quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Manifestações de fundo umbandista no meio espírita

Por Jorge Hessen

Para um bom entendimento, é FUNDAMENTAL a leitura atenta e a reflexão profunda sobre cada linha aqui escrita, antes de manifestação precipitada e formação de juízo de valor, a respeito do título deste artigo... lembrando que existe uma inteligência primária causadora de todas as coisas e que nada acontece por acaso... , pois como espíritas precisamos em primeiro lugar de sermos fiéis à Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec, pois nos baseamos na fé raciocinada e por isso mesmo respeitamos profundamente todas as religiões.

O Espiritismo e a Umbanda não se confundem como doutrinas, apesar de ambas encontrarem conseqüências e direção filosófica e religiosa oriundas de mensagens mediúnicas, porém, ambas, são doutrinas absolutamente distintas e individualizadas, segundo seus fundamentos e práticas. Muitos teimam em nominar a Doutrina Espírita de "mesa branca", contudo, qualquer adjetivação é inadequada quando se quer fazer referência à Terceira Revelação. Não existe Espiritismo de mesa branca, azul, amarela ou verde. O Espiritismo dispensa qualquer expressão que se aproxime mais dos sentidos materiais que dos apelos do espírito, como: identificá-lo por gradações de cor, destacar títulos de progresso terrestre nas manisfestações me diúnicas, expressões dogmáticas e, acima de tudo, entender que a Doutrina Espírita não se divide, posto que são os homens que se dividem em numerosas religiões.

Não é nossa intenção difundir conceitos radicalizados, desconsiderando outras práticas mediúnicas. Porém, sim, esclarecer o aspecto inexpugnável da Revelação Espírita. Não vamos nos precipitar em definições apriorísticas e, muito menos, expressarmos a malícia para disseminar as cogitações aqui consignadas. Contudo, colimamos a busca da luz sublimada da fé raciocinada, como um impositivo da boa prática espírita. Portanto, muito longe de posições policialescas, não transigiremos com os legítimos princípios doutrinários e evangélicos e, se muitos confrades incautos perseverarem na incompreensão, que cada médium cuide da sua decisão, até porque, Jesus afirmou que o trigo cresceria ao lado do joio em sua seara. Considerando que são raros, ainda, os Centros Espíritas que se podem entregar à prática mediúnica com plena consciência da tarefa que têm em mãos, destarte, é aconselhável e prudente, segundo Emmanuel, "a intensificação das reuniões de estudos, a fim de que os centros não venham a cair no desânimo ou na incompreensão, por causa de um prematuro comércio com as energias do plano invisível." (1)

As teses emmanuelinas explicam que nas Casas Espíritas os médiuns são úteis, mas não indispensáveis. Por falta de base moral, são muitos os que se afastam das reuniões, quando elas não apresentam fenômenos. É óbvio que assim procedem por plena inabilitação para o legítimo trabalho do Espiritismo, razão pela qual, é melhor que se afastem, temporariamente, dos trabalhos mediúnicos, antes de assumirem qualquer compromisso.

O tema que apresentamos tem como alvo os médiuns contumazes que se deixam influenciar por entidades que se manifestam com trejeitos e linguagens extemporâneos (de pretos-velhos, de caboclos, de índios, de germânicos, etc.). É óbvio que esse hábito não é conveniente, e é de se estranhar que estudiosos sinceros, continuem com esse comportamento.

Em face dessa teimosia, cabe-nos defender a fidelidade a Kardec, sem transigir um milímetro com os princípios espíritas. A prática mediúnica não se constitui tão-somente da movimentação das energias psíquicas em suas expressões fenomênicas e mecânicas, porque exige o trabalho da vigilância e o sacrifício do coração, onde a luz da comprovação e da referência é a que nasce da consciência, do entendimento e da aplicação do Evangelho. Segundo Emmanuel que acrescenta: "O primeiro inimigo do médium reside dentro dele mesmo, é o personalismo, é a ambição, a ignorância ou a rebeldia no voluntário desconhecimento dos seus deveres à luz do Evangelho. O segundo inimigo encontra-se no próprio seio das organizações espiritistas, constituindo-se daquele que se convenceu quanto aos fenômenos, sem se converter ao Evangelho pelo coração, trazendo para as fileiras do Consolador os seus caprichos pessoais, opiniões cristalizadas no endurecimento do coração, sem reconhecer a realidade de suas deficiências e a exigüidade dos seus cabedais íntimos." (2)

Um confrade nos indagou sobre qual opinião nutríamos a respeito da "incorporação" de pretos-velhos e caboclos nas casas de orientações espíritas. Dissemos que Espíritos que se apresentam como caboclos e pretos-velhos nos terreiros possuem muito pouco ou quase nada de si mesmos para ensinar, em termos de moral espírita. A rigor, duas são as formas pelas quais Espíritos de caboclos ou pretos-velhos podem entrar numa Casa Espírita: ou para receber ajuda, se ainda estiverem necessitados; ou para aprender coisas novas. Obviamente, devemos ter respeito, atenção, carinho, amor, sincero desejo de ajudar, porém essa não é uma recomendação isolada para Espíritos de caboclos e pretos-velhos. Isso vale para toda comunicação mediúnica.

Afirma-se que a indumentária de "preto-velho" é, unicamente, o morfismo com que o espírito por trás daquele, utiliza-se naquele instante para que possa alcançar a seu objetivo. Será mesmo?... Que objetivo?... Dizem que por trás desses estereótipos (preto-velho, caboclo) podem estar "médicos", "filósofos", "poetas", etc., que apenas se utilizam de tais "vestes" para ensinarem melhor (!...). Nada mais estranho do que se dar crédito a essas crenças. Até porque, o pensamento é a linguagem, por excelência, no mundo espiritual e a forma e trejeitos no falar e agir são acessórios desnecessários. E o pior da história é que muitos confrades, que não estudam Kardec, crêem que é sintoma de boa mediunidade ser instrumento de "preto-velho". Ora, não há pretos-velhos, nem brancos-velhos, uma vez que todos são Espíritos. Por isso, devemos ter toda cautela com esses atavismos.

Ressaltamos que as tradições das práticas mediúnicas africanas e ameríndias não sofrem discriminação entre os espíritas estudiosos, nem consideramos os Espíritos de índios e negros como involuídos, porém, ignorantes. Não há preconceito nas sessões espíritas. Procura-se manter o respeito às entidades, à mediunidade e à Doutrina Espírita, buscando a coerência com a verdade que já identificamos nos preceitos kardecianos. Em verdade, Espíritos que se mostram no Além, como antigos escravos africanos, ou como indígenas, podem falar normalmente, sem trejeitos. Por que não verbalizar em português, uma vez que o médium capta o pensamento da entidade e reveste-o com palavras?

Antropólogos se referem a certo "abrasileiramento" do Espiritismo, pelo fato de que, aqui, a população desfruta de uma "intimidade" em lidar com entidades de terreiros. Não podemos aceitar a idéia de um Espiritismo à brasileira. Isso seria um pensamento extremamente sincrético, encharcado de várias práticas do catolicismo popular e das religiões afro-brasileiras. Apesar de o Espiritismo ter sido difundido no Brasil, confrontando-se com uma cultura religiosa já consolidada, hegemônica e, portanto, conformadora do ethos nacional, não sofreu e nem poderia ter sofrido as interferências do catolicismo popular e das religiões de possessão de matriz afro-brasileiras.

Segundo pesquisadores, alguns adeptos do Espiritismo se posicionaram contra a pureza doutrinária e se aproximaram do mediunismo popular, fundando uma nova religião ao longo do século XX, ou seja: a Umbanda. É demonstrar ignorância suprema afirmar que crenças como o Candomblé, a Quimbanda, a Umbanda sejam "ramificações" da Doutrina Espírita.

O Espiritismo não possui ramificações ou subdivisões. Seu corpo doutrinário está contido nas Obras Básicas codificadas por Allan Kardec. Essas crenças, às quais nos referimos, possuem origens bastante distintas do Espiritismo, embora compartilhem alguns conceitos que são comuns não só ao Espiritismo, mas às várias correntes espiritualistas.

Não podemos nos acomodar com um Espiritismo "à moda da casa" que vários centros adotam, fugindo das lições de Allan Kardec. A base teórica com que analisamos uma prática eminentemente Espírita tem, como pilotis, o material da Codificação, com o qual podemos separar as práticas espiritualistas estranhas das práticas eminentemente espíritas. Nestas reflexões, não é nossa intenção nos posicionarmos quais "policiais ou fiscais" do Espiritismo, por não aceitarmos uma ou outra prática mediúnica nas Casas Espíritas, fora do projeto kardeciano. Destacamos, apenas, que qualquer análise crítica construtiva é uma necessidade para a sã divulgação espírita e para um legítimo comportamento na manutenção dos fundamentos da Terceira Revelação.

FONTES:

(1) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed FEB, 1997.
(2) Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed FEB, 1997.

Espiritismo à brasileira

Por Fábio Luiz da Silva

Onde mais senão no Brasil é possível ser católico, judeu ou protestante e mesmo assim acreditar em reencarnação? Pode parecer estranho, mas é isto que indica uma pesquisa realizada pelo Vox Populi (VARELLA, 2000: 78-82) , segundo a qual 59% da população brasileira acredita que já teve outras vidas, apesar de somente 3% se declararem espíritas. Um contra-senso em qualquer outra parte do mundo, mas significa que pelo menos um dos princípios espíritas encontrou um ambiente propício para seu desenvolvimento em nosso país.

Nascido na França do século XIX, através do trabalho de Allan Kardec, o Espiritismo chegou ao Brasil ainda neste mesmo século. Porém, o Espiritismo brasileiro ganhou um colorido que o fez diferente daquele existente na Europa. Assim, o surgimento do Espiritismo no Brasil provoca duas questões teóricas interessantes. Primeiro, seria o Espiritismo brasileiro uma deformação do Espiritismo europeu ou uma construção original? Segundo, quais as relações entre o Espiritismo e os cultos afro-brasileiros?

Vejamos a primeira questão. É comum entender que o Espiritismo possuía na Europa um caráter mais científico e filosófico e que no Brasil ele ganhou características mais religiosas (STOLL, 1999: 41). Argumenta-se que tal fato deve-se ao misticismo da tradição cultural brasileira. É a opinião de Ubiratan Machado em seu livro “Os Intelectuais e o Espiritismo”: a maioria de nossos espíritas preferia realçar o aspecto religioso, dando relevo à parte mágico-mística da doutrina (...)(1983:114). Para este autor o abrasileiramento do Espiritismo levou-o a uma perda do caráter experimentalista e científico de sua origem, e isto corresponderia a um abastardamento do Espiritismo no Brasil. Igualmente pensam assim François Laplantine e Marion Aubrée: il n’a jamais eu le caractère “expérimental” tant revendiqué par les spirittes français (1990:185).

