanos. 
Os Espíritos Nobres não têm qualquer interesse em revelações em torno de personalidades de ontem ou de hoje, evitando a abordagem em torno do que hajam sido, trabalhando em favor do presente, do qual se origina o futuro, que é a grande meta.
Não tem nenhum sentido a busca de informações em torno do passado espiritual, particularmente se se anela por haver sido rei ou príncipe, nobre ou burguês, sábio, guerreiro ilustre, papa ou outra qualquer personagem importante, que em algum momento esteve presente na história.”
Assim sendo, qualquer semelhança não é mera coincidência, querido leitor.

Conclusão 

Não há dúvida que Hercílio Maes era um homem de bem. Segundo seu filho e amigos, era dedicado à família e disposto a colaborar com todos. Era também um homem de certa cultura e tinha o dom para a escrita. Venceu concursos literários, foi ex-acadêmico de Medicina e formou-se em Direito e Ciências Contábeis. Ao contrário de Chico Xavier, tinha condições intelectivas para escrever de próprio punho. É muitíssimo provável que isso tenha acontecido, já que as ideias que defendia não encontravam eco na Doutrina Espírita, a qual dizia seguir, mas ao mesmo tempo apresentava similitudes com a Teosofia, o ocultismo e quase toda sorte de crença esotérica. Assim sendo, nada melhor que receber um “espírito de oriental” para fazer valer as verdades que acreditava fazerem falta ao corpo doutrinário espírita. 

Herculano Pires, ex-teosofista, foi o primeiro a corajosamente levantar essa tese através da coluna que possuía em um jornal, não se importando com a apressada aceitação dos ditados de Ramatis por parte de numerosos neófitos da Doutrina. Anos depois, com a não confirmação das principais teorias dos ditados atribuídos ao tal “espírito oriental”, tal como a não existência da avançada civilização marciana, até mesmo seus discípulos aventaram a hipótese da influência anímica. Wagner Borges, por exemplo, que afirma receber mensagens de Ramatis, em seu livro “Viagem Espiritual” (1994) cogita essa possibilidade e declara que Ramatis nunca lhe disse coisa alguma sobre marcianos e catástrofes provocadas por um suposto astro intruso. 

Hercílio não se apressou muito em publicar o que escrevia. Infelizmente, um amigo se empolgou mais do que deveria, e ignorando o cuidado que se deve ter antes de se publicar algo supostamente advindo do mundo espiritual, tratou de elevar aqueles ditados à conta de revelações indefectíveis, espécie de complemento do grandioso trabalho do Codificador Allan Kardec, embora as condições e qualidade de tais trabalhos em nada se assemelhassem. E como tais mensagens traziam novidades bem ao gosto das massas, repletas de previsões retumbantes, excursões interplanetárias e boa dose de misticismo oriental, as obras atribuídas a um espírito que ostentava um turbante logo começaram a vender como água. 

Homens mais experimentados e conhecedores da Doutrina Espírita não se deixaram entusiasmar, exatamente como agiu Kardec ao se deparar muitas vezes com ditados que contrariavam o consenso universal. Herculano Pires, Deolindo Amorim, Jorge Rizzini, Ary Lex, Carlos Imbassahy (o pai), entre outros expoentes, direta ou indiretamente se manifestaram, provocando a ira e o antagonismo dos que aceitavam aquelas mensagens como autênticas revelações de um espírito sábio. Os defensores de Ramatis alegavam que seu médium era homem sem ambições de cunho material, esquecendo-se que nem sempre esta é a única marca de confiabilidade que se espera em um médium para aquilatar o valor das mensagens que recebe. Um médium pode muito bem se enganar em relação às luzes do espírito comunicante, sem contar a hipótese de animismo – ideias que são do médium, mas que são confundidas com as de um espírito. 

Foi um eminente físico americano Richard Feynman quem disse: “Sou sábio o suficiente para saber que posso me enganar”. Os ramatisistas parecem não contar com esta possibilidade. Embora os carros-chefes da suposta entidade espiritual tenham se esboroado com o tempo em decorrência do avanço das ciências e da ampliação do conhecimento humano, insistem eles em defender o indefensável, com a criação incessante de teses esdrúxulas, geralmente de fundo conspiratório, como aquela que afirma que os marcianos utilizam hologramas para encobrir a real paisagem do planeta vermelho, já que ao invés dos mares, jardins floridos e marcianos alados descritos por Maes/Ramatis, as sondas não-tripuladas só encontraram um terreno desértico, caótico e desolador.

Assim sendo, é tempo do movimento espírita retomar o bom-senso kardeciano e definitivamente escoimar de seus círculos os movimentos cismáticos que se formaram ao seu redor, entre eles o ramatisismo, cujos adeptos bem poderiam formar seus próprios redutos e movimentos, sem se utilizarem da figura de Allan Kardec e da insígnia espírita para angariar a respeitabilidade que lhes falta. Seria bem mais honesto, coerente e sensato. 

