terça-feira, 11 de agosto de 2009

BIOGRAFIA - Gélio Lacerda da Silva

"Advogado, escritor - natural de Baixo Guandú, Estado do Espírito Santo. Filho de Abílio Dias e Zulmira Lacerda. Passou a maior parte de sua vida na cidade de São Paulo, onde casou-se com Terezinha Zizzi da Silva na cidade de Bernardino de Campos, interior de São Paulo. Em 1977 voltou para o seu estado natal. Logo cedo ingressou no Espirtismo. Foi um de seus maiores militantes.

De 1953 a 1977 foi diretor do Departamento de Doutrina da Mocidade Espírita 3 de Outubro. Posteriormente, na qualidade de diretor do Centro Espírita Apóstolo Estêvão, adeso à 14ª União Distrital Espírita - Vila Formosa, nesta exerceu diversos cargos de diretoria e da qual foi representante junto aos demais órgãos da USE, nas reuniões do então Conselho Metropolitano Espírita (CME), onde, inclusive, participou do Departamento de Doutrina, e nas reuniões do Conselho Deliberativo Estadual.

Integrou a 1ª Comissão Mista Pró Fusão USE-FEESP ( Federação Espírita do Estado de São Paulo), concluindo seus trabalhos em 1972. Em 1977, voltou para Vitória-ES e ali exerceu as seguintes atividades: Estruturou o Departamento de Doutrina e foi nomeado seu diretor, de 1978 a 1980. Presidente da Federação por dois mandatos consecutivos, de 1980 a 1986.

Passou 20 anos de sua vida preparando uma síntese da grande discordia que há dentro da doutrina espírita entre Kardec e Roustaing. Enfim, desses anos, nasceu uma das maiores obras do verdadeiro Espiritismo: Conscientização Espírita. Publicado no ano de 1995 pela editora EME, teve repercussão nacional e internacional.

Eu como filho desse grande homem, presenciei a sua determinação, juntamente com minha querida mãe que, diuturnamente, o ajudava em correções, pesquisa, etc. E, batendo centenas, milhares de vezes às teclas de sua velha máquina de escrever, buscou desmascarar os apócrifos livros de J. B. Roustaing que, ironia do destino, são preservados e lançados nas entrelinhas da literatura espírita, sob o comando da Federação Espírita Brasileira.

Contudo, hoje, passados 17 anos do lançamento de Conscientização Espírita, muitos adeptos, seguidores, simpatizantes, etc., estão se conscientizando que só existe uma verdade: "Fora de Kardec não há Espiritismo!" Como filho só tenho a agradecer o que meu pai fez em benefício do bom senso e dos verdadeiros espíritas. Falo isso com liberdade e imparcialidade, pois li e reli seus rascunhos com os olhos voltados na história. E, acima de tudo, usando a ética de minha profissão de advogado. Sua partida para o plano espiritual foi prematura. Todavia, a semente de suas idéias estão espalhadas."

Por seu filho.

Comentários sobre a obra

Jon Aizpurua:


" Conscientização Espírita", el cual he leído con muchísimo placer y con la alegria de encontrar em tal obra, un conjunto de análisis, reflexiones y enfoques críticos en torno a la actitud lamentable de la F.E.B de continuar defendiendo y divulgando las erróneas tesis roustainguistas. Suscribo su postura valiente em defensa de nuestra querida Doctrina Espírita, siempre em los moldes que estableció el Maestro Allan Kardec."

Jorge Rizzini:

"A obra é importantíssima, pois a pesquisa foi profunda e rebate com argumentos irrespondíveis a malograda e detestável tese de J. B. Roustaing. Acresce, ainda, que o autor soube estruturar o livro, o que torna a leitura muito agradável."

Celso Martins:

" É o melhor livro que já li constra Roustaing. Recomendo à Opinião E. sua publicação, para que seu trabalho - irrespondível - tenha a mais ampla divulgação."

Erasto Prestes:

"O livro de Gélio Lacerda da Silva, intitulado "CONSCIENTIZAÇÃO ESPIRITA" é excelente, pois ele mostra, com riqueza de detalhes, o péssimo rumo que tomou o movimento espirita brasileiro, dirigido e orientado pela Federação Espírita (roustainguista) Brasileira. É um trabalho de pesquisa doutrinária sério, que precisava ser mais divulgado na comunidade espírita, pois só diz verdades que precisam ser conhecidas, principalmente, dos jovens estudiosos da doutrina. Constantemente, eu o consulto para transcrever em meu boletim, "O Franco Paladino", tudo de bo"m que ele nos apresenta."

Fonte: Blog Gélio Lacerda

BIOGRAFIA - Victor Hugo

Victor Hugo
26/02/1802, Besançon, França

22/05/1885, Paris, França


Victor Hugo, autor de "Os miseráveis" e "O Corcunda de Notre Dame", entre outros, era filho de Joseph Hugo e de Sophie Trébuchet. Nasceu em Besançon, mas passou a infância em Paris.

Em 1819 fundou, com os seus irmãos, uma revista, o "Conservateur Littéraire" (Conservador Literário) e no mesmo ano ganhou o concurso da Académie des Jeux Floraux, instituição literária francesa fundada no século 14.

Aos 20 anos publicou uma reunião de poemas, "Odes e Poesias Diversas", mas foi o prefácio de sua peça teatral "Cromwell" que o projetou como líder do movimento romântico na França.

Victor Hugo casou-se com Adèle Foucher e durante a vida teve diversas amantes, sendo a mais famosa Juliette Drouet, atriz sem talento, a quem ele escreveu numerosos poemas.

O período 1829-1843 foi o mais produtivo da carreira do escritor. Seu grande romance histórico, "Notre Dame de Paris" - mundialmente conhecido como "O Corcunda de Notre Dame" - (1831), o conduziu à nomeação de membro da Academia Francesa, em 1841.

Criado no espírito da monarquia, o escritor acabou se tornando favorável a uma democracia liberal e humanitária. Eleito deputado da Segunda República, em 1848, apoiou a candidatura do príncipe Luís Napoleão, mas se exilou após o golpe de Estado que este deu em dezembro de 1851, tornando-se imperador. Hugo condenou-o vigorosamente por razões morais em "Histoire d'un Crime".

Durante o Segundo Império, em oposição a Napoleão III, viveu em exílio em Jersey, Guernsey e Bruxelas. Foi um dos poucos a recusar a anistia decidida algum tempo depois.

A morte da sua filha, Leopoldina, afogada por acidente no Sena, junto com o marido, fez com que o escritor se deixasse levar por experiências espíritas relatadas numa obra "Les Tables Tournantes de Jersey" (As Mesas Moventes de Jersey).

A partir de 1849, Victor Hugo dedicou sua obra à política, à religião e à filosofia humana e social. Reformista, desejava mudar a sociedade mas não mudar de sociedade. Em 1870 Hugo retornou à França e reatou sua carreira política. Foi eleito primeiro para a Assembléia Nacional, e mais tarde para o Senado. Não aderiu à Comuna de Paris mas defendeu a anistia aos seus integrantes.

De acordo com seu último desejo, foi enterrado em um caixão humilde no Panthéon, após ter ficado vários dias exposto sob o Arco do Triunfo.

Fonte: UOL Educação

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A Razão de Ser do Espiritismo

Por Victor Hugo (espírito)

Quando o obscurantismo da fé dominava as mentes, levando-as ao fanatismo desestruturador da dignidade e do comportamento; quando a cultura, enlouquecida pelas suas conquistas no campo da ciência de laboratório, proclamava a desnecessidade de qualquer preocupação com Deus e com a alma, face à fragilidade com que se apresentavam no proscênio do mundo; quando a filosofia divagava pelas múltiplas escolas do pensamento, cada qual mais arrebatadora e irresponsável, inculcando-se como portadora da verdade que liberta o ser humano de todos os atavismos e limitações; quando a arte rompia as ligações com o clássico, o romântico e a beleza convencional, para expressar-se em formulações modernistas, impressionistas, abstracionistas, traduzindo, ora a angústia da sua geração remanescente dos atavismos e limitações do passado, ora a ansiedade por diferentes paradigmas de afirmação da realidade; quando se tornavam necessários diversos comportamentos sociais e políticos para amenizar a desgraça moral e econômica que avassalava a Humanidade; quando a religião perdia o controle sobre as consciências e tentava rearticular-se para prosseguir com os métodos medievais ultramontanos e insuportáveis; quando as luzes e as sombras se alternavam na civilização, surgiu o Espiritismo com a sua razão de ser para promover o homem e a mulher, a vida e a imortalidade, o amor e o bem a níveis dantes jamais alcançados.

Realizando uma revolução silenciosa como poucas jamais ocorridas na História, tornou-se poderosa alavanca para o soerguimento do ser humano, retirando-o do caos do materialismo a que se arrojara ou fora atirado sem a menor consideração, para que adquirisse a dignidade ética e cultural, fundamentada na identificação dos valores morais, indispensável para a identificação dos objetivos essenciais e insuperáveis da paz interna e da consciência de si mesmo durante o trânsito corporal.

Logo depois, no Collège de France, proclamando ser Jesus um homem incomparável, no seu memorável discurso, o acadêmico e imortal Ernesto Renan confirmava, a seu turno, embora sem qualquer contato com a Doutrina nascente, a humanidade do Rabi galileu, rompendo a tradição dogmática do Homem Deus ou do ancestral Deus feito homem.

Sob a ação do escopro inexorável das informações de além-túmulo, o decantado repouso ou punição eterna, o arbitrário julgamento mais punitivo que justiceiro, cediam lugar à consciência da vida exuberante que prossegue morte afora impondo a cada qual a responsabilidade pela conduta mantida durante a trajetória encerrada.

As narrações da sobrevivência tocadas pela legitimidade dos fatos fundamentadas na lógica da indestrutibilidade do ser espiritual, davam colorido diferente às paisagens da Eternidade, diluindo as fantasias e mitos que as adornaram por diversos milênios.

Permitiu que o ser humano se redescobrisse como Espírito imortal que é, preexistente ao berço e sobrevivente ao túmulo, facultando-lhe compreender a finalidade existencial, que é imergir no oceano do inconsciente, onde dormem os atos pretéritos e as construções que projetam diretrizes para o momento e o futuro, a fim de diluir as volumosas barreiras de sombra e de crueldade a que se entregou e que lhe obnubila a compreensão da sua realidade, emergindo em triunfo, para que lobrigue a imarcescível luz da verdade que o há de conduzir pelos infinitos roteiros do porvir.

Intoxicado pelos vapores da organização fisiológica, mergulhado em sombras que lhe impedem o discernimento, vagando pelos dédalos intérminos da busca da realidade, somente ao preço da fé raciocinada e lógica, portadora dos instrumentos que se derivam dos fatos constatados, o homem e a mulher podem avançar com destemor pelas trilhas dos sofrimentos inevitáveis, que são inerentes à sua condição de humanidade, vislumbrando níveis mais nobres que devem ser conquistados.

O Espiritismo traçou novos programas para a compreensão da vida e a mais eficaz maneira de enfrentá-la, desafiando o materialismo no seu reduto e os materialistas no seu cepticismo, oferecendo-lhes mais seguras propostas de comportamento para a felicidade ante as vicissitudes do processo existencial.

Não se compadecendo da presunção dos vazios de sentimento e soberbos de conhecimentos em ebulição de idéias, demonstrou a sua força arrastando desesperados que foram confortados, violentos que se acalmaram, alucinados que recuperaram a razão, delinqüentes que volveram ao culto do dever, perversos que se transformaram, ateus que fizeram as pazes com Deus, ingratos que se reabilitaram perante os seus benfeitores, miseráveis morais que se enriqueceram de esperança e de alegria de viver, construindo juntos o mundo de bem-estar por todos anelado.