Discordamos desta interpretação que considera o Espiritismo brasileiro uma simples deturpação do europeu. Acreditamos que o Espiritismo, no Brasil, foi uma construção original. Sandra Jacqueline Stoll, utilizando o trabalho de Clifford Geertz Observando el Islam (no qual é realizada uma análise comparativa sobre o desenvolvimento do Islamismo em duas culturas diferentes: Marrocos e Indonésia), conclui que as diferenças apresentadas por uma mesma religião em lugares diferentes são geradas por tensões inerentes ao processo de universalização das religiões, pois variam as estratégias sociais para resolver o dilema: adaptação versus preservação de princípios. E aplica o mesmo raciocínio ao Espiritismo:

Como o Islamismo na Indonésia, o Espiritismo é uma religião importada, que se difunde no país confrontando-se com uma cultura religiosa já consolidada, hegemônica e, portanto, conformadora do ethos nacional. Sua difusão, como postulam certos autores, foi em parte favorecida pelo fato das práticas mediúnicas já estarem socialmente disseminadas, de longa data, no âmbito das religiões de tradição afro. No entanto, em contraposição a estas o Espiritismo define sua identidade, elegendo sinais diacríticos elementos do universo católico(...) O Espiritismo brasileiro assume um “matiz perceptivelmente católico” na medida em que incorpora à sua prática um dos valores centrais da cultura religiosa ocidental: a noção cristã de santidade. (STOLL, 1999: 48)

O Espiritismo no Brasil não é um simples desvio de uma doutrina racional de origem européia e que sofreu uma contaminação do mágico e do místico, graças a uma predisposição do povo brasileiro para o maravilhoso. É uma construção original, influenciada pela formação cultural brasileira que já possuía elementos que foram reinterpretados pelo Espiritismo, assim como ele foi reinterpretado por estes elementos: crenças indígenas, africanas e populares de origem européia. Desta forma, acreditamos não ser possível ao Espiritismo manter uma “pureza” para onde quer que fosse difundido.

A segunda questão por nós levantada no início deste texto pode ser simplificada da seguinte forma: o termo Espiritismo inclui as crenças afro-brasileiras? A palavra Espiritismo pode ser encontrada referindo-se a toda crença na possibilidade de comunicação com o além através de médiuns (incluindo, neste caso, o Candomblé, Umbanda e o Espiritismo de Allan Kardec); somente à Umbanda e ao Espiritismo de Kardec (como muitos umbandistas entendem) ou somente ao Espiritismo de Kardec (como querem os espíritas). Estas diversas definições marcam diferentes posições dos sistemas religiosos e dentro das ciências sociais (HESS, 1989: 183).

Desde sua chegada ao Brasil, seus adversários tentaram igualá-lo às crenças afro-brasileiras. Assim se expressava a Igreja, ainda no século XIX, em seu primeiro documento condenando o Espiritismo: a Pastoral de 1867 do Arcebispo da Bahia D. Manoel Joaquim da Silveira. E também o bispo Boaventura Kloppenburg em seu livro A Umbanda no Brasil, no qual identifica Espiritismo e Umbanda (HESS, 1989:186-187)

Por outro lado, os intelectuais espíritas esforçam-se por marcar as diferenças. No livro Africanismo e Espiritismo, Deolindo Amorim defende a idéia que a Umbanda é muito mais parecida com o catolicismo do que com o Espiritismo, devido aos rituais, que segundo ele, não existem no Espiritismo. No preâmbulo da obra acima citada, assinado por Lippmann Tesch de Oliveira, fica claro o desejo espírita de afastar qualquer mal entendido que possa confundir Espiritismo e Umbanda:

Quando falamos em Espiritismo, saibam os leitores que nos referimos à codificação CIENTÍFICA, FILOSÓFICA e MORAL, de Allan Kardec, - a única com o privilégio de ostentar semelhante título! – que o mestre expôs numa série de obras notáveis, editoradas na França, no período de 1857 a 1869, e não a êsse conglomerado de pagelança e de rituais espalhafatosos, onde preponderam o mediunismo abastardado; em suma – ao carnaval de UMBANDA, difundido e praticado por aí em fora, sob o rótulo daquela luminosa esquematização espiritualista.(AMORIM, 1949: 5-7)

Ora, os católicos identificam Espiritismo/Umbanda e os espíritas Catolicismo/Umbanda, (...) são muito acentuados os traços de afinidade entre o Catolicismo e o Africanismo (...)(AMORIM, 1949: 70) , cada grupo tentando marcar diferenças e semelhanças através de um raciocínio parecido e que tem algo de preconceituoso.

Em meio às Ciências Sociais, segundo Hess (1989:183) também encontramos ambas as posições. Cândido Procópio Ferreira de Camargo, em seu livro Kardecismo e Umbanda defende a existência de um continuum mediúnico, que tem em um polo o Espiritismo e no outro a Umbanda. Também pensam assim os antropólogos franceses François Laplantine e Marion Aubrée (1990: 179). Idéia semelhante percebemos em expressões como adeptos de qualquer religião de possessão ou adeptos de uma prática mediúnica (SAEZ, 1991) , que referem-se tanto ao Espiritismo como aos cultos afro-brasileiros. Já Maria Laura Cavalcanti, autora do livro O Mundo invisível: Cosmologia, Sistema Ritual, e Noção de Pessoa no Espiritismo, enfatiza muito mais as diferenças (HESS, 1989: 188).

Entendemos que, apesar de tentadora, a opção por considerar o Espiritismo dentro de um continuum mediúnico tende a deixar de lado as características que o aproximam do Catolicismo, para enfatizar apenas suas as semelhanças com as crenças afro-brasileiras. Stoll (1999), por exemplo, percebeu a existência de um processo de santificação da figura de Francisco Cândido Xavier, muito próximo do que ocorre na Igreja Católica. Podemos concluir, portanto, que nossa opção de estudo abre a possibilidade de novas visões do processo histórico de legitimação social do Espiritismo, o que pode colaborar para uma compreensão mais satisfatória deste fenômeno religioso, cujas idéias estão disseminadas até mesmo entre aquelas pessoas que oficialmente professam outras crenças.

Fábio Luiz da Silva é Mestre em História, professor da Universidade Estadual de Londrina e da Faculdade Metropolitana/IESB.

Texto produzido a partir de um capítulo da dissertação de mestrado: A Perspectiva do além: a história na visão do Espiritismo (1938-1949)

Referência bibliográfica

AMORIM, Deolindo. Africanismo e Espiritismo. Rio de Janeiro: Mundo Espírita, 1949.

AUBRÉE, Marion; LAPLANTINE, François. La Table, le livre e les esprits. Paris: JC Lattés, 1990

HESS, David J. Disobsessing disobsession: religion. Ritual, and the social sciences in Brazil. Cultural Anthropology, Washington, v. 4, n. 2, p. 182-193, may. 1989.

MACHADO, Ubiratam. Os Intelectuais e o espiritismo. Rio de Janeiro: Antares/INL, 1983.

SAEZ, Oscar Calavia. Fantasmas falados: mito, escatologia e história no Brasil. Campinas, 1991. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – UNICAMP

STOLL, Jacqueline Stoll. Entre dois mundos: o Espiritismo da França e no Brasil. São Paulo, 1999. Tese (Doutorado em Antropologia) – USP.

VARELLA, Flávia. À Nossa moda. Veja, São Paulo, a 33, n. 1659, p. 78-82, jul. 2000.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Reencarnação: o "elo esquecido" do Cristianismo

Por Jerri Roberto S. de Almeida Preâmbulo

Há muito tempo atrás os cristãos acreditavam na reencarnação. Essa é a conclusão da escritora americana Elizabeth Clare Prophet, em seu livro "Reencarnação: o elo perdido do cristianismo". A obra é uma análise histórica da reencarnação, especialmente, a partir do cristianismo até os concílios da Igreja e a perseguição aos hereges. A autora, embora utilizando uma fonte bibliográfica extremamente rica e usando uma terminologia eminentemente espírita (reencarnação, mundo espiritual...) não faz nenhuma referência ao Espiritismo. De qualquer forma, iremos refletir, dentro dessa breve historiografia de idéias sobre a reencarnação, a proposta espírita, oportunizando, na atualidade, a continuação dos ensinos de Jesus sobre as vidas sucessivas.

O Novo Testamento

O principal alvo de debates sobre a reencarnação no Novo Testamento está centralizado nas passagens que se referem a João Batista como sendo a reencarnação do profeta Elias. O tema é abordado três vezes nos Evangelhos. Vejamos.

A primeira, quando João está pregando no deserto e os sacerdotes e levitas chegam para interrogá-lo. Ele então nega ser Elias. Mas identifica-se como ' a voz do que clama no deserto...'" (E.S.E. cap. XV). No entanto, para os judeus essa "voz" havia sido prevista pelo profeta Malaquias como sendo a "voz" do precursor do Messias, identificado como Elias.

Segundo Elizabeth, João, por certo, teve um bom motivo para responder dessa forma. Negou ser Elias para evitar reações das autoridades políticas e religiosas, que mais tarde o decapitaram, mas, ao mesmo tempo, confirmou "veladamente" a sua reencarnação para tranqüilizar seus seguidores.

Jesus afirmou que João Batista era a Reencarnação de Elias.

Observemos que, nas outras duas vezes em que a questão sobre Elias aparece, é o próprio Jesus a declara que João era Elias que "retornara". A primeira vez é quando João está na prisão e Jesus publicamente faz essa referência: "Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir". (E.S.E. cap. XV, 8 a 10)

Após a morte de João Batista, vamos encontrar a cena da transfiguração de Jesus no monte Tabor. Quando Jesus se transfigura, então Elias e Moisés aparecem e falam com Jesus. Quando descem do monte, os discípulos perguntam-lhe: "Porque dizem os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?". em outras palavras: "Se Elias deveria vir primeiro, como profeta, para preparar o caminho para a sua vinda, então por que ele aparece em seu corpo espiritual?

"O que está fazendo no 'céu' se ainda não o vimos na Terra?" Segundo a narrativa de Marcos, Jesus responde: "(...) Digo-vos, porém, que Elias já veio, e fizeram-lhe tudo o que quiseram, como dele está escrito". Mateus apresenta a mesma história, acrescentando a seguinte frase: "Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista."

De acordo com Elizabeth, "os discípulos provavelmente entenderam que a declaração de Jesus ' fizeram-lhe tudo o que quiseram' referia-se à decapitação de João, por ordem do rei Herodes Antipas.

Observando-se apenas esses três relatos, é razoável concluir-se que o princípio da reencarnação fazia parte dos ensinos de Jesus, como um mecanismo natural da lei do progresso e da evolução.

Muitos estudiosos, contrários à idéias da pluralidade das existências, acreditam que a questão da reencarnação de Elias em João, e sua referência por Jesus, na verdade, teria sido acrescentada pelos autores dos Evangelho, ou mesmo, pelos tradutores. Se analisarmos essa questão do ponto de vista meramente histórico, realmente tornar-se-ia difícil chegar a uma conclusão absoluta e irretoquível. Primeiro, porque as fontes primárias não foram conservadas, e segundo, porque os autores dos Evangelhos não eram historiadores, mas pessoas com limitações naturais de conhecimento e que puderam conservar pela memória, e/ou pelas tradições orais, os ensinamentos que Jesus lhes havia ministrado. As palavras do Cristo, disseminadas ao longo do tempo, foram transmitidas de boca em boca, e, posteriormente, transcritas em diferentes épocas, muito tempo depois de sua morte.

Não obstante a contribuição da Doutrina Espírita, nessa e em outras tantas questões, é realmente notável. Allan Kardec, em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", no cap. IV, após analisar as informações dos espíritos superiores encarregados de orientar a codificação do Espiritismo, reafirma:

"A idéia de que João Batista era Elias e de que os profetas podiam reviver na Ter4ra se nos depara em muitas passagens dos Evangelhos(...). Se fosse errônea essa crença, Jesus não houvera deixado de a combater, como combateu tantas outras e a põe por princípio e como condição necessária, quando diz: " Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.' E insiste, acrescentando: Não te admires de que eu te haja dito ser preciso nasças de novo".

Em "O Livro dos Espíritos", questão 222, novamente afirmou: "Muitos repelem a idéia da reencarnação pelo só motivo de ela não lhes convir.(...) De alguns sabemos que saltam em fúria só com o pensarem que tenham de voltar à Terra.".