Fonte: http://espiritismoxramatisismo.blogspot.com.br/2013/02/hercilio-maes-medium-ou-escritor.html

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Não estamos às baratas!


Por Sérgio Aleixo

O respeito devido a vítimas de fatos inesperados e chocantes não autoriza os espíritas a negarem a Providência e aclamarem o acaso. A hora, o momento, o instante da morte há suscitado muita incompreensão. Os que entendem não haver momento prefixado para a desencarnação até se louvam em textos de O Livro dos Espíritos; esquecidos, porém, de que estes sempre estão subordinados a um todo, cuja lógica granítica não pode ser apanhada no calor de preconcepções que querem confirmar a qualquer custo.

Está dito que “fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é” (853). O que se proclama é que o instante da morte fora predeterminado, e não a banalidade de que morrer é inevitável aos mortais. Ao núcleo do sujeito (instante) é que se dirige o seu predicativo (fatal). O Livro dos Espíritos revela ainda que qualquer que seja o perigo que nos ameace (à revelia da prudência devida, evidentemente), se a hora de nossa morte ainda não chegou, não morreremos; e acresce que Deus sabe de antemão de que gênero será essa morte e, muitas vezes, nosso próprio espírito também o sabe, por lhe ter sido isso revelado, quando escolheu tal ou qual existência (853-a).

Tanto existe um tempo predeterminado, que o n. 199 chega a estabelecer que a morte de uma criança “pode representar, para o espírito que a animava, o complemento de existência precedentemente interrompida antes do momento em que devera terminar.” É que um suicídio direto, ou indireto (952), pode ter sido deflagrado por esse espírito em vida passada; isso lhe abreviou a existência corporal, findando-a antes do tempo prefixado; donde a necessidade de sua vida futura interromper-se na infância, na idade correspondente aos anos não completados na vida anterior. A quem acode que esse espírito deve retornar em nova e mais curta existência porque um terceiro lhe ceifou a vida pregressa antes do momento em que devia terminar? Padeceu inocentemente a falta cometida contra si por outrem? Fora zombar da Providência! O que houve? Anjos da guarda faltosos?

Oras! O que O Livro dos Espíritos ensina é que se for destino de alguém não perecer, ou perecer desta ou daquela maneira, assim será; e mesmo a interferência dos espíritos ocorrerá para tanto. É o que se lê nos números 526, 527 e 528. No Resumo teórico do móvel das ações humanas, 872, Kardec é muito claro:
“No que concerne à morte é que o homem se acha submetido, em absoluto, à inexorável lei da fatalidade, por isso que não pode escapar à sentença que lhe marca o termo da existência, nem ao gênero de morte que haja de cortar a esta o fio”.
Exceto nos casos de práticas suicidas, todos morrem no momento certo, individual ou coletivamente. Para uns, o instante e o gênero de morte são expiação; para outros, mera provação. Como quer que seja, não se desencarna vítima de faltas ou omissões alheias de modo imprevisto; o que não supõe a predeterminação dessas faltas ou omissões (cf. 470), e sim a infalibilidade da divina lei, cujo alcance total nos escapa. Também não se deixa por isso de responsabilizar os negligentes e criminosos, culpando só as vítimas; trata-se de saber, conforme a Filosofia Espírita, por que a uns “a sorte” sorri, enquanto de outros ela “esquece” nessas ocorrências. O que não se deve dizer com certeza, menos ainda com dureza, é se há expiação, ou se existe simples provação no gênero e no instante dos óbitos. Em partidas coletivas, aliás, poderá haver: 1) simples prova escolhida por todos; 2) expiação necessária a todos; ou 3) mera provação para uns, e expiação para os outros. O certo é que a hora de todos terá chegado. Não estamos às baratas!

Fonte: Ensaios da Hora Extrema - http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com.br/2013/02/nao-estamos-as-baratas.html

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Atualizações de "O Blog dos Espíritas"

16:18 Posted by Fabiano Vidal 2 comments
Informamos aos amigos, visitantes e colaboradores do blog que neste mês de janeiro há muitas atualizações em nosso disco virtual.

Foram adicionadas dissertações de Mestrado e teses de Doutorado sobre a Doutrina Espírita, livros como Obras Póstumas, a gazeta eletrônica Kardec Ponto Com dos jornalistas Carmem e Carlos Barros (janeiro e fevereiro), O Céu e o Inferno em formato MP3 e muitos outros arquivos.

Como acessar nosso disco? É só ir na seção downloads, no menu à direita.


Boa leitura!

El Destino de Los Animales Y La Cuestión de "Perro Intercesor"


Por Artur Felipe Azevedo

El Espiritismo es una doctrina espiritualista de un carácter filosófico y, al mismo tiempo, una ciencia experimental,  según la definición de Allan Kardec. El objeto especial  del Espiritismo es el conocimiento  de las leyes del principio espiritual, siguiéndose de ahí que el conocimiento acerca de los principios de la materia, estudiados  por las ciencias ordinarias, le sirve de  complemento, una vez que el conocimiento  de uno no puede estar completo  sin el conocimiento del otro. De este modo, el Espiritismo y la Ciencia se complementan recíprocamente.