O Espiritismo trouxe a perfeita mensagem da justiça divina, por enquanto mal traduzida pela consciência humana, contribuindo para a transformação da sociedade, mas sem a revolução sangrenta das paixões em predomínio, que sempre impõe uma classe poderosa sobre as outras que são debilitadas à medida que vão sendo extorquidos os seus parcos recursos até a exaustão das suas forças, quando novas revoluções do mesmo gênero explodem, produzindo desgraça e ódios que nunca terminam . . .

Trabalhando a transformação moral do indivíduo, propõe-lhe o comportamento solidário e fraternal, a aplicação da justiça corretiva e reeducativa quando delinqüi, conscientizando-o de que as suas ações serão também os seus juízes e que não fugirá de si mesmo onde quer que vá.

Todo esse contributo moral foi retirado do Evangelho de Jesus, especialmente do Seu Sermão da montanha, no qual reformulou os valores humanos até então aceitos, demonstrando que forte não é o vencedor de fora, mas aquele que se vence a si mesmo, e poderoso, no seu sentido profundo, não é aquele que mata corpos, mas não é capaz de evitar a própria morte.

Revolucionando o pensamento ético e abrindo espaço para novo comportamento filosófico, a Sua palavra vibrante e a Sua vivência inigualável, colocaram as pedras básicas para o Espiritismo no futuro alicerçar, conforme ocorreu, os seus postulados morais através da ética do amor sob qualquer ponto de vista considerado.

Nos acampamentos de lutas que se estabeleciam no Século XIX, quando a ciência e a razão enfrentavam a fé cega e a prepotência das Academias e dos seus membros fascinados como Narciso por si mesmo, o Espiritismo surgiu como débil claridade na noite das ambições perturbadoras e lentamente se afirmou como amanhecer de um novo dia para a Humanidade já cansada de aberrações de conduta como fugas da realidade e sonhos de poder transitório, transformados em pesadelos de guerras infames, cujas seqüelas ainda se demoram trucidando vidas e dilacerando sentimentos.

A razão de ser do Espiritismo encontra-se na sua estrutura doutrinária, diversificada nos seus aspectos de investigação científica ao lado das demais correntes da ciência, do comportamento filosófico com a sua escola otimista e realista para o enfrentamento do ser consigo mesmo e da vivência ético-moral-religiosa que se estrutura em Deus, na imortalidade, na justiça divina, na oração, na ação do bem e sobretudo do amor, única psicoterapia preventiva-curativa à disposição da Humanidade atual e do futuro.

(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 7 de junho de 2001, em Paris, França)

Fonte: Jornal Mundo Espírita de Novembro de 2001

Desenvolvimento mediúnico

Por Edvaldo Kulcheski

Embora em diferentes graus e tipos, todos nós temos a mediunidade e, por esse motivo, todos somos médiuns. Essa faculdade é inerente ao homem, não constituindo um privilégio exclusivo. Porém, entendemos comumente como médium todo aquele que sente a influência dos espíritos de forma ostensiva...

Reparemos que, ao nosso redor, há ignorância, miséria, lágrimas, feridas, dores e erros. Pois bem, é por meio dos médiuns que os espíritos nos instruem, suavizam a miséria, enxugam as lágrimas, cicatrizam as feridas, mitigam as dores e corrigem os erros. A mediunidade, quando equilibrada, faz com que nós, habitantes da Terra, trabalhemos juntos na construção do reino de Deus.

Mediunidade infantil

Geralmente, o processo de desenvolvimento da mediunidade é cíclico, ou seja, ocorre por meio de etapas sucessivas em forma de espiral. O primeiro ciclo vai de zero aos 12 anos de idade, período no qual as crianças possuem a mediunidade à flor da pele, por assim dizer, mas com o resguardo da influência benéfica e controladora dos espíritos protetores, chamados por algumas religiões de “anjos da guarda”.

Nessa fase infantil, as manifestações mediúnicas são mais de caráter anímico. A criança projeta sua alma nas coisas e nos seres que a rodeiam, recebe as intuições orientadoras de seus protetores, às vezes observa e denuncia a presença de espíritos e, não raro, transmite avisos e recados destes aos familiares de maneira positiva e indireta. Quando passam dos sete ou oito anos, as crianças se integram melhor ao condicionamento da vida terrena, desligando-se progressivamente das relações espirituais e dando mais importância às relações humanas.

No entanto, não é aconselhável o exercício da mediunidade em crianças, uma vez que o organismo delas, débil e em formação, pode sofrer fortes abalos. Além disso, a imaginação está em intensa atividade e pode haver uma grande excitação, sem contar que elas não possuem discernimento suficiente para lidar com os espíritos.

Às vezes, as manifestações mediúnicas apresentadas pela criança são causadas pelas perturbações existentes no ambiente do lar. Neste caso, o mais recomendável é atendê-la com passes, para eliminar as manifestações, e orientar o comportamento dos familiares adultos, para que as tensões espirituais não reflitam mais nela.

Agora, se a manifestação mediúnica for espontânea e equilibrada, deve-se aceitar os fenômenos com naturalidade, mas sem estimulá-los nem tampouco querer colocar a criança em um verdadeiro trabalho mediúnico. Convém que ela seja encaminhada para a evangelização e o conhecimento doutrinário adequados à sua idade, a fim de que, no futuro, ela esteja devidamente preparada para entender sua faculdade e empregá-la bem.

Manifestações mais intensas

O segundo ciclo de desenvolvimento da mediunidade começa geralmente na adolescência, a partir de 12 ou 13 anos de idade. Como dissemos, no primeiro ciclo, só se deve intervir no processo mediúnico com preces e passes, para abrandar as excitações naturais da criança. Já na adolescência, o corpo amadureceu o suficiente para que as manifestações mediúnicas se tornem mais intensas e positivas. Então, é tempo de encaminhá-la com informações mais precisas sobre a questão da mediunidade.

Diante disso, não se deve tentar o desenvolvimento da mediunidade em sessões. O passe, a prece e as reuniões de estudo doutrinário são os meios de auxiliar o processo sem forçá-lo, dando ao adolescente a orientação necessária. A adolescência é a hora das atividades lúdicas, dos jogos e esportes, do estudo e aquisição dos conhecimentos em geral, de uma integração mais completa na realidade terrena. Portanto, não se deve forçar os adolescentes, mas estimulá-los no tocante aos ensinamentos espirituais, abrindo suas mentes para o contato mais profundo e constante com a vida no mundo. Os exemplos dos familiares influem mais em suas opções do que os ensinamentos e as exortações orais.

Já o terceiro ciclo ocorre geralmente na passagem da adolescência para a juventude, entre 18 e 25 anos de idade, tempo dos estudos sérios. No entanto, se a mediunidade não se definiu devidamente até esta fase, não devem haver preocupações, uma vez que existem processos nos quais sua verdadeira eclosão leva até cerca de 30 anos para ocorrer.

Potencialidade e educação

Na verdade, a potencialidade mediúnica nunca permanecerá letárgica. Ela se atualiza com mais freqüência do que supomos, passando de potência a ato em diversos momentos da vida, através de pressentimentos, previsões de acontecimentos simples, como o encontro de um amigo há muito ausente, percepções extra-sensoriais que atribuímos à imaginação ou à lembrança e assim por diante.

Portanto, os problemas mediúnicos consistem apenas e tão-somente na disciplinação das relações espírito-corpo, que chamamos de “educação mediúnica”. À medida que o médium aprende, como espírito, a controlar sua liberdade e selecionar suas relações espirituais, sua mediunidade se aprimora e se torna cada vez mais segura.

O bom médium é aquele que mantém o seu equilíbrio psicofísico e procede na vida de modo a criar para si mesmo um ambiente espiritual de moralidade, amor e respeito pelo próximo. A dificuldade maior está em se fazer o médium compreender que, para tanto, ele não precisa se tornar santo, mas apenas um homem de bem. Deve ser espontâneo, natural, uma criatura normal, que não tem motivos para se julgar superior aos outros. Quando não orientada para os caminhos do bom senso, a mediunidade pode turvar a vida e ser instrumento de perturbação geral, porém, em harmonia, pode fazer grandes coisas.

A educação mediúnica pode começar no simples modo de falar aos outros, transmitindo bastante brandura, alegria, amor e caridade em todos os atos da vida. O desabrochamento de uma faculdade mediúnica e seu constante aprimoramento necessita, dentre outras coisas, de educação, esforço, disciplina e aquisição de valores morais e espirituais, a fim de se evitar ciladas, enganos, perigos e dissabores que podem ser gerados pela invigilância, pela indisciplina e pelo despreparo.

É importante que o médium não procure na mediunidade um objetivo de simples curiosidade, diversão ou interesse particular, mas que a encare como coisa sagrada que deve ser utilizada para o bem de seu semelhante, sustentada na elevação moral e no estudo sério e edificante. Na primeira fase do desenvolvimento, o médium deve evitar qualquer pretensão vaidosa no sentido de se supor capaz de grandes feitos mediúnicos.

Aquele que se educa espiritualmente e amadurece seu dom através do esforço, do estudo e da disciplina moral passa a ser assistido pelos bons espíritos, que o preservam das ciladas do mundo invisível. Os bons médiuns são raros por falta de uma educação e um adestramento seguro. A faculdade mediúnica é delicada e necessita de acuradas precauções, perseverantes cuidados, método, aspirações nobres e da conquista de uma cobertura espiritual de caráter elevado. O ambiente da prática mediúnica deve ser seguro, organizado e sério, para evitar o perigo de um falso desenvolvimento em que predominam as viciações, bem como os condicionamentos, o automatismo, as falsas concepções do que sejam os espíritos guias, as mistificações e a obsessão.

Fonte: Revista Cristã de Espiritismo, Edição 19.

domingo, 9 de agosto de 2009

A Contribuição de José Herculano Pires (1914-1979)

Por: Dora Incontri

Ainda poucos no movimento espírita conseguem aquilatar a contribuição única que Herculano dera ao desenvolvimento do espiritismo.

A primeira dessas contribuições está na própria compreensão da idéia espírita. Tratando-se de uma revolução conceitual, uma quebra de paradigma, um passo inédito na história do conhecimento – a sua dimensão e o impacto renovador de suas propostas ainda não foram entendidos pelos seus adeptos mesmos, que o tocam apenas superficialmente, carregados dos vícios religiosos do passado, incapazes de singrarem nos mares abertos, descortinados por Kardec.

A maioria dos espíritas no Brasil aceita o espiritismo como mais uma religião apenas, embora mantenham o discurso do tríplice aspecto. Herculano soube sondar as profundidades da obra de Kardec, entendendo-a como uma revolução cultural, como uma proposta pedagógica, como ciência nova, como filosofia inédita, sem negar seu aspecto religioso.

Muitos espíritas o consideravam fanático por Kardec, mas Herculano não tinha nenhum laivo de fanatismo, era aliás uma pessoa avessa às idolatrias. O caso é que ele entendeu como ninguém o papel de Kardec no espiritismo. Ainda hoje, a maioria dos espíritas tem a idéia equivocada de que Kardec teria apenas organizado (por isso a ênfase na palavra codificador) uma revelação pronta, dada pelos Espíritos. Entretanto, apesar de ter havido sim uma revelação, a estruturação da filosofia espírita e a criação de uma metodologia de abordagem científica foram do homem Kardec. Herculano colocou em relevo esta contribuição de mestre.

