sábado, 5 de dezembro de 2009

A Encarnação dos Espíritos

O Espiritismo ensina de que maneira se opera a união do Espírito com o corpo, na encarnação.

O Perispírito

Pela sua essência espiritual, o Espírito é um ser indefinido, abstrato, que não pode ter ação direta sobre a matéria, sendo-lhe indispensável um intermediário, que é o envoltório fluídico, o qual, de certo modo, faz parte integrante dele. É semimaterial esse envoltório, isto é, pertence à matéria, pela sua origem, e à espiritualidade, pela sua natureza etérea. Como toda matéria, ele é extraído do fluido cósmico universal, que, nessa circunstância, sofre uma modificação especial. Esse envoltório, denominado perispírito, faz de um ser abstrato, o Espírito, um ser concreto, definido, apreensível pelo pensamento. Torna-o apto a atuar sobre a matéria tangível, conforme se dá com todos os fluidos imponderáveis, que são, como se sabe, os mais poderosos motores.

O fluido perispirítico constitui, pois, o traço de união entre o Espírito e a matéria. Enquanto aquele se acha unido ao corpo, serve-lhe ele de veículo ao pensamento, para transmitir o movimento às diversas partes do organismo, as quais atuam sob a impulsão da sua vontade e para fazer que repercutam no Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam. Servem-lhe de fios condutores os nervos como, no telégrafo, ao fluido elétrico serve de condutor o fio metálico.

O Nascimento

Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o gérmen se desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio vital-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior.

Um fenômeno particular, que a observação igualmente assinala, acompanha sempre a encarnação do Espírito. Desde que este é apanhado no laço fluídico que o prende ao gérmen, entra em estado de perturbação, que aumenta, à medida que o laço se aperta, perdendo o Espírito, nos últimos momentos, toda a consciência de si próprio, de sorte que jamais presencia o seu nascimento. Quando a criança respira, começa o Espírito a recobrar as faculdades, que se desenvolvem à proporção que se formam e consolidam os órgãos que lhes hão de servir às manifestações.

Mas, ao mesmo tempo em que o Espírito recobra a consciência de si mesmo, perde a lembrança do seu passado, sem perder as faculdades, as qualidades e as aptidões anteriormente adquiridas, que haviam ficado temporariamente em estado de latência e que, voltando à atividade, vão ajudá-lo a fazer mais e melhor do que antes. Ele renasce qual se fizera pelo seu trabalho anterior; o seu renascimento lhe é um novo ponto de partida, um novo degrau a subir. Ainda aí a bondade do Criador se manifesta, porquanto, adicionada aos amargores de uma nova existência, a lembrança, muitas vezes aflitiva e humilhante, do passado, poderia turbá-lo e lhe criar embaraços. Ele apenas se lembra do que aprendeu, por lhe ser isso útil. Se às vezes lhe é dado ter uma intuição dos acontecimentos passados, essa intuição é como a lembrança de um sonho fugitivo. Ei-lo, pois, novo homem, por mais antigo que seja como Espírito. Adota novos processos, auxiliado pelas suas aquisições precedentes. Quando retorna à vida espiritual, seu passado se lhe desdobra diante dos olhos e ele julga como empregou o tempo, se bem ou mal.

Não há, portanto, solução de continuidade na vida espiritual, sem embargo do esquecimento do passado. Cada Espírito é sempre o mesmo eu, antes, durante e depois da encarnação, sendo esta, apenas, uma fase da sua existência. O próprio esquecimento se dá tão-só no curso da vida exterior de relação. Durante o sono, desprendido, em parte, dos liames carnais, restituído à liberdade e à vida espiritual, o Espírito se lembra, pois que, então, já não tem a visão tão obscurecida pela matéria.

A Morte

Por um efeito contrário, a união do perispírito e da matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do gérmen, cessa, desde que esse princípio deixa de atuar, em conseqüência da desorganização do corpo. Mantida que era por uma força atuante, tal união se desfaz, logo que essa força deixa de atuar. Então, o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira, e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito.

O Espiritismo, pelos fatos cuja observação ele faculta, dá a conhecer os fenômenos que acompanham essa separação, que, às vezes, é rápida, fácil, suave e insensível, ao passo que doutras é lenta, laboriosa, horrivelmente penosa, conforme o estado moral do Espírito, e pode durar meses inteiros.

Considerações Gerais

Normalmente, a encarnação não é uma punição para o Espírito, conforme pensam alguns, mas uma condição inerente à inferioridade do Espírito e um meio de ele progredir. A obrigação que tem o Espírito encarnado de prover o alimento ao corpo, à sua segurança, ao seu bem-estar, o força a empregar suas faculdades em investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Útil, portanto, ao seu adiantamento é a sua união com a matéria. Daí o constituir uma necessidade a encarnação. Além disso, pelo trabalho inteligente que ele executa em seu proveito, sobre a matéria, auxilia a transformação e o progresso material do globo que lhe serve de habitação. É assim que, progredindo, colabora na obra do Criador, da qual se torna fator inconsciente.

Todavia, a encarnação do Espírito não é constante, nem perpétua: é transitória. Deixando um corpo, ele não retoma imediatamente outro. Durante mais ou menos considerável lapso de tempo, vive da vida espiritual, que é a sua vida normal, de tal sorte que insignificante vem a ser o tempo que lhe duram as encarnações, se comparado ao que passa no estado de Espírito livre.

No intervalo de suas encarnações, o Espírito progride igualmente, no sentido de que aplica ao seu adiantamento os conhecimentos e a experiência que alcançou no decorrer da vida corporal; examina o que fez enquanto habitou a Terra, passa em revista o que aprendeu, reconhece suas faltas, traça planos e toma resoluções pelas quais conta guiar-se em nova existência, com a idéia de melhor se conduzir. Desse jeito, cada existência representa um passo para frente no caminho do progresso, uma espécie de escola de aplicação.

Fonte: “A Gênese” – Allan Kardec

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Adulterando Kardec

Por Carlos de Brito Imbassahy

Curiosamente, na 5ª edição francesa de “Le livre des Médiums” vamos encontrar no cap. III, item 35, uma recomendação de Allan Kardec, para os que queiram conhecer os fundamentos primários da Doutrina Espírita onde indica, pela ordem, as seguintes obras:

1 – O Que é o Espiritismo;
2 – O Livro dos Espíritos;
3 – O Livro dos Médiuns e
4 – Seleta de artigos publicados pela Revista Espírita.

Os evangélicos, que querem transformar o Espiritismo em mais uma seita cristã alegam que Kardec teria omitido desta lista o Livro que, no seu lançamento, teve o nome de “La morale de l’Evangile selon le Spiritisme” porque ele é posterior ao lançamento do Livro dos Médiuns, mas não explica como é que Kardec, no caso, incluiu duas outras obras posteriores ao próprio ESE – “O Evangelho Segundo o Espiritismo” –, na tradução brasileira, sendo que uma delas aparece em primeiro lugar na referida relação.

O raciocínio dos evangélicos só chega a seus interesses pessoais e se esquece da generalização dos fatos. E mais, com este título acima (A moral do Evangelho conforme o Espiritismo), Kardec o cita em diversos tópicos da 1ª edição de “O Que é o Espiritismo”, o que prova que este é posterior àquele, portanto, se o nome do ESE não está incluído na lista é porque Kardec não o achava de importância primordial para o estudo da codificação por ele elaborada.

Cabe, ainda, esclarecer que, segundo consta, teria sido o editor Lacroix que teria recomendado a Kardec, a partir da segunda edição, simplificar o nome da obra tirando do seu título o conceito de “Moral” deixando, apenas,“O Evangelho ”. A má fé, por vezes, a ignorância em outros casos, julga, dessa maneira, que este livro só teria sido publicado a partir desta edição com o nome simplificado. Mesmo assim, como explicar que a quarta obra relacionada seja uma Seleta que Kardec organizou depois de ter escrito todos os seus livros básicos? Convenientemente, basta tirar o conceito de “seleta” e deixar como se foram alguns artigos da Revista Espírita e não a aludida seleção feita pelo seu autor.

Há Centros que se dizem espíritas, inclusive uma Associação que se compõe de divulgadores da doutrina cujo único estudo que fazem ao que se referem, é a dos Evangelhos. Não se trata de ser contra os Evangelhos; pelo contrário, embora adulterados pela Igreja e nem sempre fiéis à História de Jesus, seus textos têm uma finalidade digna, contudo, para seus estudos há igrejas em demasia que o fazem com muita peculiaridade, portanto, para tal, basta que o evangélico se transfira para uma delas ou funde a sua própria, mas que não transforme o Espiritismo codificado por Kardec em mais uma delas, descaracterizando a obra deste distinto autor.

É preciso que haja respeito a uma doutrina digna e sensata, dedicada a estudiosos, justamente, que não se prendem a textos bíblicos e que podem receber, com pureza os belos ensinamentos de Jesus, sem que sejam impostos como sendo fundamentais a seus estudos.

E Kardec, com muita precisão, ao definir “o que é o Espiritismo”, no preâmbulo do livro que tem este nome, teve o enorme cuidado de dizer que o Espiritismo é uma Ciência de conclusões filosóficas, sem se referir, em um só momento, aos Evangelhos. Por que, então impingir tal idéia aos que querem ser espíritas fiéis a Kardec? Não seria mais justo que tais evangélicos fundassem sua própria doutrina, que mereceria integral respeito de todos, certos que somos de que ela estaria voltada para o bem!?

O que não é digno será tentar descaracterizar o Espiritismo transformando-o em mais um estudo voltado para o Cristianismo puro como o fazem suas Igrejas.

