Mostrando postagens com marcador filosofia espírita. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador filosofia espírita. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 7 de julho de 2014

A Razão do Espiritismo

Por Michel Bonnamy

Juiz de instrução; membro dos congressos científicos de França; antigo membro do conselho geral de Tarn-et-Garonne. 

Quando apareceu o romance Mirette, os Espíritos disseram estas palavras notáveis na Sociedade de Paris:

“O ano de 1866 apresenta a filosofia nova sob todas as formas; mas ainda é a haste verde que encerra a espiga de trigo, e para mostrá-la espera que o calor da primavera a tenha feito amadurecer e entreabrir-se. 1866 preparou, 1867 amadurecerá e realizará. O ano se inicia sob os auspícios de Mirette e não se escoará sem ver aparecerem novas publicações do mesmo gênero, e ainda mais sérias, no sentido que o romance far-se-á Filosofia e a Filosofia far-se-á História.” (Revista, fevereiro de 1867).

Antes já haviam dito que se preparavam diversas obras sérias sobre a filosofia do Espiritismo, nas quais o nome da Doutrina não seria timidamente dissimulado, mas em altas vozes confessado e proclamado por homens cujo nome e posição social dariam peso à sua opinião; e acrescentaram que o primeiro apareceria provavelmente pelo fim do corrente ano.

A obra que anunciamos realiza completamente esta previsão. É a primeira publicação deste gênero na qual a questão é encarada em todas as suas partes e em toda a sua grandeza. Pode-se dizer, então, que ela inaugura uma das fases da existência do Espiritismo. O que a caracteriza é que não é uma adesão banal aos princípios da Doutrina, uma simples profissão de fé, mas uma demonstração rigorosa, onde os adeptos, eles próprios, encontrarão novas ideias. Lendo essa argumentação densa, levada, se assim se pode dizer, até a minúcia, e por um encadeamento lógico das ideias, perguntaremos, por certo, por que estranha extensão do vocábulo poderíamos aplicar ao autor o epíteto de louco. Se ele é um louco que assim discute, poderemos dizer que às vezes os loucos tapam a boca dos que se dizem sábios. É uma defesa em regra, onde se reconhece o advogado que quer reduzir a réplica aos seus últimos limites; mas aí reconhecemos, também, aquele que estudou sua causa seriamente e a perscrutou nos seus mais minuciosos detalhes. O autor não se limita a emitir a sua opinião: ele a fundamenta e dá a razão de ser de cada coisa. É justamente por isso que ele intitulou seu livro A Razão do Espiritismo.

Publicando essa obra, sem disfarçar a sua personalidade com o menor véu, o autor prova que tem a verdadeira coragem de sua opinião, e o exemplo que dá é um tributo ao reconhecimento de todos os espíritas. O ponto de vista em que se colocou é principalmente o das consequências filosóficas, morais e religio­sas, aquelas que constituem o objetivo essencial do Espiritismo e dele fazem uma obra humanitária.

Ademais, eis como ele se expressa no prefácio.

“Está nas vicissitudes das coisas humanas, ou melhor, parece fatalmente reservado a toda ideia nova, ser mal acolhida ao seu aparecimento. Como, na maioria das vezes, ela tem por missão derrubar ideias que a precederam, encontra uma resistência muito grande da parte do entendimento humano.

“O homem que viveu com os preconceitos não acolhe senão com desconfiança a recém-chegada, que tende a modificar, mesmo a destruir combinações e ideias estratificadas em seu espírito, a forçá-lo, numa palavra, a novamente pôr mãos à obra, para correr atrás da verdade. Além disto, ele se sente humilhado em seu orgulho, por ter vivido no erro.

“A repulsa que a ideia nova inspira é muito mais acentuada ainda quando traz consigo obrigações, deveres; quando impõe uma linha de conduta mais severa.

“Ela encontra, enfim, ataques sistemáticos, ardentes, encarniçados, quando ameaça posições estabelecidas, e sobretudo quando se acha em face do fanatismo ou de opiniões profundamente arraigadas na tradição dos séculos.

“As doutrinas novas, assim, têm sempre numerosos detratores; muitas vezes elas têm mesmo que sofrer perseguição, o que levou Fontenelle a dizer que ‘se tivesse todas as verdades na mão, teria o cuidado de não abri-la.’

“Tais eram o desfavor e os perigos que esperavam o Espiritismo ao seu aparecimento no mundo das ideias. Os insultos, a troça, a calúnia não lhe foram poupados, e talvez venha também o dia da perseguição. Os adeptos do Espiritismo foram chamados iluminados, alucinados, simplórios, loucos, e a esse fluxo de epítetos que, entretanto, pareciam contradizer-se e excluir-se, acrescentaram os de impostores, de charlatães, de emissários de Satã, enfim.

“A qualificação de louco é a que parece mais especialmente reservada a todo promotor ou propagador de ideias novas. É assim que trataram de louco o primeiro que disse que a Terra gira em torno do Sol.

“Também era louco o célebre navegador que descobriu um novo mundo. Ainda era louco, para o areópago da Ciência, aquele que descobriu a força do vapor. E a douta assembleia acolheu com um sorriso desdenhoso a sábia dissertação de Franklin sobre as propriedades da eletricidade e a teoria do para-raios.

“Ele também não foi tratado de louco, o divino regenerador da Humanidade, o reformador autorizado da lei de Moisés? Não expiou por um suplício ignominioso a inoculação na Terra dos benefícios da moral divina?

“Galileu não expiou como herético, num sequestro cruel e pelas mais amargas perseguições morais, a glória de ter sido o primeiro a ter a iniciativa do sistema planetário cujas leis Newton devia promulgar?

“São João Batista, o precursor do Cristo, também tinha sido sacrificado por vingança dos culpados cujos crimes verberava.

“Os apóstolos, depositários dos ensinamentos do divino Messias, tiveram que selar com sangue a santidade de sua missão. E a religião reformada, por sua vez, não foi perseguida e, após os massacres de São Bartolomeu, não teve que sofrer as dragonadas?

“Enfim, remontando até o ostracismo inspirado por outras paixões, vemos Aristides exilado e Sócrates condenado a beber cicuta.

“Sem dúvida, graças aos costumes suaves que caracterizam o nosso século, sob o império de nossas instituições e das luzes que freiam a intolerância fanática, as fogueiras não mais se erguerão para purificar com suas chamas as doutrinas espíritas, cuja paternidade pretendem fazer remontar a Satã. Mas elas devem esperar, também elas, um levante dos mais hostis e ataques de ardentes adversários.

“Contudo, este estado militante não poderia enfraquecer a coragem daqueles que são animados por uma convicção profunda, dos que têm a certeza de ter nas mãos uma dessas verdades fecundas que constituem, em seus desdobramentos, um grande benefício para a Humanidade.

“Mas, seja qual for o antagonismo às ideias ou às doutrinas que o Espiritismo suscitar; sejam quais forem os perigos que ele deva abrir sob os passos dos adeptos, o espírita não poderia deixar essa luz sob o alqueire e se recusar a dar-lhe todo o brilho que ela comporta, o apoio de suas convicções e o testemunho sincero de sua consciência.

“O Espiritismo, revelando ao homem a economia de sua organização, iniciando-o no conhecimento de seu destino, abre um campo imenso às suas meditações. Assim, o filósofo espírita chamado a levar suas investigações a esses novos e esplêndidos horizontes, só tem por limite o infinito. De certo modo, ele assiste ao conselho supremo do Criador. Mas o entusiasmo é o escolho que ele deve evitar, sobretudo quando lança suas vistas sobre o homem, que se tornou tão grande e que, entretanto, orgulhosamente se faz tão pequeno. Não é senão esclarecido pelas luzes de uma prudente razão e tomando como guia a fria e severa lógica que ele deve dirigir as peregrinações no domínio da ciência divina, cujo véu foi erguido pelos Espíritos.

“Este livro é o resultado de nossos próprios estudos e de nossas meditações sobre este assunto que desde o princípio nos pareceu de uma importância capital, e de consequências da mais alta gravidade. Reconhecemos que estas ideias têm raízes profundas e nelas entrevimos a aurora de uma era nova para a Sociedade. A rapidez com que elas se propagam é um indício de sua próxima admissão entre as crenças aceitas. Em razão de sua própria importância, não nos contentamos com afirmações e argumentos da doutrina; não só nos asseguramos da realidade dos fatos, mas perscrutamos com minuciosa atenção os princípios deles decorrentes. Buscamos a sua razão com uma fria imparcialidade, sem negligenciar o estudo não menos consciencioso das objeções que opõem os antagonistas. Como um juiz que escuta as duas partes, pesamos maduramente os pró e os contra. É, pois, depois de haver adquirido a convicção que as alegações contrárias nada destroem; que a Doutrina repousa em bases sérias, numa lógica rigorosa, e não em devaneios quiméricos; que ela contém o gérmen de uma renovação salutar do estado social surdamente minado pela incredulidade; que é, enfim, uma poderosa barreira contra a invasão do materialismo e da desmoralização, que julgamos dever dar nossa apreciação pessoal, e as deduções que tiramos de um estudo atento.

