quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Os Espíritas Agüentam Melhor

Por Carlos Iglesia

Alguns dias atrás estava cortando o cabelo e conversando com o barbeiro sobre um conhecido nosso que desencarnou recentemente. Pessoa bastante respeitada no bairro, ele era médium e atuava no receituário mediúnico, tendo proporcionado alivío e cura à inumeráveis doentes que o procuravam para consultas no centro que frequentava. Ele era médico também e exercia a profissão normalmente em seu consultório, que estava aberto a todos, pudessem ou não pagar as consultas, que inclusive eram de valor acessível a maioria das pessoas. Não raro fornecia os remédios para os que precisassem.

Sua desencarnação ocorreu após um doloroso processo de luta contra o câncer - doença possivelmente ligada ao fato de ter fumado na juventude - processo pelo qual passou com a maior resignação. Pessoa muito boa, porém de gênio forte, nunca demonstrou impaciência com a doença ou revolta com a situação que gradualmente o levou a diminuir o ritmo de seu trabalho até que foi obrigado a parar já nos últimos dias de sua estadia neste mundo.

A conversa corria justamente por esse ponto, pela sua luta contra o câncer, quando o barbeiro que me atendia - de formação católica porém com simpatia pelo Espiritismo - saiu-se com uma frase que me deixou pensativo: "Coitado, ainda bem que ele era espírita, os espíritas aguentam melhor estes sofrimentos".

Realmente não tenho como afirmar categoricamente que a frase é verdadeira, seria necessária uma vasta pesquisa entre espíritas e não espíritas, que passam por situações difíceis como a descrita, para embasar tal conclusão. Mas em uma primeira análise, mais subjetiva, ela é bastante razoável e parece corresponder as observações do dia-a-dia. A experiência cotidiana parece mostrar que o sofrimento tem um componente psicológico muito forte, que ele é maior ou menor em relação ao modo como a pessoa que passa por ele encara a vida. A percepção de que estamos em um processo de aprendizado, do qual a estadia neste mundo material é apenas uma etapa muito curta, muda razoavelmente a relação entre o doente e a doença. E muda mais ainda quando sabemos o que nos espera do outro lado da sepultura, que não há o que se temer porque é apenas a vida melhorada e adequada ao nosso grau de maturidade espiritual.

Mas, independentemente do fato da frase ser mais ou menos verdadeira, há uma outra questão interessante na reflexão do barbeiro que me atendia. Em essência ele deixou transparecer que a admiração que tem pela Doutrina é causada pelo efeito que ela tem na vida de seus adeptos. A vida de nosso amigo médico, que atuava como mensageiro do mais alto, transformou-se na própria mensagem.

Assim, pensando posteriormente na frase, não pude deixar de sorrir diante da simples constatação de que por mais que falemos, que escrevamos, que divulguemos o Espiritismo por todos os meios de comunicação existentes, será sempre na forma como aplicamos o Espiritismo na nossa vivência cotidiana que passaremos realmente aos nossos conhecidos a mensagem que queremos transmitir.

Não que a comunicação não seja importante, ela o é efetivamente, apenas é necessário que nossa vida reflita aquilo que comunicamos.

Fonte: Boletim do GEAE número 507 - janeiro de 2006

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Viagem Astral e Desdobramento - O que diz a Doutrina Espírita

Por Raimundo de Moura Rêgo Filho

É interessante como termos vão se enfileirando no cenário espírita, e muitos os começam a usar, como se de verdade fizessem parte do linguajar espírita. Dois desses traduzem fenômenos muito comentados e pouco entendidos. O primeiro é o “Viagem Astral”:

É incrível como muitos espíritas os usam até em palestras, quando se repensassem, não o usariam, pois, para mim soa-me como motivo de risos...

Viagem astral seria como se pegássemos um aeróbus e passeássemos, fazendo baldeações na lua, no sol, nas estrelas, dessa maneira estaríamos a fazer uma viagem astral por excelência.

Que os esotéricos os usem, ou mesmo os teosofistas, muito que bem, mas espíritas, e espíritas palestrantes? É matizar de bobagens, o cenário em que deveriam aparecer, ensinamentos que conduzissem o público ouvinte ou leitor a maior aprendizado doutrinário.

Não é sem razão que o famoso José Herculano Pires, atesta que ninguém no Brasil ou no mundo, conheça o Espiritismo. Herculano, nos incita até mesmo a providenciarmos o MOBRAL do Espírito, para que, dessa maneira, pudéssemos, ao rigor da máxima de Sócrates, nos entender desconhecedores da doutrina e desse ponto em diante, colocarmo-nos a caminho do aprendizado, partindo das primeiras letras da doutrina.

Então eu pergunto: Por que isso? Modismo, atualização vernáculo-doutrinária, ou simplesmente brincadeira de mau gosto?

Seja o que for, compete-nos, espíritas que somos, não difundir impropriedades ou sandices, pois em nome de um pretenso saber espírita, empalidecemos o Movimento Espírita brasileiro, e ele já anda tão exangue...

O Outro termo é o “DESDOBRAMENTO”. Esse então chega a causar dor de barriga de tanto rir, querem ver?

Desdobrar evoca o pensamento de estar o móvel do desdobramento, anteriormente dobrado, é sim, tipo como se fosse uma folha de papel, um bilhete de loteria, uma carteira...

Ora, um espírito não é um ser dobrável, nunca assim esteve, a não ser em linguagem figurada, quando se quer explicar que tal e tal espíritos se dobraram ante aos maus pensamentos etc. Ora, em não sendo assim, falar-se em desdobramento e o pior, duplicando-se a sandice, afirmar-se sobre “desdobramento astral”, seria dar-se aos astros, também essa maneabilidade flexível que eles não têm.

E isso tudo em moldes doutrinários, pasmem os amigos...

Kardec, que pelas palavras de Flamarion,foi brindado com o cognome “O Bom Senso Encarnado”, haverá de ter-se “dobrado”no túmulo, de vergonha por ver a doutrina que levou quase doze anos para codificar, das comunicações dos espíritos, ser levada ao ridículo por uma meia dúzia de gatos pingados, que não acham “nada demais”, em usarem tais expressões. É triste...

Ele, cunhou um termo específico que alude aos dois termos acima, e diz com propriedade sobre esse tipo de acometimento, o termo é: Emancipação da Alma.

Para esse estado, o codificador elencou todo o capítulo VIII da Obra o Livro dos Espíritos...

É nesse estado, o de Emancipação da Alma que consegue-se estar afastado do corpo carnal, e pode assim o espírito dar curso a seu aprendizado, visitar os que lhe são caros etc.

