segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O CÉU E O INFERNO - Os Demônios Segundo o Espiritismo

Segundo o Espiritismo, nem anjos nem demônios são entidades distintas, por isso que a criação de seres inteligentes é uma só. Unidos a corpos materiais, esses seres constituem a Humanidade que povoa a Terra e as outras esferas habitadas; uma vez libertos do corpo material, constituem o mundo espiritual ou dos Espíritos, que povoam os Espaços. Deus criou-os perfectíveis e deu-lhes por objetivo a perfeição, com a felicidade que dela decorre. Deus não lhes deu, contudo, a perfeição, pois quis que a obtivessem por seu próprio esforço, a fim de que também e realmente lhes pertencesse o mérito. Desde o momento da sua criação que os seres progridem, quer encarnados, quer no estado espiritual. Atingido o apogeu, tornam-se Espíritos puros ou anjos, segundo a expressão vulgar; de sorte que, desde o embrião do ser inteligente até ao anjo, há uma cadeia ininterrupta, na qual cada um dos elos assinala um grau de progresso.

Disso resulta que há Espíritos em todos os graus de adiantamento moral e intelectual, conforme a posição em que se acham, no alto, embaixo ou no meio da imensa escala do Progresso.

Em todos os graus existe, portanto, ignorância e saber, bondade e maldade. Nas classes inferiores destacam-se Espíritos ainda profundamente propensos ao mal e comprazendo-se com o mal. A estes pode-se denominar demônios, pois são capazes de todos os malefícios aos ditos atribuídos. O Espiritismo não lhes dá tal nome, pois entende que o mesmo se prende à idéia de uma criação distinta do gênero humano, com seres de natureza essencialmente perversa, votados ao mal eternamente e incapazes de qualquer progresso para o bem.

Segundo a doutrina da Igreja os demônios foram criados bons e tornaram-se maus por sua desobediência: são anjos colocados primitivamente por Deus no ápice da escala, tendo dela decaído. Segundo o Espiritismo os demônios são Espíritos imperfeitos, suscetíveis de regeneração e que, colocados na base da escala, hão de nela graduar-se.

Os que por indiferença, negligência, obstinação ou má-vontade persistem em ficar, por mais tempo, nas classes inferiores, sofrem as conseqüências dessa atitude, e o hábito do mal dificulta-lhes a regeneração. Chega-lhes, porém, um dia a fadiga dessa vida penosa e das suas respectivas conseqüências; eles comparam então a sua situação à dos bons Espíritos e compreendem que o seu interesse está no bem, procurando então melhorarem-se, mas por ato de espontânea vontade, sem que haja nisso o mínimo constrangimento. Eles estão submetidos à lei geral do progresso, em virtude da sua aptidão para progredir, mas não progridem, ainda assim, contra a vontade. Para isso Deus fornece-lhes constantemente os meios, porém, com a faculdade de aceitá-los ou recusá-los. Se o progresso fosse obrigatório não haveria mérito, e Deus quer que todos tenhamos o mérito de nossas obras. Ninguém é colocado em primeiro lugar por privilégio; mas o primeiro lugar a todos é franqueado à custa do esforço próprio. Os anjos mais elevados conquistaram a sua graduação, passando, como os demais, pela rota comum.

Chegados a certo grau de pureza, os Espíritos têm missões adequadas ao seu progresso; preenchem assim todas as funções atribuídas aos anjos de diferentes categorias.

E como Deus criou de toda a eternidade, segue-se que de toda a eternidade houve número suficiente para satisfazer às necessidades do Governo Universal. Deste modo uma só espécie de seres inteligentes, submetida à lei de progresso, satisfaz todos os fins da Criação.

Por fim, a unidade da Criação, aliada à idéia de uma origem comum, tendo todos o mesmo ponto de partida e a mesma trajetória a percorrer, elevando-se assim pelo próprio mérito, corresponde melhor à justiça de Deus do que a idéia da criação de espécies diferentes, mais ou menos favorecidas de dotes naturais, que seriam outros tantos privilégios.

A doutrina vulgar sobre a natureza dos anjos, dos demônios e das almas, não admitindo a lei do progresso, mas vendo, todavia, seres de diversos graus, concluiu assim que seriam produto de outras tantas criações especiais. E assim foi que chegou-se a fazer de Deus um pai parcial, tudo concedendo a alguns de seus filhos, e a outros impondo os mais rudes trabalhos. Não admira que por muito tempo os homens achassem justificação para tais preferências, quando eles próprios delas usavam em relação aos filhos, estabelecendo direitos de primogenitura e outros privilégios de nascimento. Podiam tais homens acreditar que andavam mais errados que Deus?

Hoje, porém, alargou-se o circulo das idéias: o homem vê mais claro e tem noções mais precisas de justiça; desejando-a para si e se nem sempre encontrando-a na Terra, ele quer pelo menos encontrá-la mais perfeita no Céu.

E aqui está por que lhe repugna à razão toda e qualquer doutrina na qual não resplenda a Justiça Divina na plenitude integral da sua pureza.

Fonte: “O Céu e o Inferno - A Justiça Divina Segundo o Espiritismo” – Allan Kardec

domingo, 18 de outubro de 2009

Espiritismo Religião - Para quê?

Por Alamar Régis Carvalho

Tenho visto discussões sobre este assunto, desde os primeiros tempos que entrei no Espiritismo, e gostaria de tecer algumas considerações, neste artigo.

Em princípio eu vejo esta como mais uma das discussões inúteis, que ocorrem em nosso movimento, todavia, considerando que muitos dos meus leitores me pedem uma opinião sobre o assunto, aqui estou.

Mas, inicialmente, quero que algo fique bem claro, ao meu leitor, aquele universo de pessoas que gostam de mim: Existem coisas que são verdades e outras que são opiniões pessoais do Alamar.

É bom repetir isto, de vez em quando, posto que tem muita gente aí fazendo coisas, tiradas das suas cabeças, porém colocando-as para o público como se fosse verdade espírita. Ocorre muito em alguns centros espíritas, aqueles que eu identifico como praticantes do “Espiritismo, à moda da casa”.

É-nos facultado o direito de emitir opiniões e até de colocar os nossos achismos, sim, sem problema nenhum. O perigo é a presunção de colocarmos as opiniões e, principalmente, os achismos como verdades, já que aí está um grande problema.

Eu vou escrever, sim, sobre esta questão do Espiritismo ser ou não ser religião, emitindo a minha opinião, e tudo farei para ser o máximo possível racional, para que você tire a sua conclusão.

Comecemos com algumas perguntas:

Por que o Espiritismo tem que ser religião?

Qual a vantagem que a nossa Doutrina leva, em ser considerada uma religião?

Teremos algum acréscimo virtuoso, por conta desse rótulo?

O fato de ser considerada religião, dará ao Espiritismo alguma credibilidade especial, honra e respeito?

Ele passará a ter algum valor, maior do que já tem, pelo fato de ser considerado religião?

E se não for considerado religião, a sua valorização ficará comprometida, de alguma forma?

Do ponto de vista moral, esse rótulo leva a ele algum mérito especial?

E do ponto de vista, espiritual, o que altera em ser ou não ser religião?

Eu já me fiz estas perguntas várias vezes e não encontrei nenhuma resposta relevante, que pudesse justificar isto que muitos espíritas dão tanto valor.
(...)
Alguns argumentam:

- “Esses que não consideram o Espiritismo como religião, certamente são os que querem retirar Jesus do Espiritismo”.

Mentira, não tem nada uma coisa a ver com outra. Argumentação extremamente idiota e uma tremenda bobagem.

Senão, questionemos:

Quem foi que determinou que o nome de Jesus, o respeito a Jesus e sobretudo a prática do comportamento conforme Jesus sugeriu, necessariamente, só pode ocorrer no ambiente religioso?

Pelo fato do mercado religioso ter se apoderado, indevidamente, do nome dele para servir como uma espécie de base para as suas rotulações, necessariamente temos que vincular o Espiritismo, também, com religião?

Gente! Jesus nunca pregou religião nenhuma, nunca mandou ninguém ser religioso, nunca mandou ninguém praticar ritual nenhum e muito menos obrigações. O que ele pregou foi o amor entre as criaturas.

Essa história de dizerem que determinados confrades querem retirar Jesus do Espiritismo, é de uma pobreza e fragilidade, sem tamanho, pois, só mesmo gente muito irracional para propor retirar da nossa doutrina, aquele ser que os Espíritos da Codificação nos indicaram como sendo o Maior Modelo e Guia, que devemos seguir.

Mas os argumentadores, favoráveis ao religiosismo espírita, também afirmam:

- “O Espiritismo sem o seu aspecto religioso, perde a sua força moral, o sentimento da Caridade, da Beneficência, da tolerância, da humildade... e do amor ao próximo”.

Ora bolas, pergunto mais uma vez:

O que é que determina que conduta moral só é factor de relevância, dentro da religião? Quem foi que disse que não se pode praticar Caridade, Beneficência, Indulgência, Tolerância, Humildade, Respeito e Amor ao Próximo fora da rotulação religiosa?

Será que eu não posso amar ao meu próximo, como a mim mesmo, sem religião?

Será que eu não posso adquirir a consciência de que só devo fazer ao meu próximo o que gostaria que fizessem comigo, sem religião?

