domingo, 6 de setembro de 2009

Ação Espírita na Transformação do Mundo

Por José Herculano Pires

Três são os elementos fundamentais de que o Espiritismo se serve para transformar o nosso mundo num mundo melhor e mais belo:

a) Amor,

b) Trabalho,

c) Solidariedade.

1 - O AMOR abrange a compreensão e a tolerância, pois quem ama compreende o ser amado e sabe tolerá-lo em todas as circunstâncias. Abrange também a Verdade, pois quem ama sabe que o alvo supremo do Amor é a Verdade. Ninguém ama a mentira, pois mesmo os mentirosos apenas a suportam na falta da verdade.

O amor egoísta do homem por si mesmo expande-se no desenvolvimento psicobiológico como, segundo já vimos, em amor altruísta, amor pelos outros, a partir do núcleo familial até à Sociedade, à Pátria e à Humanidade.

Alguns espíritas dizem que os espíritas não têm pátria, pois sabem que todos podem renascer em várias nações. Isso é uma incongruência, pois então não poderíamos também amar pai e mãe, que variam nas encarnações sucessivas.

O Amor não tem limites, mas nós, os homens, somos criaturas limitadas e estamos condicionados, em cada existência, pelas limitações da condição humana. Amamos de maneira especial aqueles que estão ligados a nós nesta vida ou se ligaram a nós em vidas anteriores. Amamos a todos os seres e a todas as coisas na proporção do nosso alcance mental de compreensão da realidade.

E amamos a nossa Terra, o pedaço do mundo em que nascemos e vivemos e a parte populacional a que pertencemos, no recorte da população mundial que corresponde à população da nossa terra. E amamos os que estão além da Terra, nas zonas planetárias espirituais, como amamos, por intuição mental e afetiva, a todos os seres e coisas de todo o Universo.

O ilimitado do Amor se impõe aos limites temporários da nossa condição imediata. E é esse o nosso primeiro degrau para a transcendência espiritual. Na proporção em que a nossa capacidade infinita de amar se concretiza na realidade afetiva (nascida dos sentimentos profundos e verdadeiros do amor) sentimo-nos elevados a planos superiores de afetividade intelecto-moral, respeitando progressivamente todas as expressões da vida e da beleza em todo o Universo.

O Amor não é gosto, nem preferência, nem desejo — é afeição, ou seja, afetividade em ação, fluxo permanente de vibrações espirituais do ser que se expandem em todas as direções da realidade. Foi por isso que Francisco de Assis amou com a mesma ternura e o mesmo afeto, chamando-os de irmãos, aos minerais, aos vegetais, aos animais, aos homens e aos astros no Infinito.

As ondas do Amor atingem a todas as distâncias, elevações e profundidades, não podendo ser medidas, como fazemos com as ondas hertzianas do rádio. Depois de ultrapassar os limites possíveis da Criação, o Amor atinge o seu alvo principal, que é Deus, e Nele se transfunde.

O Espiritismo aprofunda o conhecimento da Realidade Universal e não pretende modificar o Mundo em que vivemos através de mudanças superficiais de estruturas. Essa é a posição dos homens diante dos desequilíbrios e injustiças sociais. Mas o homem-espírita vê mais longe e mais fundo, buscando as causas dos efeitos visíveis.

Se quisermos apagar uma lâmpada elétrica não adianta assoprá-la, é necessário apertar a chave que detém o fluxo de eletricidade. Se quisermos mudar a Sociedade, não adianta modificar a sua estrutura feita pelos homens, mas modificar os homens que modificam as estruturas sociais.

O homem egoísta produz o mundo egoísta, o homem altruísta produzirá o mundo generoso, bom e belo que todos desejamos. Não podemos fazer um bom plantio com más sementes. Temos de melhorar as sementes.

As relações humanas se baseiam na afetividade humana. Não há afetos entre corações insensíveis. Por isso a dor campeia no mundo, pois só ela pode abalar os corações de pedra. Mas o Espiritismo nos mostra que o coração de pedra é duro por falta de compreensão da realidade, de tradições negativas que o homem desenvolveu em tempos selvagens e brutais.

Essas relações se modificam quando oferecemos aos homens uma visão mais humana e mais lógica da Realidade universal. Essa visão não tem sido apresentada pelos espíritos que, na sua maioria, se deixem levar apenas pelo aspecto religioso da doutrina, assim mesmo deformado pela influência de formações religiosas anteriores.

Precisamos restabelecer a visão espírita em sua inteireza, afastando os resíduos de um passado de ilusões e mentiras prejudiciais. Se compreenderem a necessidade urgente de se aprofundarem no conhecimento da doutrina, de maneira a fornecerem uma sólida e esclarecida doutrina espírita, poderão realmente contribuir para a modificação do mundo em que vivemos.

Gerações e gerações de espíritas passaram pela Terra, de Kardec até hoje, sem terem obtido sequer um laivo de educação espírita, de formação doutrinária sistemática. Aprenderam apenas alguns hábitos espíritas. Ouviram aulas inócuas de catecismo igrejeiro, tornaram-se, às vezes, ardorosos na adolescência e na juventude (porque o Espiritismo é oposição a tudo quanto de envelhecido e caduco existe no mundo), mas ao se defrontarem com a cultura universitária incluíram a doutrina no rol das coisas peremptas por não terem a menor visão da sua grandeza.

Pais ignorantes e filhos ignorantes, na sucessão das encarnações inúteis, nada mais fizeram do que transformar a grande doutrina numa seita de papalvos. Duras são e têm de ser as palavras, porque ineptas e criminosos foram as ações condenadas.

A preguiça mental de ler e pensar, a pretensão de saber tudo por intuição, de receber dos guias a verdade feita, o brilhareco inútil e vaidoso dos tribunos, as mistificações aceitas de mão beijada como bênçãos divinas e assim por diante, num rol infindável de tolices e burrices fizeram do movimento doutrinário um charco de crendices que impediu a volta prevista de Kardec para continuar seu trabalho.

Em compensação, surgiram os reformadores e adulterados, as mistificações deslumbrantes e vazias e até mesmo as séries ridículas de reencarnações do mestre por contraditores incultos de suas mais valiosas afirmações doutrinárias.

Este amargo panorama afastou do meio espírita muitas criaturas dotadas de excelentes condições para ajudarem o movimento a se organizar num plano superior de cultura. Isso é tanto mais grave quanto o nosso tempo que não justifica o que aconteceu com o Cristianismo deformado totalmente num tempo de ignorância e atraso cultural.

Pelo contrário, o Espiritismo surgiu numa fase de acelerado desenvolvimento cultural e espiritual, em que os espíritas contaram e contam com os maiores recursos de conhecimento e progresso de que a humanidade terrena já dispôs.

Todos os grandes esforços culturais em favor da doutrina foram negligenciados e continuam a sê-lo pela grande maioria dos espíritas de caramujo, que se encolhem em suas carapaças e em seus redutos fantásticos.

Falta o amor pela doutrina, de que falava Urbano de Assis Xavier: falta o amor pelos companheiros que se dedicam é seara com abnegação de si mesmos e de suas próprias condições profissionais e intelectuais; falta o amor pelo povo faminto de esclarecimentos precisos e seguros; falta o amor pela Verdade, que continua sufocada pelas mentiras das trevas.

Os médiuns de grandes possibilidades se vêem cercados de multidões interesseiras, que os levam quase sempre ao fracasso ou ao esgotamento precoce. Só os interessados os procuram: os que pretendem aproveitar suas produções em proveito próprio; os que desejam apenas dizer-se íntimos do médium; os que procuram consolação passageira em sua presença; os que buscam sugar-lhes os benefícios fluídicos e assim por diante. Os próprios médiuns acabam muitas vezes entregando-se ao desânimo e desviando-se para outros campos de atividade onde, pelo menos, poderio gozar de convivências menos penosas.

A exploração inconsciente e consciente dos médiuns pelos próprios adeptos da doutrina é um dos fatores mais negativos para o desenvolvimento do Espiritismo em nosso país e no mundo. A contribuição que eles poderiam dar para a execução das metas doutrinárias perde-se na miudalha das consultas pessoais e nas mensagens cotidianas de sentido religioso-confessional, mais tocadas de emoção embaladora do que de raciocínio e esclarecimento.

E isso o que todos pedem, como crianças choramingas acostumadas a dormir ao embalo das cantigas de ninar. Até mesmo um médium como Arigó, dotado de temperamento agressivo como João Batista e assistido por uma entidade positiva como Fritz, acabou envolvido numa rede de interesses contraditórios que o envolveram através de manobras que o aturdiram, misturadas a calúnias e campanhas difamatórias que o levaram, na sua ignorância do roceiro inculto, a precipitar-se, sem querer, na sua destruição precoce.

As grandes teses da Doutrina Espírita não foram suficientes para mobilizar os espíritas em favor do médium, resguardando-o e facilitando, pelo menos, a investigação dos cientistas norte-americanos, de diversas Universidades e da NASA, que tentaram desesperadamente colocar o problema em termos de equação científica.

O que devia ter sido uma vitória da Verdade em plano universal, reverteu-se em mesquinho episódio de disputas profissionais acirradas por clérigos e médicos de visão rasteira. E tudo isso por que estranho motivo. Porque os espíritas não foram capazes de sair de suas tocas, empunhando as armas poderosas da doutrina, para enfrentar o conluio miserável das ambições absorventes e vorazes?

Cada espírita, ao aceitar e compreender a grandeza da causa doutrinária e sua finalidade suprema — que é a transformação moral, social, cultural e espiritual do nosso mundo — assume um grave compromisso com a sua própria consciência. O aparecimento de um médium como Chico Xavier ou Arigó não tem mais o sentido restrito do aparecimento de uma pitonisa ou um oráculo no passado, mas o do aparecimento de um João Batista ou de um Cristo na fase crítica da queda do mundo clássico greco-romano, da trágica agonia da civilização mitológica.

Mas após um século da semeadura evangélica, na hora certa e precisa da colheita, vemos de novo o povo eleito enrolado em intrigas na Porta do Monturo, enquanto os romanos crucificam entre ladrões os que se imolaram em reencarnações providenciais.

Essa mentalidade de corujas agoureiras, e troianos que não ouvem Cassandra, decorre do egoísmo (essa lepra do coração humano, segundo a expressão Kardeciana) do comodismo e da preguiça mental. A falta de estudo sério e sistemático da doutrina, que permite a infiltração de elementos estranhos no corpo doutrinário, causando-lhe deformações rebarbativas e fantasiada de novidades, avilta a consciência espírita com a marca de Caim nos grupos de traidores.