Fez isso, porém, não de maneira histórica, inserindo-o no seu contexto, mas na contemporaneidade, com que travou permanente diálogo. Como jornalista-filósofo, Herculano esteve sempre ligado à realidade, ao turbilhão de idéias do seu tempo e procurou mostrar a conexão do pensamento espírita com o processo evolutivo das idéias, das pesquisas e da história humana. Temos assim não um mero divulgador de idéias espíritas do século XIX, mas um pensador que pensou espiritamente o século XX.

Essa é a função de todo conhecimento vivo. O espiritismo não pode se tornar letra morta, bíblica, que adotamos de forma postiça, como um credo fechado. É uma nova maneira de ver, pensar e sentir o mundo e assim pode iluminar o progresso do pensamento humano, interagindo com as ciências, as filosofias, as correntes pedagógicas.

Isso, porém, não é ecletismo. Certa vez, muitos anos atrás, ainda no início da minha jornada intelectual, travei conhecimento em Portugal com uma pessoa formada em Filosofia e ela me dizia indignada que Herculano era eclético. Como se sabe, tal adjetivo é altamente pejorativo no meio acadêmico, porque significa colocar diferentes elementos, díspares, numa proposta de pensamento – o que revelaria superficialidade e falta de conhecimento aprofundado das nuanças das diversas correntes. Uma salada mista, em suma. Essa crítica na época me irritou sobremaneira, mas foi excelente desafio, porque mergulhei com mais afinco do pensamento de Herculano, para desmentir a acusação. Nunca mais encontrei essa pessoa, mas depois de mais de 20 anos de estudo das obras de Herculano e tendo percorrido os bancos acadêmicos da graduação ao pós-doutorado, posso afirmar com toda certeza que não há o mínimo ecletismo em Herculano.

O filósofo de Avaré nunca perde a identidade do pensamento espírita, mas compreende que faz parte dessa identidade o enxergar os elos com outras formas de pensamento e entender a história das idéias humanas como uma construção coletiva de conhecimento e descoberta da verdade. Assim, dialogar e integrar evita o dogmatismo e a estagnação, mas o eixo da racionalidade metodológica, proposta por Kardec, é o que dá sentido e nos faz ver as possíveis conexões.

Podemos portanto dizer que o pensamento de Herculano Pires é amplo e aberto e por isso mesmo fiel aos princípios lançados por Kardec.

Allan Kardec previu essas coisas

A Revista Espírita, do mês de fevereiro de 1862, traz a seguinte afirmativa de Kardec, falando aos espíritas lioneses: "A tática ora em ação pelos inimigos dos Espíritas, mas que vai ser empregada com novo ardor, é a de tentar dividi-los, criando sistemas divergentes e suscitando entre eles a desconfiança e a inveja."

Como podemos perceber, o vaticínio do Codificador do Espiritismo estava correto.

Desde os primórdios do movimento espírita no Brasil, temos ouvido falar desses sistemas divergentes, que têm suscitado muita polêmica no meio espírita. De certa forma, o objetivo dos inimigos dos espíritas tem sido alcançado ao longo do tempo.

São práticas esdrúxulas e contrárias à Codificação Kardequiana que surgem, aqui e ali, gerando contendas e dissenções.

O de que não nos damos conta é que muitas vezes temos caído na armadilha, pois enquanto ficamos discutindo sobre essas questões divergentes, o trabalho que deveríamos fazer fica paralisado.

O Espírito Camilo, em seu livro "Cintilação das Estrelas", considera o seguinte: "(...)os contendores estão, quase sempre, defendendo cores e idéias pessoais que, comumente, retratam desajustes emocionais, anseio de domínio ou neuroses várias, consubstanciadas em teimosia injustificada, detendo-se em pontos de vista ou achismos inconvenientes ou caprichosos."

Se nos detivéssemos a refletir um tanto mais acerca dessa realidade, perceberíamos quanto tempo temos perdido com discussões vazias, ao invés de nos dedicarmos, com afinco, ao campo que o Senhor nos oferece para joeirar e, por conseguinte, à nossa redenção pessoal, como devedores das Leis Maiores que reconhecemos ser.

O Cristo afirmou que toda a árvore que o Pai não plantou será arrancada. Por essa razão, deveríamos deixar que esses falsos sistemas, ou falseados em sua base, desaparecessem por si mesmos, sem causarem prejuízos ao movimento espírita, já tão fragilizado pelas nossas próprias imperfeições.

Somente lobos caem em armadilhas para lobos. E, por certo, essas pessoas que tentam agregar esses "sistemas" ao edifício da Codificação, não sabem o que fazem, porque, se soubessem, não o fariam.

Mais cedo ou mais tarde, todos teremos que prestar contas às leis divinas por tudo o quanto fizemos com o nosso livre-arbítrio, assim como todos os que maculamos o nome de Jesus outrora, e que já nos demos contas disso, agora estamos tentando resgatar a Sua grandeza.

Por essa razão, ocupemos os espaços em nossos escassos meios de comunicação social espírita para divulgar a Mensagem Espírita, que é por demais valiosa para ser preterida pelos verdadeiros cristãos.

Kardec, ainda na comunicação acima citada, faz a seguinte observação: "Pedis que continue com os meus conselhos. Eu os dou de boa vontade aos que os pedem e crêem que deles necessitam. Mas só a esses. Aos que julgam saber muito e que dispensam as lições da experiência, nada direi, a não ser que desejo não tenham um dia que lamentar por terem confiado demais nas próprias forças (...)

Como podemos perceber, Kardec foi demasiado sábio para não cair nas armadilhas adrede preparadas para paralisar a marcha da Nova Revelação.

E quanto a nós, se não somos desses que confiam demais nas próprias forças, observemos os conselhos do Codificador e busquemos conhecer, em profundidade, a Doutrina Espírita e a sua proposta para a humanidade, e deixemos o resto por conta de quem quer contender.

Fonte: Jornal Mundo Espírita de Agosto de 1998

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Visão Espírita do Homem

Por Deolindo Amorim

Já se sabe que o perispírito não é uma invenção do Espiritismo, como não é um conceito abstrato. É um elemento real, que tem propriedades e toma formas visíveis. Com o Espiritismo, entretanto, em virtude das experiências mediúnicas que já se acumularam até hoje, o estudo desse “corpo intermediário” necessariamente se tornou mais específico, permitindo que se lhe reconheçam propriedades relevantes no mecanismo psico-fisiológico. Além de outros autores, considerados clássicos na literatura espírita, Gabriel Delanne dedicou boa parte de seus trabalhos ao perispírito, e trouxe, por isso mesmo, uma contribuição significativa e ainda válida em toda a plenitude. Estudou ele, por exemplo, as “Provas da existência do perispírito - sua utilidade - seu papel”, no alentado livro O Espiritismo perante a Ciência. E, assim, em toda a obra de Delanne, realmente portentosa, há o que se estudar e pensar a respeito do perispírito. Não se precisaria fazer referência a outros, aliás bastante conhecidos no meio espírita, porque não temos objetivo de erudição nesta breve crônica jornalística. Queremos acentuar, sim, o perispírito ou mediador fluídico tem funções próprias no composto humano, não é uma criação imaginária...

Na antigüidade oriental, como na grega, como entre doutores da Igreja, admitiu-se claramente a existência de uma “substância”, um corpo, um elemento equivalente, afinal de contas, entre as duas realidades fundamentais: a matéria e o Espírito. Os nomes são diversos e, por isso, há uma infinidade de expressões para traduzir a significação do perispírito (terminologia do Espiritismo) no conjunto psicossomático. Existem até uns tantos preciosismos de linguagem, verdadeiras sutilezas verbais para dizer o que seja, no fundo, esse “corpo bioplásmico”, segundo a moderníssima denominação resultante de experiências realizadas na Rússia. Há contextos espiritualistas em que se encontra o perispírito, dividido ou apresentado sob outras rubricas, com as especificações que lhe são atribuídas. Mas o que é fundamental no caso é a existência, necessária, de um elemento que se interpõe no binômio corpo-espírito. A Doutrina Espírita prefere chamá-lo simplesmente de perispírito, com explicações acessíveis a todos os níveis de instrução.

Sob o ponto de vista histórico, entretanto, além do que já se encontra em velhas fontes orientais, como noutros ramos da literatura antiga, convém considerar que na Escolástica primitiva, muito influenciada por Platão e Agostinho, também se admitiu a constituição trinária do ser humano:

1) a alma habita numa casa que lhe é essencialmente estranha; o corpo é o albergue, o hábito, o recipiente, o invólucro da alma; além de semelhante imagem, é também usada a do matrimônio.

2) o corpo e a alma estão unidos por um “spiritus physucys”, que serve de intermediário;

3) corpo e alma estão unidos pela personalidade como em uma espécie de união hipostática.

(Barnarco Bartmann - “Teologia Dogmática” - I vol., Edições Paulinas)

Tão forte lhe parece a união da alma com o corpo, com a intercalação desse - “spiritus physucus”, que funciona como intermediário, que o Autor chega a compará-la a uma espécie de união hipostática, isto é, união do Verbo divino com a natureza humana. A idéia de um “invólucro” ou “intermediário”, uma vez que o Espírito precisa de um revestimento para que possa conviver com o corpo, faz parte dos contextos espíritas, sejam quais forem os nomes que se lhe dêem. É o perispírito, sem tirar nem por.

Como o perispírito, a reencarnação, por sua vez, também já teve adeptos na Igreja, embora contra ela se tenha pronunciado e firmado sentença o Concílio de Constantinopla. Mas o certo é que Orígenes, teólogo e exegeta, defendeu a tese da preexistência, o que, aliás, é fato muito citado. Outros teólogos, como se sabe, adotaram a tese “criacionista”, isto é, a criação da alma com o corpo ou para o corpo. Justamente nesse ponto, um dos maiores doutores de sua época - Santo Agostinho - se defrontou com dificuldades para conciliar a criação da alma com o “pecado original”. Quem o diz é ainda Bartmann, na mesma obra (já referida), e ele próprio, o autor de “Teologia Dogmática”, também encontra obscuridade. Vejamos: Se é incompreensível que a alma derive do ato corpóreo da geração, todavia também o criacionismo apresenta não pequenas dificuldades. Já Santo Agostinho não sabia explicar como a alma, criada por Deus, podia nascer com o pecado original. A dificuldade conserva seu valor também para nós. Outra dificuldade pode surgir da consideração de uma criação contínua até o fim do mundo, de um número incalculável de atos diretos de Deus. mas o ponto-chave do problema, como denuncia o Autor, está justamente nesta decorrência da tese “criacionista”: Pareceria, por fim, necessário admitir uma cooperação imediata de Deus, nas numerosas gerações manchadas pela culpa. Não se pode responder à primeira dificuldade senão recorrendo ao mistério do pecado original. E no mistério esbarra tudo, não há mais saída para o raciocínio...

Contrapondo-se à idéia da criação do Espírito juntamente com o corpo, a Doutrina Espírita propõe outra análise do problema, nestes termos:

“Donde vem a aptidão extranormal que muitas crianças em tenra idade revelam, para esta ou aquela arte, para esta ou aquela ciência, enquanto outras se conservam inferiores ou medíocres durante a vida toda?”

“Donde, em certas crianças, o instinto precoce que revelam para os vícios ou para as virtudes, os sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza, contrastando com o meio em que elas nasceram?” (O Livro dos Espíritos - questão 222).