Conheci um homem, chamado Raimundo Jinkings, em Belém do Pará. Ele era um dos homens mais dignos, honrados, honesto, trabalhador, decente e possuidor de um coração enorme, que já conheci, mas era ateu. Foi a minha primeira convivência mais próxima como um ateu, porque eu tinha muita curiosidade em saber como eles eram, já que fui criado com a absurda cultura de que todo ateu, necessariamente, era servo do tal Satanás, pessoa má, bandida, terrorista e bem bandida. Não vi nada disto nele e em vários outros ateus que conheci depois. É claro que tem ateu safado, também.

Será que todo o seu histórico de vida, numa conduta proba, digna e honesta não valeu nada, só porque teve ele o rótulo de ateu e não estava inserido no tal universo chamado cristão?

Gente, até o nome do próprio Deus, o Criador, a religião se apropriou, indevidamente. Chegaram a ponto de inventar a Teologia, uma matéria que não é única como a Física, a Matemática e outras exactas, visto que o seu conteúdo existe conforme a conveniência da religião que ministra o curso.

A matéria Teologia chega a ser ridícula. É formada conforme as conveniências da igreja que a ministra. O pessoal da igreja Universal, por exemplo, estuda Deus, conforme a cabeça do Edir Macedo.

Por exemplo: A igreja do Edir Macedo ministra um curso de Teologia, para os seus pastores, bispos e alguns obreiros, com diploma e tudo. Só que é uma teologia que define Deus, conforme a cabeça do Edir Macedo, atendendo a convicção dele, que acha moral um líder religioso se tornar bilionário, à custa da oferta do pobre que não tem dinheiro nem para as necessidades básicas da família. O R. R. Soares, também, está ministrando curso de Teologia, na faculdade que o seu milionário dinheiro construiu; mas com uma definição de Deus, conforme a sua cabeça, que é bem diferente da do Edir Macedo, visto que eles não se suportam.

Já a igreja Católica, também, tem a sua Teologia; mas conforme as suas conveniências, definindo Deus conforme aquilo que está na Bíblia, no Antigo Testamento, de acordo com a visão do Vaticano.

Não é uma matéria como a Física, que é única, em que Isaac Newton é um só, assim como Kepler, Lavoisier, Blaise Pascal, Coulomb, Thomas Alva Edson... e vários outros. Espaço é igual a velocidade vezes tempo, em qualquer lugar do mundo, onde ensina Física. Não teria como o Alamar inventar que espaço é igual ao dobro da velocidade dividido pela raiz quadrada do tempo.

Portanto, em religião não há coerência, em Espiritismo há.

Partamos de outro princípio, que é base para qualquer pessoa tirar conclusão lógica sobre isto:
A palavra RELIGIÃO significa RE-LIGAÇÃO.

Bom, se é re-ligação, há se perguntar: Religar quem, a quê?

A ideia RELIGIÃO foi inventada com base na estória de Adão, Eva e a Cobra que, segundo os adeptos do Criacionismo, o homem se desligou de Deus, a partir do pecado do casal, com aquela conversa do fruto proibido.

Falar nisto, você já percebeu que Deus mais miserável e insensato aquele, do Velho Testamento? Como é que o Velho pode se aborrecer tanto, por causa de uma maçã, ou seja lá qual tenha sido o fruto, a ponto de castigar a humanidade por toda a eternidade? Aqui perto de casa vende uns cestinhos, com 6 maçãs, por 5 reais.

Pois bem:

Já que houve o tal desligamento, precisaria de alguma coisa para proporcionar a religação, daí o surgimento da coisa chamada RELIGIÃO.

Partindo do princípio que o Espiritismo não endossa o Criacionismo, não tem nada a ver com a infantil estória de Adão, Eva e a Cobra, posto que tem a sua base no Evolucionismo; que diabo de religação é essa que os espíritas, também, têm que estar sujeitos, se eles não se desligaram de nada?

Se você chega em casa, do seu trabalho, à noite, e já encontra a luz da sala ligada, terá alguma possibilidade de religar aquela luz?

Como poderá ligar, se ela não está desligada e sim ligada?

Para quê, o espírita precisa de religião, gente? Pra ligar o quê?

Recorramos, agora, a outro argumento:

Certa ocasião, num debate, ao ser perguntado se o Espiritismo era religião, o próprio Allan Kardec deixou claro que ele não veio ao mundo com a proposta de ser religião, muito pelo contrário, veio se colocar como um instrumento para ser utilizado pela ciência e pelas religiões, mas que a intolerância religiosa fez com que ele fosse visto, pelo povo, como religião e muita gente passou a praticá-lo como religião.

Em outras obras, em épocas mais para frente, o próprio Kardec, talvez pressionado pelo público (que adora ter religião), começou a falar no tal tríplice aspecto, mas originalmente, assim que o Espiritismo foi lançado ao mundo, ele não era religião.

Religião, ao contrário de ser sintonia com Deus, nada mais é do que intolerância, proibições, obrigações, patrulhamento da vida das pessoas, submissão, exigências de obediências a dogmas, inclusive no movimento espírita, formação de sacerdócio organizado (no movimento espírita não existe a figura do Cardeal, do Bispo e dos Padres, que dão as ordens ao povo, mas existe algo, com outro nome, que são os Membros da Directoria da Casa, os Conselhos, que fazem exactamente a mesma coisa: Dão ordens, proíbem, censuram, boicotam, sabotam, levam expositores ao “index librorum prohibitorum”, jogam a imagem de confrades de encontro a todos os outros, portanto, qual a diferença?), tem os seus rituais, sim (Todos em silêncio, vamos à prece de abertura, depois a palestra, depois a prece de encerramento para agradecer a Jesus, depois o passe, depois a água fluidificada...), e ai de quem se atreva a querer mudar isto.

O centro espírita é, por muitos, considerado a "casa de Deus", quando esses proíbem as pessoas de sorrir, de ficarem alegres, tem que falar baixo, dizem que "o silêncio é uma prece" (desde quando, silêncio é prece?), cheio de "psiu" em tudo quanto é canto, se um casal chega abraçado, mandam que desabracem, sob a argumentação de que ali é "casa de respeito" (desde quando um abraço é manifestação de desrespeito?)... enfim, a postura e a máscara religiosa é coisa intragável, chata, insensata e inadmissível às pessoas que raciocinam.

Nós podemos, sim, fazer preces, nos sintonizar com Deus, com Jesus, com a Espiritualidade Maior e até com nossos irmãos desencarnados, recebendo e enviando energias de amor, sem necessariamente sermos religiosos.

Você, que frequenta centro, deve saber que em vários deles alguns expositores são PROIBIDOS de fazer palestra lá.

O que é essa proibição? A manifestação do aspecto religioso.

Mas proíbem, por quê?

Porque o expositor é bandido, costuma ensinar os frequentadores do centro a fumar maconha, cheirar cocaína, dar golpe nos outros ou se comportar com conduta moral comprometida?

Não, nada disto. É proibido simplesmente porque não pensa, exactamente, conforme a cabeça do “dono” da casa. Isto é religião.

Os meus artigos, por exemplo, são proibidíssimos até de ser comentados, em alguns centros espíritas, por conta desta minha “teimosia” em orientar as pessoas para raciocinarem, não se deixarem ser vaquinhas de presépio de nenhum “cardeal” de centro espírita, exercer os seus direitos de discordar, de questionar e de abrir a boca.

Isto incomoda, gente!!! Mas, incomoda por quê? Porque esta é a característica da religião, há séculos e séculos.

Se alguém sugerisse a retirada do aspecto MORAL do Espiritismo, aí sim, seria um tremendo absurdo, uma insanidade, porque descaracterizaria totalmente a Doutrina, já que a sua proposta básica é a transformação do ser, para melhor.

Mas eu falei, no início do artigo, que existem coisas que são VERDADES e coisas que são apenas opinião pessoal do escritor ou expositor.

Pois bem: Diante disto, vou fazer uma proposta, convidando VOCÊ MESMO a fazer a checagem. Embora eu saiba o que você vai encontrar e vai comprovar, não vou adiantar nada aqui, para não dizerem que influenciei o meu leitor.

Já que, com certeza, você conhece os espíritas da sua cidade, ou talvez do seu estado, sabendo, pela observação, que existe gente tranquila, gente calma, carinhosa, afectuosa, humilde e bondosa e com REAIS VALORES ESPIRITUAIS ELEVADOS, do mesmo jeito que existem, também, as pessoas chatas, inconvenientes, autoritárias, que adoram se meter na vida dos outros, metidas a dar ordens, a apontar dedo para a cara dos outros, no que chamo de CONFRADES PERTURBADOS, faça o seguinte:

Comece a fazer uma verificação, anotando num caderninho, em qual dos dois segmentos, no espírita religioso e no espírita não religioso, onde é que você vai encontrar mais confrades perturbados, do tipo que patrulha, proíbe, obriga, faz fofoca, intriga, censura, crítica, etc...

É impressionante, o que você vai ver. Você vai encontrar, em nosso movimento, pessoas que se ocupam, integralmente, numa interminável guerra contra obras, como as de Roustaing, Pietro Ubaldi e outras, chegando a ponto de odiarem os adeptos dessas obras. Não estou falando apenas no direito que todo mundo tem em discordar das obras, estou falando em ÓDIO, contra as obras.

Veja a qual segmento esse pessoal pertence.

Pronto, a partir daí você vai tirar a sua conclusão se o que o Alamar colocou aqui, é uma simples opinião sua, sem base nenhuma, ou se é algo que de fato tenha fundamento.

Quem é que vai querer ter a audácia de questionar a sua inteligência e dizer que você não viu o que viu?