“Assim, tendo encontrado uma razão de ser para os princípios desta nova ciência que vem tomar um lugar entre os conhecimentos humanos, intitulamos nosso livro A Razão do Espiritismo [1]. Este título é justificado pelo ponto de vista sob o qual encaramos o assunto, e aqueles que nos lerem reconhecerão sem esforço que este trabalho não é produto de um entusiasmo inconsiderado, mas um exame refletido maduramente e friamente.

“Estamos convictos que qualquer pessoa sem ideia preconcebida de oposição sistemática que fizer, como nós fizemos, um estudo consciencioso da Doutrina Espírita, considerá-la-á como uma das coisas que interessam no mais alto grau ao futuro da Humanidade.

“Dando a nossa adesão a essa doutrina, usamos do direito de liberdade de consciência que a ninguém pode ser contestado, seja qual for a sua crença. Com mais forte razão, esta liberdade deve ser respeitada quando tem por objetivo princípios da mais alta moralidade, que conduzem os homens à prática dos ensinamentos do Cristo e, por isso mesmo, são a salvaguarda da ordem social.

“O escritor que consagra sua pena a traçar a impressão que tais ensinamentos deixaram no santuário de sua consciência, deve guardar-se bem de confundir as elucubrações brotadas no seu horizonte terrestre com os raios luminosos que partiram do Céu. Se ele limitar-se aos pontos obscuros ou ocultos às suas explicações, pontos que ainda não lhe é dado conhecer, é que, aos olhos da sabedoria divina, eles ficam reservados para um grau superior na escala ascendente de sua depuração progressiva e de sua perfectibilidade.

“Não obstante, apressemo-nos em dizê-lo, todo homem convicto e consciencioso, consagrando suas meditações à difusão de uma verdade profunda para a felicidade da Humanidade, molha a pena na atmosfera celeste, onde nosso globo está imerso, e recebe incontestavelmente a centelha da inspiração.”



A indicação do título dos capítulos dará a conhecer o quadro abarcado pelo autor.

1. Definição do Espiritismo. ─ 2. Princípio do bem e do mal. 3. União da alma com o corpo. ─ 4. Reencarnação. ─ 5. Fre­nologia. ─ 6. Do pecado original. ─ 7. O inferno. ─ 8. Missão do Cristo. ─ 9. O purgatório. ─ 10. O Céu. ─ 11. Pluralidade dos globos habitados. ─ 12. A caridade. ─ 13. Deveres do homem. ─ 14. Perispírito. ─ 15. Necessidade da revelação. ─ 16. Oportunidade da revelação. ─ 17. Os anjos e os demônios. ─ 18. Os tempos preditos. ─ 19. A prece. ─ 20. A fé. ─ 21. Resposta aos insultadores. ─ 22. Resposta aos incrédulos, ateus e materialistas. ─ 23. Apelo ao clero.

Lamentamos que a falta de espaço não nos permita reproduzir tantas passagens quantas desejaríamos. Limitar-nos-emos a algumas citações.



Cap. III, pág. 41. ─ “A utilidade recíproca e indispensável da alma e do corpo para sua cooperação respectiva constitui, pois, a razão de ser de sua união. Ela constitui a mais, para o espírito, as condições militantes na via do progresso, onde está chamado a conquistar sua personalidade intelectual e moral.

“Como esses dois princípios realizam normalmente, no homem, o fim de sua destinação? Quando o espírito é fiel às suas aspirações divinas, restringe os instintos animais e sensuais do corpo e os reduz à sua ação providencial na obra do Criador; desenvolve-se, cresce. É a perfeição da própria obra que se realiza. Ela chega à felicidade, cujo último termo é inerente ao grau supremo da perfectibilidade.

“Se, ao contrário, abdicando a soberania que é chamado a exercer sobre o corpo, ele cede ao arrastamento dos sentidos, e se aceita suas condições de prazeres terrestres como único objetivo de suas aspirações, falseia a razão de ser de sua existência e, longe de realizar os seus destinos, fica estacionário; ligado a esta vida terrestre que, entretanto, não deveria ter sido para ele senão uma condição acessória, porquanto não poderia ser o seu fim, o Espírito, de chefe que era, torna-se subordinado; como insensato, aceita a felicidade terrena que os sentidos lhe permitem experimentar e que lhe propõem satisfazer, assim nele abafando a intuição da felicidade verdadeira que lhe está reservada. Eis a sua primeira punição.”

No capítulo VII, do inferno, pág. 99, encontramos esta notável apreciação da morte e dos flagelos destruidores: 

“Seria enumerando os flagelos que espalham sobre a Terra o terror e o espanto, o sofrimento e a morte, que acreditariam poder dar a prova das manifestações da cólera divina?

“Sabei, pois, temerários evocadores das vinganças celestes, que os cataclismos que assinalais, longe de ter o caráter exclusivo de um castigo infligido à Humanidade, são, ao contrário, um ato da misericórdia divina, que fecha a esta o abismo onde a precipitavam suas desordens, e lhe abre as vias do progresso que deve levá-la ao caminho que ela deve seguir para assegurar a sua regeneração.

“Que são esses cataclismos, senão uma nova fase na existência do homem, uma era feliz, marcando para os povos e a Humanidade inteira o ponto providencial de seu adiantamento?

“Sabei, pois, que a morte não é um mal. Farol da existência do Espírito, ela é sempre, porquanto vem de Deus, o sinal de sua misericórdia e de sua assistência benevolente. A morte não é senão o fim do corpo, o termo de uma encarnação, e nas mãos de Deus, é o aniquilamento de um meio corruptor e vicioso, a interrupção de uma corrente funesta, à qual, num momento solene, a Providência arranca o homem e os povos.

“A morte não é senão um tempo de interrupção na prova terrestre. Longe de prejudicar o homem, ou melhor, o Espírito, ela o chama para recolher-se no mundo invisível, quer para reconhecer suas faltas e lamentá-las, quer para esclarecer-se e se preparar, por firmes e salutares resoluções, para retomar a prova da vida terrestre.

“A morte não gela o homem de pavor, a não ser que, muito identificado à Terra, ele não tenha fé em seu augusto destino, do qual a Terra não é senão a dolorosa oficina onde se deve realizar a sua depuração.

“Cessai, pois, de crer que a morte seja um instrumento de cólera e de vingança nas mãos de Deus; sabei, ao contrário, que ela é ao mesmo tempo a expressão de sua misericórdia e de sua justiça, seja detendo o mau na via da iniquidade, seja abreviando o tempo de provas ou de exílio do justo sobre a Terra.

“E vós, ministros do Cristo, que do alto da cátedra da verdade proclamais a cólera e a vingança de Deus, e pareceis, por vossas eloquentes descrições da fantástica fornalha, atiçar as suas chamas inextinguíveis para devorar o infeliz pecador; vós que, de vossos lábios tão autorizados, deixais cair esta aterradora epígrafe: ‘Jamais! ─ Sempre!’ esquecestes as instruções de vosso divino Mestre?” 

Citaremos, ainda, as passagens seguintes, extraídas do capítulo sobre o pecado original: 

“Em vez de criar a alma perfeita, quis Deus que não fosse senão por longos e constantes esforços que ela chegasse a se desprender deste estado de inferioridade nativa, e gravitar para seus augustos destinos.

“Para chegar a esses fins, tem ela, pois, que romper os laços que a prendem à matéria, resistir ao arrastamento dos sentidos, com a alternativa de sua supremacia sobre o corpo, ou da obsessão exercida sobre ela pelos instintos animais.

“É desses laços terrestres que cabe a ela libertar-se, e que nela constituem as condições de sua inferioridade. Eles não são outra coisa além do pretenso pecado original, o alvéolo que cobre a sua essência divina. O pecado original constitui, assim, o ascendente primitivo que os instintos animais devem ter exercido, de início, sobre as aspirações da alma. Tal é o estado do homem que o Gênesis quis representar sob a figura simples da árvore da ciência do bem e do mal. A intervenção da serpente tentadora não é outra coisa senão os desejos da carne e a solicitação dos sentidos. O Cristianismo consagrou esta alegoria como um fato real, ligando-se à existência do primeiro homem, e é sobre esse fato que baseou o dogma da redenção.”

“Colocado neste ponto de vista, é preciso reconhecê-lo, o pecado original deve ter sido, e com efeito foi, o de toda a posterioridade do primeiro homem, e assim o será durante uma longa série de séculos, até a libertação completa do Espírito da constrição da matéria, libertação que sem dúvida tende a se realizar, mas que ainda não se fez em nossos dias.

“Numa palavra, o pecado original constitui as condições da natureza humana carregando os primeiros elementos de sua existência, com todos os vícios que ela engendrou.

“O pecado original é o egoísmo e o orgulho, que presidem a todos os atos da vida do homem;

“É o demônio da inveja e do ciúme, que roem o seu coração;

“É a ambição que perturba o seu sono;

“É a cupidez, que não pode saciar a avidez de lucro;

“É o amor e a sede de ouro, este elemento indispensável para dar satisfação a todas as exigências do luxo, do conforto, do bem-estar, que persegue o século com tanto ardor.