Se, realmente, o Espírito fosse criado por Deus no ato do nascimento, seria o caso de admitir, ainda que por absurdo, criação de indivíduos que nascem com tendências para a perversão ou para a delinqüência. Seria obra de Deus?!...

A tese da preexistência explica as inclinações inatas para o bem ou para o mal, embora a Doutrina Espírita não negue a influência fortíssima da educação, do meio social, da cultura e de outros fatores contingentes. Mas o Espírito, ao voltar à Terra, pela reencarnação, traz certa bagagem de conhecimentos, virtudes ou vícios, responsáveis pelo curso de sua existência, com todos os altos e baixos deste mundo. Deus não iria criar para a vida um Espírito que já estivesse marcado com as paixões inferiores. Todos começam “simples e ignorantes” - ensina a Doutrina - mas o próprio arbítrio, que é indispensável à experiência individual, pode desviar o Espírito da rota mais justa e levá-lo aos despenhadeiros morais. “Simples e ignorantes” é a expressão textual da Doutrina “O Livros dos Espíritos - questões 115-121-133-634. É o ponto de partida. Daí por diante, cada qual adquire sua experiência através das vidas sucessivas. É um princípio que nos faz compreender a responsabilidade individual, ao passo que, se admitíssemos a criação juntamente com o corpo, chegaríamos a esta conclusão a fatal: se a criatura é má, se abusa de suas faculdades ou de seus recursos para dar expansão a tendências viciosas, não é responsável por seu procedimento, uma vez que nasceu assim, foi criada assim por Deus, colocada no corpo, ao nascer, com todas as suas mazelas morais. No entanto, o princípio da responsabilidade individual é válido no tempo e no espaço, segundo o Espiritismo.

Outra, portanto, é a perspectiva da reencarnação, que já teve defensores no seio da Igreja, embora condenada, mais tarde, como heresia. O desenvolvimento do Espírito modifica o perispírito, e este, pela ação plasmadora, tem influência sobre o corpo. Como já vimos, não apenas Platão, luminar da constelação grega da antigüidade, esposou a concepção trinária do homem, mas entre escolásticos também houve partidários dessa concepção. O homem tríplice não desagrega a unidade básica do EU. Com esta visão antropológica, a Doutrina Espírita situa o homem na Terra, em relação ao presente e ao passado, apontando-lhe o caminho do futuro, sem ilusões nem quimeras.

(Obreiros do Bem - Agosto de 1976)

OLM – Bicorporeidade e Transfiguração


Aparições de Espíritos de Vivos / Homens Duplos / Santo Afonso de Liguori e Santo Antonio de Pádua / Vespasiano / Transfiguração / Invisibilidade

Fonte: KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de José Herculano Pires.

114 – Esses dois fenômenos são variedades de manifestações visuais. Por mais maravilhosos que possam parecer à primeira vista, facilmente se reconhecerá, pelas explicações que deles se podem dar, que não saem da ordem dos fenômenos naturais. Ambos se fundam no princípio de que tudo o que foi dito sobre as propriedades do perispírito após a morte se aplica ao perispírito dos vivos.

Sabemos que o Espírito, durante o sono, recobra em parte a sua liberdade, ou seja, que ele se afasta do corpo. E é nesse estado que muitas vezes temos a ocasião de observá-lo. Mas o Espírito, tanto do vivo quanto do morto, tem sempre o seu envoltório seminatural, que pelas mesmas causas já referidas pode adquirir a visibilidade e a tangibilidade. Há casos bastante positivos que não podem deixar nenhuma dúvida a esse respeito. Citaremos somente alguns exemplos de nosso conhecimento pessoal, cuja exatidão podemos garantir, pois todos estão em condições de acrescentar outros, recorrendo às suas lembranças.

115. A mulher de um nosso amigo viu repetidas vezes, durante a noite, entrar no seu quarto, com luz acessa ou no escuro, uma vendedora de frutas da vizinhança que ela conhecia de vista, mas com a qual nunca havia falado. Essa aparição a deixou muito apavorada, tanto mais que a senhora, na época, nada conhecia de Espiritismo e o fenômeno se repetia com freqüência. A vendedora estava perfeitamente viva e de certo dormia naquela hora. Enquanto o seu corpo material estava em casa, seu Espírito e seu corpo fluídico estavam na casa da senhora. Qual o motivo? Não se sabe. Nesse caso, um espírita já experimentado lhe teria feito a pergunta, mas a senhora nem sequer teve essa idéia. A aparição sempre se desfazia sem que ela soubesse como, e sempre, após o seu desaparecimento, ela ia ver se todas as portas estavam bem fechadas, assegurando-se de que ninguém poderia ter entrado no seu quarto.

Essa precaução mostra que ela estava bem acordada e não era iludida por um sonho. De outra vez ela viu, da mesma maneira, um homem desconhecido, mas um dia viu seu irmão, que então se encontrava na Califórnia. A aparência era tão real que, no primeiro momento, pensou que ele havia regressado e quis falar-lhe, mas ele desapareceu sem lhe dar tempo. Uma carta recebida depois lhe provou que ele não havia morrido. Esta senhora era o que se pode chamar um médium vidente natural. Mas nessa época, como já dissemos, ela nunca ouvira falar de médiuns.

116. Outra senhora que reside na província, estando gravemente enferma, viu certa noite, cerca das dez horas, um senhor idoso da sua mesma cidade, que encontrava às vezes na sociedade mas com o qual não tinha intimidade. Estava sentado numa poltrona ao pé da sua cama e de vez em quando tomava uma pitada de rapé. Parecia velar por ela. Surpresa com essa visita àquela hora, quis perguntar-lhe o motivo, mas o senhor lhe fez sinal para não falar e dormir. Várias vezes tentou falar-lhe, e de cada vez ele repetia a recomendação. Acabou por adormecer.

Alguns dias depois, já restabelecida, recebeu a visita do mesmo senhor, mas em hora conveniente e de fato em pessoa. Estava vestido da mesma maneira, com a mesma tabaqueira e precisamente com os mesmos gestos. Certa de que ele a visitara durante a doença, agradeceu-lhe o trabalho que tivera. O senhor, muito espantado, disse que há tempos não tinha o prazer de vê-la. A senhora que conhecia os fenômenos espíritas, compreendeu o que se passara, mas não querendo entrar em explicações a respeito, contentou-se em dizer que provavelmente sonhara.

O provável é isso, dirão os incrédulos, os espíritos fortes, os que por essa expressão entendem pessoas esclarecidas. Mas o que consta é que essa senhora não dormia tanto como a outra. – Então sonhava acordada, ou seja, teve uma alucinação. – Eis a palavra final,a explicação de tudo o que não se compreende. Como já refutamos suficientemente essa objeção, prosseguiremos para aqueles que podem compreender-nos.

117. Eis, porém, um caso mais característico, e gostaríamos de ver como se poderia explicá-lo por um simples jogo de imaginação.

Um senhor, residente na província, jamais quis se casar, malgrado as instâncias da família. Haviam principalmente insistido a favor de uma jovem de cidade vizinha, que ele nunca vira. Certo dia, em seu quarto, foi surpreendido com a presença de uma jovem vestida de branco, a fonte ornada por uma coroa de flores. Ela lhe disse que era a sua noiva, estendeu-lhe a mão, que ele tomou nas suas e notou que tinha um anel. Em poucos instantes tudo desapareceu. Surpreso com essa aparição, e seguro de que estava bem acordado, procurou informar-se se alguém havia chegado durante o dia . Responderam-lhe que ninguém fora visto na casa.

Um ano depois, cedendo a novas solicitações de um parente, decidiu-se a ir ver aquela que lhe propunham. Chegou no Dia de Corpus-Christi. Todos voltavam da procissão e uma das primeiras pessoas que viu, ao entrar na casa, foi uma jovem que reconheceu como a que lhe aparecera. Estava vestida da mesma maneira, pois o dia da aparição havia sido também o de Corpus-Christi. Ficou atônito, e a moça, por sua vez, gritou de surpresa e sentiu-se mal. Voltando a si, ela explicou que já vira aquele senhor, nesse mesmo dia, no ano anterior. O casamento se realizou. Estava-se em 1835. Nesse tempo não se tratava dos Espíritos, e além disso ambos são pessoas extremamente positivas, dotadas da imaginação menos exaltada que pode haver no mundo.

Poderão dizer que ambos estavam tocados pela idéia da união proposta e que essa preocupação provocou uma alucinação. Mas não se deve esquecer que o futuro marido permanecera tão indiferente ao caso, que passou um ano sem ir ver a noiva que lhe ofereciam. Mesmo admitindo-se essa hipótese, restaria a explicar a semelhança da aparição, a coincidência das vestes com o Dia de Corpus-Christi, e finalmente o reconhecimento físico entre pessoas que jamais se haviam visto, circunstâncias que não podem ser produzidas pela imaginação.(1)

118. Antes de prosseguir, devemos responder a uma pergunta que inevitavelmente será feita: como o corpo pode viver enquanto o Espírito se ausenta? Poderíamos dizer que o corpo se mantém pela vida orgânica, que independe da presença do Espírito, como se prova pelas plantas, que vivem e não têm Espírito.Mas devemos acrescentar que, durante a vida, o Espírito jamais se retira completamente do corpo.

Os Espíritos, como alguns médiuns videntes, reconhecem o Espírito de uma pessoa viva por um traço luminoso que termina no seu corpo, fenômeno que jamais se verifica se o corpo estiver morto, pois então a separação é completa. É por meio dessa ligação que o Espírito é avisado, a qualquer distância que estiver, da necessidade de voltar ao corpo, o que faz com a rapidez do relâmpago. Disso resulta que o corpo nunca pode morrer durante a ausência do Espírito e que nunca pode acontecer que o Espírito, ao voltar, encontre a porta fechada, como tem dito alguns romancistas em estórias para recrear. (O Livro dos Espíritos, nº 400 e seguintes).

119. Voltemos ao nosso assunto. O espírito de uma pessoa viva, afastado do corpo, pode aparecer como o de um morto, com todas as aparências da realidade. Além disso, pelos motivos que já explicamos, pode adquirir tangibilidade momentânea. Foi esse fenômeno, designado por bicorporeidade, que deu lugar às estórias de homens duplos, indivíduos cuja presença simultânea se constatou em dois lugares diversos. Eis dois exemplos tirados, não das lendas populares, mas da História Eclesiástica.

Santo Afonso de Liguori foi canonizado antes do tempo exigido por se haver mostrado simultaneamente em dois lugares diferentes, o que passou por milagre.

Santo Antonio de Pádua estava na Espanha e no tempo em que ali pregava, seu pai, que se encontrava em Pádua, ia sendo levado ao suplício, acusado de assassinato. Nesse momento Santo Antonio aparece, demonstra inocência do pai e dá a conhecer o verdadeiro criminoso que, mais tarde sofreu o castigo. Constatou-se que naquele momento Santo Antonio não havia deixado a Espanha. Santo Afonso, evocado e interrogado por nós sobre o fato referido, deu as seguintes respostas.(2)

1. Poderias dar-nos a explicação desse fenômeno?

— Sim. Quando o homem se desmaterializou completamente por sua virtude, tendo elevado sua alma a Deus, pode aparecer em dois lugares ao mesmo tempo. Eis como: o Espírito encarnado, sentindo chegar o sono, pode pedir a Deus para se transportar a algum lugar. Seu Espírito ou sua alma, como quiseres, abandona então o corpo, seguido de uma porção do seu perispírito, e deixa a matéria imunda num estado vizinho da morte. Digo vizinho da morte porque o corpo permanece ligado ao perispírito e a alma à matéria, por um liame que não pode ser definido.O corpo aparece então no lugar pedido. Creio que é tudo o que desejas saber.

