terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A Vida Além da Morte: Memórias de um Psiquiatra

Por João Luiz Romão

“Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” Paulo (l Cor, 15:55.)

Em 1998 foi lançado no Brasil o livro A Roda da Vida: memórias do viver e do morrer, da psiquiatra americana Elisabeth Kübler-Ross, que faz nesta obra sua autobiografia. A partir de determinada fase de sua vida profissional como médica, a Dra. Kübler-Ross se lançou como pioneira na investigação do fenômeno da morte e do morrer, especificamente em pacientes terminais. E após décadas de pesquisas, entrevistas, livros publicados e a vivência do dia-a-dia com a dor daqueles que estão morrendo, chega à seguinte conclusão: a morte não existe!

Para nós, espíritas, é uma afirmação mais do que natural. Mas, Elisabeth Kübler-Ross sofreu muitas perseguições e preconceitos a partir dessa postura, principalmente dos colegas de profissão. Nessas memórias é relatado todo o seu processo de descoberta da inexistência da morte, tendo participado de várias reuniões de intercâmbio mediúnico a partir dos anos 70, nas quais encontrou o estímulo dos seus amigos desencarnados para continuar sua principal tarefa: dizer ao mundo que a morte não existe.

Em determinado trecho do seu livro, no capítulo intitulado “A Vida Além da Morte”, relata que apesar de ter tratado durante vários anos de doentes terminais e com eles convivido, não acreditava na vida depois da morte. Mas, os fatos viriam provar o contrário.

Por volta de 1973 a Dra. Kübler-Ross, junto com seus assistentes, tinham entrevistado, aproximadamente, vinte mil pessoas à beira da morte. O interessante é que os relatos eram muito semelhantes. A partir deles chegou a uma nova definição de morte diferente da definição tradicional como o fim de tudo. Passou a considerar como prova a de que o homem possui (ou é) um Espírito (ou alma) e que além da existência física, algo sobrevivia e continuava. De acordo com suas entrevistas notou que o processo do morrer ocorria em diversas fases distintas, as quais resumiremos e nos fixaremos na fase 4, que mais especialmente nos interessa.

Na fase 1 (segundo seu relato) as pessoas, em determinado momento, flutuavam fora de seus corpos e presenciavam tudo o que se passava ao redor, inclusive ouvindo o que outras pessoas falavam entre si, testemunhando, após a volta ao corpo físico, o que tinham presenciado e escutado.

Na fase 2, elas se sentiam extremamente reconfortadas ao descobrirem que nenhum ser humano morre sozinho, encontrando amigos, familiares ou aqueles que denominavam como seus guias.

Na fase 3, guiados por seus “anjos da guarda”, os pacientes se viam entrando por lugares descritos como túneis, portões intermediários, pontes, desfiladeiros de montanhas, vales etc.

Na fase 4, Elisabeth relata que: “Neste estágio as pessoas passavam por uma revisão de suas vidas, um processo no qual se viam diante da totalidade de suas vidas.

Repassavam cada ação, palavra e pensamento. As razões de cada uma de suas decisões, pensamentos e ações tornavam-se compreensíveis. Viam como suas ações tinham afetado outras pessoas, até pessoas desconhecidas. Viam o que suas vidas poderiam ter sido, o potencial que tinham. Era mostrado a elas de que modo as vidas de todas as pessoas estão entrelaçadas, que cada pensamento e ação tem o efeito de uma ondulação e que esta atinge todas as outras formas de vida do planeta.”

Vemos em seus relatos um paralelo importante com a Doutrina Espírita. Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos2 na questão 306, pergunta aos Benfeitores espirituais:

306. O Espírito se lembra, pormenorizadamente, de todos os acontecimentos de sua vida? Apreende o conjunto deles de um golpe de vista retrospectivo?

R: Lembra-se das coisas, de conformidade com as conseqüências que delas resultaram para o estado em que se encontra como Espírito errante (...).

Nos itens a e b, da mesma questão, os Espíritos benfeitores mostram que a lembrança de muitos acontecimentos em suas minudências é de grande importância para nós, desde que tenha utilidade. A pessoa compreende a necessidade de sua purificação em cada existência, ou seja, o esforço para melhorar-se moral e intelectualmente. Na questão 307 continua:

307. Como é que ao Espírito se lhe desenha na memória a sua vida passada? Será por esforço da própria imaginação, ou como um quadro que se lhe apresenta à vista?

R: De uma e outra formas. São-lhe como que presentes todos os atos de que tenha interesse em lembrar-se (...).

Esse fenômeno, percebido por Elisabeth Kübler-Ross em quase todas as suas entrevistas, vai encontrar um respaldo mais detalhado em diversos relatos contidos nos livros do Espírito André Luiz, que chamaremos de visão panorâmica pós-morte.

Em uma de suas obras3, na desencarnação de Dimas, o assistente Jerônimo, junto de André Luiz, efetuando o desligamento final, assevera:

“(...) Por enquanto, repousará ele na contemplação do passado, que se lhe descortina em visão panorâmica no campo interior.”

As narrativas e os relatos efetuados pelos pacientes da Dra. Kübler-Ross vêm confirmar as respostas dadas pelos Espíritos responsáveis pela codificação do Espiritismo:

a de que a morte não existe e que a vida continua. Acrescentando, ainda, que no instante do trânsito para “o lado de lá” somos convidados a um exame de todas as nossas atitudes na última existência, bem como das conseqüências de nossas ações e omissões. Conforme nos aponta o Espírito Emmanuel, com as palavras da sabedoria e da experiência:

“(...) a maior surpresa da morte carnal é a de nos colocar face a face com a própria consciência, onde edificamos o céu, estacionamos no purgatório ou nos precipitamos no abismo infernal (...).” 4


Referências Bibliográficas:

1. KÜBLER-ROSS, Elisabeth. A Roda da Vida. GMT: Rio de Janeiro: 1998, parte III, p. 214.

2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2002, Parte 2a, cap. VI, item “Recordação da existência corpórea”.

3. XAVIER, Francisco Cândido. Obreiros da Vida Eterna, pelo Espírito André Luiz. 2. ed. especial, Rio de Janeiro: FEB, 2003, cap. 13, p 233.

4. Nosso Lar, pelo Espírito André Luiz, 2. ed. especial, Rio de Janeiro: FEB, 2003, “Novo amigo”, p. 9.

Fonte: O Reformador – set/2004

Interpelações sobre a Data Real do Nascimento de Jesus

Por José Herculano Pires

As celebrações do Natal despertam sempre a curiosidade de alguns leitores, a propósito da posição dos espíritas em face do problema do nascimento de Jesus. *Qual a maneira - pergunta um missivista - pela qual os espíritas explicam a aceitação da data de 25 de dezembro, como sendo a do nascimento histórico do Cristo, se é conhecida a impossibilidade de qualquer determinação dessa data?* A maneira de explicar isso é fácil, pois decorre da própria situação histórica da efeméride em causa. Quer dizer: a tradição espiritualista é a explicação natural dessa aceitação dos espíritas. Porque a data de 25 de dezembro corresponde às mais remotas celebrações do advento do Messias.

Trata-se de uma efeméride pagã, de origem mitológica, ligada ao mito-solar, e que foi adaptada ao Cristianismo, da mesma maneira porque tantas outras datas, festas e celebrações pagãs também o foram.

Um leitor que conhece o assunto, faz-nos, então, esta pergunta: Como e por que o Espiritismo aceita essa incorporação do paganismo ao cristianismo? Se o leitor conhecesse melhor o Espiritismo, veria que não há, do ponto de vista doutrinário, nenhum impedimento a respeito. As religiões mitológicas pertencem a fase de preparação do advento do Cristianismo. As revelações que antecederam a mosaica e a cristã eram tão legítimas como estas últimas. Não há motivo, pois, para qualquer repugnância nesse sentido. Por outro lado, o Espiritismo não pretende reformular a história cristã, mas apenas esclarecê-la. A tradição do Natal tem quase dois milênios. Substituí-la por uma novidade imprecisa seria absurdo. Além disso, a data de 25 de dezembro traz com ela uma impregnação milenar de adoração, que é de grande importância para os que conhecem o problema das vibrações espirituais. Tornou-se, por isso mesmo, a mais apropriada à celebração do Natal de Jesus.

Da mesma maneira porque o mito cristão ligou-se à revelação de Jesus, de forma indissolúvel, a partir do momento em que Jesus passou a ser considerado o Cristo, - transportou-se do plano das esperanças judaicas do Messias para o plano universal do mito grego - a data de 25 de dezembro deixou de ser apenas um marco mitológico na História das Religiões, para se transformar num marco histórico do processo de formação da religião cristã. Quando, pois, os espíritas celebram essa data, como a do nascimento de Jesus, com pleno conhecimento da sua natureza convencional (no plano histórico) sabem que ela também possui um aspecto de legitimidade histórica (no plano espiritual), em virtude do sentido profundo (antigamente chamado *oculto*) do mito-solar.