“Eis o pecado original proclamado pelo Gênesis, que o homem sempre ocultou em si; ele não será apagado senão no dia em que, compenetrado de seus altos destinos, o homem abandonar, conforme a lição do bom La Fontaine, a sombra pela presa; no dia em que renunciar à miragem da felicidade terrena, para voltar todas as suas aspirações para a felicidade real que lhe está reservada.

“Que o homem aprenda, pois, a se tornar digno de seu título de chefe entre todos os seres criados, e da essência etérea emanada do próprio seio de seu criador, da qual ele foi forjado. Que seja forte para lutar contra as tendências de seu envoltório terreno, cujos instintos são estranhos às suas aspirações divinas e não poderiam constituir sua personalidade espiritual; que seu objetivo único seja sempre gravitar para a perfeição de seu último fim, e o pecado original não mais existirá para ele.” 

O Sr. Bonnamy já é conhecido de nossos leitores, que puderam apreciar a firmeza e a independência de seu caráter, bem como a elevação de seus sentimentos, por sua notável carta que publicamos na Revista de março de 1866, no artigo intitulado: O Espiritismo e a Magistratura. Ele vem hoje, por um trabalho de alto alcance, emprestar resolutamente o apoio e a autoridade de seu nome a uma causa que, na sua consciência, considera como a da Humanidade.

Entre os adeptos já numerosos que o Espiritismo conta na magistratura, o Sr. Jaubert, vice-presidente do tribunal de Carcassone, e o Sr. Bonnamy, juiz de instrução em Villeneuve-sur-Lot, são os primeiros que abertamente arvoraram a bandeira. E o fizeram, não no dia seguinte à vitória, mas no momento da luta, quando a Doutrina está exposta aos ataques de seus adversários e quando seus adeptos ainda estão sob os golpes da perseguição. Os espíritas atuais e os do futuro saberão apreciá-lo e não o esquecerão. Quando uma doutrina recebe os sufrágios de homens tão justamente considerados, é a melhor resposta às diatribes de que ela pode ser objeto.

A obra do Sr. Bonnamy deixará sua marca nos anais do Espiritismo, não só como primeira no seu gênero, cronologicamente, mas sobretudo por sua importância filosófica. O autor aí examina a Doutrina em si mesma, discute os seus princípios, dos quais tira a quintessência, fazendo abstração completa de toda personalidade, o que exclui qualquer pensamento de camarilha.

_____________________________________________________

[1] Um volume in-12; preço 3 francos; pelo correio 3,35 francos. Livraria Internacional, Boulevard Montmartre, 15 – Paris.

Retirado de: Allan Kardec » Revista Espírita 1867 » Novembro » Notícias bibliográficas 

Fonte: IPEAK - http://www.ipeak.com.br/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=6116&idioma=1

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Reflexões espíritas sobre a Tragédia de Santa Maria


Por Dora Incontri

A tragédia de Santa Maria me leva a algumas reflexões que considero importantes para o movimento espírita.

Recentemente participei de uma banca de doutorado na Universidade Metodista, em que o pesquisador José Carlos Rodrigues, examinou em ampla investigação de campo quais os principais motivos de “conversão”, eu diria, “migração” para o espiritismo, no Brasil. Ganhou disparado a “resposta racional” que a doutrina oferece para os problemas existenciais.

De fato, essa é grande novidade do espiritismo no domínio da espiritualidade: introduzir um parâmetro de racionalidade e distanciar-se dos mistérios insondáveis, que as religiões sempre mantiveram intactos e impenetráveis, sobretudo o mistério da morte.

Entretanto, essa racionalidade, que era realmente a proposta de Kardec, tem sido barateada em nosso meio, como tudo o mais, para tornar-se uma cartilha de respostinhas simples, fechadas e dogmáticas, que os adeptos retiram das mangas sempre que necessário, de maneira triunfante e apressada, muitas vezes, sem respeito pela dor do próximo e sem respeito pelas convicções do outro. Explico-me.

Por exemplo: existe na Filosofia espírita uma leitura de mundo de “causa e efeito”, que traduziram como “lei do karma”, conceito que vem do hinduísmo. Essa ideia é de que nossas ações presentes geram resultados, que colheremos mais adiante ou que nossas dores presentes podem ser explicadas à luz de nossas ações passadas. Mas há muitas variáveis nesse processo: por exemplo, estamos sempre agindo e portanto, sempre temos o poder de modificar efeitos do passado; as dores nem sempre são efeitos do passado, mas sempre são motivos de aprendizado. O sofrimento no mundo resulta das mais variadas causas: má organização social, egoísmo humano, imprevidência… Estamos num mundo de precário grau evolutivo, onde a dor é nossa mestra, companheira e o que muitas vezes entendemos como “punição” é aprendizado de evolução.

O assunto é complexo e pretendo escrever mais profundamente sobre isso. Aqui, apenas gostaria de afirmar que nós espíritas, temos sim algumas respostas racionais, mas elas são genéricas e não podem servir como camisas de força para toda a realidade. Que respostas baseadas em evidências e pesquisas temos, por exemplo, para essas famílias enlutadas com a tragédia de Santa Maria?

• que a morte não existe e que esses jovens continuam a viver e que poderão mais dia, menos dia, dar notícias de suas condições;

• que a morte traumática deixa marcas para quem fica e para quem foi e que todos precisam de amparo e oração;

• que o sofrimento deve ter algum significado existencial, que cada um precisa descobrir e transformá-lo em motivo de ascensão…

• que a fé, o contato com a Espiritualidade, seja ela qual for, dá forças ao indivíduo, para superar um trauma dessa magnitude. 

Não podemos afirmar por que esses jovens morreram. Não devemos oferecer uma explicação pronta, acabada, porque não temos esses dados. Os espíritas devem se conformar com essa impotência momentânea: não alcançamos todas as variáveis de um fato como esse, para podermos oferecer uma explicação definitiva. Havia processos da lei de causa e efeito? Provavelmente sim. Houve falha humana, na segurança? Certamente sim. Qual o significado que essa tragédia terá? Cada pai, cada mãe, cada familiar, cada pessoa envolvida deverá achar o seu significado. Alguns talvez terão notícias de algum evento passado que terá desembocado nesse drama; outros extrairão dessa dor, um motivo de luta para mais segurança em locais de lazer; outros acharão novos valores e farão de seu sofrimento uma bandeira para ajudar outros que estejam no mesmo sofrimento e assim por diante.

Oremos por essas pessoas, ofereçamos nossas melhores vibrações para os que foram e para os que ficaram e ainda para os que se fizeram de alguma forma responsáveis por esse evento trágico. Mas tenhamos delicadeza ao tratar da dor do próximo! Não ofereçamos respostas fechadas, apressadas, categóricas, deterministas. Ofereçamos amor, respeito e àqueles que quiserem, um estudo aberto e não dogmático, da filosofia espírita.

Fonte: http://doraincontri.com/2013/01/28/reflexoes-espiritas-sobre-a-tragedia-de-santa-maria/

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Kardec Foi um Filósofo?

Allan Kardec
Por Jaci Regis
Três questões serão debatidas neste trabalho:

1.) Como conciliar o fato de o Espiritismo se declarar, simultaneamente, uma revelação e uma filosofia;
2.) É possível caracterizar a obra de Kardec como uma obra filosófica?
3.) Como resolver o paradoxo da fé raciocinada?

O objetivo final é provar que o Espiritismo é uma filosofia.

I

No livro “A Gênese”, Allan Kardec afirma que o Espiritismo é uma revelação e procura mostrar o seu caráter. Mas, também, ao longo de sua obra e de forma taxativa, caracteriza-o como uma filosofia.

Devemos, pois, em primeiro lugar, tentar compreender o que sejam filosofia e revelação. Comecemos por filosofia.

Não tem sido fácil definir o que seja filosofia. Entretanto, existe um conceito espontâneo de que a filosofia é uma parte essencial da atividade do homem. Ligada à sabedoria, ao exame e à discussão exaustiva, embora não conclusiva, das causas e dos seres, a filosofia tem sido caracterizada como uma atividade superior do homem, um exercício indispensável ao saber e à certeza.

Historicamente, distinguem-se duas formas de exercício da filosofia: de um lado a socrático-platônica, que exprime uma concepção do eu, isto é, uma autorreflexão do espírito sobre os seus supremos valores teóricos e práticos, sobre os valores do verdadeiro, o bom e o belo. De outro, a aristotélica, que apresenta, antes de tudo, uma concepção do universo. Embora tenha havido uma regularidade pendular entre essas duas concepções, tende-se a uma acumulação, a uma conjugação desses pontos, pois a filosofia é simultaneamente as duas coisas: uma concepção do eu e uma concepção do universo.

Em síntese, pode-se compreender que a filosofia é uma autorreflexão do espírito sobre seu comportamento e, ao mesmo tempo, uma aspiração ao conhecimento das últimas ligações entre as coisas.