Contrariamente a eso, ciertos simpatizantes de la Doctrina Espirita prefieren renegar de los conocimientos científicos y derivan para la  tentativa de anexar al conocimiento y practicas espiritas conceptos oriundos del Espiritualismo genérico, con lo  que intentan ·enriquecer” el cuerpo doctrinario espirita. De esta forma, pasan a diseminar,  junto a los núcleos espiritas, ideas y conceptos que entran en conflicto con claridad y directamente con los más básicos y elementales principios espiritas, ocasionando así, grandes confusiones entre los simpatizantes de la Doctrina, conduciendo el Movimiento, de manera, subrepticia, a la perdida de unidad y, consecuentemente, provocando desinteligencias entre los adeptos, lo que facilita la formación  y fortalecimiento  de .reductos seitistas. Actúan, por tanto, bajo la apariencia de virus peligrosos, como ya tratamos en el artículo, “Los caballos de Troya  del Espiritismo”.

Una de esas cuestiones elementales a la que nos referimos más arriba es aquella que trata del animal irracional y su destino después de la muerte, así como el grado de evolución al cual pertenecen. Tal asunto es tratado de manera clara en la obra basilar de la Doctrina Espirita, “El Libro de los Espíritus”. En la cuestión 592 hasta la 610, los Espíritus superiores responden a las más variadas preguntas formuladas por el codificador Allan Kardec, donde llegamos a las siguientes conclusiones, que a continuación enumeramos:

1. Los animales poseen instinto, que es una forma rudimentaria de inteligencia, y no son detentores de libre albedrio.

2. Los animales no pueden analizar sus errores y aciertos. Siendo así, no pueden sufrir penas y goces por no tener conciencia de sus actos practicados en el mundo físico. No hay en ellos sentido moral, ya que la inteligencia no se encuentra suficientemente desarrollada para tal;

3. El alma de los animales, después de la muerte del cuerpo, es devuelta rápidamente al mundo físico sea en un planeta u en otro  para que continúen su evolución hasta llegar al estado hominal, donde de ahí en adelante poseer libre albedrio y sufrirán las penas y goces del mundo espiritual.

En “El Libro de los Mediums”, cap. XXV, 283, ítems 36 y 37, también podemos tomar informaciones sobre la cuestión:

4. El principio inteligente que anima al animal queda en estado latente después de la muerte, siendo que espíritus encargados de ese trabajo inmediatamente lo utilizan para animar a otros seres. No les sobra  tiempo disponible para ponerse en relación con otras criaturas. Siendo así, no hay espíritus errantes de animales, más si solamente espíritus humanos.

5. Consecuentemente, no hay animales habitando el mundo espiritual, y no es posible obtener comunicaciones de animales por vía mediúmnica o por cualquier otros medios.

Es eso, pues, resumidamente, lo que enseña el Espiritismo sobre el destino del alma de los animales, así como sus posibilidades  y nivel de adelantamiento.

No en tanto, vuelta y media nos deparamos con declaraciones en evidente contraposición a lo expuesto antes siendo hechas en centros espiritas o presentes en obras que dicen inspirarse en el Espiritismo. Surgen, obviamente, de la mera opinión personal de sus autores, más que son consideradas, por cierto número de desavisados, como enseñanza espirita. Eso ocurre más comúnmente en los núcleos de orientación ramatisista, que se auto titulan “universalistas”, donde se pretende, en todo instante,  “reformar” el Espiritismo a título de “modernidad” y “vanguardismo”. Sin embargo, infelizmente, lo que encontramos en esos reductos es un autentico sincretismo, donde todo se mezcla, sin cualquier criterio de medición de la Verdad. Opiniones individuales se mezclan  con conceptos del orientalismo, cuyas doctrinas jamás formaron un cuerpo uniforme, sumadas a comunicaciones atribuidas a espíritus, que son luego creídas como autenticas y repositorios  de verdades cristalinas, a titulo de contribución al cuerpo doctrinario espirita. Se olvidan, con todo, que el criterio espirita de aceptación de los mensajes oriundos del mundo espiritual debe ser  el de la concordancia universal teniendo como base la propia revelación espirita, toda ella consubstanciada en las obras de la Codificación.