Pior ainda são certas traduções das obras de Kardec completamente adulteradas, com o fito de transformá-las em algo coerente com o docetismo de seu tradutor; mudaram-se textos, cortaram-se outros, enfim, mutilaram, na tradução, o pensamento do mestre para que suas obras, pelo menos, na versão brasileira, não contrariassem pontos de vistas que jamais seriam defendidos pelo codificador.

Respeitemos, pois, Kardec.

Pensamentos e Fluidos


Por Allan Kardec

“Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável” - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XIV, item 16).

O pensamento exerce uma poderosa influência nos fluidos espirituais, modificando suas características básicas.

Os pensamentos bons impõem-lhes luminosidade e vibrações elevadas que causam conforto e sensação de bem estar às pessoas sob sua influência. Os pensamentos maus provocam alterações vibratórias contrárias às citadas acima. Os fluidos ficam escuros e sua ação provoca mal estar físico e psíquico.

Pode-se concluir assim, que em torno de uma pessoa, de uma família, de uma cidade, de uma nação ou planeta, existe uma atmosfera espiritual fluídica, que varia vibratoriamente, segundo a natureza moral dos Espíritos envolvidos.

À atmosfera fluídica associam-se seres desencarnados com tendências morais e vibratórias semelhantes. Por esta razão, os Espíritos superiores recomendam que nossa conduta, nas relações com a vida, seja a mais elevada possível.

Uma criatura que vive entregue ao pessimismo e aos maus pensamentos, tem em volta de si uma atmosfera espiritual escura, da qual aproximam-se Espíritos doentios. A angústia, a tristeza e a desesperança aparecem, formando um quadro físico-psíquico deprimente, que pode ser modificado sob a orientação dos ensinos morais de Jesus.

“A ação dos Espíritos sobre os fluidos espirituais tem conseqüências de importância direta e capital para os encarnados. Desde o instante em que tais fluidos são o veículo do pensamento; que o pensamento lhes pode modificar as propriedades, é evidente que eles devem estar impregnados das qualidades boas ou más, dos pensamentos que os colocam em vibração, modificados pela pureza ou impureza dos sentimentos” - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XIV, item 16).

À medida que cresce através do conhecimento, o homem percebe que suas mazelas, tanto físicas quanto espirituais, é diretamente proporcional ao seu grau evolutivo e que ele pode mudar esse estado de coisas, modificando-se moralmente. Aliando-se a boas companhias espirituais através de seus bons pensamentos, poderá estabelecer uma melhor atmosfera fluídica em torno de si e, consequentemente, do ambiente em que vive. Resumindo, todos somos responsáveis pelo estado de dificuldades morais que vive o planeta atualmente.

“Melhorando-se, a humanidade verá depurar-se a atmosfera fluídica em cujo meio vive, porque não lhe enviará senão bons fluidos, e estes oporão uma barreira à invasão dos maus. Se um dia a Terra chegar a não ser povoada senão por homens que, entre si, praticam as leis divinas do amor e da caridade, ninguém duvida que não se encontrem em condições de higiene física e moral completamente outras que as hoje existentes”.

Fonte: Allan Kardec - Revista Espírita, Maio, 1867.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Os Espíritos da Codificação e o Vácuo Quântico

Título original: Os Espíritos sábios que ditaram a Doutrina Espírita a Kardec já conheciam o vácuo quântico em 1857?

Por Wladimyr Sanchez

A primeira edição de "O Livro dos Espíritos" publicada em 18 de abril de 1857, em Paris, por Allan Kardec, foi produto de ditados que ele obteve de uma plêiade de Espíritos Sábios iniciados em maio de 1855 e encerrados em abril de 1856. Desta data até fevereiro de 1857, ou seja, durante dez meses, esses ditados foram colocados na forma de uma brochura, analisados e revisados pela própria plêiade que os ditou, porque Kardec havia produzido algumas desconformidades ao interpretar os princípios da Doutrina, que eram novos, em sua maioria. A autorização para que Kardec os publicasse, na forma de livro, foi dada pelos próprios autores da obra.

Depois de receber o sinal verde para publicar o "O Livro dos Espíritos", Kardec tratou de convencer um editor a fazê-lo, fato que ocorreu no início de março de 1857. Desta forma, em 18 de abril de 1857, a primeira edição de "O Livro dos Espíritos" foi colocada a venda para o público parisiense, depois de uma pequena mas fulminante publicidade a respeito, fato que despertou muita curiosidade pela obra, não só pelo público em geral mas também pela classe dos cientistas, filósofos e religiosos. No seu frontispício trás a legenda: LE LIVRE DES ESPRITS, contenant LE PRINCIPLES DE LA DOCTRINE SPIRITE, sur la nature des esprits, leur manifestation e leurs rapports avec les hommes; les lois morales, la vie presente, la vie future, e l'avenir de l'humanité; ECRIT SOUS LA DICTÉE ET PUBLIÉ PAR L'ORDE D'ESPRITS SUPÉRIEURS, PAR ALLAN KARDEC. A tradução para o português é: O LIVRO DOS ESPÍRITOS, contendo OS PRINCÍPIOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, sobre a natureza dos Espíritos, suas manifestações e suas relações com os homens; as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade; escrito sob o ditado e publicado por ordem de Espíritos Superiores, por Allan Kardec.

Assim é que na questão 16 da primeira edição de "O Livro dos Espíritos", de 18 de abril de 1857, os Espíritos Sábios comunicantes assim se expressam a Kardec, sobre o espaço universal: "O espaço universal é infinito, dir-se-ia sem bordas. Se supusermos um limite para o espaço, qualquer distância que o pensamento possa conceber, a razão dirá sempre que além desse limite haverá alguma coisa e assim sucessivamente, de lugar em lugar, até o infinito; então essa qualquer coisa mesmo que se chamasse vácuo absoluto seria ainda espaço".

Até pouco tempo a Física considerava vácuo como sendo um espaço, imaginário ou real, não ocupado por coisa alguma, vazio, onde a pressão era inferior a uma unidade chamada atmosfera, que mede a pressão exercida por uma camada gasosa.

Com o desenvolvimento da Mecânica Quântica, nos últimos 20 anos, concluiu-se sobre como o processo da inflação cósmica explica de modo natural porque o nosso Universo é tão grande e tão uniforme, como atualmente o observamos. A inflação cósmica também achatou a geometria do espaço-tempo até o grau que hoje observamos no cosmo. A idéia básica a inflação cósmica é simples: no início da história do Universo, logo após o Big-Bang, de repente ele se expandiu imensamente em tamanho, daí o nome de inflação, por analogia ao sentido que essa palavra tem na economia. Para evoluir até um Universo semelhante ao nosso, com as propriedades que vemos, o Universo primordial teve que se expandir pelo menos umas 1028 vezes (significa o número 1 seguido de 28 zeros). Para se ter uma idéia da vastidão desse número, convém notar que o tamanho do Universo atualmente observável é de aproximadamente 1028 centímetros. Portanto, a inflação cósmica foi como inflar um pequeno pedregulho até o tamanho de todo o nosso Universo observável, ou até mais, e tudo numa minúscula fração de segundo. Essa expansão extremamente rápida ocorreu quando a densidade energética do Universo (também chamada fluído cósmico universal, pelos Espíritos) foi dominada pela densidade de energia do vácuo. Quando a densidade energética do Universo é dominada pela energia do vácuo, a pressão negativa impõe um ritmo de expansão cada vez maior. Essa expansão acelerada pode inflar o nosso Universo na enorme medida necessária para explicar não apenas as suas propriedades, mas também como os Espíritos puderam habitá-lo.

À primeira vista, o conceito de densidade de energia do vácuo parece uma contradição. Costumávamos pensar no vácuo como sendo completamente vazio. Como pode uma coisa supostamente vazia ter energia, e muito menos dominar a densidade energética de todo o Universo? No nível fundamental, o vácuo tem que obedecer a uma descrição quântica, significando com isso que, afinal, o vácuo não é realmente vazio. O vácuo é regido pelo chamado Princípio da Incerteza de Heisenberg, que atua sobre a natureza ondulatória da realidade física nas pequenas escalas dimensionais e levou à possibilidade da energia do vácuo.

Considere um elétron, por exemplo. O Princípio da Incerteza de Heisenberg mostra que não podemos medir simultaneamente o momentum da partícula (seu movimento) e a posição que ela ocupa no espaço, com o mesmo grau de exatidão. Assim, esse Princípio da Incerteza acaba tendo conseqüências importantes para o conceito de vácuo. Do ponto de vista da Mecânica Quântica, o vácuo não pode ser realmente vazio. Imaginemos uma região do espaço universal vazia, como nos exemplifica a questão 16 de "O Livro dos Espíritos", primeira edição de 1857. Em virtude do Princípio da Incerteza, esse espaço, aparentemente vazio é repleto de partículas, que pulsam brevemente, ao ganhar vida e morrer. A energia necessária para criar essas partículas é tomada de empréstimo do vácuo e prontamente devolvida a ele, quando as partículas se aniquilam e, em seguida, tornam a desaparecer no "nada". Elas são chamadas de partículas virtuais porque não possuem vida real. Vivem de um tempo emprestado e sempre se aniquilam logo depois de seu aparecimento espontâneo no vácuo. Por causa dessa criação espontânea, o espaço que corresponde ao vácuo, que deveria ser deserto, fica repleto dessas partículas virtuais de matéria, como se fossem fantasmas que aparecem e desaparecem, repentinamente. E, essas partículas virtuais podem dotar o vácuo de uma densidade energética efetiva que, de outro modo, ele não a possuiria. Portanto, a Mecânica Quântica leva-nos, naturalmente, ao conceito de que o espaço vazio possui, na realidade, densidade energética, confirmando o que os Espíritos comunicaram inicialmente a Kardec, e que se encontra reforçado na questão 36, da segunda edição de "O Livro dos Espíritos", publicada em 18 de março de 1860, a saber:

P. 36 - "O vazio absoluto existe em alguma parte do espaço universal"?
- "Não, nada é vazio; o que te parece vazio está ocupado por uma matéria que te escapa aos teus sentidos e instrumentos."