Emancipação da Alma, termo genuinamente Espírita, termo que explica clara e sem margem a dúvidas o momento pelo qual passa o espírito.

A vista disso é que não compreendo o porque se usarem os tais, “Viagem Astral”ou o tal do “Desdobramento”.

Se um dos leitores me puder explicar, por favor faça essa caridade, senão vou continuar a pensar que esses confrades palestrantes, estão é a viajarem, não no Astral, mas na maionese!

Lideranças Espíritas

Por Amilcar Del Chiaro Filho

Allan Kardec faz uma interessante exposição sobre as aristocracias que governaram o nosso mundo, desde as épocas mais recuadas da humanidade. Lembremos que aristocracia significa “governo ou poder dos melhores”. Kardec analisa o poder dos anciãos, dos guerreiros, dos nobres, do dinheiro, da inteligência, aspirando desaguar numa aristocracia intelecto moral, ou seja, o poder da inteligência unida a uma sólida moral.

Não temos dúvidas que esta será a melhor forma de governo, até que um dia todos saibam e cumpram os seus deveres, conheçam os seus direitos, e não será preciso ter quem obrigue o cumprimento das leis. Contudo, até que cheguemos a esse ponto, precisamos de líderes políticos, religiosos e do pensamento.

Logicamente o Movimento Espírita ainda não pode dispensar lideranças. Entretanto, qual seria o perfil ideal para a liderança espírita? Um médium que realize aquilo que for ditado pelos espíritos? É uma idéia interessante, porém, onde ficará a responsabilidade dos encarnados? Deveria ser, então um intelectual, com profundo conhecimento doutrinário? Também não, porque apenas o conhecimento intelectual não basta. Então pensemos num místico capaz de arrastar multidões com os seus discursos ou sermões? A resposta é, também, negativa.

No nosso entender um líder espírita legítimo precisa ter algumas virtudes, que somadas, lhe darão um grau elevado de conhecimento e vivência. Logicamente, para vencer ele ou ela precisará ser disciplinado e paciente. Ter uma vasta cultura doutrinária, amar a ciência e ser amante da sabedoria, isso é, ter qualidades de um filósofo.

Que esteja voltado para as conquistas da ciência moderna, mas não despreze as conquistas dos cientistas pioneiros. Que o seu espírito prático e perquiridor não o impeçam de ser um poeta, e conversar com as crianças, as flores e as estrelas. Que seja capaz de suportar reuniões cansativas de intelectuais, mas saber gastar um pouco do seu tempo com os simples.

Precisamos de homens e mulheres que penetrem com o seu pensamento os mundos disseminados no espaço, e possam discorrer sobre as supercivilizações dos mundos felizes e divinos, mas que visitem as favelas, os cortiços, as mansardas, os hospitais, as prisões, levando o amor que cobre a multidão dos erros humanos.

Precisamos de lideranças que amem suas famílias, e também a grande família humana. Que estejam apaixonados pela vida, que namorem as estrelas, e que vivam no mundo, sem prender-se ao mundo.

Não basta ao líder pregar as virtudes do Evangelho e falar do amor de Jesus de Nazaré, mas exemplificar a cada passo, o Evangelho que traz no coração. Missionários que, como o Cristo, permaneçam de braços abertos para aconchegar em seu seio os sofredores, os pedintes da luz, mas que os seus braços não sejam prisões, e permaneçam abertos para aqueles que desejarem ir embora.

Aspiramos líderes que conheçam o caminho e caminhem por ele, mas que, das suas sandálias, possam se desprender poeira de estrelas, para que possamos segui-los em demanda ao Reino de Deus.

E assim, um dia, poderemos repetir com Allan Kardec: “O Espiritismo Amplia os Horizontes da Humanidade”. Com Emmanuel: “O Espiritismo é um processo libertado de Consciências”. Com Herculano Pires: “O Espiritismo é a plataforma para um novo tempo”. Com Francisco de Assis: "Fazei-me instrumento da vossa paz”. Com Jesus: “Deus é o Pai”. Com João: “Deus é Amor”.

Fonte: Correio Fraterno do ABC de Março/Abril de 2006

Iniciando um novo ano

21:52 Posted by Fabiano Vidal , , , No comments
Toda vez que o ano vai chegando ao fim, parece que todos vamos manifestando cansaço maior.

Seja porque as festas se multipliquem (são formaturas, casamentos, jantares de empresas), seja porque já nos vamos preparando para as viagens de férias de logo mais.

De uma forma ou de outra, é comum se escutar as pessoas desabafarem dizendo que desejam mesmo que se acabe logo o ano.

Quem muito sofreu, deseja que ele se acabe e aguarda dias novos, de menos dores.

Quem perdeu amores, deseja que ele se acabe de vez, na ânsia de que os dias que virão consigam trazer esperanças ao coração esfacelado pelas ausências.

Quem está concluindo algum curso e deu o máximo de si, deseja que os meses que se anunciam cheguem logo, para descansar de tanto esforço.

E assim vai. Cada um vai pensando no ano que se finda no sentido de deixar algo para trás. Algo que não foi muito bom.

Naturalmente, muitos são os que vêem findar os dias do ano com contentamento, pois eles lhe foram propícios. Esses, almejam que os dias futuros reprisem esses valores de alegria, de afeto, de coisas positivas.

Ano velho, Ano Novo. São convenções marcadas pelo calendário humano, em função dos movimentos do planeta em torno do astro rei.

Contudo, psicologicamente, também nos remetem, sim, a um estado diferente.

Como Deus nada faz, em Sua sabedoria, sem um fim útil, também assim é com a questão do tempo como o convencionamos.

Cada dia é um novo dia. A noite nos fala de repouso. A madrugada nos anuncia oportunidade renovada.

Cada ano que finda nos convida a deixarmos para trás tudo de ruim, desagradável que já vivenciamos, permitindo-nos projetar planos para o futuro próximo.

Por tudo isso, por esta ensancha que a Divindade nos permite a cada 365 dias, nesta Terra, pense que você pode melhorar a sua vida no ano que se anuncia.

Comece por retirar de sua casa tudo que a atravanca. Libere-se daquelas coisas que você guarda nos armários, na garagem, no fundo do quintal.

Coisas que estão ali há muito tempo, que você guarda para usar um dia. Um dia que talvez nunca chegue. Pense há quanto tempo elas estão ali: meses, anos... esperando.

São roupas, calçados, livros, discos antigos, utensílios que você não usa há anos. Libere armários, espaços.

Coisas antigas, superadas são muito úteis em museus, para preservação da memória, da evolução da nossa História.