Não importa que Jesus tenha nascido em outra data, como não importa a simbologia mitológica do episódio evangélico do Natal. O que importa é compreender que a história do Natal, profundamente ligada à tradição espiritualista da evolução terrena, traz para o homem de hoje a mensagem eterna da renovação humana, através dos séculos, pelo desenvolvimento das forças do espírito. É nesse sentido que o espírita, sinceramente celebra o Natal de Jesus, acompanhando a tradição, sem com isso prejudicar a sua compreensão espiritual do Cristianismo. O processo de desenvolvimento espiritual do homem é vasto e complexo, abrangendo milênios, e envolvendo aspectos demasiado complexo, que o Espiritismo procura esclarecer de maneira racional, mas não pretende submeter a nenhuma transformação violenta.

Fonte: Livro "O Infinito e o Finito".

domingo, 13 de dezembro de 2009

O Espiritismo exige responsabilidade


Por Antonio Sérgio C. Picollo e Elio Mollo

Dentre as principais finalidades de um Centro Espírita, destacam-se, o amparo, o esclarecimento e o consolo, à luz da Dou­tri­na Espírita, que se fornecem a todos os ir­mãos necessitados que o pro­curam. Em primeiro lugar é óbvio que se algum espírita pretende ajudar alguém, à luz do Espiritismo, é necessário que ele conheça seus fundamentos básicos. E neste ponto que verificamos que surgem muitos problemas, de forma muito comum, em diversos Centros Espíritas de todo o Brasil. Infelizmente, muitos dirigentes e trabalhadores da Seara Espírita não conhecem a fundo (às vezes, nem superficialmente) as obras básicas do Espiritismo codifica­das por Allan Kardec e por isso mesmo tornam-se inaptos a orientar algum necessitado, ou mesmo a proferir uma palestra sobre Espiritismo. Parece-nos que muitos ainda não conhecem aquelas velhas frases: "Temos de começar pelo começo" ou Não se inicia a construção de uma casa pelo telhado, e sim pelo alicerce “.

É comum constatarmos que diversos Centros Espíritas e Federações de alguns Estados, em seus cursos básicos de Espiritismo, ou até mesmo em palestras abertas ao público em geral, releguem as obras de Kardec a um segundo plano, dando franca preferência a outros livros psicografados. E ainda orientam pessoas iniciantes na Doutrina a começarem a ler esse tipo de literatura que, que­remos deixar bem claro, são importantes, louváveis e de inestimável valor, porém, para aqueles que já possuem conhecimento dos elementos básicos da Doutrina Espírita. Não é raro assistirmos palestras públicas, onde muitas pessoas lá se encontram pela primeira vez, e vemos que o expositor espírita, após esclarecer que aquele local é uma “Casa Kardecista”, se põe a falar sobre os bônus-hora, de ministérios existentes nas colônias “. espirituais”., dos veículos de locomoção lá existentes etc.. Ora, se alguém de bom-senso, leigo em conhecimentos espíritas, assistir a esse tipo de palestra, logo duvidará da seriedade do Espiritismo e dos espíritas, pois, com razão, achará que tudo aquilo é ilógico ou se trata de algum conto de ficção.

Não devemos nos esquecer de que todos os dias chegam aos Centros Espíritas pessoas oriundas de outras religiões, que nada conhecem sobre Espiritismo e por isso é que tanto em matéria de palestras, como em relação a orientar sobre leituras, é de suma importância que se dê ênfase às obras basilares da Doutrina, a saber: "O Livro dos Espíritos", "O Evangelho Segundo o Espiritismo", "O Espiritismo na sua mais simples expressão" e "O que é o Espiritismo“, para que essas pessoas não se confundam e, sim, sejam esclarecidas. Depois desses conhecimentos bem assenta­dos em nossas mentes, é que pode­remos pensar em dar continuidade, em cursos separados do curso básico, ao estudo regular e metódico de” O Livro dos Médiuns “e de­mais obras de Kardec. Somente aí é que estaremos realmente em condições de estudarmos as importantes e verdadeiras obras subsidiárias da Doutrina Espírita. Como dissemos em relação a essas últimas nada te­mos contra, muito pelo contrário, porém, re­afirmamos que somente”. aqueles que já adquiriram conhecimentos das obras de Kardec serão capazes de absorver essas instruções. Caso contrário, estaremos orientando essas criaturas de forma destorcida e isso é uma ir­responsabilidade.

Como podemos nos considerar espíritas sem o conhecimento das obras de Kardec? Como ingressarmos numa faculdade de medicina, por exemplo, no quarto ano de graduação, sem termos conhecimento dos três primeiros anos básicos? Certamente, não entenderíamos muita coisa do restante do curso, senti­ríamos falta de conhecimentos básicos para compreendermos novas lições, e, se prosseguíssemos, sem dúvida, nos tornaríamos um mau profissional, pondo em risco a saúde dos pacientes, desprestigiando a medicina e os colegas de profissão. Esse simples exemplo serve como termo de comparação com o Centro Espírita. Se alguma pessoa ti­ver acesso a uma Casa Espírita e não lhe for apresentada corretamente a Doutrina Espírita, esta pessoa, caso continue a freqüentar esse local, continuará com falta de conheci­mento e coragem para solucionar esses problemas e, no futuro, será um médium ou trabalhador inseguro, cheio de dúvidas, e ignorante dos conhecimentos que necessita para si e também para poder ajudar aos outros.

Não achamos válida a justificativa que muitos irmãos utilizam de que "Kardec é difícil de entender" ou que "As obras de Kardec são maçantes". Recordamos textualmente as palavras do codificador na introdução de O Livro dos Espíritos": "Mas jamais dissemos que esta ciência seja fácil nem que se possa aprendê-la brincando, como também não se dá como qualquer outra ciência. Nunca será demais repetir que ela exige estudo constante e quase sempre prolongado".

Se observarmos com profundidade as obras de Kardec chegaremos a conclusão de que ele sempre usou o bom senso e para não criar dúvidas procurou ser objetivo e simples durante a codificação. Devemos alertar que muitas obras de outros autores que são consideradas "fáceis de entender", além de muitas vezes conterem erros doutrinários, não nos tornam aptos a compreendermos correta e aprofundadamente a Doutrina Espírita, gerando, cedo ou tarde, dúvidas e confusão dentro de nós mesmos que preferimos o caminho "mais fácil". Daí a importância de termos dirigentes espíritas conscientes e responsáveis para essa difícil tarefa de conduzirem a Doutrina Espírita com o máximo de pureza doutrinária, de saberem criar cursos regulares de Espiritismo de maneira adequada e lógica, sempre à luz das obras de Kardec em primeiro lugar. Que nossos dirigentes respeitem o Espiritismo divulgando-o como ele é na realidade e não inserindo opiniões pessoais como sendo verdade. Daí também surge a necessidade gritante de se capacitarem melhor, se aprofundando nas obras de Kardec, de se atualizarem através de trocas de experiências com outros dirigentes de outras Casas Espíritas, da leitura e divulgação dos jornais espíritas, enfim, de estudar Kardec para viver Jesus.

Pensemos nesta responsabilidade.

Transcrito do jornal CORREIO FRATERNO DO ABC no 243 – abril 1991

A Criança

Por Walter Oliveira Alves

Compreendemos, pois, que a criança é o Espírito eterno que ora reinicia a sua aprendizagem no mundo, trazendo consigo ao renascer uma bagagem de experiências multi-milenares, mas carregando também em si mesma, o germe de seu aperfeiçoamento.

Seu objetivo na Terra: EVOLUIR, desenvolver sua potencialidade interior, compreender a sim mesma e ao mundo que a cerca, corrigir os erros cometidos no passado, superar os próprios defeitos, desenvolvendo assim, gradativamente, o germe da perfeição que carrega em sim mesma, como herança Divina.

"Ó espíritas! compreendei hoje o grande papel da Humanidade; compreendei que quando produzis um corpo, a alma que nele se encarna vem do espaço para progredir; sabei vossos deveres e colocai todo o vosso amor em aproximar essa alma de Deus:" (O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. XIV.9)

Em o Livro dos Espíritos, questão 132, observamos o mesmo ensinamento: "Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos? R: - Deus lhes impõe a encarnação com o objetivo de fazê-los chegar à perfeição. Para alguns é uma expiação, para outros é uma missão. Todavia, para alcançarem essa perfeição, devem suportar todas as vicissitudes da existência corporal; nisto é que está a expiação (...)"

" A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo, mas Deus, em sua sabedoria, quis que, por essa mesma ação, eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximarem dele. É assim que, por uma lei admirável de sua providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza."

Vejamos, pois, os ensinamentos que a Doutrina Espírita nos oferece, de forma segura e clara, através das obras de Kardec, sobre o espírito em sua nova fase evolutiva, ao reencarnar.

Os Espíritos nos ensinam que a união da alma ao corpo se inicia no momento da concepção, mas apenas se completa no nascimento.