Os Alexandrinos

Retornando a nossa análise história, encontraremos Filon de Alexandria (20 a.C. - 50d.C.), filósofo judeu e contemporâneo de Jesus, cujas idéias a respeito do objetivo da vida situava-se na própria integração com Deus através de sucessivas existências; teve um papel muito importante na combinação dos pensamentos grego e judaico. Filon e sua escola de pensamento davam uma interpretação alegórica do Antigo Testamento, conferindo-lhe um significado simbólico. A reencarnação fazia parte de sua visão filosófica sobre a vida: "As (almas) que se deixam influenciar pelo desejo de uma vida mortal(...) retornam a ela" - escreveu ele. Filon viveu na cidade de Alexandria, próximo do delta do Nilo, famosa por sua biblioteca e por ser um grande centro intelectual da época. Suas idéias influenciaram profundamente alguns patriarcas da igreja romana: Clemente de Alexandria, Orígenes e Ambrório. Filon era um erudito que acreditava e ensinava que o ser humano pode chegar a Deus pela sabedoria e pela transcendência.

Segundo Elizabeth, Orígenes (185 a 254 d.C.), que viveu em Alexandria, ao estudar os textos de Filon, em conjunto com os clássicos gregos de Platão e Pitágoras, passou a associar a idéia da justiça divina com a idéia das vidas sucessivas, fazendo a seguinte indagação: "se as almas não existiam previamente, por que encontramos cegos de nascença que nunca pecaram, enquanto outros nascem sãos?". Logicamente, chegava a conclusão de que a situação atual da criatura humana é oriunda, também, de suas ações pretéritas de outras vidas:

"Se o nosso destino atual não fosse determinado pelas obras de nossas passadas existências, como poderia Deus ser justo, permitindo que o primogênito servisse o mais moço e fosse odiado, antes de haver praticado atos que merecessem a servidão e o ódio? Só as vidas anteriores podem explicar a luta de Esáu e Jacó, (...) e outros tantos fatos que seriam o opróbrio da justiça divina, se não fosse justificados pelas ações boas ou más praticadas em anteriores existências".

A partir do século IV, no entanto, a idéia das vidas sucessivas, que era naturalmente difundida, mexeria profundamente com as estruturas de interesse da igreja romana. Um padre chamado Ário, que viveu de 250 d.C. - 336 d.C., nascido no Líbano, ensinava que Jesus era filho de Deus; logo, Jesus teve um princípio. A proposta de Jesus seria nos ensinar como chegar a Ele. Ário defendia que isso seria possível através de sucessivas existências físicas. As idéias arianistas ensejaram o concílio de Nicéia, uma cidade a beira de um lago a sudeste de Constantinopla, em junho de 325. O ponto central dos debates era se Jesus havia sido criado ou não. Se houvera sido criado, conforme entendiam os arianistas, então o progresso poderia ser alcançado por nós se seguíssemos simples e tão somente, os seus ensinamentos. Mas se ele não houvesse sido criado, sendo portanto igual a Deus, como desejavam os ortodoxos, seria totalmente distinto da criação.

Nesse caso, a criatura humana para atingir a "salvação" dependeria exclusivamente da subserviência aos princípios da igreja romana. É claro que o concílio rejeitou a primeira idéia e aprovou a segunda. Com isso as idéias de Ário tornaram-se heréticas e suas obras proibidas.

Anatematizando a Reencarnação

Orígenes, que havia concordado com Ário que o objetivo de Jesus era ensinar os seres humanos como atingir a divindade, discrepando dos ortodoxos literaristas, seria sistematicamente condenado em suas idéias entre os séculos V e VI. Justiniano (527-565 d.C.), imperador romano, por volta da primeira metade do século VI, tomou o partido dos antiorigenistas, promulgando um édito onde condenou dez princípios ensinados por Orígenes, inclusive a pluralidade das existências. No entanto, somente no ano 553, ao convocar o Quinto Concílio Geral da Igreja, o princípio da reencarnação seria definitivamente abolido. Esse concílio incluía efetivamente o origenismo na lista dos movimentos heréticos: "se alguém afirmar a fictícia preexistência das almas, afirmará a monstruosa restauração que dela decorre que seja anatematizado" (Restauração" significa o retorno da alma à união com Deus).

A princípio, Agostinho lutou contra a permanência do conceito de reencarnação na doutrina da Igreja.

Naturalmente a visão reencarnacionista ensejava, desde os seus primórdios, a concepção do ser humano ser autor de seu próprio destino e, portanto, dependeria somente do indivíduo e seu livre-arbítrio, lograr o progresso ou a "salvação", e de mais ninguém. Evidentemente essa proposta desarticulava os interesses de supremacia político-religiosos da época. Tanto é verdade que Agostinho (354-430 d.C.) chegou a escrever uma carta ao Papa Inocêncio I, advertindo-o sobre a necessidade de condenar-se as idéias sobre as vidas sucessivas, sob pena de a Igreja perder a sua própria autoridade. Logo, o princípio do esforço pessoal e não simplesmente a aceitação de regras impostas colidia diretamente com o "fora da igreja não há salvação". Com a rejeição da reencarnação, a igreja teve que encontrar uma outra explicação para a ocorrência de fatos negativos a pessoas boas. Sem as ações passadas para explicar as diferenças entre os destinos, restou à igreja aceitar a doutrina do pecado original elaborada por Agostinho, que se tornou o mais influente teólogo da igreja. Assim se expressa Elizabeth: "O pecado original também era um conceito atraente para os governantes seculares. Como a doutrina firmava que o homem era naturalmente mau, ele seria, obviamente, incapaz de governar a si próprio. Assim, deveria obedecer os seus governantes(...) Certamente foi uma ideologia que servia às necessidades das classes dominantes da sociedade romana".

Agostinho, o retorno à reencarnação

Agostinho passou nove anos adepto do maniqueísmo, que combinava idéias cristãs, gnósticas e budistas, antes de voltar-se para o cristianismo. Certamente, nesse período, manteve contato com as idéias reencarnacionistas, uma vez que esse princípio fazia parte dos ensinamentos do profeta Mani. Todavia, com a elaboração de sua teologia a posteriori, deixou-se envolver pelos conflitos pessoais e negativistas que somente a obra do tempo poderia retificar. Foi assim que, com o passar dos séculos, Agostinho aprimorando seus paradigmas sobre os mecanismos pelos quais a justiça divina se manifesta, retornaria ao cenário do mundo, na segunda metade do século XIX, na tarefa de "reascender" na Terra o elo, não "perdido", mas "esquecido" do cristianismo: a reencarnação. Ao compor a plêiade de espíritos superiores que orientaram o trabalho de Allan Kardec na codificação do Espiritismo, Agostinho tem oportunidade de afirmar: "Como é bela essa missão! Assim, com que alegria vimos a vós para vos dar a conhecer os desígnios divinos! Para vos revelar as maravilhas do além-túmulo! Mas vós, que já sois iniciados nessas sublimes verdades, espalhai a semente em vosso derredor e a recompensa será bela".

A Reencarnação dignifica a Vida

Consubstanciando a Lei do Progresso, a reencarnação propicia sentido à existência humana. O seu princípio está na natureza, e, como tal, não pode ser excluído pelo ser humano. Variando-se as culturas e o tempo, a idéia reencarnacionista sempre acompanhou e acompanhará o pensamento humano ao longo de sua historiografia. Cabe ressaltar que a Doutrina Espírita, representando a síntese do conhecimento humano, em suas expressões científica, filosófica e religiosa, oportuniza uma cosmovisão da vida e, pelo apelo que faz à razão e ao bom-senso, estimula o ser humano à ação do bem: "Fora da Caridade não há salvação", isto é, o Espiritismo não diz que fora dele não há salvação, mas apresenta-nos a caridade, como normativa natural de libertação dos ciclos reencarnatórios em desajustes, convidando-nos à plenitude e, portanto, ao aproveitamento máximo de nossa atual existência.

Jerri Roberto S. de Almeida é Professor de História e dirigente Espírita ( Revista "A Reencarnação", nº 421)

Reencarnação e Desigualdades

Por Deolindo Amorim

Como política preventiva, que significa simplesmente atacar o mal ainda na raiz, antes que seja tarde, o programa espírita sempre se esforçou no trabalho de assistência e educação, visando à modificação do ambiente moral e social, até mesmo nos recantos mais sórdidos. Prevenir, portanto, para que a pobreza aviltada não chegue a uma convulsão incontida. Se é óbvio que não podemos tratar somente do corpo, mas também, principalmente, do espírito, é óbvio ao mesmo tempo que não devemos relaxar os deveres em relação às necessidades do corpo. Se o espírito precisa de instrumento humano para a comunicação de seus dons, logicamente um corpo doente, abatido pela deficiência alimentar ou depauperado pelo esgotamento, não pode ser bom veículo por causa do desmantelo orgânico. E já se sabe que há repercussão recíproca entre o orgânico e o psíquico. Mas a Doutrina adverte, a certa altura, que às vezes uma pessoa pode nascer em "posição difícil e embaraçosa, precisamente para ser obrigada a procurar vencer as dificuldades, nunca, porém, deve deixar a vida correr à revelia, o que seria mais preguiça do que virtude." (O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. V, nº 26). Este ponto, sem dúvida alguma, sugere reflexão sobre o problema das desigualdades sociais à luz da reencarnação.

Seja, porém, como for, a despeito dos "altos e baixos" dos compromissos reencarnatórios na vida social, não nos compete fazer julgamento, mas temos o dever de trabalhar pela melhoria do homem. E com fazê-lo sem ir ao encontro dos focos de revolta e decadência? Disse muito bem o dr. João Pompílio de Almeida Filho:

"Devemos ir ao encontro dos necessitados, para dar-lhes o que precisam, moral e materialmente, antes que eles venham até nós arrancar o que lhes falta, e destruir as riquezas, que são nossas, mas exigem emprego inteligente, com distribuição de parte em favor dos que têm fome, sofrem frio, vivem envilecidos nos vícios, constituindo verdadeiro peso-morto à margem da sociedade". Tese oficial - 1° Congresso Espírita do Rio Grande do Sul-1945.

Realmente. Tais palavras estão inteiramente abonadas pela Doutrina Espírita. A esmola é uma doença da sociedade. Ainda não temos uma consciência de solidariedade capaz de suprir as falhas no rastro da pobreza extrema e da invalidez relegada. Mas a palavra esmola não teria mais razão de ser, dentro de uma organização social mais espiritualizada ou mais aproximada do Evangelho. Em vez de esmola, diríamos acertadamente dever. Se é verdade que os males sociais, em grande parte, têm relação com o nosso passado e, por isso, também é verdade que cabe à criatura humana fazer a sua parte, a fim de que ninguém seja privado pelo menos do essencial à subsistência nos flancos mais ínfimos da sociedade.

Melhoramento social engloba estabilidade e libertação do medo, mas não significa que todos tenham de ser ricos ou venham a possuir automóvel como requinte de bem-estar. mas todos têm o mesmo direito a uma condição de vida condizente com a dignidade humana, por mais frisante que seja a desigualdade dos níveis sociais. O Espiritismo não propõe a eliminação total das desigualdades, notadamente no estágio evolutivo em que nos encontramos, pois a sociedade é toda diversificada, com ricos e pobres, inteligentes e parvos, empreendedores e preguiçosos, progressistas e retrógrados, homens de bem e homens trapaceiros, por exemplo. Sem pensarmos, porém, na utopia de um mundo sem falhas e disparidades, como se fosse um paraíso terrestre, podemos e devemos, contudo, dar o quinhão que a Doutrina Espírita nos atribui, porque temos a nossa parte de responsabilidade no conjunto:

"Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na Justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa vontade de alguns". (O Livro dos Espíritos-Parte 3a, Cap. XI).