Doe o que possa e a quem seja mais útil.

Sinta o espaço vazio, sinta-se mais leve.

Depois, pense em quanta coisa inútil você guarda em seu coração, em sua mente.

Mágoas vividas, calúnias recebidas, mentiras que lhe roubaram a paz, traições que lhe deixaram doente, punhais amigos que lhe rasgaram as carnes da alma...

Alije tudo de si. Mentalmente, coloque tudo em um grande invólucro e imagine-se jogando nas águas correntes de um rio caudaloso que as levará para além, para o mar do esquecimento.

Deseje para si mesmo um Ano Novo diferente. E comece leve, sem essa carga pesada, que lhe destrói as possibilidades de felicidade.

Comece o novo ano olhando para frente, para o Alto. Estabeleça metas de felicidade e conquistas.

Você é filho de Deus e herdeiro do Seu amor, credor de felicidade.

Conquiste-a. Abandone as dores desnecessárias, pense no bem.

Mentalize as pessoas que são amigas, que o amam, lhe querem bem.

Programe-se para estar mais com elas, a fim de, fortalecido, alcançar objetivos nobres.

Comece o ano pensando em como você pode influenciar pessoas, ambientes, com sua ação positiva.

Programe-se para vencer. Programe-se para fazer ouvidos moucos aos que o desejam infelicitar e avance.

Programe-se para ser feliz. O dia surge. É Ano Novo. Siga para a luz, certo que com vontade firme, desejo de acertar, Jesus abençoará as suas disposições.

É Ano Novo. Pense novo. Pense grande. Seja feliz.

Fonte: Momento Espírita

sábado, 26 de dezembro de 2009

Nova tática dos adversários do Espiritismo

Por Allan Kardec.

Jamais uma doutrina filosófica dos tempos modernos causou tanta emoção quanto o Espiritismo e nenhuma foi atacada com tamanha obstinação. É prova evidente de que lhe reconhecem mais vitalidade e raízes mais profundas que nas outras, já que não se toma de uma picareta para arrancar um pé de erva. Longe de se apavorarem, os espíritas devem regozijar-se com isto, pois prova a importância e a verdade da Doutrina. (...)

Vide, na história do mundo, se uma única idéia grande e verdadeira deixou de triunfar, o que quer que tenham feito para entravá-la. (...)

Entretanto, a luta está longe de terminar; ao contrário, é de esperar que tome maiores proporções e um outro caráter. Seria por demais prodigioso e incompatível com o estado atual da Humanidade que uma doutrina, que traz em si o germe de toda uma renovação, se estabelecesse pacificamente em alguns anos.

Ainda uma vez, não nos lamentemos; quanto mais rude for a luta, mais estrondoso será o triunfo. (...)

Já tentaram muitas vezes, e o farão ainda, comprometer a Doutrina, impelindo-a por uma via perigosa ou ridícula, para a desacreditar. Hoje é semeando a divisão de modo sub-reptício, lançando o pomo de discórdia, na expectativa de fazer germinar a dúvida e a incerteza nos espíritos, provocar o desânimo, verdadeiro ou simulado e levar a perturbação moral entre os adeptos. Mas não são adversários confessos que assim agiriam. O Espiritismo, cujos princípios têm tantos pontos de semelhança com os do Cristianismo, também deve ter os seus Judas, para que tenha a glória de sair triunfando dessa nova prova. (...)

Nosso dever é premunir os espíritas sinceros contra as armadilhas que lhes são estendidas. Quanto aos que nos abandonaram, para os quais esses princípios eram muito rigorosos, neste como em vários outros pontos, é que sua simpatia era superficial e não do fundo do coração, não havendo nenhuma razão para nos prendermos a eles. Temos que nos ocupar com coisas mais importantes que a sua boa ou má vontade a nosso respeito. (...)

Quem quer que ponha o seu ponto de vista fora da estreita esfera do presente não é mais perturbado pelas mesquinhas intrigas que se agitam à sua volta. É o que nos esforçamos para fazer, e é o que aconselhamos aos que querem ter a paz da alma neste mundo. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. II, n. 5.)

Como todas as idéias novas, a idéia espírita não podia deixar de ser explorada por gente que, não tendo alcançado êxito em nada por má conduta ou por incapacidade, estão à espreita do que é novo, na esperança de aí encontrar uma mina mais produtiva e mais fácil; se o sucesso não corresponde à sua expectativa, não o atribuem a si mesmos, mas à coisa, que declaram má. Tais pessoas só têm de espíritas o nome. Melhor do que ninguém, pudemos ver essa manobra, tendo sido muitas vezes o alvo dessas explorações, às quais não quisemos dar a mão, o que não nos valeu amigos.

(...) O Espiritismo, repetimos, ainda tem de passar por rudes provas e é aí que Deus reconhecerá seus verdadeiros servidores, por sua coragem, firmeza e perseverança. Os que se deixarem abalar pelo medo ou por uma decepção são como esses soldados, que só têm coragem nos tempos de paz e recuam ao primeiro tiro. Entretanto, a maior prova não será a perseguição, mas o conflito das idéias que será suscitado, com cujo auxílio esperam romper a falange dos adeptos e a imponente unidade que se faz na Doutrina.

Esse conflito, embora provocado com má intenção, venha dos homens ou dos maus Espíritos, é, contudo, necessário e, ainda que causasse uma perturbação momentânea em algumas consciências fracas, terá por resultado definitivo a consolidação da unidade. Como em todas as coisas, não se deve julgar os pontos isolados, mas ver o conjunto. É útil que todas as idéias, mesmo as mais contraditórias e as mais excêntricas, venham à luz; provoquem o exame e o julgamento, e, se forem falsas, o bom senso lhes fará justiça. (...)

(...) Os impacientes, que não sabem esperar o momento propício, comprometem a colheita como comprometem a sorte das batalhas.

Entre os impacientes, sem dúvida alguns há de muito boa-fé e que gostariam que as coisas andassem ainda mais depressa; assemelham-se a essas criaturas que julgam adiantar o tempo adiantando o relógio.(...)

(...) O Espiritismo marcha em meio a adversários numerosos que, não o tendo podido tomar à força, tentam tomá-lo pela astúcia; insinuam-se por toda parte, sob todas as máscaras e até nas reuniões íntimas, na esperança de aí surpreender um fato ou uma palavra que muitas vezes terão provocado, e que esperam explorar em seu proveito. Comprometer o Espiritismo e torná-lo ridículo, tal é a tática, com o auxílio da qual esperam desacreditá-lo a princípio, para mais tarde terem um pretexto para mandar interditar, se possível, o seu exercício público. É a armadilha contra a qual devemos nos precaver, porque é estendida de todos os lados, e na qual, sem o querer, são apanhados os que se deixam levar pelas sugestões dos Espíritos enganadores e mistificadores.