"Em que momento a alma se une ao corpo? - A união começa na concepção, mas não se completa senão no momento do nascimento. Desde o momento da concepção, o Espírito designado para habitar tal corpo, a ele se liga por um laço fluídico que vai se apertando, cada vez mais, até que a criança nasça; o grito que se escapa, então da criança, anuncia que ela se encontra entre os vivos e servidores de Deus." (O livro dos Espíritos - pgta. 344)

Os Espíritos nos ensinam também que desde o berço a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência anterior:

"Desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência anterior; é a estudá-los que é preciso se aplicar; todos os males têm seu princípio no egoísmo e no orgulho; espreitai, pois, os menores sinais que revelem os germes desses vícios, e emprenhai-vos em combatê-los, sem esperar que lancem raízes profundas; (...)" (O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. XIV.9)

Aprendemos também que as faculdades inerentes ao Espírito reencarnante somente se manifestam gradualmente, de acordo com o desenvolvimento dos órgãos.

"Ao nascer, o Espírito recobra imediatamente a plenitude de suas faculdades? R.- Não, elas se desenvolvem gradualmente, de acordo com o desenvolvimento dos órgãos. É para ele uma nova existência e é necessário que aprenda a se servir dos seus instrumento. As idéias lhe tornam pouco a pouco, como um homem que sai do sono e se encontra em posição diferente da que tinha na véspera." (O Livro dos Espíritos - pgta.352)

O mesmo ensinamento observamos em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VIII.4:

"A partir do nascimento, suas idéias retomam gradualmente impulso, à medida que se desenvolvem os órgãos; de onde se pode dizer que, durante os primeiros anos, o Espírito é verdadeiramente criança, porque as idéias que formam o fundo do seu caráter estão ainda adormecidas. Durante o tempo em que seus instintos dormitam ele é mais flexível e, por isso mesmo, mais acessível às impressões que podem modificar sua natureza e fazê-lo progredir, o que torna mais fácil a tarefa imposta aos pais."

A manifestação do Espírito necessita ser proporcional à fragilidade do corpinho infantil, como percebemos neste trecho:

"Seria preciso, aliás, que a atividade do princípio inteligente fosse proporcional à fraqueza do corpo que não poderia resistir a uma atividade muito grande do Espírito, assim como se vê entre as crianças muito precoces." (O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. VIII-4)

Uma criança, pois, embora sendo um Espírito eterno, reencarnado, tem a manifestação de sua inteligência limitada, não possuindo a mesma intuição de um adulto.

À medida em que os órgãos se desenvolvem, gradualmente sua bagagem interior começa a se manifestar.

"Quando ele é criança, é natural que os órgãos da inteligência, não estando desenvolvidos, não podem dar-lhe a intuição de um adulto. Ele tem, com efeito, a inteligência muito limitada enquanto a idade faz amadurecer sua razão. A perturbação que acompanha a reencarnação não cessa subitamente no momento de nascer; ela não se dissipa senão gradualmente com o desenvolvimento dos órgãos." (O Livro dos Espíritos - pgta.380)

Kardec reforça a assertiva dos Espíritos com o comentário: "Uma observação vem em apoio desta resposta: é que os sonhos, em uma criança, não têm caráter dos de um adulto; seu objeto é quase sempre pueril, o que é indício da natureza das preocupações do Espírito."

O objetivo do Espírito ao reencarnar é se aperfeiçoar e a fase infantil é a mais propícia à ação educativa.

"O Espírito se encarnando para se aperfeiçoar, é mais acessível, durante esse período, às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual, devem contribuir aqueles que estão encarregados da sua educação." (O Livro dos Espíritos - pergunta 383)

Os ensinamentos dos Espíritos são claros:

  • O homem é um ser perfectível, carregando em si o germe de seu aperfeiçoamento.
  • O Espírito reencarna para se aperfeiçoar, evoluir.
  • A união da alma e do corpo se inicia na concepção e se completa no nascimento.
  • Desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência anterior.
  • A partir do nascimento, suas idéias retomam gradualmente impulso, à medida que se desenvolvem os órgãos.
  • As faculdades do Espírito somente se manifestam gradativamente, de acordo com o desenvolvimento dos órgãos.
  • O Espírito se encarnado para se aperfeiçoar, é mais acessível, durante esse período, às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir aqueles que estão encarregados da sua educação.
Fonte: Do livro Educação do Espírito. Introdução à Pedagogia Espírita.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Questões sobre a Água Fluidificada

Por Alexandre Fontes da Fonseca

A água fluidificada é um recurso freqüentemente utilizado em diversas casas espíritas para complementar o tratamento através dos passes. Embora muitos centros espíritas ofereçam um copinho de água ao público após o passe, a utilidade da água fluidificada se verifica em casos de maior necessidade onde, por exemplo, o assistido é incapaz de se manter em equilíbrio espiritual pelo tempo necessário até a próxima sessão de passes. Via de regra, as pessoas não precisam tomar água fluidificada, pois os fluidos recebidos através do passe e das vibrações, ou simplesmente pelo próprio fato de estarem presentes em um ambiente harmonioso, são suficientes para ajudá-las a se manterem em equilíbrio [1]. Apesar de ser inofensiva e benéfica, a distribuição indiscriminada de água fluidificada para o público pode acarretar alguns inconvenientes. Por exemplo [1], criar nos assistidos uma dependência pela água fluídica; começarem os assistidos a trazer grande número de vasilhames para fluidificação; fazer supor que se esteja ministrando algum tipo de substância à água, podendo alguns atribuírem, indevidamente, à água fluidificada que receberam no centro, alguma indisposição que possam vir a ter posteriormente, devido a outras causas particulares. Nunca é demais lembrar que o corpo humano é aproximadamente 70% composto por água que, naturalmente, é suscetível de ser fluidificada pelo contato com os bons fluidos do passe ou de um ambiente harmonioso. Um copinho d’água acrescentaria menos de 1% ao volume de água de nosso organismo.

Aqui, estamos interessados em discutir questões de ordem científica a respeito da fluidificação da água. Encontramos em Kardec várias menções ao fato da água ser uma substância suscetível de se impregnar com fluidos espirituais. Por exemplo, ao analisar a passagem do Evangelho de São João (Cap. IX, vv. 1-34) em que Jesus cura um cego de nascença usando lama formada com sua saliva, Kardec diz (item 25, Cap. XV de A Gênese [2]) que “as mais insignificantes substâncias, como a água, por exemplo, podem adquirir qualidades poderosas e efetivas, sob a ação do fluido espiritual ou magnético, ao qual elas servem de veículo, ou, se quiserem, de reservatório.”

Esse tipo de argumento feito por Kardec é de grande valor científico, porque se baseia nas informações oriundas dos espíritos superiores que trabalharam na Codificação, tendo sido satisfeito o critério do consenso universal. Portanto, não está em questão a nossa certeza de que a água tem a propriedade de absorver os fluidos espirituais ambientes ou conscientemente direcionados a ela. Também não questionaremos a eficácia do uso da água fluidificada no tratamento de determinados tipos de desequilíbrios já que alguns livros como o de Michaelus [3] traz substanciosos exemplos. Desejamos aqui, apresentar, com base em conceitos científicos atuais, algumas questões importantes que possam orientar futuros trabalhos de pesquisa sobre o processo de fluidificação da água. Logicamente, não esgotaremos o assunto, mas os exemplos que apresentaremos servirão de modelo para outros tipos de questionamento. Aproveitaremos, ainda, para comentar sobre a equivocada conclusão de que “o fenômeno de absorção de fluidos pela água foi provado cientificamente” com base nos trabalhos de pesquisa do Dr. Masaru Emoto [4] sobre a formação de cristais de água.

Como ponto de partida para nossa discussão, utilizaremos a seguinte afirmativa de Bezerra de Menezes no livro da referência [5]: “A água, em face da constituição molecular, é elemento que absorve e conduz a bioenergia que lhe é ministrada. ” (Cap. 3, p. 40).

A água é formada por moléculas de H­­­2O que possuem uma estrutura cujo formato depende de uma série de fatores. Quando se lê na afirmativa de Bezerra, a expressão “constituição molecular” o cientista não percebe apenas o fato da molécula de água ser formada por dois átomos de Hidrogênio e um de Oxigênio. O cientista, químico ou físico, levará em conta as diversas propriedades dessa molécula. Por exemplo, as duas ligações O-H formam um ângulo de aproximadamente 104,5º entre si. A distância entre os átomos de Oxigênio e Hidrogênio é da ordem de 10-9m (essa distância é igual a 1 metro dividido por 1 bilhão). Essas características e outras propriedades fazem com que a molécula de água seja polar, isto é, ela possui uma polaridade elétrica. Como conseqüência, as moléculas de água são atraídas umas pelas outras assim como outras moléculas polares são também atraídas ou repelidas pela água. Acrescenta-se a isso o efeito de determinados tipos de condições físicas como a temperatura e pressão, e veremos como um simples copo d’água pode se tornar um sistema bastante complexo. Um dos primeiros questionamentos que um cientista espírita pode fazer é: que fatores relativos à constituição molecular da água são os mais importantes para o processo de fluidificação da mesma?