Como se vê, a Doutrina Espírita não absorve a idéia de fatalismo como explicação genérica dos desacertos sociais, nem a tese da reencarnação levaria a tanto. O fatalismo social seria a condenação de pessoas ou grupos a uma vida de privações indefinidamente, como se fossem todos marcados pela adversidade inarredável. Não. Nesta ordem de considerações o que a Doutrina afirma nada tem de radical: os males deste mundo são de duas ordens, isto é, os que têm vínculos com o passado, por causa de atos praticados noutra existência, e os que resultam de erros e abusos cometidos no presente. Nem tudo, portanto, se deve lançar na conta do passado. A incapacidade ou a falta de escrúpulos na gestão administrativa, a negligência na vida pessoal e os desperdícios são responsáveis por muitas crises na sociedade. O cotidiano das ocorrências bem o demonstra. São fatos da presente existência. A interpretação unilateral seria muito inconveniente, pois os problemas exigem, antes de tudo, análise conjuntural. Dois fatores são indiscutivelmente relevantes neste passo: a educação e a reforma moral.

Na confluência dos problemas com que nos defrontamos, de um lado e do outro, não seria lógico pôr de lado a interferência de "situações cármicas". Há criaturas humanas sujeitas ao determinismo de uma existência difícil ou penosa em razão do que fizeram antes, não se sabe onde ou em que época. Quem, suponhamos, explorou o suor alheio, quem abusou da riqueza ou da autoridade como verdadeiro tirano ou corruptor, certamente vai ter que lutar muito contra a humilhação, as aflições e os embaraços, ainda que trabalhe e estude com o maior afinco para subir pela inteligência e pela tenacidade. Por mais que insista na tentativa de afastar os empecilhos, fica sempre na planície social, em posição apagada, obrigado a executar serviços inferiores, segundo os valores convencionais do nosso mundo.

Mais adiante se nos depara o varredor de rua, um homem que já fora lorde noutra época e, agora, volta à Terra para reeducar-se na humildade, pois impusera humilhação a muita gente quando estava na opulência. Semelhantemente, não seria um despropósito admitir que antigo e orgulhoso aristocrata, daqueles que faziam pouco caso das pessoas que estivessem abaixo de sua camada social, venha a reencarnar com uma prova que o coloque nas calçadas como engraxate, vivendo à margem das multidões nos grandes centros urbanos. Noutros tempos, tinha criados sobre os quais tripudiava com arrogância e desumanidade. O fato de engraxar sapato nada tem de deprimente para quem trabalha honestamente, tanto quanto a profissão de gari e outras profissões tidas como das mais modestas não aviltam as mãos honradas. Se a sociedade precisa de médico para os problemas de saúde pública, também precisa do gari, ao mesmo tempo, porque sem a limpeza da cidade e a remoção dos detritos e entulhos transmissores de vermes e alimentadores de mosquitos os planos sanitários ficam seriamente comprometidos. O cavalheiro elegante, habituado a vestir-se com apuro, não pode fazer "boa figura" em público se não tiver quem lhe engraxe os sapatos no momento necessário. E quem vai fazê-lo? O titular de um cargo importante? O funcionário de status mais elevado? Claro que não. É o engraxate, que se torna uma figura indispensável naquele momento.

Naturalmente é uma prova para o espírito que reencarna, como se diz, nas "classes baixas" da sociedade e não consegue projetar-se, porque tem débitos pesadíssimos de outras existências. O tipo inteligente ou espertalhão de outrora, muito afeito a espertezas com prejuízo de terceiros, depois de ter tantas e tantas vezes abusado da inteligência para fins inconfessáveis, sem jamais ter sido alcançado pela justiça terrena, não poderá reincorporar-se à mesma sociedade a que pertencera, mas agora reencarnado como servente ou trabalhador explorado, sempre em aperturas financeiras, lesado aqui, sacrificado ali? É uma contingência admissível no desenrolar do processo reencarnatório. É a lei de causa e efeito.

A justiça nunca deixa de vir, cedo ou tarde, segundo as nossas noções de tempo. A reencarnação está na vida social, não tenhamos dúvida. Conseqüentemente, não se exclui em tudo e por tudo a reencarnação como um dos dados de avaliação nos desajustes sociais, ainda que não seja razoável generalizar, o que daria motivo a conclusões muito rígidas. Se, de fato, há circunstâncias que se sobrepõem aos nossos desejos e meios de ação, porque decorrem de uma carga de responsabilidade individual ou coletiva de outras etapas da vida, há obstáculos e eventualidades que denunciam apenas a falta de vigilância ou a displicência nesta existência. E se o homem fosse conduzido pelo passado em todos os instantes não haveria mudança nem disposição do livre-arbítrio. A vida seria uma sucessão fatal de episódios predeterminados.

Como corpo de idéias, baseado em fatos que comprovam a sobrevivência do espírito além do corpo e a sua comunicação com o nosso mundo, o Espiritismo também se interessa pelo ser humano na vida de conjunto, o que quer dizer: o homem na sociedade. Sem a vida social ninguém teria como se desenvolver e renovar-se, pois a penitência reclusa, distante dos problemas, ignorando o sofrimento de seu próximo, sem dar sequer um pouco de si, não faz nenhum santo.

É na forja social realmente que adquirimos experiência e exercitamos as nossas possibilidades latentes, ora caindo, ora levantando, até que nos modifiquemos para melhor. Não sendo, portanto, fatalista, como já dissemos e fazemos questão de repetir, está bem claro que a Doutrina Espírita se preocupa com as desigualdades humanas, cujas causas devem ser atacadas para que se corrijam as injustiças. Muitas chagas sociais já teriam sido extirpadas se houvesse mais sentimento de humanidade, mais respeito às razões éticas, tanto no plano do poder público quanto no plano particular. Há desigualdades que são o flagrante resultado do egoísmo, da ambição e, por fim, das incongruências de uma sociedade discriminativa na distribuição dos bens indispensáveis à vida humana. Uma sociedade em que a vivência real do Cristianismo ainda está reduzida a compartimentos limitados, porque o Cristo é apenas objeto de devoções formais, sem ação nas profundezas do coração, a não ser das pessoas abnegadas, cujo espírito de sacrifício vem contrabalançar o peso da indiferença ou da frieza dominante. Pois bem, é contra esse tipo de sociedade, ainda vigente, que invocamos os princípios espíritas, sem compromisso com ideologias e facções políticas.

Não estamos defendendo a igualdade maciça ou mecânica, pois seria uma pretensão visionária. Como igualar os elementos de um aglomerado humano composto de criaturas desiguais? Sim, desiguais espiritualmente, desiguais no temperamento, na formação moral, tanto quanto desiguais intelectualmente, etnicamente, psiquicamente. Neste ponto, exatamente, a noção de igualdade, tão mal situada nas discussões doutrinárias ou políticas, tem dois sentidos muito naturais: somos iguais pela natureza e pela origem, porque somos criaturas de Deus e pertencemos à espécie humana, mas não somos iguais nas aptidões, no caráter, na educação, na cultura, nas decisões do livre-arbítrio. Teoricamente, "todos são iguais perante a lei". Seria, de fato, o ideal de uma sociedade bem equilibrada. Como seres humanos, todos têm o direito a uma vida normal, uma vez que todos têm aspirações, compromissos e deveres compatíveis com as necessidades biológicas e espirituais. Necessidades inerentes à natureza humana e, por isso mesmo, não se condicionam, pelas categorias sociais. No entanto, há muitos casos em que animais de estimação, como cavalos, cachorros e gatos são mais bem tratados do que as próprias crianças que ficam em volta desses animais. Que os animais sejam bem cuidados e defendidos, mas que não se despreze o ser humano. A proteção do reino animal é uma prova de adiantamento de uma civilização.

É válido indiscutivelmente o conceito de igualdade na acepção de respeito aos direitos comuns, os direitos intrínsecos da pessoa humana em qualquer nível social: preservação da integridade física, oportunidades para estudar e melhorar-se, liberdade de escolha de seus objetivos profissionais, intelectuais e religiosos. Igualdade, portanto, nos direitos essenciais. Nosso conceito de igualdade, porém, não vai ao irrealismo de imaginar uma sociedade em que todos tenham o mesmo "trem de vida", as mesmas regalias, as mesmas qualificações sociais. Na luta pela vida, sob a pressão das competições, sempre se defrontam capacidades diferentes, com interesses conflitantes. O emprego do livre arbítrio, por sua vez, está sujeito às variações circunstanciais nos empreendimentos e nos modos de proceder ou de julgar as coisas. Ao lado, por exemplo, dos que querem vencer e, por isso, estudam, trabalham, enfrentam todos os reveses, há muitos que não querem sair da comodidade, não se esforçam para mudar de posição, porque preferem ficar onde estão, cultivando a displicência como regra de vida. Ora, o indivíduo operoso e realizador, porque leva a vida a sério não se confunde com o preguiçoso, que se anula por si mesmo no grupo social.

Figuremos de passagem o caso de dois irmãos, cujo pai tenha dado oportunidade ou chances, como se diz correntemente, tanto a este como àquele. O primeiro trabalhou, não esbanjou o tempo, preparou-se para ocupar lugares mais altos, enquanto o segundo deixou tudo correr à vontade, fazendo suas farras, abusando das energias da mocidade. Mais tarde, na "idade madura", quando as ilusões já estão desfeitas, um irmão está em boa situação, com estabilidade, mas o outro, completamente despreparado, desgastado pelas extravagâncias, está de mãos vazias, nulificado na planície social. De quem a culpa? ... Iguais na origem, no lar de onde saíram, mas visivelmente desiguais na organização/temperamental, na vontade, nas inclinações.

A sociedade, em suma, é um somatório das desigualdades individuais. Seria então irrealizável a igualdade em termos absolutos. A reencarnação não invalida totalmente o livre-arbítrio. Justamente por isso, se estamos encarando a questão à luz do pensamento espírita, precisamos ter uma visão mais elástica. De um lado, há quem afirme, por exemplo, que as desigualdades são problemas sociais e, portanto, "nada têm a ver com a reencarnação"; do outro lado, com o mesmo acento categórico, afirma-se que as desigualdades sociais são "conseqüências de nosso passado", e, assim, seria inútil qualquer tentativa de modificação. Então, a única solução é "deixar como está". São entendimentos contrários à verdadeira índole da Doutrina Espírita, de um lado e do outro. Nossa posição há-de ser a do meio termo, nunca das definições intransigentes diante da realidade social. Há, de fato, situações que inferiorizam o indivíduo socialmente, durante uma reencarnação ou mais, por causa da rede expiatória de envolvimentos que o acompanham do passado. Se não cabem no vocabulário espírita as palavras "azar", "má sorte", "capricho do destino" e outras, de uso comum, naturalmente há uma razão para que certos casos perdurem na sociedade, a despeito de todo o empenho que se faça para afastá-los ou atenuá-los. Se a razão determinante do sofrimento ou das dificuldades não está nesta existência, teremos de encontrá-la no passado, sob a ação da lei moral de "causa e efeito", não pelo que os pais fizeram, mas pelo que o próprio culpado fez, não importa se neste ou noutro século. Daí, porém, não se segue que todas as injustiças da Terra, efeitos da maldade, do engodo e do orgulho, por exemplo, sejam projeções do passado e, por isso, irremediáveis. Não. Até certo ponto, as deficiências sociais podem ser retificadas pelas atitudes reparadoras, pela luta contra o mal e pelas reações da parte mais sadia da sociedade. E sempre houve, felizmente, em todos o grupos humanos, os elementos que não se contaminam, ainda que sejam obrigados a transitar pelas mesmas vielas por onde passam o ódio, a baixeza, o vício e a hipocrisia bem enroupada.