Esses traidores não traem apenas a doutrina, ao Cristo e a Kardec, mas também à Humanidade e ao Futuro. Onde fica o principio do Amor em tudo isso? Quem revelou amor à Verdade? Quem provou amar e respeitar a doutrina? Quem mostrou amar ao seu semelhante e por isso querer realmente ajudá-lo, orientá-lo, esclarecê-lo?

A esse fim superior sobrepõe-se o interesse falso e mesquinho de fazer bonito aos olhos que necessitam de luz, bancar saberetas para os que nada sabem, impor a criaturas ingênuas a sua maneira mentirosa de ver o ensino puro e claro de Kardec.

O amor não está nos que se acumpliciam, se comprometem reciprocamente na trapaça, enleando-se na solidariedade da profanação consciente ou inconsciente. O amor está nos que repelem a farsa e condenam o gesto egoísta dos escamoteadores da verdade em proveito próprio, levando multidões ingênuas e desprevenidas à deturpação da doutrina esclarecedora.

O amor, nesse caso, pode parecer impiedade, mas é piedade, pode assemelhar-se à injúria e agressão, mas é socorro e salvação. As condenações violentas de Jesus a escribas e fariseus não foram ditadas pelo ódio, mas pela indignação justa, necessária, indispensável do Mestre, que sacudia aquelas almas impuras para livrá-las da impureza com que aviltavam o simples.

Quem não tiver condições para compreender isso deve ter pelo menos a humildade de André Luiz, o médico lançado às zonas umbralinas, de contentar-se com trabalhos de limpeza e lavagem nos hospitais dos planos superiores para aprender a grandeza da humildade, a nobreza dos pequeninos, ao invés de rebelar-se contra as leis divinas da busca da Verdade.

Nosso movimento espírita, como todo o negro panorama religioso da Terra, está cheio de ignorantes revestidos ou não de graus universitários, que se julgam mestres iluminados e são apenas os cegos do Evangelho que levam outros cegos ao barranco. Impedi-los de cometer esse crime de vaidade afrontosa é o dever dos que sabem realmente amar e servir. "Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas!" advertiu Jesus, não para condená-los ao fogo do inferno, mas para salvá-los do inferno de si mesmos.

2 — O TRABALHO é exigência do princípio de transcendência. O homem trabalha por necessidade, como querem os teóricos da Dialética Materialista, mas não apenas para suprir as suas necessidades físicas de subsistência e sobrevivência. Não só, como querem os teóricos da vontade de potência, para adquirir poder.

E nem só, também, como pretendem Bentham e os teóricos da ambição, para acumular posses que representam poder. A busca das causas, nesse campo, morreria no plano das causas secundárias.

Mas a Filosofia Existencial, em nosso tempo, descobrindo o conceito de existência e definindo o homem como o existente (aquele ser que existe, sabe que existe e luta para existir cada vez mais e melhor), mostrou e provou que a natureza humana é subjetiva e não objetiva (extrema e material) e que a mola do mundo não está nos braços e nas mãos, mas na consciência.

Confirmou-se assim, no plano geral da Cultura, o tantas vezes rejeitado e ridicularizado conceito espírita do trabalho. No Livro dos Espíritos temos a afirmação de que tudo trabalha na Natureza. Essa tese espírita antecipou a tese de John Dewey sobre a natureza universal da experiência.

Em todo o Universo há forças em ação, inteligentemente dirigidas segundo planos determinados. Nada se fez ao acaso. Em termos atuais de eletrônica podemos dizer que o universo que é uma programação gigantesca de computadores em incessante atividade rigorosamente controlada.

De um grão de areia a uma constelação estelar, de um fio de cabelo e de um vírus isolado até às maiores aglomerações humanas dos grandes parques industriais do mundo, tudo trabalha. O próprio repouso é uma forma de diversificação do trabalho para recuperações e reajustes nos organismos materiais e nas estruturas psicomentais do homem.

As criaturas humanas que só trabalham para si mesmas ainda não superaram a condição animal. Vivem e trabalham, mas não existem. Porque existir é uma forma superior de viver, que inclui em seu conceito plena consciência das atividades desenvolvidas com finalidade transcendentes.

No próprio desenvolvimento da Civilização o trabalho individual se abre, progressivamente, nos processos de distribuição, para o plano superior do trabalho coletivo. Por isso, é no trabalho e através do trabalho que o homem se realiza como ser, desenvolvendo suas potencialidades.

A extrema especialização da Era Tecnológica nasceu nas selvas, quando dos primeiros dás o homem se incumbiu da guerra, da caça e da pesca, e a mulher da criação, alimentação e orientação dos filhos. A Revolução Industrial na Inglaterra marcou um momento decisivo da evolução humana para a consciência da solidariedade.

É no esforço comum e conjugado das relações de trabalho que se desenvolve o senso da comunidade, provando a necessidade do principio espírita de solidariedade e tolerância para o maior rendimento, maior estimulo e maior aperfeiçoamento das técnicas de produção.

A concorrência de mercado, que estimula a ganância e a voracidade dos indivíduos e dos grupos, das empresas e dos sistemas de produção, opõe-se a conjugação das consciências, na solidariedade do trabalho comum, com vistas ao bem-estar de todos.

Os teóricos que condenam as comunidades de trabalho voltadas para o interesse da maioria reduzem a finalidade superior do trabalho a interesses mesquinhos de enriquecimento individual e de grupos. A própria realidade os contesta com o espetáculo gigantesco do trabalho da Natureza, voltado para a grandeza do todo.

Remy Chauvin considera os insetos sociais como expressões de sistemas coletivos de trabalho e de vida em que o egoísmo individualista e grupal (sociocentrismo) não impediu o desenvolvimento normal da solidariedade. A Natureza inteira é um exemplo que o homem rejeita em nome de seu egoísmo, da sua vaidade e das suas ambições desmedidas.

Esses três elementos funcionaram na espécie humana como pontos hipnóticos que impediram o livre fluxo das energias livres do trabalho, condensando-as em formas institucionais absorventes. As tentativas de romper essas formas por métodos violentos representam uma reação instintiva que leva fatalmente, como o demonstra o panorama histórico atual, a novas formas de condensação.

Esse círculo vicioso só pode ser rompido por uma profunda e geral compreensão do verdadeiro sentido do trabalho, que não leva a lutas e dissensões, mas à conjugação e harmonização de todas as fontes e todos os recursos do trabalho, nos mais diferenciados setores de atividade.

A proposição espírita nesse sentido, como foi em seu tempo a proposição cristã original, encarna os mais altos ideais da espécie, voltados para o trabalho comunitário em ação e fins.

Hegel observou, em seus estudos de Estética, que a dialética do trabalho se revela nos remos da Natureza. O mineral é a matéria-prima das elaborações futuras, apresentando-se como concentração de energias que formam as reservas básicas; o vegetal é a doação em que as forças do mineral se abrem para a floração e os frutos da vida; o animal é a vida em expansão dinâmica, síntese das elaborações dos dois reinos anteriores, endereçando esses resultados ao futuro, à síntese superior do Homem, no qual as contradições se resolvem na harmonia psicofísica e espiritual da criatura humana, dotada de consciência.

Cabe agora a essa consciência elaborar a grandeza da Terra dos Homens (segundo a expressão de Saint-Exupéry). Por sinal que Exupéry, aviador, poeta e profeta, representa o arquétipo atual da evolução humana, na busca do Infinito. Por isso, Simone de Beauvoir considerou a Humanidade, não como a espécie a que nos referimos por alegoria com os planos inferiores, mas como um devir, um processo de mutações constantes na direção do futuro.

Hoje somos ainda projeções dos primatas obtusos e violentos, antropófagos (segundo Tagore) devoradores de si mesmos e dos semelhantes, escameadores e aviltadores da condição humana. Mas amanhã seremos homens, criaturas humanas que encarnarão as forças naturais sob o domínio da Razão e da Consciência. Teremos então a República dos Espíritos, formada pela solidariedade de consciências de que trata René Hubert em sua "Pedagogia Generale".

Como vemos através desses dados, a Doutrina Espírita não nos oferece uma visão utópica do amanhã, mas uma precognição do homem em sua condição espiritual, sem as deformações teológicas e religiosas da visão comum, calcada em superstições e idealizações rebarbativas.

Tendo penetrado objetivamente no mundo das causas, um século antes que as Ciências Materiais o fizessem, a Ciência Espírita, experimental e indutiva — e que tem agora todos os seus princípios fundamentais endossados por aquelas, em pesquisas de laboratório e tecnológicas — não formulou uma estrutura dogmática de pressupostos para figurar o homem de após a morte e o homem do futuro.

A imagem que nos deu do homem novo há um século está hoje plenamente confirmada pelos fatos. A controvertida questão da sobrevivência espiritual foi resolvida tecnologicamente de maneira positiva, comprovando a tese espírita.

Falta pouco para romper-se, nas mãos já trêmulas dos teólogos, a Túnica de Nessus da dogmática religiosa, que gerou por toda a parte angústias e desesperos. Estamos agora em condições de pensar tranqüilamente num futuro melhor para a Humanidade em fases melhores da sua evolução. Podemos agora nos integrar conscientemente na gigantesca oficina de trabalhos da Terra, preparando o caminho das gerações vindouras.

As revelações não nos chegam mais de mão beijada, pois, como ensina Kardec, brotam dos esforços conjugados do homem esclarecido com os espíritos conscientes. Os dois mundos em que nos movemos, o espiritual e o material, abriram as suas comportas para que as suas águas se encontrem no esplendor de uma nova aurora.

E o Sol que acende essa aurora não é mais uma chama solitária na escuridão total dos espaços vazios, mas apenas uma tocha olímpica entre milhões de tochas que balizam as conquistas futuras do homem na escalada sem fim.

Prometeu não será mais sacrificado por querer roubar o fogo celeste de Zeus, pois esse fogo é o mesmo que resplandece no corpo espiritual da ressurreição, que brilha na alma humana e define a sua natureza divina.

Basta-nos continuar em nossos trabalhos para termos a nossa parte assegurada na Herança de Deus, pois como ensinou o Apóstolo Paulo, somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo.