Antes de pensar em respostas, o cientista buscará mais pistas para o seu trabalho de pesquisa. Encontramo-las na afirmativa citada de Bezerra de Menezes “... é elemento que absorve e conduz a bioenergia que lhe é ministrada”, e que isso ocorre devido à “constituição molecular da água”. Isso nos leva a uma nova pergunta: que fatores relativos à constituição molecular da água permitem que ela possa absorver, armazenar e conduzir algum tipo de energia? Essa pergunta, agora, possui uma orientação para o trabalho de pesquisa.

O físico, por exemplo, lembrará que a teoria quântica prevê que as trocas de energia entre os objetos microscópicos ocorrem através dos quanta, isto é, de pequenos pacotes finitos de energia. Além disso, a energia fica armazenada em cada sistema de acordo com os graus de liberdade que possui. No caso da molécula de água, temos diversos tipos de graus de liberdade. Por exemplo, energia pode ser armazenada através da mudança do ângulo entre as ligações de O-H; através da mudança da distância entre os átomos de Oxigênio e Hidrogênio; através de oscilações diversas entre os átomos que compõem a molécula; através de movimentos de rotação da molécula ou entre partes dela; através de movimentos entre diferentes moléculas; etc.

Todo esse raciocínio decorre de conhecimentos de ordem científica material. Como espíritas, sabemos que os fluidos espirituais estão envolvidos no processo de fluidificação da água. Assim, questões extras surgem à mente do cientista espírita pois a afirmativa de Bezerra é constituída de conceitos científicos de ordem material. Por exemplo, seriam os fluidos espirituais outras formas de energia que podem ser transformadas em energias materiais conhecidas ? Pode o perispírito absorver os quanta de energia materiais armazenadas nos graus de liberdade da molécula de água ? Se os fluidos espirituais são formas de energia que não podem ser transformadas em energias materiais, por que a constituição molecular da água, que é uma característica material, favorece a absorção e condução de bioenergia ? Por que Bezerra usou a expressão “bioenergia” já que essa palavra possui múltiplos significados ? Não é nosso objetivo aqui responder essas questões, pois elas requerem um amplo e minucioso trabalho de estudo, pesquisa e meditação. Em ciência, as respostas jamais são apresentadas com base, apenas, em opinião própria ou intuição. Uma completa explicação de cada resposta precisa ser apresentada.

Cabe aqui um comentário sobre algumas teses baseadas na existência de átomos fluídicos ou do tipo psi. Andrade [6] e Mello [7] defendem a idéia de que as moléculas materiais possuem uma versão psi que existiria em alguma dimensão diferente não acessível aos instrumentos dos cientistas. Existe uma boa lógica em tais propostas, mas devido à dificuldade em verificá-las experimentalmente, o cientista espírita deve tomar cuidado em não considerar esses modelos como base para suas respostas, pois em ciência nunca se utiliza algo ainda desconhecido para explicar uma coisa que ainda é desconhecida.

A seguir, apresentaremos um pequeno comentário originalmente publicado por nós no Jornal Alavanca de Campinas [8] (reproduzido em site) [9]), sobre o valor científico do trabalho de pesquisa do Dr. Masaru Emoto a respeito da formação de cristais de água.

Cristais de água fluidificada: sem valor científico

Um pesquisador japonês, Dr. Masaru Emoto, afirma ter provado que pensamentos e sentimentos interferem no processo de cristalização da água. Ele afirma que a estrutura cristalina da água é afetada pela “energia de vibração” de pensamentos, atos, e até mesmo de palavras e músicas [4,10]. No artigo da referência [8], discutimos a falta de valor científico do trabalho do Dr. Masaru Emoto. Nos baseamos em argumentos de ordem científica e espírita.

Questionamos o fato do Dr. Emoto não ter publicado em revista científica nenhum trabalho sobre processos de cristalização da água, mesmo sem nenhuma relação a aspectos místicos ou religiosos. Emoto divulga seu trabalho através de livros particulares e através de “homepages” próprias [10]. Um artigo publicado em revista científica internacional, mesmo que de parâmetro de impacto relativamente baixo, permitiria que outros pesquisadores e cientistas que trabalham com o estudo das propriedades da água e com processos de cristalização ou congelamento da água, pudessem analisar os resultados do Dr. Emoto e repetir suas experiências para confirmar ou não seus resultados. Um resultado somente é considerado como cientificamente aceito ou comprovado quando outros cientistas obtêm os mesmos resultados através de experimentos iguais ou diferentes.

Questionamos, também, a inconsistência de alguns resultados divulgados pelo Dr. Emoto à luz dos conhecimentos espíritas. Por exemplo, Emoto diz que uma amostra de água cujo recipiente possui uma etiqueta com a palavra HITLER, produzirá cristais com estrutura amorfa, sem padrões de simetria e com aspecto desagradável ao olhar. Se, ao contrário, a palavra for AMOR ou o nome de alguma personalidade boa, como JESUS por exemplo, os cristais que se formam são simétricos e bonitos [10]. Nosso argumento se baseia no fato de que: i) existem pessoas com nome ou sobrenome Hitler; ii) essas pessoas não são más só por causa do nome; iii) as mães dessas pessoas vibram amor por elas. Um frasco contendo água com um rótulo escrito HITLER, se colocado em presença da mãe de uma pessoa chamada Hitler, por exemplo, vai receber dela vibrações de amor. Se esse frasco for colocado na frente de uma pessoa de origem judia, a carga fluídica será negativa. Portanto, o nome HITLER escrito no rótulo de uma amostra de água não terá efeito sobre a sua cristalização porque esse conjunto de letras não tem valor, se uma mente não lê-las e não houver uma “vibração” direcionada para a amostra de água. Assim, a conclusão de que uma palavra estampada num rótulo tem o poder de influenciar as moléculas de água é ilógica, segundo os princípios espíritas.

Referências

[1] Terezinha Oliveira, Fluidos & Passes, Editora EME (1995).

[2] A. Kardec, A Gênese, FEB, 36ª Edição (1995).

[3] Michaelus, Magnetismo Espiritual, FEB, 2ª Edição (1967).

[4] M. Emoto, The Message from Water, Vol. I, Ed. Hado Kyoiku Sha (1999).

[5] D. P. Franco, pelo espírito de M. P. de Miranda, Loucura e Obsessão, FEB (1990).

[6] H. G. Andrade, Psi Quântico, Uma Extensão dos Conceitos Quânticos Atômicos à Idéia do Espírito, Ed. Pensamento, 9ª Edição (1993).

[7] J. Mello, O Passe, Seu Estudo, Suas Técnicas, Sua Prática, FEB, 2ª Edição (1992).

[8] A. F. da Fonseca, “Mensagem” dos cristais de água: cientificamente NÃO comprovado!, Jornal Alavanca 489, Janeiro (2004).

[9] http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo172.html

[10] http://www.hado.net e http://thank-water.net

Fonte: Publicado no Jornal Espírita 354, Fevereiro, p. 9, 2005.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A Encarnação dos Espíritos

O Espiritismo ensina de que maneira se opera a união do Espírito com o corpo, na encarnação.

O Perispírito

Pela sua essência espiritual, o Espírito é um ser indefinido, abstrato, que não pode ter ação direta sobre a matéria, sendo-lhe indispensável um intermediário, que é o envoltório fluídico, o qual, de certo modo, faz parte integrante dele. É semimaterial esse envoltório, isto é, pertence à matéria, pela sua origem, e à espiritualidade, pela sua natureza etérea. Como toda matéria, ele é extraído do fluido cósmico universal, que, nessa circunstância, sofre uma modificação especial. Esse envoltório, denominado perispírito, faz de um ser abstrato, o Espírito, um ser concreto, definido, apreensível pelo pensamento. Torna-o apto a atuar sobre a matéria tangível, conforme se dá com todos os fluidos imponderáveis, que são, como se sabe, os mais poderosos motores.

O fluido perispirítico constitui, pois, o traço de união entre o Espírito e a matéria. Enquanto aquele se acha unido ao corpo, serve-lhe ele de veículo ao pensamento, para transmitir o movimento às diversas partes do organismo, as quais atuam sob a impulsão da sua vontade e para fazer que repercutam no Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam. Servem-lhe de fios condutores os nervos como, no telégrafo, ao fluido elétrico serve de condutor o fio metálico.

O Nascimento

Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o gérmen se desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio vital-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior.

Um fenômeno particular, que a observação igualmente assinala, acompanha sempre a encarnação do Espírito. Desde que este é apanhado no laço fluídico que o prende ao gérmen, entra em estado de perturbação, que aumenta, à medida que o laço se aperta, perdendo o Espírito, nos últimos momentos, toda a consciência de si próprio, de sorte que jamais presencia o seu nascimento. Quando a criança respira, começa o Espírito a recobrar as faculdades, que se desenvolvem à proporção que se formam e consolidam os órgãos que lhes hão de servir às manifestações.