Respeitemos, sem dúvida, o direito dos confrades e amigos de gostar de religião, de igreja, do ritual da rezação, do “o silêncio é uma prece”, do “muita paz, meu irmão”, do “estou melhor do que mereço”, do “eu adoro sofrer, porque sofrer evolui”, etc... Se, de repente, aparecer algum dirigente aí que resolva instituir a hóstia fluídica, em seu centro, que Deus o abençoe, e que os seus frequentadores comunguem em paz, absorvendo o “cordeiro de Deus”. Mas que temos o sagrado direito de opinião, isto ninguém tenha menor dúvida, e temos que exercê-lo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Raciocinemos em relação a Kardec

Por Alamar Régis Carvalho

Os espíritas mais conservadores adoram falar no nome de Kardec: “Eu pratico o Espiritismo conforme está lá em Kardec”. “Espiritismo, se não for rigorosamente conforme estabelece Kardec, não é Espiritismo”. “Discordo dessa obra, é contraditória a Kardec”. “Se estiver em desacordo com Kardec, eu não aceito”.

Estão absolutamente corretos, os que pensam assim. Espiritismo tem que ter coerência, tem que estar afinado com Kardec e não há como fugir disto.

Assim que o Emmanuel apareceu na vida do Chico Xavier, o mineiro ficou doidinho, cheio de dúvidas, sem muito saber o que fazer, até que o benfeitor, percebendo, o tranqüilizou, dizendo: “Chico, se algum dia eu lhe passar algum ensinamento que possa lhe deixar alguma dúvida, fique com Kardec”.

Então, é fundamental ao espírita firmar a sua base em Kardec.

Pois bem. Então será com base em Kardec que este Alamar aqui, que muitos espíritas ortodoxos chamam de polêmico, quer questionar neste artigo.

Tomemos por base o livro “Obras Póstumas”, de autoria de Allan Kardec, o mesmo Kardec que os espíritas recomendam fidelidade, e observemos algumas coisas:

Kardec recomenda que, para a divulgação da doutrina espírita, deve ser contratado um jornalista, inclusive remunerado.

Ele se referia apenas a jornalistas, porque no seu tempo não tinha radialistas e muito menos profissionais de televisão. Se tivesse, com certeza ele faria referências.

Perguntemos: Por que os espíritas, que se dizem fiéis a Kardec, não querem que remunerem a ninguém, acham que todo mundo tem que trabalhar de graça, indispensavelmente como voluntários, e, invariavelmente, acusam de mercantilizarem a doutrina todo aquele que se propõe a fazer um trabalho de divulgação que tenha algum custo e envolva dinheiro, mesmo sendo reais, evidentes e incontestáveis as despesas?

Kardec se queixou, sim, da safadeza que parte do movimento espírita fez com ele, quando muitos o acusavam até de viajar às custas do Espiritismo, de ser vaidoso, de querer ganhar dinheiro com a venda de livros (livros que ele mandou imprimir com dinheiro dele!!!), e não mediu esforços em relatar as calúnias que ele recebeu.

Por que quando um espírita tenta, do mesmo jeito, falar das safadezas e dos deslizes do movimento espírita atual, sempre aparecem aqueles que querem ser mais espíritas do que Kardec, para o acusarem de polêmico, de faltar com a caridade para com os outros, de viver “falando mal” do movimento espírita e de ser identificado como obsedado?

Por acaso, o Kardec era obsedado, também, porque disse o que disse em Obras Póstumas?

Kardec recomendou SEMPRE a divulgação da doutrina, por todos os meios.

Com certeza, se ele vivesse nos dias de hoje, estaria envolvido com rádio, com televisão e com internet, o que não fez no século XIX porque naquele tempo não existia nada disso. Certamente teria um site, teria um email, iria dar um jeito para ser entrevistado no programa do Jô Soares e em vários outros, mandaria carta à Globo sugerindo que falassem sobre o Espiritismo no Globo Repórter e, com certeza, oferecer-se-ia com sugestões aos autores de novelas, com temas espíritas.

Por que os espíritas, que querem sempre ser mais espíritas que Kardec, têm tanta reação contra outros espíritas que procuram a televisão para a divulgação e sempre os acusam de vaidosos, de quererem aparecer e de estimularem a vaidade?

Por que nunca conseguem ver ninguém bem intencionado, na divulgação da doutrina e acham sempre que todo mundo está mal intencionado?

Allan Kardec recomendou SEMPRE que os espíritas seguissem a Ciência.

Se ele vivesse nos dias atuais, em São Paulo por exemplo, com certeza viveria enfiado nos centros de pesquisas da USP, da UNICAMP e das grandes Universidades. Eu não tenho a menor dúvida de que, em São Paulo, ele escolheria a Pineal Mind, do magnífico Sérgio Felipe, para freqüentar, teria no seu círculo de amizades pessoas como o Wladimir Sanches, o Núbor Facure e todos aqueles espíritas que gostam de praticar o exercício do raciocínio, da pesquisa e das buscas. Se vivesse no Rio de Janeiro, viveria nos centros de pesquisas de UFRJ e outras.

Reflita bem: Se Kardec fosse contemporâneo nosso, será que ele teria concordado com aqueles espíritas que condenaram e causaram tantos problemas ao magnífico Professor Octávio Ulysséa, por ter ele criado a Faculdades Integradas Bezerra de Menezes em Curitiba, ou viveria, também, enfiado dentro daquela maravilhosa Faculdade, que é visitada por membros da NASA e pelos Prêmios Nobel de Física e Química que vêm ao Brasil exclusivamente para conhecê-la?

Com certeza absoluta, nas reuniões mediúnicas que participasse, não se dirigia a espírito nenhum como se fossem defuntos e, muito pelo contrário, iria fazer um monte de perguntas, sem dar a menor bola para aquela orientação besta que diz “não devemos fazer qualquer pergunta aos espíritos” e não iria se submeter, mesmo, a essa onda de espiritismo sem espíritos.

O centro espírita, criado e dirigido por ele, com certeza, teria mediúnicas e o contato com os espíritos seria algo indispensável na prática espírita.

- “Olha, gente, na mediúnica de hoje, vamos evocar o Albert Einstein“.

Já pensou se um espírita, nos dias de hoje, propõe uma coisa desta? O quê?? Que conversa é essa de evocação de espírito? Ainda mais de espírita do nível de um Einstein? Está perturbado!!! Tem que ser afastado dos trabalhos, porque está maluco!!!

Você acha que o Kardec iria se submeter a isto? É Claro que não.

Tenho a impressão de que a gente poderia raciocinar em relação ao que Kardec faria, se fosse espírita nos dias atuais:

Será que ele resumiria o Espiritismo numa prática igrejeira, onde as pessoas vão, ritualmente, toda semana, em determinado horário, com objetivos de rezação?

Será que ele participaria de um Espiritismo sem espíritos, em obediência a um entendimento equivocado que entende que reunião mediúnica necessariamente é fenômeno e que a “época dos fenômenos” já passou?

Será que ele criticaria o Divaldo, por realizar eventos em grandes e confortáveis auditórios que, por terem despesas, precisam ter ingressos cobrados ou, pelo contrário, faria como o Divaldo e, também, como professor e divulgador que era, também procuraria pelos grandes auditórios e, já que nunca teve qualquer trauma em relação a dinheiro, também estabeleceria cobrança, para arcar com as despesas?

Será que nos dias de hoje, com uma diferença gigantesca de tecnologia e de avanço em todas as áreas da Ciência, em relação a sua época, ele se conformaria com as 1.018 questões de O Livro dos Espíritos, como a expressão da verdade total e absoluta, e, também, condenaria o Clóvis Nunes por ter proposto uma nova obra com novos questionamentos aos Espíritos?

Cabe na sua cabeça, que Kardec estaria aqui hoje e praticasse um Espiritismo sem contato nenhum com os Espíritos e sem encher eles de questionamentos?

Você acha que Kardec sairia por aí condenando confrades como, por exemplo, o Carlos Bacelli, pelas novas idéias que traz as suas obras, ou, muito pelo contrário, o convidaria a um plenário, composto por vários estudiosos espíritas criteriosos e não preconceituosos, para uma conversa cara a cara, a fim de questionar cada ponto polêmico ou que deixe dúvidas, inclusive evocando o espírito autor da obra, em busca de uma conclusão responsável e racional?

Você acha que Kardec concordaria com dirigentes espíritas que dizem: “Não é bom convidar Fulano, para fazer palestra em nosso centro, porque ele é muito polêmico“, ou, muito pelo contrário, por ter competência, inteligência, verdadeiro domínio do conhecimento da causa e solidez doutrinária, não temeria nenhum “polêmico”, convidaria sim, o confrade assim “qualificado”, escutaria ele falar e o convidasse para um “perguntas e respostas”, ao final, para questionar as possíveis citações anti-doutrinárias porventura pronunciadas na palestra?

Enfim, as perguntas são muitas nesse sentido, mas fico por aqui, apenas lhe fazendo uma proposta e uma pergunta final:

Examine a sua inteligência e veja que nível ela tem, observe bem o estilo de Kardec, a biografia de Kardec, a forma como Kardec se conduzia, leia bem o que ele diz em Obras Póstumas e chegue a uma conclusão, bem racional, em cima de tudo o que escrevi aqui.

Na sua concepção: O que você acha que Kardec faria, se vivesse no meio espírita dos dias atuais?

Para a sua apreciação.

Publicações pseudo-espíritas

Por Orson Peter Carrara

Falsa idéia da Doutrina Espírita é apresentada através de livros ou publicações pseudo-espíritas, de adeptos inconscientes. Elas são mais perniciosas do que os veementes ataques sofridos pelo Espiritismo de adeptos de outras crenças.