Un ejemplo practico de esa triste realidad ha sido los mensajes atribuidos a un dios griego (¡) pretendidamente recibidos por el “médium universalista” el campesino Roger Bottini, que también dice psicografiar a Ramatis. Ya realizamos un abordaje critico de este caso y asunto en el articulo “Médium “universalista” dice recibir mensajes de el dios griego”- lo cual sugerimos la lectura para mejor comprensión de lo que escribimos -, siendo que, recientemente, nos causo enorme perplejidad el comentario hecho por el Sr. Bottini sobre un supuesto “perro intercesor” llamado Fiel. Según el médium anterior, sus lectores estarían libres para orar al perro y “pedirle auxilio para sus  “animales domésticos” que estén enfermos  o hayan desencarnado. Según el Sr. Bottini, “Fiel es un perro del reino astral muy especial” y “vive junto a  Hermes”, el dios de la mitología griega, y “atenderá a los pedidos hechos a el con mucho amor y cariño”. (…)

Desde este momento, apelamos al lector que analice minuciosamente la declaración mencionada anteriormente  y compare con lo que es enseñado por la Doctrina Espirita. Recordamos que el autor hace palestras en centros espiritas y se dice “espirita universalista” – una manera encontrada de no tener que divulgar fielmente  los principios espiritas y mezclarlos  con todo lo que se le viene a la cabeza. El resultado de eso es que, dentro en breve, ciertamente, tendremos personas que se dicen “espiritas” declarando abiertamente por ahí que oran a un perro, que amorosamente atiende a sus pedidos. La impresión causada, con certeza, será la peor posible, pasando el Espiritismo objetivo de burlas y el descrédito de los que tienen una mínima capacidad de razonamiento y pensamiento crítico.

Según las instrucciones de los Espíritus a Allan Kardec, principalmente las contenidas en la Introducción de “El Evangelio Según el Espiritismo” y en “El Libro de los Mediums”, se hace necesario estar alerta a esos focos de grosería mistificada y aplicar una postura crítica que consiste en separar lo verdadero de lo falso. Es nuestro deber someter al crisol de la razón y de la lógica todas las comunicaciones, sobre todo aquellas que poseen un carácter exótico y exclusivista, generalmente advenidas de individuos vanidosos  que se auto titulan detentores de alguna misión especial o conocimientos inaccesible a la mayoría, que presentan como verdades absolutas. La mayoría de las veces, son víctimas de espíritus mistificadores o seudosabios, que se ornan con nombres pomposos para ganar así mejor la confianza. El mal que tales entidades intentan causar es enorme, porque visan la desfiguración del mensaje espirita, exponiéndolo al ridículo y a la vergüenza  delante de la opinión publica, debilitando, así, los magnos objetivos de esclarecimiento y liberación de la ignorancia propuestos por la Doctrina Espirita. A fin de atenuar la mala impresión que causan, pueden esas entidades espirituales hasta incluso estimular a sus medianeros a erguir alguna obra de caridad o a desenvolver alguna actividad de asistencia social, intentando, así, formar una nube de humo en torno al médium y conseguir la admiración de los incautos que les siguen  los esdrújulos ideales. Tales ideales, actualmente, están generalmente ligados a los conceptos de salvación planetaria, colectiva y/ o individual, donde se insertan “revelaciones” y previsiones sobre futuras hecatombes apocalípticas,  inculcando  que sus seguidores serán salvos en función de sus creencias, oraciones o acciones determinadas por el (s) líder (es) seitistas (s). Todo, obviamente, sugiriendo mucho amor, fraternidad y caridad en frases de hecho, que, en verdad, encubren buenas dosis de presunción, y estimulo al miedo y al misticismo.

El Espiritismo bien estudiado y comprendido es seguramente el mejor antídoto contra tales ilusiones y artimañas, más como cada vez más se ha priorizado la lectura de obras romanceadas  y las de abordaje superficial y simplista de pretendido carácter espirita, dejándose a un lado el estudio serio y metódico de las obras kardecianas, ha crecido el número de adeptos que poco o nada saben sobre la Doctrina, tornándose, así, presas fáciles de los especuladores encarnados y desencarnados.

Ya declaraba Kardec en 1858, en el “Libro de los Mediums”: 

Los Espíritus son las almas de los hombres, y como los hombres no son perfectos, hay también Espíritus imperfectos, cuyo carácter se refleja en las comunicaciones. Es incontestable que hay Espíritus malos, astutos, profundamente hipócritas, contra los cuales debemos prevenirnos.

Herculano Pires, en vista de esos preciosos esclarecimientos, comento, teniendo en mente lo que viene ocurriendo en el movimiento espirita brasileño:

“La maldad de los Espíritus mistificadores ultrapasa algunas veces todo lo que se pueda imaginar. El arte con que asestan sus bacterias y traman  los medios de persuadir sería digna de atención, caso se limitasen  a juegos inocentes. Más las mistificaciones pueden tener consecuencias desagradables para los que no se prevengan. Somos muy felices por poder haber abierto los ojos a tiempo de muchas personas que nos pidieron consejos librándolas de situaciones ridículas  y comprometedoras.

(…) Deben también considerar desde luego sospechosas las predicciones con épocas marcadas y todas las indicaciones precisas referentes a intereses materiales.

Todo cuidado con las providencias prescritas o aconsejadas por los Espíritus, cuando los fines no fueran claramente razonables.

Jamás dejarse ofuscar por los nombres usados por los Espíritus para dar validad a sus palabras.

Desconfiar de las teorias y sistemas científicos osados. En fin, desconfiar de todo lo que se aparte del objetivo moral de las manifestaciones. Podríamos escribir un libro de los más curiosos con las  historias de todas las mistificaciones que han llegado a nuestro conocimiento.