Mas, ao mesmo tempo em que o Espírito recobra a consciência de si mesmo, perde a lembrança do seu passado, sem perder as faculdades, as qualidades e as aptidões anteriormente adquiridas, que haviam ficado temporariamente em estado de latência e que, voltando à atividade, vão ajudá-lo a fazer mais e melhor do que antes. Ele renasce qual se fizera pelo seu trabalho anterior; o seu renascimento lhe é um novo ponto de partida, um novo degrau a subir. Ainda aí a bondade do Criador se manifesta, porquanto, adicionada aos amargores de uma nova existência, a lembrança, muitas vezes aflitiva e humilhante, do passado, poderia turbá-lo e lhe criar embaraços. Ele apenas se lembra do que aprendeu, por lhe ser isso útil. Se às vezes lhe é dado ter uma intuição dos acontecimentos passados, essa intuição é como a lembrança de um sonho fugitivo. Ei-lo, pois, novo homem, por mais antigo que seja como Espírito. Adota novos processos, auxiliado pelas suas aquisições precedentes. Quando retorna à vida espiritual, seu passado se lhe desdobra diante dos olhos e ele julga como empregou o tempo, se bem ou mal.

Não há, portanto, solução de continuidade na vida espiritual, sem embargo do esquecimento do passado. Cada Espírito é sempre o mesmo eu, antes, durante e depois da encarnação, sendo esta, apenas, uma fase da sua existência. O próprio esquecimento se dá tão-só no curso da vida exterior de relação. Durante o sono, desprendido, em parte, dos liames carnais, restituído à liberdade e à vida espiritual, o Espírito se lembra, pois que, então, já não tem a visão tão obscurecida pela matéria.

A Morte

Por um efeito contrário, a união do perispírito e da matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do gérmen, cessa, desde que esse princípio deixa de atuar, em conseqüência da desorganização do corpo. Mantida que era por uma força atuante, tal união se desfaz, logo que essa força deixa de atuar. Então, o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira, e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito.

O Espiritismo, pelos fatos cuja observação ele faculta, dá a conhecer os fenômenos que acompanham essa separação, que, às vezes, é rápida, fácil, suave e insensível, ao passo que doutras é lenta, laboriosa, horrivelmente penosa, conforme o estado moral do Espírito, e pode durar meses inteiros.

Considerações Gerais

Normalmente, a encarnação não é uma punição para o Espírito, conforme pensam alguns, mas uma condição inerente à inferioridade do Espírito e um meio de ele progredir. A obrigação que tem o Espírito encarnado de prover o alimento ao corpo, à sua segurança, ao seu bem-estar, o força a empregar suas faculdades em investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Útil, portanto, ao seu adiantamento é a sua união com a matéria. Daí o constituir uma necessidade a encarnação. Além disso, pelo trabalho inteligente que ele executa em seu proveito, sobre a matéria, auxilia a transformação e o progresso material do globo que lhe serve de habitação. É assim que, progredindo, colabora na obra do Criador, da qual se torna fator inconsciente.

Todavia, a encarnação do Espírito não é constante, nem perpétua: é transitória. Deixando um corpo, ele não retoma imediatamente outro. Durante mais ou menos considerável lapso de tempo, vive da vida espiritual, que é a sua vida normal, de tal sorte que insignificante vem a ser o tempo que lhe duram as encarnações, se comparado ao que passa no estado de Espírito livre.

No intervalo de suas encarnações, o Espírito progride igualmente, no sentido de que aplica ao seu adiantamento os conhecimentos e a experiência que alcançou no decorrer da vida corporal; examina o que fez enquanto habitou a Terra, passa em revista o que aprendeu, reconhece suas faltas, traça planos e toma resoluções pelas quais conta guiar-se em nova existência, com a idéia de melhor se conduzir. Desse jeito, cada existência representa um passo para frente no caminho do progresso, uma espécie de escola de aplicação.

Fonte: “A Gênese” – Allan Kardec

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Adulterando Kardec

Por Carlos de Brito Imbassahy

Curiosamente, na 5ª edição francesa de “Le livre des Médiums” vamos encontrar no cap. III, item 35, uma recomendação de Allan Kardec, para os que queiram conhecer os fundamentos primários da Doutrina Espírita onde indica, pela ordem, as seguintes obras:

1 – O Que é o Espiritismo;
2 – O Livro dos Espíritos;
3 – O Livro dos Médiuns e
4 – Seleta de artigos publicados pela Revista Espírita.

Os evangélicos, que querem transformar o Espiritismo em mais uma seita cristã alegam que Kardec teria omitido desta lista o Livro que, no seu lançamento, teve o nome de “La morale de l’Evangile selon le Spiritisme” porque ele é posterior ao lançamento do Livro dos Médiuns, mas não explica como é que Kardec, no caso, incluiu duas outras obras posteriores ao próprio ESE – “O Evangelho Segundo o Espiritismo” –, na tradução brasileira, sendo que uma delas aparece em primeiro lugar na referida relação.

O raciocínio dos evangélicos só chega a seus interesses pessoais e se esquece da generalização dos fatos. E mais, com este título acima (A moral do Evangelho conforme o Espiritismo), Kardec o cita em diversos tópicos da 1ª edição de “O Que é o Espiritismo”, o que prova que este é posterior àquele, portanto, se o nome do ESE não está incluído na lista é porque Kardec não o achava de importância primordial para o estudo da codificação por ele elaborada.

Cabe, ainda, esclarecer que, segundo consta, teria sido o editor Lacroix que teria recomendado a Kardec, a partir da segunda edição, simplificar o nome da obra tirando do seu título o conceito de “Moral” deixando, apenas,“O Evangelho ”. A má fé, por vezes, a ignorância em outros casos, julga, dessa maneira, que este livro só teria sido publicado a partir desta edição com o nome simplificado. Mesmo assim, como explicar que a quarta obra relacionada seja uma Seleta que Kardec organizou depois de ter escrito todos os seus livros básicos? Convenientemente, basta tirar o conceito de “seleta” e deixar como se foram alguns artigos da Revista Espírita e não a aludida seleção feita pelo seu autor.

Há Centros que se dizem espíritas, inclusive uma Associação que se compõe de divulgadores da doutrina cujo único estudo que fazem ao que se referem, é a dos Evangelhos. Não se trata de ser contra os Evangelhos; pelo contrário, embora adulterados pela Igreja e nem sempre fiéis à História de Jesus, seus textos têm uma finalidade digna, contudo, para seus estudos há igrejas em demasia que o fazem com muita peculiaridade, portanto, para tal, basta que o evangélico se transfira para uma delas ou funde a sua própria, mas que não transforme o Espiritismo codificado por Kardec em mais uma delas, descaracterizando a obra deste distinto autor.

É preciso que haja respeito a uma doutrina digna e sensata, dedicada a estudiosos, justamente, que não se prendem a textos bíblicos e que podem receber, com pureza os belos ensinamentos de Jesus, sem que sejam impostos como sendo fundamentais a seus estudos.

E Kardec, com muita precisão, ao definir “o que é o Espiritismo”, no preâmbulo do livro que tem este nome, teve o enorme cuidado de dizer que o Espiritismo é uma Ciência de conclusões filosóficas, sem se referir, em um só momento, aos Evangelhos. Por que, então impingir tal idéia aos que querem ser espíritas fiéis a Kardec? Não seria mais justo que tais evangélicos fundassem sua própria doutrina, que mereceria integral respeito de todos, certos que somos de que ela estaria voltada para o bem!?

O que não é digno será tentar descaracterizar o Espiritismo transformando-o em mais um estudo voltado para o Cristianismo puro como o fazem suas Igrejas.

Pior ainda são certas traduções das obras de Kardec completamente adulteradas, com o fito de transformá-las em algo coerente com o docetismo de seu tradutor; mudaram-se textos, cortaram-se outros, enfim, mutilaram, na tradução, o pensamento do mestre para que suas obras, pelo menos, na versão brasileira, não contrariassem pontos de vistas que jamais seriam defendidos pelo codificador.

Respeitemos, pois, Kardec.

Pensamentos e Fluidos


Por Allan Kardec

“Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável” - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XIV, item 16).

O pensamento exerce uma poderosa influência nos fluidos espirituais, modificando suas características básicas.

Os pensamentos bons impõem-lhes luminosidade e vibrações elevadas que causam conforto e sensação de bem estar às pessoas sob sua influência. Os pensamentos maus provocam alterações vibratórias contrárias às citadas acima. Os fluidos ficam escuros e sua ação provoca mal estar físico e psíquico.

Pode-se concluir assim, que em torno de uma pessoa, de uma família, de uma cidade, de uma nação ou planeta, existe uma atmosfera espiritual fluídica, que varia vibratoriamente, segundo a natureza moral dos Espíritos envolvidos.