Seria o caso de perguntar por que os espíritos responsáveis pela expansão correta do pensamento espírita permitem tais ocorrências e se há um meio de evitar esse inconveniente?

O próprio Kardec pronunciou-se sobre o assunto. Questionado sobre o assunto, forneceu preciosa instrução, que transcrevemos parcialmente:

“(...) O Espiritismo realizou, indubitavelmente, milagres de reforma moral, mas supor que essa transformação pode ser súbita e universal, seria desconhecer a Humanidade. Entre os próprios espíritas há aqueles que, como eu disse, só vêem do Espiritismo a superfície, que não compreendem o seu fim essencial. (...) Ora, a humanidade na Terra é ainda jovem, apesar da pretensão dos seus doutos. O Espiritismo, também ele, apenas acaba de nascer. Ele cresce depressa, como vedes, e desfruta de uma excelente saúde. Mas é preciso dar-lhe tempo para atingir a idade viril. Eu vos disse ainda que as afrontas que ele sofre, e que lamentais, têm seu lado bom. (...)”.

Na seqüência, o Codificador apresenta uma passagem de certa comunicação obtida com o seguinte teor: “Os espíritas esclarecidos devem se felicitar com o fato de as falsas e contraditórias idéias se revelarem neste período inicial, pois que são combatidas, arruínam-se e se esgotam no decorrer da infância do Espiritismo. (...)”.

E acrescenta depois: “(...) para sopesar o efeito dessas dissidências, basta observar o quanto se passa. Em que se apóiam elas? Em opiniões individuais que podem reunir algumas pessoas, pois não há idéia, por mais absurda que seja, que não encontre participantes. Todavia, julga-se de seu valor pela preponderância que ela adquire. Ora, onde vedes essas idéias de que falamos empolgando, ainda que em termos, as simpatias? Onde se constituem em escola, ameaçando, pelo número de aderentes, a bandeira que adotastes? Em parte alguma! Pelo contrário, as idéias divergentes assistem incessantemente à evasão dos seus participantes, que partem para aderir à unidade que se faz lei para a imensa maioria, se é que não o faz para a totalidade. (...)”.

E esta ponderação extraordinária, que podemos constatar diariamente: “(...) De resto, o erro leva consigo, quase sempre, o seu remédio. E o seu reino, por outro lado, nunca é eterno. Cedo ou tarde, enceguecido por uns poucos sucessos efêmeros, faz-se vítima de uma espécie de vertigem e curva-se ante as aberrações que precipitam sua queda. Deplorais as excentricidades de certos escritos publicados sob a cobertura do Espiritismo. Pelo contrário, devereis abençoá-los, uma vez que é por esses excessos mesmos que o erro se perde. (...)”.

Mais adiante, continua Kardec: “(...) Esses erros provêm quase sempre de Espíritos levianos, sistemáticos ou pseudo-sábios, que se comprazem vendo editadas suas fantasias e utopias (...) Mas, como esses Espíritos não possuem nem a verdadeira cultura, nem a verdadeira sabedoria, não conseguem manter por muito tempo o seu papel e a ignorância os trai. (...) é preciso que não temais, para o futuro, a influência dessas obras. Elas podem, momentaneamente, acender um fogo de palha, mas quando não se apóiam em uma lógica rigorosa, vede, ao fim de alguns anos – muitas vezes de alguns poucos meses –, a que se reduziram. (...)”

E conclui com o bom senso que o caracterizava: “(...) Uma vez que os Espíritos possuem livre-arbítrio e uma opinião sobre os homens e as coisas, compreender-se-á que a prudência e a conveniência mandam afastar esses perigos. No interesse da doutrina convém, pois, fazer uma escolha muito severa em semelhantes casos (...)”.

Essas instruções, entre outras de grande valor, estão no livro Viagem Espírita em 1862, edição da Casa Editora O Clarim, com tradução de Wallace Leal V. Rodrigues. Trata-se de trabalho publicado pelo próprio Codificador, do original francês Voyage Spirite en 1862, de uma série de 50 reuniões presididas por ele mesmo durante viagem (que durou seis semanas e numa extensão de mais de 1.100 kms) de visita a grupos espíritas franceses.

A obra contém a coletânea dos diversos pronunciamentos e depoimentos colhidos, cujo conteúdo de esclarecimento e atualidade – embora tenham sido proferidos no distante ano de 1862 – constitui-se em poderoso instrumento para a organização e administração das sociedades espíritas e mesmo para o entendimento dos fundamentos espíritas.

Destacamos a questão de publicações pseudo-espíritas, mas a obra contém preciosos outros ensinamentos.

Matéria publicada originariamente na Revista Internacional de Espiritismo, de abril de 2004.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Espiritismo ou Kardecismo?

Por Luiz Antonio Milleco

"De um tempo para cá um estranho fenômeno ocorre em nosso meio: pessoas respeitáveis aceitam a Doutrina Espírita, entusiasmam-se com seus postulados e se beneficiam da consolação por Ela propiciada. No entanto, chegado o momento das definições, afirmam-se não espíritas, mas espiritualistas ou "kardecistas".

Quanto ao espiritualismo, a definição é incompleta, já que todas as crenças baseadas na existência da alma são espiritualistas.

E quanto ao "kardecismo"?

As origens históricas do termo, embora não possam situar-se no tempo, são perfeitamente caracterizadas quanto aos fatos. Ao chegarem ao Brasil, os escravos trouxeram consigo suas crenças, seus cultos, que ali se fundiram, com o crescimento das crenças indígenas e católicas. Esses grupos étnicos já praticavam a mediunidade. Ora, com o aparecimento entre nós da Doutrina Espírita, uma de cujas bases principais é exatamente o fenômeno mediúnico, foram inevitáveis as generalizações. Tudo quanto se referisse ao intercâmbio com o outro plano era considerado Espiritismo.

Tal equívoco ocasionou lamentáveis deturpações. Não queremos aqui discriminar os grupos afro. Há entre eles os que, embora divergindo da Doutrina Espírita quanto ao aspecto religioso e à prática mediúnica, lêem Allan Kardec, adotam seus postulados filosóficos e servem ao próximo com desprendimento e abnegação.

Não se pode negar, entretanto, as deturpações a que nos referimos acima. Eram comuns em certos setores da imprensa manchetes como: "Assassinato em um Centro Espírita", "Incorporado pelo Guia Fulano...". Além disso, não são raros os folhetos em que se lê: "Madame Fulana de tal. Vidente Espírita, soluciona todos os problemas, resolve caso de amor e dinheiro, prevê o futuro..." etc.

Resultado: para não se embarafustarem com toda esta confusão, alguns companheiros abrem mão do termo espírita e preferem a expressão "kardecista". Haverá, porém, algum fundamento para tal posição?

Em primeiro lugar, Allan Kardec sempre fez questão de assinalar que, ao contrário de todas as doutrinas anteriores, o Espiritismo não foi fundado por homens, mas é conseqüência das revelações trazidas pelo Plano Espiritual.

Em segundo lugar, não podemos descartar a gama de preconceitos que envolve a substituição dos termos espírita e Espiritismo pelos termos "kardecista" e "kardecismo".

Não querem, estes companheiros, que suas crenças sejam confundidas com aquelas que, para eles, são "inferiores". Não querem ser identificados como "feiticeiros" ou "macumbeiros". Tal confusão, no entanto, não advém deste ou daquele termo, mas da posição de cada um perante a vida e diante de si mesmo.

Ao invés de simplificarmos as coisas dando à Doutrina Espírita nomes que ela não possui, chamando-a "kardecismo", "mesa branca", "Espiritismo Científico", etc., arquemos com os incômodos das explicações; e, definindo-nos claramente como espíritas, esclareçamos simplesmente os que nos abordem sobre o que é, e o que não é Espiritismo".

Fonte: Revista Espírita Harmonia - nº 34 - agosto de 1997

Luiz Antonio Millecco Filho (Rio de Janeiro, 30 de junho de 1932 - 5 de fevereiro de 2005) foi musicoterapeuta, médium, escritor e conferencista espírita brasileiro.

domingo, 11 de outubro de 2009

Das Dificuldades do Espiritismo Prático

Por Orson Peter Carrara

Iniciemos pela definição das palavras. Dificuldade é substantivo feminino e indica qualidade de difícil, ou o que não é fácil, obstáculo, objeção, impedimento; prático é adjetivo, concernente à prática (ação ou efeito de praticar, experiência, uso pelo exercício, aplicação da teoria) ou aquilo que não se limita à teoria. E a definição de Espiritismo, dada pelo próprio Codificador é que O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal (1).

Quando se fala em Espiritismo prático, logo pensa-se em prática mediúnica, mas a definição do próprio vocábulo prático, como acima indicado, refere-se também à aplicação da teoria, além da própria ação ou efeito de praticar. Ora, isto vai além da prática mediúnica, no intercâmbio com os espíritos, e alcança a questão da vivência prática dos ensinos espíritas. Não fica, portanto, limitado à prática da mera participação em fenômenos mediúnicos e sim abrange também a vivência ou prática de hábitos coerentes com a proposta espírita.

Podemos, em conseqüência, analisar o assunto sob as duas óticas.