La falta de observación de esas instrucciones han permitido la divulgación y aceptación de numerosas teorías pseudo-científicas en nuestro país y en todo el mundo, que  contribuyen para el descredito del Espiritismo. La vanidad personal de médiums, de estudiosos de la doctrina y hasta aun mismo de intelectuales de valor innegable, estos siempre dispuestos a criticar y a superar a Kardec, ha llevado a esas personas al ridículo, inutilizándolas para el verdadero trabajo de divulgación y orientación. Esas instrucciones deben ser leídas y meditadas por los que desean realmente servir a la causa espirita.”

Siendo así, apreciado lector, si deseamos estar aptos para seguir la causa espirita, tomemos en consideración tales instrucciones, precaviéndonos, así, de los  cebos que dan el aire de gracia en nuestro medio.   Solamente el estudio atento de las obras Kardecianas, sumadas al desenvolvimiento del sentido crítico alentado en la más severa lógica, puede inmunizarnos de esos virus inoculados por los enemigos secretos del Espiritismo y del bien general. Amar al prójimo no es solamente aliviar sus dolores, más si prevenirlas, y eso comienza por liberarlo de todo lo que conduzca al error y a la ilusión, que, consecuentemente, le llevará al sufrimiento. En la ignorancia reposa el origen de todo mal.  

Fonte: Blog Ramatis, sabio o Pseudosabio? - http://espiritismoxramatisismo.blogspot.com.br/2013/01/o-destino-dos-animais-e-questao-do-cao.html

Traducido al español por Merchita 

Reflexões espíritas sobre a Tragédia de Santa Maria


Por Dora Incontri

A tragédia de Santa Maria me leva a algumas reflexões que considero importantes para o movimento espírita.

Recentemente participei de uma banca de doutorado na Universidade Metodista, em que o pesquisador José Carlos Rodrigues, examinou em ampla investigação de campo quais os principais motivos de “conversão”, eu diria, “migração” para o espiritismo, no Brasil. Ganhou disparado a “resposta racional” que a doutrina oferece para os problemas existenciais.

De fato, essa é grande novidade do espiritismo no domínio da espiritualidade: introduzir um parâmetro de racionalidade e distanciar-se dos mistérios insondáveis, que as religiões sempre mantiveram intactos e impenetráveis, sobretudo o mistério da morte.

Entretanto, essa racionalidade, que era realmente a proposta de Kardec, tem sido barateada em nosso meio, como tudo o mais, para tornar-se uma cartilha de respostinhas simples, fechadas e dogmáticas, que os adeptos retiram das mangas sempre que necessário, de maneira triunfante e apressada, muitas vezes, sem respeito pela dor do próximo e sem respeito pelas convicções do outro. Explico-me.

Por exemplo: existe na Filosofia espírita uma leitura de mundo de “causa e efeito”, que traduziram como “lei do karma”, conceito que vem do hinduísmo. Essa ideia é de que nossas ações presentes geram resultados, que colheremos mais adiante ou que nossas dores presentes podem ser explicadas à luz de nossas ações passadas. Mas há muitas variáveis nesse processo: por exemplo, estamos sempre agindo e portanto, sempre temos o poder de modificar efeitos do passado; as dores nem sempre são efeitos do passado, mas sempre são motivos de aprendizado. O sofrimento no mundo resulta das mais variadas causas: má organização social, egoísmo humano, imprevidência… Estamos num mundo de precário grau evolutivo, onde a dor é nossa mestra, companheira e o que muitas vezes entendemos como “punição” é aprendizado de evolução.

O assunto é complexo e pretendo escrever mais profundamente sobre isso. Aqui, apenas gostaria de afirmar que nós espíritas, temos sim algumas respostas racionais, mas elas são genéricas e não podem servir como camisas de força para toda a realidade. Que respostas baseadas em evidências e pesquisas temos, por exemplo, para essas famílias enlutadas com a tragédia de Santa Maria?

• que a morte não existe e que esses jovens continuam a viver e que poderão mais dia, menos dia, dar notícias de suas condições;

• que a morte traumática deixa marcas para quem fica e para quem foi e que todos precisam de amparo e oração;

• que o sofrimento deve ter algum significado existencial, que cada um precisa descobrir e transformá-lo em motivo de ascensão…

• que a fé, o contato com a Espiritualidade, seja ela qual for, dá forças ao indivíduo, para superar um trauma dessa magnitude. 

Não podemos afirmar por que esses jovens morreram. Não devemos oferecer uma explicação pronta, acabada, porque não temos esses dados. Os espíritas devem se conformar com essa impotência momentânea: não alcançamos todas as variáveis de um fato como esse, para podermos oferecer uma explicação definitiva. Havia processos da lei de causa e efeito? Provavelmente sim. Houve falha humana, na segurança? Certamente sim. Qual o significado que essa tragédia terá? Cada pai, cada mãe, cada familiar, cada pessoa envolvida deverá achar o seu significado. Alguns talvez terão notícias de algum evento passado que terá desembocado nesse drama; outros extrairão dessa dor, um motivo de luta para mais segurança em locais de lazer; outros acharão novos valores e farão de seu sofrimento uma bandeira para ajudar outros que estejam no mesmo sofrimento e assim por diante.