2. Isso não nos dá a explicação da visibilidade e da tangibilidade do perispírito?

— Estando desligado da matéria, segundo o seu grau de elevação o Espírito pode se tornar tangível à matéria.

3. É indispensável o sono do corpo para o aparecimento do Espírito em outros lugares?

— A alma pode se dividir quando se deixa levar para longe o corpo. Pode ser que o corpo não durma,embora seja isso muito raro, mas então estará em perfeita normalidade. Estará sempre mais ou menos em êxtase. (3)

Nota de Kardec: A alma não se divide, no sentido literal da palavra. Ela irradia em várias direções e pode assim manifestar-se em muitos lugares, sem se fragmentar. É o mesmo que se dá com a luz ao refletir-se em muitos espelhos.

4. Estando um homem mergulhado no sono, enquanto seu Espírito aparece ao longe, que aconteceria se fosse subitamente despertado?

— Isso não aconteceria, porque se alguém tivesse a intenção de acordá-lo o Espírito voltaria ao corpo, antecipando a intenção, pois o Espírito lê o pensamento.

Explicação inteiramente idêntica nos foi dada muitas vezes por Espíritos de pessoas mortas ou vivas. Santo Afonso explica o fato da presença dupla, mas não oferece a teoria da visibilidade e da tangibilidade.

120. Tácito refere um caso semelhante:

Durante os meses que Vespasiano passou em Alexandria, esperando a volta periódica dos ventos estivais e da estação em que o mar oferece segurança, muitos prodígios aconteceram, pelos quais se manifestou a proteção do céu e o interesse dos deuses por aquele príncipe.

Esses prodígios aumentaram o desejo de Vespasiano de visitar a morada do Deus para consultá-lo a respeito do Império. Ordenou que o templo fosse fechado para todos. Entrou e estava inteiramente atento ao que o oráculo ia pronunciar, quando percebeu atrás dele um dos egípcios mais importantes, chamado Basilido, que ele sabia estar doente em lugar distante muitos dias de Alexandria. Perguntou aos sacerdotes se Basilido viera ao templo naquele dia, informou-se com os transeuntes se o tinham visto na cidade e por fim enviou homens a cavalo e assegurou-se de que, naquele momento, ele se encontrava a oitenta milhas de distância. Então não teve mais dúvidas de que a visão era sobrenatural e o nome de Basilido ficou sendo para ele um oráculo.(Tácito, Histórias, livro IV, caps. 81 e 82 traduço de Burnouf.)(4)

121. A pessoa que se mostra simultaneamente em dois lugares diversos tem portanto dois corpos. Mas desses corpos só um é real, o outro não passa de aparência. Pode-se dizer que o primeiro tem a vida orgânica e o segundo a anímica. Ao acordar os dois corpos se reúnem e a vida anímica penetra o corpo material. Não parece possível, pelo menos não temos exemplos, e a razão parece demonstrar que, quando separados, os dois corpos possam gozar simultaneamente e no mesmo grau da vida ativa e inteligente. Ressalta, ainda, do que acabamos de dizer, que o corpo real não poderia morrer enquanto o corpo aparente permanece visível: a aproximação da morte chama sempre o Espírito para o corpo, mesmo que só por um instante. Disso resulta também que o corpo aparente não poderia ser assassinado, pois não é orgânico e nem formado de carne e osso: desaparece no momento em que se quiser matá-lo.(5)

122. Passemos a tratar do segundo fenômeno, o da transfiguração, que consiste na modificação do aspecto de um corpo de vivo. Eis, a respeito,um caso cuja perfeita autenticidade podemos garantir, ocorrido entre os anos de 1858 e 1859, nas cercanias de Saint-Étienne:

Uma jovem de uns quinze anos gozava da estranha faculdade de se transfigurar, ou seja, de tomar em dados momentos todas as aparências de algumas pessoas mortas. A ilusão era tão completa que se acreditava estar na presença da pessoa, tamanha a semelhança dos traços do rosto, do olhar, da tonalidade da voz e até mesmo das expressões usuais na linguagem. Esse fenômeno repetiu-se centenas de vezes, sem qualquer interferência da vontade da jovem. Muitas vezes tomou a aparência de seu irmão, falecido alguns anos antes, reproduzindo-lhe não somente o semelhante, mas também o porte e a corpulência.

Um médico local, que muitas vezes presenciara esses estranhos fenômenos, querendo assegurar-se de que não era vítima de ilusão, fez interessante experiência. Colhemos a informações dele mesmo, do pai da moça e de muitas outras testemunhas oculares, bastante honradas e dignas de fé. Teve ele a idéia de pesar a jovem no seu estado normal e durante a transfiguração, quando ela tomava aparência do irmão que morrera aos vinte anos e era muito maior e mais forte do que ela. Pois bem: verificou que na transfiguração o peso da moça era quase o dobro.

A experiência foi conclusiva, sendo impossível atribuir a aparência a uma simples ilusão de óptica. Tentemos explicar esse fato, que sempre foi chamado de milagre mas que chamamos simplesmente de fenômeno.

123. A transfiguração pode ocorrer, em certos casos, por uma simples contração muscular que dá à fisionomia expressão muito diferente, a ponto de tornar a pessoa irreconhecível. Observamo-la freqüentemente com alguns sonâmbulos. Mas, nesses casos, a transformação não é radical. Uma mulher poderá parecer jovem ou velha, bela ou feia, mas será sempre mulher e seu peso não aumentará nem diminuirá. No caso de que tratamos é evidente que há algo mais. A teoria do perispírito nos vai pôr no caminho.

Admite-se em princípio que o Espírito pode dar ao seu perispírito todas as aparências. Que por uma modificação das disposições moleculares, pode lhe dar a visibilidade, a tangibilidade e em conseqüência a opacidade. Que o perispírito de uma pessoa viva, fora do corpo pode passar pelas mesmas transformações e que essa mudança de estado se realiza por meio da combinação dos fluidos.

Imaginemos então o perispírito de uma pessoa viva, não fora do corpo, mas irradiando ao redor do corpo de maneira a envolvê-lo como uma espécie de vapor. Nesse estado ele pode sofrer as mesmas modificações de quando separado. Se perder transparência, o corpo pode desaparecer, tornar-se invisível, velar-se como se estivesse mergulhado num nevoeiro. Poderá mesmo mudar de aspecto, ficar brilhante, de acordo com a vontade ou o poder do Espírito. Outro Espírito, combinando o seu fluido com esse, pode substituir a aparência dessa pessoa, de maneira que o corpo real desapareça, coberto por um envoltório físico exterior cuja aparência poderá variar como o Espírito quiser.

Essa parece ser a verdadeira causa do fenômeno estranho — e raro, convém dizer, — da transfiguração. Quanto à diferença de peso, explica-se da mesma maneira que a dos corpos inertes. O peso do próprio corpo não varia, porque a sua quantidade de matéria não aumenta, mas o corpo sofre a influência de um agente exterior que pode aumentar-lhe ou diminuir-lhe o peso relativo, segundo explicamos nos números 78 e seguintes. É provável, portanto, que a transfiguração na forma de uma criança diminua o peso de maneira proporcional.

124. Concebe-se que o corpo possa tomar uma aparência maior que a sua ou das mesmas dimensões, mas como poderia tornar-se menor, do tamanho de uma criança, como acabamos de dizer? Nesse caso, o corpo real não deveria ultrapassar os limites do corpo aparente? Por isso não dizemos que o fato se tenha verificado, mas quisemos apenas mostrar, referindo-nos à teoria do peso específico, que o peso aparente poderia também diminuir.

Quanto ao fenômeno em si, não afirmamos nem negamos a sua possibilidade. No caso de ocorrer, o fato de não se poder explicá-lo satisfatoriamente não o infirmaria. É preciso não esquecer que estamos no começo desta ciência e que ela ainda está longe de haver dito sua última palavra sobre este ponto, como sobre muitos outros. Aliás, as partes excedentes do corpo poderiam perfeitamente ser tornadas invisíveis.

A teoria do fenômeno da invisibilidade ressalta naturalmente das explicações precedentes e das que se referem ao fenômeno de aportes, nº 96 e seguintes.(6)

125. Teríamos de falar do estranho fenômeno dos agêneres, que por mais extraordinário que possa parecer á primeira vista, não é mais sobrenatural do que os outros. Mas como já o explicamos na Revista Espírita (fevereiro de 1859) achamos inúteis repetir aqui os seus detalhes(7). Diremos apenas que é uma variedade de aparições tangíveis.

É uma condição em que certos Espíritos podem revestir momentaneamente as formas de uma pessoa viva, a ponto de produzir perfeita ilusão. (Do grego: a, privativo, e géine, géinomai, gerado: não-gerado)(8)

(1) Tenta-se hoje explicar os casos dessa natureza pela telepatia, como se vê no livro de Tyrrell. “Aparições”. Mas essas teorias parapsicológicas são apenas tentativas de escapar à explicação espírita e se tornam ridículas pelos expedientes absurdos de que têm de servir-se. Como notou o prof. Harry Price, da Universidade de Oxtord, Inglaterra, o próprio Tyrrell reconhece que sua teoria “deixa grande quantidade de casos sem explicar”. Isso no prefácio do livro. Na verdade, só a teoria explica até hoje, todos os casos, sem as incongruências dessas hipóteses engenhosas, como Price chamou a de Tyrrell. (Ver: Apparitions, G. N. M Tyrrell, Pantheon Books, New York, 1952, ou tradução castelhana: Apariciones, Editorial Paidós, Buenos Aires, 1965, versão de Juan Rojo. (N. do T.)

(2) Os Espíritos elevados não se recusam a ensinar os que sinceramente desejam aprender. A evocação é um apelo humilde e não uma fórmula exigente, Kardec só fazia as evocações que fossem aprovadas pelo guia da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que era São Luis. Veja-se, na Revista Espírita, a secção Palestras Familiares de Além túmulo e a secção de boletins dos trabalhos da Sociedade. (N. do T.)

(3) Ernesto Bozzano relata casos de comunicações por psicografia ou aparição de pessoas em estado de vigília,mas sempre em momentos de distração ou cochilo. As pesquisas parapsicológicas atuais consideram esses casos como de telepatia, mas sempre admitindo um estado de inconsciência ou semiconsciência como condição necessária. Muitos parapsicólogos já admitem o fenômeno de “projeção do eu” que corresponde à irradiação da alma, de que trata Kardec na nota seguinte à explicação de Santo Afonso. (N. do T.)

(4) Este episódio histórico adquire maior importância quando sabemos que os egípcios se dedicavam a práticas de desdobramento ou “projeção do eu”, servindo-se até mesmo de drogas alucinógenas em seus templos. Experiências atuais confirmam esses fatos. (N. do T.)

(5) Ver na Revista Espírita de janeiro de 1859 o artigo O Duende de Bayonne; de maio de 1859, O Liane entre o Espírito e o corpo; de novembro de 1859, A alma errante; de janeiro de 1860. Espírito de um lado e corpo de outro; março de 1860, Estudos sobre o Espírito de pessoas vivas, o doutor V e a senhorita I; de abril de 1860, o fabricante de São Petersburgo, aparições tangíveis; de novembro de 1860, História de Maria d´Agreda; de julho de 1861, Uma aparição providencial. (Nota de Allan Kardec)

(6) Há numerosos casos de observação de uma máscara transparente sobre o rosto do médium, reproduzindo o rosto do Espírito comunicante. Observamos um desses casos em 1946, em São Paulo, com o médium Urbano de Assis Xavier. Nesses casos, como se vê, acima, a máscara se torna pela combinação fluídica do perispírito do médium com o do Espírito comunicante. É fenômeno de sintonia e não de penetração do Espírito no corpo do médium. (N. do T.)