O meio de frustrar essas maquinações é seguir o mais exatamente possível a linha de conduta traçada pela Doutrina; sua moral, que é a sua parte essencial, é inatacável, não dá ensejo a nenhuma crítica fundada e a agressão se torna mais odiosa. Achar os espíritas em falta e em contradição com seus princípios seria uma boa sorte para os seus adversários; assim, vede como se empenham em acusar o Espiritismo de todas as aberrações e de todas as excentricidades pelas quais não poderia ser responsável. A Doutrina não é ambígua em nenhuma de suas partes; é clara, precisa, categórica nos mínimos detalhes; só a ignorância e a má-fé podem enganar-se sobre o que ela aprova ou condena. É, pois, um dever de todos os espíritas sinceros e devotados repudiar e desaprovar abertamente, em seu nome, os abusos de todo gênero que pudessem comprometê-la, a fim de não lhes assumir a responsabilidade. Pactuar com os abusos seria acumpliciar-se com eles e fornecer armas aos adversários.

Os períodos de transição são sempre difíceis de passar. O Espiritismo está nesse período; atravessa-o com tanto menos dificuldade quanto mais os seus adeptos forem prudentes. Estamos em guerra; lá está o inimigo a espiar, prestes a explorar o menor passo em falso em seu proveito, e disposto a meter o pé na lama, se o puder.

Contudo, não nos apressemos em lançar pedras e suspeições com muita leviandade, sobre aparências que poderiam ser enganosas; a caridade, aliás, faz da moderação um dever, mesmo para os que estão contra nós. A sinceridade, todavia, mesmo em seus erros, tem atitudes de franqueza com as quais não é possível equivocar-se, e que a falsidade jamais simulará completamente, porquanto, mais cedo ou mais tarde, deixa cair a máscara. Deus e os bons Espíritos permitem que ela se traia por seus próprios atos. Se uma dúvida atravessa o Espírito, deve ser apenas um motivo para se guardar reserva, o que pode ser feito sem faltar às conveniências.

Fonte: KARDEC, Allan. Revista Espírita, junho de 1865, ed. Feb, p. 254-260.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

OLE - A Loucura E Suas Causas

Por Allan Kardec

Há ainda criaturas que vêem perigo por toda parte, em tudo aquilo que não conhecem, não faltando as que tiram conclusões desfavoráveis ao Espiritismo do fato de terem algumas pessoas, que se entregaram a estes estudos, perdido a razão. Como podem os homens sensatos aceitar essa objeção? Não acontece o mesmo com todas as preocupações intelectuais, quando o cérebro é fraco? Conhece-se o número de loucos e maníacos produzidos pelos estudos matemáticos, médicos, musicais, filosóficos e outros? E devemos, por isso, banir tais estudos? O que provam esses efeitos? Nos trabalhos físicos, estropiam-se os braços e as pernas, que são os instrumentos da ação material; nos trabalhos intelectuais, estropia-se o cérebro, que é o instrumento do pensamento. Mas se o instrumento se quebrou, o mesmo não aconteceu com o Espírito: ele continua intacto e, quando se libertar da matéria, não desfrutará menos da plenitude de suas faculdades. Foi no seu setor, como homem, um mártir do trabalho.

Todas as grandes preocupações intelectuais podem ocasionar a loucura: as Ciências, as Artes e a Religião fornecem os seus contingentes. A loucura tem por causa primária uma predisposição orgânica do cérebro, que o torna mais ou menos acessível a determinadas impressões. Havendo essa predisposição à loucura, ela se manifestará com o caráter da preocupação principal do indivíduo, que se tornará uma idéia fixa. Essa idéia poderá ser a dos Espíritos, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma arte, de uma ciência, da maternidade ou de um sistema político ou social. É possível que o louco religioso se apresente como louco espírita, se o Espiritismo foi a sua preocupação dominante, como o louco espírita se apresentaria de outra forma, segundo as circunstâncias.

Digo, portanto, que o Espiritismo não tem nenhum privilégio neste assunto. E vou mais longe: digo que o Espiritismo bem compreendido é um preservativo da loucura.

Entre as causas mais freqüentes de superexcitação cerebral, devemos contar as decepções, as desgraças, as afeições contrariadas, que são também as causas mais freqüentes do suicídio. Ora, o verdadeiro espírita olha as coisas deste mundo de um ponto de vista tão elevado; elas lhe parecem tão pequenas, tão mesquinhas, em face do futuro, que o aguarda; a vida é para ele tão curta, tão fugitiva que as tribulações não lhe parecem mais do que incidentes desagradáveis de uma viagem. Aquilo que para qualquer outro produziria violenta emoção, pouco o afeta, pois sabe que as amarguras da vida são provas para o seu adiantamento, desde que as sofra sem murmurar, porque será recompensado de acordo com a coragem ao suportá-las. Suas convicções lhe dão uma resignação que o preserva do desespero e conseqüentemente de uma causa constante de loucura e suicídio. Além disso, conhece pelo exemplo das comunicações dos Espíritos a sorte daqueles que abreviam voluntariamente os seus dias, e esse quadro é suficiente para o fazer meditar. Assim, o número dos que têm sido detidos à beira deste funesto despenhadeiro é considerável. Este é um dos resultados do Espiritismo. Que os incrédulos se riam quanto quiserem: eu lhes desejo as consolações que ele proporciona a todos os que se dão ao trabalho de lhe sondar as misteriosas profundidades. Entre as causas da loucura, devemos ainda incluir o pavor, sendo que o medo do diabo já desequilibrou alguns cérebros. Sabe-se o número de vítimas que ele tem feito ao abalar imaginações fracas com essa ameaça, que cada vez se procura tornar mais terrível através de hediondos pormenores? O diabo, dizem, só assusta as crianças, é um meio de torná-las mais ajuizadas. Sim, como o bicho-papão e o lobisomem. Mas, quando elas deixam de temê-lo, ficam piores do que antes. E para conseguir tão belo resultado não se levam em conta as epilepsias causadas pelo abalo de cérebros delicados. A religião seria bem fraca, se, por não usar o medo, seu poder ficasse comprometido. Felizmente assim não acontece. Ela dispõe de outros meios para agir sobre as almas e o Espiritismo lhe fornece os mais eficazes e mais sérios, desde que os saiba aproveitar. Mostra as coisas na sua realidade e com isso neutraliza os efeitos funestos de um temor exagerado.