Oremos por essas pessoas, ofereçamos nossas melhores vibrações para os que foram e para os que ficaram e ainda para os que se fizeram de alguma forma responsáveis por esse evento trágico. Mas tenhamos delicadeza ao tratar da dor do próximo! Não ofereçamos respostas fechadas, apressadas, categóricas, deterministas. Ofereçamos amor, respeito e àqueles que quiserem, um estudo aberto e não dogmático, da filosofia espírita.

Fonte: http://doraincontri.com/2013/01/28/reflexoes-espiritas-sobre-a-tragedia-de-santa-maria/

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O destino dos animais e a questão do "cão intercessor"


Por Artur Felipe Azevedo

O Espiritismo é uma doutrina espiritualista de caráter filosófico e, ao mesmo tempo, uma ciência experimental, segundo a definição de Allan Kardec. O objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual, seguindo-se daí que o conhecimento acerca dos princípios da matéria, estudados pelas ciências ordinárias, lhe serve de complemento, uma vez que o conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento do outro. Deste modo, Espiritismo e Ciência se completam reciprocamente. 

Contrariamente a isso, certos simpatizantes da Doutrina Espírita preferem renegar os conhecimentos científicos e descambam para a tentativa de anexar ao conhecimento e práticas espíritas conceitos oriundos do Espiritualismo genérico, com o que intentam “enriquecer” o corpo doutrinário espírita. Desta forma, passam a disseminar, junto aos núcleos espíritas, ideias e conceitos que conflitam clara e diretamente com os mais básicos e elementares princípios espíritas, ocasionando, assim, grandes confusões entre os simpatizantes da Doutrina, conduzindo o Movimento, de maneira sub-reptícia, à perda de unidade e, consequentemente, provocando desinteligências entre os adeptos, o que facilita a formação e fortalecimento de redutos seitistas. Atuam, portanto, à feição de vírus perigosos, como já tratamos no artigo “Os Cavalos de Troia do Espiritismo”.

Uma dessas questões elementares a que nos referimos acima é aquela que trata do animal irracional e sua destinação após a morte, assim como o grau de evolução ao qual pertencem. Tal assunto é tratado de maneira clara na obra basilar da Doutrina Espírita, “O Livro dos Espíritos”. Da questão 592 até a de número 610, os Espíritos Superiores respondem às mais variadas perguntas formuladas pelo codificador Allan Kardec, onde chegamos às seguintes conclusões, que abaixo enumeramos:

1. Os animais possuem instinto, que é uma forma rudimentar de inteligência, e não são detentores de livre-arbítrio;

2. Os animais não podem analisar seus erros e acertos. Assim sendo, não podem sofrer penas nem gozos por não terem consciência de seus atos praticados no mundo físico. Não há neles senso moral, já que a inteligência não se encontra suficientemente desenvolvida para tal;

3. A alma dos animais, após a morte do corpo, é devolvida rapidamente ao mundo físico, seja em um planeta ou outro para que continuem sua evolução até chegarem ao estado hominal, donde daí para frente possuirão livre-arbítrio e sofrerão as penas e gozos do mundo espiritual. 

Em “O Livro dos Médiuns”, cap. XXV, 283, itens 36 e 37, também podemos colher mais informações sobre a questão:

4. O princípio inteligente que anima o animal fica em estado latente após a morte, sendo que espíritos encarregados desse trabalho imediatamente o utilizam para animar outros seres. Não lhes sobra tempo disponível para se por em relação com outras criaturas. Sendo assim, não há espíritos errantes de animais, mas somente espíritos humanos. 

5. Consequentemente, não há animais habitando o mundo espiritual, e nem é possível obter comunicações de animais por via mediúnica ou por quaisquer outros meios. 

É isso, pois, resumidamente, o que ensina o Espiritismo sobre o destino da alma dos animais, assim como suas possibilidades e nível de adiantamento.

No entanto, volta e meia nos deparamos com declarações em evidente contraposição ao exposto acima sendo feitas em centros espíritas ou presentes em obras que dizem inspirar-se no Espiritismo. Decorrem, obviamente, de mera opinião pessoal de seus autores, mas que são consideradas, por certo número de desavisados, como autêntico ensinamento espírita. Isso ocorre mais comumente nos núcleos de orientação ramatisista, que se auto-intitulam “universalistas”, onde se pretende, a todo instante, “reformar” o Espiritismo a título de “modernidade” e “vanguardismo”. Porém, infelizmente, o que encontramos nesses redutos é um autêntico sincretismo, onde tudo se mistura, sem qualquer critério de aferição da Verdade. Opiniões individuais se mesclam a conceitos do orientalismo, cujas doutrinas jamais formaram um corpo uniforme, somadas a comunicações atribuídas a espíritos, que são logo cridas como autênticas e repositórios de verdades cristalinas, a título de contribuição ao corpo doutrinário espírita. Esquecem-se, contudo, que o critério espírita de aceitação das mensagens oriundas do mundo espiritual deve ser o da concordância universal, tendo como base a própria revelação espírita, toda ela consubstanciada nas obras da Codificação. 