(*) WLADIMYR SANCHEZ, é físico formado pela USP, engenheiro mecânico formado pela Universidade Mackenzie, engenheiro nuclear, formado em Oak Ridge, USA, engenheiro civil, pela UNESP. É Mestre e Doutor em Ciências, pela USP e PhD em Gerenciamento de Recursos Hídricos, pelo MIT, USA, Presidente do Instituto de Pesquisa e Ensino da Cultura Espírita - IPECE.

Ante o suicídio - Algumas considerações espíritas

Por Jorge Hessen

Em recente reportagem, divulgou-se que uma jovem, de 15 anos, suicidou-se com um tiro de revolver, dentro de uma escola, em Curitiba. Não houve grito nem pedido de socorro. Em silêncio, ela entrou no banheiro e se trancou em uma das cinco cabines reservadas. Sentada sobre o vaso sanitário, disparou contra a boca. Suicídios desse gênero (tiro especialmente), em escolas brasileiras, não são comuns. "Três meses antes da tragédia, a jovem procurou os pais e pediu para que eles a levassem a um psicólogo. Dizia sentir-se triste e desmotivada. O pai passou a pegá-la na aula de pintura e levá-la, semanalmente, a um psiquiatra. No inquérito policial sobre o suicídio, apurou-se que ela tomava benzodiazepínicos (soníferos) para dormir, e outros fármacos para controlar a ansiedade que sentia". (1) Diante do dilema, indagamos: Como os pais podem proteger os filhos ante os desequilíbrios emocionais que assolam a juventude de hoje? Obviamente, precisam estar atentos. Interpretar qualquer tentativa ou anúncio de suicídio do jovem como sinal de alerta. O ideal é procurar ajuda especializada de um psicólogo e, para os pais espíritas, os recursos terapêuticos dos centros espíritas. Aproximar-se, mais amiudemente, do filho que apresenta sinais fortes de introspecção ou depressão. O isolamento e o desamparo podem terminar com aguda depressão e ódio da vida.

É evidente que sugerir serem os pais os únicos responsáveis pelo autocídio de um filho(a), é algo muito delicado e preocupante, pois, trata-se um ato pessoal de extremo desequilíbrio da personalidade, gerado por circunstâncias atuais ou por reminiscências de existências passadas. Se há culpa dos pais, atribui-se à negligência, à desatenção, a não perceber as mudanças no comportamento de um filho(a) e a tudo que acontece à sua volta. Sobre isso, estamos convictos de que a sociedade, como um todo, é, igualmente, culpada. Inobstante colocarem o fardo da culpa nos pais em primeiro lugar, reflitamos: quem pode controlar a pressão psicológica que uma montanha de apelos vazios faz na cabeça dos jovens, diariamente? O suicídio é um ato exclusivamente humano e está presente em todas as culturas. Suas matrizes causais são numerosas e complexas. Os determinantes do suicídio patológico estão nas perturbações mentais, depressões graves, melancolias, desequilíbrios emocionais, delírios crônicos, etc. Algumas pessoas nascem com certas desordens psiquiátricas, tal como a esquizofrenia e o alcoolismo, o que aumenta o risco de suicídio. Há os processos depressivos, onde existem perdas de energia vital no organismo, desvitalizando-o, e, conseqüentemente, interferindo em todo o mecanismo imunológico do ser.

Em termos percentuais, 70% das pessoas que cometem suicídio, certamente sofriam de um distúrbio bipolar (maníaco-depressivo); ou de um distúrbio do humor; ou de exaltação/euforia (mania), que desencadearam uma severa depressão súbita, nos últimos minutos que antecederam aos de suas mortes. O suicídio pode ocorrer, tanto na fase depressiva, quanto na fase da mania, sempre conseqüente do estado mental. O suicida é, antes de tudo, um deprimido, e a depressão é a doença da modernidade. O suicida não quer matar a si próprio, mas alguma coisa que carrega dentro de si e que, sinteticamente, pode ser nominado de sentimento de culpa e vontade de querer matar alguém com quem se identifica. Como as restrições morais o impedem, ele acaba se autodestruindo. Assim, "o suicida mata uma outra pessoa que vive dentro dele e que o incomoda, profundamente. Outra coisa que deve ser analisada é a obsessão que poderia ser definida como um constrangimento que um indivíduo, suicida em potencial ou não, sente, pela presença perturbadora de um obsessor.

A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às leis da Natureza. Todas asseveram que ninguém tem o direito de abreviar, voluntariamente, a vida. Entretanto, por que não se tem esse direito? Por que não é livre o homem de pôr termo aos seus sofrimentos? Ao Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram, que o suicídio não é uma falta somente por constituir infração de uma lei moral - consideração, essa, de pouco peso para certos indivíduos - mas, também, um ato estúpido, pois que nada ganha quem o pratica. Antes, o contrário, é o que se dá com eles, na existência espiritual, após ato tão insano. Temos notícia, não somente, pelo que lemos nos livros da Doutrina Espírita e que nos advertem os Espíritos Superiores, mas pelos testemunhos que nos dão esses infelizes irmãos, narrando tristes fatos que eles mesmos nos põem sob as vistas, em sessões de orientação às entidades sofredoras. Sob o ponto de vista sociológico, o suicídio é um ato que se produz no marco de situações anômicas, (2) em que os indivíduos se vêem forçados a tirar a própria vida para evitar conflitos ou tensões inter-humanas, para eles insuportáveis.

O pensador Émile Durkheim teoriza que a "causa do suicídio, quase sempre, é de raiz social, ou seja, o ser individual é abatido pelo ser social. Absorvido pelos valores [sem valor], como o consumismo, a busca do prazer imediato, a competitividade, a necessidade de não ser um perdedor, de ser o melhor, de não falhar, o jovem se afasta de si mesmo e de sua natureza. Sobrevive de 'aparências', para representar um 'papel social' como protagonista do meio. Nessa vivência neurotizante, ele deixa de desenvolver suas potencialidades, não se abre, nem expõe suas emoções e se esmaga na sua intimidade solitária." (3)

O Espiritismo adverte que o suicida, além de sofrer no mundo espiritual as dolorosas conseqüências de seu gesto impensado, de revolta diante das leis da vida, ainda renascerá com todas as seqüelas físicas daí resultantes, e terá que arrostar, novamente, a mesma situação provacional que a sua flácida fé e distanciamento de Deus não lhe permitiram o êxito existencial.

É verdade que após a desencarnação não há tribunal nem Juízes para condenar o espírito, ainda que seja o mais culpado. Fica ele, simplesmente, diante da própria consciência, nu perante si mesmo e todos os demais, pois nada pode ser escondido no mundo espiritual, tendo o indivíduo de enfrentar suas próprias criações mentais. "O pensamento delituoso é assim como um fruto apodrecido que colocamos na casa de nossa mente. A irritação, a crítica, o ciúme, a queixa exagerada, qualquer dessas manifestações, aparentemente sem importância, pode ser o início de lamentável perturbação, suscitando, por vezes, processos obsessivos nos quais a criatura cai na delinqüência ou na agressão contra si mesma." (4)

A rigor, não existe pessoa "fraca", a ponto de não suportar um problema, por julgá-lo superior às suas forças. O que de fato ocorre é que essa criatura não sabe como mobilizar a sua vontade própria e enfrentar os desafios. Joanna de Angelis assevera que o "suicídio é o ato sumamente covarde de quem opta por fugir, despertando em realidade mais vigorosa, sem outra alternativa de escapar".(5) Na Terra, é preciso ter tranqüilidade para viver, até porque, não há tormentos e problemas que durem uma eternidade. Recordemos que Jesus nos assegurou que "O Pai não dá fardos mais pesados que nossos ombros" e "aquele que perseverar até o fim, será salvo". (6)

FONTES:
1. Disponível em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI73803-15228,00- NO+BANHEIRO+DA+ESCOLA+UM+TIRO.html
2. O sociólogo acredita que, quando o indivíduo resolve tirar a própria vida, ele está em estado de anomia, que significa "falta de valores". "Uma situação anômica é a ausência ou desintegração de normas. Quando ocorrem perturbações da ordem coletiva, o número de suicídios tende a se elevar".
3. Durkheim, Emile. Título: El suicidio. P.imprenta: Tlahuapan, Puebla. Premiá. 1987. 343 p. Edición; 2a ed. Descriptores: Suicidio. Sociología. Aspectos psicológicos.
4. Mensagem extraída do livro "PACIÊNCIA", de Emmanuel; psicografado por Francisco Cândido Xavier
5. Franco, Divaldo, Momentos de Iluminação, Ditado pelo Espírito Joanna de Angelis, RJ: ed. FEB
6. MT 24:13

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Darwin: Criacionismo vs. Evolucionismo

21:50 Posted by Fabiano Vidal No comments
Por Henrique Fracalanza

Darwin elaborou a teoria do Evolucionismo, onde assevera que as espécies vivas têm uma origem comum, evoluem e se adaptam, concluindo que o homem é a evolução do macaco, dos quais descendemos.