Fonte: O Livro dos Espíritos. Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita. Tradução de José Herculano Pires.

No Vestibular da Vida

19:19 Posted by Fabiano Vidal , , , , , No comments
Por Paulo da Silva Neto Sobrinho

Dois estudantes entraram num cursinho de pré-vestibular. Desejavam fazer o vestibular para o Curso Engenharia Ultramoderno – CEU.

O primeiro, a quem chamaremos de Estuda Muito era dedicado, embora ainda vivia às expensas do pai, procurava de todos os modos ser responsável. Voltado completamente para os estudos, passava longas horas do dia debruçado sobre seus livros buscando aprender cada vez mais.

Ao outro chamaremos de Estuda Nada. Era também dependente de seus pais para lhe custear os estudos. Entretanto não se dedica aos estudos, passava a maior parte de seu tempo entre uma farra e outra. Não se preocupava em levar nada a sério.

Bom, assim passou o ano. Quando finalmente é chegado o dia do vestibular. Estudo Muito e Estuda Nada lá foram para o local do exame, que demorou umas quatro horas. O exame estava dificílimo, pois todas as questões eram abertas, de tal modo que quem não tivesse conhecimento não passaria.

Realizadas as provas era só esperar o resultado. Divulgado esse se constatou que ambos passaram. De fato, e por incrível que pareça, todos os dois foram aprovados. Mas como os dois passaram? Ora, Estuda Muito já era de se esperar, mas quanto a Estuda Nada esse não tinha a menor chance, como então passou? É que ele era amigo do filho do Diretor da Faculdade e se aproveitando disso conseguiu com seu amigo um jeito de “passar” mesmo sem saber nada.

Essa é a nossa historinha. Vamos pensar um pouco sobre ela.

Faríamos uma pergunta: É justo que os dois venham a entrar no “CEU”? Tiveram o mesmo empenho, tinham o mesmo conhecimento? Se realmente formos tomar as coisas pelo lado da justiça absoluta somente Estuda Muito merecia passar, pois se dedicou e empenhou-se ao máximo nos estudos, deixando de fazer coisas próprias de sua idade, como festas, divertimento, lazer, até mesmo uma namorada não tinha, pois lhe faltava tempo para isso também. Assim como “só colhemos o que plantamos” ficaremos indignados pelo fato de Estuda Nada ter passado no vestibular e estar no mesmo lugar que Estuda Muito, sem que ele tenha feito o que esse fez.

É bem essa a visão que alguns têm a respeito do nosso destino final. Crêem que só por ter feito o cursinho, ou seja, ter se vinculado a uma determinada corrente religiosa, ou ser “amigo” do filho de Deus terão o direito de ir para o reino dos céus. Se assim for, como fica o “a cada um segundo as suas obras”? Sempre falamos, em alguma situação na vida: que fulano mereceu o justo castigo. Ora, por esse mesmo pensamento poderemos dizer também que o prêmio será justo para quem fez por merecê-lo, não é mesmo?

A conclusão que chegamos é que devemos urgentemente reformular nosso senso de justiça divina e entender em definitivo que nunca receberemos pelo que não fizemos por merecer. Por isso, só o fato de pertencermos a determinada corrente religiosa ou crermos em Jesus como Senhor e Salvador não representará nada no vestibular diante do tribunal divino, pois com certeza ele irá nos medir (quem sabe será pesar?) pelo que tenhamos feito a favor do nosso próximo, pois assim estaremos fazendo o que é necessário para quando chegar a hora do: “a cada um segundo suas obras”.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

sábado, 19 de dezembro de 2009

Jesus, o mestre esquecido

Por Carlos Alexandre Fett

É final de ano. As famílias já começam os preparativos para as festas natalinas. Presentes são comprados, viagens marcadas, descanso na certa. É o chamado "espírito natalino" envolvendo a todos.

Mas, quase sempre não nos importamos com o verdadeiro sentido deste feriado, que é a comemoração do nascimento de Jesus.

Nossas crianças, bombardeadas pela mídia, acreditam que o Natal é refletido na figura do Papai Noel, o bom velhinho que presenteia a todos.

Prestemos atenção, mas praticamente inexiste a idéia de Jesus nestes dias. Poucos conversam com seus filhos sobre o que o Mestre tem a ver com as comemorações. O comércio explora a ansiedade de compra dos consumidores, mostrando que o que mais importa é correr atrás das melhores ofertas.

Isso tudo não é errado. Afinal, a tradição dos homens recomenda a troca de presentes neste período. Chegam até a dizer que isso é um simbologismo do que fizeram os reis magos quando do nascimento de Jesus, quando lhe ofertaram ouro, incenso e mirra.

Se fizermos tudo isso com o objetivo de agradar a quem gostamos, não há problema algum. Devemos fazê-lo com muita satisfação.

Mas acontece que para nós o Natal passa a ser só isso, e pronto.

Na noite natalina, comemos e bebemos muito. Nos divertimos, contamos histórias. Até que começamos a exagerar.

Passamos de uma noite de confraternização para um momento de angústia e libertinagem.

Muitos de nós, embebedados, acabamos por fazer atos impensados. Alguns colocam seus traumas para fora, levantam velhas discussões de família, aproveitam para denegrir a imagem de quem não está presente.

Corremos com nossos carros pelas estradas, cometemos desatinos, não pensamos nas conseqüências.

Tudo em nome da "festa do dia". Na verdade, agimos como se fosse apenas mais um feriado para desforrarmos nossa vontade de "agitar".

Em meio a tudo isso, Jesus continua como o Mestre esquecido.

Coisa de beato, de fanático, dirão alguns. Ficar pensando em religião em dia de festa!

Porém, acabamos por esquecer que a festa deveria, além da confraternização, da alimentação farta, ser um momento de reflexão sobre nossas vidas.

Será que esse homem, que dois mil anos depois de sua crucificação tem sua data de nascimento simbolizada neste dia, que fez com que seus ensinamentos fossem a base para as leis do ocidente, não tem razão no que pregava?

Um homem que apenas com três anos de vida pública, dos 30 aos 33 anos de idade, fez o mundo ser dividido em dois: antes e depois dele, não mereceria ser seguido com mais afinco por todos nós?

Se o que ele dizia não fosse verdade sobreviveria por tanto tempo?

O que temos feito baseados no que ele ensinou?

Temos vivido só para comer, beber, dormir, fazermos sexo, trabalhar e se divertir? Ou temos aproveitado a inteligência que o Pai altíssimo nos deu, e de quem Jesus tanto falava, para buscarmos ser mais úteis e sábios em nossas decisões?