O conhecimento é a nossa fé, que não se funda em palavras, sacramentos e Ídolos mortos, mas na certeza das verificações positivas e nas conquistas do trabalho humano, gerador constante de novas formas de energia para a escalada humana da transcendência.

3 - A SOLIDARIEDADE ESPÍRITA se manifesta particularmente no campo da assistência à pobreza, aos doentes e desvalidos. O grande impulso nesse sentido foi dado1 desde o início do movimento doutrinário da França, pelo livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, que trabalhou em silêncio na elaboração dessa obra, sem nada dizer a ninguém. Selecionou numerosas mensagens psicografadas, procedentes de diversos países em que o Espiritismo já florescia. Sua intenção era oferecer aos espíritas um roteiro para a prática religiosa, baseado no que ele chamava de essência do ensino moral do Cristo.

Conhecendo profundamente a História do Cristianismo e as dificuldades com que os originais do Evangelho haviam sido escritos, em épocas e locais diferentes, bem como o problema dos evangelhos apócrifos e das interferências mitológicas nos textos canônicos e as interpolações ocorridas nestes, afastou todos esses elementos espúrios para oferecer aos espíritas uma obra pura, despojada de todos os acessórios comprometedores.

Seu trabalho solitário e abnegado deu-nos uma obra-prima, que conta com milhões de exemplares incessantemente reeditados no mundo. Essa obra foi ameaçada com a tentativa de adulteração. Foi o maior atentado que a obra de Kardec já sofreu no mundo, pior que a queima de seus livros em Barcelona pela Inquisição Espanhola.

Muito pior, porque foi um atentado provindo dos próprios espíritas, através de uma instituição doutrinária que tem, por obrigação estatutária, defender, preservar e divulgar a Doutrina Espírita codificada por Kardec. A conseqüência mais grave desse fato lamentável foi a quebra da solidariedade espírita, a desconfiança e a mágoa provocadas entre velhos companheiros.

O ataque das Trevas à vaidade e à ignorância de alguns espíritas invigilantes produziu os efeitos necessários. Sirva o exemplo doloroso para todos os que assumem encargos doutrinários, julgando receber prebendas e consagração. A vaidade excitada leva monges de pedra a se julgarem poderosos na aridez e na solidão dos desertos.

A solidariedade espírita não é apenas interna, entre os adeptos e companheiros. Projeta-se pelo menos em três dimensões:

a) no plano social geral da comunidade espírita, além dos grupinhos domésticos e das instituições fechadas;

b) envolve todas as criaturas vivas, protegendo-as, amparando-as, estimulando-as em suas lutas pela transcendência, procurando ajudá-las sem nada pedir em troca, nem mesmo a simpatia doutrinária, pois quem ajuda não tem o direito de impor coisa alguma;

c) eleva-se aos planos superiores para ligar-se a Kardec e sua obra, a todos os espíritos esclarecidos que lutam pela propagação do Espiritismo no mundo e a Deus e a Jesus na Solidariedade cósmica dos mundos solidários.

Nessas três dimensões a Solidariedade Espírita realiza, como que apoiada em três poderosas alavancas, o esforço supremo de elevação do mundo, estimulando a transcendência humana.

As mentes que ainda não atingiram a compreensão desse processo podem fechar-se em grupos e instituições de tipo igrejeiro, isolando-se em seus ambientes de furna, onde os espíritos mistificadores e embusteiros se acoitam facilmente.

Mas na proporção em que os adeptos assim isolados, ou pelo menos alguns deles, procurarem realmente compreender a doutrina, a situação se modificará, despertando os indolentes para atividades maiores.

Todo trabalho espírita é exigente e penoso, porque faz parte de uma grande batalha — a da Redenção do Mundo, iniciada pelo jovem carpinteiro Jesus, filho de Maria e José.

Essa batalha não é a de Deus contra o Diabo, o estranho anjo de luz que se revoltou para fundar o inferno. Essa ingênua concepção das civilizações agrárias e pastoris teve o seu tempo e sua função, o seu efeito de controle em fases de barbárie, mas não passa de uma alegoria inadequada ao nosso tempo.

Tudo no Evangelho, como Kardec demonstrou, desde que afastado do clima mitológico, torna-se claro e demonstra a posição evidentemente racional do Cristo.

O jovem carpinteiro não pertencia à Era Mitológica e encerrou essa era com a sua passagem pela Terra e a propagado seu ensino. O mito vingou-se dele, pois o transformou também em mito. Por muito tempo, até aos nossos dias, a figura humana de Jesus figurou na nova mitologia, na fase romana do Renascimento Mitológico, em que se destacou a figura do Imperador Juliano, o Apóstata, que depois de aceitar o Cristianismo apostatou-se e empenhou-se na salvação dos seus deuses antigos.

BIOGRAFIA - Arthur Conan Doyle

Por Maria Aparecida Romano

Coube a Edimburgo, na Escócia, cidade conhecida como "a nova Atenas", contar entre seus filhos mais ilustres aquele que ficou conhecido como o mais famoso escritor de história de detetives, "Sir" Arthur Conan Doyle, nascido a 22 de maio de 1859. Influenciado pelas tradições culturais de seu povo e por um propício ambiente familiar, onde seus pais, Charles Altamont Doyle e Mary Foyle Doyle, católicos severos, lhe proporcionaram sólida formação espiritual, soube exteriorizar o seu poder criativo brilhando em diversas áreas da atividade humana.

Aluno de padres Jesuítas em Stanyhurst, Lancashire, na adolescência já revelava forte inclinação literária, escrevendo vários contos. Embora de descendência nobre, sua família não era abastada. Dessa forma, enfrentaria dificuldades para estudar e formar-se em medicina no ano de 1881 (quatro anos mais tarde recebia o título de Doutor), empreendendo uma viagem de sete meses como médico de bordo no baleeiro Hope.

De volta à Escócia, buscou firmar sua carreira em Southsea, mas sua clientela era escassa. Nessa época o médico dependia de referências, geralmente fornecidas pelo clero, e embora a formação de Doyle fosse católica, já era um conhecido questionador da filosofia da Igreja.

Resolveu se empenhar para que seus trabalhos literários fossem aceitos. Aproveitando as experiências vividas nas regiões antárticas e costas ocidentais, escreveu cartas narrativas. O seu casamento com Louise Hawkins, que lhe daria dois filhos (Mary Louise e Kingsley), no ano de 1885, foi seguido de um crescente êxito literário.

Sherlock Holmes

Atraído por romances de mistérios, interessou-se pela obra do escritor americano Edgar Allan Poe, especialista em histórias extraordinárias. Em 1888, apresenta ao mundo Sherlock Holmes, detetive amador, precursor da moderna polícia técnica, que, ao lado do Dr. Watson, empreenderia excitantes aventuras, tendo início em Um estudo em escarlate e O cão dos Baskervilles. A criação do famoso detetive teria sido inspirada no Dr. Joseph Bell, um antigo professor da Universidade.

À medida que a dupla alcançava popularidade, grandes modificações na vida do escritor foram acontecendo. Sem abandonar a profissão, dedicou-se à literatura, pois desejava do público mais atenção para seus estudos históricos As explorações do General Gerard e A História de Waterloo. Nessa época, sem ser político, prestou relevante serviço à pátria, participando de uma série de viagens aos Estados Unidos como representante oficial do Governo Britânico, proferindo conferências na área política.

Posteriormente, residindo no Egito no período em que a Inglaterra travou luta contra os Boers (camponeses sul-africanos de origem holandesa), teria oportunidade de servir como correspondente de guerra. As experiências obtidas lhe possibilitaram publicar The tragedy of koskoro e Sir Nigel, abordando assuntos africanos.

Devido ao precário estado de saúde de sua esposa, regressou à Inglaterra, quando pôde sentir melhor os momentos críticos que a nação passava. Saiu em defesa do Exército Britânico em serviço na África do Sul. Sua atitude revelava os pensamentos de um súdito leal, preocupado com a imagem de sua raça. Enquanto clinicava no Hospital Langman Field, elaborou um estudo minucioso sobre a Guerra, The Great Boer War, recebendo severas críticas dos seus adversários. Não se intimidou e, através de um panfleto, defendeu a conduta do país.

Durante a 1ª Guerra Mundial, colocou sua pena a serviço dos aliados. Causes and Conduct of the Word Wat logrou traduções em doze idiomas e History of the Britsh Campaign in France and Flanders representou a sua última contribuição como escritor no setor político. Entretanto, as atividades deste grande intelectual não conheciam limites.

Doyle e o Espiritismo

Aclamado como escritor pelos povos e pela crítica, agraciado com o título de "Sir" pelo Rei Eduardo VII, sua figura marcante será sempre lembrada com profundo respeito entre os seguidores da doutrina codificada pelo francês Allan Kardec.

Após renunciar ao catolicismo, por não satisfazer seu espírito evoluído, permaneceu um convicto-materialista-deista, isto é, acreditava em Deus, mas rejeitava as Revelações. Passou a se preocupar com um novo e delicado assunto: o psiquismo. Com sua habitual elegância, manteve-se neutro com as polêmicas suscitadas entre os cientistas ingleses com relação aos fenômenos espíritas evidenciados em toda a parte.

Em 1887, visitou o General Drayson, astrônomo convertido ao espiritismo, que lhe assegurou ser um fato a existência além da morte. Doyle não era homem de aceitar facilmente as coisas, mas diante dos seguros argumentos apresentados por seu paciente, foi levado a meditar e ler algumas obras espíritas. Em pouco tempo, estava familiarizado com as verdades da nova doutrina e como não havia chegado a uma conclusão definitiva, esforçou-se para adquirir um conhecimento mais profundo.

A personalidade humana e sua sobrevivência à morte do corpo, de Frederich Meyers, autor inglês conhecido por suas investigações psíquicas sobre alucinações telepáticas, impressionou-o bastante, decidindo fazer suas próprias experiências com mesas girantes. No dia 24 de junho de 1887, com a colaboração do Sr. Horstead (médium experimentado), realizou sob severo controle a primeira de uma série de sessões. A sua conversão definitiva só se concretizaria após a leitura da obra Memórias do Juiz Edmonds.

No dia 27 de julho de 1887, a Revista Light publicou a célebre carta de Doyle. Nela, o escritor manifesta todo o seu respeito aos postulados da nova doutrina, explicando as razões que o levaram à conversão. O conhecido espírita brasileiro Cairbar Schutell publicou a tradução na edição de 15 de junho de 1929 da Revista Internacional do Espiritismo. A carta tornou-se um dos mais valiosos documentos da história do espiritismo.