Esta teoria, hoje amplamente aceita cientificamente, choca-se frontalmente com os escritos bíblicos da Gênesis, que diz que o homem foi criado por Deus na pessoa de um único ser: Adão, e que dele criou Eva, e que ambos povoaram o mundo a partir de aproximadamente 5.800 anos atrás.

Pela teoria de Darwin, o inicio da vida no planeta partiu do aparecimento de animais unicelulares vivendo nas águas dos mares, que foram evoluindo para animais multicelures, e destes para animais mais complexos, passando pelos inverte-brados, pelos répteis, anfíbios, animais ovíparos, mamíferos, até chegar ao bicho homem.

Os religiosos de todos os matizes que baseiam suas crenças na Bíblia, notadamente os cristãos tradicionalistas, não aceitam esta teoria, e tentam de todas as formas anatematizar a Darwin.

Em alguns países, principalmente nos Estados Unidos, procuram inclusive impedir que a teoria da Origem das Espécies seja ensinada nas escolas.

Alguns mais radicais alegam que Darwin procurou matar a Deus, tirando Dele o status de criador do Universo.

Julgamento apressado e injusto, próximo ao fanatismo religioso.

Ora, Darwin está certo, e os que acreditam no criacionismo também tem a sua parcela de razão no assunto.

O que falta a ambos é uma chave que una ambas as informações.

O Espiritismo trouxe ao mundo esta chave, na publicação do O Livro dos Espíritos, publicado em 1857, curiosamente dois anos antes da publicação do livro de Darwin A Origem das Espécies em 1859.

No capitulo III do livro I, nas perguntas 43 a 49 (Formação dos seres vivos), e nas perguntas de 50 a 54 (Povoamento da Terra. Adão; e Diversidade das Raças Humanas), encontramos as respostas dos espíritos esclarecendo de forma racional o aparecimento da vida no planeta. Por essas respostas se verifica que Darwin concluiu acertadamente.

O aparecimento da vida na terra se deu da forma como Darwin explicou, mas isso não quer dizer que Deus esteja fora disso. Ora, a teoria de Darwin já encontra um mundo formado e apropriado ao aparecimento da vida. Os germens da vida já estavam presentes nos elementos da natureza, e mesmo as leis que regem os desenvolvimentos celulares já estavam plasmadas. E tudo isto existia por quê? Porque Deus, criador de todas as coisas os fez.

Aí está a união das duas teorias – Criacionismo e Evolucionismo.

Deus criou todas as coisas, mas as fez de forma que evoluíssem gradativamente, racionalmente, do mais simples ao mais complexo, com o auxilio do tempo.

Darwin não está contra Deus, nem Deus está contra Darwin.

Este fenomenal naturalista inglês apenas desvendou para o mundo cientifico a forma como Deus cria no nosso planeta. E os espíritos corroboraram essas afirmativas do cientista nas respostas do O Livro dos Espíritos citadas acima.

Errado é tentar manter a crença numa alegoria Bíblica, que passou uma informação aos homens de sua época, de acordo com a capacidade de entendimento que possuíam, e na medida dos seus rudimentares conhecimentos das ciências, mas que as pessoas ainda hoje as tomam ao pé da letra, ignorando a lógica e a razão, e principalmente procurando ignorar os achados arqueológicos que confirmaram a presença da criatura humana a cerca de quatro milhões de anos atrás, podendo este numero ser aumentado, caso seja achado um outro fóssil anterior a este.

Bem, como a presença de seres humanos foi atestada pela ciência a quatro milhões de anos atrás, como ainda acreditar que todos nascemos de Adão há apenas 5.800 anos atrás?

Existem outras pessoas que independente das questões dogmáticas religiosas, se chocam com a idéia de que seus ancestrais foram animais, os macacos. Eles se acham superiores e indignos de serem apresentados como descendentes de primatas irracionais.

Aí também falta a essas pessoas a chave do Espiritismo.

Conhecessem elas as leis naturais trazidas pela Doutrina Espírita, que esclarecem que todos somos criados simples e ignorantes e que todos evoluímos de espécies mais simples para as mais avançadas, não se chocariam, e conseguiriam compreender e aceitar.

A chave é a reencarnação.

Nos livros da doutrina, aprendemos que a evolução do ser se processa desde os elementos mais simples, passando pelos reinos mineral, vegetal, animal e hominal, e que o ser ainda prossegue evoluindo por milhares de reencarnações até dispensar a vida em corpos físicos, passando daí a evoluir apenas na vida espiritual, por toda a eternidade, pois a evolução não cessa nunca.

Então fica fácil entender a nossa atual situação. Pelo mecanismo da reencarnação passamos de seres simples, irracionais, ignorantes para seres cada vez mais evoluídos, consoante nosso esforço em avançar. Se hoje somos seres racionais já muito evoluídos em relação aos homens da caverna, é porque elaboramos a nossa evolução e aprimoramento através dos séculos e milênios, nascendo e renascendo muitas vezes.

Nada mais simples e lógico, não acham?

Bibliografia: O Livro dos Espíritos

Allan Kardec e a Educação

"Educação é o conjunto de hábitos adquiridos".
(Allan Kardec, O Livro dos Espíritos. Pergunta 685a)

Por Joamar Z. Nazareth

A renovação da humanidade só se processará através da EDUCAÇÃO.

E o Espiritismo, cuja meta principal é educar o homem para a eternidade, se preocupa desde a codificação de Kardec em convidar espíritas a tão preciosa missão, conforme podemos conferir em Evangelho Segundo o Espiritismo" e em "O Livro dos Espíritos".

Comenta Santo Agostinho sobre a missão dos pais: ''A tarefa é difícil, mas não impossível; não exige o saber do mundo; o ignorante como o sábio pode cumpri-la e o Espiritismo veio facilitá-la, dando a conhecer a causa das imperfeições do coração humano".

Observamos a preocupação da Espiritualidade em convidar os pais para o bom desempenho de sua tarefa educativa, mostrando o auxílio que os mesmos obterão no conhecimento da Doutrina Espírita.

Sobre a ausência de responsabilidade moral e deficiências tais como: desconhecimento espiritual e relaxamento da educação no lar, gerando problemas sociais, afirma Allan Kardec-: "Considerando-se a aluvião de indivíduos diariamente lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio, entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as conseqüências desastrosas que daí decorrem?"

Há mais de um século os Espíritos já mostravam o sério problema dos desvios morais, do desequilibrio no caráter e da ausência de valores elevados nos jovens que saem do lar e mergulham na sociedade, carregando , bagagem dos sentimentos, virtudes, emoções, hábitos e vícios trabalhados no ambiente familiar.

Observamos, desse modo, que os lares deveriam ser núcleos onde os espíritos reencarnantes - trazendo os vícios e as virtudes, os bons e os maus hábitos do passado - fossem preparados para a melhoria de sua situação espiritual, combatendo esses vícios e desenvolvendo essas virtudes, caracterizando assim a EDUCAÇÃO MORAL, que é a missão verdadeira do lar.

Sobre a responsabilidade dos pais, afirma o insigne educador: "... quando produzis um corpo, a alma que nele se encarna vem do espaço para progredir; sabei vossos deveres e colocai todo vosso amor em aproximar essa alma de Deus: é a missão que vos está confiada" ... - "Vossos cuidados, a educação que lhe derdes, ajudarão seu aperfeiçoamento e seu bem-estar futuro".

Os pais devem firmar um incessante combate às ervas daninhas das imperfeições, plantando as boas sementes das virtudes no coração dos filhos, para que elas germinem hoje ou no futuro, abrindo a esses espíritos a porta da renovação e do aperfeiçoamento espiritual. Missão essa da qual não podem fugir ou se furtar às conseqüências de sua negligência, como também receberão os frutos abençoados quando do seu bom cumprimento.

Sobre a cura de todos os males morais do homem, que se fará somente pela educação, esclarece Kardec: "A cura poderá ser demorada, porque as causas são numerosas, mas não é impossível. A isso não chegará de resto, senão tomando o mal em sua raiz, quer dizer, pela educação."

As escolas do mundo nos enriquecem o cérebro com uma gama imensa de conhecimentos, informações, cultura. Mas somente no lar, no seio da família, é que o espírito encontrará a proteção e o ambiente propício à sua preparação no íntimo de seus sentimentos, idéias, emoções para as lutas do mundo. E somente pais e mães conscientes de suas responsabilidades é que conseguem fazer do ambiente doméstico essa escola de moralização das almas.

Com a implantação da Doutrina Espírita na Terra, inaugurou-se uma Nova Era para a Humanidade e abriu-se para o planeta a porta da renovação, que se processará através da consciência do trabalho de EDUCAÇÃO das almas. Educação do cérebro, sim e sempre, mas sobretudo educação do coração e do caráter.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Mediunidade no tempo de Jesus

Por Paulo da Silva Neto Sobrinho

“Se alguém julga ser profeta ou inspirado pelo Espírito, reconheça um mandamento do Senhor nas coisas que estou escrevendo para vocês” (PAULO, aos coríntios).

Introdução

A mediunidade é uma faculdade humana que consiste na sintonia espiritual entre dois seres. Normalmente, a usamos para designar a influência de um Espírito desencarnado sobre um encarnado, entretanto, julgamos que, acima de tudo, por se tratar de uma aquisição do Espírito imortal, pouco importa a situação em que se encontram esses dois seres, para que se processe a ligação espiritual entre eles.

É comum que ataques ao Espiritismo ocorram por conta desse “dom”, como se ele viesse a acontecer exclusivamente em nosso meio. Ledo engano, pois, conforme já o dissemos, é uma faculdade humana, e assim sendo, todos a possuem, variando apenas quanto ao seu grau.