No último parágrafo do item XII da Introdução de O Livro dos Espíritos (2), Kardec pondera sobre a questão das mistificações, entre erros e equívocos, como uma das dificuldades do Espiritismo prático. Aliás, todo aquele item da citada introdução aborda a questão, referindo-se a uma das dificuldades do intercâmbio mediúnico. E no segundo parágrafo do item XVII da mesma introdução (3), já ao final, comenta sobre o fim grande e útil dos estudos espíritas e mesmo do intercâmbio mediúnico: o do progresso individual e social. Aí já podemos enquadrar o assunto como uma das dificuldades do Espiritismo prático sob o ponto de vista moral. Ou, em outras palavras, o da vivência dos ensinos.

Podemos concluir, pois, que o Espiritismo prático não está restrito à prática mediúnica, mas abrange, repetimos, a prática da vivência, muito além da prática mediúnica.

Aí surge, com toda expressão, a importância dos estudos espíritas e dos núcleos inspirados pelo ideal espírita, pois que fomentador dessa autêntica prática do Espiritismo. Aliás, o compromisso maior, prioritário, dos grupos espíritas é exatamente ensinar Espiritismo, propiciando estudo e divulgação dos postulados espíritas. E isto de maneira sadia, didática, atraente, motivadora do interesse pelo estudo e vivência do Espiritismo.

Neste ponto, podemos indagar quais são as dificuldades?

Sob o ponto de vista do intercâmbio mediúnico.

Se analisadas do ponto de vista do intercâmbio mediúnico espírita, podemos relacionar a questão da insegurança dos novatos; a ausência do estudo doutrinário - sempre causadora de distorções e absurdos; a indisciplina na prática quanto a horários e assiduidade; a falta de comprometimento com a causa; a rivalidade entre integrantes ou entre grupos; a priorização do fenômeno em detrimento do estudo; o endeusamento de médiuns e/ou dirigentes; a confiança cega nos espíritos comunicantes; a obsessão; a liderança distorcida; as mistificações; a introdução de práticas estranhas, entre outras tantas dificuldades. Claro que variáveis de grupo para grupo, de médium para médium, e até de região para região. Mas podemos asseverar que sempre fruto da ausência do estudo doutrinário corretamente conduzido.

E onde a solução?

No próprio estudo, em diálogos construtivos de reuniões que visam exatamente esclarecer o participante de reuniões mediúnicas. Para a prática mediúnica este recurso do estudo é insubstituível e O Livro dos Médiuns é obra insuperável. Nele se encontram as diretrizes para a correta compreensão e prática do fenômeno. Já na Introdução da monumental obra, Kardec assinala que "A experiência nos confirma todos os dias, nesta opinião, que as dificuldades e as decepções, que se encontram na prática do Espiritismo, tem sua fonte na ignorância dos princípios desta ciência..." (4).

Entre capítulos importantes, destacamos aos leitores o capítulo XXIV (5), que trata da Identidade dos Espíritos. Exatamente no item 267 (em 26 princípios) Kardec enumera os meios de reconhecer a qualidade dos espíritos e no item 268 (em 28 questões), traz perguntas sobre a natureza e a identidade dos espíritos.

Notem os leitores que este é apenas um dos temas. Existem outras dificuldades que o estudo pode dirimir. Destacamos os itens acima pela importância didática do assunto e que muito pode auxiliar na superação de dificuldades e decepções na prática mediúnica. Sugerimos, pois, ao leitor, com todo empenho, a consulta a essas fontes, pois fica inviável a transcrição neste pequeno espaço.

Também, no capítulo XXVII da mesma obra (6), que trata Das Contradições e das Mistificações, outro tema importante no rol das dificuldades, o estudioso e pesquisador espírita poderá encontrar muitas respostas. Os itens 299 a 301 oferecem subsídios para troca de muitas idéias e na superação de muitas dificuldades.

Sob o ponto de vista da vivência espírita

Talvez aqui as dificuldades sejam maiores. No item anterior verificamos que o estudo pode superar muitos desses obstáculos. Aqui, porém, surge a questão da modificação interior de cada adepto espírita. É interessante que a postura aqui interfere no assunto tratado no item anterior. Pois é exatamente a carência moral que mantém o orgulho, o egoísmo, a inveja, que muitas vezes pode estar trazendo dificuldades para a prática do intercâmbio propriamente dito.

Mas, sem pensar agora na questão do intercâmbio e sim na fundamental questão da vivência individual e coletiva do ensino espírita, verificamos que as dificuldades aqui também são consideráveis.

Comparecem a inveja, o ciúme, a disputa, a maledicência e outros importantes inimigos da felicidade humana e da paz que se quer construir.

Se analisarmos qualquer instituição e solicitarmos aos presentes numa reunião de avaliação dos problemas que os estejam afetando, descobriremos que no fundo dos problemas estão presentes, com toda a força, o orgulho e o egoísmo. Também a inveja e o ciúme, a imposição de idéias, o autoritarismo, as tentativas de domínio, o desrespeito às diferenças, a ausência de solidariedade. Mas acima de tudo, a ausência da caridade, que segundo Jesus, é a indulgência, a benevolência, o perdão (7). Sentimentos sempre ausentes onde a irritação, a impaciência, a crítica e demais defeitos morais estão agindo.

É aí que surgem as divisões, as divergências.

E podemos perguntar novamente:

Onde a solução?

Recorramos à obra basilar do Espiritismo: O Livro dos Espíritos.

Na Conclusão, item IX, 4º parágrafo (8), o Espírito Santo Agostinho indica que as dissidências são mais de forma que de fundo e que os espíritas deverão unir-se no objetivo comum: o amor de Deus e a prática do bem. E mais: o objetivo final é um só: fazer o bem. Na mesma Conclusão, no item VII, há ainda a classificação dos verdadeiros adeptos do Espiritismo e que são apresentados como os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral.

Conclusão

Verifica-se, portanto, que as dificuldades são oriundas da falta de conhecimento (ausência do estudo) e da falta de vivência prática (ausência do esforço de melhora individual).

O Espiritismo prático está portanto muito mais na vivência do comportamento espírita que na prática mediúnica, mas em ambos as dificuldades existem em função das próprias dificuldades humanas em agir coerentemente com a teoria já a disposição.

Na prática mediúnica, quando inventamos ou quando não estudamos criamos dificuldades; na vivência quando desprezamos o aspecto principal, ou seja, o esforço do auto aprimoramento moral, criamos as dificuldades todas que aí estão.

Estudando o Espiritismo e esforçando-nos por incorporá-lo ao próprio comportamento será, pois, o caminho de superação das dificuldades do espiritismo prático.

Por tudo isto, a título de conclusão, sugerimos aos leitores a leitura reflexiva do item 350 (capítulo XXIX da Segunda parte), de O Livro dos Médiuns (9), onde o Codificador convida as sociedades espíritas, composta naturalmente dos adeptos do Espiritismo, a se estenderem mãos fraternais e buscarem viver o ideal maior da Doutrina Espírita, ou seja, a vivência da união, da simpatia, da fraternidade recíprocas. E aí estarão superadas as dificuldades do Espiritismo prático.

Notas:

(1) em O Que é o Espiritismo, 31ª edição FEB, 1987, Rio (RJ), Preâmbulo, página 50.
(2) página 38 da 78ª edição FEB, 1997, Rio (RJ), tradução de Guillon Ribeiro.
(3) página 46 da 78ª edição FEB, 1997, Rio (RJ), tradução de Guillon Ribeiro.
(4) 29ª edição IDE, 1987, Araras-SP, página 7, tradução Salvador Gentille.
(5) 29ª edição IDE, 1987, Araras-SP, página 294, tradução Salvador Gentille.
(6) 29ª edição IDE, 1987, Araras-SP, página 364, tradução Salvador Gentille
(7) Questão 886 de O Livro dos Espíritos.
(8) página 492 da 78ª edição FEB, 1997, Rio (RJ), tradução de Guillon Ribeiro.
(9) página 406 da 29ª edição IDE, nov/1993, tradução de Salvador Gentille.

Artigo publicado na revista REFORMADOR, de junho de 2003.

Apometrias, Correntes Magnéticas e outras peripécias

Por Jorge Hessen

Devemos respeitar todas as crenças isso é óbvio, acatar preconceitos, pontos de vista e normas de quaisquer pessoas que não lêem pela nossa cartilha doutrinária, isso é sensato, mas isso não siginifica dizer aprová-los, adotá-los, divulgá-los, recomendá-los. Não isso, não! Temos obrigações intransferíveis para com a Doutrina Espírita. É absolutamente necessário que defendamos os princípios doutrinários com simplicidade e dedicação, sem intolerância, sem radicalismos, mas sem concessões indesejáveis, sem contemporizações piegas. A determinação, a experiência e a prática dos médiuns mais amadurecidos dos quilates de um Francisco Cândido Xavier e um Divaldo Pereira Franco, entre outros, têm nos demonstrado, sempre, a necessidade da vigilância com relação à necessidade da preservação da pureza dos preceitos básicos da Doutrina Espírita.

Observamos, incomodados, as muitas discussões estéreis de temas como: crianças índigo; Chico é a "reencarnação" de Kardec(!?); ubaldismos, ramatisismos, cromoterapias, desobsessão por corrente magnética e tantos outros esquisitos "ismos" e "pias", enxertados nas hostes doutrinárias. Aceita-se e pior ainda difunde-se o poder "curador" de cristais sem a menor reflexão consciente (se a tese fosse legítima a lógica sussurra que os residentes de Cristalina e Cristalândia NUNCA ficariam doentes). Confiam, cegamente, nos efeitos das pomadas "mediunizadas", como se essa prática enganosa lhes fosse trazer algum benefício. Promovem-se, nas tribunas, verdadeiros shows da própria imagem e do próprio nome, shows esses protagonizados pelos ilustres oradores, que não abrem mão da vaidosa distinção do "Dr". antes dos próprios nomes. Há os que imitam sem nenhum escrúpulo o orador Divaldo Franco, com direito a receber o Bezerra e tudo o quem tem direito no final da palestra. Criam-se associações com notáveis profissionais de pretensos "espíritas". Muitos outros se projetam nos trabalhos assistenciais, para galgarem espaços na ribalta da política partidária. Não é de hoje o fenômeno das práticas exóticas nas hostes doutrinárias, fatos esses que fazem, realmente, a diferença entre Espiritismo como Doutrina dos Espíritos e espiritismo como doutrina dos espiritas..