Quanto à revelação, analisaremos, ainda que rapidamente, as colocações feitas por Allan Kardec no capítulo I de “A Gênese”, servindo-nos da tradução de Guillon Ribeiro (edição da FEB). Nele, o autor define revelação como “dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida”. Logo, “deste ponto de vista, todas as ciências que nos fazem conhecer os mistérios da Natureza são revelações e pode dizer-se que há para a Humanidade uma revelação incessante” (item 2). E adiante: “O que de novo ensinam aos homens (os grandes gênios, messias, missionários) quer na ordem física, quer na ordem filosófica, são revelações (grifo de Kardec). “Se Deus suscita reveladores para as verdades científicas, pode, com mais forte razão, suscitá-las para as verdades morais, que constituem elementos essenciais do progresso. Tais são os filósofos, cujas ideias atravessam os séculos” (item 6). No tocante à revelação religiosa, diz Kardec: “implica a passividade absoluta e é aceita sem verificação, sem exame e discussão” (item 7).

Finalmente, quanto ao Espiritismo, afirma Kardec: “é uma verdadeira revelação, na acepção científica da palavra”, isto é, dá “a conhecer o mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivemos sem o suspeitarmos, assim como as leis que o regem, suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da morte” (item 12).

Kardec coloca o Espiritismo como uma “revelação científica” que é caracterizada por ser “divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem”. É uma revelação científica, enfatiza: “por não ser ensino (dos Espíritos) privilégio de indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo; por não serem os que o transmitem e os que o recebem seres passivos, dispensados do trabalho da observação e da pesquisa, por não renunciarem ao raciocínio e ao livre-arbítrio; porque não lhes é interdito o exame, mas, ao contrário, recomendado; enfim, porque a doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega; porque é deduzida pelo trabalho do homem, da observação aos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as ilações e aplicações” (item 13 - grifos de Kardec).

Isso fica mais claro ainda quando ele analisa a questão: “qual a autoridade da revelação espírita, uma vez que emana de seres de limitadas luzes e não infalíveis?” Nessa aparente fragilidade, o Codificador aponta sua característica básica, ao afirmar que o Espiritismo é fruto da elaboração entre pessoas de dois planos de vida. Os Espíritos propõem, mas os homens concorrem com o seu raciocínio e seu critério, tudo submetem ao cadinho da lógica e do bom senso. Isto é, o homem se beneficia dos conhecimentos especiais que os Espíritos dispõem pela posição em que se acham, sem abdicar do uso da própria razão (item 57).

Esse caráter específico da revelação espírita é, também, uma inovação no campo filosófico, antes dominado apenas pela cogitação a partir de um ponto de observação unilateral, isto é, da busca e da inquietação do homem perante o mistério e as contradições do ser, diante de si mesmo, da existência e do universo. Agora, esse mesmo cogitar é enriquecido pela contribuição de homens que passaram a existir numa dimensão diferente, — os Espíritos — mas dentro da humanidade.

Sendo, em lato senso, urna elaboração da razão humana — encarnada e desencarnada — o Espiritismo é uma reflexão sobre o ser e o universo, abrangendo a totalidade e não se detendo no particular. A palavra “revelação” é, num primeiro sentido, uma contradição nesse quadro e só é aceita por Kardec a partir de uma visão didática, para que a intervenção das inteligências desencarnadas seja compreendida no processo.

II

Poderá a obra de Allan Kardec ser categorizada como filosófica? Ou melhor seria considerá-la uma obra didática? Encontramos no seu transcorrer uma reflexão sobre o ser, o belo, o bom? Há, em seu bojo, cogitações sobre a natureza essencial das coisas, uma visão do universo e das relações últimas entre os objetos? Sim, a resposta é afirmativa.

Entretanto, o fato desses temas serem abordados não significa, necessariamente, que a obra seja filosófica. O que caracteriza esse aspecto é o fato de apresentar uma reflexão, propor soluções e inovar na abordagem de temas que, sendo universais e se constituírem razão da cogitação da inteligência, se enquadrem num quadro amplo da inquietação do homem.

Analisada sob esse ângulo, a obra de Kardec é, em seu conjunto, uma reflexão filosófica. O próprio “O Livro dos Espíritos” é um filosofar dialético entre duas inteligências humanas, reunidas no ato de refletir sobre os fundamentos do ser, do destino e de Deus. Semelhante ao diálogo do Banquete, de Platão, Kardec e o Espírito da Verdade, maieuticamente confabulam num mesmo nível de inquietude. Esse debate dialético não espelha um superior ministrando lições a um inferior. Mas, duas potências do saber dialogam, exprimindo visões específicas que resultam na síntese doutrinária do Espiritismo. A partir desse diálogo, Kardec, seja nos comentários que aduz às questões ou em capítulos inteiros de “O Livro dos Espíritos”, evidencia o tratamento filosófico das ideias.

O que caracteriza, por outro lado, a filosofia kardecista, se assim podemos falar, é a sua praticidade. Marx afirmou que “os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diferentes maneiras; trata-se é de transformá-lo”, exigindo a crítica radical, que vai às raízes e à práxis, isto é, à ação revolucionária. Essa tese foi lançada por Marx por volta de 1845, doze anos antes de “O Livro dos Espíritos”. Pode-se dizer que Kardec também realizou, a seu modo, uma filosofia de ação, de pratos, transformadora e revolucionária, ao propor uma nova reflexão sobre os fundamentos da vida, do ser e do mundo, inaugurando a visão espírita. E, também, promoveu a elevação dos Espíritos à categoria de seres existentes e não potenciais, ao abrir, por assim dizer, a cortina que separava o homem vivente no plano corpóreo ao homem vivente no plano extrafísico.

A filosofia que Kardec desenvolveu foi discursiva-racional, não considerando a intuição como uma fonte autônoma de conhecimento. Embora reconhecendo a totalidade emocional, volitiva e cognitiva do Espírito, não poderia deixar de cingir-se à razão como juíza do saber. Não nega a intuição como uma das formas de apreensão da realidade. Todavia, “toda intuição tem que legitimar-se perante o tribunal da razão”.

Embora seguindo, sob certos aspectos, um esquema muito ligado às preocupações teológicas, Kardec manteve-se numa linha de equilíbrio racional, definindo, por fim, o Espiritismo como filosofia moral, com o que se libertou das amarras de uma teologia. A reflexão sobre a reencarnação, como instrumento de desenvolvimento das potências do Espírito, define a filosofia espírita, em oposição à teologia.

Na verdade, o esquema kardecista seguiu, em linhas gerais, a própria estrutura do pensamento filosófico da época. Foi a partir do século 19 que as ciências se libertaram definitivamente da filosofia, mudando esta seu campo de atividade e atuação formal.

O didatismo de Kardec não prejudica a sua obra, nem lhe descaracteriza a fundamentação filosófica. Exprime, apenas, uma face da capacidade de comunicação própria do autor, cujo estilo sem adjetivação excessiva, o torna objetivo, desprendido de palavras e formulações tortuosas. Deve-se ter em mente que o professor Rivail mostrou em sua obra — cerca de 21 volumes — um poder de objetividade, de concisão ainda não suficientemente estudado, antecipando-se aos progressos da linguagem atuais tanto da informática, quanto da linguística. O fato de escrever numa linguagem direta, limpa, inova mais uma vez, enriquecendo o conteúdo filosófico.

Se acompanharmos o pensamento kardecista, não apenas nos livros fundamentais, mas ao longo das edições da “Revista Espírita”, haveremos de reconhecer a posição de Kardec como homem prático, jornalista, administrador, pesquisador, orador, líder, polemista, escritor, o que naturalmente não lhe poupava tempo para elucubrações excessivamente teóricas. No espaço de apenas 14 anos escreveu mais de 20 livros, incluindo as edições da “Revista Espírita”, que redigiu sozinho e desenvolveu uma atividade realmente exaustiva. Realizou, todavia, uma teorização sobre os fatos, de modo que não se perdessem os resultados das pesquisas e das observações.

Flammarion chamou-lhe de “Bom Senso Encarnado”, mas negou-lhe o caráter de cientista. Todavia, com o desenvolvimento das ciências humanas, já não se pode negar a Kardec, também, esse título porque realizou, como Bozzano, embora em menor escala, é verdade, um árduo trabalho de pesquisa, observações pessoais e coleta de dados. Com todo esse material, deduziu um conjunto de ideias e fundamentos. Foi filósofo do real, da ação, da prática, apoiando-se em dados experimentais. Deduziu sobre os fundamentos morais do universo — refletindo sobre a natureza do homem, suas dimensões físico-espirituais, o processo evolutivo a que está submetido, sua imortalidade e seu destino. Especulou sobre o absoluto, Deus, como centro de interesse e equilíbrio do Universo.

Mesmo nos livros que numa falsa visão cultural são chamado de “religiosos”, manteve essa postura filosófica. Tanto no “Evangelho Segundo o Espiritismo”, como no “O Céu e o Inferno”, que abordam temas da teologia, comportou-se de maneira coerente com sua visão filosófica e é sob este ângulo que examina, tanto a contribuição de Jesus de Nazaré, que libera dos aspectos místicos, para concentrar-se no conteúdo moral de seu ensino, quanto os aspectos da Justiça Divina, em “O Céu e o Inferno”.