A enfermidade de sua esposa não lhe permitia dispensar maior tempo às investigações. Apesar das constantes viagens à Suíça para tratamento de cura, no dia 04 de julho de 1906 ela desencarnou, vítima de tuberculose. Em setembro de 1907, casou-se pela segunda vez, com Jean Leckie, que também lhe daria dois filhos (Denis e Adrian).

Após comunicar-se com o espírito de um irmão desencarnado, sua nova esposa teve sua crença fortalecida, tornando-se uma eficiente colaboradora, acompanhando-o nas viagens de propaganda doutrinária. De retorno à Inglaterra, após uma visita ao Canadá às vésperas da 1ª Guerra Mundial, prestou valiosos serviços na frente interna. Seu magnífico poder de intuição, demonstrado nas novelas, tornavam-se evidentes no conto Perigo! (1913), onde retrata com precisão práticas até então desconhecidas, que foram utilizadas no grande conflito (1914-18), como guerra submarina, torpedeamento de navios neutros, ataques aéreos etc.

Entre a dor e a esperança


Doyle crescia diante da dor. Em Nottinghan, preparava-se para uma palestra espírita quando foi avisado da morte do seu jovem filho Kingsley, por pneumonia, em Londres. Suas palavras não denunciaram a emoção sentida, mas passou a estudar o outro lado da guerra, empenhando-se arduamente na propaganda do espiritismo, para que a mensagem de consolo e esperança que a doutrina oferece pudesse penetrar no íntimo das criaturas.

Finda a guerra, sempre acompanhado de sua fiel companheira, iniciou um número incontável de viagens de divulgação encetadas à África do Sul, Rodésia, Cabo da Boa Esperança, Austrália, Nova Zelândia e Nairobi, onde teve a ocasião de falar para um auditório de 10 mil pessoas. Aos 70 anos de idade, ainda se sentiu capaz de empreender uma viagem à Escandinávia em missão conferencista. Lá sofreu um ataque cardíaco, do qual nunca se recuperou. Apesar das recomendações, não alterou sua forma de proceder, dando seguimento a sua tarefa.

A partida para o plano espiritual

Em 7 de julho de 1930, em Cowborough, Sussex, partiu para as regiões sublimadas do espaço uma das mais valiosas criaturas que a humanidade conheceu.

Inteligência robusta e espírito preclaro, nunca utilizou nos papéis o escudo de nobreza da família. Ao recusar a distinção de Par do Reino Unido da Grã-Bretanha, em troca do repúdio ao espiritismo, estava consciente que sua fidelidade doutrinária significaria não só a perda de tão excepcional oportunidade, mas também de amigos preconceituosos. Entretanto, não vacilou ao aceitar os honrosos cargos de Presidente de Honra da Federação Espírita Internacional, Presidente da Aliança Espírita de Londres e Presidente do Colégio Britânico de Ciências Psíquicas.

Dada à projeção do seu nome, deve-se a Conan Doyle parte da penetração da doutrina espírita em muitos países, notadamente aqueles de língua inglesa. Abalizado conferencista, através de serenas e emocionantes narrativas chamava a atenção das platéias para a veracidade dos fenômenos espíritas, deixando sempre um rastro de luz por onde passou.

Colocou seu talento de escritor a serviço da doutrina, com obras que enriquecem qualquer biblioteca espírita. Mensagem Vital, A Nova Revelação; Memórias e Aventuras e A História do Espiritismo, vertida para o português em 1960, é considerada uma das mais completas no gênero. Num dos seus trechos mais importantes, pode-se observar claramente o profundo respeito que Doyle conferia à nova doutrina: "Os homens haviam perdido o contato com as vastas forças que os rodeiam e o espiritismo, que é o maior movimento registrado desde há dois mil anos, vem salvar-nos dessa situação, dissipar as nuvens que os envolvem e mostrar-lhes novos horizontes. Já brilhou o sol da Verdade no horizonte. Dentro em pouco o vale também estará iluminado." Arthur Conan Doyle.

Fonte: Revista Cristã de Espiritismo - Edição nº 08.

BIOGRAFIA - Joana D'Arc

Por Maria Aparecida Romano

Durante o período da Idade Média, o reino da França era constituído por feudos – propriedades territoriais governadas por um senhor.

Detendo os ingleses a maior parte deles, o fato originou múltiplos conflitos, gerando a Guerra dos Cem Anos entre os dois países. No ano de 1429, quando a guerra atravessava um momento decisivo, com as forças inglesas ocupando grande parte do território francês, a cidade de Órleans, um dos últimos bastiões da resistência e já sitiada, poderia cair a qualquer momento nas mãos dos invasores estrangeiros.

Curvados ao invasor inglês e sem ânimo para se reerguerem, os soldados franceses eram poucos e o moral estava enfraquecido pelas sucessivas derrotas. Além do mais, faltava um chefe, alguém capaz de conduzir as tropas e fazê-las acreditar na possibilidade de sua vitória. Refugiado na localidade de Chinon, o príncipe Carlos hesitava em tomar decisões, tinha sua autoridade contestada ao ser declarado bastardo por tantos compatriotas que negavam ser ele o legítimo herdeiro do trono da França. Naquela altura, jamais se acreditaria que a iniciativa de encetar uma campanha decisiva para renovar a confiança do povo francês para uma resistência aos ingleses partisse de uma jovem que se investiu de tão importante missão. Seu nome: Joana D’Arc.

Nascida no ano de 1412 no vilarejo de Domrèmy, Joana foi criada no seio de uma família de camponeses com três irmãos e uma irmã. Ao lado deles, auxiliava o pai no trabalho da terra tomando conta dos carneiros no pasto. Não aprendeu a ler nem a escrever. Freqüentando assiduamente a igreja do vilarejo, que ficava junto à sua casa, a menina Joana aprendeu o Pai-Nosso, tornando-se muito piedosa.

Recebendo as tarefas

Já adolescente, caia em profundos êxtases, durante os quais afirmava ter visões fantásticas de uma luz viva e que ouvia vozes celestiais a lhe ordenarem duas tarefas: salvar a pátria e coroar o rei. A história de suas visões fantásticas se espalhara rapidamente e, embora despertando controvérsias, o povo passou a acreditar na possível missão da jovem. Enquanto muitos a viam como santa, outros acreditavam que a jovem poderia ser uma enviada do mal.

Embora a notícia da guerra já tivesse se estendido por quase toda a França, a jovem só soube pela pri-meira vez o real significado de uma guerra quando as tropas inglesas estavam bem perto da cidade onde morava. Domrèmy era afastada dos campos de batalha e as notícias andavam bem devagar. Só se sabia de algum fato quando passava um cavaleiro bem informado. Como os caminhos eram ruins, o cavaleiro levava semanas para andar poucos quilômetros.

A guerra atingira um momento crítico. Órleans, a última cidade em poder dos franceses, estava cercada e a França não tinha um rei para defendê-la. Joana, que até então vivera angustiada e indecisa, resolveu procurar o Capitão de Baudricourt, pedindo-lhe uma carta de apresentação e uma escolta para acompanhá-la até o Delfim. Como a população estava ao lado da jovem, o capitão acabou cedendo ante a insistentes pedidos e, com o dinheiro de uma coleta, conseguiram-lhe uma armadura.

Mal cabendo na pesada armadura, a jovem camponesa de 17 anos de idade partiu no dia 23 de fevereiro de 1429, na direção de Chinon. Viajou dez dias decidida a procurar o príncipe herdeiro, com a missão de levá-lo ao trono como rei e salvar a França, prestes a sucumbir totalmente ao peso da invasão inglesa. A sua partida fez nascer uma nova esperança no povo místico da época. Deus a teria enviado para terminar com as guerras e misérias.

A revelação ao príncipe

No Palácio de Chinon, a notícia foi recebida com espanto. Desconfiado daquela menina que se apresentava como salvadora, contando histórias fantásticas, o príncipe resolveu se divertir aplicando um teste na recém-chegada para comprovar a veracidade dos seus relatos. Vestindo-se como um súdito qualquer, entrou por uma porta lateral, misturando-se entre os nobres. Na condição de simples camponesa, a jovem jamais poderia conhecer-lhe a fisionomia, porém, Joana D’Arc não vacilou. Caminhando até um canto dos salões onde alguns nobres fingiam conversar distraídos, ajoelhando-se aos pés do Delfim, diz-lhe humildemente: “Gentil Senhor, em nome de Deus, eu posso dizer que sois filho do rei e herdeiro legítimo do trono da França”.

A aparente dissipação da grande dúvida que pairava em torno da legitimidade do seu nascimento, pela qual o filho de um pai desconhecido não poderia ser o herdeiro do trono, deixou o príncipe aturdido, pedindo a vários bispos e cardeais que interrogassem Joana. Em pouco tempo, a segurança e a simplicidade das respostas dadas pela jovem acabaram por convencer a todos, inclusive o soberano, que, após manter com ela uma conversa cujo teor nunca seria revelado e convencido de que era preciso agir com rapidez, outorgou-lhe o título de “Chefe da Guerra” e, ao mesmo tempo, o comando de uma pequena tropa.

Mas faltava uma espada. Segundo a tradição, a jovem ouvira vozes que lhe indicaram uma excelente espada escondida atrás do altar de Santa Catarina. Enviado até lá, um pagem voltou com uma velha espada, completamente enferrujada. Contam que bastou encostar nela um pano para que a arma ficasse brilhante no mesmo instante.

A primeira vitória contra os ingleses

Liderando a tropa, Joana D’Arc partiu imediatamente com a missão de furar o cerco de Órleans e levar víveres para abastecer os soldados já famintos. Levando nas mãos um estandarte onde, ao lado de Deus, figuravam os nomes de Jesus e Maria e o símbolo do reino (a flor-de-lis), ordenou com sua voz firme uma incursão aos ingleses, devolvendo a confiança a seus compatriotas. Naquele momento, oficiais e soldados recobraram a esperança de vitória perante o exemplo de coragem daquela jovem. Depois de algumas investidas, tomou as principais bases de apoio do inimigo, que, surpreso, levantou o cerco em retirada.