Segundo algumas conveniências de arrecadação, propiciam as famosas "churrascadas espíritas", disfarçadas de almoço fraterno, em nome do Cristo(!?), pasmem! Confeccionam rifas "beneficentes"; agendam desfiles de moda, "de caráter filantrópico", e, o que é pior, cobram taxas para o ingresso nos eventos espíritas, quais sejam: congressos, simpósios, seminários, e, por aí vai a charanga. Até quando?

Há um insustentável pendor para a dimensão do misticismo de confrades idólatras, que, quiçá, leram alguma "coisinha" aqui, e outra ali, sobre a doutrina espírita e se dizem seguidores convictos, quando, na realidade, nada mais são do que "espíritas de superfície". Somos sempre advertidos sobre a obrigação intransferível de preservarmos os ensinamentos de Allan Kardec, seja pelo exemplo diário do amor fraterno (ISSO É ÓBVIO!), seja pela coragem do debate elevado.

Muitas pessoas me têm escrito, insistindo no tema - apometria. Informo-lhes, freqüentemente, que a teoria e a prática da técnica apométrica (e suas "leis" e conceitos) estão em pleno desacordo com os princípios doutrinários codificados por Allan Kardec. Não aconselharíamos incluir essa prática estranha na estrutura do Departamento Doutrinário e Mediúnico das Casas Espíritas, por uma simples questão de BOM-SENSO. Sobre essa esquisita prática, lamentavelmente, encruada por estas bandas do Centro-Oeste, indagamos aos experts, por que os Espíritos não nos revelaram tal proposta "terapêutica"(!), quando tiveram, à sua disposição, excelentes médiuns colaboradores, ao longo do século XX?

Não basta se afirmar "espírita", nem, tampouco, se dizer "médium de qualidade", se essa prática não for exercida conforme preceitua a Codificação Espírita. Respaldados nos estudos sistemáticos que fazemos da Doutrina Espírita -e não dispensamos, de forma alguma, esse hábito- esclarecemos, sempre, que a apometria não é Espiritismo, porquanto as suas práticas estão em total desacordo com as recomendações de "O Livro dos Médiuns". Com essas inoportunas práticas, abrem-se precedentes graves para a implantação de rituais e maneirismos, totalmente, inaceitáveis na prática espírita, que é, fundamentalmente, a doutrina da fé raciocinada.*

Se a apometria é (como afirmam os superficiais e enfadonhos discursos dos líderes dessa prática), mais eficiente que a reunião de desobsessão, REPITO - por que a omissão dos Espíritos Superiores? Por que eles se calaram sobre o assunto? Curioso isso, não? No mínimo, é sintomático. O silêncio dos Espíritos Superiores é, sem dúvida, um presságio de que tal prática é de mal agouro, e, por isso mesmo, ela é circunscrita a poucos e RADICAIS grupos que o mentém. Não conquistou a aceitação universal dos espíritos, razão pela qual não conta com a anuência das Casas Espíritas equilibradas. Percebemos que esses arroubos lúdicos coletivas superlotam alguns Centros Espíritas, em que seus dirigentes vendem a ilusão da "terapia apométrica", como mestres da hipnose, fazendo com que esses centros se tornem um reduto de andróides e curadores de coisa nenhuma, o que é lastimável...

Por relevantes razões, devemos estar atentos às impertinências desses ideólogos quixotescos, dos propagadores dessas terapias inócuas, que pensam revolucionar o mundo da "cura espiritual". Até porque, a cura das obsessões não se consegue por um simples toque de mágica (com a varinha de condão da apometria), de uma hora para outra, mas é, quase sempre, a longo prazo, não tão rápida como se imagina, dependendo de múltiplos fatores, principalmente, da renovação íntima do paciente.

Como se não bastasse, ainda, entra em cena, no rol das bizarrices doutrinárias, uma tal "desobsessão por corrente magnética". Isso mesmo! Desobsessão(!?)

O uso de energia para afastar obsessores, sem a necessária transformação moral (Reforma Íntima), indispensável à libertação real dos envolvidos nos dramas obsessivos, contradiz os princípios básicos do Espiritismo, pois, o simples afastamento das entidades perseguidoras não resolve a obsessão.

O Cristianismo, com a pureza doutrinária do Evangelho e com a simplicidade de organização funcional dos primeiros núcleos cristãos, foi conquistando lenta e seguramente a sociedade de sua época. Porém, com o tempo, sofreu um significativo desgaste ideológico. Corrompeu-se, por força das práticas estranhas ao projeto de Jesus. Atualmente, apesar das advertências dos Espíritos e do próprio Allan Kardec, quanto aos períodos históricos e tendências do movimento, os espíritas insistem em cometer os mesmos erros do passado. Confrades nossos, não conseguindo se adaptar ao Espiritismo, e, conseqüentemente, não compreendendo e não vivenciando suas verdades, vão, aos poucos, adaptando a doutrina às suas fantasias, aos seus limites morais, corrompendo os textos da Codificação, trazendo, para os centros espíritas, práticas dogmáticas de suas preferências místicas. Falta-lhes, no mínimo, o estudo das obras básicas da Codificação Rivailina.*

Das duas, uma: ou Kardec está sendo colocado em segundo plano, preterido por outras obras não recomendáveis, ou está, totalmente, esquecido - o que é pior.

Mas como evitar esse sistema? Como agir, ante os centros mal orientados, com dirigentes perturbados, com médiuns obsidiados, com oradores-estrelas? Enfim, como agir, diante dos espíritas perturbados e pertubadores? Seria interessante a prática do "lavo as maõs" ou a retórica filosófica do "laissez faire", "laissez aller", "laissez passer"? Devemos deixar que os próprios grupos espíritas usem e abusem do livre arbítrio para, por fim, aprenderem a fazer escolhas corretas e adequadas às suas necessidades?

Não nos esqueçamos de que os inimigos, em potencial, do Espiritismo estão mascarados entre os próprios espíritas. Para encerrar nossas reflexões, atentemos para algumas admoestações de Vianna de Carvalho, através de Divaldo Franco, contidas no livro "Aos Espíritas": "O Espiritismo é a grande resposta para as questões perturbadoras do momento. A sua correta prática é exigência destes dias turbulentos, pois os fantasmas do porvir ameaçam-no e distúrbios de comportamento apresentam-se com muita insistência, parecendo vencer as suas elevadas aquisições. Por motivos óbvios, "o Espiritismo deve ser divulgado conforme foi apresentado por Allan Kardec, sem adaptações nem acomodações de conveniência em vãs tentativas de conseguir-se adeptos". É a Doutrina que se fundamenta na razão, e, por isso mesmo, não se compadece com as extravagâncias daqueles que, por meio sub-reptício, em tentando fazer prosélitos, acabam por macular a pureza originária da nossa Doutrina Espírita.

Não faltam tentativas de enxertos de idéias e convenções, de práticas inconvenientes e de comportamentos que não encontram guarida na sua rígida contextura doutrinal que, se aceitos, conduzir-nos-iam a sérios problemas existenciais, não fosse a nossa convicção de que o Espiritismo veio para ficar, e que de nada valem essas investidas do mal. Criar desvios doutrinários, atraindo incautos e ignorantes, causa, sem dúvida, perturbações que poderiam, indiscutivelmente, ser evitadas, se houvesse, por parte dos dirigentes, maior rigor na condução dos trabalhos de algumas Casas Espíritas. Repetimos com Divaldo: "Qualquer enxerto, por mais delicado se apresente para ser aceito, fere-lhe a integridade porque ele [o Espiritsmo] é um bloco monolítico, que não dispõe de espaço para adaptações, nem acréscimos que difiram da sua estrutura básica."

Caríssimos irmãos de ideal, cremos ser indispensável a vigilância de cada espírita sincero, para que o escalracho seitista e sutil da invasão de teses estranhas não predomine no seu campo de ação, terminando por asfixiar a planta boa que é, e cuja mensagem dispensa as propostas reformadoras, caracterizadas pela precipitação e pelo desconhecimento dos seus ensinamentos"- como adverte Vianna de Carvalho.

*Grifos em negrito feitos pelo blog.

sábado, 10 de outubro de 2009

Diálogo com o demônio

Por Licinio Castro

- Eu sou o Demônio!

- Não és. Isso eu te digo com a mais absoluta certeza.

- Mas como ousas dizê-lo? Queres asseverar que eu não sou o que sou?

- Não és o que julgas ser.

- Que audácia! Como me explicarias esse absurdo? Porventura ignoras que eu sou protagonista na Bíblia e nas religiões?

- Insisto em assegurar-te que não és esse personagem fictício, ainda hoje capaz de apavorar tanta gente.

- Fictício? Enlouqueceste, por acaso? Não estás me vendo e me ouvindo, e ousas afirmar que não existo?

- Não só não existes, como também jamais poderias existir. Não és O, mas apenas UM demônio. Compreendes, agora?