III

Se Allan Kardec estruturou a Doutrina Espírita como uma filosofia moral, porque, contraditoriamente, adotou o tema “Fé raciocinada”? Se, como ele repetidas vezes afirmou, o Espiritismo é uma doutrina positiva, repudiando todo o misticismo, qual o motivo que o teria levado a mencionar a fé como uma condição importante para o homem?

Mostramos que a estrutura filosófica do Espiritismo é discursiva-racional e que abrange tanto uma concepção do ser, como uma concepção do universo e, mais ainda, projeta-se como uma práxis, atuando no mundo para modificá-lo. Trata-se como se vê, de tentativa para sintetizar a angústia humana, convergindo, inevitavelmente, para o campo moral. Ora, as religiões sempre se colocaram como guardiãs da moralidade, embora, quase sempre, decaindo para um moralismo. Kardec não podia negligenciar o fato de que a moralidade é a meta principal do Espiritismo — embora enfocada sob uma visão libertadora. Daí o ter afirmado que o Espiritismo é forte por tocar os pontos principais das religiões: Deus, o espírito e as penas futuras. Chegou mesmo a tentar colocar o Espiritismo como o elo, a aliança entre a ciência e a religião.

E aí se situa a sabedoria da proposta espírita. Não é uma postura inflexível porque é progressiva e isso lhe garante a mobilidade, abrindo-se para compreender as múltiplas formas de expressão do Espírito em sua caminhada evolutiva. E, nessa caminhada, a religião tem sido um fator marcante, embora nem sempre positivo, ao contrário, o que levou Kardec a lamentar que “infelizmente as religiões hão sido sempre instrumentos de dominação” (“A Gênese”, cap. I, item 8).

No domínio da fé, temos uma atitude específica do Espírito. Ela é intuitiva, é a apreensão da totalidade, a germinação da certeza interna, surgida da vivência, dos valores. David Hume, filósofo inglês, definiu-a dessa forma: “a fé é muito mais um ato da parte afetiva de nossa natureza do que de sua parte pensante”.

Ao postular a “fé raciocinada”, Kardec inseria um paradoxo, considerando as bases da filosofia espírita, chamando-nos à reflexão. Definindo essa contradição, Kardec afirma: “fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade” (“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, tradução de Guillon Ribeiro - FEB). Quer dizer, ele afirma que a inabalavidade da fé depende da razão, ou seja, que a apreensão intuitiva da totalidade, como uma certeza interna, pode ser falsa, incorrer em erro de interpretação, se não passar pelo crivo da razão. Dessa atitude surge uma nova fé que seria motivadora, totalizadora, porque submetida ao juízo racional.

Dentro dessa perspectiva, o Espiritismo se propõe a aliar a ciência e a religião, mas, todavia, não se reduz nem a uma nem a outra, mas transcende-as. Dialeticamente, aceitando a ciência e a religião como posições reais no conhecimento e vivência humanas, o Espiritismo procura transformá-las. De um lado, sendo ciência do Espírito, completa a ciência convencional cujo objeto é o conhecimento do meio físico como o único concreto e possível. De outro, destruindo o sobrenatural em que a religião se assenta, liberta o homem de um conceito estreito e falacioso da vida, propondo-se como filosofia moral, onde os conceitos morais coexistem com a racionalidade e desataviados dos prejuízos do culto.

Kardec rejeitou o fato de que o homem crer em Deus e orar se caracterizasse como um ato místico. Ao contrário, afirmou ser uma atitude positiva, decorrente da abertura que o Espiritismo, filosoficamente, promove. Logo, a fé que Kardec aborda é, sobretudo, saber, crença baseada na razão. E se estrutura como uma nova postura do homem perante a vida, pois que não nega o impulso da experiência interna na apreensão da totalidade, mas indica o caminho da crítica e da atividade construtiva, para que a fé não continue sendo contemplação e alienação místicas.

IV
Sendo o Espiritismo uma nova visão do homem e do mundo, caracteriza-se como um pensar filosófico, como uma filosofia estruturada na pesquisa do conhecimento, do ser e do universo. Tendo base experimental, seu filosofar é existencial, atua no mundo para modificá-lo. O pensamento kardecista — isto é, espírita — apresenta-se como um sistema de ideias claramente definido e eficientemente deduzido. Essa afirmativa nos leva à conclusão de que o professor Hipollyte Léon Denizard Rivail — Allan Kardec — pode ser conceituado como um autêntico filósofo, na lídima acepção do termo.

Observação: No tocante às definições de filosofia, usamos expressões do livro “Teoria do Conhecimento”, do professor Johannes Hessen, 3a edição - Armênio Amado Editor, Coimbra - Portugal.

Fonte: revista “A Reencarnação”, n º 401 - Ano L - outubro de 1984, órgão de divulgação da Federação Espírita do Rio Grande do Sul.
Jaci Regis (1932-2010), psicólogo, jornalista, economista e escritor espírita, foi o fundador e presidente do Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS), idealizador do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita (SBPE), fundador e editor do jornal de cultura espírita “Abertura” e autor dos livros “Amor, Casamento & Família”, “Comportamento Espírita”, “Uma Nova Visão do Homem e do Mundo”, “A Delicada Questão do Sexo e do Amor”, “Novo Pensar - Deus, Homem e Mundo”, dentre outros.

Retirado do site PENSE - http://viasantos.com/pense/arquivo/1359.html

quinta-feira, 5 de julho de 2012

La Moral En La Doctrina Espirita

 Por Manuel S. Porteiro

La moral es muy importante en la vida de los hombres, Jesús, como Krishna y como otros espíritus luminosos que supieron ordenar al hombre sin imponerle claudicaciones, no fundaron ninguna religión positiva; enseñaron, sí, una moral sublime, idéntica para todos los hombres, sin sujeción a tiempos, lugares ni circunstancias, sin casuística ni acomodos, moral que lo mismo sirve para realizar el ideal de felicidad humana en este mundo, que para guiar al espíritu en la senda de su progreso indefinido. Esta moral es esencialmente idéntica a la que se desprende de la filosofía espiritista, pero esta última tiene el valor de su fundamento científico, de sustituir el parabolismo de aquélla con una forma racional de explicación y dar también al hombre su razón de ser moral.

El Espiritismo viene hoy a levantar la moral caída, a darle una base científica, a demostrar que lo que ayer fue intuición filosófica, es hoy verdad positiva; viene a  probar con hechos que los principios morales entran grados de desarrollo, que son propios del espíritu, no del organismo ni de la materia, que la moralidad se manifiesta en cada uno según el grado de evolución alcanzado; viene a demostrar que el hombre es un espíritu encarnado, sujeto a continua evolución, que ha vivido en anteriores existencias en estados biológicos interiores y que una vez abandonado su cuerpo material, continúa evolucionando progresivamente, subiendo de tramo en tramo la escala infinita de su progreso, en este o en otros mundos más en armonía con su desarrollo espiritual, que la mayor capacidad moral e intelectual depende del esfuerzo propio de cada ser, de la actividad que despliegue para alcanzarla, que la adquisición de esta capacidad, siempre creciente en su infinito desarrollo, consiste en el ejercicio de todas sus facultades y aptitudes, inspiradas en el bien y puestas al servicio de sus semejantes y, en lo posible, de los demás seres que le rodean; viene a establecer la fraternidad universal sobre las mismas leyes de la evolución, demostrando que la solidaridad no es una palabra vacía, por cuanto no puede existir progreso moral individual, sin progreso colectivo, ni éste sin aquél y que, por consiguiente, cuanto más bien hacemos a los demás, más bien nos hacemos a nosotros mismos; viene a dar al ser una sanción justa y ecuánime, natural y divina, que está en las leyes de su propia evolución, en el principio de causalidad, que nos enseña que toda causa produce un efecto proporcional, que toda acción tiene en sí misma las consecuencias de su bondad o de su maldad, sanción, a la cual no escapan las intenciones ni las circunstancias; viene, en fin, a reafirmar la creencia en un Ser supremo, principio inteligente, creador eterno, manantial de sabiduría, de amor, de justicia, de bondad y de belleza, de donde emanamos y adonde vivimos, sin percatarnos de nuestra pequeñez y al mismo tiempo de nuestra grandeza.

De este conocimiento que se desprende del Espiritismo científico, de las manifestaciones mismas de los seres que han vivido en la tierra y superviven a la muerte con la visión de sus existencias pasadas, de sus mensajes mismos, se desprende la moral espírita, moral sublime que, como hemos dicho, abraza todo lo que hay de bueno y de justo en las demás filosofías y religiones, verdadera ciencia deductiva que descansa en principios inalterables y universales.

La moral espírita enseña a practicar el bien sin interés de recompensas, premios ni castigos, a no ser bueno por temor ni por cálculo, sino porque el bien es la ley suprema de nuestra vida, aumenta nuestra riqueza espiritual, nos eleva y nos engrandece; a proceder con justicia en todos los actos de nuestra vida. Ante el dilema si hemos de ser buenos, justos y veraces, cuando la bondad, la justicia y la verdad nos perjudican, o si hemos de ser todo lo contrario cuando la maldad, la injusticia y la mentira nos benefician, la moral espírita se inclina decididamente por lo primero.