O Natal deveria ter também esta conotação. Dizemos também, porque pedir que só reflitamos sobre a vida neste dia é pedir muito para homens tão apegados ao consumo como ainda somos. Mas, precisamos dar a devida consideração a Jesus neste dia festivo, colocando-o lado a lado com nossas expectativas.

Tomemos cuidado com os exageros nas festas. Sejamos alegres, não imprudentes. Aproveitemos a oportunidade para reatar amizades perdidas por orgulho, perdoar a falha alheia, entender a necessidade do próximo.

Enfim, sejamos cristãos neste dia maravilhoso, que comemora a passagem entre nós daquele que dizia que quem quisesse ser o maior, deveria servir, e não ser servido. Lembremos de sua mensagem e fiquemos felizes.

Com certeza, como dizia o próprio Jesus, onde estiverem dois ou mais reunidos em seu nome, ali estará ele. E a felicidade reinará, absoluta.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

As Contradições de Origem Espírita

Por Rogério Coelho

"Os Espíritos Superiores não se preocupam absolutamente com a forma. Para eles, o fundo do pensamento é tudo". Allan Kardec (1)

Com relação às contradições que às vezes podemos observar no ensino dos Espíritos aos homens, cumpre dar atenção a algumas nuanças desse comércio, cada vez mais intenso entre os dois mundos: Carnal e Espiritual.

Essas nuanças não foram negligenciadas pelo Codificador que inseriu em "O Livro dos Espíritos" e em "O Livro dos Médiuns", algumas importantes observações que passaremos a realçar. Ensina, então, o Mestre Lionês (2):

"Para se compreender a causa e o valor das contradições de origem espírita, é preciso estar-se identificado com a natureza do mundo Invisível e tê-lo estudado por todas as suas faces.

À primeira vista, parecerá estranho que os Espíritos não pensem todos da mesma maneira, mas isso não pode surpreender a quem quer que se haja compenetrado de que infinitos são os graus que eles têm de percorrer antes de chegarem ao cimo da evolução. Supor-lhes igual apreciação das coisas fora imaginá-los todos do mesmo nível; pensar que todos devem ver com justeza, fora admitir que todos já chegaram à perfeição, o que não é exato e não o pode ser, desde que se considere que eles não são mais do que a Humanidade despida do envoltório corporal. Podendo manifestar-se Espíritos de todas as categorias, resulta que suas comunicações trazem o cunho da sua ignorância ou do saber que lhes seja peculiar no momento, o da inferioridade, ou da superioridade moral que alcançaram. A distinguir o verdadeiro do falso, o bom do mau, é a que devem conduzir as instruções que temos dado.

Cumpre não esqueçamos que, entre os Espíritos, há, como entre os homens, falsos sábios e semi-sábios, orgulhosos, presunçosos e sistemáticos. Como só aos Espíritos perfeitos é dado conhecerem tudo, para os outros há, do mesmo modo que para nós, mistérios que eles explicam à sua maneira, segundo suas idéias, e a cujo respeito podem formar opiniões mais ou menos exatas, que se empenham, levados pelo amor-próprio, porque prevaleçam e que gostam de reproduzir em suas comunicações. O erro está em terem alguns de seus intérpretes esposado mui levianamente opiniões contrárias ao bom senso e se haverem feito editores responsáveis delas. Assim, as contradições não derivam de outra causa, senão da diversidade, quanto à inteligência, aos conhecimentos, ao juízo e à moralidade, de alguns Espíritos que ainda não estão aptos a tudo conhecerem e tudo compreenderem".

No mesmo livro e capítulo, dois itens à frente (301), Allan Kardec alinha algumas indagações e obtém esclarecedoras respostas:

1ª - Comunicando-se em dois Centros diferentes, pode um Espírito dar-lhes, sobre o mesmo ponto, respostas contraditórias?

Resposta: "Se nos dois Centros as opiniões e idéias diferirem, as respostas poderão chegar-lhes desfiguradas, por se acharem eles sob a influência de diferentes colunas de Espíritos. Então não é a resposta que é contraditória, mas a maneira por que é dada".

2ª - Concebe-se que uma resposta pode ser alterada; mas, quando as qualidades do médium excluem toda idéia de má influência, como se explica que Espíritos Superiores usem de linguagens diferentes e contraditórias sobre o mesmo assunto, para com pessoas perfeitamente sérias?

Resposta: "Os Espíritos realmente superiores jamais se contradizem e a linguagem de que usam é sempre a mesma, com as mesmas pessoas. Pode, entretanto, diferir, de acordo com as pessoas e os lugares. Cumpre, porém, se atenda que a contradição, às vezes, é apenas aparente; está mais nas palavras do que nas idéias; portanto, quem reflita verificará que a idéia fundamental é a mesma. Acresce que o mesmo Espírito pode responder diversamente sobre a mesma questão, segundo o grau de adiantamento dos que o evocam, pois nem sempre convém que todos recebam a mesma resposta, por não estarem todos igualmente adiantados. É exatamente como se uma criança e um sábio te fizessem a mesma pergunta. De certo, responderíeis a uma e a outro de modo que te compreendessem e ficassem satisfeitos. As respostas, nesse caso, embora diferentes, seriam fundamentalmente idênticas".

3ª - Com que fim Espíritos sérios, junto de certas pessoas, parecem aceitar idéias e preconceitos que combatem junto de outras?

Resposta: "Cumpre nos façamos compreensíveis. Se alguém tem uma convicção bem firmada sobre uma doutrina, ainda que falsa, necessário é que lhe tiremos essa convicção, mas pouco a pouco. Não é de bom alvitre atacar bruscamente os preceitos. Esse é o melhor meio de não ser ouvido. Os Espíritos apropriam sua linguagem às pessoas, como tu mesmo farás, se fores um orador mais ou menos hábil.

4ª - As contradições, mesmo aparentes, podem lançar dúvidas no Espírito de algumas pessoas. Que meio de verificação se pode ter, para conhecer a Verdade?

Resposta: "Estudai, comparai, aprofundai... Incessantemente vos dizemos que o conhecimento da Verdade só a esse preço se obtém. A missão dos Espíritos é destruir o erro, mas isso não se pode efetuar senão gradativamente".

8ª - De todas as contradições que se notam nas comunicações dos Espíritos, uma das mais frisantes é a que diz respeito à reencarnação. Como se explica que nem todos os Espíritos a ensinem?