A tropa de Joana entrou triunfante na cidade. Finalmente Órleans estava libertada, marcando a partir daí uma nova fase na Guerra dos Cem Anos. Julgando sua tarefa encerrada, quis se retirar, mas teve de ceder às súplicas do príncipe para dar continuidade à luta. Numa campanha rápida e fulminante, venceu os ingleses nas cidades de Patay e Troyes, apresentando ao soberano as chaves das cidades conquistadas.

Mas isto, para Joana, foi apenas a primeira etapa. Com profundo senso político, sentiu que chegara o momento de coroar solenemente o príncipe na Catedral de Reims. Ocorria que Reims estava situada em território controlado pelos ingleses e, para chegar lá, seria necessário enfrentar os batalhões dos invasores. Joana estava decidida a lutar e acabou convencendo o príncipe. Em apenas um mês de campanha, o exército comandado pela jovem, depois de infligir uma sucessão de derrotas aos ingleses, penetrou em Reims em 16 de julho de 1429.

O príncipe Carlos torna-se rei

Na época, a entrada triunfal numa cidade era o maior símbolo de uma vitória e, enquanto a população nas ruas aplaudia a cavalaria e o estandarte dos vencedores, Joana aproveitou para unir essa festa a uma outra. No dia seguinte, realizou-se solenemente na Catedral de Reims a sagração de Sua Majestade, Carlos VII, como rei da França. De pé, ao lado do rei, tendo na mão seu estandarte, ficou a “Chefe da Guerra” Joana D’Arc. Terminada a cerimônia, tomando a mão do novo soberano diz-lhe: “Gracioso rei, está cumprida a vontade de Deus. Órleans de volta ao reino e Vossa Majestade coroado como único e legítimo rei da França”.

Joana chegou ao apogeu da glória, porém, não estava satisfeita. A França não poderia ser considerada livre se Paris continuava governada por um regente inglês. Mas as coisas mudaram. Na condição de rei coroado, Carlos VII estava finalmente numa posição de força e não mostrava entusiasmo por outras aventuras. Alegava que a missão da jovem estava concluída e que não se poderia confiar eternamente na heroína, tratando-se de uma mulher.

Conspirações contra Joana

Assim, a guerreira passou a se tornar uma personagem incômoda. Entretanto, ante a sua insistência, o soberano acabou lhe concedendo uma pequena tropa para conquistar Paris. A fama de Joana D’Arc era enorme e os ingleses temiam também o prestígio do novo rei. Para impedir que a jovem, de algum modo, cativasse a população de Paris, do outro lado da muralha foi preparada uma longa resistência. Cinqüenta mil pessoas desfilaram de tochas acesas nas mãos, afirmando que Joana D’Arc era instrumento das forças do mal.

Quando o ataque começou, os ingleses deram uma resposta fulminante: a própria Joana é atingida por uma flecha que lhe varou a coxa, abalando muito seu prestígio, sendo necessário retirá-la do campo de batalha, pois ela não queria recuar de modo algum. Mal havia se recuperado de sua ferida, recomeçou a luta na tentativa de libertar Compiègne, enquanto Carlos VII decidiu conciliar os inimigos.

Inicialmente, mandou a jovem evacuar o Castelo de Compiègne, missão sem grande importância, mas perigosa. A jovem penetra no castelo e começa a proteger a retirada das tropas. De repente, quando quase todos haviam saído, a ponte do castelo foi levantada. Joana D’Arc estava prisioneira. Encerrada no alto de uma torre, ficou totalmente só, talvez teria sido traída por seus próprios compatriotas. Na tentativa de escapar, caiu no fosso do castelo.

Foi quando decidiram vendê-la aos ingleses por 10 mil escudos. Colocada numa jaula de ferro, os pés e as mãos amarradas “como uma enviada do mal”, foi entregue para o mais elevado tribunal da Igreja existente na França.

Condenada pela inquisição

A permanência de Joana D’Arc na Terra deu-se na Idade Média, em pleno advento do Cristianismo. Contudo, a Igreja já se deparava com o aparecimento de novas seitas e o misticismo surgia como força importante. Como em religião o sentimento místico e o sentimento religioso acabam se confundindo, havia uma grande preocupação da Igreja em manter os dogmas de fé e um ideal moral, sentindo haver na época uma forte tendência em se acreditar no sobrenatural.

Para patentear sua força, a Igreja precisava de um órgão mais eficaz que os tradicionais tribunais de conventos e acabou encontrando no Tribunal da Santa Inquisição, existente em todas as partes da Europa da Idade Média, um meio de punir os hereges, como eram chamados todos aqueles que, sob qualquer forma, faziam oposição a uma verdade de fé ou a um dogma já firmado. A morte na fogueira tornou-se a punição. Em diversas vezes, a severidade com que as normas foram aplicadas levou à fogueira pessoas inocentes declaradas hereges.

Joana foi entregue ao Tribunal da Santa Inquisição objetivando-se provar que a guerreira não era nada, nem mesmo uma enviada do mal. Sob a presidência de Pierre Cauchon, bispo de Beauvois e aliado dos ingleses, liderando um juri composto por 70 conselheiros religiosos, o tribunal reuniu-se em fevereiro de 1431. Sob a acusação de usar roupas masculinas e dar um cunho de revelação divina às suas visões e profecias, o interrogatório da acusada foi uma verdadeira tortura mental, destinado a confundi-la e levá-la ao desespero. A jovem enfrentou com inteligência e coragem seus inquisidores, sustentando até o fim que as vozes não a haviam enganado.

Considerados os representantes de Deus na Terra, os membros do Tribunal da Santa Inquisição jamais aceitariam o fato de uma mulher obedecer diretamente a vozes celestiais sem o devido respeito à Igreja. Declarada bruxa e herética, foi condenada à morte na fogueira, sob a alegação de que só pelas chamas se destrói uma feiticeira. Carlos VII, o príncipe que ela conduziu ao trono da França, nada fez para libertá-la. Uma santa guerreira poderia ser uma personagem incômoda às combinações diplomáticas.

No dia 30 de maio de 1431, uma grande multidão se aglomerou na Praça Vieux de Marché, em Rouem, palco do suplício de Joana D’Arc. Embora na época a execução se constituisse num espetáculo público, os membros do tribunal, temendo uma manifestação favorável à condenada, tomaram as devidas precauções. Escoltada por 120 homens armados com lanças e espadas, a brava guerreira, com a cabeça raspada, foi conduzida até a praça e amarrada a um poste. Para seus juizes, queimando-a e espalhando suas cinzas estariam destruindo o símbolo da resistência francesa. Naquele momento, o olhar da jovem, mais do que cansaço, demonstrava a dignidade conferida a todos aqueles que são conscientes do dever cumprido.

Heroína nacional e santa

À medida que a nação francesa foi se formando, a figura da guerreira foi cada vez mais sendo glorificada. No ano de 1450, decorridos 37 anos de seu desencarne, concretizou-se o objetivo de Joana D’Arc: Paris reocupada por Carlos VII e os ingleses expulsos de toda a França, determinando o fim da Guerra dos Cem Anos. Porém, a nação só se consolidaria com a Revolução Francesa de 1789.

O reconhecimento do governo e do povo francês veio em 1803, quando foi proclamada heroína nacional. Nesse ano, o imperador Napoleão Bonaparte inaugurou um monumento como justa homenagem àquela considerada a glória mais pura da história da França.

Também a Igreja repararia seu erro. Embora desde a Idade Média, Joana D’Arc tenha sido objeto de veneração popular, somente no ano de 1909 foi beatificada. No ano de 1929 foi canonizada e proclamada Santa Padroeira da França, por decisão do Vaticano.

Para os ingleses, ela continuaria por muito tempo sendo considerada “a bruxa” que os expulsou da França. Entretanto, quase seis séculos após seu martírio, aqueles que visitarem a Catedral de Westminster, em Londres, verão colocada num local de honra uma estátua da santa guerreira. Certamente, é o último lugar onde a camponesa de Domrèmy um dia pensaria estar.

Um dos prepostos da codificação

A passagem de Joana D’Arc pela Terra apresentou traços característicos tão diversificados que, de imediato, parecem fugir do currículo normal das faculdades humanas. Suas visões e pressentimentos, a viagem para Chinon, a autoridade no comando das tropas, a audácia para os padrões femininos da época, a notável inteligência e a coragem perante a morte tornaram-na, ao longo dos tempos, a personagem histórica que mais sofreu estudos contraditórios.

Para os mais crentes, Joana seria venerada como uma santa. Os estudiosos preferiram reconhecê-la como uma valorosa guerreira que representou a personificação do patriotismo popular francês da época, conseguindo arrancar os ingleses da terra natal. Já os indiferentes, embora admirassem a sua figura de certa forma sobrenatural, preferiram ignorar os verdadeiros objetivos de sua missão.

No século XIX, o codificador da doutrina espírita, Allan Kardec, de naturalidade francesa como Joana, trouxe para o mundo um novo conceito do sobrenatural, revelando que somos espíritos eternos e imortais. Desde a sua criação, o espírito percorre uma trajetória evolutiva, habitando sucessivamente dois planos: o visível (encarnado) e o invisível (desencarnado). Como há necessidade da comunicação entre os dois planos, ela é feita por intermediários conhecidos como “médiuns”. Essa comunicação é conhecida como “fenômeno mediúnico”. A partir dessas revelações, constatou-se que Joana D’Arc está bem longe de ser um mistério.

A mediunidade é um talento do qual todos os espíritos são dotados indistintamente a partir da criação e acompanha a sua evolução. Portanto, todos somos médiuns em potencial e os fenômenos mediúnicos sempre existiram em todas as épocas e lugares, independentemente da cultura ou da classe social. Na sua estada terrena como espírito encarnado, Joana D’Arc foi muito mais que uma intrépida guerreira, apresentou faculdades mediúnicas já caracterizadas, mas até então incompreendidas e, por essa razão, rejeitadas. Representando um papel de suma importância para o Espiritismo, tornou-se um de seus prepostos.

A sua vidência se manifestava quando via seus interlocutores, através da audiência ouvia vozes, por pressentimento reconheceu Carlos VII e, sobretudo, provou que inteligência, fé, perseverança e dinamismo são atributos do espírito. Saindo da obscuridade, cumpriu um mandato mediúnico confiado pelo plano superior, que lhe delegou a responsabilidade de direcionar seu povo. Sem renegar sua missão e suas crenças, apresentou em julgamento a firmeza de todos aqueles espíritos evoluídos que encarnaram com tarefa definida, dando um exemplo não só para a França, mas para a humanidade em geral.