(7) Como se vê, a teoria dos agêneres se encontra apenas na Revista Espírita, o que ressalta a importância dessa coleção de Kardec, somente agora publicada em nossa língua. (N. do T.)

(8) Estas explicações de Kardec foram posteriormente confirmadas por numerosas experiências científicas e ocorrências espontâneas, em toda as partes do mundo. Nada a não ser hipóteses gratuitas, que caíram sucessivamente por si mesmas, até hoje pôde contradizer as teorias, apresentadas neste capítulo. As experiências metapsíquicas, desde as realizadas pelo prof. Karl Friedrik Zolner, da Universidade de Leipzig, na Alemanha, com notável, equipe de pesquisadores, até as experiências famosas de Richet, Gustave Geley, Eugene Osty, Paul Gibier, na França, explica-se por estas teorias. Recentemente, no campo das pesquisas parapsicológicas, mais restritas e cautelosas, a confirmação vem se fazendo da mesma maneira. As experiências de Soal e Wathely Carington, na Universidade de Cambridge, Inglaterra, com levitação e voz-direta; as de Harry Price, da Universidade de Oxford, com telecinesia (movimento, ocultação e reaparecimento de objetos); os relatos de Louise Rhine, de Duke University, EUA, sobre “alucinações visuais referentes a mortos” e os de Karl Gustav Jung no mesmo sentido provam isso. (N. do T.)

domingo, 2 de agosto de 2009

Espiritismo: Doutrina Indestrutível e Reveladora


Por Rogério Coelho

"Os Espíritos não ensinam senão justamente o que é necessário para guiar o homem no caminho da Verdade, mas abstêm-se de revelar-lhe o que pode descobrir por si mesmo". Allan Kardec (1)

O Singular Discípulo de Pestalozzi, prestou o mais eminente serviço à Humanidade, chamando a atenção e provocando discussões sobre fatos que até então pertenciam ao domínio mórbido e funesto das superstições religiosas...

No ano X da era do Espiritismo filosófico, iniciada com a publicação de "O Livro dos Espíritos", já suas raízes se estendiam de um a outro polo.

O próprio Kardec, teve oportunidade de testemunhas (2)

"esta circunstância inaudita na história das doutrinas que lhe dá força excepcional e irresistível poder de ação. De fato, se a perseguiram num ponto, em determinado país, será materialmente impossível que a persigam em toda parte e em todos os países. Em contraposição a um lugar onde lhe embaracem a marcha, haverá mil outros em que florescerá. Ainda mais: Se a ferirem num indivíduo, não poderão feri-la nos Espíritos, que são a fonte donde ela promana. Ora, como os Espíritos estão em toda parte e existirão sempre, se, por um acaso impossível, conseguissem sufocá-la em todo o Globo, ela reapareceria pouco tempo depois, porque repousa sobre um fato que está em a Natureza e não se podem suprimir as leis da Natureza. Eis aí o de que devem persuadir aqueles que sonham com o aniquilamento do Espiritismo".

Kardec conseguiu concentrar as forças dispersas, erguendo o granítico e indestrutível monumento, único no mundo, quadro vivo da verdadeira história do Espiritismo moderno, arquivo precioso para a posteridade, com os inexpugnáveis testemunhos dos Benfeitores da Humanidade: "O Livro dos Espíritos".

A Doutrina Espírita é o Cristianismo Redivivo. Veio completar o ensino do Cristo. Não ensina nada diferente daquilo que o Mestre Maior ensinou; apenas vem tornar inteligíveis Suas palavras muitas vezes esmaecidas no denso nevoeiro do parabolismo ou ocultas nos meandros dos sentidos figurados.

O Espiritismo ainda que só fizesse forrar o homem à dúvida relativamente à Vida Futura, teria feito mais pelo seu aperfeiçoamento moral do que todas as leis disciplinares, que o detêm algumas vezes, mas que não o transformam.

Segundo Kardec, o que significa dizer, segundo a Verdade (3),

"O Espiritismo, longe de negar ou destruir o Evangelho, vem, ao contrário, confirmar, explicar e desenvolver, pelas novas leis da Natureza, que revela, tudo quanto o Cristo disse e fez; elucida os pontos obscuros do ensino cristão, tornando inteligível certas partes do Evangelho que antes pareciam inverossímeis, fazendo com que qualquer criatura veja melhor o seu alcance, facultando a possibilidade de insofismável distinção entre a realidade e a alegoria. Com as lentes da Doutrina Espírita, o Cristo cresce: já não é simplesmente um filósofo, é um Messias Divino.

Demais, se se considerar o poder moralizador do Espiritismo, pela finalidade que assina a todas as ações da Vida, por tornar quase tangíveis as conseqüências do bem e do mal, pela força moral, a coragem e as consolações que dá nas aflições, mediante inalterável confiança no futuro, pela idéia de ter cada um perto de si os seres a quem amou, a certeza de os rever, a possibilidade de confabular com eles; enfim, pela certeza de que tudo quanto se fez, quanto se adquiriu em inteligência, sabedoria e moralidade, até à última hora de Vida somática, não fica perdido, que tudo aproveita ao adiantamento do Espírito, reconhece-se que o Espiritismo realiza todas as promessa do Cristo a respeito do "Consolador" anunciado.

Se a esses resultados adicionarmos a rapidez prodigiosa da propagação do Espiritismo, apesar de tudo quanto fazem por abatê-lo, não se poderá negar que a sua vinda seja providencial, visto que ele triunfa de todas as forças e de toda a má-vontade dos homens. A finalidade com que é aceito por grande número de pessoas, sem constrangimento, apenas pelo poder da idéia, prova que ele corresponde a uma necessidade, qual a de crer o homem em alguma coisa para encher o vácuo aberto pela incredulidade.

São em grande número os aflitos; não é, pois, de admirar que tanta gente acolha uma Doutrina que consola, de preferência às que desesperam, porque os deserdados, mais do que aos felizes do mundo é que o Espiritismo se dirige. O doente vê chegar o médico com maior satisfação do que aquele que está bem de saúde; ora, os aflitos são os doentes e o Consolador é o médico.

Vós que combateis o Espiritismo, se quereis que o abandonemos para vos seguir; dai-nos mais e melhor do que ele; curai com maior segurança as feridas da Alma; dai mais consolações, mais satisfações ao coração esperanças mais legítimas, maiores certezas; fazei do futuro um quadro mais racional, mais sedutor; porém, não julgueis vencê-lo com a perspectiva do nada, com a alternativa das chamas do inferno, ou com a inútil contemplação perpétua".

Fontes:

(1) - Kardec, A. in "A Gênese" - Capítulo I, item 50

(2) - Kardec, A. in "A Gênese" - Capítulo I, item 47

(3) - Kardec, A. in "A Gênese" - Capítulo I, itens 41 a 44

A Doutrina Espírita é o Cristianismo Redivivo. Veio completar o ensino do Cristo

(Jornal Mundo Espírita de Dezembro de 1997)

Apometria e as práticas espíritas

Por Jorge Hessen

"Mais vale repelir dez verdades que admitir
uma só mentira, uma só teoria falsa".
Erasto(1)

Muitos confrades recorrem às instituições que praticam apometria, porque o "tratamento" é mais "forte". Afirmam. Os apômetras incautos, hipnotizados pelas trevas, mantêm esse tipo de atitude bizarra sob os aplausos das suas vítimas, psíquica e mentalmente aprisionadas.

Se a apometria é mais "forte" que a reunião de desobsessão, por que a omissão dos Espíritos Superiores? Por que eles se calam sobre o assunto? Curioso isso, não? O silêncio dos Espíritos Superiores é, sem dúvida, um presságio de que tal prática é de mau agouro, e, por isso mesmo, ela é circunscrita a poucos grupos que deveriam deletar o nome Espiritismo dos seus estatutos.

Para quem desconhece, garimpamos alguns filetes de ouro que encontramos nas proposições dessa tal "avançadíssima terapia". Os apômetras confirmam que "a apometria é mais fraterna, por ser mais eficaz".(2) Atua no cerne da obsessão e, com visão de conjunto, pode auxiliar a medicina do futuro na cura holística. (Sic)

Estertoram nas roucas vozes que "a apometria acelera, com qualidade, os morosos atendimentos desobsessivos que, ainda, são realizados em muitas casas de nosso país".(3) (pasmem!) Gritam que "o êxito da apometria reside na utilização da faculdade mediúnica, para se entrar em contato com o mundo espiritual de maneira mais fácil e objetiva, sempre que se quer. Pode, pois, ser utilizada como técnica eficaz no tratamento das obsessões e a eficácia acontece em virtude de os Espíritos protetores estarem no mesmo plano dos assistidos, podendo, portanto, agir com maior profundidade e mais rapidez". (Que coisa, hein!?) Desconhecem, tais confrades, que "a cura das obsessões graves requer muita paciência, perseverança e devotamento."(4) Nossa consciência doutrinária não aceita tanta facilidade - visto que não admitimos seja possível uma transformação tão rápida em Espíritos que cultivam o ódio tão intensamente.

Não satisfeitos, difundem outra pérola: "Os diagnósticos são muito mais precisos e detalhados;(5) as operações astrais são executadas com alta técnica e com o emprego de aparelhagem sofisticada de hospitais muito bem montados em regiões elevadas do Astral Superior. Por ressonância vibratória, o desencarnado recebe certo alívio, uma espécie de calor benéfico que se irradia do corpo vital, mas causa no encarnado o mal-estar de que este se queixa".

Locupletam-se de êxtase com o achado aurífero e afirmam: "na medida em que a humanidade evolui, os véus do desconhecido vão se descortinando e o conhecimento das leis espirituais, que antes era privilégio de poucos, vai sendo revelado, abertamente, aos pesquisadores isentos de preconceitos".

Distantes do regime da lógica, os apômetras proclamam falácias cristalinas do tipo: "Do ponto de vista do Budismo e da Teosofia, os veículos de manifestação da consciência (holossoma) são divididos em sete. Já na ótica do espiritualismo, do Espiritismo heterodoxo (sic) e da Conscienciologia (entre outras linhas de pensamento mais novas), há apenas três veículos (os corpos físico, astral e mental), sendo o energético (duplo etérico ou energossoma) apenas um invólucro que não (com) porta a consciência".(6)

Analisemos esta outra afirmação deles: "A apometria trabalha com sintonia. Não incorpora egos. Não incorpora veículos de manifestação da consciência. Uma vez encerrado o atendimento na casa apométrica, a sessão apométrica pode continuar no astral, a exemplo do que ocorre com sessões espíritas convencionais".(7) (Entenderam? Pois é!) E esta aqui: "com a ajuda dos amparadores extrafísicos (mentores) da sessão apométrica, a sensibilidade espiritual do médium permite uma sintonia com determinada faixa consciencial do paciente e que faça varredura bioenergética e psicométrica em seus chacras, nádis, parachacras e paranádis". (?)