Resposta: "Não sabeis que há Espíritos cujas idéias se acham limitadas ao presente, como se dá com muitos homens na Terra? Julgam que a condição em que se encontram tem que durar sempre. Nada vêem além do círculo das suas percepções e não se preocupam com o saberem donde vêm, nem para onde vão. Sabem que o Espírito progride, mas de que maneira? Têm isso como um problema.

(...) Se dissidências capitais se levantam, quanto ao princípio mesmo da Doutrina, de uma regra certa dispondes para as apreciar: A melhor doutrina é a que satisfaz ao coração e à razão e a que mais elementos encerra para levar os homens ao bem. Essa eu vo-lo afirmo, é a que prevalecerá".

Continuando os esclarecimentos, pondera, ainda, o Mestre Lionês(3):

"Das causas seguintes podem derivar-se as contradições que se notam nas comunicações espíritas: da ignorância de certos Espíritos; do embuste dos Espíritos inferiores que, por malícia ou maldade, dizem o contrário do que disse algures o Espírito cujo nome usurpam; da vontade do próprio Espírito, que fala segundo os tempos, os lugares e as pessoas, e que pode julgar conveniente não dizer tudo a toda gente; da insuficiência da linguagem humana para exprimir as coisas do mundo incorpóreo; da insuficiência dos meios de comunicação, que nem sempre permitem ao Espírito expressar todo o seu pensamento; enfim, de interpretação que cada um pode dar a uma palavra ou a uma explicação, segundo suas idéias, seus preconceitos, ou o ponto de vista donde consideram o assunto.

Só o estudo, a observação, a experiência e a isenção de todo sentimento de amor-próprio podem ensinar a distinguir estes diversos matizes.

A contradição, ademais, nem sempre é tão real quanto possa parecer. Pueril, portanto, seria apontá-la onde freqüentemente só há diferença de palavras".

Fechando a questão das contradições, elucida o ínclito filho de Lyon (4);

"(...) O argumento supremo deve ser a razão. A moderação garantirá a vitória da verdade contra as diatribes envenenadas pela inveja e o ciúme. Os bons Espíritos só pregam a união e o amor ao próximo, e jamais um pensamento malévolo ou contrário à caridade pode provir de fonte pura".

Atentemos para as seguintes palavras de Santo Agostinho (4):

"(...) Quereis saber sob a influência de que Espíritos estão as diversas seitas que entre si fizeram a partilha do mundo? Julgai-o pelas suas obras e pelos seus princípios. Jamais os bons Espíritos foram os instigadores do mal; jamais aconselharam ou legitimaram o assassínio ou a violência; jamais estimularam os ódios de partidos, nem a sede de riquezas e das honras, nem a avidez dos bens da Terra. Os que são bons, humanitários e benevolentes para com todos, esses os seus prediletos e prediletos de Jesus, porque seguem a estrada que Este indicou para chegarem até Ele".

Referências bibliográficas

1 - Kardec, A. in "O Livro dos Espíritos" - Introdução, § XIV

3 - Kardec, A. in "O Livro dos Médiuns" - Capítulo XXVII, item 302

4 - Kardec, A. in "O Livro dos Espíritos" - Conclusão, § IX

Fonte: Jornal Mundo Espírita de Setembro de 1997

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O Espiritismo perante a Razão

Por José Soares de Almeida

Para se acreditar na Doutrina Espírita poder-se-ia dispensar a série de manifestações, tais como mesas girantes e falantes, levitações, aparições de entes queridos ou amigos desencarnados, escrita psicografada e outros fenômenos, embora elas se tornem necessárias para desfazer as dúvidas de certas pessoas que, como São Tomé, precisam “ver para crer”.

A própria existência do ser humano, a maravilhosa estrutura do seu organismo, o poder ilimitado da sua mente e outros dons, bem compreendidos e analisados, bastariam, só por si, para induzir o homem a meditar sobre a continuidade da vida após a morte, baseado na certeza de que Deus nada fez de inútil e sem uma finalidade, e que a morte não é a destruição total do homem, mas, apenas, uma fase de transição na sua longa trajetória evolutiva.

Comecemos a pensar no nosso corpo físico, na maravilha que ele é, com os seus inúmeros órgãos, tecidos, músculos, nervos, glândulas, válvulas e outras partes, todas elas funcionando ritmicamente, em perfeita harmonia, cada uma delas exercendo a sua função e cumprindo a sua tarefa, algumas delas extremamente importantes e delicadas e, o mais estranho de tudo, sem ninguém as dirigindo, como se fossem uma grande orquestra que tocasse esplêndidas sinfonias durante décadas e décadas, sem intervalo e sem maestro.

Acrescente-se a tudo isso que todas essas partes do corpo são periodicamente substituídas, sem contudo perderem a harmonia e a unidade, e sem que a pessoa - o dono do corpo - tenha a mínima consciência dessa renovação orgânica, pois a sua individualidade mantém-se inalterável, do que se conclui que o ser real está na alma da pessoa e não no seu corpo material.

Além desse trabalho extraordinário e silencioso do nosso organismo, a que, geralmente, não prestamos a mínima atenção, temos várias outras faculdades que independem das funções físico-químicas do corpo, como o pensamento, o raciocínio, a vontade, a noção do bem e do mal, as emoções, o amor, o ódio e outros sentimentos que nenhum órgão físico tem a capacidade de produzir, mas que fazem parte do ser vivente. São características da natureza espiritual do homem.

Nota-se também que, não obstante todos os seres humanos apresentarem idêntica estrutura anatômica, não há dois deles com a mesma individualidade.

Essa diferença é marcada pela formação espiritual de cada um - formação essa que dá ao ser a noção da sua existência individual, a consciência do EU.

Conclui-se, portanto, que o homem é a fusão de duas naturezas: a material e a espiritual, o corpo e a alma. Quando chega a morte, o indivíduo deixa de viver neste mundo, podendo-se dizer que a morte é o limite da vida material após o que se reinicia a vida no mundo espiritual. O que se perde é o corpo carnal e não o espírito individual. Essa é uma dedução lógica e racional.

É do conhecimento geral, com exceção de alguns materialistas obstinados, que a alma sobrevive à morte física, crença essa que é não só universal, mas também tão antiga quanto o homem. O grande mistério, que a Ciência Espírita veio elucidar, estava em saber o que acontecia ao Espírito e qual o seu destino depois da desencarnação.

Uma vez admitida a sobrevivência da alma, embora em outra dimensão, em forma etérea, pergunta-se: pode ela entrar em contato com os seres vivos?