Fonte: Revista Cristã de Espiritismo - edição 12

sábado, 5 de setembro de 2009

Jesus e a Humanidade

Por Joanna de Ângelis / Psicografia de Divaldo Franco.

Jesus-Homem é a lição de vida que haurimos no Evangelho como convite ao homem que se deve edificar.

Não havendo criado qualquer doutrina ou sistema, Jesus tornou a Sua vida o modelo para que o homem se pudesse humanizar, adquirindo a expressão superior.

No Seu tempo, e ainda agora, o homem tem sido símbolo de violência, prepotência e presunção, dominador exterior, estorcegando-se, porém, na sua fragilidade, nos seus conflitos e perecibilidade.

Após os Seus exemplos surgiu um diferente homem: humilde, simples, submisso e forte na sua perenidade espiritual.

Enquanto os grandes pensadores de todos os tempos estabeleceram métodos e sistemas de doutrinas, Ele sustentou, no amor, os pilotis da ética humanizada para a felicidade. Não se utilizou de sofismas, nem de silogismos, jamais aplicando comportamentos excêntricos ou fórmulas complexas que exigissem altos níveis de inteligência ou de astúcia.

Tudo aquilo a que se referiu é conhecido, embora as roupagens novas que o revestem. Utilizou-se de um insignificante grão de mostarda, para lecionar sobre a fé; recorreu a redes de pesca e a peixes, para deixar imperecíveis exemplos de trabalho; a semente caindo em diferentes tipos de solos, para demonstrar a diversidade de sentimentos humanos ante o pólen de luz da Sua palavra. O "Sermão da montanha" inverteu o convencional e aceito sem discussão, exaltando a vítima inocente ao invés do triunfador arbitrário; o esfaimado de justiça, de amor e de verdade, em desconsideração pelo farto e ocioso, dilapidador dos dons da vida. Jesus é a personagem histórica mais identificada com o homem e com a humanidade.

Todo o Seu ministério é feito de humanização, erguendo o ser do instinto para a razão e daí para a angelitude. Igualmente, é o Homem que mais se identifica com Deus. Nunca se Lhe refere como se estivesse distante, ou fosse desconhecido, ou temível. Apresenta-O em forma de Amor, amável e conhecido, próximo das necessidades humanas, compassivo e amigo. Reformula o conceito mosaico e atualiza- o em termos de conquista possível, aproximando os homens d’Ele pela razão simples de Ele estar sempre próximo dos indivíduos que se recusam a doar-se-Lhe em amor. Referindo-se ao "reino", não o adorna de quimeras nem o torna pavoroso; antes, desperta nos corações o anelo de consegui-lo na realidade da transcendência de que se reveste. Nega o mundo, sem o maldizer, abençoando-o nas maravilhosas paisagens nas quais atende a dor, e deixa-se mergulhar em meditações profundas sob o faiscar das estrelas luminosas do Infinito.

Jesus, na humanidade, significa a luz que a aquece e a clareia. Se te deixaste fossilizar por doutrinas ortodoxas que pretendem n’Ele ter o seu fundador, renasce e busca-O, na multidão ou no silêncio da reflexão, fazendo uma nova leitura das Suas palavras, despidas das interpretações forjadas.

Se te decepcionaste com aqueles que se dizem seguidores d’Ele, mas não Lhe vivem os exemplos, olvida-os, seguindo- O na simplicidade dos convites que Ele te endereça até agora e estão no conteúdo das Suas mensagens, ainda avivas quão ignoradas.

Se não Lhe sentiste o calor, rompe o frio da tua indiferença e faze-te um pouco imparcial, sem reações adrede estabelecidas, facultando-Lhe penetrar-te o coração e a mente. Na tua condição humana necessitas d’ Ele, a fim de cresceres, saindo dos teus limites para o infinito do Seu amor. Jesus veio ao homem para humanizá-lo, sem dúvida. Cabe-te, agora, esquecer por momentos das tuas pequenezes e recebê-Lo, assim cristificando-te, no logro da tua realização plena e total.

A Igreja Católica e a Reencarnação

Por Vivaldo J. de Araújo

O Concílio de Constantinopla – 553 D.C

Até meados do século VI, todo o Cristianismo aceitava a Reencarnação que a cultura religiosa oriental já proclamava, milênios antes da era cristã, como fato incontestável, norteador dos princípios da Justiça Divina, que sempre dá oportunidade ao homem para rever seus erros e recomeçar o trabalho de sua regeneração, em nova existência.

Aconteceu, porém, que o segundo Concílio de Constantinopla, atual Istambul, na Turquia, em decisão política, para atender exigências do Império Bizantino, resolveu abolir tal convicção, cientificamente justificada, substituindo-a pela ressurreição, que contraria todos os princípios da ciência, pois admite a volta do ser, por ocasião de um suposto juízo final, no mesmo corpo já desintegrado em todos os seus elementos constitutivos.

É que Teodora, esposa do famoso Imperador Justiniano, escravocrata desumana e muito preconceituosa, temia retornar ao mundo, na pele de uma escrava negra e, por isso, desencadeou uma forte pressão sobre o papa da época, Virgílio, que subira ao poder através da criminosa intervenção do general Belisário, para quem os desejos de Teodora eram lei.

E assim, o Concílio realizado em Constantinopla, no ano de 553 D.C, resolveu rejeitar todo o pensamento de Orígenes de Alexandria, um dos maiores Teólogos que a Humanidade tem conhecimento. As decisões do Concílio condenaram, inclusive, a reencarnação admitida pelo próprio Cristo, em várias passagens do Evangelho, sobretudo quando identificou em João Batista o Espírito do profeta Elias, falecido séculos antes, e que deveria voltar como precursor do Messias (Mateus 11:14 e Malaquias 4:5).

Agindo dessa maneira, como se fosse soberana em suas decisões, a assembléia dos bispos, reunidos no Segundo Concílio de Constantinopla, houve por bem afirmar que reencarnação não existe, tal como aconteceu na reunião dos vaga-lumes, conforme narração do ilustre filósofo e pensador cristão, Huberto Rohden, em seu livro " Alegorias ", segundo a qual, os pirilampos aclamaram a seguinte sentença, ditada por seu Chefe D. Sapiêncio, em suntuoso trono dentro da mata, na calada da noite: " Não há nada mais luminoso que nossos faróis, por isso não passa de mentira essa história da existência do Sol, inventada pelos que pretendem diminuir o nosso valor fosforescente ".

E os vaga-lumes dizendo amém, amém, ao supremo chefe, continuaram a vagar nas trevas, com suas luzinhas mortiças e talvez pensando - "se havia a tal coisa chamada Sol, deve agora ter morrido". É o que deve ter acontecido com Teodora: ao invés de fazer sua reforma íntima e praticar o bem para merecer um melhor destino no futuro, preferiu continuar na ilusão de se poder fugir da verdade, só porque esta fora contestada pelos deuses do Olimpo, reunidos em majestoso conclave.

Vivaldo J. de Araújo é Professor e Procurador de Justiça do Estado de Goiás.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

É o Espiritismo o Consolador?

Por Fernando Porto

Confesso que fui instigado a elaborar esse texto declarando de antemão que não tenho nenhuma pretensão de impor uma tese, muito pelo contrário. No entanto, não posso me abster de defender uma posição que considero fundamental, sem fanatismo ou clericalismo.

É interessante observar o quanto nós refletimos em tudo o que fazemos um conteúdo emocional, sendo quase impossível uma análise plenamente imparcial de um assunto, ainda mais em se tratando de Espiritismo. Surgem, assim, pessoas que no afã de "defenderem" a Doutrina, procurando preservá-la, acabam fazendo observações insustentáveis, mas acaloradas e, portanto sedutoras para os incautos.

Refiro-me a observação de que a posição de Kardec sobre o Espiritismo como Consolador Prometido nada mais foi do que uma opinião pessoal(*), sem nenhum respaldo no ensino do Espíritos. Vejamos os fatos.

Primeiro em A Gênese, no capítulo Caracteres da Revelação Espírita, após expor a importância do Espiritismo quanto ao entendimento do verdadeiro ensino do Cristo, Kardec propõe, a seguir (item 42): "Se considerarmos, além disso, o poder moralizador do Espiritismo pelo objetivo que ele assinala a todas as ações da vida, pelas conseqüências do bem e do mal que ele expõe claramente; pela força moral, a coragem, a consolação que dá nas horas de aflição por uma inabalável confiança no futuro, pelo pensamento de termos a nosso lado os seres a quem amamos, pela certeza de os rever, a possibilidade de conversar com eles, enfim, pela certeza de que, de tudo o que fizemos, de tudo o que adquirimos em inteligência, em ciência, em moralidade, até o último instante de nossa vida, nada se perdeu, que tudo serve para o nosso adiantamento, reconhecemos que o Espiritismo realiza todas as promessas do Cristo no que diz respeito ao Consolador anunciado. Ora, como é o Espírito de Verdade que preside ao grande movimento da regeneração, a promessa de seu advento também já se realizou, porque, pelos fatos, deduzimos que é ele o verdadeiro Consolador".

Como podemos observar, Kardec fala sempre em nome dos fatos. Mas quais são esses fatos? Além dessa exposição filosófica, Kardec possuía alguma comprovação palpável de que o Espírito de Verdade, diretor espiritual dos trabalhos da codificação, era o mesmo das promessas evangélicas? Quem ou o quê é o Espírito de Verdade?

Primeiro é preciso distinguir essa entidade espiritual do Espírito Santo. Jesus quando profetizou a vinda do Consolador, se referia ao Bom Espírito; não usou em absoluto a expressão Espírito Santo que foi certamente uma alteração nas traduções.

Hoje nós sabemos que a expressão Espírito Santo simboliza os Espíritos que trabalham a serviço de Deus e já naquela época envolveram os discípulos de Jesus, na festa de Pentecostes, provocando a eclosão da faculdade mediúnica, levando-os a falarem em diferentes línguas aos estrangeiros do local (xenoglossia).

Mas de onde parte esta certeza de que o Espírito de Verdade não é uma representação de um grupo de entidades e sim um único Espírito? Em O Livro dos Espíritos, no Prolegômenos, vários Espíritos assinam uma mensagem dada a Kardec, entre eles o próprio Espírito de Verdade, comprovando essa tese. Se assim não fosse, se representasse uma entidade coletiva, bastaria haver uma única assinatura. Aliás, no Evangelho Seg. o Esp. existem vários exemplos: Um Espírito Amigo, Um Espírito Protetor, etc. Entidades que por um motivo qualquer não desejavam se identificar.