Os desafios são uma contingência desse estado de coisas, mas nem todas as ocorrências são fatais. A reparação das brechas que se abrem no organismo social exige a reforma periódica de suas estruturas. É um fenômeno inevitável, sem o que a sociedade não se adaptaria às mudanças impostas pelas necessidades. Mas as reformas estruturais não eliminam a relevância da reforma moral, é ponto em que insistimos. São instâncias concomitantes. A reforma de uma estrutura política, administrativa, religiosa ou educacional, por exemplo, pode ser muito inteligente, como boa base de sustentação, mas o funcionamento vai depender do homem. E se o homem não estiver preparado para conviver com os novos mecanismos, não apenas do ponto de vista intelectual ou técnico, mas também do ponto de vista moral, a melhor estrutura possível corre o risco da poluição, apesar das boas aparências. (...).

Que poderíamos esperar de uma casa muito bem traçada, muito bonita por fora, mas construída com material de péssima qualidade, sem alicerce seguro?

Então, embora as reformas de estruturas sejam necessárias, o equilíbrio social não dispensa a reforma moral de alto a baixo. Não se reformam costumes por leis ou pela força. Por mais bem intencionada e cuidadosa que seja uma lei, não está isenta de acomodações e distorções quando o homem quer usá-la em benefício de seus caprichos ou de conveniências ocultas. A lei por si só não reforma a sociedade, pois os resíduos da imoralidade e das artimanhas sempre subsistem enquanto o homem, por sua vez, também não se modifica interiormente. Dentro dessa concepção, que está na ordem geral das idéias que até aqui explanamos, naturalmente nos defrontamos com o problema da propriedade.

Como já recordamos, o Espiritismo nos põe diante de uma concepção igualitária quanto aos direitos essenciais da criatura humana. Mas também estabelece a distinção entre a propriedade privada e a propriedade destinada ao uso geral. Não usa terminologia jurídica nem muito menos formulações técnicas, mas divide, claramente, em termos técnicos, o bem comum, a que todos têm direito, e a fortuna de uso particular. Reconhecemos, por isso mesmo, a legitimidade da propriedade privada, obtida à custa do trabalho honesto, sem prejuízo de ninguém, como ensina a Doutrina. E porventura não tem o direito de usufruir o resultado de seu esforço todo aquele que trabalha e sabe perseverar e economizar para conseguir um padrão de vida melhor? É lógico e humano. Isto não implica aceitar ou defender a transformação de recursos ou bens de uso geral em propriedade particular, para o enriquecimento de uns poucos em desfavor de muitos. É o que significa, sem tirar nem pôr, a monopolização de um patrimônio coletivo. A propriedade e o capital são, portanto, valores relativos. Se a Doutrina Espírita não é contra o capital em si, coerentemente não apóia a designação depreciativa do dinheiro como o "vil metal". O homem é o responsável pelos efeitos do capital, pois o dinheiro é apenas um instrumento que tanto pode servir de peça decisiva de um sistema de corrupção e violência. O problema é com o ser humano, não é com o dinheiro, pois já sabemos muito bem que as melhores coisas deste mundo, quer materialmente, quer intelectualmente, podem ser usadas para o mal ou para o bem, na medida em que o livre-arbítrio pende para um lado ou para outro.

É o que aprendemos na Doutrina Espírita:

"Se a riqueza houvesse de constituir obstáculo absoluto à salvação dos que a possuem, conforme se poderia inferir de certas palavras de Jesus interpretadas segundo a letra e não segundo o Espírito, Deus, que a concede, teria posto nas mãos de alguns um instrumento de perdição, sem apelação nenhuma, idéia que repugna a razão". (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVI).

Coincidentemente - apesar da grande distância no tempo e nas circunstâncias - o presidente Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos, chefe de uma nação capitalista, dizia isto:

"Os capitalistas vorazes serão devorados pelo fogo que eles atearam... O capital é essencial; razoáveis compensações ao capital são essenciais; porém o mau uso dos poderes do capital ou a egoística supervisão de seu emprego precisa ter fim, ou o sistema capitalista se destruirá pelos seus próprios abusos".

Roosevelt estava então fomentando a política do New Deal, um plano econômico realmente revolucionário. Roosevelt defendia até veementemente a propriedade privada, mas ressalvou logo que a propriedade "não pode ser sujeita à manipulação desumana dos jogadores profissionais da bolsa ou dos conselhos de administração". O sentido humano da propriedade, em suma. São idéias que se encontram com as idéias espíritas:

"O que por meio do trabalho honesto, o homem junta, constitui legítima propriedade sua, que ele tem o direito de defender, porque a propriedade que resulta do trabalho é um direito natural, tão sagrado como o de trabalhar e viver". (O Livro dos Espíritos - capítulo XI, parte 3a, nº 882).

Outra coincidência relevante, sobretudo pelo espaço de tempo (90 anos) entre o pensamento espírita e o pensamento de um economista contemporâneo, o que demonstra, mais uma vez, as antecipações da Doutrina Espírita em relação a problemas de nosso tempo:

1947. H. Hansen:
"Numa fase de industrialização e urbanização, o indivíduo não pode ordenar a sua vida isoladamente. Só conseguirá resolver os complexos problemas hodiernos mediante esforço conjugado e a ação cooperativa dos seus semelhantes".

1857. O Livro dos Espíritos:
"O homem tem que progredir. Isolado não lhe é isso possível, por não dispor de todas as faculdades. Falta-lhe o contacto com os outros homens. No isolamento ele se embrutece e estiola".

No fundo, o que resulta de suas conceituações de origens tão diferentes é um apelo de ordem ética, porque contrário ao egoísmo, mas identificado com o espírito de solidariedade, que continua a ser uma força social das mais ponderáveis."Uma sociedade que se baseia na lei e na justiça de Deus - diz a Doutrina Espírita - deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação". É o caso da esmola, que humilha e não resolve os problemas. Mas o assunto provoca reflexões no campo sócio-econômico, o que será objeto de próximo capítulo.

Texto publicado originalmente no livro "O Espiritismo e os Problemas Humanos". Edição USE, 1985. Primeira edição em 1948.

Deolindo Amorim nasceu na Bahia em 1906 e desencarnou no Rio de Janeiro, em 1984. É considerado, ao lado de Carlos Imbassahy e Herculano Pires, um dos maiores pensadores espíritas das Américas. De estilo professoral, extremamente didático e elegante, Deolindo foi um dos maiores divulgadores do Espiritismo como cultura e voltado para a análise de questões da atualidade.

O Social e o Imortal em Chico Xavier

Por José Rodrigues

A passagem de Chico Xavier por este mundo deixa duas contribuições marcantes. No campo social e na investigação da imortalidade. Sem ser rico, contribuiu, pela literatura que veiculou, para farta redistribuição de renda no Brasil. Poucas pessoas, neste país e no mundo, terão tido tanta influência para que bens se transferissem de mãos, visando atingir estratos sociais inferiorizados. Uma peculiaridade da estrutura social brasileira, com das mais elevadas concentrações de renda do planeta, teve, no conteúdo da literatura e no exemplo pessoal do médium, farto apoio para se desenvolver. Uma prática compensatória, sem dúvida, sociologicamente combatida, sob o pressuposto de sua perenização, mas pelo menos discutível, tanto que também defendida por líderes, como Betinho, na sua luta contra a fome.

Se cerca de um terço da população brasileira estão abaixo da linha de pobreza e quase 50 milhões de pessoas encontram-se na faixa da indigência, há mesmo que se fazer transbordar a panela dos que têm para os despossuídos, até que medidas de maior alcance, especialmente no campo da educação, ajam no sentido do encurtamento das diferenças.

Os princípios de uma ética social, o sabemos, estão bem claros na obra também literária de Allan Kardec, afinal, a fonte da inspiração original de um conjunto de ações, inclusive dos espíritos, no chamado sentido do bem. Ainda assim, milhões, certamente, nunca leram, ou o fizeram sem maior aprofundamento filosófico, o texto kardequiano, ao contrário da literatura, a partir de simples mensagens de poucas linhas, retransmitidas por Chico Xavier. Talvez um trabalho silencioso, de tocar a emoção, o sentimento, provocando questionamentos íntimos e o ponto deflagrador de uma ação para além do círculo da casa e da família.

No da comprovação da imortalidade, sempre haverá aqueles que duvidam. Desde as materialização de Kate King, controladas pelo físico William Crookes, a academia emite sinais de desconfiança nas provas da continuidade da vida para além das formas físicas conhecidas. Além disso, brasileiros, de todos os níveis de conhecimento, deram pouquíssima ênfase a esse aspecto, ao contrário do filosófico e moral. Sem esquecer que vasto contingente estruturou uma carapaça religiosa, mística e paralisante, em torno da mediunidade e do que consideram Espiritismo.

As comunicações de espíritos, especialmente de jovens, numa fase da produção mediúnica de Chico Xavier, com informações de caráter exclusivo dos seus respectivos familiares, tiveram forte impacto de credibilidade. Para isto, como para todo o trabalho incansável do médium, tem peso específico sua estrutura moral, seu exemplo de vida. No mínimo, tem-se disponível muita substância para a investigação da imortalidade, são centenas de famílias que podem dar testemunho sobre o antes e o depois da morte de seus parentes.

Por fim e não menos importante, está a contribuição de um homem despojado, que elegeu o próximo como amigo, sem distinções. Diríamos que Francisco Cândido Xavier, nesse ministério de igualdade, antecipou a humanidade em alguns milhares de anos.

José Rodrigues, jornalista e economista, é um dos coordenadores do site Pense - Pensamento Social Espírita.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Espiritismo, valores e sociedade

Por Humberto Mariotti / Rita Foelker

Uma das questões relacionadas à transformação da sociedade pelas idéias espíritas é saber se precisaremos tornar cada pessoa um espírita ou não. Porque muitas instituições assim agem, incentivando um misticismo e um sectarismo que não fazia parte da visão de Kardec para o futuro.

A Educação Espírita, nestas casas, é vista como formação religiosa, preparando a criança para aceitar uma determinada interpretação de mundo, para a participação em determinados cultos e a aceitação de conceitos específicos de vida.

Contudo, se é preciso que certas denominações religiosas assim ajam, porque seus ideais e argumentos só cabem dentro de sua estreita concepção de vida, diferente é a Doutrina Espírita.

E este é um pensamento repleto de conseqüências práticas, como veremos.

O pensamento espírita transcende os limites dos postulados espíritas e não foi feito somente para os espíritas. Os argumentos que sustentam, por exemplo, a existência de Deus, dentro do corpo doutrinário do Espiritismo, são também válidos perante outras posições filosóficas. Isto estabelece uma distinção, quando observamos que o pensamento católico sobre Deus só se justifica dentro do Catolicismo e que o pensamento islâmico sobre Deus só se justifica no Islã.

Eis porque uma abordagem de valores morais tem muito mais chances de ser bem sucedida dentro da visão espírita, exatamente porque ela não está atrelada a uma religião, mas a um raciocínio eminentemente filosófico, fundamentado na razão e na experiência e, não somente, numa interpretação unilateral do sentido da vida.

E como cada sociedade vive na balança de seus valores predominantes... o exemplo e a vivência dos valores decorrentes do pensamento espírita influencia a sociedade.

Então, não é direcionando suas crenças e condicionando seu comportamento que preparamos crianças para agirem com mais convicção e para decidirem com mais consciência espiritual. Fazemos isto quando lhe permitimos conhecer e perceber o significado de ser um Espírito imortal, enviado por Deus às aprendizagens e experiências da existência. Se a colocamos em contato com as leis divinas de modo direto e prático, logo se sentem inseridas em sua dinâmica e passam a reconhecê-las, utilizando este conhecimento para desenvolver seus potenciais e caminhar no Bem.