Nos enseña también a practicar la caridad con altruismo, con amor y con delicadeza, demostrándonos que lo que hacemos en bien de los demás es en nuestro bien propio, y que, al obrar así, no hacemos más que cumplir con un deber de solidaridad; a proteger al débil y amparar al desgraciado, cualquiera que sea su debilidad y su desgracia; a levantar al caído, a instruir al ignorante, a ver en cada delincuente un hermano, que hay que redimir con amor, y en cada delito, un enemigo que hay que combatir sin piedad; a no juzgar ni castigar, ni a dar derecho ni atribuciones a nadie para que juzgue ni castigue, considerando que todos somos pecadores y delincuentes en más o menos grado, que los pecados y delitos son propios de nuestra imperfección y de muestro atraso y que, para atenuarlos, hay que instruir, educar y suprimir en lo posible las causas que los producen; a obrar bien con entereza y con rectitud, sin temor a la crítica mundana; a gozar de todos los placeres de la vida, con honestidad y moderación, prefiriendo siempre los placeres  espirituales y, en fin, a trabajar y vivir del producto de nuestro propio trabajo, considerando éste no como un fin sino como un medio para el ejercicio y desarrollo de todas nuestras facultades espirituales y para domar nuestro espíritu de sus rudezas y sus bajas pasiones.

La moral espírita es evolucionista, en el sentido de que se irá imponiendo paulatinamente  a medida de la comprensión y del progreso moral de los individuos y los pueblos, pero en su esencia y en sus principios es absoluta, no admite términos medios, y en sus mandatos es radical e imperativa; no dice al hombre: haz el bien con arreglo a tal o cual circunstancia; sé justo con relación a tal o cual época o lugar; di la verdad, pero que ella no lastime a tales o cuales mentiras, a tales o cuales injusticias, a tales o cuales convencionalismos o intereses. Por el contrario, afirma categóricamente: sé bueno, sé justo, sé veraz, aunque el mundo y sus prejuicios se resientan por tu bondad, por tu justicia, por tu verdad.

La moral espírita es, pues, una moral de principios; no es una moral de circunstancias que, como la establecida por la ley civil y por las costumbres sociales, se adapta al medio y a la estructura económica y política de la sociedad; no es una moral que beneficia los intereses de unos en detrimento de los intereses de los demás; por el contrario, tiende a mancomunar los intereses particulares en un solo interés general, haciendo que todos los hombres sean solidarios en la producción y en el goce de la riqueza social, de acuerdo con sus fuerzas, sus aptitudes y con sus necesidades; no tiene clases, no admite prerrogativas ni categorías sociales su sanción, a todos los alcanza por igual según sean sus acciones, el grado de comprensión, el mérito o demérito de cada uno; y ante el Juez Supremo, que falla en la conciencia y en las leyes de la misma evolución, no caben títulos ni riquezas, ni castas, ni absurdos privilegios sociales.

Enseña la humildad (en el límite de la suavidad y de la modestia), sin humillación ni rebajamiento, aconseja la tolerancia, pero sin descender al consentimiento del mal, ni convivir con él. El juicio crítico que tiende a su mayor grado de perfeccionamiento del individuo y de la sociedad, es una facultad que debe emplearse contra el crimen y la injusticia; consentir éstos, convivir con ellos, no es una virtud, sino más bien una cobardía, que puede ocasionar mayores males que los que tolera.

La nueva moral que desprende del Espiritismo científico viene, pues, a transformar por completo la sociedad, y a su influencia se deberá la desaparición de muchos crímenes, de muchas injusticias, de muchas mentiras e inmoralidades que se tienen hoy por muy morales y muy sagradas; y, en cambio, se afianzarán muchas verdades, muchas virtudes, muchas aspiraciones justas que la moral hipócrita de nuestra sociedad desecha como cosas moralmente malas.

Esta doctrina redentora, lejos de ser rígida disciplina, impuesta arbitrariamente a la conciencia, es un código de amor, de paz, de esperanzas, de consuelos, de promesas y de infinitas satisfacciones espirituales. El que esto escribe, ha sentido en su alma el bálsamo consolador de esta doctrina en sus momentos de desvaríos, cuando las recrudescencias de la vida laceraban sin piedad su corazón. Al borde de más de un abismo ha encontrado en esta moral sublime el apoyo para no caer; y reconfortado su espíritu por la visión de un superior destino, volvió los ojos a la luz con la alegría de vivir, huyendo de las negruras abismales donde la amargura, el despecho o la pasión lo hacían zozobrar. Y este milagro, que se habrá producido en la conciencia de muchos espiritistas sólo puede hacerlo la convicción profunda que nos da el Espiritismo.

Extraído del libro Origen de las Ideas Morales – Manuel S. Porteiro
Livro originalmente publicado en 1998 pelo Movimiento de Cultura Espírita – CIMA, en Caracas, Venezuela.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

¿Espiritismo: Filosofía, Ciencia O Religión?

Por Maria Ribeiro

Clique aqui para a versão em português.

Aun hoy actualmente, hay dudas entre los adeptos del Espiritismo en cuanto a su real naturaleza. ¿Al fin de cuentas, el Espiritismo es religión, ciencia o filosofía?

Sin pretensiones poco razonables, nos gustaría examinar las Letras Espiritas, con la finalidad de buscar la luz para tal, callejos sin salida.

En el capítulo I, Ítem, 17 de La Génesis, Kardec elucida que “Todas las ciencias se encadenan y se suceden en un orden raciona; ellas nacen una de las otras; a medida que encuentran un punto de apoyo en las ideas y conocimientos anteriores.”

Ya en el ítem anterior, el lucido maestro lionés hizo paralelo entre los objetos de estudio de ambos, la ciencia ordinaria y el espiritismo, siendo el primero el de las leyes del principio material y el segundo, el de las leyes del principio espiritual. Es del conocimiento general que, para constituirse una ciencia es necesario que haya un objeto de estudio. El espiritismo, bajo este aspecto investigativo, es, por tanto, Ciencia, con sus propios métodos y postulados explorando al máximo el uso de la observación, de la lógica, de la racionalidad.

Se entiende que la ciencia espirita da proseguimiento a investigaciones que la ciencia está imposibilitada de actuar. Al menos por los mismos medios, pues, dentro de su campo de acción, también participa de la gran obra divina, que es trazar informaciones y disponibilidades en las más diversas áreas para los hombres. Son palabras del magno codificador en Obras Póstumas, en el capítulo titulado “Preguntas y Problemas”: “… (El espiritismo) no repudia ninguno de los descubrimientos de la ciencia, teniendo en vista que la ciencia es la recopilación de las leyes de la naturaleza, y que, siendo esas leyes de Dios, repudiar la ciencia seria repudiar la obra de Dios.”

¡Y mientras tanto las ciencias han progresado! En todos los sectores, las mejoras están surgiendo con nuevos ropajes para hacernos creer que son creaciones inéditas. Los avances en la medicina nos dejan en la expectativa del surgimiento de curas, o al menos tratamientos más eficaces y al mismo tiempo menos agresivo, para las enfermedades como el cáncer y aun mismo para el AIDS. La tecnología contribuyo creando mecanismos y aparatos cada vez más modernos en prácticamente todos los niveles. No se puede negar en cuanto al progreso que ha promovido mayor bienestar para la vida humana.

El Espiritismo es una doctrina filosófica que tienen consecuencias religiosas, como toda doctrina espiritualista”. Encontramos en la Doctrina Espirita los más elevados valores que desde tiempos inmemoriales vienen siendo predicados por diversas personalidades que visitaron el planeta. Muchas veces considerados como locos, agitadores y subversivos, tuvieron sus grandezas de almas reconocidas, solamente después que desencarnaron.

Con este corto periodo, Kardec no deja espacio para la separación del Espiritismo, filosofía y religión, una vez que la Filosofía es que dio origen a las religiones y a las ciencias. Por eso, es incomprensible la forma de ver el Espiritismo sin Filosofía, sin ciencia. Y sin religión, ya que el texto Espirita nos sugiere ser la Doctrina la fusión armónica de un trió que, por causa de la ignorancia de los hombres, estuvo disperso por largos siglos.

Hay, obviamente, que considerar, en como los hombres constituyeron sus creencias, organizándolas según un entendimiento limitado perfectamente inteligible. Surgiendo disidencias, lo que puede parecer natural, surgen también nuevas formas de adoración al ser superior, nuevos dogmas, nuevos rituales, y otra vez nuevas disidencias, formando grupos muy heterogéneos solamente en determinados aspectos. La Doctrina Espirita no se compara a nada de eso, porque no es una disidencia de ninguna otra, más si, la suma de todas las verdades contenidas esparcidamente en las diversas expresiones religiosas, nada menos que el consolador prometido por Cristo. “Más aquel consolador, el Espíritu santo, que el Padre enviara en mi nombre, os enseñará todas las cosas, y os hará recordar todo cuanto os tengo dicho” (Juan, 14, 26).