À atmosfera fluídica associam-se seres desencarnados com tendências morais e vibratórias semelhantes. Por esta razão, os Espíritos superiores recomendam que nossa conduta, nas relações com a vida, seja a mais elevada possível.

Uma criatura que vive entregue ao pessimismo e aos maus pensamentos, tem em volta de si uma atmosfera espiritual escura, da qual aproximam-se Espíritos doentios. A angústia, a tristeza e a desesperança aparecem, formando um quadro físico-psíquico deprimente, que pode ser modificado sob a orientação dos ensinos morais de Jesus.

“A ação dos Espíritos sobre os fluidos espirituais tem conseqüências de importância direta e capital para os encarnados. Desde o instante em que tais fluidos são o veículo do pensamento; que o pensamento lhes pode modificar as propriedades, é evidente que eles devem estar impregnados das qualidades boas ou más, dos pensamentos que os colocam em vibração, modificados pela pureza ou impureza dos sentimentos” - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XIV, item 16).

À medida que cresce através do conhecimento, o homem percebe que suas mazelas, tanto físicas quanto espirituais, é diretamente proporcional ao seu grau evolutivo e que ele pode mudar esse estado de coisas, modificando-se moralmente. Aliando-se a boas companhias espirituais através de seus bons pensamentos, poderá estabelecer uma melhor atmosfera fluídica em torno de si e, consequentemente, do ambiente em que vive. Resumindo, todos somos responsáveis pelo estado de dificuldades morais que vive o planeta atualmente.

“Melhorando-se, a humanidade verá depurar-se a atmosfera fluídica em cujo meio vive, porque não lhe enviará senão bons fluidos, e estes oporão uma barreira à invasão dos maus. Se um dia a Terra chegar a não ser povoada senão por homens que, entre si, praticam as leis divinas do amor e da caridade, ninguém duvida que não se encontrem em condições de higiene física e moral completamente outras que as hoje existentes”.

Fonte: Allan Kardec - Revista Espírita, Maio, 1867.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Os Espíritos da Codificação e o Vácuo Quântico

Título original: Os Espíritos sábios que ditaram a Doutrina Espírita a Kardec já conheciam o vácuo quântico em 1857?

Por Wladimyr Sanchez

A primeira edição de "O Livro dos Espíritos" publicada em 18 de abril de 1857, em Paris, por Allan Kardec, foi produto de ditados que ele obteve de uma plêiade de Espíritos Sábios iniciados em maio de 1855 e encerrados em abril de 1856. Desta data até fevereiro de 1857, ou seja, durante dez meses, esses ditados foram colocados na forma de uma brochura, analisados e revisados pela própria plêiade que os ditou, porque Kardec havia produzido algumas desconformidades ao interpretar os princípios da Doutrina, que eram novos, em sua maioria. A autorização para que Kardec os publicasse, na forma de livro, foi dada pelos próprios autores da obra.

Depois de receber o sinal verde para publicar o "O Livro dos Espíritos", Kardec tratou de convencer um editor a fazê-lo, fato que ocorreu no início de março de 1857. Desta forma, em 18 de abril de 1857, a primeira edição de "O Livro dos Espíritos" foi colocada a venda para o público parisiense, depois de uma pequena mas fulminante publicidade a respeito, fato que despertou muita curiosidade pela obra, não só pelo público em geral mas também pela classe dos cientistas, filósofos e religiosos. No seu frontispício trás a legenda: LE LIVRE DES ESPRITS, contenant LE PRINCIPLES DE LA DOCTRINE SPIRITE, sur la nature des esprits, leur manifestation e leurs rapports avec les hommes; les lois morales, la vie presente, la vie future, e l'avenir de l'humanité; ECRIT SOUS LA DICTÉE ET PUBLIÉ PAR L'ORDE D'ESPRITS SUPÉRIEURS, PAR ALLAN KARDEC. A tradução para o português é: O LIVRO DOS ESPÍRITOS, contendo OS PRINCÍPIOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, sobre a natureza dos Espíritos, suas manifestações e suas relações com os homens; as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade; escrito sob o ditado e publicado por ordem de Espíritos Superiores, por Allan Kardec.

Assim é que na questão 16 da primeira edição de "O Livro dos Espíritos", de 18 de abril de 1857, os Espíritos Sábios comunicantes assim se expressam a Kardec, sobre o espaço universal: "O espaço universal é infinito, dir-se-ia sem bordas. Se supusermos um limite para o espaço, qualquer distância que o pensamento possa conceber, a razão dirá sempre que além desse limite haverá alguma coisa e assim sucessivamente, de lugar em lugar, até o infinito; então essa qualquer coisa mesmo que se chamasse vácuo absoluto seria ainda espaço".

Até pouco tempo a Física considerava vácuo como sendo um espaço, imaginário ou real, não ocupado por coisa alguma, vazio, onde a pressão era inferior a uma unidade chamada atmosfera, que mede a pressão exercida por uma camada gasosa.

Com o desenvolvimento da Mecânica Quântica, nos últimos 20 anos, concluiu-se sobre como o processo da inflação cósmica explica de modo natural porque o nosso Universo é tão grande e tão uniforme, como atualmente o observamos. A inflação cósmica também achatou a geometria do espaço-tempo até o grau que hoje observamos no cosmo. A idéia básica a inflação cósmica é simples: no início da história do Universo, logo após o Big-Bang, de repente ele se expandiu imensamente em tamanho, daí o nome de inflação, por analogia ao sentido que essa palavra tem na economia. Para evoluir até um Universo semelhante ao nosso, com as propriedades que vemos, o Universo primordial teve que se expandir pelo menos umas 1028 vezes (significa o número 1 seguido de 28 zeros). Para se ter uma idéia da vastidão desse número, convém notar que o tamanho do Universo atualmente observável é de aproximadamente 1028 centímetros. Portanto, a inflação cósmica foi como inflar um pequeno pedregulho até o tamanho de todo o nosso Universo observável, ou até mais, e tudo numa minúscula fração de segundo. Essa expansão extremamente rápida ocorreu quando a densidade energética do Universo (também chamada fluído cósmico universal, pelos Espíritos) foi dominada pela densidade de energia do vácuo. Quando a densidade energética do Universo é dominada pela energia do vácuo, a pressão negativa impõe um ritmo de expansão cada vez maior. Essa expansão acelerada pode inflar o nosso Universo na enorme medida necessária para explicar não apenas as suas propriedades, mas também como os Espíritos puderam habitá-lo.

À primeira vista, o conceito de densidade de energia do vácuo parece uma contradição. Costumávamos pensar no vácuo como sendo completamente vazio. Como pode uma coisa supostamente vazia ter energia, e muito menos dominar a densidade energética de todo o Universo? No nível fundamental, o vácuo tem que obedecer a uma descrição quântica, significando com isso que, afinal, o vácuo não é realmente vazio. O vácuo é regido pelo chamado Princípio da Incerteza de Heisenberg, que atua sobre a natureza ondulatória da realidade física nas pequenas escalas dimensionais e levou à possibilidade da energia do vácuo.

Considere um elétron, por exemplo. O Princípio da Incerteza de Heisenberg mostra que não podemos medir simultaneamente o momentum da partícula (seu movimento) e a posição que ela ocupa no espaço, com o mesmo grau de exatidão. Assim, esse Princípio da Incerteza acaba tendo conseqüências importantes para o conceito de vácuo. Do ponto de vista da Mecânica Quântica, o vácuo não pode ser realmente vazio. Imaginemos uma região do espaço universal vazia, como nos exemplifica a questão 16 de "O Livro dos Espíritos", primeira edição de 1857. Em virtude do Princípio da Incerteza, esse espaço, aparentemente vazio é repleto de partículas, que pulsam brevemente, ao ganhar vida e morrer. A energia necessária para criar essas partículas é tomada de empréstimo do vácuo e prontamente devolvida a ele, quando as partículas se aniquilam e, em seguida, tornam a desaparecer no "nada". Elas são chamadas de partículas virtuais porque não possuem vida real. Vivem de um tempo emprestado e sempre se aniquilam logo depois de seu aparecimento espontâneo no vácuo. Por causa dessa criação espontânea, o espaço que corresponde ao vácuo, que deveria ser deserto, fica repleto dessas partículas virtuais de matéria, como se fossem fantasmas que aparecem e desaparecem, repentinamente. E, essas partículas virtuais podem dotar o vácuo de uma densidade energética efetiva que, de outro modo, ele não a possuiria. Portanto, a Mecânica Quântica leva-nos, naturalmente, ao conceito de que o espaço vazio possui, na realidade, densidade energética, confirmando o que os Espíritos comunicaram inicialmente a Kardec, e que se encontra reforçado na questão 36, da segunda edição de "O Livro dos Espíritos", publicada em 18 de março de 1860, a saber:

P. 36 - "O vazio absoluto existe em alguma parte do espaço universal"?
- "Não, nada é vazio; o que te parece vazio está ocupado por uma matéria que te escapa aos teus sentidos e instrumentos."