Divaldo Franco admoesta sobre a esquisitice de se colocar "obsessores em cápsulas espaciais" e os dispararem para o mundo da erraticidade. "Não iremos examinar a questão esdrúxula desse comportamento, mas, se eu, na condição de espírito imperfeito que sou, chegasse desesperado a um lugar, pedindo misericórdia e apoio na minha loucura, e outrem, o meu próximo, me exilasse para o magma da Terra, para eu experimentar a dureza de um inferno mitológico ou ser desintegrado, eu renegaria aquele Deus que inspirou esse adversário da compaixão. Ou, se me mandasse em uma cápsula espacial para que fosse expulso da Terra... Com qual autoridade? Quando Jesus disse que o seu reino é dos miseráveis?" (8)

Obsessores retirados do campo mental do obsidiado "a fortiori" e enviados a "outros planetas", ou a estranhos locais ou dimensões extrafísicas, reafirma que, entre os ludibriados apômetras, há grotesca falta de conhecimento da Doutrina Espírita. Acautelemo-nos, pois não basta assiduidade à Casa Espírita. É indispensável que estudemos Kardec com muita seriedade e persistência. Os enunciados contidos na Codificação exigem cautela ao interpretá-los e, sobretudo, humildade ao exercê-los.

Observem o que encontramos neste trecho: "Os que preferem o método clássico de doutrinação religiosa, entronizado ao longo do século XX nos centros espíritas e espiritualistas brasileiros, criticam a Apometria, porque esta não "evangeliza" o espírito obsessor. Todavia, em complexas obsessões espirituais, a tentativa de "evangelizar", "sensibilizar" ou "conscientizar" o espírito obsessor, não surte efeito. Evangelizar magos negros é tão eficaz quanto ensinar lições de fraternidade a um psicopata". E eles concluem desta forma o raciocínio: "Seria "mais fraterno" deixar os pacientes com os chips trevosos e os magos negros e seus asseclas soltos, fazendo o que fazem? Analogamente, seria mais fraterno se nossos policiais não portassem armas de fogo, pois poderiam ferir os bandidos que nos assaltam e nos matam? A correlação é a mesma".(9) (aspas, destaque, etc., tudo, por conta dos apômetras).

O tribuno baiano recorda que "A nossa tarefa é de iluminar, não é de eliminar. O espírito mau, perverso, cruel é nosso irmão na ignorância".(10) A rigor, o uso de energia para afastar obsessores, sem a necessária reforma íntima, indispensável à libertação real dos envolvidos nos dramas obsessivos, contradiz os princípios básicos do Espiritismo, pois, o simples afastamento das entidades rancorosas não resolve a questão. Por essa razão, a apometria, especialmente por suas leis e rituais, não é técnica que se enquadra nos princípios doutrinários espíritas, não sendo, portanto, uma prática recomendável na casa espírita.

Nesse mundo da fantasia da apometria, encontramos uma esmeralda. Vejamos essa: "A principal característica da Apometria radica na abrangência de sua assistência espiritual. A Apometria investiga o corpo astral do paciente, seu habitat (ambiente doméstico e/ou profissional), obsessores locais e não-locais (baseados em outros níveis do umbral). É muito mais poderosa que o passe e a doutrinação convencionais. Detecta e retira equipamentos extrafísicos mecânicos e eletrônicos (paratecnologia) do psicossoma (corpo astral) dos pacientes. Os passes não são meios suficientes nem instrumentos exclusivos para a retirada de chips extrafísicos dos pacientes. Em determinadas circunstâncias, remédios homeopáticos de alta potência destroem ou descolam equipamentos extrafísicos aderidos à aura ou ao psicossoma do paciente. Há uma prática bioenergética chamada "MBE" (mobilização básica energética) (sic) bastante eficiente na destruição de implantes de paratecnologia negativa. A maioria da humanidade é imatura consciencialmente (crianças espirituais): não lê, não estuda, não faz práticas bioenergéticas."(11) (!?) (ficamos verdes, com uma tremenda sensação de impotência diante disso tudo).

Como se observa, os apômetras adotam terminologias diversas daquelas utilizadas pela Doutrina Espírita e conceitos de crenças orientais. Além disso, seus arrazoados batem de frente com o bom senso kardeciano. Que saibamos, não houve manifestações sobre o tema em várias partes do mundo, por meio de médiuns conceituados. Devemos considerar, portanto, que não houve o Controle Universal dos ensinos da técnica, como preconizava Kardec.(12)

Os termos utilizados pelos apômetras impressionam, realmente, os desavisados. Senão, vejamos: "salto quântico, spin, despolarização de memória, campos magnéticos, chips astrais, contagem em português ou grego e pulsos energéticos. As percepções espirituais dos médiuns de suporte das seções de Apometria se dão por clarividência objetiva, intuitiva ou mental. Em diapasão mental adequado, atingem potência quadrática (elevada ao quadrado), em que dez trabalhadores afinados, e em alta sinergia, valem por cem pessoas (o que também se aplica a outros grupos). Daí a importância do grupo apômetra desenvolver aguçado nível técnico, mediúnico e sinérgico".(13)

A essa altura do artigo, os apômetras devem estar horrorizados, dizendo entre si: - O Jorge Hessen deve ter vários chips astrais incrustados no perispírito, deteriorando seu raciocínio... Mas não estamos sós nesse pensamento. Veja o que nosso irmão Divaldo Franco, durante uma larga entrevista concedida no programa Presença Espírita da Rádio Boa Nova, de Guarulhos (SP), em agosto/2001, afirmou: "Não irei entrar no mérito, nem no estudo da apometria, porque eu não sou apômetra, eu sou espírita. O que posso dizer é que a apometria, da forma como os apômetras interpretam, não é Espiritismo, porquanto as suas práticas estão em total desacordo com as recomendações de "O Livro dos Médiuns".(14) Com essas esdrúxulas práticas, abrem-se precedentes graves para a implantação de rituais, totalmente inaceitáveis na prática espírita, que é, fundamentalmente, a doutrina da fé raciocinada. Na prática e nos métodos de libertação dos obsessores, a violência que ditos métodos apresentam, a mim pessoalmente, parece-me tão chocante, que me faz recordar a Lei de Talião, que Moisés suavizou com o Código Legal e que Jesus sublimou através do amor. (...) (15)

Eis o que pensamos a respeito do assunto. Nossos argumentos são por demais consistentes, pois se baseiam em estudos e experiências kardecianas. De nossa parte, sem estrangulamento de qualquer linha de raciocino, acreditamos ser a apometria um método supostamente terapêutico que se pode estudar longe das hostes espíritas para ser melhor avaliado. Desobsessão é coisa séria e não admite placebos inócuos.

Concluímos com a severa admoestação: "Se alguém prefere a apometria, divorcie-se do Espiritismo. É um direito! Mas não misture, para não confundir. (...)". (16)

FONTES:
(1) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, Ed. FEB, cap. XX, item 230, p. 292.
(2) Disponível em www.comunidade-espiritual.com/blog.php?sub_section=view&id=2654. Acesso em 18-03-08.
(3) Disponível em http://aumpram.org.br/apometria.html. Acesso em 15-03-08.
(4) Kardec, Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB , 1998, Cap. 28, item 84.
(5) Disponível em www.geocities.com/Vienna/Strasse/5774/atend.htm. Acesso em 18-03-08.
(6) Disponível em www.comunidade-espiritual.com/blog.php?sub_section=view&id=2654. Acesso em 15-03-08.
(7) Disponível em http:// harmonizacaoambiental.blogspot.com/2008/06/apometria.html. Acesso em 15-03-08.
(8) Entrevista, de Divaldo Pereira Franco no programa Presença Espírita da Rádio Boa Nova, de Guarulhos (SP), em Agosto/2001.
(9) Disponível em http://harmonizacaoambiental.blogspot.com/2008/06/apometria.html. Acesso em 15-03-08.
(10) Entrevista, de Divaldo Pereira Franco no programa Presença Espírita da Rádio Boa Nova, de Guarulhos (SP), em Agosto/2001.
(11) Disponível em http://www.comunidade-espiritual.com/blog.php?sub_section=view&id=2654. Acesso em 18-03-08.
(12) Kardec utilizou na Codificação do Espiritismo o "Controle universal do ensino dos Espíritos", conforme se lê em "O Evangelho segundo o Espiritismo", Introdução, item II - AUTORIDADE DA DOUTRINA ESPÍRITA".
(13) Idem.
(14) Entrevista, de Divaldo Pereira Franco no programa Presença Espírita da Rádio Boa Nova, de Guarulhos (SP), em Agosto/2001.
(15) Idem.
(16) Idem.

Os Sonhos, no Espiritismo e na Psicanálise

13:38 Posted by Fabiano Vidal , , , , 1 comment
Por João Alberto Vendrani Donha

Durante centenas de anos os sonhos foram encarados como portadores de vaticínios transmitidos por deuses ou forças superiores, e que, de alguma forma, poderiam ser interpretados, respondendo a necessidades imediatas de indivíduos ou grupos. Na filosofia, chegou a ser aceito como resultado da elevação da alma ou do desprendimento do espírito das amarras do corpo promovido pelo sono. Na ciência ocidental, a medicina cartesiana tentou reduzi-lo a manifestação inútil de grupos isolados de células do cérebro adormecido respondendo a estímulos externos casuais.

A psicanálise, apesar de confessadamente mecanicista, recuperou o sentido e o potencial significante dos sonhos, tornando-os passíveis de interpretação e conhecimento, o que, aliás, nunca fora renegado pela crença popular. Mas, manteve uma redução conceitual: sonhos são realizações de desejos.

O Espiritismo, com meio século de antecedência em relação à psicanálise, trouxe a primeira teoria realmente científica sobre o sonho. E, também, a mais completa, pois o admite como sendo desde uma simples manifestação puramente cerebral, passando pela identificação do sonho como realização do desejo e, ampliando sobremaneira o conceito, quando identifica o desprendimento do espírito e suas atividades extra-corpóreas como constituindo matéria dos sonhos.

Freud chegou muito perto disso, mas o enorme preconceito que ele e seus contemporâneos nutriam pelo ocultismo o impediu de ir além. É importante observar que em seu tempo, tanto quanto hoje em dia na Europa, o Espiritismo é apenas mais uma repartição na grande estante do ocultismo. Então, como hoje, os europeus empregavam amiúde o termo ocultismo como sinônimo de espiritismo. Freud declarou o ocultismo como inimigo da psicanálise! Ele relaciona a perda de valores pela guerra (1914/18) e a troca do paradigma mecanicista pelo relativista como facilitadores da expansão do ocultismo. (Exatamente os mesmo fatores que alguns antropólogos modernos relacionam como responsáveis pelo declínio do Espiritismo). Reconhece que há um parentesco aparente entre psicanálise e ocultismo – o inconsciente e seus mistérios, bem como o fato de a psicanálise ser encarada como "mística" – mas, diz, o ocultista não procura o conhecimento: ele é um crente buscando confirmação. Pode ser que o analista encontre confirmação para alguns fatos "ocultos", mas o ocultista irá generalizar e proclamar o triunfo de suas opiniões. Por isso mesmo, segundo ele, "a aceitação geral do ocultismo provocaria um colapso do pensamento crítico, dos padrões deterministas e da ciência mecanicista". Ele não deixa de ter razão, uma vez que a aceitação geral do Espiritismo provocará sim um colapso, não só na ciência, mas, também, na economia, na política, na sociedade enfim, pela substituição de paradigmas: o lucro, pelo desapego.