Um exemplo prático dessa triste realidade tem sido as mensagens atribuídas a um deus grego (!) pretensamente recebidas pelo “médium universalista” gaúcho Roger Bottini, que também diz psicografar Ramatis. Já realizamos uma abordagem crítica deste caso e assunto no artigo “Médium ‘universalista’ diz receber mensagens de deus grego”- o qual sugerimos a leitura para melhor entendimento do que agora escrevemos - , sendo que, recentemente, causou-nos enorme perplexidade o comentário feito pelo Sr. Bottini sobre um suposto “cão intercessor” chamado Fiel. Segundo o médium supracitado, seus leitores estariam livres para orar ao cão e “pedir auxílio para seus ‘pets’ que estejam doentes ou tenham desencarnado.” Segundo o sr. Bottini, “Fiel é um cão do reino astral muito especial” e “vive junto a Hermes”, o deus da mitologia grega, e “atenderá aos pedidos feitos a ele com muito amor e carinho”(...) 

Desta feita, apelamos ao leitor que analise minimamente a declaração acima e compare com o que é ensinado pela Doutrina Espírita. Lembramos que o autor faz palestras em centros espíritas e se diz “espírita universalista” – uma maneira encontrada de não ter que divulgar fielmente os princípios espíritas e misturá-los a tudo que lhe venha na cabeça. O resultado disso é que, dentro em breve, certamente, teremos pessoas que se dizem “espíritas” declarando abertamente por aí que oram a um cão, que amorosamente atende aos seus pedidos. A impressão causada, com certeza, será a pior possível, passando o Espiritismo a alvo de chacota e desprestígio por parte daqueles com mínima capacidade de raciocínio e senso crítico.

Segundo as instruções dos Espíritos a Allan Kardec, principalmente as contidas na Introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo” e em “O Livro dos Médiuns”, faz-se necessário estarmos alerta a esses focos de grosseira mistificação e aplicarmos uma postura crítica que consiste em separar o verdadeiro do falso. É nosso dever submeter ao cadinho da razão e da lógica todas as comunicações, sobretudo aquelas que possuem um caráter exótico e exclusivista, geralmente advindas de indivíduos vaidosos que se auto-intitulam detentores de alguma missão especial ou conhecimento inacessível a maioria, que apresentam como verdades absolutas. Na mais das vezes, são vítimas de espíritos mistificadores ou pseudossábios, que se ornam com nomes pomposos para melhor enganar. O mal que tais entidades intentam causar é enorme, porque visam à desfiguração da mensagem espírita, expondo-a ao ridículo e ao vexame perante a opinião pública, enfraquecendo, assim, os magnos objetivos de esclarecimento e libertação da ignorância propostos pela Doutrina. A fim de atenuar a má impressão que causam, podem essas entidades espirituais até estimular seus medianeiros a erguerem alguma obra de caridade ou a desenvolverem alguma atividade de assistência social, intentando, assim, formar uma nuvem de fumaça em torno do médium e angariar a admiração dos incautos que lhes seguem os esdrúxulos ideários. Tais ideários, atualmente, estão geralmente ligados aos conceitos de salvação planetária, coletiva e/ou individual, onde se inserem “revelações” e previsões sobre futuras hecatombes apocalípticas, incutindo que seus seguidores serão salvos em função de suas crenças, preces ou ações determinadas pelo(s) líder(es) seitista(s). Tudo, obviamente, sugerindo muito amor, fraternidade e caridade em frases de efeito, que, na verdade, encobrem boas doses de presunção, e estímulo ao medo e ao misticismo. 

O Espiritismo bem estudado e compreendido é seguramente o melhor antídoto contra tais ilusões e artimanhas, mas como cada vez mais se tem priorizado a leitura de obras romanceadas e as de abordagem superficial e simplista de pretenso caráter espírita, deixando-se de lado o estudo sério e metódico das obras kardecianas, tem crescido o número de adeptos que pouco ou nada sabem sobre a Doutrina, tornando-se, assim, presas fáceis dos espertalhões encarnados e desencarnados. 

Já declarava Kardec em 1858, em “O Livro dos Médiuns”:

Os Espíritos são as almas dos homens, e como os homens não são perfeitos, há também Espíritos imperfeitos, cujo caráter se reflete nas comunicações. É incontestável que há Espíritos maus, astuciosos, profundamente hipócritas, contra os quais devemos nos prevenir.