(*) WLADIMYR SANCHEZ, é físico formado pela USP, engenheiro mecânico formado pela Universidade Mackenzie, engenheiro nuclear, formado em Oak Ridge, USA, engenheiro civil, pela UNESP. É Mestre e Doutor em Ciências, pela USP e PhD em Gerenciamento de Recursos Hídricos, pelo MIT, USA, Presidente do Instituto de Pesquisa e Ensino da Cultura Espírita - IPECE.

Ante o suicídio - Algumas considerações espíritas

Por Jorge Hessen

Em recente reportagem, divulgou-se que uma jovem, de 15 anos, suicidou-se com um tiro de revolver, dentro de uma escola, em Curitiba. Não houve grito nem pedido de socorro. Em silêncio, ela entrou no banheiro e se trancou em uma das cinco cabines reservadas. Sentada sobre o vaso sanitário, disparou contra a boca. Suicídios desse gênero (tiro especialmente), em escolas brasileiras, não são comuns. "Três meses antes da tragédia, a jovem procurou os pais e pediu para que eles a levassem a um psicólogo. Dizia sentir-se triste e desmotivada. O pai passou a pegá-la na aula de pintura e levá-la, semanalmente, a um psiquiatra. No inquérito policial sobre o suicídio, apurou-se que ela tomava benzodiazepínicos (soníferos) para dormir, e outros fármacos para controlar a ansiedade que sentia". (1) Diante do dilema, indagamos: Como os pais podem proteger os filhos ante os desequilíbrios emocionais que assolam a juventude de hoje? Obviamente, precisam estar atentos. Interpretar qualquer tentativa ou anúncio de suicídio do jovem como sinal de alerta. O ideal é procurar ajuda especializada de um psicólogo e, para os pais espíritas, os recursos terapêuticos dos centros espíritas. Aproximar-se, mais amiudemente, do filho que apresenta sinais fortes de introspecção ou depressão. O isolamento e o desamparo podem terminar com aguda depressão e ódio da vida.

É evidente que sugerir serem os pais os únicos responsáveis pelo autocídio de um filho(a), é algo muito delicado e preocupante, pois, trata-se um ato pessoal de extremo desequilíbrio da personalidade, gerado por circunstâncias atuais ou por reminiscências de existências passadas. Se há culpa dos pais, atribui-se à negligência, à desatenção, a não perceber as mudanças no comportamento de um filho(a) e a tudo que acontece à sua volta. Sobre isso, estamos convictos de que a sociedade, como um todo, é, igualmente, culpada. Inobstante colocarem o fardo da culpa nos pais em primeiro lugar, reflitamos: quem pode controlar a pressão psicológica que uma montanha de apelos vazios faz na cabeça dos jovens, diariamente? O suicídio é um ato exclusivamente humano e está presente em todas as culturas. Suas matrizes causais são numerosas e complexas. Os determinantes do suicídio patológico estão nas perturbações mentais, depressões graves, melancolias, desequilíbrios emocionais, delírios crônicos, etc. Algumas pessoas nascem com certas desordens psiquiátricas, tal como a esquizofrenia e o alcoolismo, o que aumenta o risco de suicídio. Há os processos depressivos, onde existem perdas de energia vital no organismo, desvitalizando-o, e, conseqüentemente, interferindo em todo o mecanismo imunológico do ser.

Em termos percentuais, 70% das pessoas que cometem suicídio, certamente sofriam de um distúrbio bipolar (maníaco-depressivo); ou de um distúrbio do humor; ou de exaltação/euforia (mania), que desencadearam uma severa depressão súbita, nos últimos minutos que antecederam aos de suas mortes. O suicídio pode ocorrer, tanto na fase depressiva, quanto na fase da mania, sempre conseqüente do estado mental. O suicida é, antes de tudo, um deprimido, e a depressão é a doença da modernidade. O suicida não quer matar a si próprio, mas alguma coisa que carrega dentro de si e que, sinteticamente, pode ser nominado de sentimento de culpa e vontade de querer matar alguém com quem se identifica. Como as restrições morais o impedem, ele acaba se autodestruindo. Assim, "o suicida mata uma outra pessoa que vive dentro dele e que o incomoda, profundamente. Outra coisa que deve ser analisada é a obsessão que poderia ser definida como um constrangimento que um indivíduo, suicida em potencial ou não, sente, pela presença perturbadora de um obsessor.

A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às leis da Natureza. Todas asseveram que ninguém tem o direito de abreviar, voluntariamente, a vida. Entretanto, por que não se tem esse direito? Por que não é livre o homem de pôr termo aos seus sofrimentos? Ao Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram, que o suicídio não é uma falta somente por constituir infração de uma lei moral - consideração, essa, de pouco peso para certos indivíduos - mas, também, um ato estúpido, pois que nada ganha quem o pratica. Antes, o contrário, é o que se dá com eles, na existência espiritual, após ato tão insano. Temos notícia, não somente, pelo que lemos nos livros da Doutrina Espírita e que nos advertem os Espíritos Superiores, mas pelos testemunhos que nos dão esses infelizes irmãos, narrando tristes fatos que eles mesmos nos põem sob as vistas, em sessões de orientação às entidades sofredoras. Sob o ponto de vista sociológico, o suicídio é um ato que se produz no marco de situações anômicas, (2) em que os indivíduos se vêem forçados a tirar a própria vida para evitar conflitos ou tensões inter-humanas, para eles insuportáveis.

O pensador Émile Durkheim teoriza que a "causa do suicídio, quase sempre, é de raiz social, ou seja, o ser individual é abatido pelo ser social. Absorvido pelos valores [sem valor], como o consumismo, a busca do prazer imediato, a competitividade, a necessidade de não ser um perdedor, de ser o melhor, de não falhar, o jovem se afasta de si mesmo e de sua natureza. Sobrevive de 'aparências', para representar um 'papel social' como protagonista do meio. Nessa vivência neurotizante, ele deixa de desenvolver suas potencialidades, não se abre, nem expõe suas emoções e se esmaga na sua intimidade solitária." (3)

O Espiritismo adverte que o suicida, além de sofrer no mundo espiritual as dolorosas conseqüências de seu gesto impensado, de revolta diante das leis da vida, ainda renascerá com todas as seqüelas físicas daí resultantes, e terá que arrostar, novamente, a mesma situação provacional que a sua flácida fé e distanciamento de Deus não lhe permitiram o êxito existencial.

É verdade que após a desencarnação não há tribunal nem Juízes para condenar o espírito, ainda que seja o mais culpado. Fica ele, simplesmente, diante da própria consciência, nu perante si mesmo e todos os demais, pois nada pode ser escondido no mundo espiritual, tendo o indivíduo de enfrentar suas próprias criações mentais. "O pensamento delituoso é assim como um fruto apodrecido que colocamos na casa de nossa mente. A irritação, a crítica, o ciúme, a queixa exagerada, qualquer dessas manifestações, aparentemente sem importância, pode ser o início de lamentável perturbação, suscitando, por vezes, processos obsessivos nos quais a criatura cai na delinqüência ou na agressão contra si mesma." (4)

A rigor, não existe pessoa "fraca", a ponto de não suportar um problema, por julgá-lo superior às suas forças. O que de fato ocorre é que essa criatura não sabe como mobilizar a sua vontade própria e enfrentar os desafios. Joanna de Angelis assevera que o "suicídio é o ato sumamente covarde de quem opta por fugir, despertando em realidade mais vigorosa, sem outra alternativa de escapar".(5) Na Terra, é preciso ter tranqüilidade para viver, até porque, não há tormentos e problemas que durem uma eternidade. Recordemos que Jesus nos assegurou que "O Pai não dá fardos mais pesados que nossos ombros" e "aquele que perseverar até o fim, será salvo". (6)

FONTES:
1. Disponível em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI73803-15228,00- NO+BANHEIRO+DA+ESCOLA+UM+TIRO.html
2. O sociólogo acredita que, quando o indivíduo resolve tirar a própria vida, ele está em estado de anomia, que significa "falta de valores". "Uma situação anômica é a ausência ou desintegração de normas. Quando ocorrem perturbações da ordem coletiva, o número de suicídios tende a se elevar".
3. Durkheim, Emile. Título: El suicidio. P.imprenta: Tlahuapan, Puebla. Premiá. 1987. 343 p. Edición; 2a ed. Descriptores: Suicidio. Sociología. Aspectos psicológicos.
4. Mensagem extraída do livro "PACIÊNCIA", de Emmanuel; psicografado por Francisco Cândido Xavier
5. Franco, Divaldo, Momentos de Iluminação, Ditado pelo Espírito Joanna de Angelis, RJ: ed. FEB
6. MT 24:13

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Darwin: Criacionismo vs. Evolucionismo

21:50 Posted by Fabiano Vidal No comments
Por Henrique Fracalanza

Darwin elaborou a teoria do Evolucionismo, onde assevera que as espécies vivas têm uma origem comum, evoluem e se adaptam, concluindo que o homem é a evolução do macaco, dos quais descendemos.