Ahora, Jesús habla de "todas las cosas" – os enseñará todas las cosas. si reconocemos el Espiritismo como el cumplimiento de esta promesa de Jesús, es necesario atribuirle el merito que el merece. No pude ser reducido a una u otra esfera de acción. Examinemos lo que el ítem XIII de la introducción de El Libro de los Espíritus asevera: “Por tanto, no nos engañemos: el estudio del Espiritismo es inmenso, toca en todas las cuestiones de la metafísica y de la orden social, y es todo un mundo que se abre ante nosotros.” en otras palabras, no es lo mismo que Jesús pronunció? En todos los aspectos – científico, filosófico y religiosos, precisa ser investigado, comprendido y divulgado, bajo pena de reforzar la ya existente idea de que Espiritismo es diferente de religión, que es diferente de ciencia. Una cosa es utilizar formas didácticas para mejor comprensión de su compleja transcendencia, otra es querer deturpar palabras y esclarecimientos de Espíritus que están mucho más allá de nosotros, como el propio Codificador, apenas para entender una fracción de audaz orgullo.

Por otro lado, “el Espiritismo, esencialmente positivo en sus creencias, repele todo misticismo”, conforme señala Kardec, (Obras Póstumas, Preguntas y problemas). Y, sin saber aun si felizmente o infelizmente, existe una vertiente para este lado, más sin sombra de duda, es anti doctrinario. Lo que puede haber de errado en una persona al ofrecer o recibir una aplicación de Reiki, o de hacer tratamientos cromoterapia, o de someter las terapias con cristales, pirámides y florales? ¿Será que es errado el que alguien tome un baño de sal gruesa, o encender inciensos y velas o practicar cosas afines? Ciertamente que errado no es, teniendo en vista las buenas intenciones con que son hechas, más sustentar que eso tiene que ver con el Espiritismo es un error grave, pues entre ambos van una distancia galáctica.

Siendo, esencialmente positivo en sus creencias, el espiritismo está basado en los hechos y en la experiencia; es un objeto de carácter práctico y objetivo. Dirige la fe del hombre para el raciocinio. De ahí no parecer racional creer que la quema de incienso sea capaz de espantar los malos Espíritus y fluidos “cargados”, olvidando el ítem 13 del noveno capítulo de El Libro de los Médiums. También es alarmante ver la confianza que se deposita en el tratamiento de las tales flores, que garantizan interferencias benéficas según algunos, en el periespiritu, cuando se sabe que sin reformulaciones de valores llevados a efecto cotidianamente, no existe otra forma de adquirirse el bienestar físico o psíquico.

La reflexión que se hace importante es que el respeto por las diversas formas de creencias es preciso que exista, ya que somos parte de un grupo heterogéneo de Espíritus en diferentes grados evolutivos. De ahí, el concluirse que, entre los Espíritas habrá aquellos en estado de transición, donde la total convicción aun no surgió y solo la hará gradualmente, como es natural. Entretanto, no será por causa de eso que se dejará de esclarecerlos, preservando siempre y a todo costo, la pureza doctrinaria.

Bajo la identificación de Un espíritu, un compañero de la patria espiritual nos elucida aun en la Obras Póstumas, en el capitulo cuyo título es “El futuro del espiritismo”: “El Espiritismo está llamado a desempeñar un papel inmenso sobre la Tierra; será el que reformará la legislación tan frecuentemente contraria a las leyes divinas; será el que rectificará los errores de la historia; será el que reconducirá a la religión de Cristo que, en las manos de los sacerdotes, se torno un comercio y un vil tráfico; instituirá la verdadera religión, la religión natural, la que parte del corazón y va directo a Dios, sin detenerse en las franjas de una sotana, o en las escaleras de un altar(…)

El Hermano habla de una “religión de Cristo”, de una religión natural que parte del corazón y va directo a Dios, removiendo en nosotros cualquier pensamiento de alguna forma ligado a la cuestión religiosa, resucitando su real significado.

Lo que se entendió por religión, en realidad, jamás lo fue. Del latín religar asume significación diversa. El “religar” el hombre a Dios jamás puede hacer entender practicas externas acosadas por una caprichosa superstición, abstracción hecha para los hombres aun de entendimiento elementales, y a los abusos que se registraron, principalmente en el periodo dantesco de la Edad Media.

La Doctrina Espirita vino a restaurar el cristianismo que a lo largo de la historia sufrió deturpación, mutilaciones y abusos de toda suerte. ¿Cómo eximirla de cualquiera de sus aspectos, sin repetir los mismos errores del Pasado?

Es una necesidad urgente que los espiritas asuman pronto su papel, ya que tantas responsabilidades están reservadas al espiritismo, que solo actuará mediante la acción efectiva de sus adeptos. Estos parecen esperar que acontezca algo extraordinario por si mismo, mientras pequeñas divergencias amenazan intimidar verazmente difundiendo las ideas espiritas. Afortunadamente el codificador garantizo:”Qué importan, más allá, de algunas disidencias que están más en la forma que en el fondo! Observad que los principios fundamentales son los mismos por todas partes y deben uniros en un pensamiento común: el amor a Dios y la práctica del bien. Cualquiera que sean, por tanto, el modo de progresión que se admita, o las condiciones normales de la existencia futura, el objetivo final es el mismo: hacer el bien; ahora, no hay dos maneras de hacerlo. “ (El Libro de los Espíritus – Conclusión ítem, IX)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Espiritismo: Filosofia, Ciência ou Religião?

Por Maria Ribeiro

Ainda atualmente, há dúvidas entre os adeptos do Espiritismo quanto à sua real natureza. Afinal, é o Espiritismo religião, ciência ou filosofia?

Sem pretensões descabidas, gostaríamos de examinar as Letras Espíritas, com a finalidade de buscar a luz para tal impasse.

No capítulo I, item 17 de A Gênese, Kardec elucida que ”...todas as ciências se encadeiam e se sucedem numa ordem racional; elas nascem umas das outras, à medida que encontram um ponto de apoio nas idéias e conhecimentos anteriores.”

Já no item anterior, o lúcido mestre lionês faz paralelo entre os objetos de estudo de ambos, a ciência ordinária e o Espiritismo, sendo o primeiro o das leis do princípio material e o segundo, o das leis do princípio espiritual. É do conhecimento geral que, para constituir-se uma ciência é necessário que haja um objeto de estudo. O Espiritismo, sob este aspecto investigativo, é, portanto, Ciência, com seus próprios métodos e postulados, explorando ao máximo o uso da observação, da lógica, da racionalidade.

Entende-se que a ciência Espírita dá prosseguimento a pesquisas que a ciência comum está impossibilitada de atuar. Ao menos pelos mesmos meios, pois, dentro do seu campo de ação, também participa da grande obra divina, que é trazer informações e disponibilidades nas mais diversas áreas para os homens. São palavras do magno codificador em Obras Póstumas, no capítulo intitulado ’Perguntas e problemas’: “...(O Espiritismo) não repudia nenhuma das descobertas da ciência, tendo em vista que a ciência é a compilação das leis da Natureza, e que, sendo essas leis de Deus, repudiar a ciência seria repudiar a obra de Deus.”

E quanto as ciências têm progredido! Em todos os setores, os aprimoramentos vão surgindo com novas roupagens nos fazendo acreditar que são criações inéditas. Os avanços na medicina nos deixam na expectativa do aparecimento de curas, ou ao menos tratamentos mais eficazes e ao mesmo tempo menos agressivos, para doenças como o câncer e mesmo para a AIDS. A tecnologia disparou criando mecanismos e aparatos cada vez mais modernos em praticamente todos os níveis. Não se pode negar o quanto o progresso tem promovido maior bem estar para a vida humana.

“O Espiritismo é uma doutrina filosófica que tem conseqüências religiosas, como toda doutrina espiritualista”¹. Encontramos na Doutrina Espírita os mais elevados valores, que desde tempos imemoriais vêm sendo apregoados por diversas personalidades que visitaram o planeta. Muitas vezes considerados como loucos, desordeiros e subversivos, tiveram suas grandezas de alma reconhecidas, somente após o desencarne.

Com este curto período, Kardec não deixa espaço para a separatividade de Espiritismo, filosofia e religião, uma vez que a Filosofia é que deu origem às religiões e às ciências. Por isso, é incompreensível a forma de enxergar o Espiritismo sem filosofia, sem ciência e sem religião, já que o texto Espírita nos sugere ser a Doutrina a fusão harmônica de um trio que, por causa da ignorância dos homens, esteve disperso por longos séculos.

Há, obviamente, que se considerar, em como os homens constituíram suas crenças, organizando-as segundo um entendimento limitado perfeitamente inteligível. Surgindo dissidências, o que pode parecer natural, surgem também novas formas de adoração ao ser superior, novos dogmas, novos rituais, e outra vez novas dissidências, formando grupos muito heterogêneos somente em determinados aspectos. A Doutrina Espírita não se compara a nada disso, porque não é uma dissidência de nenhuma outra, mas sim, a soma de todas as verdades contidas esparsamente nas diversas expressões religiosas, nada menos que o consolador prometido pelo Cristo. “Mas aquele consolador, O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”(João, 14, 26).