Os detratores querem, por todos os meios, fazer com que as pessoas acreditem que isso é coisa nova, mas podemos provar que a mediunidade não é coisa nova e que até mesmo Jesus dela pode nos dar notícias. É o que veremos a seguir.

A mediunidade e Jesus

Quando Jesus recomenda a seus doze discípulos a divulgação de que o “reino do Céu está próximo” fica evidenciado, aos que estudaram ou vivenciam esse fenômeno, que o Mestre estava falando mesmo era da faculdade mediúnica. Entretanto, por conta dos tradutores ou dos teólogos, essa realidade ficou comprometida no texto bíblico. Entretanto, como é impossível “tapar o sol com uma peneira”, podemos perfeitamente identificá-la, apesar de todo o esforço para escondê-la.

O evangelista Mateus narra o seguinte:

“Eis que eu envio vocês como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens, porque eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles. Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações. Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. (10,16-20).

A primeira observação que faremos é que por ter tentado a Eva, dizem que a serpente seria o próprio satanás, entretanto, isso fica estranho, porquanto o próprio Jesus nos recomenda sermos prudentes como as serpentes. Esse fato demonstra que tal associação é apenas fruto do dogmatismo que só produz o fanatismo religioso.

Essa fala de Jesus é inequívoca quanto ao fenômeno mediúnico: “não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês”, e arremata: “Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. A tentativa de esconder o fenômeno fica por conta da expressão “o Espírito do Pai”, quando a realidade é “um Espírito do Pai” a mudança do artigo indefinido para o artigo definido tem como objetivo principal desvirtuar a fenomenologia em primeiro plano e em segundo, mais um ajuste de texto bíblico para apoiar a trindade divina copiada dos povos pagãos.

O filósofo e teólogo Carlos Torres Pastorino abordando a questão da mudança do artigo, diz:

“...Novamente sem artigo. Repisamos: a língua grega não possuía artigos indefinidos. Quando a palavra era determinada, empregava-se o artigo definido ‘ho, he, to’. Quando era indeterminada (caso em que nós empregamos o artigo indefinido), o grego deixava a palavra sem artigo. Então quando não aparece em grego o artigo, temos que colocar, em português, o artigo indefinido: UM espírito santo, e nunca traduzir com o definido: O espírito santo”. (Sabedoria do Evangelho, volume 1, pág 43).

Se sustentarmos a expressão “o Espírito do Pai” teremos forçosamente que admitir que o próprio Deus venha a se manifestar num ser humano. Pensamento absurdo como esse só pode ser pela falta de compreensão da grandeza de Deus. Dizem os cientistas que no cosmo há 100 bilhões de galáxias, cada uma delas com cerca de 100 bilhões de estrelas, fazendo do Universo uma coisa fora do alcance de nossa limitada imaginação, mas, mesmo que a custa de um grande esforço, vamos imaginar tamanha grandeza. Bom, façamos agora a pergunta: o que criou tudo isso? Diante disso, admitir que esse ser possa estar pessoalmente inspirando uma pessoa é fora de proposto, coisa aceitável a de povos primitivos, cujos conhecimentos não lhes permitem ir mais longe, por restrição imposta pelo seu hábitat.

A mediunidade no apostolado

Um fato, que reputamos como de inquestionável ocorrência da mediunidade, aconteceu logo depois da morte de Jesus, quando os discípulos reunidos receberam “como que línguas de fogo” e começaram a falar em línguas, de tal sorte que, apesar da heterogeneidade do povo que os ouvia, cada um entendia o que falavam em sua própria língua. Fato extraordinário registrado no livro Atos dos Apóstolos, desta forma:

“Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Acontece que em Jerusalém moravam judeus devotos de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho, todos se reuniram e ficaram confusos, pois cada um ouvia, na sua própria língua, os discípulos falarem”. (Atos 2, 1-6).

Aqui podemos identificar o fenômeno mediúnico conhecido como xenoglossia, que na definição do Aurélio é: A fala espontânea em língua(s) que não fora(m) previamente aprendida(s). Mas, como da vez anterior, tentam mudar o sentido, para isso alteram o artigo indefinido para o definido, quando a realidade seria exatamente que estavam “repletos de um Espírito santo (bom)”.

Fato semelhante aconteceu, um pouco mais tarde, nomeado como o Pentecostes dos pagãos:

“Pedro ainda estava falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra. Os fiéis de origem judaica, que tinham ido com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo também fosse derramado sobre os pagãos. De fato, eles os ouviam falar em línguas estranhas e louvar a grandeza de Deus...” (At 10, 44-46).

Episódio que confirma que “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10,34), daí podermos estender à mediunidade como uma faculdade exclusiva a um determinado grupo religioso, mas existindo em todos segmentos em suas expressões de religiosidade.

A mediunidade como era “transmitida”

A bem da verdade não há como ninguém transmitir a mediunidade para outra pessoa, entretanto, pelos relatos bíblicos, a imposição das mãos fazia com que houvesse sua eclosão, óbvio que naqueles que a possuíam em estado latente. Vejamos algumas situações em que isso ocorreu.

Em Atos 8, 17-18:

“Então Pedro e João impuseram as mãos sobre os samaritanos, e eles receberam o Espírito Santo. Simão viu que o Espírito Santo era comunicado através da imposição das mãos. Dêem para mim também esse poder, a fim de que receba o Espírito todo aquele sobre o qual eu impuser as mãos”.

Simão era um mago que, com suas artes mágicas, deixava o povo da região de Samaria maravilhado. Mas, ao ver o “poder” de Pedro e João, ficou impressionado com o que fizeram, daí lhes oferece dinheiro a fim de que dessem a ele esse poder, para que sobre todos os que ele impusesse as mãos, também recebessem o Espírito Santo.

Em Atos 19, 1-7:

“Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo atravessou as regiões mais altas e chegou a Éfeso. Encontrou aí alguns discípulos, e perguntou-lhes: ‘Quando vocês abraçaram a fé receberam o Espírito Santo?’ Eles responderam: ‘Nós nem sequer ouvimos falar que existe um Espírito Santo’. Paulo perguntou: ‘Que batismo vocês receberam?’ Eles responderam: ‘O batismo de João’. Então Paulo explicou: ‘João batizava como sinal de arrependimento e pedia que o povo acreditasse naquele que devia vir depois dele, isto é, em Jesus’. Ao ouvir isso, eles se fizeram batizar em nome do Senhor Jesus. Logo que Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e começaram a falar em línguas e a profetizar. Eram, ao todo, doze homens”.

Será que podemos entender que o batismo de Jesus é “receber o Espírito Santo”, conseguido pela imposição das mãos? A narrativa nos leva a aceitar essa hipótese, apenas mantemos a ressalva feita anteriormente quanto à expressão “o Espírito Santo”.

A mediunidade como os dons do Espírito

Na estrada de Damasco, Paulo, que até então perseguia os cristãos, numa ocorrência transcendente, se encontra com Jesus, passando, a partir daí, a segui-lo. Durante o seu apostolado se comunicava diretamente com o Espírito de Jesus, demonstrando sua incontestável mediunidade.

Aliás, o apóstolo Paulo foi quem mais entendeu do fenômeno mediúnico, tanto que existem recomendações preciosas de sua parte aos agrupamentos cristãos de então. Ele o chamava de “dons do Espírito”. “Sobre os dons do Espírito, irmãos, não quero que vocês fiquem na ignorância” (1Cor 12,1), mostrando-se interessado em que todos pudessem conhecer tais fenômenos.

E esclarece o apóstolo dos gentios:

“Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um, o Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito quem realiza tudo isso, distribuindo os seus dons a cada um, conforme ele quer”. (1 Cor 12,4-11).

Novamente, mudando-se “o Espírito” para “um Espírito”, estaremos diante da faculdade mediúnica, basta “ter olhos de ver”.

Ao que parece, naquela época, os médiuns se preocupavam mais com a xenoglossia Paulo para desfazer esse engano novamente faz outras recomendações aos coríntios (1Cor 14,1-25). Disse ele:

“...aspirem aos dons do Espírito, principalmente à profecia. Pois aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o entende, pois ele, em espírito, diz coisas incompreensíveis. Mas aquele que profetiza fala aos homens: edifica, exorta, consola. Aquele que fala em línguas edifica a si mesmo, ao passo que aquele que profetiza edifica a assembléia. Eu desejo que vocês todos falem em línguas, mas prefiro que profetizem. Aquele que profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a menos que este mesmo as interprete, para que a assembléia seja edificada...”.

Conclusão

Como apregoa a Doutrina Espírita o fenômeno mediúnico nada mais é que uma ocorrência de ordem natural. Podemos identificá-lo desde os mais remotos tempos da humanidade, e não poderia ser diferente, pois, em se tratando de uma manifestação de uma faculdade humana, deverá ser mesmo tão velha quanto a permanência do homem aqui na Terra.

Mas, infelizmente, a intolerância religiosa, a ignorância e, por vezes, a má-vontade, não permitiu que fosse divulgada da forma correta, ficando mais por conta de uma ocorrência sobrenatural, que só acontecia a uns poucos privilegiados. Coube ao Espiritismo a desmistificação desse fenômeno, bem como a sua explicação racional. Kardec nos deixou um legado importantíssimo para todos que possam se interessar pelo assunto, quando lança O Livro dos Médiuns, que recomendamos aos que buscam o conhecimento dessa fenomenologia, ainda muito incompreendida em nossos dias.

Referência bibliográfica.