- Não. Eu fui criado para fazer sempre o mal e tramar a queda de todas as almas. Eu consegui tentar até o Crucificado

- Enganas-te. Deus só cria para o bem: tu é que te imaginas predestinado à maldade. Lembra-te que também és criatura de Deus. Quanto às tentações sofridas pelo Mestre, trata-se de provável equívoco do texto bíblico. Admitirias a possibilidade de provação pecaminosa em alguém já aureolado pelas mais nobres conquistas da angelitude? Os anjos são inacessíveis a quaisquer influenciações da animalidade.

- Mas eu consegui induzir o Sinédrio a crucificar Jesus. Eu ainda o vejo vencido, humilhado e morto no Calvário.

- Não conseguiste coisa alguma. O Mestre desencarnou daquela forma porque quis. Na verdade, não foi vencido, venceu; não morreu como ser aniquilado, pois prossegue, triunfante, na realização de sua obra redentora da Terra e de sua humanidade.

(O Demônio senta-se na relva, em postura meditativa, enquanto o sol delineia, no horizonte, os primeiros acordes da sinfonia do poente.)

- Tu me confundes com essa dialética estranha. Então, não há um só mas vários demônios?

- Sim. São os próprios homens, quando empenhados na transgressão da Lei.

- E qual seria, na tua cosmovisão, o destino deles?

- Todos se tornarão anjos, depois de burilados pela dor e iluminados pelo Amor. Os santos de hoje são os pecadores de ontem, como os pecadores de hoje são os santos de amanhã. Mas escuta bem: isso não é "milagre" ou "graça", mas conquista individual, pela Lei do Mérito.

- Em que te baseias para ensinar isso?

- Na afirmação categórica do nosso Divino Mestre: "Nenhuma das ovelhas que o Pai me confiou se perderá".

- Oh, tiraram meus chifres, meu rabo e meu tridente! Sou também uma criatura humana, e com esperança de salvação?

- E como não? Também és ovelha do imenso rebanho do Galileu.

- Isso me confunde mais ainda!... quem és tu?

- Um ser humano qualquer, um irmão teu, que já foi muito demônio, porém agora disposto a sair do inferno.

- Do inferno, disseste?

- Claro. Do inferno que cada um cria dentro de si.

(Revista O Espírita – nº 100 – abr/ago-98.)

(Jornal Mundo Espírita de Novembro de 98)

Práticas estranhas nos Centros Espíritas

Espiritismo é a Doutrina dos Espíritos dirigida aos homens e codificada por Allan Kardec, que se encontra exarada nas cinco obras fundamentais, também conhecidas como obras básicas: O Livro dos Espíritos, O Livros dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e a Gênese.

Movimento Espírita é o resultado do labor dos homens em prol da divulgação do Espiritismo.

Assim sendo, deduz-se com facilidade, que o Movimento Espírita tem de estar consubstanciado na Doutrina Espírita, pois é em razão dela que existe.

Como célula essencial do Movimento espírita, encontramos a Casa Espírita, Instituição com funções bem definidas e, portanto, totalmente vinculada aos fundamentos doutrinários, junto da qual congregam-se os adeptos do Espiritismo para integrarem-se ao espírito da Doutrina, promovendo aprofundamento intelectual no conteúdo da informação espírita de modo a poder corporificá-la conscientemente no seu comportamento moral e social, na jornada diária.

No entanto, o "Movimento Espírita cresce e se propaga, mas a Doutrina Espírita permanece ignorada, quando não adulterada em muitos dos seus postulados", relembra o preclaro Espírito Vianna de Carvalho. Tal se dando, em decorrência daqueles que assumem responsabilidades diretivas, sem os necessários recursos culturais e doutrinários indispensáveis, por negligência ou até omissão de muitos de seus membros, o que licencia a vigência em vários núcleos espiritistas de práticas estranhas e alheias aos objetivos e propostas do Espiritismo e das Casas Espíritas, dentre as quais citamos: CROMOTERAPIA, PSICOTERAPIA, MUSICOTERAPIA, HIDROTERAPIA, CRISTALTERAPIA, FITOTERAPIA, etc.

Não se entra no mérito da eficiência e bases científicas de tais terapias, algumas das quais vêm lutando por um reconhecimento acadêmico, profissional e social. Agora, inseri-las nas instituições espíritas como se prática espírita fossem, é medida de alto risco que desconsidera a grandeza indimensional do Espiritismo ao querer reduzi-lo à estreiteza de pontos de vista pessoais.

Quando se desejar trabalhar com CROMOTERAPIA, MUSICOTERAPIA e outras, que se faça dentro dos moldes legais, pagando os impostos, disputando com lealdade e abertamente os pacientes interessados no mercado profissional, mas, sem envolver as Casas Espíritas, utilizando-se das suas dependências, instalações, recursos financeiros da contribuição dos associados para a manutenção da casa, desviando os interesses daqueles corações que para ali vão em busca do que a Doutrina Espírita, e tão somente ela, lhes pode oferecer.

O espiritismo é Doutrina de educação integral, de higiene mental e moral. É o retorno do Cristo ao atormentado homem do século ciclópico da tecnologia, através dos seus emissários, renovando a Terra e multiplicando a esperança e a paz nas mentes e nos corações que lhe permaneçam fiéis.

A Casa Espírita é bendita escola de almas, ensinando-as a viver.

Espiritismo tem por objetivo a reforma moral do Homem.

Casa Espírita é um celeiro de esperanças na inquietude da noite das aflições, por ofertar a luz do Consolador.

Fonte: Jornal Mundo Espírita - Março de 2001

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O CÉU E O INFERNO - Os Anjos Segundo o Espiritismo

Por Allan Kardec

Que haja seres dotados de todas as qualidades atribuídas aos anjos, não restam dúvidas. A revelação espírita neste ponto confirma a crença de todos os povos, mas nos faz conhecer, ao mesmo tempo, a origem e natureza de tais seres.

As almas ou Espíritos são criados simples e ignorantes, isto é, sem conhecimentos e sem consciência do bem e do mal, porém, aptos para adquirirem tudo o que lhes falta. O trabalho é o meio de aquisição, e o fim - que é a perfeição - é para todos o mesmo.

Conseguem-no mais ou menos prontamente em virtude do livre-arbítrio e na razão direta dos seus esforços; todos têm os mesmos graus a percorrer, o mesmo trabalho a concluir. Deus não aquinhoa melhor a uns do que a outros, porquanto é justo, e, visto serem todos seus filhos, não têm predileções. Ele lhes diz: Eis a lei que deve constituir a vossa norma de conduta; só ela pode levar-vos ao fim; tudo que lhe for conforme é o bem; tudo que lhe for contrário é o mal. Tendes inteira liberdade de observar ou infringir esta lei, e assim sereis os árbitros da vossa própria sorte.

Deus, portanto, não criou o mal; todas as suas leis são para o bem, e foi o próprio homem quem criou esse mal, infringindo essas leis; se ele as observasse, escrupulosamente, jamais se desviaria do bom caminho.

Entretanto, a alma, qual criança, é inexperiente nas primeiras fases da existência, e por isso ela é falível. Não lhe dá Deus essa experiência, mas dá-lhe meios de adquiri-la. Assim, um passo em falso, no caminho do mal, é um atraso para a alma, que, sofrendo-lhe as conseqüências, aprende à sua custa o que importa evitar. Deste modo, pouco a pouco, se desenvolve, aperfeiçoa e avança na hierarquia espiritual até ao estado de Espírito puro ou anjo.

Os anjos são, pois, as almas dos homens chegados ao grau de perfeição que a criatura comporta, fruindo em sua plenitude a prometida felicidade. Antes, porém, de atingir o grau supremo, gozam de felicidade relativa ao seu adiantamento, felicidade que consiste, não na ociosidade, mas nas funções que a Deus apraz confiar-lhes, e por cujo desempenho se sentem felizes, tendo ainda nele um meio de progresso.

A Humanidade não se limita à Terra; ela habita inúmeros mundos que no Espaço circulam; já habitou aqueles que desapareceram e habitará os que se formarem. Tendo-a criado de toda a eternidade, Deus jamais cessa de criá-la. Muito antes que a Terra existisse e por mais remota que a suponhamos, outros mundos haviam, nos quais Espíritos encarnados percorreram as mesmas fases que ora percorrem os de mais recente formação, atingindo seu fim antes mesmo que houvéramos saído das mãos do Criador.

De toda a eternidade tem havido, pois, Espíritos puros ou anjos; mas, como a sua existência humana se passou num infinito passado, eis que os supomos como se tivessem sido sempre anjos de todos os tempos.

Realiza-se assim a grande lei de Unidade da Criação; Deus nunca esteve inativo e sempre teve Espíritos puros, experimentados e esclarecidos, para transmissão de suas ordens e direção do Universo, desde o governo dos mundos até os mais ínfimos detalhes. Tampouco teve Deus necessidade de criar seres privilegiados, isentos de obrigações; todos, antigos ou novos, adquiriram suas posições na luta e por mérito próprio; todos, enfim, são filhos de suas obras.

E, desse modo, completa-se com igualdade a Soberana Justiça do Criador.

Fonte: KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno - A Justiça Divina Segundo o Espiritismo”

O Inferno e os Demônios

Por Léon Denis

Baseando-se nos casos de obsessão, nas manifestações ruidosas dos Espíritos frívolos e zombeteiros, a Igreja entendeu dever atribuir aos demônios todos os fenômenos espíritas e condená-los como inúteis ou perigosos.