Mais importante que ser ou não ser espírita é agir como um ser transformado para melhor pelo conhecimento do Espiritismo.

O Espiritismo e as religiões

Por José Herculano Pires

A posição do Espiritismo, em face das religiões, foi definida desde o princípio, ou seja, desde a publicação de O Livro dos Espíritos. A terceira parte do livro tem o título de “Leis Morais”, e começa pela afirmação: “A lei natural é a lei de Deus”, que equivale ao reconhecimento da unidade divina de todas as leis que regem o Universo. Note-se que Kardec e os Espíritos referem-se à lei de Deus no singular, como lei única, e nela incluem as leis morais, no plural. Assim, as leis morais são espécies de um gênero, que é a lei natural. Mas como esta não é a lei da Natureza, e sim a lei de Deus, não estamos diante de uma concepção monista natural, mas de uma concepção monista de ordem ética. As religiões, como fenômenos éticos, formas de educação moral das coletividades humanas, nada mais são do que processos diferenciados, segundo as necessidades circunstanciais e temporais da evolução, pelos quais as leis morais se manifestam no plano social.

Vejamos a explicação de Kardec, no comentário que fez ao item 617 de O Livro dos Espíritos: “Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: essas são as leis físicas; seu estudo pertence ao domínio da ciência. As outras concernem especialmente ao homem em si mesmo, e às suas relações com Deus e com os seus semelhantes. Compreendem as regras da vida do corpo, tanto quanto as da vida da alma: essas são as leis morais.” Dessa maneira, o Espiritismo nos oferece a visão global do Universo, num vasto sistema de relações, que unem todas as coisas, desde a matéria bruta até à divindade, ou seja, desde o plano material até o espiritual. As religiões, nesse amplo contexto, são como fragmentações temporárias do processo único da evolução humana.

Essa compreensão histórica permite ao Espiritismo encarar as religiões, não como adversárias, mas como formas progressivas do esclarecimento espiritual do homem, que atinge na atualidade um momento crítico, de passagem para um plano superior. Daí a afirmação de Kardec, feita em O Livro dos Espíritos e repetida em outras obras, particularmente em O que é o Espiritismo, de que este, na verdade, é o maior auxiliar das religiões. Auxiliar em que sentido? Primeiro, no sentido de fornecer às religiões, entrincheiradas em seus dogmas de fé, as armas racionais de que necessitam, para enfrentar o racionalismo materialista, e especialmente as armas experimentais, com que sustentar os seus princípios espirituais diante das ciências. Depois, no sentido de que o Espiritismo não é nem pretende ser uma religião social, pelo que não disputa um lugar entre as igrejas e as seitas, mas quer apenas ajudar as religiões a completarem a sua obra de espiritualização do mundo. A finalidade das religiões é arrancar o homem da animalidade e levá-lo à moralidade. O Espiritismo vem contribuir para que essa finalidade seja atingida.

Nisto se repete e se confirma o que o Cristo declarou, a propósito de sua própria missão, ao dizer que não vinha revogar a lei e os profetas, mas dar-lhes cumprimento. Como desenvolvimento natural do Cristianismo, o Espiritismo prossegue nesse mesmo rumo. Sua finalidade não é combater, contrariar, negar ou destruir as religiões, mas auxiliá-las. Para auxiliá-las, porém, não pode o Espiritismo endossar os seus erros, o seu apego aos formalismos religiosos, a sua aderência às circunstâncias. Porque tudo isso diminui e enfraquece as religiões, expondo-as ao perigo do fracasso, diante das próprias leis evolutivas, que impulsionam o homem para além das suas convenções circunstanciais. O Espiritismo, assim, não condena as religiões. Considera que todas elas são boas — o que é sempre contestado com violência pelo espírito de sectarismo — mas pretende que, para continuarem boas, não estacionem nos estágios inferiores, já superados pela evolução humana.

Justamente por isso, o Espiritismo se apresenta, aos espíritos formalistas e sectários, como um adversário perigoso, que parece querer infiltrar-se nas estruturas religiosas e miná-las, para destruí-las. Era o que parecia o Cristianismo primitivo, para os judeus, gregos e romanos. Não obstante, os ensinos de Jesus não visavam à 'destruição', mas ao esclarecimento e à libertação do pensamento religioso da época. Podem alegar os religiosos atuais que os espíritas os combatem, às vezes com violência. O mesmo faziam os cristãos primitivos, em relação às religiões antigas. Mas essa atitude agressiva não decorre dos princípios doutrinários, e sim das circunstâncias sociais em que se encontram os inovadores, diante da tradição. Por outro lado, é preciso considerar que a agressividade das religiões para com o Espiritismo é uma constante histórica, determinada pela própria natureza social das religiões organizadas ou positivas. Nada mais compreensível que o revide dos espíritas, quando ainda não suficientemente integrados nos seus próprios princípios.

No capítulo segundo da terceira parte de O Livro dos Espíritos, item 653, temos a explicação e a justificação da existência das religiões formalistas. Kardec estuda, através de perguntas aos Espíritos, a lei de adoração, que é o fundamento e a razão de ser de todo o processo religioso. Desse diálogo resulta a posição espírita bem definida: “A verdadeira adoração é a do coração.” Não obstante, a adoração exterior, através do culto religioso, por mais complicado e material que este se apresente, desde que praticada com sinceridade, corresponde a uma necessidade evolutiva dos espíritos a ela afeiçoados. Negar a esses espíritos a possibilidade de praticarem a adoração exterior, seria tão prejudicial, quanto admitir que os espíritos que já superaram essa fase continuassem apegados a cultos materiais. A cada qual, segundo as suas condições evolutivas.

O princípio da tolerância substitui, portanto, no Espiritismo, o sistema de intolerância que marca estranhamente a tradição religiosa. As religiões, pregando o amor, promoveram a discórdia. Ainda hoje podemos sentir a agressividade do chamado espírito-religioso, na intolerância fanática das condenações religiosas. Por isso Kardec esclareceu, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, que o princípio religioso da doutrina não era o de salvação pela fé, e nem mesmo pela verdade, mas pela caridade. A fé é sempre interpretada de maneira particular, como a dogmática de determinada igreja a apresenta. A verdade é sempre condicionada às interpretações sectárias. Mas a caridade, no seu mais amplo sentido, como a fórmula do amor ao próximo ensinada pelo Cristo, supera todas as limitações formais. A salvação espírita não está na adesão a princípios e sistemas, mas na prática do amor.

Fonte: Do livro “O Espírito e o Tempo” (Cap. IV) - Herculano Pires

Anjos de Guarda

Quem cuida de seu filho quando ele não está sob seus olhos?

Você diz que, na escola, os professores são os responsáveis; que em seu lar, você tem uma babá igualmente responsável.

Enfim, você sempre acredita que alguém, quando você não estiver por perto, estará de olho nele.

Parentes, amigos, contratados à parte, há, também, uma proteção invisível que zela por seu filho.

Você pode dizer que é seu anjo de guarda, seu anjo bom. A denominação, em verdade, não importa.

O que realmente se faz de importância é esta certeza de que um ser invisível debruça sua atenção sobre seu filho, onde quer que ele esteja.

E também sobre você. Não se trata de uma teoria para consolar as mães que ficam distantes de seus filhos longas horas.

Ou para quem caminha só nas estradas do Mundo. Refere-se a uma verdade que o homem desde muito tempo percebeu.

Basta que nos recordemos de gravuras antigas que mostram crianças atravessando uma ponte em mau estado, sob o olhar atento de um mensageiro celeste.

Ou que evoquemos o livro bíblico de Tobias, onde um anjo acompanha o jovem em seu longo itinerário, devolvendo-o ao pai zeloso, são e salvo.

É doce e encantador saber que cada um de nós tem seu anjo de guarda. Um ser que lhe é superior, que o ampara e aconselha.

É ele que nos sussurra aos ouvidos: “Detenha o passo! Acalme-se! Espere para agir!”

Ou nos incentiva: “Vá em frente! Esforçe-se! Estou com você!”

É esse ser que nos ajuda na ascensão da montanha do bem. Um amigo sincero e dedicado, que permanece ao nosso lado por ordem de Deus.

Foi Deus quem aí o colocou. e ele permanece por amor de Deus, desempenhando o que lhe constitui bela, mas também penosa missão.

Isso porque em muitas ocasiões, ele nos aconselha, sugere e fazemos ouvidos surdos. Ele se entristece, nesses momentos, por saber que logo mais sofreremos pela nossa rebeldia.

Mas não afronta nosso livre-arbítrio. Permanece à distância, para agir adiante, outra vez, em nova tentativa.

Sua ação é sempre regulada, porque, se fôssemos simplesmente teleguiados por ele, não seríamos responsáveis pelos nossos atos.

Também não progrediríamos, se não tivéssemos que pensar, reflexionar e tomar decisões.

O fato de não o vermos também tem um fim providencial. Não vendo quem o ampara, o homem se confia a suas próprias forças.

E batalha. Executa. Combate para alcançar os objetivos que pretende.

Não importa onde estejamos: no cárcere, no hospital, nos lugares de viciação, na solidão, ele sempre estará presente.

Esse anjo silencioso e amigo nos acompanha desde o nascimento até a morte. E, muitas vezes, na vida espiritual.

E mesmo através de muitas existências corpóreas, que mais não são do que fases curtíssimas da vida do Espírito.

Pense nisso!

Você pode ter se transviado no Mundo. Quem sabe, perdido o rumo dos próprios passos.

Pense, no entanto, que um missionário do bem e da verdade, que é responsável por você, pela sua guarda, permanece vigilante.

Se você quiser, abra os ouvidos da alma e escute-o, retomando as trilhas luminosas.

Ninguém, nunca, está totalmente perdido neste imenso universo de almas e de homens.

Pense nisso!

Redação do Momento Espírita, com base nos itens 492, 495 e 501 de O livro dos espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB.

"Caritas in veritate" e "fora da caridade não há salvação"

Por José Reis Chavez

As palavras amor e caridade são sinônimas. E a caridade é a prática do amor. A tradição prefere o termo caridade a amor na Bíblia, dado o significado sensual que o amor pode ter também. E ainda há o natural, entre parentes e amigos.

A encíclica "Caritas in Veritate" ("Caridade na Verdade") de Bento XVI é muito oportuna para o mundo atual. Tem verdades condizentes com a famosa frase "Fora da caridade não há salvação", do capítulo 15 de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", à qual são Paulo, em espírito, refere-se em sua mensagem psicografada em Paris, em 1860, que se coaduna perfeitamente com a essência do ensino de Jesus e do próprio Paulo em suas cartas, quando esteve encarnado aqui, no nosso mundo físico.

Dessa mensagem psicografada extraímos: "Submetei todas as vossas ações ao controle da caridade e vossa consciência vos responderá. Não somente ela vos evitará fazer o mal, mas vos levará a fazer o bem, porque não basta uma virtude negativa, é preciso uma virtude ativa, Para fazer o bem, é preciso sempre a ação da vontade; para não fazer o mal bastam, frequentemente, a inércia e a negligência". Também: "...porque todos aqueles que praticam a caridade são os discípulos de Jesus, qualquer que seja o culto a que pertençam".

Comparemos o ensino dessa mensagem espírita com o da Primeira Carta de Paulo aos cristãos de Corinto: "Mesmo que tenha o dom da profecia, o saber de todos os mistérios e de todo o conhecimento, mesmo que tenha a fé mais total, a que transporta montanhas, se me falta o amor (a caridade), nada sou. O amor tem paciência, o amor é serviçal, não é ciumento, não se pavoneia, não se incha de orgulho, nada faz de inconveniente, não procura o próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor, não se regozija com a injustiça, mas encontra a sua alegria na verdade. Ele tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (1 Coríntios, capítulo 13).