Agora nós vamos entrar em um terreno mais espinhoso, sem pretensão alguma de estarmos com a razão. E para aqueles que acreditam que o Espírito de Verdade é Jesus? Essa hipótese tem fundamento? Vamos novamente aos fatos. Vejamos algumas passagens da codificação:

"Assim como o Cristo disse: 'Não vim destruir a lei, porém cumpri-la', também o Espiritismo diz: 'Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução (...) Vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou e preparar a realização das coisas futuras. Ele é, pois, obra do Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o reino de Deus na Terra" (ESE, Cap. I, item 7).

Seria mera coincidência o fato de Kardec colocar que o Cristo preside à regeneração pelo Espiritismo nessa passagem do Evangelho e logo acima, na mensagem que citamos de A Gênese, é o Espírito de Verdade que preside a essa regeneração?

Acreditamos que não.

A comprovação definitiva, no meu modo de ver, para essa tese é a que trataremos agora. Em O Livro dos Médiuns, no cap. intitulado Dissertações Espíritas, Kardec apresenta várias comunicações sobre diversos assuntos, procurando exemplificar como reconhecermos pelo conteúdo da mensagem se ela provém de um Espírito Superior, deixando ao final do capítulo uma parte para as mensagens apócrifas, isto é, mistificações reconhecíveis pela linguagem e conteúdo.

Entre as comunicações que tratavam do Espiritismo uma nos chama a atenção imediatamente. É uma mensagem bastante semelhante àquela encontrada no capítulo VI de O Ev. Seg. o Esp. (aliás, o título desse capítulo é O Cristo Consolador; por quê será?), assinada com o nome de Jesus de Nazaré. Em seu comentário, o codificador se refere aos escrúpulos que devemos ter quanto à assinaturas de nomes venerados. No entanto reconhece o valor da mensagem, não somente pela linguagem, como também pelo fato de ter sido psicografada por um dos principais médiuns da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, sr. d'Ambel, médium mecânico. Por quê esta mensagem aparece um pouco modificada em o ESE? A própria entidade espiritual, provavelmente fez as alterações, inclusive a da assinatura, por um motivo simples. Antes da publicação do Evangelho, foi prevista uma grande reação da igreja com a publicação dessa obra (Obras Póstumas, Seg. Parte, 9 de agosto de 1863). Por esse mesmo motivo Kardec publicou-a com o nome de Imitação do Evangelho em sua 1ª edição.

Ao que tudo indica, Kardec durante muito tempo permaneceu sem conhecer a identidade de seu Espírito Protetor, que para ele se denominava A Verdade. Mas engana-se quem acredita que o mestre lionês só veio a descobri-la após o desencarne.

Kardec fez um interessante comentário, tempos depois, a um colóquio que teve com o seu protetor. É o seguinte:

"A proteção desse Espírito, de cuja superioridade eu estava então longe de suspeitar, nunca me faltou". (Obras Póstumas, Seg. Parte, 9 de abril de 1856).

A seguir vejamos alguns trechos que revelam, por parte dos Espíritos, a verdadeira finalidade do Espiritismo como Consolador Prometido e quanto a natureza do Espírito de Verdade:

"Desde que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus qual é a utilidade do ensinamento dado pelos Espíritos? Têm eles mais alguma coisa para nos ensinar?

O ensino de Jesus era freqüentemente alegórico e em forma de parábolas, porque ele falava de acordo com a época e os lugares. Faz-se hoje necessário que a verdade seja inteligível para todos. É preciso, pois, explicar e desenvolver essas leis, tão pouco são os que as compreendem e ainda menos os que as praticam. Nossa missão é a de espertar os olhos e os ouvidos para confundir os orgulhosos e desmascarar os hipócritas: os que afetam exteriormente a virtude e a religião para ocultar as suas torpezas. O ensinamento dos Espíritos deve ser claro e sem equívocos a fim de que ninguém possa pretextar ignorância e cada um possa julgá-lo e apreciá-lo com sua própria razão. Estamos encarregados de preparar o Reino de Deus anunciado por Jesus, e por isso é necessário que ninguém possa interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei que é toda amor e caridade"

(LE, Q. 627)

"Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos céus, como um imenso exército que se movimenta, ao receber a ordem de comando, espalham-se sobre toda a face da Terra. Semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar o caminho e abrir os olhos aos cegos.

Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos". (Espírito de Verdade, Prefácio de o Ev. Seg. o Esp.)

Não bastassem a semelhança quanto ao conteúdo, Kardec introduz uma nota ao final desse prefácio indicando que ele representa o verdadeiro caráter do Espiritismo, como também o verdadeiro sentido da obra, elucidar o Evangelho, as leis de Deus, em espírito e verdade.

"Aproxima-se a hora em que terás que declarar abertamente o que é o Espiritismo e mostrar a todos onde está a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. A hora em que, à face do Céu e da Terra, deverás proclamar o Espiritismo como a única tradição realmente cristã, a única instituição verdadeiramente divina e humana". (em Obras Póstumas, Seg. Parte, 9 de agosto de 1863)

Neste diálogo o codificador questiona sobre a importância da obra que estava elaborando, o Evangelho Segundo o Espiritismo, na qual trabalhava em absoluto sigilo e isolamento, tendo, inclusive, se recolhido a uma propriedade em Sainte-Adresse. Este trecho da resposta é bastante contundente e preciso por parte do comunicante, sem deixar possibilidades a múltiplas interpretações.

É compreensível a razão pela qual alguns intelectuais no movimento espírita, certamente bem intencionados, manifestem preocupação com a parte científica do Espiritismo, seu caráter evolucionista. Mas esse progresso se faz sobre as bases em que a doutrina está edificada. Desejar o seu progresso pelas vias da ciência, negando-se a sua verdadeira origem, acabaríamos por descaracterizá-la. Um dos pilares da doutrina é o Evangelho e retirá-lo ou negligenciá-lo, conduzindo a sua derrocada. Nas palavras de Kardec:

"Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem" (A Gênese, I - 13)

Uma vez que identificamos o Espiritismo como o Cristianismo Redivivo, nem por isso afirmamos que ele seja uma religião. Como na maioria das vezes, as palavras são condições limítrofes para o entendimento entre os homens. A questão certamente teve seu início quando associou-se a expressão cristianismo a catolicismo, o que são duas coisas bem diferentes, uma vez que é possível ser cristão sem professar nenhuma religião. Mas essa questão de o Espiritismo ser ou não uma religião(**) fica para uma outra oportunidade.

Sintetizando, nada melhor do que essas belas palavras do Espírito de Verdade (curiosamente sempre na 1ª pessoa do singular), confirmando tudo o que temos dito nesse despretensioso artigo:

"Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem de lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as plantas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal. Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: Vinde a mim, todos vós que sofreis."

"Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instrui-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: Irmãos! Nada perece, Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade". (Espírito de Verdade, ESE, Cap. VI, item 5)

Fonte: Boletim GEAE Número 336 de 16 de março de 1999

ESE - Consolador Prometido

FONTE: KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de José Herculano Pires.

3 – Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito da Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. – Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. (João, XIV: 15 a 17 e 26)

4 – Jesus promete outro consolador: é o Espírito da Verdade, que o mundo ainda não conhece, pois que não está suficientemente maduro para compreendê-lo, e que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para fazer lembrar o que Cristo disse. Se, pois, o Espírito da Verdade deve vir mais tarde, ensinar todas as coisas, é que o Cristo não pode dizer tudo. Se ele vem fazer lembrar o que o Cristo disse, é que o seu ensino foi esquecido ou mal compreendido.

O Espiritismo vem, no tempo assinalado, cumprir a promessa do Cristo: o Espírito da Verdade preside ao seu estabelecimento. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas, fazendo compreender o que o Cristo só disse em parábolas. O Cristo disse: “que ouçam os que têm ouvidos para ouvir”. O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque ele fala sem figuras e alegorias. Levanta o véu propositalmente lançado sobre certos mistérios, e vem, por fim, trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, ao dar uma causa justa e um objetivo útil a todas as dores.

Disse o Cristo: “Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados”. Mas como se pode ser feliz por sofrer, se não se sabe por que se sofre?

O Espiritismo revela que a causa está nas existências anteriores e na própria destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Revela também o objetivo, mostrando que os sofrimentos são como crises salutares que levam à cura, são a purificação que assegura a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer, e acha justo o sofrimento. Sabe que esse sofrimento auxilia o seu adiantamento, e o aceita sem queixas, como o trabalhador aceita o serviço que lhe assegura o salário. O Espiritismo lhe dá uma fé inabalável no futuro, e a dúvida pungente não tem mais lugar na sua alma. Fazendo-o ver as coisas do alto, a importância das vicissitudes terrenas se perde no vasto e esplêndido horizonte que ele abarca, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem, para ir até o fim do caminho.

Assim realiza o Espiritismo o que Jesus disse do consolador prometido: conhecimento das coisas, que faz o homem saber de onde vem, para onde vai e porque está na Terra, lembrança dos verdadeiros princípios da lei de Deus, e consolação pela fé e pela esperança.

A cura através da imposição de mãos

Por Giovana Campos - Associação Médico-Espírita do Brasil

A troca de energia através das mãos tem sua eficácia divulgada em várias correntes filosóficas e, nos últimos 40 anos, a ciência traz pesquisas da aplicação e benefícios da mesma na área da saúde

O Toque Terapêutico é uma técnica contemporânea de terapia complementar desenvolvida por Dolores Krieger e Dora Kunz, na década de 70. A expressão “toque terapêutico” corresponde à conhecida técnica de “imposição de mãos”, amplamente estudada pela Doutrina Espírita como fator promotor de benefícios na área da saúde. Por ser um meio não invasivo, pode ser utilizado como complemento da terapia ou tratamento utilizado nos doentes.

O toque terapêutico tem registros antigos: aparece no Papiro de Ebers, um dos tratados médicos mais antigos e importantes que é conhecido. Este tratado foi escrito no Antigo Egito e é datado de 1552 a.C. A confirmação deste achado aparece também no livro “O Espiritismo perante à Ciência”, de Gabriel Delanne no trecho “Os egípcios ... empregavam, no alívio dos sofri¬mentos, os passes e a aposição de mãos, como os executa¬mos ainda em nossos dias”. Esta prática aparece por toda a história da humanidade, como na Bíblia, na época dos romanos, na ascensão da medicina árabe com Aviccena, em épocas medievais, etc.