Antes de refutar essa interpretação, convém lembrar que o Catolicismo acolheu do mesmo modo todas as grandes descobertas, todos os progressos consideráveis que assinalam os fastos da História. Raras são as conquistas científicas que não foram julgadas como obras diabólicas. Era, pois, de esperar que fossem repelidas pelo poder sacerdotal as instruções dos Espíritos que o vinham aluir.

O mundo invisível, já o dissemos, é um véu espesso que cobre a Humanidade. Os Espíritos são apenas almas, mais ou menos perfeitas, entes humanos desencarnados, e nossas relações com eles devem ser reguladas com tanta reserva e prudência quanto na convivência com os nossos semelhantes.

Ver no Espiritismo somente manifestações de Espíritos inferiores equivale a notar na Humanidade unicamente o mal. O ensino dos Espíritos elevados tem aclarado o caminho da vida, resolvido os obscuros problemas do futuro, fortificado a fé vacilante, restabelecido a justiça sobre bases inabaláveis. Graças a eles, uma multidão de incrédulos e de ateus tem sido levada a crer em Deus e na imortalidade: homens ignorantes e viciosos são atraídos, aos milhares, para o bem e para a verdade.

Será isso obra do demônio? Seria Satanás, se, com efeito, existisse, tão cego que trabalhasse contra os seus próprios interesses?

É necessária alguma perspicácia para distinguir a natureza dos Espíritos e conhecer, em nossas relações com eles, a parte que se deve conservar ou rejeitar. Jesus disse: “conhece-se a árvore pelo seu fruto”. A linguagem e as instruções dos Espíritos elevados são sempre impregnadas de dignidade, de sabedoria e de caridade; visam ao progresso moral do homem e desprendem-se de tudo que é material. As comunicações dos Espíritos atrasados pecam pelas qualidades contrárias; abundam em contradições e tratam, geralmente, de assuntos vulgares, sem alcance moral. Os Espíritos levianos ou inferiores entregam-se, de preferência, às manifestações físicas.

O Espiritismo traz à Humanidade um ensino proporcional às suas necessidades intelectuais; vem restabelecer em sua primitiva pureza, explicar, completar a doutrina do Evangelho; arrancá-la ao Espírito de especulação, aos interesses de classes, restituir-lhe sua verdadeira missão e sua influência sobre as almas; por isso ele é visto com espanto por todos aqueles a quem vai perturbar o sossego e enfraquecer a autoridade.

Com o correr dos tempos, a doutrina do Cristo tem sido alterada e, hoje, apenas exerce uma ação enfraquecida, insuficiente, sobre os costumes e caracteres. Agora, o Espiritismo vem tomar e prosseguir a tarefa confiada ao Cristianismo. É aos Espíritos que cabe, de então em diante, a missão de restabelecer todas as coisas, de penetrar nos meios mais humildes, como nos mais esclarecidos, e de, em legiões inumeráveis, trabalhar para a regeneração das sociedades humanas. A teoria dos demônios e do inferno eterno não mais pode ser admitida por nenhum homem sensato. Satanás é, simplesmente, um mito. Criatura alguma é votada eternamente ao mal.

Fonte: DENIS, Léon. “Depois da Morte”.

Exteriorização da sensibilidade e da motricidade

Por Cairbar Schutel

Com a irrupção dos fatos espíritas e anímicos no mundo todo, o materialismo foi vivamente abalado e a conversão ao Espiritismo dos mais eminentes sábios originou a fundação na Inglaterra de uma Sociedade de Investigações Psíquicas, cujos trabalhos, graças ao método dos seus associados, deram-lhe grande prestígio, resultando a publicação de dois grossos volumes intitulados “Phantams of the Living” (Fantasmas dos vivos), fenômenos de valor, consignados por Myers, Gurney e Podmore.

Como é natural, em vista das personalidades eminentes que tomaram a sério esses estudos, em todos os países foi se acentuando o desejo de pesquisa, e fatos transcendentes foram constatados com precisão inalienável, achando-se registrados os seus relatos em milhares de livros que enriquecem atualmente a biblioteca espírita.

O Espiritismo, como bem sabem os nossos leitores, e esta Revista têm procurado esclarecer o mais possível; não constam os seus fatos unicamente de manifestações dos mortos, mas também de fenômenos psíquicos verificdos com os vivos.

Se aquela fase do Espiritismo é de indispensável valor para o testemunho da imortalidade, esta é também um poderoso elemento para a constatação da existência da alma, que se afirma e manifesta nos vivos completamente independente do corpo carnal, demonstrando assim não ser ela o resultado do trabalho celular, dos nervos, do cérebro, como erroneamente julgava a ciência materialista.

Os fenômenos de exteriorização da sensibilidade e da motricidade, que se acham aliás restritos ao animismo, uma das modelações do Espiritismo, vêm tornar patente a existência do corpo espiritual, invólucro permanente do espírito e seu verdadeiro instrumento não só na Vida do Além, mas também indispensável à vida atual como o fator máximo da conservação da forma e do equilíbrio vital, e como dissemos no nosso último número, revestido de propriedades peculiares que se apresentam em certos indivíduos, nos casos de bilocação, desdobramento etc.

Muitos investigadores e magnetizadores têm experimentado a sensibilidade do indivíduo completamente exteriorizada. Dentre os mais exigentes e escrupulosos de todos eles lembramos o coronel De Rochas, de quem reproduzimos alguns trechos insertos em sua magistral obra “Exteriorisation de la Sensibilité”.

Nos seus estudos o coronel De Rochas notou que quando se faz atravessar um copo d’água por uma zona luminosa sensível de um sonâmbulo exteriorizado, as camadas que se acham por trás do vidro, em relação ao corpo, ficam interrompidas, e a água do copo se ilumina rapidamente, desprendendo-se daí uma espécie de fumaça luminosa, e o sonâmbulo sentia os contatos feitos nessa água.

Foi então que fez a experiência de fotografia com a Sra. Lux, tirando três chapas, uma quando esta se achava ainda acordada, outra adormecida, e a outra quando exteriorizada. Picando com um alfinete a primeira placa, a Sra. Lux nada sentia; na segunda sentia pouco, e na terceira sentia demasiadamente, caindo em contraturas e soltando gritos lancinantes.

Essas experiências foram assistidas por um médico distinto que constatou o fato, o Dr. Barlemont.

Foi nessa ocasião que esses dois ilustres investigadores obtiveram a fotografia do corpo do médium e do seu duplo momentaneamente separados, fotografia que a Revue Spirite, de novembro de 1894, estampou com um relato do referido sábio.

Aksakof, em sua obra Animismo e Espiritismo cita três casos, mais ou menos semelhantes em que a aparição foi fotografada.

Não são só essas as aparições de vivos que impressionam chapas fotográficas; outros fatos análogos foram observados pelo capitão Volpi e por Straud, diretor do Bordeland, assim como a forma desdobrada do Professor Istrati que impressionou diversas placas à distância de 50 quilômetros do lugar onde se achava adormecido o corpo daquele professor.

Falando da exteriorização do espírito, o Prof. Myers diz que “a autoprojeção é o único ato definido que o homem parece capaz de executar, tanto antes como depois da morte corporal”.

Comunicando a si próprio uma vibração especial, o espírito demonstra à evidência, não ser um composto, um agregado de forças, mas ao contrário, o centro da vida, da vontade, o princípio dinâmico que governa o organismo e dirige suas funções. Além disso a independência da alma vem provar que o corpo nenhum papel representa nessa prova que se objetiva a ponto de ser visto, tocado e fotografado.

O seguinte caso narrado pelo Dr. Britten, em seu livro “Man and his relations”, é característico, digno de registro nesta Revista.

– “Um indivíduo de nome Wilson, morador em Toronto (Canadá), adormece no seu escritório e sonha que se acha em Hamilton, cidade situada a quarenta milhas inglesas ao oeste de Toronto. Em sonho, faz as suas visitas habituais e vai bater à porta de uma amiga, a Sra. D... Vem uma criada abrir a porta, e anuncia-lhe que a patroa havia saído; entretanto, ele entra e bebe um copo d’água; depois sai, encarregando a criada de transmitir os seus cumprimentos à dona da casa. Wilson desperta, e verifica que tinha dormido quarenta minutos.

Alguns dias mais tarde, uma Sra. chamada G..., residente em Toronto, recebe uma carta da Sra. D..., de Hamilton, na qual esta referia-lhe que o sr. Wilson viera à casa dela, bebera um copo d’água e depois partira sem voltar, o que a tinha contrariado, pois desejaria muito vê-lo. O Sr. Wilson afirmou não ter estado em Hamilton havia já um mês; mas, pensando no seu sonho, pediu à Sra. G... , que escrevesse à Sra. D..., para solicitar-lhe que não falasse do incidente aos criados, a fim de saber se por acaso reconhecê-lo-iam. Ele foi depois a Hamilton com alguns amigos e todos reunidos apresentaram-se na casa da Sra. D... Duas criadas reconheceram Wilson como a pessoa que tinha estado em casa, que batera à porta, que bebera um copo d’água, e que pedira para transmitir os seus cumprimentos à patroa”.

Os casos de desdobramento abundam nas páginas da história e o seu fim providencial é a demonstração da existência espiritual independente do corpo carnal.

Catalogados nas manifestações anímicas, esses fenômenos só podem ser explicados sucintamente pelo Espiritismo, que, como disse o grande sábio inglês, Sir. Russel Wallace, “é a ciência da natureza espiritual do homem pondo-nos em relação com aqueles que indevidamente chamamos mortos”.

Publicado na RIE em julho de 1928