Herculano Pires, em vista desses preciosos esclarecimentos, teceu comentários, tendo em mente o que vem ocorrendo no movimento espírita brasileiro:

“A malandragem dos Espíritos mistificadores ultrapassa às vezes tudo que se possa imaginar. A arte com que assestam as suas baterias e tramam os meios de persuadir seria digna de atenção, caso se limitassem a brincadeiras inocentes. Mas as mistificações podem ter consequências desagradáveis para os que não se previnam. Somos muito felizes por termos podido abrir os olhos a tempo a muitas pessoas que nos pediram conselhos, livrando-as de situações ridículas e comprometedoras.

(...) Devem também considerar desde logo suspeitas as predições com épocas marcadas e todas as indicações precisas referentes a interesses materiais.

Toda cautela com as providências prescritas ou aconselhadas pelos Espíritos, quando os fins não forem claramente razoáveis.

Jamais se deixar ofuscar pelos nomes usados pelos Espíritos para darem validade as suas palavras.

Desconfiar das teorias e sistemas científicos ousados. Enfim, desconfiar de tudo o que se afaste do objetivo moral das manifestações. Poderíamos escrever um volume dos mais curiosos com as estórias de todas as mistificações que têm chegado ao nosso conhecimento.

A falta de observação dessas instruções tem permitido a divulgação e aceitação de numerosas teorias pseudo-cientificas em nosso país e em todo o mundo, que contribuem para o descrédito do Espiritismo. A vaidade pessoal de médiuns, de estudiosos da doutrina e até mesmo de intelectuais de valor inegável, estes sempre dispostos a criticar e a superar Kardec, tem levado essas pessoas ao ridículo, inutilizando-as para o verdadeiro trabalho de divulgação e orientação. Essas instruções devem ser lidas e meditadas pelos que desejam realmente servir à causa espírita.”

Assim sendo, prezado leitor, se desejamos estar aptos a seguir a causa espírita, levemos em consideração tais instruções, precavendo-nos, assim, dos engodos que dão o ar da graça em nosso meio. Somente o estudo atento das obras kardecianas, somados ao desenvolvimento do senso crítico alicerçado na mais severa lógica, pode imunizar-nos desses vírus inoculados pelos inimigos secretos do Espiritismo e do bem geral. Amar ao próximo não é somente aliviar suas dores, mas preveni-las, e isso começa por libertá-lo de tudo que conduza ao erro e à ilusão, que, consequentemente, levará ao sofrimento. Na ignorância repousa a origem de todo o mal.

Fonte: Blog Ramatis, sábio ou pseudossábio? - http://espiritismoxramatisismo.blogspot.com.br/2013/01/o-destino-dos-animais-e-questao-do-cao.html

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Estilo das boas comunicações

Revista Espírita, outubro de 1862 - Dissertações espíritas

Buscai, na palavra, a sobriedade e a concisão; poucas palavras, muita coisa. A linguagem é como a harmonia: quanto mais quisermos torná-la rebuscada, menos melodiosa será. A verdadeira ciência é sempre aquela que toca, não alguns sibaritas cheios de si, mas a massa inteligente que desde muito tempo é desviada do caminho do verdadeiro belo, que é o da simplicidade. A exemplo de seu Mestre, os discípulos do Cristo haviam adquirido esse profundo saber de bem falar, com sobriedade e concisão, e seu discurso, como o do Mestre, era marcado por essa delicadeza, por essa profundeza que em nossos dias, numa época em que tudo mente ao nosso redor, ainda fazem as grandes vozes do Cristo e dos apóstolos, modelos inimitáveis de concisão e de precisão.

Mas a verdade desceu do alto. Como os apóstolos dos primeiros dias da era cristã, os Espíritos superiores vêm ensinar e dirigir. O Livro dos Espíritos é toda uma revolução, porque é conciso e sóbrio: poucas palavras, muita coisa; nada de flores de retórica; nada de imagens, mas apenas pensamentos grandes e fortes, que consolam e fortalecem. É por isso que ele agrada, e agrada porque é facilmente compreendido. Eis o cunho da superioridade dos Espíritos que o ditaram.

Por que há tantas comunicações vindas de Espíritos que se dizem superiores, refertas de insensatez, de frases inchadas e floridas, uma página para nada dizer? Tende certeza de que não são Espíritos superiores, mas pseudossábios, que julgam produzir efeito, substituindo por palavras o vazio das ideias, a profundeza do pensamento pela obscuridade. Eles não podem seduzir senão os cérebros ocos como os seus, que tomam o ouropel pelo ouro puro e julgam a beleza da mulher pelo brilho de seus adereços.

Desconfiai, pois, dos Espíritos verbosos, de linguagem empolada e confusa que exige tratos à bola para compreender. Reconhecei a verdadeira superioridade pelo estilo conciso, claro e inteligível sem esforço de imaginação. Não meçais a importância das comunicações por sua extensão, mas pela soma de ideias que encerram em pequeno espaço. Para ter o tipo da superioridade real, contai as palavras e as ideias - refiro-me às ideias justas, sadias e lógicas - e a comparação vos dará a exata medida.

BARBARET (Espírito familiar).

(Sociedade Espírita de Paris, 8 de agosto de 1862 - médium: Sr. Leymarie)