* PASTORINO, Carlos Torres, Sabedoria do Evangelho, volume 1, Revista Mensal Sabedoria, Rio, 1964.
* Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Paulus, São Paulo, 43ª ed. 2001.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Projeto Kardequizar

Por Salomão Jacob Benchaya

Uma nova etapa de trabalho se desdobra à nossa frente, convocando as lideranças espíritas a se manterem empenhadas na sua dinamização e expansão, com vistas à penetração e vivência das idéias espíritas em todos os segmentos da sociedade, atentas, entretanto, à proposta consubstanciada na Codificação Kardequiana. Esta última observação faz sentido no momento em que uma parcela da comunidade espírita do país se apercebe e se reverbera que o movimento espírita brasileiro, embora dinâmico, realizador e gozando de indiscutível prestígio junto à sociedade, ideologicamente vem se distanciando, em alguns setores, das diretrizes traçadas pelo Codificador.

Não somos os primeiros a chamar a atenção para essa realidade e não é nosso propósito causar melindres pessoais, já que nos cingimos à análise dos fatos, sem referências particulares a pessoas ou instituições, mas desejando, isto sim, convocar os trabalhadores espíritas a uma reflexão séria acerca dos rumos do nosso movimento.

É certo que o povo brasileiro, por sua própria formação étnica e cultural, apresenta acentuada índole mística com traços marcantes de emocionalidade em seu comportamento, contrastando, por isso, com a postura mais racional e fria do europeu, por exemplo. Esse traço característico de nossa gente, naturalmente que não poderia deixar de se refletir nas atitudes dos espíritas, não obstante o convite da Doutrina à "fé raciocinada". É preciso que se distinga, no entanto, o comportamento místico-afetivo das massas, que não é necessariamente negativo, do exagerado afeiçoamento da ação dos espíritas a padrões confessionais e ritualísticos, velados ou explícitos, que caracterizam um processo de sectarização indesejável e insustentável à luz do Espiritismo.

Lamentavelmente, constata-se nos arraiais espíritas procedimentos os mais esdrúxulos na prática doutrinária, como reflexos do desconhecimento e da má interpretação dos postulados espíritas, agravados pelos condicionamentos atávicos igrejeiros dos quais não conseguimos, ainda, nos desvencilhar.

Não são raras ocorrências como as que citaremos a seguir, tendentes a transformar o Espiritismo em mais uma seita, pela subversão dos seus ideais, ressalvadas honrosas e justas exceções.

Liturgia da Prece.

Vemos, por exemplo, preces como verdadeiros atos litúrgicos, formalizadas, longas, por vezes decoradas, ditas em tom compungido e piedoso. Casas espíritas realizando sessões de preces sem objetivo doutrinário, preces encomendadas por terceiros, algumas até adotando posições especiais para orar. Adeptos há que utilizam impressos contendo preces e até fotografias de vultos espíritas à guisa de amuletos protetores.

Na área das chamadas irradiações, a falta de orientação doutrinária conduz os freqüentadores a transferir para os dirigentes a tarefa de interceder junto à Divindade para amenizar os padecimentos de encarnados e desencarnados, para isso bastando colocar os nomes dos beneficiários em recipientes ou longas listagens, muitas vezes sem qualquer participação dos interessados na prece coletiva.

Batismos, Casamentos, etc.

Muito embora o Espiritismo não possua ritos sacramentais, estes vão sendo sutilmente introduzidos - às vezes, até ostensivamente - com a realização, no recinto das sociedades, de preces especiais por ocasião de nascimentos, casamentos, colação de grau, indo até a realização de velórios, como se a Doutrina Espírita comportasse tais cerimônias religiosas. Não que ela recuse a prece em qualquer circunstância, mas sim a sua formalização hierática. Há algum tempo, vimos publicado em jornal de grande circulação, em Porto Alegre, convite para fazer "prece de sétimo dia" pela alma de um confrade. Isso para não falarmos de que a Federação do Rio Grande do Sul já recebeu proposta de um dirigente no sentido de analisar a conveniência de as Casas Federativas adotarem o batismo, o casamento, etc., uma vez que seria falta de caridade não darmos esse tipo de atendimento aos adeptos espíritas.

Culto externo.

O aprisionamento ao culto externo, infelizmente, ainda tem expressão em nosso meio, seja no uso preferencial de toalhas brancas sobre as mesas, na utilização de uniformes, distintivos, ou no passe em roupas e fotografias. Outros apetrechos ritualísticos muito comuns ainda são os retratos e imagens de vultos espíritas expostos no salão de palestras públicas, não raras vezes ornados de flores e luzes coloridas, num convite à veneração idolátrica. E o que diremos se tais quadros e imagens são dos santos e líderes católicos, sem dispensar sequer os detalhes simbólicos usados pela igreja, tais como o halo sobre a cabeça, chagas, coração sagrado, terços e anjos com asas?

Já vimos reuniões públicas serem iniciadas com todos em pé, cantando hinos em nada diferentes dos de nossos irmãos protestantes, e, até, invocando as bênçãos do Espírito Santo para o êxito dos trabalhos. Alguns procedimentos são impostos aos freqüentadores pela própria direção dos Centros, tais como a recepção de passes mesmo sem necessidade de tal socorro, separação entre homens e mulheres no recinto das reuniões, ingestão de água magnetizada após o passe ou ao término das reuniões, prática esta semelhante à da ministração da hóstia nas igrejas.

Passemania.

Na verdade, para muitos freqüentadores de sessões espíritas, tomar passes constitui um hábito não muito saudável à luz da proposta espírita, sendo muito conhecida, neste terreno, a figura do "papa-passes". À falta de maiores esclarecimentos sobre a oportunidade em que se deve recorrer a essa abençoada terapêutica, muitos dela se utilizam desnecessariamente, ou, o que é pior, como se, através do passe, o indivíduo estivesse obtendo a "absolvição" de suas fraquezas ou purificando-se espiritualmente. Seria enfadonho insistirmos aqui na feição nitidamente ritualística que a gesticulação exagerada, as preces murmuradas e outros comportamentos exóticos imprimem ao passe.

É oportuno salientar que é no terreno da terapêutica do passe que se gerou a mais acentuada distorção acerca do que o Espiritismo pode oferecer ao homem. O passe assumiu tamanha importância para a manutenção dos níveis de freqüência nas Casas Espíritas, que são raras as reuniões públicas em que ele não é ministrado. A grossa maioria dos freqüentadores de nossas casas ali vai "tomar passe" ou "tirar consulta", pois são esses os produtos que o nosso espiritismo (com "e" minúsculo) oferece. Nessa área se incluem as chamadas "sessões de cura", denominação imprópria diante da promessa nela implícita, de realização de curas, passível de enquadramento no Código Penal.

Substitui-se o essencial pelo acessório, ilude-se os freqüentadores oferecendo-lhes os subprodutos da ação espírita como se a Doutrina não tivesse algo melhor para dar. Notem que não recusamos o socorro que os recursos espíritas podem oferecer aos que o buscam. O que verberamos é a omissão relativa à "caridade da divulgação da própria Doutrina", recomendada por Emmanuel.

Idolatria.

O movimento espírita não escapa, sequer, da tendência idolátrica de seus seguidores que, se já não constroem bezerro de ouro, instituíram, entretanto, o "bezerrismo", como alguém já denominou, o culto à figura apostolar de Bezerra de Menezes, invocado aqui e ali, como um autêntico santo milagreiro espírita. Isso para não falarmos de "santos" locais ou regionais, de menor expressão. Como se não bastasse a consagração de entidades espirituais, entre as quais também se incluem Maria, Ismael, por exemplo, vamos encontrar médiuns e líderes espíritas sofrendo, mesmo a contra-gosto, o mesmo processo de idolatria e até de santificação no qual se identifica acentuada dose de fanatismo, inclusive com o beneplácito de dirigentes espíritas.

Nesse contexto e à falta de uma definição ideológica ao movimento espírita, vemos dirigentes pretendendo representar o Espiritismo em cerimônias políticas, ecumênicas, alinhando-se entre as autoridades civis e eclesiásticas, ou, pior ainda, patrocinando cerimônias ecumênico-religiosas, políticas ou cívico-doutrinárias, numa demonstração de desconhecimento do caráter universalista do Espiritismo.

Literatura pseudo-espírita.

Integrando o quadro de distorções doutrinárias, pode-se ainda relacionar o mercantilismo com a literatura espírita, mediúnica ou não, a circulação no meio espírita de obras de conteúdo medíocre ou conflitantes com a filosofia espírita, como as de cunho profético-apocalíptico, as messiânico-salvacionistas, etc., cuja produção é estimulada pela desinformação do mercado consumidor e pela conivência da rede distribuidora do livro.

Evangelismo, Assistencialismo e Dogmatismo.

Outros indícios de igrejificação encontram-se no surgimento e expansão de verdadeiras confrarias com seus ritos de iniciação doutrinária e controle estatístico da reforma moral dos aprendizes, das cidades "espíritas" com seu fanatismo mediúnico, das confraternizações de devotos e místicos e dos pregadores evangélicos aprisionados às passagens bíblicas distanciadas da interpretação espírita.

Em área mais delicada, desenvolve-se a concepção de um Espiritismo voltado somente para os pobres e necessitados, incompreensivelmente alérgico às esferas do intelecto, na falsa interpretação de que "os sãos não precisam de médico", daí decorrendo todo um trabalho assistencialista, do tipo paternal e acomodador, em contraste com a proposta libertadora da Doutrina.

A postura dogmática que o Espiritismo rejeita inflitra-se, também, entre os dirigentes espíritas, ora refletindo-se na crença cega no que dizem os espíritos e médiuns, numa recusa à análise e à crítica, ora cerceando o livre-exame, pela proibição de leituras ou de discussão de temas ditos "polêmicos".