E são Paulo ainda destaca que as virtudes da fé e esperança desaparecerão, mas o amor permanecerá. Realmente, quando passamos a conhecer uma coisa, não precisamos mais ter fé nela. E quem encontra o esperado, não precisa mais de esperança. Porém o amor, com a evolução do espírito, vai se tornando cada vez mais perfeito em busca da perfeição do Pai, pelas eternidades afora, mas sem ela ser igual à de Deus, pois Ele e seus atributos são infinitos, enquanto os nossos e nós próprios somos finitos.

Mas um dia, em espíritos, poderemos ser realmente semelhantes a Deus. Aliás, na dimensão espiritual não há lugar para a matéria. "Carne e sangue não podem herdar o Reino dos Céus" (1 Coríntios 15,50). "A carne para nada aproveita" (João 6,63).

Creio que a "Caritas in Veritate" ("A Caridade na Verdade") poderia ser chamada também de "A Caridade com a Verdade". Nela, Bento XVI destaca a justiça, que é inferior à caridade, e acentua que ambas são inseparáveis, pois quem ama é justo, o que é uma grande verdade. Mas destacamos que a justiça é obrigatória, enquanto a caridade é voluntária, pois o indivíduo a pratica se quiser.

E a culpa das leis sociais injustas de um país é de sua sociedade e dirigentes. Mas nós devemos praticar a caridade na verdade das questões sociais na medida da carência do indivíduo, pois o ensino do Nazareno é para que demos de comer a quem tem fome! E, com todo o respeito a Bento XVI, lembramos que deve haver também caridade nas verdades doutrinárias religiosas e não só nas de questões sociais!

Fonte: otempo.com.br

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Dogma da Santíssima Trindade

Por Francinaldo Rafael

O termo dogma diz respeito ao conjunto de princípios fundamentais e indiscutíveis de uma doutrina religiosa. Analisando as inovações e dogmas romanos, o Espírito Emmanuel (que em uma de suas reencarnações fora o padre Manoel de Nóbrega) afirma que a doutrina de Jesus, permanecendo encarcerada na cidade dos Césares pelo poder humano e passando por diversas reformas, perdeu a simplicidade encantadora das suas origens, transformando-se num edifício de pomposas superficialidades. Após a instituição do culto dos santos, surgiram imediatamente as primeiras experiências de altares e paramentos para as cerimônias eclesiásticas. Depois vieram os pontífices, o latim nos rituais, o culto das imagens, a adoração da hóstia, o celibato sacerdotal. Atualmente, grande parte das instituições são de origem humana, fora de quaisquer características divinas. Dentre os dogmas impostos, está o da trindade.

Apesar de alguns mais fanáticos afirmarem, a trindade não é bíblica. Não existe nos conceitos originais da Bíblia, Pai, Filho e Espírito Santo, em passagem nenhuma. O conceito sobre Jesus-Deus foi apresentado na ocasião do primeiro Concílio de Nicéia, quando os cristãos da época determinaram que Jesus era igual a Deus. No segundo Concílio, no ano de 381, confirmou-se a formulação definitiva do dogma da Santíssima Trindade, uma adaptação da Trimúrti da antiguidade oriental, que reunia nas doutrinas do bramanismo três deuses: Brama, Shiva e Vishnu. Para os cristãos católicos ficou a conceituação Deus-pai, Deus-filho e Deus-Espírito Santo.

Uma análise mais detalhada nas informações de Jesus citadas nos evangelhos, esse dogma cai por terra. O Mestre sempre afirmava que não era Deus. “Eu sou o filho do Homem“; “Eu venho em nome dAquele que me enviou“; “Eu sou o caminho da verdade e da vida“; “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, credes em mim também“. Antes da desencarnação exclamou em voz alta: “Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito“. Quando ressurgiu para Maria de Magdala, que tentou abraçá-lo, falou: “Não me toques, mulher, porque ainda não estive com o meu Pai.” Preparando sua partida da Terra: “… E em seguida vou para Aquele que me enviou“. Algumas pessoas confundem seu enunciado “Eu e o Pai somos um” como sendo a mesma pessoa. A realidade é a Sua identificação com Deus e que Seus atos eram confirmados pelo Pai Divino.

Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, questionando aos Espíritos Superiores qual o ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir de modelo e guia, obteve a resposta clara: Jesus. Mergulhando-se nos fatos, percebe-se claramente que Deus é o Pai, o Criador, a Causa primária de todas as coisas. Jesus é um de seus filhos, um entre os Espíritos Superiores do Universo. Com isso, Sua grandeza não diminui. Conquistou todos os degraus na escala da evolução e atingiu a condição de Espírito Puro.

Fonte: Jornal O Mossoroense

BIOGRAFIA - Pierre-Gaetan Leymarie

Por Paulo Toledo Machado

Pierre-Gaetan Leymarie - 12 de Maio de 1827 - 10 de Abril de 1901

LEYMARIE reencarnou em Tulle, França, em 2 de Maio de 1827, e desencarnou, em Paris, em 10 de Abril de 1901.

Leymarie foi, juntamente com Camille Flammarion e Victorien Sardou, um dos mais ardentes discípulos de Kardec e se tornou uma das mais relevantes figuras do Espiritismo.

Leymarie foi Diretor da "Revue Spirite", de Páris, de 1870 a 1901, e gerente da "Librairie Spirite" (*), de 1870 a 1897.

Descendia de distinta família. Cedo, porém, para não sobrecarregar as despesas, já numerosas, da família, interrompeu seus estudos e procurou uma colocação em Paris, contando com seu próprio trabalho e seus esforços.

Apaixonado por todas as idéias generosas, fez-se ardente republicano, e foi, à época do golpe de Estado de 1851, arrolado entre os adversários irredutíveis do Cesarismo e constrangido ao exílio.

Ele teve, porém, nesse exílio, a sorte em contatar-se com a elite do partido proscrito, o que, de certa forma, contribuiu para desenvolver seu espírito de combatividade e ao mesmo tempo o de proselitismo.

Proclamada a anistia, retornou à França, casou-se e assumiu a direção de uma casa comercial, até 1871. E uma autoridade, referindo-se a ele, disse que, se seus negócios não alcançaram prosperidade, sua probidade foi escrupulosa e que nenhuma reprovação jamais lhe foi feita.

Ele tinha paixão dos livros, e, quer eles tratassem de questões políticas, sociais, científicas, religiosas ou literárias, todos aqueles que lhe caíssem às mãos, ele os lia e se esforçava em assimilá-los.
Os fenômenos espíritas e a doutrina

Espiritista, não poderiam encontrá-lo indiferente. Foi um dos primeiros a se interessar, vivamente, por essas inquietantes questões; e, quando Allan Kardec começou a publicação da "Revue Spirite" e de suas obras, e quando inicia as suas sessões de estudos e de experimentações, ele não tardou em contar com Leymarie no número de seus mais ardentes discípulos.

Sob a direção do Mestre os médiuns se desenvolvem e, em dada ocasião, da qual a história do Espiritismo registrará e conservará fielmente a lembrança, três jovens, ainda obscuros e desconhecidos, três médiuns sentados à mesma mesa e voltados - fato estranho e novo que dera causa a zombarias - para essas experiências, contudo tão antigas, da telegrafia misteriosa entre dois mundos, o mundo dos Espíritos e o nosso. Estes três experimentadores, cujos destinos seriam diversos, mas iguais no devotamento, na fidelidade e nos serviços prestados à Doutrinas, eram Camille Plammarion, Victorien Sardou e Pierre-Gaetan Leymarie.

Antes de desencarnar, Allan Kardec, para assegurar o desenvolvimento regular e continuo do Espiritismo havia fundado uma sociedade anônima e de capital variável à qual destinou os seus bens; Monsieur Leymarie tornou-se um dos primeiros membros, e dois anos após a morte do Mestre, foi nomeado administrador ao mesmo tempo em que passou a redator-chefe e diretor da "Revue Spirite".

Durante trinta anos, o que quer dizer durante o longo e difícil período em que o Espiritismo foi quase continuamente alvo de todas zombarias, e de todos ataques, Leymarie esteve presente, batalhando sem cessar através da palavra e da pena, oferecendo na "Revue" um terreno livre aos batalhadores de todas as nuanças, para que defendessem uma causa espiritualista ou de ordem essencialmente humanitária e moral, expondo-se, assim, às críticas acirradas de uns, às reprovações ou ao descontentamento de outros. Todavia, Leymarie, jamais perdeu de vista a divisa do mestre: "Hors la charité pas de salut" (Fora da caridade não ha salvação), e baniu de todas as discussões as ofensas pessoais e todas as questões irritantes.

No começo, Leymarie considera que, para a difusão desta luz que é o Espiritismo, é necessário preparar os espíritas, instruí-los e esclarecê-los.

E quando seu amigo, Jean Macé, expõe o projeto de fundar a liga de ensino, Leymarie se oferece, com entusiasmo, secundá-lo, e, com Mme. Marina Duclos Leymarie, sua devotada esposa, companheira e colaboradora, contribui, para essa criação, não somente com o seu concurso ativo e pessoal mas também com a sua casa da rua Vivienne, de sorte que se pode, justamente, dizer que a casa de Monsieur Leymarie foi o berço da "Liga de Ensino", da qual o espírita Emmanuel Vauchez seria, no futuro, o Secretário Geral.

As questões de ensino se sucedem, nas preocupações de Leymarie, às questões sociais.

Assim, nas páginas da "Revue", como nas numerosas e eloqüentes conferências, ele se aplica em revelar a existência e o funcionamento deste estabelecimento, conhecido no estrangeiro, mas quase ignorado em França - le Familistére de Guise, no qual são praticados, por seu ilustre fundador, J. B. Godin, de uma maneira feliz e larga, os princípios da associação do Capital e do Trabalho. Leymarie se associa com o Sr. Godin, e, enquanto lhe propaga os escritos, não negligencia os interesses propriamente ditos da doutrina.

Divulga as experiências de William Crookes e assiná-la os primeiros ensaios da fotografia espírita. Ele mesmo faz experiências com um médium-fotógrafo e obtém uma série de manifestações reais as quais pública na "Revue". Mas chega um momento em que foi iludido na sua boa-fé.

O fotógrafo Édouard Buguet, fazendo uso de meios fraudulentos na obtenção de fotografias de Espíritos, é processado pelo Ministério Público.

Os inimigos do Espiritismo, à espreita de tudo que pudesse entravar o movimento ascendente da Doutrina, aproveitam-se, com empenho, da ocasião de um processo, para dar, ao Espiritismo, um grande golpe e acabá-lo com a possante arma do ridículo. E de fato, foi menos um processo contra as fotografias que mesmo contra os espíritas.

A 16 de Junho de 1875, Leymarie e Alfred E. Firman foram também envolvidos no processo, em virtude dos laços de amizade que mantinham com Édouard Buguet, e, assim, julgados coniventes na fraude.

Depoimentos falsos, inclusive do próprio Édouard Buguet, originaram a condenação dos três. Recorrendo-se, então, para instâncias superiores, Édouard Buguet e Alfred E. Firman conseguiram a liberdade. O primeiro passando para a Bélgica, e o segundo graças a influências de altas autoridades. Leymarie, por sua vez, preparou notável "Memória" à Corte Suprema, protestando, perante sua consciência e seus filhos, sua inocência e mostrando-se confiante nas decisões daquele alto tribunal.