Quanto aos sonhos, ele reconhece que podem ser confundidos com "fantasias noturnas sem acréscimos", "repetição de experiências reais do dia" e com "sonhos telepáticos". Sua descrição destes últimos os deixa iguaizinhos aos sonhos espíritas, porém, ele os considera "uma percepção de algo externo perante o qual a mente permanece passiva e receptiva". Mas ele prefere denominar tudo isto de "outros produtos mentais do estado de sono" e, não, como "sonhos". Sonhos, dignos deste nome, seriam apenas quando há condensação, deformação, dramatização e, acima de tudo, realização de desejo.

Leon Denis divide os sonhos em três categorias: "Primeiramente, o sonho ordinário, puramente cerebral, simples repercussão de nossas disposições físicas ou de nossas preocupações morais". A segunda categoria equivale ao "primeiro grau de desprendimento do Espírito", quando este "flutua na atmosfera, sem se afastar muito do corpo; mergulha, por assim dizer, no oceano de pensamentos e imagens que de todos os lados rolam pelo espaço". "Por último vêm os sonhos profundos, ou sonhos etéreos. O Espírito se subtrai à vida física, desprende-se da matéria, percorre a superfície da Terra e a imensidade..." Mas o grande escritor espírita não observou, ao contrário do que está em "O Livro dos Espíritos", a categoria que mais impressionou Freud, justamente por fornecer maior quantidade de material para as análises.

Na questão 405 de "O Livro dos Espíritos", Kardec pergunta sobre as coisas que parecem pressentimentos, nos sonhos, mas que não se confirmam, e a resposta é que "o Espírito viu aquilo que ele DESEJAVA..." E, mais: "as preocupações do estado de vigília podem dar ao que se VÊ a aparência do que se DESEJA, ou do que se teme". Na questão 406, Kardec aborda o fato de sonharmos com pessoas que conhecemos cometendo atos de que elas não cogitam, e os Espíritos voltam à questão do desejo: "não é raro atribuirdes, de acordo com o que DESEJAIS, a pessoas que conheceis, o que se deu ou se está dando em outras existências". Os Espíritos não precisavam dizer mais do que isto. Não competia a eles ou a Kardec aprofundarem-se mais nesse caminho, uma vez que o interesse espírita estava sobre os "sonhos profundos". Mas, quem limitou ou reduziu a conceituação de sonhos foi Sigmund Freud.

Fontes:
"O Livro dos Espíritos"; Allan Kardec; FEB.
"No Invisível"; Leon Denis; FEB.
"Psicanálise e Telepatia" e "Sonhos e Telepatia"; Sigmund Freud; Edição Standard Brasileira; Volume XVIII.
"Sobre os Sonhos"; idem; idem; Volume V.

sábado, 1 de agosto de 2009

Falta de Formação Doutrinária

Por José Herculano Pires

Sem a formação doutrinária, não teremos um movimento espírita coeso e coerente. E, sem coesão e coerência, não teremos Espiritismo. Essa a razão por que os Espíritos Superiores confiaram às mãos de Kardec o pesado trabalho da Codificação. Kardec teve de arcar, sozinho, com a execução dessa obra gigantesca. Porque só ele estava em condições de realizá-la. Depois de Kardec, o que vimos? Léon Denis foi o único dos seus discípulos que conseguiu manter-se à altura do mestre, contribuindo vigorosamente para a consolidação da Doutrina. Era, aparentemente, o menos indicado. Não tinha a formação cultural de Kardec, residia na província, não convivera com ele, mas soubera compreender a posição metodológica do Espiritismo e não a confundia com os desvarios espiritualistas da época.

Depois de Denis, foi o dilúvio. A Revista Espírita virou um saco de gatos. A sociedade Parisiense naufragou em águas turvas. A Ciência e a Filosofia Espíritas ficaram esquecidas. O aspecto religioso da Doutrina transviou-se na ignorância e no fanatismo. Os sucessores de Kardec fracassaram inteiramente na manutenção da chama espírita, na França. E, quando a Arvore do Evangelho foi transplantada para o Brasil, segundo a expressão de Humberto de Campos, veio carregada de parasitas mortais que, ao invés de extirpar, tratamos de cultivar e aumentar com as pragas da terra.

Tudo isso por quê? Por falta pura e simples de formação doutrinária. A prova está aí, bem visível, no fluidismo e no obscurantismo que dominam o nosso movimento no Brasil e no Mundo. Os poucos estudiosos, que se aprofudaram no estudo de Kardec, vivem como náufragos num mar tempestuoso, lutando, sem cessar, com os mesmos destroços de sempre. Não há estudo sistemático e sério da Doutrina. E o que é mais grave, há evidente sintoma de fascinação das trevas, em vastos setores representativos que, por incrível que pareça, combatem por todos os meios o desenvolvimento da cultura espírita.

Enquanto não compreendermos que Espiritismo é cultura, as tentativas de unificação do nosso movimento não darão resultados reais. Darão aproximações arrepiadas de conflitos, aumento quantitativo de adeptos ineptos, estimulação perigosa de messianismos individuais e de grupos. Flamarion, que nunca entendeu realmente a posição de Kardec, e chegou a dizer que ele fez obra um tanto pessoal, como se vê no seu famoso discurso ao pé do túmulo, teve, entretanto, uma intuição feliz quando o chamou de bom senso encarnado.

Esse bom senso é que nos falta. Parece haver se desencarnado com Kardec, e volatizado com Denis. Hoje, estamos na era do contra-senso. Os mesmos órgãos de divulgação doutrinária que pregam o obscurantismo, exibem pavoneios de erudição personalista, em nome de uma cultura inexistente. Porque cultura não é erudição, livros empilhados nas estantes, fichário em ordem para consultas ocasionais. Cultura è assimilação de conhecimentos e bom senso em ação.

O que fazer diante dessa situação? Cuidar da formação espírita das novas gerações, sem esquecer a alfabetização de adultos. Mobral: esse o recurso. Temos de organizar o Mobral do Espírito. E começar tudo de novo, pelas primeiras letras. Mas, isso em conjunto, agrupando elementos capazes, de mente arejada e coração aberto. Foi por isso que propus a criação das Escolas de Espiritismo, em nível universitário, dotadas de amplos currículos de formação cultural espírita.

Podem dizer que há contradições entre Mobral e nível universitário. Mas, nota-se, que falamos de Mobral do Espírito. A Cultura Espírita é o desenvolvimento da cultura acadêmica, é o seguimento natural da cultura atual, em que se misturam elementos cristãos, pagãos e ateus. Para iniciar-se na cultura espírita, o estudante deve possuir as bases da cultura anterior. "Tudo se encadeia no Universo", como ensina, repetidamente, O Livro dos Espíritos. Quem não compreende esse encadeamento, tem de iniciar pelo Mobral. Não há outra forma de adaptá-lo às novas exigências da nova cultura.

A verdade nua e crua é que ninguém conhece Espiritismo. Ninguém, mesmo, no Brasil e no Mundo. Estamos todos aprendendo, ainda, de maneira canhestra.

E se me permito escrever isto, é porque aprendi, a duras penas, a conhecer a minha própria indigência. No Espiritismo, como já se dava no Cristianismo e na própria filosofia grega, o que vale é o método socrático.

Temos, antes de tudo, de compreender que nada sabemos. Então, estaremos, pelo menos, conscientes de nossa ignorância e capazes de aprender.

Mas, aprender com quem? Sozinhos, como autodidatas, tirando nossas próprias lições dos textos, confiantes nas luzes da nossa ignorância? Recebendo lições de outros que tateiam como nós, mas que estufam o peito de auto-suficiência e pretensão? Claro que não. Ao menos isso devemos saber. Temos de trabalhar em conjunto, reunindo companheiros sensatos, bem intencionados, não fascinados por mistificações grosseiras e evidentes, capazes de humildade real, provada por atos e atitudes. Assim conjugados, poderemos aprender de Kardec, estudando suas obras, mergulhando em seus textos, lembrando-nos de que foi ele e só ele o incumbido de nos transmitir o legado do Espírito da Verdade.

Kardec é a nossa pedra de toque. Não por ser Kardec, mas por ser o intérprete humilde que foi, o homem sincero e puro a serviço dos Espíritos Instrutores.

É o que devemos ter nas Escolas de Espiritismo.

Não Faculdades, nem Academias, mas, simplesmente, Escolas. O sistema universitário implica pesquisas, colaboração entre professores e alunos, trabalho conjugado e sem presunção de superioridade de parte de ninguém. O simpósio e o seminário, o livre-debate, enfim, é que resolvem, e não o magister do passado. O espírito universitário, por isso mesmo, é o que melhor corresponde à escola espírita. Num ambiente assim, os Espíritos Instrutores disporão de meios para auxiliar os estudantes sinceros e despretensiosos.

A formação espírita exige ensino metódico mas, ao mesmo tempo, livre. Foi o que os Espíritos deram a Kardec: um ensino de que ele mesmo participava, interrogando os mestres e discutindo com eles. Por isso, não houve infiltração de mistificadores na obra inteiriça, nesse bloco de lógica e bom senso, que abrange os cinco livros fundamentais de Codificação, os volumes introdutórios e os volumes da Revista Espírita, redigidos por ele durante quase doze anos de trabalho incessante.

Essa obra gigantesca é a plataforma do futuro, o alicerce e o plano de um novo mundo, de uma nova civilização. Seria absurdo pensar que podemos dominar esse vasto acervo de conhecimentos novos, de conceitos revolucionários, através de simples leituras individuais, sem método e sem pesquisa. Nosso papel, no Espiritismo, tem sido o de macacos em loja de louças. E incrível a leviandade com que oradores e articulistas espíritas tratam de certos temas, com uma falsa suficiência de arrepiar, lançando confusões ridículas no meio doutrinário. Temos de compreender que isso não pode continuar. Chega de arengas melífluas nos Centros, de oratória descabelada, de auditórios basbaques, batendo palmas e palavreado pomposo. Nada disso é Espiritismo. Os conferencistas espíritas precisam ensinar Espiritismo - que ninguém conhece - mas para isso precisam, primeiro aprendê-lo.

Precisamos de expositores didáticos, servidos por bom conhecimento doutrinário, arduamente adquirido em estudos e pesquisas. Expor os temas fundamentais da Doutrina, não é falar bonito, com tropos pretensamente literários, que só servem para estufar vaidade, à maneira da oratória bacharelesca do século passado.

Esse palavrório vazio e presunçoso não constrói nada e só serve para ridicularizar o Espiritismo ante a mentalidade positiva e analítica do nosso tempo.

Estamos numa fase avançada da evolução terrena.

Nossa cultura cresceu espantosamente nos últimos anos e já está chegando à confluência dos princípios espíritas em todos os campos. A nossa falta de formação cultural espírita não nos permite enfrentar a barreira dos preconceitos para demonstrar ao mundo que Espiritismo, como escreveu Humberto Mariotti, é uma estrela de amor que espera no horizonte do mundo o avanço das ciências. E curiosa e ridícula a nossa situação. Temos o futuro nas mãos e ficamos encravados no passado mitológico e nas querelas medievais.

Mas, para superar essa situação, temos de aprender com Kardec. Os que pretendem superar Kardec, não o conhecem. Se o conhecessem, não assumiriam a posição ridícula de críticos e inovadores do que, na verdade, ignoram. Chegamos a uma hora de definições.

Precisamos definir a posição cultural espírita perante a nova cultura dos tempos novos. E só faremos isso através de organismos culturais bem estruturados, funcionais, dotados de recursos escolares capazes de fornecer, aos mais aptos e mais sinceros, a formação cultural de que todos necessitamos, com urgência.