O médico Paracelso (1493-1541) coloca mais explicitamente a existência de uma força vital magnética e que essa substância sutil possuía notáveis qualidades curativas, pode-se encontrar o principio de bases para o magnetismo que viria a ser descoberto alguns séculos depois. Robert Fludd, médico e místico, atuante no século seguinte a morte de Paracelso, acreditava que os seres humanos possuíam as propriedades magnéticas semelhantes às dos imãs. Esta utilização terapêutica na cura de pessoas começa a ser didaticamente estudada após as descobertas de Franz Mesmer, com o detalhamento do magnetismo animal, em 1779.

No final da década de 60, Dora Kunz estudava a imposição de mãos praticada por Oskar Estebany, um coronel húngaro com a reputação de ter poderes de cura de bócio com seu toque terapêutico. Kunz convidou Krieger a conhecer o trabalho realizado por Estebany. Krieger observava cuidadosamente as sessões onde ele se aproximava do paciente e suavemente movia as mãos para o ponto em que sentia a necessidade de cura. Ao perceber que a prática aliviava e promovia a cura de grande variedade de doenças, Krieger passou a se dedicar a estudar a aplicabilidade deste fenômeno, introduzindo-o no cuidado com o paciente.

Em meados da década de 70, Dolores Krieger, enfermeira e professora na escola de Enfermagem da universidade de Nova Iorque, e a terapeuta Dora Kunz introduziram a prática que denominaram “toque terapêutico”, com a finalidade de promover a melhora da saúde física e emocional.

Os princípios científicos que sustentam esta terapia baseiam-se na concepção de que o ser humano possui um campo de energia que pode estender-se além da pele, é abundante, e flui em determinados padrões que se pretendem equilibrados.

A metodologia deste trabalho é bem semelhante ao passe ministrado em centros espíritas: a pessoa que aplica o toque terapêutico entra em estado meditativo objetivando a cura do paciente. Com compaixão e motivação, o curador foca o desejo de ajudar e até mesmo curar o individuo. Esta vontade é parte importante do processo. Com este pensamento, o campo de energia individual é acessado e a troca de energia faz-se real. As mãos podem agir como um instrumento onde a sensibilidade e a intuição ficam mais vulneráveis a sensações que indicam onde a energia do paciente possa apresentar algum bloqueio. Após a determinação onde das áreas que possam estar em desequilíbrio, o curador começa a mover ou distribuir a energia pelo corpo, aliviando partes doloridas ou congestionadas e melhorando aquelas que estão sem tanta energia.

Comprovações científicas do toque terapêutico

Desde a década de 60, pesquisas acadêmicas mostram a eficácia da utilização do toque terapêutico, ou imposição de mãos. Inicialmente realizada com animais, as pesquisas logo foram direcionadas a pessoas com diferentes tipos de patologias. Em 1975, Dolores Krieger demonstrou os efeitos do toque terapêutico através da medição de índices fisiológicos em seres humanos após estudos laboratoriais. Comprovou que após a imposição de mãos ocorrem significativas alterações fisiológicas em doentes hospitalizados em diferenciados casos clínicos. Este estudo foi publicado na Revista Americana de Enfermagem, em 1979, sob o título de “Therapeutic touch: searching for evidence of physiological change” (Toque Terapêutico: busca por evidências de mudanças fisiológicas).

A maioria dos estudos foi realizada em ambiente hospitalar com grupos de controle. Procedeu a uma investigação com a colaboração de profissionais de saúde em que participaram vários doentes divididos em dois grupos, foram seguidos ao longo de três anos. Um grupo recebeu o tratamento convencional, o outro recebeu além do tratamento instituído a imposição de mãos. Conforme a própria Dolores Krieger escreveu após detalhado estudo dos benefícios desta prática em pacientes oncológicos, os níveis da hemoglobina nos doentes com neoplasia submetidos ao toque terapêutico aumentaram significativamente, apesar de estarem a ser submetidos à quimioterapia.

De acordo com o Instituto Nacional de Saúde de Washington (EUA), com base em cerca de trinta teses de doutoramento foi atribuído ao Toque Terapêutico, em 1994, a comprovação da sua eficácia como terapia alternativa. A maioria dos estudos da evidência científica relaciona-se com a diminuição da intensidade da dor e do estresse e aumenta a resposta em tratamentos, incluindo a cicatrização de cortes e feridas. A diminuição da ansiedade e indução de relaxamento também aparecem com significância em diversos estudos.

Em fevereiro de 2005, o “Australian Nursing Journal” traz um artigo acerca da aplicação do toque terapêutico em idosos com diversas patologias. Foram selecionados 121 doentes de acordo com os critérios de inclusão definidos pelas autoras (Sue Gregory e Julie Verdouw), tendo sido reagrupados conforme as diversas patologias. Relativamente ao total de doentes que referiam dor (53), após a aplicação da imposição de mãos, os mesmos referiram que a intensidade da dor diminuiu em aproximadamente 40%.

O trabalho desenvolvido pela enfermeira Dolores Krieger tem crescido e angariou muitos adeptos em vários países. O toque terapêutico assumiu a condição de curso, e passou a ser ministrado para os alunos do Mestrado e Doutoramento em Enfermagem, na Universidade de Nova Iorque e também pela ordem dos enfermeiros da província de Quebec, no Canadá e por muitos hospitais americanos, sendo incluído no currículo escolar como disciplina na oncologia, saúde materna e nos pacientes com transplante dos órgãos.

Desde a introdução do toque terapêutico, Krieger já divulgou e realizou treinamentos para enfermeiras em várias universidades. Estima-se que mais de 70 mil enfermeiros, fisioterapeutas, auxiliares e terapeutas ocupacionais tenham participado de treinamentos conduzidos por Krieger e sua colega Kunz..

Em 1981, Dolores Krieger publicou “Foundations for Holistic Health Nursing Practices” e o manual, As Mãos: Como usá-las para ajudar ou curar, em 1992. Seu livro mais recente é Toque Terapêutico: Novos Caminhos da Cura Transpessoal, de 2002.

Neste ano, a enfermeira Dolores Krieger participa do 2º Congresso Espírita dos Estados Unidos trazendo um pouco mais sobre as descobertas e pesquisas acerca do toque terapêutico e dos benefícios que esta técnica não-invasiva traz à melhora e até mesmo cura de diversos quadros patológicos.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Como Comunicar-me?

Por Orson Peter Carrara

Às vezes, perguntam-me na rua: É verdade que vocês comunicam-se com os mortos? Como faço para comunicar-me com meu pai ou filho que já morreu ?

As duas perguntas merecem resposta, antecedidas de algumas ponderações:

1. Os espíritas não se comunicam com os mortos, em primeiro lugar porque mortos não existem. Todos vivem após a morte.
2. O telefone só toca de lá para cá! Vamos explicar:

Os Centros Espíritas realizam sim reuniões mediúnicas de intercâmbio com os espíritos, que nada mais são que as almas dos homens que já se foram pelo fenômeno da morte. São reuniões sérias, onde devem predominar a coerência, a discrição e muita responsabilidade. Essas comunicações ocorrem através de reuniões em dias e horários previamente estabelecidos, em regime privativo – pois que não se trata de espetáculos para serem assistidos, já que sua finalidade é instruir os homens e ajudar os espíritos em dificuldades. Elas ocorrem naturalmente, quando em ambiente preparado e propício, os médiuns (homens normais dotados de sensibilidade para servirem como instrumento de intercâmbio entre homens e espíritos) oferecem passividade e os espíritos falam ou escrevem, dependendo da faculdade que o médium detém. Este ambiente propício e preparado se compõe de pessoas com afinidade entre si e imbuídas do mesmo desejo de auxiliar o semelhante, com vontade firme e perseverante de fazer o bem, que se pautam pela assiduidade e responsabilidade, priorizando a prática com amor e fidelidade.

Quanto à identificação dos espíritos comunicantes, é importante dizer que este é um detalhe de menos importância. Não há tanta preocupação em identificar o comunicante, justamente para não gerar especulação. Se este se identificar espontaneamente, tudo bem, mas não se vai ficar inquirindo o espírito sobre sua identidade. Por outro lado, a comunicação de ente queridos, usamos a expressão acima colocada e usada por Chico Xavier: "O telefone só toca de lá para cá". A decisão de comunicar-se sempre parte dos espíritos. Que garantia temos ao chamar ao espírito para comunicação, de que realmente se trata dele mesmo. Como aqui, lá também há enganadores e mal intencionados.

Para que um espírito se comunique, há certas condições a serem observadas:

1. Se ele realmente deseja;
2. Se ele pode;
3. Se ele tem condições;
4. Se ele tem permissão;
5. Se ele encontra condições nos médiuns à disposição;
6. Se o ambiente lhe é favorável.

Veja que não é tão fácil assim... Por isso, a espontaneidade, com detalhes, é muito mais garantia de verdadeira identidade.

Por esses motivos todos, os leitores podem avaliar que os espíritas levam muito a sério esta questão da comunicação com os espíritos. Nada de leviandade neste campo, pois estamos lidando com inteligências livres, de vontade própria e nada diferentes dos homens, apenas a moradia. Aliás, a esse respeito é importante dizer, referindo-se à existência de enganadores e trapaceiros também por lá, que o fato de alguém morrer ou desencarnar na linguagem espírita, de modo algum indica passaporte para a virtude. Continuamos o que somos, com defeitos, virtudes, conhecimento ou ignorância, havendo aí a necessidade de retorno ao planeta para novas experiências evolutivas.

Mas é muito natural que quem perdeu alguém querido, tenha o desejo de saber notícias, de comunicar-se com ele. Neste caso, meu caro leitor ou leitora, mantenha firme confiança em Deus e aguarde o momento, que surgirá. Fuja de charlatães ou pessoas inescrupulosas. Se por acaso, tiver que procurar algum grupo espírita, escolha o que mantenha mais fraternidade entre seus integrantes, onde impera a cordialidade, a sinceridade, a responsabilidade e principalmente o respeito ao semelhante, mesmo que ele seja um espírito. Para conhecer todos esses detalhes, meu caro, estude. Integre-se a um grupo sério (existem muitos) e você terá acesso a essas maravilhosas informações.