Édouard Buguet traído pelo remorso escreve ao Ministro da justiça que Leymarie é inteiramente inocente. Que, embora muitas das fotografias fossem reais, devido ao desconhecimento que tinha da Doutrina Espírita, praticava a fraude quando não as conseguia com a sua mediunidade. Na carta ele assevera: "Lastimo, pois, haver dito, na minha fraqueza, o contrário da pura verdade, renunciando eu a minha mediunidade, peço perdão a Deus por este ato que deploro, pois que ele serviu para incriminar um homem estimável, cuja boa fé se tornou suspeita com minhas afirmações".

Apesar das cartas de solidariedade vindas das mais diferentes partes do mundo, inclusive do Brasil, Leymarie foi condenado a um ano de prisão celular.

Um pouco mais tarde, anulada a sentença condenatória, o incansável discípulo de Kardec retomava a administração e direção da "Société" e da "Revue Spirite"
Leymarie retorna à luta.

Em 1878, Leymarie organiza também a "Sociedade Científica de Estudos Psicológicos", congregando, em torno dela, homens respeitáveis, para o estudo e experimentações . em torno da mediunidade e do magnetismo animal, e análise das obras de Cahagnet, de Roustaing, da doutrina de Swedenborg e outras pertinentes a outras idéias.

As obras de Kardec são traduzidas, por iniciativa de Leymarie, para todas as línguas do mundo civilizado; conferências são programadas; Leymarie visita outros países, e percorre cidades da Bélgica, da Itália e da Espanha, propagando os postulados doutrinários do Espiritismo.

Leymarie esteve presente no I Congresso Espírita de Bruxelas; em 1888 participou do Congresso Espírita de Barcelona, tendo sido escolhido para uma das presidências. No decurso deste Congresso foi lida uma belíssima moção de gratidão enviada da prisão de Tarragona, por um grupo de condenados a trabalhos forçados, convertidos à fé espírita.

Em 1889, Leymarie organizou o I Congresso Espírita na França, esquivando-se de cargos, mas, por insistência, acaba aceitando o de uma das vice-presidências.

A administração da Sociedade se torna mais exigente, com a liberalidade de um dos seus membros, o Sr. Guérin. Ele, tal como procedera Allan Kardec, antes do seu desencarne, tomou todas as providências para assegurar o benefício de seus bens à Sociedade, o que vem suscitar, logo a seguir, uma disputa com os herdeiros. Os processos passam a se suceder e, quando acreditava ter chegado ao fim, os herdeiros de Allan Kardec, apoiados no processo dos herdeiros de Guérin, fazem sua reivindicação, e a desenvolvem, até que, apesar de uma resistência vigorosa, a sociedade, representada e administrada por Leymarie, sucumbe.

Librairie Leymarie

Em 1897, Leymarie funda a "Librairie Leymarie Édite-URS" (**)., estabelecida no 42, rue Saint-Jacques, Paris, e a dirigiu até 1903, e, com o seu desencarne, por sua esposa Madame Marina Duclos Leymarie, e, posteriormente, por seu filho, Paul Leymarie.

Com a liquidação da "Librairie Spirite", continuou a editoração das obras de Allan Kardec, fazendo do prédio da "Librairie Leymarie" sede da redação da "Revue Spirite", até a fundação da "Maison des Spirites", por Jean Meyer, inaugurada em 25 de Novembro de 1923.

Uma das suas primeiras publicações foi "Au pays de l'ombre", de Madame D'Esperance.

Não obstante tantas provas, Leymarie não se abate. Ele prossegue a sua luta, em meio dos maiores aborrecimentos, e torna conhecidos os trabalhos e as obras principais de escritores espíritas, com os quais, em sua maior parte, ele se acha em constante contato, tais como, na França, com Eugene Nus, Léon Denis, Ernesto Bosc, Encause (Papus), Gibier, Baraduc, Comandante Cournes, Sras. Noeggerath e Annie Besant, Gabriel Delanne, Strada e outros; na Inglaterra, com Wallace; na Rússia, com Aksacoff; na América, com Van der Nailen; na Itália, com Chiaia e Falcomer.
São de sua autoria:

* "Histoire du Spiritisme et biographie d'Allan Kardec". Trabalho apresentado nos Congressos Espíritas de 1888 e 1889.
* "Oeuvres Posthumes d'Allan Kardec". Paris, 1890, Librairie Spirite. Obra por ele compilada, com documentos inéditos deixados por Allan Kardec.
* "L'Évoiution et ia Révélation". Trabalho por ele compilado e enviado, em 1898, ao Congresso Internacional Espiritualista, em Londres.

A "Librairie Spirite" tornou-se conhecida sob diversos nomes, como sejam:

* "Société de Librairie Spirite" (1869);
* "Librairie de ia Revue Spirite" (1875);
* "Librairie Spirite des Sciences Psychoiogiques et Spirites" (1880); entre outros, devendo-se admitir, ainda, como antecedente, o ativo serviço de livraria que se desenvolveu a partir de 1868, como "bureau de ia Revue Spirite"

Nas nossas referências, porém, as citaremos sempn como "Librairie Spirite". Foram suas publicações:

* "Catalogue Raisonné des ouvrages pouvant servir à fonder une Bibiiotheque Spirite":
* 1a. ed. Paris, s.d. (1869), "in" 12. 30 pp.;
* 2a. ed. Paris, s.d. (1869, Setembro), "in" 12, 30 pp.; outra ed. Paris, s.d. (1873), "in" 12, 24 pp.

(*) "Librairie Spirite" (Livraria Espírita). Kardec, que tinha projetado a publicação de um catálogo minucioso das obras, hoje raro, que interessavam ao Espiritismo, o "Catalogue raisonné des ouvrages pouvant servir à fonder une bibliotheque spirite" (2éme. édition: Paris, s.d. 1869, Librairie Spirite des Science Psychologique, "in" 12, 30 pp.; 3e. édition. Paris. s.d. 1873, Librairie de Ia Revue Spirite ou Librairie Spirite e des Sciences Psychologiques, in, 12, 24 pp.), recebeu, no intervalo, a sugestão de um projeto para criar um casa especial para as obras desse gênero, concebida e executada por uma sociedade espírita, o que admitiu fundando, assim, a "Librairie Spirite" (1869), desti nada, conforme projetada, para atender à promoção do livro espírita e ramos da cultura que se relacionam com o Espiritismo. Pierre Gaetan Leymarie foi seu diretor de 1870 a 1897.

(**) A "Librairie Leymarie" continua aberta até os dias de hoje, onde aliás estivemos numa das nossas visitas a Paris, e onde adquirimos um exemplar de "Les Pionniers du Spiritisme", por J. Malgras, Paris, Librairie des Sciences Psychologiques, 1906, 478 pp.

(Texto que fará parte da Enciclopédia Espírita, a ser publicada pelo ICESP e publicado originalmente através da Revista do ICESP nº 06, 2º trimestre 2003)

(Retirado do Boletim GEAE Número 478 de 15 de julho de 2004)

Como Agir Contra os Ataques ao Espiritismo?

Por Alkíndar de Oliveira

Ligue sua televisão pela madrugada. Com o seu controle escolha aquele canal em que um líder religioso está entrevistando uma pessoa do povo. Você vai ouvir mais ou menos o seguinte diálogo:

“- Então a senhora se arrependeu de ter sido espírita?

- Sim, me arrependi. Foi um dos momentos de minha vida em que tudo dava errado e eu não sabia porque.

- E agora que a senhora está em nossa Igreja, como está sua vida?

- Agora, com Jesus no meu coração, tudo mudou. Consegui emprego, consegui comprar minha casa própria e sou uma pessoa muito mais feliz.

- Então o Espiritismo prejudicou a senhora?

- Prejudicou. Hoje eu vejo que o Espiritismo é coisa de demônio. Se pudesse diria para todos os espíritas conhecerem a nossa Igreja onde Jesus é o nosso Mestre e Senhor. Os espíritas precisam enxergar que o seu mestre é o demônio.”

Depois de ouvir tudo isso, nós espíritas ficamos a imaginar:

“Que desconhecimento em relação ao Espiritismo!”.

Um parêntese: Você se lembra, caro leitor, quando chutaram em um dos programas de televisão a imagem católica de Nossa Senhora Aparecida? Você se lembra da intensa e imensa reação dos católicos de todo o Brasil? Você se lembra dos insistentes noticiários da televisão e dos inflamados artigos de jornais e revistas sobre o assunto?

A reação de todos foi impressionante!

Há tempos não se via tamanha comoção em nosso país. O chute na imagem de Nossa Senhora era assunto nas escolas, nos bares, em todos os lugares.

Agora reflita comigo:

Você já imaginou que todos os dias determinados pastores chutam nossa Doutrina?

Por terem chutado uma única vez uma imagem, os católicos e toda a mídia brasileira prontamente reagiram.

E nós que estamos sendo chutados todos os dias, estamos reagindo?

Poderíamos pensar que existem duas alternativas para resolver essa crítica situação de ataque diário e persistente ao Espiritismo:

A primeira:

Culpar o pastor e procurar fazer com que o mesmo nos dê satisfação por publicamente desrespeitar de maneira infame e inculta a Doutrina que professamos.

A segunda:

Divulgar melhor nossa Doutrina.

Agirmos de acordo com a primeira alternativa geraria polêmica. E polêmica gera polêmica, que por sua vez gera polêmica...

Divulgar melhor nossa Doutrina é a solução.

Veja as palavras de Allan Kardec:

“Uma publicidade, numa larga escala, feita nos jornais mais divulgados, levaria ao mundo inteiro, e até aos lugares mais recuados, o conhecimento das idéias espíritas, faria nascer o desejo de aprofundá-los, e, multiplicando os adeptos, imporia silêncio aos detratores que logo deveriam ceder diante do ascendente da opinião”.

Vale a pena também ler as palavras de Vianna de Carvalho, espírito:

“Na hora da informática com os seus valiosos recursos, o espírita não se pode marginalizar, sob pretexto pueris, em que se disfarça a timidez, o desamor à causa ou a indiferença pela divulgação, porquanto o único antídoto à má Imprensa, na sua vária expressão, é a aplicação dos postulados espíritas, hoje ainda ignorados e confundidos com as superstições, crendices, sofrendo as velhas conotações infelizes com que o caluniaram no passado, aguardando ser despojado das mazelas que lhe atiraram os frívolos e os déspotas, os fanáticos e os de má fé, quanto os que se apoiavam nos interesses subalternos, inconfessáveis...

Hora de mentalidades abertas às informações de toda ordem, este é o nosso momento de programar tarefas, fomentar a divulgação por todos os meios, tornando-se cada companheiro honesto e dedicado, nova “carta-viva”, para a estruturação de um homem melhor, portanto, de uma sociedade mais justa, uma humanidade mais feliz”.

Complementa ainda Vianna de Carvalho “Como não é lícito fomentar debates ou gerar discussões improdutivas, cabem, frequentemente, sempre que possíveis, as honestas informações entre Doutrina Espírita e Doutrinas Espiritualistas, prática espírita e práticas mediúnicas, opiniões espíritas e opiniões medianímicas...”

Kardec e Vianna de Carvalho nos mostram que gerar polêmicas, criar discussões improdutivas a nada levam.

Procurar discutir no mesmo nível dos detratores é agir como eles estão agindo. É errar como eles estão errando.

Nossa tarefa é melhor divulgar a Doutrina e respeitar todas as religiões.

Uma eficiente e eficaz divulgação do Espiritismo, como disse Kardec: “imporia silêncio aos detratores que logo deveriam ceder diante do ascendente da opinião”.

Portanto, qual deve ser nossa postura ao divulgar nossa Doutrina?

Ao procurar divulgar nossa Doutrina, devemos fazê-la sem proselitismo, com ousadia e sensatez, tendo sempre em mente que nossa postura tem que ser a postura do conhecimento, da ética, da dignidade e da boa ação.