Kardequização.

Essas são algumas das manifestações que consideraríamos como indícios de um processo sectarizador de difícil refluxo se o movimento espírita não adotar posição firme no sentido de sua "kardequização", ou seja, de aproximar-se, em nível desejável, do modelo proposto por Kardec. É lógico que alguns dos problemas enumerados têm localização restrita e são perfeitamente detectados pela comunidade espírita mais esclarecida. O risco maior está em não se atribuir importância a determinados procedimentos e atitudes que "não fazem mal nenhum", mas que, inperceptivelmente, deturpam a verdadeira identidade da Doutrina.

Um esforço revitalizador faz-se, portanto, mister, mormente quando são os próprios orientadores espirituais do movimento espírita brasileiro que a tanto nos convocam. Suas advertências são de tal modo enérgicas que nos permitimos reproduzir trechos significativos de suas mensagens, corroborando o que aqui desejamos propor. Angel Aguarod, em mensagem que motivou o lançamento da Campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (Rio Grande do Sul, 1978) salientava: "Não é possível erigir um monumento doutrinário, como é o da Revelação Espírita, deixando-nos levar, a cada dia, por idéias que sopram de todos os lados, sem direção, qual vendaval que tudo derruba na sua passagem. Estamos sendo alertados de Plano mais alto sobre esse aspecto do nosso movimento, pois - dizem nossos superiores - se não nos fizermos vigilantes nesse sentido, em pouco tempo o movimento espírita, embora conservando o nome, nada terá de Espiritismo."

Vianna de Carvalho, pela psicografia de Divaldo Franco, na mensagem "Espiritismo Estudado", afirma que "[...] surgem os primeiros sintomas de cultos espíritas e constata que o movimento espírita cresce e se propaga, mas a Doutrina Espírita permanece ignorada, quando não adulterada em muitos dos seus postulados".

Daí a recomendação de Bezerra de Menezes: "Kardequizar é a legenda de agora". Para tanto, faz-se necessário se conheça mais profundamente o pensamento de Allan Kardec a fim de aquilatarmos o grau de fidelidade que lhe vota o movimento espírita. Não é por outro motivo que Emmanuel, na mensagem intitulada "Kardec", ditada a Chico Xavier, após as afirmativas, entre outras, de que precisamos "[...] estudar Kardec, meditar Kardec, divulgar Kardec", finaliza, dizendo: "Que é preciso cristianizar a Humanidade é afirmação que não padece dúvida, entretanto, cristianizar, na Doutrina Espírita, é raciocinar com a verdade e construir com o bem de todos, para que, em nome de Jesus, não venhamos a fazer sobre a Terra mais um sistema de fanatismo e de negação". [...]

Diante dos problemas apresentados, talvez até de forma contundente, e dos desafios propostos pelos espíritos, sentimo-nos encorajados a desenvolver os esforços que estiverem ao nosso alcance no sentido de estimular o movimento espírita à observância das diretrizes preconizadas pelo Codificador quanto à sua própria estrutura e características. Eis o motivo desta análise de comportamento e de tendências do movimento espírita. Mais uma vez evidencia-se a necessidade de as Casas Espíritas realizarem estudo mais aprofundado e completo da obra kardequiana, única forma de evitarmos que o Espiritismo seja transformado em mais uma seita religiosa.

Fonte: Revista Espírita HARMONIA - Ano XX - nº 147 - dezembro de 2006

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Colônias Espirituais: Fantasias Anímicas de Chico?

Por Iso Jorge Teixeira.

Que acontece com a alma após a morte? A dos bons irão para o céu e a dos maus para o inferno? Haveria um purgatório, um lugar determinado para a ascensão ao céu ou como preparativo para a reencarnação, daquelas almas necessitadas de purificação?

Essas perguntas, exceto, a primeira, seriam respondidas com um 'sim', pela maioria dos religiosos brasileiros...

Curiosamente, alguns confrades sincretizam tais conceitos de 'céu, inferno e purgatório' e admitem coisas semelhantes àquelas descritas em 'A Divina Comédia' – do obscurantismo medieval –dizendo que, após a morte, seremos encaminhados para um 'Pronto-socorro espiritual' e, daí, para 'colônias espirituais'. No entanto, não é isso que está explícito e implícito na Doutrina dos Espíritos; por isso, julgamos importante tratar aqui da questão básica relativa à erraticidade e a dos Espíritos errantes...

As chamadas 'colônias espirituais' são de existência questionável

Há uma grande falha em nosso Movimento Espírita, ao admitir que fiquemos, quase enclausurados em 'colônias espirituais', a receber conselhos de Espíritos; como se aí estivéssemos encarnados.Até um tal 'vale dos suicidas', é creditado como verdadeira Doutrina dos Espíritos!Contudo, nas obras de KARDEC, não há a menor referência nem às colônias espirituais nem ao vale dos suicidas. Seria uma omissão imperdoável da Espiritualidade Superior?

Acreditamos em que, ao desencarnarmos, a nova vida é eminentemente espiritual, nada de mundos especiais: 'cópias aperfeiçoadas dos objetos da Terra', como dizem alguns confrades. O mundo da erraticidade é um mundo de reflexão, em que nos preparamos para uma nova encarnação, mas essa preparação não tem nada de material.

Alguns argumentam que aqueles Espíritos mais terra-a-terra, não conseguiriam viver sem a matéria. Ora, se não conseguirem viver sem a matéria, ao desencarnarem não sairão daqui do orbe terrestre?

"O Umbral – continuou ele, solícito – começa na crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos.”

Mais adiante, diz também:

“... O Umbral funciona, portanto, como região destinada a esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima, a prestações, o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena."
(Livro 'Nosso Lar' - Espírito André Luiz)

O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Por Allan Kardec - tradução de José Herculano Pires.

IX - Paraíso,Inferno,Purgatório,Paraíso perdido.

1011. Um lugar circunscrito no Universo, está destinado às penas e aos gozos dos Espíritos, de acordo com os seus méritos?

— Já respondemos a essa pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição do Espírito. Cada um traz em si mesmo, o principio de sua própria felicidade ou infelicidade. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado se destina a uns ou a outros. Quanto aos Espíritos encarnados, são mais ou menos felizes ou infelizes, segundo o grau de evolução do mundo que habitam.

1012. De acordo com isso, o inferno e o paraíso não existiriam como os homens os representam?

— Não são mais do que figuras: os Espíritos felizes e infelizes estão por toda parte. Entretanto, como já o dissemos também, os Espíritos da mesma ordem se reúnem por simpatia. Mas podem reunir-se onde quiserem, quando perfeitos.

Comentário de Kardec: A localização absoluta dos lugares de penas e de recompensas só existe na imaginação dos homens. Provém da sua tendência de materializar e circunscrever as coisas cuja natureza infinita não podem compreender.

1013. O que se deve entender por purgatório?

— Dores físicas e morais: é o tempo da expiação. É quase sempre na Terra que fazeis o vosso purgatório e que Deus vos faz expiar as vossas faltas.

Comentário de Kardec: Aquilo que o homem chama 'purgatório', é também uma figura pela qual se deve entender, não algum lugar determinado, mas o estado dos Espíritos imperfeitos que estão em expiação até a purificação completa que deve elevá-los ao plano dos Espíritos felizes. Operando-se essa purificação nas diversas encarnações, o purgatório consiste nas provas da vida corpórea.

1014. Como se explica que os Espíritos que revelam superioridade por sua linguagem, tenham respondido a pessoas bastante sérias, a respeito do inferno e do purgatório, de acordo com as idéias vulgarmente admitidas?

— Eles falam uma linguagem que possa ser compreendida pelas pessoas que os interrogam. Quando essas pessoas estão muito imbuídas de certas idéias, eles não querem chocá-las muito rudemente, para não ferir as suas convicções. Se um Espírito fosse dizer, sem precauções oratórias, a um muçulmano, que Maomé não era um profeta, seria muito mal recebido.

1014 – a) Concebe-se isso da parte dos Espíritos que desejam instruir-nos. Mas como se explica que Espíritos interrogados sobre a sua situação tenham respondido que sofriam as torturas do inferno ou do purgatório?

— Quando eles são inferiores e não estão completamente desmaterializados, conservam uma parte de suas idéias terrenas e traduzem as suas impressões pelos termos que lhes são familiares. Encontram-se num meio que não lhes permite sondar o futuro senão, de maneira deficiente. Essa é a causa por que, em geral, os Espíritos errantes, ou recentemente libertados, falam como teriam feito se estivessem na vida carnal. Inferno pode traduzir-se por uma vida de provas extremamente penosas, com a incerteza de melhora; purgatório, por uma vida também de provas, mas com a consciência de um futuro melhor. Quando sofres uma grande dor, não dizes que sofres como um danado? Não são mais do que palavras, sempre em sentido figurado.

Portanto, os tais informes espirituais referentes a Umbral, colônias e vales destoam da Codificação.

CIÊNCIA ESPÍRITA EM FACE DA RAZÃO E DO CONTROLE UNIVERSAL

Por vezes, adota-se um conceito absoluto de razão, do qual provém o qualificativo racional. No Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano, o verbete razão apresenta inúmeras acepções e variadíssimo conteúdo semântico. Não obstante, logo na primeira entrada, tem-se por razão o "referencial de orientação do homem, em todos os campos em que seja possível a indagação ou a investigação, de tal jeito que ela corresponde a "uma ‘faculdade’ própria do homem, que o distingue dos animais". Outrossim, da noção de razão derivam a de racional e a de razoável. Ora, o racional constitui aquilo proveniente da razão ou dela correlato, enquanto o razoável compõe aquilo capaz de gravitar em torno dela, sem, no entanto, perder o ponto de tangência.