Esta teoria, hoje amplamente aceita cientificamente, choca-se frontalmente com os escritos bíblicos da Gênesis, que diz que o homem foi criado por Deus na pessoa de um único ser: Adão, e que dele criou Eva, e que ambos povoaram o mundo a partir de aproximadamente 5.800 anos atrás.

Pela teoria de Darwin, o inicio da vida no planeta partiu do aparecimento de animais unicelulares vivendo nas águas dos mares, que foram evoluindo para animais multicelures, e destes para animais mais complexos, passando pelos inverte-brados, pelos répteis, anfíbios, animais ovíparos, mamíferos, até chegar ao bicho homem.

Os religiosos de todos os matizes que baseiam suas crenças na Bíblia, notadamente os cristãos tradicionalistas, não aceitam esta teoria, e tentam de todas as formas anatematizar a Darwin.

Em alguns países, principalmente nos Estados Unidos, procuram inclusive impedir que a teoria da Origem das Espécies seja ensinada nas escolas.

Alguns mais radicais alegam que Darwin procurou matar a Deus, tirando Dele o status de criador do Universo.

Julgamento apressado e injusto, próximo ao fanatismo religioso.

Ora, Darwin está certo, e os que acreditam no criacionismo também tem a sua parcela de razão no assunto.

O que falta a ambos é uma chave que una ambas as informações.

O Espiritismo trouxe ao mundo esta chave, na publicação do O Livro dos Espíritos, publicado em 1857, curiosamente dois anos antes da publicação do livro de Darwin A Origem das Espécies em 1859.

No capitulo III do livro I, nas perguntas 43 a 49 (Formação dos seres vivos), e nas perguntas de 50 a 54 (Povoamento da Terra. Adão; e Diversidade das Raças Humanas), encontramos as respostas dos espíritos esclarecendo de forma racional o aparecimento da vida no planeta. Por essas respostas se verifica que Darwin concluiu acertadamente.

O aparecimento da vida na terra se deu da forma como Darwin explicou, mas isso não quer dizer que Deus esteja fora disso. Ora, a teoria de Darwin já encontra um mundo formado e apropriado ao aparecimento da vida. Os germens da vida já estavam presentes nos elementos da natureza, e mesmo as leis que regem os desenvolvimentos celulares já estavam plasmadas. E tudo isto existia por quê? Porque Deus, criador de todas as coisas os fez.

Aí está a união das duas teorias – Criacionismo e Evolucionismo.

Deus criou todas as coisas, mas as fez de forma que evoluíssem gradativamente, racionalmente, do mais simples ao mais complexo, com o auxilio do tempo.

Darwin não está contra Deus, nem Deus está contra Darwin.

Este fenomenal naturalista inglês apenas desvendou para o mundo cientifico a forma como Deus cria no nosso planeta. E os espíritos corroboraram essas afirmativas do cientista nas respostas do O Livro dos Espíritos citadas acima.

Errado é tentar manter a crença numa alegoria Bíblica, que passou uma informação aos homens de sua época, de acordo com a capacidade de entendimento que possuíam, e na medida dos seus rudimentares conhecimentos das ciências, mas que as pessoas ainda hoje as tomam ao pé da letra, ignorando a lógica e a razão, e principalmente procurando ignorar os achados arqueológicos que confirmaram a presença da criatura humana a cerca de quatro milhões de anos atrás, podendo este numero ser aumentado, caso seja achado um outro fóssil anterior a este.

Bem, como a presença de seres humanos foi atestada pela ciência a quatro milhões de anos atrás, como ainda acreditar que todos nascemos de Adão há apenas 5.800 anos atrás?

Existem outras pessoas que independente das questões dogmáticas religiosas, se chocam com a idéia de que seus ancestrais foram animais, os macacos. Eles se acham superiores e indignos de serem apresentados como descendentes de primatas irracionais.

Aí também falta a essas pessoas a chave do Espiritismo.

Conhecessem elas as leis naturais trazidas pela Doutrina Espírita, que esclarecem que todos somos criados simples e ignorantes e que todos evoluímos de espécies mais simples para as mais avançadas, não se chocariam, e conseguiriam compreender e aceitar.

A chave é a reencarnação.

Nos livros da doutrina, aprendemos que a evolução do ser se processa desde os elementos mais simples, passando pelos reinos mineral, vegetal, animal e hominal, e que o ser ainda prossegue evoluindo por milhares de reencarnações até dispensar a vida em corpos físicos, passando daí a evoluir apenas na vida espiritual, por toda a eternidade, pois a evolução não cessa nunca.

Então fica fácil entender a nossa atual situação. Pelo mecanismo da reencarnação passamos de seres simples, irracionais, ignorantes para seres cada vez mais evoluídos, consoante nosso esforço em avançar. Se hoje somos seres racionais já muito evoluídos em relação aos homens da caverna, é porque elaboramos a nossa evolução e aprimoramento através dos séculos e milênios, nascendo e renascendo muitas vezes.

Nada mais simples e lógico, não acham?

Bibliografia: O Livro dos Espíritos

Allan Kardec e a Educação

"Educação é o conjunto de hábitos adquiridos".
(Allan Kardec, O Livro dos Espíritos. Pergunta 685a)

Por Joamar Z. Nazareth

A renovação da humanidade só se processará através da EDUCAÇÃO.

E o Espiritismo, cuja meta principal é educar o homem para a eternidade, se preocupa desde a codificação de Kardec em convidar espíritas a tão preciosa missão, conforme podemos conferir em Evangelho Segundo o Espiritismo" e em "O Livro dos Espíritos".

Comenta Santo Agostinho sobre a missão dos pais: ''A tarefa é difícil, mas não impossível; não exige o saber do mundo; o ignorante como o sábio pode cumpri-la e o Espiritismo veio facilitá-la, dando a conhecer a causa das imperfeições do coração humano".

Observamos a preocupação da Espiritualidade em convidar os pais para o bom desempenho de sua tarefa educativa, mostrando o auxílio que os mesmos obterão no conhecimento da Doutrina Espírita.

Sobre a ausência de responsabilidade moral e deficiências tais como: desconhecimento espiritual e relaxamento da educação no lar, gerando problemas sociais, afirma Allan Kardec-: "Considerando-se a aluvião de indivíduos diariamente lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio, entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as conseqüências desastrosas que daí decorrem?"

Há mais de um século os Espíritos já mostravam o sério problema dos desvios morais, do desequilibrio no caráter e da ausência de valores elevados nos jovens que saem do lar e mergulham na sociedade, carregando , bagagem dos sentimentos, virtudes, emoções, hábitos e vícios trabalhados no ambiente familiar.

Observamos, desse modo, que os lares deveriam ser núcleos onde os espíritos reencarnantes - trazendo os vícios e as virtudes, os bons e os maus hábitos do passado - fossem preparados para a melhoria de sua situação espiritual, combatendo esses vícios e desenvolvendo essas virtudes, caracterizando assim a EDUCAÇÃO MORAL, que é a missão verdadeira do lar.

Sobre a responsabilidade dos pais, afirma o insigne educador: "... quando produzis um corpo, a alma que nele se encarna vem do espaço para progredir; sabei vossos deveres e colocai todo vosso amor em aproximar essa alma de Deus: é a missão que vos está confiada" ... - "Vossos cuidados, a educação que lhe derdes, ajudarão seu aperfeiçoamento e seu bem-estar futuro".

Os pais devem firmar um incessante combate às ervas daninhas das imperfeições, plantando as boas sementes das virtudes no coração dos filhos, para que elas germinem hoje ou no futuro, abrindo a esses espíritos a porta da renovação e do aperfeiçoamento espiritual. Missão essa da qual não podem fugir ou se furtar às conseqüências de sua negligência, como também receberão os frutos abençoados quando do seu bom cumprimento.

Sobre a cura de todos os males morais do homem, que se fará somente pela educação, esclarece Kardec: "A cura poderá ser demorada, porque as causas são numerosas, mas não é impossível. A isso não chegará de resto, senão tomando o mal em sua raiz, quer dizer, pela educação."

As escolas do mundo nos enriquecem o cérebro com uma gama imensa de conhecimentos, informações, cultura. Mas somente no lar, no seio da família, é que o espírito encontrará a proteção e o ambiente propício à sua preparação no íntimo de seus sentimentos, idéias, emoções para as lutas do mundo. E somente pais e mães conscientes de suas responsabilidades é que conseguem fazer do ambiente doméstico essa escola de moralização das almas.

Com a implantação da Doutrina Espírita na Terra, inaugurou-se uma Nova Era para a Humanidade e abriu-se para o planeta a porta da renovação, que se processará através da consciência do trabalho de EDUCAÇÃO das almas. Educação do cérebro, sim e sempre, mas sobretudo educação do coração e do caráter.