Reconhecerá ela as pessoas que lhe foram queridas durante a vida terrestre? É natural que as perguntas continuem. O fato, porém, que não se deve esquecer e que a razão impõe, é que a individualidade da pessoa não morre com o corpo físico. É como uma fruta, uma manga, por exemplo, de que se remove a casca, mas, mesmo assim, continua sendo manga, sem perder o seu sabor. O nosso corpo que morre é apenas a casca que se inutiliza, perde-se o invólucro que reveste o ser real, mas este permanece intacto.

A verdade da nossa sobrevivência é que a vida continua com as suas características individuais, embora em forma etérea, invisível e intangível, podendo-se mesmo dizer que a alma de algum ente querido esteja, neste momento, ao nosso lado, ajudando-nos nas dificuldades, protegendo-nos contra os perigos, velando por nós.

De acordo com a lógica, se a morte fosse o fim de tudo, por que Deus, em sua suprema inteligência, teria permitido a existência do ser humano, com um organismo tão complexo e maravilhoso? Será para fazer dele um simples brinquedo que, depois de quebrado, se joga fora? Isto seria contrário à sabedoria divina. O Espiritismo esclarece esse mistério. Ele nos dá uma noção mais clara e ampla do ser humano, da sua existência aquém e além da morte corporal, do Espírito que o anima e do seu destino. Pode-se dizer que o Espiritismo desvendou o segredo da tumba: ele venceu o silêncio da morte.

A Doutrina Espírita trouxe até nós os Espíritos desencarnados, mostrou-nos a realidade do mundo invisível, estabeleceu contato entre o nosso mundo e o outro além da fronteira da morte, e confirmou, mediante provas visíveis e racionais, a imortalidade da alma.

Pelo Espiritismo conhecemos a causa de certos fenômenos, normalmente inexplicáveis, sem termos de recorrer ao “misterioso” e ao “sobrenatural”, porque no Universo não há mistério, tudo tem a sua causa, sendo que os mistérios são criados pela nossa deficiente e limitada capacidade perceptiva; quanto ao “sobrenatural”, temos que nos convencer de que nada existe fora das leis da Natureza, que Deus estabeleceu eternas e imutáveis.

Existem, de fato, certos casos que ultrapassam a nossa compreensão e que, portanto, consideramos “milagrosos” ou fraudulentos, mas que à luz do Espiritismo estão dentro das possibilidades espirituais.

Há no mundo invisível Espíritos altamente evoluídos que, de quando em quando, são enviados a este mundo como líderes espirituais, homens que se distinguem pela sua santidade, para alertar a Humanidade e iluminar o caminho da redenção. Outras vezes, algum Espírito de grau elevado recebe uma missão divina e reencarna, a fim de espalhar o bem, o amor e a caridade, obrando maravilhas, ajudando os infelizes, curando os doentes.

Podemos, portanto, concluir que o que chamamos de morte é apenas um fato natural, mas que se torna inconsolável para os que não querem ver, mesmo à luz da razão, o que está além da matéria densa e grosseira que forma o nosso mundo visível. Para esses, é difícil compreender o mundo dos Espíritos, onde a vida individual continua. Sobre o assunto, Kardec explica: “ Diz-se muitas vezes ao falar da vida futura que não se sabe o que nela acontece, pois ninguém de lá volta. É um erro. São precisamente aqueles que lá se encontram que vêm nos instruir, e Deus o permite hoje mais do que em nenhuma outra época, como última advertência à incredulidade e ao materialismo”.

O que o Espiritismo ensina não está baseado em superstições nem em probabilidade, mas, em comunicações autênticas e concretas dos que habitam o outro mundo, tão verídico como o nosso, embora em outra dimensão. Esta é a realidade que se nos impõe quando examinamos os fatos à luz reveladora da razão, de uma razão livre de dogmas e preconceitos.

Fonte: Revista Reformador – Set/1998

A Memória do Espírito fica no Perispírito?

Por José Henrique Baldin

Alguns livros espíritas, sejam eles de autores encarnados ou de autores desencarnados cometem erros doutrinários, por isso nós espíritas devemos saber discernir os bons livros dos maus livros, independente de qual seja o autor, o espírito, o médium, etc.

Para que nós não assimilemos conceitos equivocados como corretos é imprescindível o estudo regular das obras básicas do Espiritismo, que são: Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Céu e o Inferno, Livro dos Médiuns, A Gênese. Ainda possuímos da Revista Espírita que Allan Kardec escreveu de 1858 a 1869, e Obras Póstumas. Se algum conceito estiver em contradição com as Obras básicas devemos deixar de lado este conceito e ficar com o conceito das Obras Básicas, temos que analisar os outros livros espíritas com a razão e não com o coração. Às vezes aceitamos todos os conceitos que vem através destas obras, só porque veio de tal espírito (que julgamos superior) ou de um médium( que julgamos infalível). Conforme Kardec nos orientou não existe na face na Terra nenhum médium perfeito e nos alertou para o cuidado na análise do que é transmitido por um espírito.

Um dos conceitos equivocados de alguns livros espíritas é que a memória do Espírito fica no perispírito. O perispírito é apenas o veiculo de manifestação do espírito, ou seja o corpo espiritual. Assim como o corpo humano que não pensa, não raciocina, e que as memórias e o patrimônio intelectual adquirido nas várias existências corpóreas do espírito não estão no corpo físico, da mesma maneira ocorre com o perispírito que é apenas um corpo de manifestação do espírito no mundo espiritual, mais etéreo do que o corpo físico, mais ainda um corpo revestido de matéria.

Quando o espírito sai deste mundo para ir a outro mundo ele precisa destruir o corpo perispiritual deste mundo e constituir um novo perispirito no mundo em que irá habitar. Isso porque o espírito constrói o perispírito de acordo com os fluídos existentes de cada planeta. E cada planeta não é exatamente igual fluidicamente a outro, porque cada mundo está numa faixa de evolução diferente por causa dos seus habitantes que também estão em defirentes graus de evolução espiritual. Se a memória ficasse no perispírito, quando o espírito destruiria o perispírito para reconstruir um outro no novo planeta, a memória se perderia.

O que a Doutrina Espírita nos diz é que: o pensamento, a vontade, as memórias(lembranças), os conhecimentos adquiridos, a moral estão no próprio espírito, e o perispírito apenas reflete o pensamento do espírito. Todos os espíritos possuirão eternamente um perispírito, mesmo os espíritos puros, pois como foi dito o perispírito é a forma de manifestação do espírito no mundo dos espíritos. Mesmo que um espírito seja perfeito, ou seja, puro, ele possuirá um perispírito que será muito mais etéreo do que de um espírito que ainda não chegou perfeição.