Não há, portanto, absolutizar o conceito de razão, pois tudo quanto se afigure assimilável pela razão deve ser considerado racional, quando o objeto não discrepar ora do senso comum ora do bom senso. Desse modo, racional se torna aquilo admitido pela razoabilidade, embora, a razão em si mesma, não constitua a demonstração da verdade. Somente quando a razão, como faculdade, logra aproximar-se da percepção e da sensação, como realidade apresentada, pode-se interceptar de alguma forma a verdade. Ora, afigura-se importante ser razoável para ser racional e entrever a razão.

Decerto, as obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier, devem ser estudadas, assim como acuradamente comparadas às da Codificação Espírita, porém, dentro das margens de razoabilidade. Não obstante, o articulista, cujas páginas mais parecem um repreensão à mediunidade de Francisco Cândido Xavier, está convicto de que existem nos livros atribuídos a André Luiz "situações ingênuas cientificamente" e devidas ao animismo do notável médium de Pedro Leopoldo. Por outro lado, de tão convicto o observador e de tão verazes as ingenuidades, não as revela ou menciona sequer de relance, a fim de que as analise o leitor. Houve também uma inadvertência do açodado articulista: se houve animismo daquele médium, houve também de Waldo Vieira, cuja personalidade não tinha por hábito e nem terá de padecer "misticismo católico", muito menos agora. Em pelo menos três livros da série, ambos os médiuns, laboraram em conjunto: Sexo e Destino, Evolução em Dois Mundos e Mecanismos da Mediunidade.

Para escapar ao argumento, o médium deverá recorrer a duas hipóteses, muito ao gosto do consumidor, consoante diria o Padre Quevedo: I) houve fraude liberada e deliberada de Waldo Vieira, sob assédio do "misticismo católico" de Chico Xavier; II) houve manipulação dos textos pela FEB, sob o beneplácito dos médiuns. Sobre tal enfoque, Waldo Vieira nunca se manifestou, nem mesmo após haver-se tornado apóstata(renúncia ao rótulo de espírita) do Espiritismo. Como aplicar a ambos, a hipótese do animismo por "misticismo católico"? Seria animismo duplo em personalidades assaz distintas?

Outrossim, o articulista, de muita cultura e de extenso lastro médico, por ser livre-docente de Psicopatologia e de Psiquiatria, como se pode notar em muitos e bons artigos em que trata conjuntamente da mediunidade e da própria especialidade, assinalou algo de suma importância à pesquisa científica:

Todo ESTUDO realmente CIENTÍFICO, não deve partir para uma busca daquilo que "queremos" encontrar; senão, encontraremos exatamente aquilo que "desejamos"; ora, os nossos DESEJOS, os nossos AFETOS não devem contaminar um estudo científico. Todo estudo deve partir com AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS, como recomendava o grande filósofo alemão KARL JASPERS, baseado no também filósofo EDMUND HUSSERL.

Há uma sentença mais verdadeira e mais adequada à problemática? Decerto, parte-se da noção de neutralidade científica, cuja verdadeira existência parece extremamente dubitável, da mesma forma, como parece inexistir a decantada neutralidade axiológica. Ora, como examinar a ausência de pressupostos, se ela mesma se constitui em um pressuposto, usando-se aqui um raciocínio de Bertrand Russel? Se aqui se parte do pressuposto de que existem as colônias espirituais, o articulista partiu, a seu turno, da premissa de que elas não existem. Onde a ausência de pressupostos no exame do problema, sem usar-se aqui o método parenético de Antônio Vieira, o respeitável orador barroco?

Simplesmente,pelo estudo dos conhecimentos espirituais existentes,embasados em LEIS NATURAIS,encontrados na CODIFICAÇÃO ESPÍRITA.

Fonte: Blog Ciência, Filosofia e Moral.

Atualizando Kardec

Por Carlos de Brito Imbassahy

Desde minha adolescência sempre vi e ouvi diversos participantes do movimento espírita dizerem que era preciso atualizar Kardec, cada qual usando um argumento diferente.

É claro que, se o codificador do Espiritismo definiu esta doutrina como sendo de natureza científica com conclusões filosóficas (ver preâmbulo do livro “O Que é o Espiritismo”), como ciência, ela precisa estar se atualizando com as novas descobertas, principalmente, em se levando na conta de que a codificação data de meados de século XIX e atualmente muitos conceitos científicos usados àquela época foram devidamente alterados.

Mas, na verdade, o que tenho visto são verdadeiras aberrações e, para ilustrar esta afirmativa cito o caso em que, numa Sala espírita da Internet estudávamos o livro “O Céu e o Inferno” cuja segunda parte, toda, Kardec dedica à invocação de Entidades espirituais. Um dos participantes afirmou que Kardec estava errado porque Emmanuel, lembrando Paulo aos Hebreus – versículo que condena a evocação dos mortos –, diz que “o telefone só toca de lá para cá”. Sem comentários.

No caso, a maioria dos que querem reformular a obra de Kardec, na verdade, deixam-se levar pelos seus próprios pensamentos, alguns ligados a tradições cristãs e outros admiradores de obras mediúnicas, nem sempre coerentes com o pensamento do mestre lionês.

Até então, ainda não me deparei com nenhum espírita que, de fato, proponha a atualização da linguagem, porque, a não ser os que militam nas áreas científicas, os demais também não estão a par da nova terminologia empregada, como no caso do termo “fluido” que, na época da codificação, abrangia tudo o que não fosse sólido, inclusive as energias, como a elétrica. Hoje, apenas os líquidos e os gases são considerados como fluidos. Assim, os técnicos da linguagem, usam o conceito de “eflúvios” para definir aquilo que seria o aludido fluido psíquico ou espiritual.

E outras coisas mais neste sentido.

O estudo da Mecânica Quântica, por exemplo, inteiramente desconhecida dos médiuns e mensageiros espirituais que estão transformando o Espiritismo no Brasil em mais uma seita cristã, traz-nos novas idéias que, se analisarmos o que foi dito à época da codificação, podemos, perfeitamente, adaptar aos novos conceitos, desde que atualizemos nossas linguagens, mas, justamente isso é que não interessa aos evangelizadores das igrejas que migraram para o movimento espírita porque teriam que reformular suas antigas posições em vez de alterar os conceitos espíritas como vêm a ser seus desejos, para adaptá-los às suas velhas tendências.

Kardec não podia, à sua época, falar em coisas que só foram descobertas mais de um século após seu falecimento, pois isto seria antecipar os conhecimentos humanos e ele seria considerado um visionário, como o foi Jules Verne.

Assim mesmo, muita coisa antecipada em suas obras foi tida como pura imaginação de crenças espirituais! Calculemos, se ele afirmasse que o mundo material compreendia apenas 27% do Universo e que o resto era a provável Espiritualidade, que Deus não podia ser aquele apresentado pela Bíblia e que a Terra não era sua obra prima! Naquela época, ninguém tomaria conhecimento da sua obra.

O que temos que levar em conta é que, de fato, o Espiritismo foi codificado num tempo em que o conhecimento científico relativo ao que já sabemos era por demais precário e que se supunha que o homem, segundo a Bíblia estaria condenado a viver preso ao planeta, não se admitindo que ele se tornasse um astronauta capaz de sair da nossa atmosfera impunemente e voltar sem que tenha sido castigado por obra e graça divina. Até hoje, várias Igrejas cristãs garantem que tudo é mentira e armação dos americanos, pois, pela Bíblia, o homem não pode sair da Terra.

Todavia, os novos adeptos do movimento espírita, ainda calcados nos conceitos evangélicos de suas antigas seitas, acham (doutrina do “achismo”) que o Espiritismo precisa exatamente se transformar em mais um movimento cristão para que Jesus olhe por nós e não nos abandone. Como se os Espíritos superiores fossem mesquinhos como os humanos vulgares.

E ainda é a grande influência da Igreja e de Entidades ligadas a ela que dita esse desejo de transformar o Espiritismo em mais uma seita cristã, o que, em vez de atualizá-lo, fa-lo-ia regredir aos antigos e impróprios conceitos religiosos.

Além disso, se a finalidade da doutrina espírita é a de levar os ensinamentos e a doutrina de Jesus aos cientistas sem lhes atacar o fundamento da razão, fazendo com que a codificação se torne em mais um movimento cristão, o que se vai obter, justamente, é o resultado contrário. Além disso, com as novas descobertas dos documentos do mar Morto, tudo aquilo que a Igreja impôs como evangélico está sob suspeita de não ser verdade. Por que, então continuar insistindo em tal erro, em vez de pautar o Espiritismo pelos fundamentos que Kardec estabeleceu, principalmente na obra que ele próprio considerou como básica para os estudos doutrinários? Mas, “O Que é o Espiritismo” justamente, vem a ser o livro que os evangélicos excluem de seus estudos. Pudera!

Atualizar Kardec, pois, não é alterar seu pensamento, mas colocá-lo na linguagem atual esclarecendo o possível significado das suas afirmativas com a coerência do que se conhece pelas novas concepções estabelecidas.

O que não se pode, também, é negar as pesquisas que os parapsicólogos fazem – já que os espíritas são omissos –, servindo-se da linguagem atualmente considerada arcaica, usada pelo codificador.

E principalmente: reconhecer que ele não podia ter sido mais claro e preciso do que fora, ante os conhecimentos de sua época.

Atualizar é uma coisa, modificar é outra.

Fonte: Revista Harmonia - Edição nº 167