Ora, Jesus fala em “todas as coisas” – vos ensinará todas as coisas. Se reconhecemos o Espiritismo como o cumprimento desta promessa de Jesus, é necessário atribuí-lo o mérito que ele merece. Não pode ser reduzido à uma ou outra esfera de ação. Examinemos o que o item XIII da introdução de O Livro dos Espíritos assevera: “Portanto, não nos enganemos: o estudo do Espiritismo é imenso, toca em todas as questões da metafísica e da ordem social, e é todo um mundo que se abre diante de nós.” Em outras palavras, não é o mesmo que Jesus pronunciou? Em todos os aspectos – científico, filosófico e religioso, precisa ser investigado, compreendido e divulgado, sob pena de reforçarmos a já existente idéia de que Espiritismo é diferente de religião, que é diferente de ciência. Uma coisa é utilizar formas didáticas para melhor compreensão de sua complexa transcendência, outra é querer deturpar palavras e esclarecimentos de Espíritos que estão muito além de nós, como o próprio Codificador, apenas para atender a uma fração de orgulho audacioso.

Por outro lado, “o Espiritismo, essencialmente positivo em suas crenças, repele todo misticismo”, conforme assinala Kardec, (Obras Póstumas, Perguntas e problemas). E, sem sabermos ainda se felizmente ou infelizmente, existe uma vertente para este lado, mas sem sombra de dúvida, é anti doutrinário. O que pode haver de errado em uma pessoa oferecer ou receber uma aplicação de reike, ou de fazer tratamentos cromoterápicos, ou de se submeter às terapias com cristais, pirâmides e florais? Será que é errado alguém tomar um banho de sal grosso, ou acender incensos e velas ou praticar coisas afins? Certamente que errado não é, tendo em vista as boas intenções com que são feitas, mas sustentar que isso tem a ver com o Espiritismo é erro grave, pois entre ambos vai uma distância galáctica.

Sendo ’essencialmente positivo em suas crenças’, o Espiritismo é baseado nos fatos e na experiência; é um objeto de caráter prático e objetivo. Dirige a fé do homem para o raciocínio. Daí o não parecer racional acreditar-se que a queima de um incenso seja capaz de espantar os maus Espíritos e fluidos “carregados”, esquecidos do item 13 do nono capítulo de O Livro dos Médiuns. Também é apalermante ver-se a confiança que se depositam no tratamento dos tais florais, que garantem interferência benéfica, segundo alguns, no perispírito, quando sabe-se que sem reformulações de valores levadas a efeito cotidianamente, não existe outra forma de se adquirir bem estar físico e/ou psíquico.

A reflexão que se faz importante é que o respeito pelas diversas formas de crenças precisa existir, já que somos parte de um grupo heterogêneo de Espíritos em diferentes graus evolutivos. Daí, o concluir-se que, entre os Espíritas haverá aqueles em estado de transição, onde a total convicção ainda não surgiu e só o fará gradualmente, como é natural. Entretanto, não será por causa disso que se deixará de esclarecê-los, preservando sempre e a todo custo, a pureza doutrinária.

Sob a identificação de Um Espírito, um companheiro da pátria espiritual nos elucida ainda em Obras Póstumas, no capítulo cujo título é ’O futuro do Espiritismo’: “O Espiritismo está chamado a desempenhar um papel imenso sobre a Terra; será ele que reformará a legislação tão freqüentemente contrária às leis divinas; será ele que retificará os erros da história; será ele que reconduzirá a religião do Cristo que, nas mãos dos sacerdotes, se tornou um comércio e um vil tráfico; instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai direto a Deus, sem se deter nas franjas de uma batina, ou no escadote de um altar(...)”

O Irmão fala de uma ’religião do Cristo’, de uma ’religião natural que parte do coração e vai direto a Deus’, removendo de nós qualquer pensamento de forma ligado à questão religiosa, ressuscitando seu real significado.

O que se entendeu por religião, na realidade, jamais o foi. Do latim religare assume significação comprovadamente diversa. O “religar” o homem a Deus jamais pôde fazer entender práticas exteriores eivadas de uma caprichosa superstição, abstração feita para homens ainda de entendimentos elementares, e aos abusos que se registraram, principalmente no período dantesco da Idade Média.

A Doutrina Espírita veio restaurar o cristianismo que ao longo da história sofreu deturpações, mutilações e abusos de toda sorte. Como eximi-la de qualquer de seus aspectos, sem repetir os mesmos erros do passado?

Necessidade urgente é que os Espíritas assumam logo o seu papel, já que tantas responsabilidades estão reservadas ao Espiritismo, que só agirá mediante ação efetiva de seus adeptos. Estes parecem esperar algo extraordinário acontecer por si mesmo, enquanto pequenas divergências ameaçam intimidar a disseminação das idéias veramente Espíritas. Ainda bem que o notável codificador garantiu: ”Que importam, aliás, algumas dissidências que estão mais na forma que no fundo! Observai que os princípios fundamentais são os mesmos por toda parte e devem vos unir num pensamento comum: o amor de Deus e a prática do bem. Quaisquer que sejam, portanto, o modo de progressão que se admita, ou as condições normais da existência futura, o objetivo final é o mesmo: fazer o bem; ora, não há duas maneiras de fazê-lo.”(O Livro dos Espíritos – Conclusão, item IX)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

El Espiritismo no murió con Kardec

Por NEFCA*

Clique aqui para a versão em português.

El Espiritismo no murió con Kardec… más, también, no prosiguió en Brasil después de que …

Para comprender esta acepción es necesario un pensamiento simple: el de que el Espiritismo fue concebido como ciencia y como filosofía. Y como ciencia y filosofía, el posee método.

La ciencia es algo que debe ser permanentemente ejercitada. En el concepto científico se investiga, se mide, se confiere. Una información cualquiera en una ciencia solamente es válida después de extensos textos y verificaciones para la evaluación de la verdad. Si es así con toda la ciencia, no sería diferente con el Espiritismo. Cualquier información, para ser considerada válida en el Espiritismo, necesita ser AFERIDA. Y para aterir, Kardec estableció un método, que por todos los criterios posibles aun es el mejor. Aun mismo porque no existe y nadie invento ningún otro: el CUEE. Control Universal de las Enseñanzas de los Espíritus.

Sin el CUEE, sin esa confirmación, sin aferición, no podemos decir que una información es verdadera. El problema en Brasil en especifico – y ahora arrastrándose por el resto del mundo – es que mucha gente abdico de la verdad, pues no se preocupa en aceptar cualquier información sin esa confirmación. Se toma en cuenta las emociones del momento y la “fama” de uno u otro autor.

Con todo, cualquier persona sabe que una ciencia solo avanza cuando sus axiomas son probados. Como el método de aferición del Espiritismo no es aplicado en Brasil y aun como los avances científicos de otras áreas son ignorados por la mayoría de los espiritas, entonces, en Brasil, el Espiritismo paró. Y paró en un periodo paradojamente ANTERIOR a Kardec – dentro del réligiosismo ciego que acepta todo sin cuestionar.

Ya el aspecto filosófico debe ser siempre ejercitado, estimulado. El pensamiento, el modo de pensar espirita debe extrapolar en las áreas de comportamiento humano visando comienza en el individuo). Infelizmente, se abdico de eso también en Brasil.

El ejercicio de filosofía en el medio espirita brasileño se limita a la reproducción de textos de autores famosos, de citaciones del Evangelio Según el Espiritismo. Y cuando se piensa que el parte para aprovechar nuevos horizontes, comienzan las visitas que huyen de cualquier lógica prevista en la codificación y aun mismo en el buen sentido, en obras que más se parecen a libros de auto-ayuda.

Entonces, filosóficamente también el Espiritismo en Brasil se estancó en las exigencias de un mercado editorial comercial ávido por “mensajes bonitos”, más nulos de contenido doctrinario y real.

Cuando alguien afirma que algunas personas defienden la codificación y que eso paraliza el Espiritismo, practica la falacia de que justamente la codificación es la que nos incita a avanzar. Y es un real avance, pues se basa en la BUSQUEDA DE LA VERDAD.

El espirita debe, según la codificación, investigar, pesquisar, raciocinar, inquirir, ir al campo, divulgar exactamente y no permitir de ninguna forma que las cosas que no sean verdad prevalezcan. ¿Qué avance seria ese defendido por grupos mayoritarios que se basa en cosas que no se pueden comprobar ni aun mismos por el método del CUEE o por la ciencia? ¿Dónde hay avance en la falta de verificación de las informaciones?

¿Dónde hay avance en el fanatismo ciego que lleva a la mayor parte del movimiento espirita a abandonar exactamente el texto que nos pide buscar la verdad, a cambio de seguir fascinadamente a uno u otro autor individual, que supuestamente psicografia libros también de un único espíritu?

¿Dónde existe la verdad sin aferición?

Y queda la gran duda -¿Cuál es la gran resistencia al verificarse si una información es verdadera o no? ¿Cuál es el gran motivo que impele a personas aceptar cosas sin investigar, apenas tomando en cuenta nombres de autores famosos y que jamás buscaron esa misma verdad?

El Espiritismo no murió con Kardec. El Espiritismo está vivo. Más vivo en los corazones de todos aquellos que lo toman en serio y que buscan lo que es cierto y correcto. Fue para eso que nació la codificación espirita.

*NEFCA - Núcleo Espírita de Filosofía e Ciencias Aplicadas